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A que ponto nós chegamos para obter poder?
Quantos sacrifícios são necessários para se alcançar a alcunha de “O mais Forte”?
Anos de treinamento duro, provações vencidas e o amadurecendo de sua Aura com o tempo?
Para o pequeno guardião existia uma palavra que seu pai havia lhe passado que simplificava tudo, seu nome era... Determinação!
Com a determinação um indivíduo dito como “comum”, conseguiria superar até mesmo os gênios superdotados que já nasceram agraciados com a magia e não faziam questão de treinar ou se fortalecer.
O resultado de tamanha arrogância e prepotência foi a queda de vários reinos que se achavam onipotentes e no fim foram esmagados e esquecidos pelo tempo!
O que isso tem a ver com o pequeno guardião... ele iria descobrir agora...
Caminhando pelos corredores do castelo, o menino seguia o capitão que olhava para todos os lados no intuito de se certificar de que não estavam sendo seguidos.
Alguns minutos depois os dois se aproximam de uma porta, eram uma porta normal de carvalho como várias espalhadas pelo castelo, a diferença era que está em particular não tinha maçaneta e nem fechadura.
– Eita, merda! – Exclama o menino ao ver a porta, quando ia perguntar para o capitão o mesmo ergue seu punho direito ao qual residia no dedo do meio um anel de prata. O capitão recitou algumas palavras incompreensivas para o menino, no entanto o efeito que teve o surpreendeu e muito!
Uma pequena luz de cor azul surge na ponta do anel que se propaga em direção a porta que começa a brilhar, os olhos do menino se arregalaram ao ver que a porta começava a ficar mais clara, até ficar transparente e por fim desaparecer como se nunca tivesse existido.
– Que... maneiro! – Exclama o menino. – O que você fez, foi magia?
O capitão se vira para o menino e responde:
– Mais ou menos, mas agora não é momento para isso, rápido entre! Temos muito o que conversar!
Gládius nem questionou, o capitão praticamente o empurrou pra dentro do buraco onde ficava a porta. Assim que entraram o capitão ergueu o anel novamente e o buraco foi fechado pela mesma porta de madeira de antes.
– Por aqui! – Diz o capitão apontando um caminho para o menino que obedeceu.
Caminharam pelo que pareceram uns quinze minutos por corredores escuros e pequenos.
– Onde nós estamos? – Pergunta o menino.
– Nas galerias subterrâneas do castelo. – Responde o capitão. – Elas foram criadas há muito tempo desde à época dos primeiros reis como rotas de fuga e estoque de armamentos e mantimentos quase houvesse um sitio contra o castelo.
– Uau! – Exclama o menino.
– Hoje em dia pouquíssimas pessoas sabem sobre esses tunes e como acessá-los e também precisam ter as chaves para abrirem as inúmeras portas secretas que jazem neste antigo castelo.
A mente de Gládius assimilava tudo o que o capitão dizia, no entanto o menino não só ouvia calado o homem, mas sim decorava o caminho que percorria. Uma cosia que seu pai lhe ensinou bem foi ser detalhista e ter memoria fotográfica, se conseguisse se concentrar bem, conseguia gravar palavras e lugares com facilidade. Técnicas necessárias para ser um bom guardião e também um bom assassino.
“Fico pensando o que esse capitão quer falar comigo, um simples plebeu.”
Pensa o menino.
“Porém se for para ajudar minha família e a Anna... acho que vale a pena.”
Foi então que ele parou e se perguntou:
“Peraá? Porque eu pensei na Anna?”
Realmente aquilo o estava perturbando há algum tempo, acabara de conhecer a menina a pouquíssimo tempo, não tinha ligações nenhuma com ela e nem fazia parte de sua família, então porque se envolver tanto com ela?
Olhou para o teto escuro e pensou:
“Talvez por que... quando eu a conheci eu não vi uma princesa, mais sim uma pobre menina assustada que precisava urgentemente de ajuda.”
Suspirou.
“Talvez o meu extinto de guardião é que esteja falando por mim, ou talvez porque simplesmente... eu quero fazer isso!”
Olhou a frente o capitão se distanciando, e passando por ele a imagem de um cavaleiro caminhando no sentido contrário, indo justamente ao seu encontro.
Não teve medo, pois sabia quem era.
Quando o cavaleiro se aproximou dele sentiu sua mão metálica tocar em seu ombro esquerdo e as palavras sibilarem em seus ouvidos.
– Siga seus extintos... eles sempre te levaram ao caminho certo.
O menino meneou a cabeça e responde.
– Pode deixar.
Ao ouvir a resposta do menino o cavaleiro se afastou seguindo seu caminho e ele fez o mesmo.
Finalmente depois de tanto andar o capitão e o menino chegam a uma outra porta de madeira, só que dessa vez normal, com trinco e maçaneta. Não tardou a se aproximar e abrir a porta, em seguida pedindo o menino para entrar e o que ele viu fez seus olhos se arregalarem em espanto.
– Nossa...
Ao passar pela porta o pequeno guardião se vê dentro de uma sala oval toda feita em puro mármore branco. Pilastras com formato de cavaleiros estavam dispostas ao redor da sala sustentando seu grande teto que era ornamentado por diversos círculos de prata e ouro. No meio da sala uma grande mesa de pedra também oval repousava, cercada por grandes cadeiras de madeira e no fundo da sala separada das demais estatuas estava a de um grande cavaleiro muito familiar para o menino.
“Mas é o...”
Os olhos claros do menino se fixara na estátua que reassentava o imponente cavaleiro que foi o guardião e salvador de Arendelle. Sua postura era reta, sua espada estava fincada ao mármore enquanto suas mãos repousavam sobre o cabo, seu rosto não era visível devido ao elmo, mas sua presença era intimidadora, parecia que a própria estatua iria ganhar vida a qualquer momento.
– Esse é o...
– Artorias. – Responde o capitão próximo ao menino. – Nosso herói e inspiração para seguirmos em frente em nossos deveres. – Se vira e caminha até a mesa. – Esta sala foi construída pelos primeiros cavaleiros logo após a reconstrução do reino, estes desenhos no teto são formulas magicas que usaram para a sustentação e fundição da sala. As estatuas que você vê circulando o salão são todos de antigos cavaleiros que deram suas vidas por um bem comum, se bem que hoje... o sacrifício deles mal é lembrado...
Gládius acompanhava as palavras do capitão e pode sentir um misto de tristeza e desapontamento. O viu caminhando até a mesa de pedra, puxar uma das cadeiras e depois se sentar.
– Quando me tonei um cavaleiro eu sonhava em mudar o mundo, servir a um rei digno, a uma rainha amada e quem sabe seus filhos e ensiná-los o caminho certo para cerem no futuro bons governantes... mera ilusão.
O menino se aproxima do cavaleiro.
– Tantos anos de servidão para no fim serem esquecidos e jogados ao vento como areia, fico pensando nesses cavaleiros que estão retratados nestas estatuas, se eles sentiram o mesmo que eu, se tiveram medo de prosseguir, ou quebrar seu juramento com o rei quando o viram errando em seu caminho e o pior... levando uma nação junto com ele...
– Como é que? – Os olhos do menino se arregalaram.
– Meu jovem... – O cavaleiro volta sua face para o menino. –Você pode ser a nossa única chance de salvarmos este reino.
De olhos arregalados e boca semiaberta o pequeno guardião ouve o pedido do capitão de Arendelle... um pedido de ajuda que vem do fundo da alma.
Na cabana da família o menino estava sentando na cama com os cotovelos apoiados sobre as pernas enquanto matinha suas mãos cruzadas sobre a boca, sua feição era séria e concentrada, tanto que sua mãe e irmã nunca o tinha visto daquela forma.
Gládius sempre foi um menino acima de sua idade. Sempre teve que lutar para sobreviver desde de muito novo, talvez por isso tenha amadurecido tão rápido e entendido quando o capitão lhe fez o pedido.
– Filho? – Sua mãe o chama. Estava sentada em um banco de frente para o menino enquanto sua filha mais nova estava sentada na cama abraçando as roupas que Anna havia deixado.
Anna... como uma simples menina poderia ser tão importante para seu reino...
– Mãe... Mia... – As duas erguem os olhares e encaram o menino.
– O que vou falar aqui não deve ser contando, nem dito a ninguém. Esse assunto começa e morre conosco, entendem?!
Aquele era o velho código da família Maximus, quando juravam proteger alguém, levavam esse isso a ferro e fogo! Sua missão era proteger alguém, nem que para isso tivessem que dar suas vidas, por tanto quando o menino disse tais palavras a matriarca e sua pequena filha entenderam de prontidão.
– Diga nos meu filho... o que escondes que o perturba tanto?
O menino respira fundo e começa:
– Quando eu cheguei ao castelo eu havia sentido uma ar estranho, era diferente de tudo o que eu já tinha sentido e visto, era como se eu estivesse entrando numa cova ou esconderijo de uma criatura medonha... e essa criatura tinha um nome...
A mão do menino engole seco.
– Rei Richard IX...
– O próprio e digo com toda a sinceridade... nunca conheci alguém que me desse tanto asco quanto ele!
– Aí, que medo! – Exclama a pequena menina esfregando os braços.
– Pois é maninha, foi tenso! E só piorou quanto eu contava que Anna estava bem, principalmente viva!
– Como assim? – Pergunta sua mãe.
– Mãe... enquanto eu falava sobre ela eu pude perceber o mais sincero e puro descaso, a mínima falta de alegria e entusiasmo de saber que a própria filha estava viva era como ele quisesse que ela... droga! Eu não consigo dizer!!!
– Morta? – pergunta sua mãe pálida e a resposta de seu filho foi um menear de cabeça. – Pela Deusa...
– Isso é horrível! – Comenta Mia que abraça mais forte as roupas da princesa.
– E tem mais.
– Mais?! – Exclama a mãe das crianças.
– Fiquei sabendo que Anna também foi chamada para estudar em Draconia!
– O QUÊ?! – Brada a mulher.
– E foi justamente isso que causou a fuga dela do castelo! – Responde o menino. – O rei literalmente surtou quando soube que Anna havia recebido a carta, ele achou que era uma brincadeira da menina e como punição queimou a carta dela e depois a mandou castigarem!
– Minha Deusa... as marcas nas costas! – Exclama Helen.
– Exatamente mãe! E quem fez isso foi o chanceler baba-ovo do rei! O maldito ficou se gabando do feito de ter torturado uma menina indefesa e o pior é que o rei estava rindo!
A mãe das crianças começou a ficar furiosa, acreditava em seu filho pois não havia motivos para ele inventar tudo isso. Teve que morder o lábio para não dizer um palavrão.
– Filho... Não me diga que esse homem asqueroso ficou impune?
O garoto olhou para sua mãe e coçou a cabeça.
– Se eu te disser que eu bati nele com tanta força que fez todos os dentes dele voarem pelo espaço, a senhora vai ficar brava comigo?
Um minuto de silêncio se seguiu após as palavras do menino, um minuto inteiro de tenção que fez o menino suar frio enquanto sua mãe o olhava séria, mas para sua surpresa dele de sua irmã.
– Ele sofreu? – Foi a pergunta de sua mãe.
O garoto coça a bochecha esquerda.
– Na verdade ele se urinou! – Responde o menino com simplicidade.
– Mesmo? – E para sua surpresa. – Quem bom! Pois se ele não tivesse se ferrado eu mesma teria ido lá dar uns bons sopapos naquele verme FILHO DA PUTA!!! – Esbraveja a dona de casa ficando em pé com os dois dedos do meio das mãos levantados e quase cuspindo fogo.
– Nossa! – Exclama o menino vendo uma chama sair do corpo de sua mãe
– A mamãe ficou brava, salve-se quem puder!!! – Brada Mia que joga as roupas de Anna sobre ela se escondendo.
– Onde está esse maldito Gládius?! Vou agora mesmo pegar minha armar e encher ele de chumbo! Ninguém agride uma criança e fica por isso mesmo!!! – Esbraveja Helen já se levantando e indo pegar sua arma, porém seu filho interverem.
– Espera um pouco mãe!
– O que foi?!
– Olha, nada me daria mais alegria do que ver e a senhora encher aquele filho da puta de chumbo e ainda dar umas belas coronhadas nele!
– Ótimo, então vamos lá! – Exclama Helen que esboça um sorriso macabro depois de ouvir a ideia do filho.
No entanto...
– Mãe a coisa é mais séria do que você pensa e a nossa prioridade agora não é bater naquele verme maldito e sim acharmos a Anna! A vida dela correr perigo!
A feição do rosto de sua mãe vai de furiosa a confusa:
– Quê?!
O menino suspira, pega a mão de sua mãe e a leva de volta ao banco em que estava sentada. Ele também se senta na cama e toma folego para contar o resto do que aconteceu no castelo.
– Quando estava saindo do castelo, o capitão da guarda veio falar comigo, acho que era a única autoridade dentro daquela sala junto com os cavaleiros que estava realmente preocupado com a Anna.
– O capitão da guarda? – A mãe do menino questiona. – Mas o que um homem da patente dele poderia querer com você meu filho?
O pequeno guardião respira fundo e responde:
– Proteger o futuro de Arendelle... entre outras palavras... nossa princesa fujona.
A mãe do menino arregala os olhos, seus olhos castanhos encarram o menino com apreensão.
– Gládius... esse homem sabe que você é um...
– Que sou um Maximus? – Pergunta o menino. – Não, não revelei minha identidade, inventei uma história de que eu era um órfão que passa os dias caçando na floresta e que vivia de favores em estalagens e casas humildes, em suma usei a velha tática do “Lobo Solitário”. – Explica o menino.
Um sensação de preocupação percorreu o corpo de Helen, confiava na capacidade de seu filho, mas mesmo assim isso não diminuía sua preocupação caso descobrissem a identidade de seu filho e que ameaçassem sua vida. Só de pensar em perdê-lo fazia seu coração doer.
“Não suportaria perder você também meu filho amado, seu pai está longe de nós, nem sabemos se está vivo ou não...”
Pensa a matriarca que encara seu filho. Cada vez mais ele parecia com o pai, era praticamente uma versão dele só que em miniatura. Cada dia mais e mais parecido com seu marido, até no jeito de falar e agir. Ela sorri, pois aquilo a deixava orgulhosa e ao ver que seu filho estava disposto a ajudar alguém em perigo a fazia sentir ainda mais orgulho, ele havia herdado de coração e alma o legado dos guardiões.
– Mãe, posso continuar a senhora tá me olhando com uma cara estranha? – Pergunta o menino.
– Oi? – Ela balança a cabeça. – Desculpe estava pensando alto, mas continue, porque esse capitão te pediu ajuda e não aos cavaleiros ou sábios?
Nessa hora o rosto do garoto se fechou, era hora de contar como seu reino estava, numa situação precária e perigosíssima.
– Mãe... o reino de Arendelle está divido.
– Como?!
– Que história é essa? – Pergunta Mia por debaixo das roupas.
E o menino explica:
– Quando estava pra falar com o rei um dos guardas deixou escapar isso e depois o capitão me confirmou. A onze anos atrás o rei fez uma tremenda MERDA que pois todo o reino em perigo, ele comprou uma briga com ninguém mais ninguém menos que o próprio Dragon Master Dyne!
Os olhos de sua mãe quase saíram de orbita ao ouvir aquilo e chegou a cair da cadeira.
– C-C-C-C-C-C-C-COMOOOO?!
– Sim, mãe! Nosso estimado rei sequestrou a mulher de um dos amigos do Dragon Master, a torturou e por pouco não a matou graças ao nosso estimado Dyne que invadiu o reino comandando os quatro Dragões Sagrados, assim a salvando e por pouco não destruiu Arendelle inteira... interessante isso, né?
A mãe do menino estava totalmente sem chão ao ouvir aquilo, nunca tinha ouvido falar sobre isso nas ruas do reino.
– Espera um pouco filho? – Ela se senta novamente na cadeira. – Moramos aqui a bastante tempo, como nunca soubemos disso?
E o menino reponde:
– Mãe, a gente só veio para Arendelle bem depois, quando eu já tinha quatro anos, lembra?
A mãe do pequeno guardião se espanta.
– Verdade... Mas mesmo assim, nenhum comentário, nenhum fato, ou escrito registrando isso? – Questiona a matriarca.
– Parece que o rei e o Ministério da Magia interviram! – Responde o menino sério. – O Link contou que o pessoal do ministério jogou um feitiço de manipulação de memória para que ninguém se lembrasse do que aconteceu, exceto os povo do castelo, mais pensa só! – O menino se levanta. – O Dragon Master... o escolhido de Althena se levantar contra um dos quatro reinos mais poderosos do mundo da magia e quase arrasá-lo todo... o que as pessoas no resto do mundo pensariam?
Ao ouvi isso Helen coça o queixo.
– Seria um caos! O Dragon Master é o herói mais amado e idolatrado do mundo. Seu pai comentava que somente ele poderia derrotar o Demônio das Espadas... se o mundo soubesse desse ataque...
– Todos perderiam a fé e a confiança no “bondoso” herói! – Brada o menino. – Mas na minha opinião ele não agiu errado não! Nosso “querido” governante fez a besteira primeiro e sofreu as consequências!
A mãe de Gládius ouviu as palavras de seu filho com atenção.
– Entendi, foi uma forma de acobertar os fatos e deixar o nome do Dragon Master limpo, mas o que isso tem a ver com a Anna?
O pequeno Guardião já tinha a resposta:
– Tudo!
– Ah?
– Mãe... depois do ataque, o rei ficou muito ferido e incapacitado para reinar, então para que seu reino não caísse em declínio dividiu seu poder em duas forças... Os Sábios e os Cavaleiros. – O menino gesticula com as mão abertas cada um dos dois poderes. – Os Sábios que eram na sua maioria magos e pessoas ricas que ficariam a cargo da legislação, leis e comercio, já os cavaleiros ficariam com o dever de proteger o reino e o povo de qualquer invasão, rebelião, e suma tudo o que envolvesse uma batalha armada.
– Interessante. – Comenta a mãe do menino.
– Muito, não é? E esse tipo de governo fez Arendelle se recuperar de forma exponencialmente em pouquíssimo tempo! – Explica o menino. – Porém tudo mudou quando o rei voltou a governar, ele percebeu que a gestão dos dois poderes foi benéfica e utilizou isso como forma de aumentar seu próprio poder, então ele minou pouco a pouco as autonomias de cada poder os forçando a dependerem dele e de suas ordens. Sem muita opção ambos os poderes tiveram que se subjugar ao rei, mas obviamente nenhum deles quer ser governado. Antes mesmo do rei voltar, já havia rixas e discussões entre os cavaleiros e os sábios para ver quem governaria de verdade.
–Nossa... – A mãe do menino estava atônita. – Então nosso reino está tão dividido assim?
– Pior... ninguém gosta do rei, afinal quem quer um sádico no poder, por isso ambos estão tramando um levante para tirar Richard do poder!
– O QUÊ?! – Brada sua mãe assustada.
– Isso é terrível! – Comenta Mia assustada.
– Filho eu entendo que as vezes para ter uma mudança um regime deve cair e um novo surgir, mas você acha que Richard ficaria parado esperando isso acontecer? – Pergunta Helen. – Ele é um rei! Pode pedir ajuda de outros reinos e se proteger, essa revolta pode ser esmagada facilmente!
– É verdade mãe, tudo o que a senhora disse faz sentindo, no entanto e se ambos os lados tivessem cartas nas mangas?
– Hum? – A mãe do menino fica confusa.
– Mãe... quantas filhas o rei tem?
– Duas... As princesas Elsa e Anna. – Responde a mãe do menino.
– E quantas facções nós temos?
– Duas... – Foi então que a mãe do menino entendeu. – Minha Deusa! Eles querem usar as princesas como trunfo!
– Trunfo não... Representantes!
– O quê?!
– Pensa comigo... nenhum reino vai aceitar um regime sem um rei ou rainha no poder, então ambos os lados precisam de uma representante de sangue nobre, os Sábios querem Elsa, já que dizem que ela nasceu com um poder magico único e raro e que não faço a menor ideia do que seja, mas que favoreceria diretamente os magos e nobres do reino. Já os Cavaleiros querem Anna, pois ela é corajosa e determinada e não possui poderes mágicos e poderia compreender melhor o povo e ter seu apoio! Entenderam?
Um silencio se instaurou no quarto enquanto Helen e Mia assimilavam o que seu filho acabara de dizer. Eram muitas informações ao mesmo tempo e todas de grande porte. O reino que eles consideravam como casa à beira de uma guerra civil.
– Isso até lembra a Lenda der Artorias. – Comenta Helen.
– Eu também pensei nisso mãe, só que nesse caso Anna seria a Anastácia e Elsa a irmão que enlouqueceu e foi morta por Ornstein... a história está se repetindo! – Exclama o menino revoltado.
– Maninho. – Mia segura a mão de seu irmão mais velho. – Eu tava aqui pensando... se a Anna morresse... os tais Sábios ganhariam essa disputa, né?
O jovem guardião arregala os olhos em surpresa ao ouvir tais palavras vindo de sua pequena irmã... e pior... estavam certíssimas.
– Sim maninha... se a Anna morresse... os Sábios teriam ampla vantagem na disputa, ainda mais que o rei parece ter uma preferência pela filha mais velha. – O jovem se levanta e caminha até a janela e olha lá para fora. Um vento frio balançava as arvores lá fora indicando que o frio aumentaria e isso preocupava o jovem guardião. – Quando Link me contou tudo isso fiquei aflito e me veio à cabeça que o incidente que quase custou a vida de Anna... pode não ter sido um acidente. – Se vira para sua mãe e irmã que estavam pálidas. – Temo que Anna tenha sofrido uma tentativa de assassinato!
Medo e terror estamparam os rostos de ambas, se fosse antes de ouvirem toda a explicação do menino com certeza duvidariam e achariam paranoia de sua mente, mas agora...
– O Conselho dos Sábios... – Murmura Helen e seu filho responde com um aceno de cabeça. – Pobrezinha.
– Tadinha da Anna! – Brada Mia em prantos. – Ela não fez nada de mau, só queria apreender magia e ser feliz, por que tem tanta gente má no mundo maninho?
O jovem guardião não respondeu com palavras, mas sim com gestos, foi até sua irmãzinha e a abraçou. Assim que sentiu o abraçou de seu irmão afundou seu rosto em seu peito e chorou, por eles e por Anna.
Helen por sua vez olhava aquela cena e sentia seu coração doer, estavam buscando a paz para suas vidas a tanto tempo, mas parece que a sina de ser um Guardião e membros da Família Maximus os impedia de tal privilegio.
“O tempo começou a correr novamente...”
Diz a matriarca em sua mente e se levanta, passa pela porta deixando o quarto de Mia e indo até o seu, o menino percebeu e perguntou:
– Mãe?
Em seu quarto a mãe de Gládius e Mia caminha até a cama de casal onde passou tantas noites dormindo ao lado de seu amado, brincando com seus filhos e até dormindo todos os quatro juntos. Passou suavemente sua mão sobre a colcha que cobria a cama e um sorriso brota em sua face.
– Tantas lembranças... – Ela se ajoelha ao lado da cama, passa seu dedo indicador direito por debaixo da madeira até encontrar o que procurava, uma pequeno fio que ela puxa e imediatamente a cama desliza para a o lado oposto.
– Mãe?! – O pequeno guardião entra no quarto a tempo de ver sua mãe acionar o mecanismo que nem ele conhecia. Seus olhos azuis claros acompanharam sua mãe tocar nas tabuas de madeira do assoalho, então com facilidade ela remove algumas tabuas revelando um compartimento, o menino se aproxima e percebe um grande embrulho dentro dele. – Mãe... o que é isso?
Ela não respondeu, apenas se ajoelhou, enfiou as mãos dentro do compartimento e retirou o grande embrulho que era do tamanho dela, se vira para seu menino, seus olhos castanho sérios como ele nunca tinha visto e por fim ela lhe estende o embrulho dizendo:
– Pegue!
– O quê?
– Apenas pegue isto... e nunca mais volte a esta casa!
– Ah? – O menino não entende.
– Não ouviu?! – Repete a mulher com uma voz fria que Gládius nunca tinha ouvido. – Pegue este embrulho e deixe esta casa! “Você” é apenas um estranho que veio até nos buscar provisões, para logo depois seguir sua viagem!
O pequeno guardião nada diz, ouvia aquelas palavras de sua mãe que não faziam o menor sentido então sem esperar ela joga o embrulho nas mãos do menino e rapidamente estica sua mão direita apanhando sua espingarda que estava encostada na parede e a aponta para o menino.
– Você não me escutou? – Engatilha a arma. – Vá em bora da minha casa... Estranho!
O menino olhava para sua mãe numa mistura de medo e descrença, não entendia o porquê dela estar fazendo aquilo com ele, foi então que viu uma lágrima escorrer pela face esquerda de sua mãe.
– Você estava procurando informações sobre uma menina baixinha de cabelos ruivos morangos, e eu e minha filha lhe dissemos que a vimos indo para o meio da floresta e você no dever de protegê-la agradeceu e seguiu seu caminho... sem olhar para trás... rumo a seu destino...é isso que diremos a quem vier nós questionar... meu jovem.
O silencio pairou entre o menino e a mulher, um silêncio que poderia durar a eternidade, um silencio que somente uma mãe e um filho poderiam entender.
Gládius abaixa sua cabeça tendo seus cabelos alvos cobrindo seus olhos.
– Eu entendo. – Sua voz era mecânica, quase sem emoção. – Eu sou um estranho nesta terra... não a conheço e nem nunca a tinha visto antes... agradeço do fundo da minha alma pela ajuda e por todo resto. – Da as costas para aquela que ele tanto ama. – Sou grato e feliz, por ter conhecido a senhora e sua filha... nunca as esquecerei e prometo um dia... recompensá-las por sua inestimável ajuda.
Então a passos lentos ele caminha até o lugar em que ficou hospedado, passou pela menina que o chamou, mas ele não a respondeu. Entrou no quarto e pegou tudo que era seu e juntou em uma mochila surrada e velha, a abriu e jogou algumas mudas de roupa o pergaminho que era sua passagem para a escola e o resto ele deixaria como pagamento por sua curta estadia. Não abriu o embrulho que carregava, apenas soltou uma faixa que estava presa a ela e a colocou na costas. Era grande, mas não era tão pesado assim, não para ele. Então olhando o quarto uma última vez, fecha os olhos, se afasta e fecha a porta. Quando saiu estavam a sua frente a mulher e filha que chorava copiosamente. Queria correr e abraçá-lo, mas a mulher a segurava pelos ombros com firmeza.
– Gládius.... – Sussurra a menina em meio as lágrimas, ela não entendia o porquê daquilo estar acontecendo, mas o menino rezava por dentro que um dia ela entendesse. Olhou para a mulher e seus olhos azuis se encontraram com os castanhos dela, naquele momento eles não precisavam de palavras para se comunicarem, apenas aquele olhar materno já dizia tudo.
– Muito obrigado por sua ajuda. – Agradece o jovem. –Fiquem em paz e que a Deusa as proteja. – Se curva para elas para logo em seguida descer silenciosamente as escadas, assim como seu pai fez antes de partir.
Um filme em preto e branco passou em sua mente, nele um homem forte de cabelos alvos como os dele descia as mesmas escadas, logo atrás dele no andar de cima a mesma mulher segurava com sua mão direita o ombro de seu filho mais velho e no braço esquerdo carregava uma pequena menina que chorava.
O menino queria mais do que tudo se soltar da mão da mulher e correr atrás do homem, mas ela era forte, sempre foi e sem derramar nenhuma lágrima ela viu seu amado partir e agora novamente ela via seu primogênito seguir o mesmo caminho. Sabia que não faziam por mau, já que eles eram boas pessoas, mas esse era o dever de um Guardião! Defender quem precisasse de seus serviços, mesmo que para isso ariscassem suas próprias vidas. Esse era seu legado, esse era seu destinos!
O menino para em frente a porta da casa a abre e sem se virar diz as últimas palavras para as duas mulheres mais importantes de sua via.
– Adeus... – E assim “O Lobo Solitário” deixa a casa, pegou o cavalo que deixou na porta, o montou e partiu floresta adentro em busca de sua princesa... sua nova protegida!
E assim a lenda do Guardião do lendário rei teve início!