MAKTUB

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    Capítulo 44

    Maktub

    Adultério, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo

    Quando Samir adentrou no apartamento após passar praticamente o dia inteiro fora, Sakura sentiu a movimentação de Canino se levantando do chão e indo até o encontro do dono.

    Respirou fundo, levantou-se cama, passou os dedos pelo rosto e foi ter com ele na sala.

    O jovem estava abaixado fazendo uma leve e melancólica carícia nos pelos do animal.

    —Samir...

    Sakura o chamou e o rapaz levantou o olhar

    —Precisamos conversar

    O dia na Vila da Folha já mostrava os sinais de estar se findando, Kakashi havia saído e agora ambos se encontravam sozinhos.

    —Eu já sei.

    Ele se pôs de pé encarando a matriarca

    Sakura o mirou espantada

    —Sabe? O que você sabe?

    —Sei que Sarumi e Inoue não eram filhas dele.

    A rosada levou a mão aos lábios

    —Como...

    Ela já ia lhe questionar mas ele tomou a dianteira

    —Foi ela mesma quem me contou

    Dos lábios a mão foi levada até os cabelos rosados

    Então Inoue sabia

    Sakura fechou os olhos

    —Eu sinto muito que tudo isso tenha acontecido com você

    Revelou os orbes verdes

    —Eu quis tanto te proteger dele que na verdade acabei te machucando por estar machucada

    Deu um passo em sua direção

    —Espero que possa me perdoar

    Ele se aproximou e a encarou profundamente nos olhos

    Samir ergueu a mão e passou pelo rosto de sua progenitora

    Seus dedos eram grossos e frios

    A rosada fechou os olhos e sorriu emocionada

    —Vamos pra casa.

    Disse voltando a fita-lo

    —Eu não vou voltar

    Samir concluiu ainda com os dedos no rosto da mãe

    —O que?

    Sakura franziu o cenho sem compreender

    —Não vou voltar com você.

    —Samir...

    Ela o agarrou pela camisa e enquanto ele apenas continuava com os dedos em sua face

    Os orbes verdes já começavam a dar o sinal das lágrimas

    —Eu preciso ficar longe de você, ficar longe de todos, conhecer um lado que ainda não conheço e não vou conhecer se estiver perto disso tudo.

    Sakura balançou a cabeça fazendo as lagrimas rolarem com mais intensidade

    —Vai nos abandonar? Abandonar o seu pai?!

    O moreno deu um triste sorriso lateral

    —Talvez de todos vocês, o que mais me entenda seja ele...que nem tem o mesmo sangue que o meu.

    Sakura apertou o tecido da camisa do filho e mordeu os lábios

    —Eu te amo

    E deu um beijo no topo de fios rosados soltando-se do agarre dela e se afastando para o interior do apartamento.

    Quando Kakashi chegou um pouco mais tarde, Sakura pediu ao ex sensei que convencesse o afilhado a mudar de ideia.

    O Hatake conversou com Samir

    Sakura teve esperanças e seus olhos brilharam quando o ex Hokage adentrou no quarto

    —Ele é mais parecido com o pai...biológico do que imaginamos!

    As lágrimas a arrebataram novamente

    Kakashi se aproximou e a abraçou

    —Não se preocupe Sakura, não é o fim do mundo, ele vai para sua própria viagem, como Sasuke fez, como você fez, e o final todos nós já sabemos como é.

    Ela se separou do amparo e encontrou o olhar dele

    —Vocês sempre retornam pra casa.

    Aquilo não acalmou seu coração de imediato.

    Passou praticamente toda a noite em claro e foi quando conseguiu fechar os olhos por alguns míseros instantes que ele partiu.

    Na escuridão da noite, sozinho, solitário...

    Talvez não tão só pois havia levado Canino junto.

    Samir se foi

    E levou uma parte de seu coração com ele

    Muito parecido com o que o próprio pai fizera anos e anos atrás.

    O primeiro lugar que lhe veio à mente foi a antiga casa.

    A casa onde ele se escondia sempre que desejava ficar só

    Não teve dificuldades em abrir a porta, quando adentrou no local tudo parecia no mesmo lugar de quando esteve ali pela primeira vez.

    Ela era o refúgio de seu pai

    Seu pai...

    Fechou os olhos ao constatar a veracidade dos fatos

    Acendeu a luz e o ambiente se iluminou minimamente, era a primeira vez que podia esmiuçar o ambiente sem ressalvas, sem medo de ser pega.

    A luminosidade era fraca devido a poeira no lustre antigo

    Caminhou lentamente pelo lugar, não havia muita coisa para ver, então sentou-se no sofá, o mesmo onde antes várias vezes o homem passou, refletindo, remoendo, recordando

    Baixou os olhos e respirou fundo, o odor de bolor invadiu suas narinas mas não a incomodou

    O que chamou sua atenção foi a mancha no chão

    Se levantou apressada e caminhou até lá

    Abaixou-se somente para ter certeza

    Sim, era sangue

    Passou os dedos por ali e fechou os olhos

    Sangue de seu pai

    Desviou o olhar por um instante e para sua surpresa os respingos continuavam

    Elevou-se num rompante e os acompanhou

    Sabia que o pai havia morrido naquela casa, mas não lhe disseram aonde

    E a medida que ia seguido as sutis gotas e manchas de sague, refez os passos do homem que a criou

    Notou a parte onde ele se arrastou, onde tentou se pôr de pé, onde cambaleou, onde se escorou na parede para se firmar...as marcas dos dedos dele estavam ali, como um borrão vermelho numa tela em branco.

    Se surpreendeu quando suas pernas a levaram até lá, o porão

    Onde todas as recordações estavam

    A luz do lado de fora iluminava levemente o interior do lugar escuro

    Mesmo assim conseguiu ver as caixas tombadas, algumas reviradas

    E onde a marca estava mais intensa ela soube

    Foi ali que seu pai morreu

    Se aproximou a passos lentos e com as mãos trêmulas

    Curvou-se diante dela e passou os dedos suspirando pesadamente

    Olhou para a caixa aberta onde os objetos antigos estavam remexidos

    Viu a foto do casamento dos dois caída com o vidro quebrado

    A recolheu e se pôs de pé

    E quando sentiu o porta retratos entre as mãos teve uma sensação diferente sobre as pontas dos dedos

    Virou o objeto e no mesmo instante as sobrancelhas claras se ergueram em surpresa

    Era um papel dobrado de maneira displicente e manchado com digitais em vermelho

    Na borda estava escrito com a caligrafia dura e tremida

    INOUE E SAMIR

    Arrancou o papel as pressas da madeira e o abriu deixando o porta retratos cair fazendo o restante do vidro se espatifar pelo chão

    E a medida que ia lendo, seus olhos iam arregalando e as lágrimas escorrendo pela face alva

    Quando uma gota caiu sobre o papel sujo de sangue fechou os olhos e soltou um gemido longo

    Abriu os orbes apenas para ler a frase final e levar os dedos finos e trêmulos aos lábios

    “Essa vida é única, temos a obrigação de sermos felizes nela.”

    Quando baixou o papel da frente dos olhos estava ofegante

    Ele sabia...

    Sasuke sabia que elas não eram suas filhas!

    Não soube quanto tempo passou ali com aquela pequena carta de letras tortas e tremidas nas mãos

    Sentada naquele sofá onde o Uchiha mesmo permaneceu durante horas, a releu diversas vezes  o papel sujo com as digitais em sangue e agora já se mostrava marcado pelas suas próprias.

    Ele sabia que ela a seguia, é claro, ele não era estupido, não era um amador.

    Suspeitou quando o tempo passou que as meninas não eram dele, quando os sinais que ele tanto desejou que elas não apresentassem nunca chegaram. E aquilo e o fez rever toda sua vida mas quando deu por si já estava condenado.

    Seu tempo já estava contado

    Desculpou-se por não ter revelado nada a ela ou a irmã mas ele não queria que elas passassem por aquele sofrimento

    A verdade é que era egoísta...que se apaixonou por elas quando as teve, que elas lhes mostraram um amor novo, um amor curativo, um amor que a preenchia e lhe dava um motivo todos os dias.

    Dizia não ter se arrependido de ter escolhido elas e a família que construíram.

    Pedia a ela para não odiar a mãe pois uma coisa que ele entendeu é que se Ino pudesse ela mesma teria o liberado daquilo tudo para que fosse pra longe ser feliz

    Mas o que Ino não sabia é que ele já era feliz.

    Pedia que ela quebrasse o ciclo do ódio que os rodeavam e que se alguém pudesse fazer isso era sua Inoue, a pessoa mais doce que já conheceu.

    Pedia a ela que seguisse seus sonhos

    Pedia a ela que o perdoasse e que nada a impedisse de ser feliz

    O tempo dele estava contado, o dela apenas começando.

    A agradecia por ela e a irmã terem lhe mostrado a mais pura forma de amor e finalizava dizendo que ambos, ele e Sarumi estariam do outro lado olhando por ela.

    Estando junto a ela

    Pra sempre

    No pequeno trecho destinado a Samir, mais borrado devido a falta de forças para a escrita era breve

    Sentia muito por toda dor que havia causado

    Dizia que sentia orgulho do homem que ele havia se tornado

    E que seu único arrependimento foi não ter podido passar mais tempo com ele

    Dizia ainda que ainda amava sua mãe e que queria ter experimentado a família que eles estavam predestinados a ser.

    Finalizava dizendo que demorou para dizer a verdade mas que ela sempre deveria ser primordial em qualquer situação, por mais dolorosa que fosse.

    Pedia ainda fossem felizes

    “Essa vida é única, temos a obrigação de sermos felizes nela.”

    No último trecho constava que eles estavam em seu pensamento

    Mal conseguiu finalizar assinatura

     Quando se levantou, dobrou a carta e colocou sobre o cós da calça.

    Caminhou até a porta e apagou a luz mas antes de fechá-la olhou para o interior da casa escura.

    Puxou o ar de maneira lenta e profunda e por fim a fechou vagarosamente

    Olhou adiante e mergulhou pela noite da Vila da Folha.

    Estava arrumando suas coisas quando ela adentrou

    —Vai mesmo embora não vai?

    Colocou-se de pé e mirou os orbes tão azuis quanto os seus

    Inoue sacudiu a cabeça em afirmação e voltou-se para a mala sobre a cama

    —Filha, por favor...

    Ela sacou o papel em direção a mãe e Ino travou no lugar

    A medida que a Yamanaka mais velha ia lendo seu corpo ia cedendo em direção a cama, a mão aos lábios de maneira incrédula

    Quando terminou de arrumar suas coisas olhou para o criado onde o papel estava, o papel que Sarumi rabiscava em Dohã

    O pegou e o dobrou colocando dentro do bolso traseiro

    Quando se virou para a matriarca ela baixava o papel

    —Eu já vou

    Ino se ergueu

    —Vou seguir o meu sonho

    A loira mais velha soltou o ar de maneira lenta e fechou os olhos

    Então se aproximou e abraçou

    Inoue sentiu todo o contato do corpo da mãe

    —Eu te amo, amo demais, você nem imagina o quanto. Se um dia me perdoar, se um dia quiser voltar, eu vou estar aqui esperando, eu sempre vou esperar por você.

    Ino disse próximo ao seu ouvido

    Então calma e lentamente a loira mais nova subiu os braços e correspondeu sutilmente ao abraço

    Ino a apertou mais ainda e fechou os olhos

    As gotas de lágrimas caíram no ombro de Inoue

    Então a mais velha se afastou e a encarou

    —Já sabe pra onde vai?

    Inoue sacudiu a cabeça de forma positiva e finalizou

    —Dohã.

    O dia já estava amanhecendo enquanto caminhava lentamente até o local

    Lá ela a viu e todo o comboio que iria a acompanhar de volta a sua terra

    Quando se aproximou os olhos verdes se viraram até ela

    —Inoue...

    —Eu vou com vocês.

    Disse diante a rosada

    —Eu posso? Ainda tenho a minha vaga?

    Sakura apenas se aproximou da loira e a abraçou pelos ombros

    —Claro que pode, isso se conseguirmos restaurar o que sobrou da Universidade! Acha que consegue ajudar? Precisaremos de toda ajuda disponível

    —Vou fazer o meu melhor.

    A rosada lhe sorriu minimamente e se afastou

    —Sabe quem está lá, não sabe?

    Inoue baixou os olhos

    —Sei.

    —Vai dizer a ele?

    Os azuis a alcançaram

    —A vida já me tirou um pai, não vou perder a chance de conhecer o outro.

    Sakura tocou em seu queixo e a loira lhe sorriu minimamente

    —Bom, então vamos

    Inoue olhou ao redor, viu a infinidade de ninjas que o Hokage estava enviando junto a rosada de volta a Dohã, mas quem ela procurava não estava ali.

    —Sakura-sama, e o Samir?

    A expressão da cerejeira se tornou mais densa e melancólica

    —Samir não vai conosco

    Foi tudo que disse antes de adentrar no veículo.

    A porta continuou aberta, então ela respirou fundo e entrou

    Após colocar o cinto Sakura afirmou

    —Se despeça da sua vila, não a verá por muito tempo.

    E foi isso que Inoue fez, quando o carro deu a partida ela olhou pela janela as ruas, os prédios, as casas, até mesmo a floricultura onde passou tanto tempo...

    Sentiu um aperto em seu peito

    O monte dos kages ainda podia ser visto mesmo com a velocidade do veículo

    E ali ela se despediu

    Se despediu de sua vila e de sua vida

    Se despediu de tudo aquilo que estava deixando para trás.

    Estar de volta sobre o deserto, ver as dunas irrompendo pelo horizonte...

    Parecia tudo nos eixos novamente, menos por Samir não estar ali.

    Ter os olhos dele sobre si, tão risonho como sempre foi enchia seu interior de vida

    —Habiba!

    Ter os lábios dele sobre os seus era como andar sobre as nuvens

    O tempo que passou longe foi pouco mas o suficiente para os reparos começarem

    Dohã renascia das cinzas, assim como ela um dia renasceu

    —E Samir?

    Ele a questionou assim que a viu

    Sakura o mirou e maneou a cabeça

    Zayn segurou seu rosto e a trouxe para perto

    —Não se preocupe, ele vai voltar para gente

    —Como você pode ter tanta certeza?

    Ele sorriu

    —Porque eu conheço meu filho.

    —Eu não acredito que mesmo com o mundo acabando você não tem a decência de me avisar!

    Sakura se virou e deu de cara com a antiga mestra

    —Tsunade?! O que está fazendo aqui?

    A loira se aproximou com passos duros

    —Como o que estou fazendo aqui?! Não é obvio, temos uma Universidade para retomar!

    Sakura se virou para o marido e sorriu

    —Aposto que isso foi ideia sua

    Zayn ergueu os ombros rendido

    —Gaara chega semana que vem, os outros kages também nos ofereceram seus préstimos

    Algo em seu interior aos poucos ia se renovando

    —Bom, o que vamos fazer agora?

    Tsunade a questionou

    —Recomeçar!

    Concluiu a cerejeira

    Daquele dia em diante Dohã começaria a movimentação

    Eram fracos apesar de tudo, o ataque deixou isso bem claro

    Zayn e Amin estavam no encalço daqueles que foram os mandantes do ataque, daqueles que financiaram os rebeldes de Faruk.

    Dohã seria a primeira nação ninja fora do extremo oriente.

    —Ah Shishou, trouxe alguém de Konoha comigo, acho que vai adorar conhecê-la

    Tsunade levou as mãos a cintura e ergueu o peito

    —Hum...ela tem talento? Não quero perder o meu tempo

    Sakura levou a mão a cintura e sorriu em resposta

    —Vai ter que tirar suas próprias conclusões

    A loira se virou resignada e saiu resmungando

    É, talvez finalmente a idade havia chegado para a sennin médica

    —Coitada da Inoue, só espero que não se assuste e desista

    Sussurrou a rosada

    Assim que pôs os pés em Dohã tinha um destino certo

    Quando o viu pela primeira vez não entendeu exatamente o que foi aquela conexão, pensou até mesmo que poderia ser algum tipo de interesse romântico mas não, era algo além, algo a mais.

    Seu chakra ficou gravado em sua mente, em seu interior

    Não foi difícil encontra-lo com suas técnicas de rastreamento

    No fim, todo o treinamento com a mãe havia sido útil, tanto em batalha quanto agora

    Ele abriu a porta antes mesmo que ela batesse

    Sakura havia lhe contado a história dele durante a viagem

    Um ex ninja em de elite, devia estar sempre em alerta

    Era um homem com um passado sofrido assim como aquele que a criou

    Os olhos negros a encaram

    —Desculpe...

    Começou

    Treinou o que dizer em sua mente durante todo o trajeto mas agora as palavras simplesmente desapareceram

    —Eu sou...

    —Eu sei quem você é.

    Ele a interrompeu

    —Você e minha mãe foram casados anos atrás

    Então levou a mão a bolsa lateral que carregava e retirou o papel dobrado de lá de dentro

    —Esse desenho foi feito pela minha irmã

    E lhe estendeu o papel

    Sai não denotava expressão, apenas recolheu o papel da mão tão pálida quanto a sua e abriu

    E lá ele contemplou a obra

    O monte dos kages representado com traços firmes mas delicados

    Os dois... Sarumi e Samir se amando sob o mesmo

    Os olhos negros a fitaram de imediato

    —Sarumi sempre desenhou muito bem

    Sai abriu a boca para dizer algo mas as palavras não vieram

    Foi seu gesto que disse algo por ele

    Ele deu um passo para o lado lhe dando passagem

    Ela então engoliu a saliva e respirou fundo adentrando na casa

    Na casa de seu pai

    Sai fechou a porta

    E partir daquele dia, Inoue nunca mais saiu de lá.

    O exame foi feito apenas para comprovar o obvio

    Quando o moreno soube da atitude de Sasuke, Inoue pensou o quanto o progenitor ficaria irado com o homem que a criou

    Mas não foi o que aconteceu

    —Talvez ele não achasse que eu seria um bom pai já que abandonei sua mãe, já que era tão ou mais fechado do que ele já foi, ou apenas...apenas era um homem sedento de amor.

    Inoue se sobressaltou com aquelas palavras

    —Se tivesse experimentado um pouco disso...

    E apontou para a filha

    —Também não abriria mão, jamais!

    Ele não deu noticias durante meses

    E durante meses eles trabalharam e reergueram uma nação

    Zayn mal deixava Sakura fazer algo, a queria bem e disposta à medida que a gravidez avançava.

    Inoue passou a frequentar a Universidade que já não detinha mais o numero de estudantes de antes, mas isso seria por pouco tempo, todos sabiam.

    Tsunade administrava tudo e a Yamanaka a assistia quando era necessário já que os hábitos desregrados da sennin continuavam mesmo com a idade já avançada.

    Mas sempre que olhava para o céu

    Sempre que caminhava pelas dunas ela a via

    A grande águia pairava pelo horizonte de Dohã

    Não era sempre mas apenas quando o canto longínquo anunciava sua passagem e a vigilância constante sobre as raras nuvens do deserto.

    Os meses passaram

    Sakura entrou em trabalho de parto.

    Foi sua mestra que trouxe a pequena e chorosa criança ao mundo

    Uma menina

    De grossos e brilhantes fios escuros e olhos tão verdes e brilhantes quanto os seus

    Jady!*

    A pedra mais preciosa de toda Dohã.

    Zayn ficou extasiado, Sakura apesar de cansada estava feliz, mas foi quando o marido pegou o bebe de seu colo pela primeira vez que Inoue percebeu o olhar vazio e perdido

    Havia auxiliado Tsunade e não pôde deixar de notar a expressão da rosada

    Sabia o que estava faltando

    Samir...

    O palácio que estava sendo reconstruído estava em festa!

    Tudo pela chegada da nova vida

    Seu pai estava lá dentro junto aos outros e ela apenas se permitiu sentar sobre as escadas e admirar o céu do deserto por um momento

    A noite era quente

    As estrelas brilhavam

    E não havia nada como o céu de Dohã!

    Foi então que sentiu o impacto

    Ele voou sobre ela a inundando de pelos, lambidas e saliva

    —É...ele realmente gosta mesmo de você!

    Inoue tentou se erguer e afastar Canino por um instante e quando conseguiu pôde finalmente o ver por inteiro

    Lá estava, envolvido nas roupas do deserto apenas com os olhos para fora, o turbante nos fios escuros e pelo visto um pouco mais longos.

    —Samir!

    Ele estava ali, depois de todos aqueles meses, depois de tanta preocupação

    —Como vai Inoue?

    Ela sorriu, Canino se deitou ao seu lado repousando a cabeça sobre suas pernas

    A loira passou os dedos através dos pelos cinzentos e respondeu

    —Bem.

    Então ele fez algo que a surpreendeu, se sentou ao seu lado na escadaria do palácio e baixou o lenço do rosto.

    —Por onde andou todo esse tempo?

    Questionou sentindo a textura da pele de Canino que já começava a fechar os olhos

    —Por aí...na verdade vaguei pelas vilas ninjas, refiz os caminhos dele.

    Inoue virou sua atenção para Samir

    —Eu decidi conhecer o homem que me gerou, então refiz seus passos, de Konoha até a redenção.

    Os olhos escuros a encaram

    —Eu quis conhece-lo, saber mais desse homem que de alguma forma faz parte de mim, e assim entendi mais sobre o meu poder e quem eu sou.

    Inoue mordeu o lábio inferior

    —Ouvi histórias sobre ele, soube como foi cruel, como foi um vilão, como se redimiu, como foi um herói...um amigo, um mocinho, o conheci sobre diversos olhares e devo reconhecer que o tal Orochimaru me assustou um pouco

    Inoue soltou uma risada baixa

    Samir a acompanhou no sorriso

    —Mas nunca o conheci como pai

    Os orbes se mantinham presos aos dela

    —Isso somente você pode me dar

    Aquilo a pegou totalmente de surpresa

    Abriu a boca para dizer algo mas no instante seguinte as portas da entrada foram abertas

    Canino abriu os olhos e levantou a cabeça

    —Samir...

    Sakura levou ambas as mãos aos lábios

    Ele olhou uma última vez para Inoue e então se pôs de pé

    —Olá mamãe

    Ela então correu e o abraçou

    —Não devia correr assim, acabou de ter um bebe.

    Ele disse próximo ao ouvido da rosada

    Ela se afastou e o mirou emocionada

    —Zayn!!!

    Gritou

    Quando o Emir surgiu ele se afastou da progenitora e caminhou até ele

    As palavras foram simples

    —Pai...

    Zayn abriu os braços e puxou o filho num abraço cheio e apertado

    —Bem-vindo de volta, filho!

    Quando se afastou olhou para o rosto, sorriu ao ver a barba rala no rosto do rapaz

    —Venha, venha conhecer sua irmã.

    Quando os dois adentraram, Canino se levantou e passou correndo pela porta

    Sakura já ia se virar mas viu a figura da loira dali

    —Inoue, não vai entrar?

    —Vou num instante Sakura-sama.

    A rosada lhe deu sorriso, um sorriso a muito tempo não visto

    —Estaremos esperando

    Ela sacudiu a cabeça em concordância e depois voltou-se para o céu estrelado

    No segundo seguinte a grande águia pousou sobre um ornamento do telhado da parte do palácio que estava sendo refeita

    Inoue se surpreendeu mas por fim sorriu

    Samir esteve zelando por eles

    Mesmo que distante

    Era tão emocionante ver seu filho segurando a irmã nos braços

    Seu coração finalmente estava em paz

    —Viu as mudanças que estamos fazendo?

    Os olhos negros se ergueram para a mãe

    —Sim, com certeza está ficando bem melhor do que antes

    —É tão bom ter você de volta!

    A cerejeira se aproximou e se sentou ao seu lado na cama

    A expressão de Samir se modificou

    —Eu não vim para ficar

    A rosada se pôs de pé num rompante

    —O que?

    Samir se levantou e ninou a irmã nos braços, ela se remexia levemente e fazia os sons característicos de um bebe daquela idade

    Se inclinou e a deixou sobre o berço, quando se ergueu os olhos inquisidores da matriarca ainda estavam sobre si

    —Eu passei todos esse meses descobrindo mais sobre esse homem, Sasuke...

    Respirou fundo e continuou

    —Agora é hora de descobrir mais sobre mim mesmo

    Sakura se aproximou e segurou na mão do filho

    —E não pode fazer isso aqui?

    Samir sorriu a maneou a cabeça de forma negativa

    —Preciso fazer isso sozinho, sem nenhuma interferência.

    Sakura soltou o ar angustiada

    —Céus, você é mesmo parecido com ele

    Ele se aproximou e levou a mão da mãe aos lábios

    —Eu sei.

    Concluiu e beijou suas falanges.

    Ficaram os dois ali, deitados na cama, com a rosada fazendo carícias nos cabelos escuros enquanto lhe contava, de forma clara e aberta a resposta da pergunta que a fizera.

    De todos aqueles que questionou sobre quem seu pai amou, quem mais o conheceu, quem mais adentrou na mente e no interior do Uchiha a resposta foi plena e uma só

    Sakura.

    Dormiu com os dedos da mãe sobre seus fios assim como era quando criança.

    A despedida dos pais foi bem mais tranquila do que imaginou que seria, sua mãe estava mais calma do que da ultima vez e quando se aproximou da irmã e beijou a pequena testa dizendo que voltaria para a proteger, a cerejeira apenas sorriu.

    Ela não estava lá para se despedir dele. Seu tio estava, Tsunade, até mesmo Sai que não denotava expressão estava lá.

    Menos ela.

    Não soube o que sentiu com aquilo mas mesmo assim se virou e partiu rumo a sua jornada, com Canino em seu encalço e a águia planando alto nos céus sobre sua cabeça.

    Então viu, já nos limites da cidade, os cabelos loiros e mais longos dançando junto a brisa

    Ele parou lentamente e ela se aproximou

    —Você me perguntou como ele era como pai, a resposta está aqui

    E lhe estendeu a carta

    O papel estava fino e manchado

    Samir ergueu a mão e o recolheu

    Inoue respirou fundo a medida que via os olhos tão negros quanto os de Sasuke esmiuçando aquela carta

    Quando ele terminou, dobrou-a novamente e lhe entregou

    —Obrigado por ter me mostrado

    —Ele não foi a melhor pessoa do mundo mas foi a melhor conseguiu ser

    Disse a loira

    —Foi o melhor pai que eu poderia ter tido, agora que não o tenho mais, a vida me deu uma segunda chance, Sai é um bom homem, cada dia se torna melhor.

    Então ela deu um passo mais próxima e concluiu

    —Nem sempre a vida nos dá uma segunda chance, e assim como nosso pai disse, temos obrigação de ser felizes nessa vida.

    Samir baixou os olhos e murmurou

    —Eu devia ter tentado fazer algo por ela, ter a socorrido mas no desespero...

    Inoue segurou no rosto de barba rala e o ergueu

    —Minha irmã tinha um problema no coração, nada do que fizesse seria suficiente naquelas condições, você não sabia, eu não sabia, ela não sabia.

    Ele pressionou os lábios e fechou os olhos

    —E por ela e por meu pai que não tiveram chances, vou agarrar minha segunda chance e ser a melhor médica que eu puder, como eles acreditavam que eu poderia ser, como você um dia acreditou em mim.

    Então baixou as mãos e deu um passo para trás

    Samir abriu os olhos

    —Adeus Samir

    E passou por ele

    Mas assim que se afastou alguns míseros passos sentiu os dedos envolta de seu braço

    Parou

    Ele se virou e se inclinou sutilmente até ela

    E seu ato, seu simples e corriqueiro ato a deixou imóvel

    Ele ergueu a outra mão e com os dois dedos elevados tocou em sua testa

    Num murmurar baixo e lento disse

    —Obrigado.

    E os dedos se foram

    Ele se afastou e seguiu seu caminho

    Seu caminho na contramão de Dohã

    Seu caminho na contramão do dela

    E assim o tempo passou

    Cinco longos anos

    Ele nunca mais voltou para Dohã

    A nação cresceu e se desenvolveu ainda mais

    A Universidade, completamente nova recebia agora uma nova fama e novos investimentos com alianças recém formadas, dessas vez com países mais distantes, países do norte, países gelados, países além do oceano a oeste...

    O mundo era pequeno para a esplendorosa Dohã!

    Alguns ataques isolados voltaram a acontecer, mas dessa vez todos foram aplacados no inicio devido a força ninja presente na nação do deserto.

    E Dohã cresceu começando a invadir as dunas

    Uma escola ninja foi implantada

    Outros países começaram a ter interesse nesse universo

    Eles entenderam que não existiam uma forma de existir paz eterna, não completamente, pois sempre haveriam aqueles que desejavam subjugar a liberdade, tomar o que é de outros, e que quando isso acontecia a batalha era inevitável.

    Pois então que fosse limpa e decisiva.

    Dohã surgia em meio ao deserto como um balsamo para todos aqueles que desejavam renascer.

    Estava sobre a sacada da casa.

    Havia convencido o pai a se mudarem para um lugar maior e mais confortável já que a pequena casa que o moreno residia era pequena para os dois.

    Não queria deixa-lo sozinho

    Não queria deixa-lo só nunca mais

    Terminava de escrever a carta para a mãe contando os últimos acontecimentos, estava prestes a se formar na Universidade e pedia a mãe para que viesse em sua formatura.

    Não sabia se a progenitora atenderia seu pedido.

    Durante todos os esses anos nunca mais se viram, apenas as cartas eram sua fonte de comunicação.

    Inoue tentou implantar o celular e até mesmo a troca de e-mails com a matriarca mas era em vão

    Ino dizia que com os e-mails ela não se sentia próxima a filha e através do celular eram raras as vezes que seus horários batiam.

    Tinha que concordar, ao ler as linhas escritas pela mãe se sentia de alguma forma próxima, e as curvas das letras diziam mais coisas nas entrelinhas do que um e-mail poderia mostrar.

    Sentia sua falta mas entendia da importância dela na vila agora de erguera o orfanato e dava assistência e amparo as mães que perderam seus filhos.

    Sentia lá no fundo que a ideia do orfanato e de o dirigir era uma forma de não se sentir só, e talvez aplacar um buraco que havia ficado em seu peito com a morte de Sarumi e sua partida para longe.

    A assistência a amparo para as mães que tinham perdido os filhos era uma ação dentro do próprio orfanato, onde um grupo de mães conversava e juntos tentavam superar a perda.

    E lá mesmo elas faziam companhia aquelas crianças tão carentes quanto elas.

    O trabalho na inteligência ainda feito pela Yamanaka, tomava outra parte de seu tempo, o clã ainda precisava dela...

    Ela estava inserida em algo novo, algo grande, algo único e Inoue se orgulhava disso

    As cartas de Ino sempre exaltavam o bom trabalho da filha e que ela iria longe, dizia sempre para a nada a parar.

    E nada a pararia

    Assim que se formasse começaria os estudos seguintes

    Se levantou com isso em mente após finalizar a carta que enviaria para Ino.

    Escorou-se na janela e refletiu

    Novos rumos a aguardavam

    Rumos que nem imaginava que viriam

    Então a ave pousou sobre o batente da janela

    Era grande e estrondosa e sempre que surgia assim de repente não deixava de se assustar e de admirá-la

    — Olá Dúnay!*

    Fez um sutil carinho sobre as asas do animal e se inclinou para retirar o bilhete

    —Onde ele está dessa vez hein?!

    Questionou ao animal antes de abrir o pedaço de papel enrolado

    Poucas palavras eram descritas

    “Felicitações pela formatura”

    Sorriu e escorou a cabeça sobre o batente

    Dúnay levantou voo e saiu pelos céus se afastando

    Acompanhou o planar da ave com seus olhos azuis

    Tomou um susto a primeira vez que a águia pousou sobre seu batente

    Ele descrevia de forma simples o local onde estava e dizia que sentia falta de caminhar de camelo pelas dunas, dizia que Canino estava com saudades e finalizava com um até logo

    Não era um tchau

    Não adeus

    Era sempre um até logo

    Observou que a ave sempre ficava mais tempo esperando sua resposta e que só partia quando outro papel era colocado na pata.

    E assim foi, durante todos aqueles anos

    As vezes ele ficava meses sem se comunicar e a preocupação a atingia, então quando a ave surgia sua resposta era cheia de broncas mas de um grande alivio.

    Ele até mesmo a chamou de dramática certa vez

    Ele era um amigo

    Seu melhor amigo

    E quando ele disse que sentia falta não de Dohã, não da mãe ou do pai, ou até mesmo do camelo, mas dela, aquilo surgiu

    Algo já adormecido, guardado lá no fundo do peito como um tesouro roubado e profano.

    E ela não o respondeu mais

    Mas Dúnay não ia embora

    Os dias passavam e a águia continuava ali, chegava a ter de espantá-la certas vezes para fechar a janela.

    Ela a seguia até a Universidade, até os trabalhos que prestava no setor médico, até lojas, pelas ruas

    Então se cansou e decidiu responder

    Foi curta e grossa

    Não deveriam se corresponder mais

    Não demorou nem dois dias para que a resposta chegasse, ele questionava o porque

    Ela apenas dizia que não era apropriado

    Então houve o silencio, e ela chegou a pensar que ele havia desistido, aquilo a atingiu de maneira pungente mas mesmo assim estava decidida, era o melhor.

    Enquanto avistava o céu cintilante de Dohã foi uma surpresa ter o animal ali novamente

    Pegou o papel e o leu, não conseguiu deixar de sorrir com a resposta

    “Eu não desisto tão fácil”

    E lá de baixo, olhando sua ave pousada na janela ele capturou o sorriso que ela cedeu ao ler suas linhas.

    Prendeu novamente o lenço sobre o rosto e se afastou

    Dois dias depois e o grande dia havia chegado!

    Finalmente estaria formada, seria oficialmente uma médica.

    Seu sonho se tornava realidade

    Terminava de se arrumar quando ouviu o pai falar lá de baixo

    Sai estava mesmo gritando?

    Parece que a convivência com a filha acabou lhe despertando maus hábitos

    —Vou na frente para garantir os lugares

    —Tube bem, Sakura-sama deixou o seu reservado junto ao da mamãe!

    Ino iria de avião

    O silencio foi sua resposta

    —Pai?

    —Certo...nos vemos lá, até mais tarde.

    Se olhava no espelho enquanto terminava de se aprontar, os olhos azuis eram ressaltados com a maquiagem escura e brilhante, o vestido longo e colado ao corpo moldava o belo corpo de quase vinte e três anos.

    Colocou-se de pé e calçou os saltos, capturou o belo céu dourado dado pela senhora Hadiya como presente e o envolveu sobre os cabelos.

    Olhou-se uma ultima vez e encarou a foto colada no espelho

    Nela Sasuke as segurava cada uma em uma das pernas

    —É por vocês!

    Disse sorrindo

    Então se virou sobressaltada e teve a imagem de Dúnay sobre o batente

    Balançou a cabeça e se aproximou

    Ele já a havia a parabenizado pela formatura, o que será que tinha acontecido?!

    Passou a mão pela pata e não encontrou nada lá

    Estranhou e se inclinou para ver se encontrava algo

    Nada

    Posse de pé e olhou para o animal

    —Seu dono deve estar caducando, só pode.

    Afirmou para a ave

    Então recolheu seus pertences e saiu porta afora

    Desceu as escadas de maneira apressada fazendo o salto fino tilintar

    Parou diante da porta e a abriu

    Seus olhos mal acreditaram na imagem que tinham

    —Estou de volta, Inoue!

    FIM!

    * Jady: “pedra preciosa”. A jade é uma pedra de cor verde e bastante bonita, utilizada para a produção de ornamentos, como joias e demais objetos de decoração. Um fator que chama muita atenção dos pais ao escolher este nome para batizar suas filhas é o seu significado está relacionado com “pedras preciosas”, ou seja, fazendo uma comparação com a “preciosidade” que é a criança para a vida dos pais.

    * Dúnay: mundo


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