Freedom Planet: Faith & Shock

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    Capítulo 8

    O torneio de Shang Tu - Parte 3

    Spoiler, Violência

    E Viktor tem uma parada bem "gelada" para encarar. E não é que pandas sabem mesmo lutar Kung Fu?

    A reviravolta na disputa do torneio de artes marciais de Shang Tu trouxe um certo nervosismo por parte de Milla, que havia dito que sua mestra, Neera Li, iria disputar a final contra Viktor, que se apresentava com seu pseudônimo Red Mask. A correria continuava, com Milla seguindo a toda velocidade até às dependências da arena. No mesmo instante, enquanto corriam atrás da canina, Lilac diz:

    — Mas como é que a Neera foi aceitar disputar esse torneio? Ela não costuma se envolver em atividades da cidade dessa forma...

    — Ah na certa a “tsudere de gelo” tá tentando se enturmar... – Disse Carol, em tom de deboche.

    — Não, Carol. Não é do feitio dela. Tem algo estranho nisso tudo.

    — E porque a Milla está tão preocupada assim?

    — Ih será que ela conhece o Red Mask e vai tentar evitar que o sortudo leve um piau da panda tsudere?

    — Carol, já entendi. Não precisa ficar chamado a Neera disso. Mesmo ela sendo meio durona, ela é uma aliada.

    — E daí? Ela só gosta da Milla. Da gente ela quer distância...

    — Eu entendo, mas é o jeito dela.

    — Tá, Lilac. Vô pegar leve com ela. Até porque se eu falar demais, eu que serei esfolada...

    — Tudo bem, chega!

    E ao chegarem até a entrada das dependências da arena, Milla percebe que já era tarde. Seus belos olhos verdes contrastavam com sua temeridade. E como esperado, sua mestra já estava na arena, frente a frente com Red Mask. Paralizada por causa da aflição, Carol logo se preocupa com sua amiga:

    — Milla? Oi? Tá tudo bem? Que que houve, kawaiizinha?

    — Eu... Eu cheguei tarde... – Disse Milla, ainda aflita.

    — Milla, tu tá me assustando. Diz pra gente o que tá acontecendo.

    — Milla, desde que viemos pra cá, você e o Viktor estiveram agindo de forma estranha. Poderia me dizer o que está acontecendo? — Perguntou Lilac, visivelmente preocupada com toda a situação.

    Mas Milla continuou estática, atônita. Sem expressar nenhum movimento, ficou alí, pensando.

    — *Viktorius... No que foi que nos envolvemos? Agora eu não posso fazer nada e é tudo culpa minha...*

    A dragão púrpura, ainda mais preocupada, foi até Milla, ficando a sua frente. Olhando nos olhos da canina, diz:

    — Milla, cadê o Viktor? E o que está acontecendo?

    — Lilac... Eu... Eu...

    — Diga, Milla...

    Mas Milla não parecia estar em condições de dizer alguma coisa, ainda mais observando o que estava acontecendo na arena.

    E justamente sobre isso mesmo, indo até a arena, mostrando os fatos, dizia para todos os telespectadores de Shang Tu e reinos vizinhos, Galv Aon.

    — É uma situação completamente inusitada. Arn Aldun, meu amigo... Me diga: isso é permitido?

    — Bem, Galv Aon, permitido é. Só que, como eu disse antes, faltou bom senso. Esse tipo de coisa deixa todo mundo confuso e fere um pouco a credibilidade do torneio.

    — Eu acho que depois dessa podemos esperar que algum dos monges do reino de Shuigang participem também, então...

    — Não... Aí vira bagunça. Estou certo que dessa vez é a decisão, mas está muito estranho...

    — Bem, como já estamos testemunhando tudo isso, vou dar a palavra a Ever Aldon. Diga a todos o que acha dos dois lutadores.

    — Bem, Galv Aon... Acho que todo mundo já entendeu porque Red Mask chegou onde chegou. Na insistência e no imponderável, conseguiu vencer Gong. Porém com Neera Li as coisas mudam de figura.

    — Como assim? Essa eu não entendi.

    — Neera Li treinou durante toda sua infância e parte de sua adolescência no monastério de Shuigang. São poucos os que tem essa honra. Só isso já daria a Neera uma imensa vantagem. Porém ela é a alta sacerdotisa do reino de Shuigang e agora de Shang Tu e atual chefe da força policial de Shang Tu. E ela tem pleno domínio do poder do gelo, poder esse que ela desenvolve desde que nasceu.

    — Sim, mas o uso de poderes especiais são estritamente proibidos no torneio.

    — Essa será a única coisa que Red Mask não precisará se preocupar. Mas aí que eu te pergunto, Galv Aon: e o resto? Neera Li tem tudo superior a Red Mask.

    — Então seria um duelo entre Gibraltar e Mongólia?

    — Não, Galv Aon... Eu seria mais drástico. 

    — O que seria então?

    — Será uma execução sumária. Neera Li será a vendedora. O que devemos ver agora é quanto tempo Red Mask vai resistir....

    Pelo visto os comentaristas não estão muito otimistas quanto ao sucesso de Viktor. E como não podemos enrolar mais do que estamos enrolando (até porque quero evitar conflitos com uma certa pessoa), vamos então para a ação! E estavam os dois no meio da arena, olhando um para o outro. E quando o juiz estava prestes a anunciar o combate, Red Mask o impede, dizendo:

    — Ei! Um momento. UM MOMENTO POR FAVOR!

    — Hã? O que foi, Red Mask?

    — O que houve? Você ainda pergunta? Olha só pra ela!

    — Hã? O que tem?

    — Vocês estão loucos? Como eu poderia lutar contra uma garota?! Vocês perderam o juízo?

    — Red Mask, não estou entendendo.

    — Como assim? Vocês permitem esse tipo de coisa? Eu não quero machucar ninguém e muito menos quero ter na minha consciência o fato de ter levantado meu punho pra uma dama.

    — Red Mask, melhor retirar o que você disse já, senão terei de desqualificá-lo por falta de decoro!

    — O que? Mas olha só pra ela! Eu nunca poderia agredir alguém como ela. Fora que ela deve ter feito esse penteado faz pouco tempo.

    Neera Li, que estava pacientemente aguardando o início da luta, não demorou muito pra mudar totalmente seu humor. Seu rosto já evidenciava uma irritação absurda, franzindo suas sombrancelhas. Ela, já não resistindo mais ficar calada, diz:

    — Cale a boca, seu miserável!

    — Hã? Mas...

    — Já estou farta de suas palavras, seu desgraçado! Eu odeio pessoas como você!

    — Olha, moça... Eu não queria te ofender, mas...

    Neera então, apontando seu cajado para Red Mask, faz com que sua máscara se cobrisse de gelo, mesmo que de forma tímida. Red Mask, tentando retirar a máscara, passou a dizer:

    — Ei! O que está acontecendo? Como é que minha máscara congelou? Socorro!

    E ao movimentar suas mãos, as fechando, quebra a máscara de Red Mask, fazendo com que todos vissem o rosto de Viktor. E eu nem preciso dizer quem ficou mais surpresa com a situação, não?

    — Vi-viktor? Você... VOCÊ ESTAVA LUTANDO ESSE TEMPO TODO?! – Disse Lilac, quase tendo um ataque.

    — O piá era o Red Mask? ELE ERA O RED MASK? – Carol estava na mesma situação que sua amiga.

    Milla, ao ver que todo o plano de Viktor havia desmoronado, corre até próximo da arena e diz:

    — Mestra! Mestra! Por favor, me ouve!

    Mesmo longe, Neera Li conseguiu ouvir os pedidos de sua pupila, que diz:

    — Ele não tem nada a ver com isso! Não machuca ele!

    — Milla, não se intrometa. Isso é um duelo – Disse Neera, sem desviar o olhar de Viktor.

    — Mas ele...

    — Milla, não irei dizer outra vez. Não se intrometa.

    — Mas...

    Lilac, a fim de evitar maiores problemas, vai até Milla, a abraçando. Mas no mesmo instante pergunta a canina:

    — Milla, você sabia disso desde o início, não é?

    — Lilac... Eu...

    — Milla, como pôde? Olha onde o Viktor se meteu...

    — Eu tentei evitar... Tentei convencer ele de não participar, mas...

    — Milla...

    Carol então se aproximou de suas amigas, dizendo:

    — Ei, Neera... Esse cara aí tá com a gente. Você não...

    — Ah então esse indivíduo desconhecido é amigo de vocês? Isso faz todo sentido, sabiam?

    — Olha, não é o que você imagina...

    — Gatinha, eu não pedi sua opinião. Fica de boca fechada!

    — Tá maluca?! Ele não...

    — Já chega! Estou cansada de ouvir idiotices. Juiz, que comecemos com essa luta!

    — Neera, não faça isso! Eu te peço! – Disse Lilac, ainda abraçando Milla.

    — Guardas, levem-las até os acentos! E as vigiem!

    — O que? Neera, você perdeu a noção? Vai fazer isso mesmo com a gente?

    Mas a panda ignorou qualquer manifestação das garotas após isso, com seus guardas acompanhando-as até acentos próximos a arena. A situação não era das melhores. Lilac e Carol estavam quase em choque, com Milla escondendo seu rosto com suas mãos. A felina verde, que não estava mesmo concordando com nada disso, diz:

    — Lilac, a Neera tá falando mesmo sério. Ela vai varrer o chão com o Viktor.

    — Carol, ia pedir pra você não falar assim, mas é bem isso que vai acontecer. Nós precisamos fazer alguma coisa.

    — Fazer o que? Esses PM aí tão na nossa cola até se a gente assoar o nariz.

    Milla só se expressava em pensamentos. Parecia mesmo que ela havia mesmo sentido muito com o ocorrido.

    — *Que que eu fiz? Viktorius vai se machucar por minha causa... E minha mestra... Ela não me ouviu... Ela não gostou do que eu fiz...*

    — Lilac, a gente só pode torcer pro Viktor agora – Disse Carol, tão tensa quanto seus amiga dragão.

    — Torcer? Você está louca? Não tem como Viktor vencê-la.

    — Não é isso, sua boba.

    — Então?

    — Torcer pra ele sair vivo, porque inteiro que ele não vai...

    — CAROL! CALA A BOCA!

    — Tá... Tá... Já fechei e joguei a chave bem longe, tá?

    E voltando a arena...

    Viktor estava completamente desnorteado com o que Neera fez. Na verdade ele não entendeu o que havia acontecido, pois não tinha conhecimento de que algumas pessoas desse mundo tinham poderes especiais além da velocidade sônica de Lilac. O jovem, confuso, fiz:

    — Como é que... Tipo, como minha máscara...

    O juiz então toma a palavra:

    — Oficial Alta Sacerdotisa Neera Li, porque usou seu poder? Tem conhecimento que não pode usar...

    — Não se preocupe. Eu conheço bem as regras, talvez até melhor que você.

    — Então, qual sua...

    — Minha justificativa? Fazer justiça.

    Viktor, ainda mais confuso, diz:

    — Justiça? Mas do que...

    — Cale-se! Eu não quero ouvir sua voz proferida a mim. Vou fazer com que pague por faltar com respeito.

    — Espera, deixa eu ver se entendi: você quer mesmo lutar contra mim? E senhor juiz, vocês irão deixar que isso aconteça?

    — Red Mask, não sei porque você destratou a senhorita. Caso não se retrate, terei que desqualificá-lo.

    — Ora, me perdoe. Não era minha intenção causar...

    Mas Neera já estava furiosa. Talvez Viktor tivesse mais sorte se não tivesse usado de seus princípios. Mas agora terá uma reação bem acalorada por parte da panda mestra do gelo.

    — Eu não o perdôo, seu miserável! Juiz, comece a luta!

    — Mu-muito bem. A luta decisiva será entre Neera Li e Re... digo, qual seu nome, jovem? – Perguntou o juiz, desconfortável como Neera o olhava.

    — Viktor. Mas é sério que...

    — Neera Li contra Viktor. LUTEM!

    E por questões de segundos, Neera Li executa um movimento extremamente rápido e golpeia Viktor em sua barriga com um soco poderosíssimo. A força foi tanta que pode-se ouvir o barulho do golpe ecoar pelo Coliseum todo. Ao receber o golpe Viktor fica imóvel, demonstrando a dor de ter sido golpeado em cheio em seu semblante. O golpe tinha sido tão forte que nem forças teve para gritar. Por causa disso, um silêncio imperava no lugar, enquanto o corpo inerte do jovem ia ao chão. Neera havia derrubado Viktor com menos de cinco segundos de luta. O juiz começa a contagem.

    — Um, dois, três...

    Assim que o fato ocorreu, as garotas logo tentaram correr para próximo da arena, sendo impedidas pelos guardas. Lilac, desesperada, grita:

    — VIKTOR! NÃO! ISSO NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO...

    — O QUE VOCÊ FEZ, NEERA!? TU NÃO TEM NOÇÃO DA SUA FORÇA?! – Disse Carol, tão desesperada quanto Lilac.

    — MESTRA, NÃO! DEIXA ELE EM PAZ! Isso tudo é culpa minha... – Disse Milla, começando a chorar.

    As coisas não iam bem.

    Ao mesmo tempo, na tribuna real...

    Royal Magister assistia a “luta”, quando General Gong se aproximava de seu trono, dizendo:

    — O plano está indo bem. Conseguimos o isolamento, Vossa Excelência.

    — De fato, Gong. E sua ajuda foi primordial para o plano.

    — Porém tenho algo a dizer, senhor.

    — Diga.

    — Esse jovem... Ele não demonstra ser... Bem, acho que...

    — Gong, eu entendo sua preocupação. E agradeço pelo zelo que teve com a segurança.

    — Neera nunca pega leve, senhor. Será que...

    — Acalme-se, Gong. Ela sabe o que está fazendo.

    — Mas ele pode se machucar...

    — Não se preocupe. Nossa Alta Sacerdotisa é habilidosa.

    — E bem forte.

    — De fato, Gong. Bem, acho que o jovem precisará de ajuda para se levantar...

    E voltando a arena...

    Neera, ao derrubar Viktor com seu soco poderoso, deu-lhe as costas e passou a caminhar em direção ao mesmo portal que entrou. Mas antes disso, atentou de dizer ao juiz:

    — Não gaste sua saliva, velho. Ele não vai se levantar. O golpe que lhe apliquei foi para deixá-lo incapacitado.

    — Sa-são os procedimentos, senhorita... Eu devo...

    — Faça como quiser.

    Continuava a caminhar enquanto o juiz estava quase terminando a contagem. Neera, ainda mostrando irritação, pensava:

    — *Esse imbecil chamado Viktor vai se ver comigo depois disso tudo. Mesmo com o plano de Royal Magister em andamento, em algum momento esse miserável irá me ouvir...*

    Viktor estava mesmo mal. Porém não estava inconsciente. O jovem, ainda sentindo fortes dores no lugar onde recebeu o golpe, pensava:

    — *Um golpe... Ela me derrubou com um golpe... Esse mundo... As pessoas daqui são completamente diferente do meu mundo... Aqui eu não posso menosprezar ninguém, nem pensar em seguir etiqueta de cavaleiros... Essa garota é muito forte... Eu nunca recebi um golpe tão forte em toda minha vida... Nem meu sensei tinha golpes com essa força... Eu... Eu... Me sinto... humilhado com isso... Eu não posso deixar as coisas terminarem assim... Eu não posso desistir!*

    E surpreendendo todo o público, Viktor lentamente se levantava. Com muita dificuldade, diga-se de passagem. Cambaleando e tentando puxar o ar, ele se coloca em base de luta, ainda pensando:

    - *Ela... Esse golpe que ela me aplicou... Foi muito poderoso. Eu não sei como estou de pé até... Se eu receber mais um como esse eu não vou conseguir me recompor...*

    O juiz então anuncia:

    — Vi-Viktor se levantou. A luta continua!

    Neera Li manteve-se de costas para Viktor, mesmo com ele se levantando. Ela, de olhos fechados e com um semblante mostrando irritação, fiz:

    — Volte para o chão, onde é o seu lugar.

    — Vo-você é bem forte...

    — Me elogiar não vai te livrar...

    — Eu te devo desculpas, senhorita Neera Li. Não agi bem com vo...

    E antes que pudesse terminar a sua frase, Neera executou um rápido salto para trás, indo em direção a Viktor executando um chute. Por um segundo o jovem conseguiu evitar o ataque repentino da bela panda, mas não sem antes sentir o deslocamento de ar do golpe: ele chegou a rasgar parte da vestimenta do rapaz. Impressionado com o poder de Neera, Viktor pensa:

    — *Ela é incrivel! Não somente é rápida como é bem forte. Seus golpes são precisos. Eu estou em desvantagem... Não. Eu estou em extrema desvantagem. Vencê-la será bem difícil.*

    Ainda colocando-se novamente em base de luta, Viktor observava Neera Li, que olhava para o jovem segurando seu cajado. Ela, parecendo estar menos irritada, diz:

    — Você é patético, Viktor.

    — Estou vendo que dialogar com você é inútil. Bem, você já me atacou duas vezes. Agora é a minha vez!

    Viktor parte em disparada contra a panda, que não esboçava nenhuma reação. Com o jovem já bem próximo, ele então executa um violento chute contra o rosto de Neera, que se esquiva facilmente dando um passo para trás. Viktor, sem perder tempo, volta a atacá-la, desta vez de forma mais sequencial: utilizando seus punhos, executa sucessivos golpes, estes sendo esquivados facilmente por Neera, movimentando seu corpo conforme os socos de Viktor eram aplicados. E surpreendendo o jovem, assim que ele tentou atingir Neera com um soco, ela simplesmente aplicou um soco no golpe de Viktor, fazendo com que seu braço fosse arremessado para trás, o desequilibrando. E por estar completamente exposto, Neera aplica-lhe um violento soco em sua barriga mais uma vez. E novamente, de forma instantânea, o rapaz carateca vai ao chão. O juiz abre a contagem.

    — Um, dois, três...

    O momento era de desolação por parte de Lilac, que assistia a todo aquilo sem poder fazer nada para evitar.

    — Não! Neera, pare com isso! Ele não...

    — Não adianta, Lilac. Essa aí tá virada na Bayonetta – Disse Carol, bastante assustada.

    — Não adianta?! Carol, é o Viktor lá na arena! Se a gente não fazer alguma coisa, ele pode se machucar!

    — Mas porque o piá entrou nessa bagaça? Pera... Milla, tu sabe, né? Vai... Diz! Desembucha!

    Embora Carol tentasse conseguir alguma informação de sua amiga canina, Milla não estava mesmo em condições de dizer absolutamente nada. Ela estava cabisbaixa e nem sequer conseguia olhar para a luta. A forma fria com que Neera Li a tratou pelo visto lhe trouxe um sentimento de culpa gigante.

    As coisas estavam mesmo sem controle. Viktor estava no chão, imóvel. Neera era absurdamente habilidosa e não estava dando a mínima chance para o jovem que, caído, pensava:

    — *Ela... Ela pode ter rosto de anjo... mas... mas... ela é um demônio... Ela golpeou meu soco. Eu senti todo meu braço perder a força... Meu punho... acho que devo ter luxação em três dos meus dedos e... perdi a força no meu braço... o golpe dela o deslocou. Seu golpe na minha barriga... Eu... Eu nem sequer deveria estar acordado. A dor é imensa, como se meus músculos estivessem dilacerados... Mas eu ainda estou acordado... Eu preciso levantar. Não aceito essa situação...*

    E quase ao fim da contagem, Viktor se levanta novamente. O Coliseum vai a loucura, explodindo em exaltação pela força de vontade do jovem. Galv Aon até disse:

    — É incrível! Nós estamos vendo o que é ser determinado! Embora seja inevitável sua derrota, esse jovem está provando que tem espírito de lutador!

    — É, Galv Aon... Essa determinação é inspiradora. Da gosto de ver que essa nova geração não desiste nunca e não fica se lamentando. É isso aí, garoto! — Disse Ever Aldon, elogiando Viktor.

    E voltando a arena, já de pé, Viktor diz:

    — Eu não vou desistir!

    — Está certo que quer continuar, Viktor? – Disse o juiz, preocupado com o estado do jovem.

    — Sim, eu... eu estou!

    Viktor estava com seu braço esquerdo machucado. Era visível pois não conseguia mantê-lo a frente do corpo, estando pendurado. Neera, percebendo isso, diz:

    — Um guerreiro desarmado não tem condições de se defender. Viktor, desista dessa luta.

    — Não se preocupe comigo.

    — Eu não me preocupo com você. Eu só não tolero valentia desnecessária. Você não tem ideia do quão patético é.

    — O que? Eu não admito que diga isso de mim! Tenha honra!

    — Honra? O que você entende de honra, seu insolente? Você está em um estado lastimável depois de receber somente dois golpes. Perdeu seu braço, seu físico já está comprometido... Acha mesmo que me agrada lutar contra alguém fraco?

    — Cale-se! Eu não...

    Viktor mal conseguiu perceber a aproximação de Neera, que segurou seu braço direito e o arremessou para longe, fazendo-o cair de costas no chão. E a panda não cessou seu ataque: aproveitando que Viktor estava caído, executa um salto para trás, visando golpear o jovem que ainda estava no chão. E próximo de ser pisoteado, Viktor consegue rolar para o lado, se esquivando. Ao aterrissar, um sonoro estrondo é ouvido, evidenciam o poder do golpe. O rapaz, olhando para Neera, pensou:

    — *Ela está mesmo disposta em me machucar. Ela não está pegando leve... Eu nem consegui vê-la se aproximar. Ela é um monstro. De longe a melhor artista marcial que tive a oportunidade de lutar contra*

    Neera Li, de costas para Viktor, mostrava serenidade em seu rosto. Já mais calma, diz:

    — Desista dessa luta. Meu próximo golpe será para lhe causar bastante dor.

    — Eu sou um carateca do estilo Shoryn Ryu. Meus treinamentos sempre foram para suportar a dor. Então eu não vou desistir!

    — Idiota...

    Neera então praticamente some da frente de Viktor. Na verdade, a panda se movimentou rapidamente para um dos lados, tirando qualquer possibilidade de ser vista, indo até ao encontro do rapaz. Ela então executa um soco contra o rosto de Viktor, que vai para trás, mostrando que o golpe foi forte. Mas seus ataques ainda não haviam terminado: ela então golpeia as costas de Viktor com um poderoso chute, fazendo com que o jovem fosse arremessado para frente. E, num último golpe, ela corre até a frente de Viktor e, fechando com força seu punho, golpeia mais uma vez sua barriga com ainda mais força, o que fez com que Viktor fosse ao chão. A combinação de movimentos de Neera foi terrível, causando até calafrios para quem assistia.

    Lilac e as garotas não resistiram e, ao observar o massacre que Viktor estava recebendo, fez com que todas fossem até próximo da arena, mesmo com o forte aparato dos guardas, que tentaram impedí-las. A bela dragão púrpura, já aos prantos, diz: 

    — Neera, pare com isso! Eu te imploro! O Viktor é nosso amigo!

    — Dragão, poupe-me de suas suplicas! E não me culpe pelo que está acontecendo. Foi ele mesmo quem pediu por isso!

    — Mas ele...

    — Ele não pode ser defender? Então porque está nesse torneio? Por isso mesmo, dragão... Já algo de muito errado nisso tudo. E eu irei ir a fundo quando tudo isso acabar. Juiz, abra a contagem e termine logo com essa luta desnecessária.

    — Tu-tudo bem. A-abrirei a contagem. Um, dois três, quatro...

    Viktor estava mal. Recebeu cada golpe de forma integral, sem tempo para se defender. Mas mesmo caído e muito contundido, pensava:

    — *Eu não consigo fazer nada... Não é uma adversária qualquer... Eu a menosprezei e estou pagando por isso... Era pra eu estar totalmente quebrado, mas... mas... Eu ainda estou acordado... Eu nunca senti tanta dor, mas eu ainda estou acordado... Eu preciso levantar... Não pode acabar assim!*

    E surpreendendo a todos no Coliseum, mesmo com muita dificuldade, Viktor se levanta mais uma vez. Um silêncio toma conta de todo o Coliseum, impressionado com a força de vontade do jovem. Lilac, ainda chorando, diz:

    — Não Viktor... Não lute mais... Não... Por favor, já chega...

    Mesmo depois de ser totalmente massacrado pelos golpes poderosos de Neera, seu ímpeto ainda continuava intacto. Até mesmo Ever Aldon se manifestou:

    — Galv Aon, isso não é normal...

    — Como assim?

    — Já vi Neera Li em outros combates. Poucos lutadores como o Viktor conseguiram resistir mais de dois golpes dela. Mas esse jovem... Bem entre resistiu a cinco golpes violentos e conseguiu se levantar.

    — Mas Ever Aldon, ele está bastante contundido...

    — Mesmo assim. Existe algo de diferente nele. Pode ser um treinamento específico, sei lá. Mas que bela prova de determinação estamos tendo com ele.

    — E é por isso que eu digo: querem causar confusão num torneio de artes marciais? Vão em frente. Mas que os lutadores honrem a chama da paixão pela batalha!

    Voltando a arena...

    Viktor estava em frangalhos, mas de pé. Olhava nos olhos de Neera, que diz:

    — Porque continua se levantando? Porque não desiste?

    — Eu... Eu tenho um bom motivo pra não desistir...

    — E o que o motiva?

    — Eu devo seguir com meu plano...

    — Seu plano? Então... Me diga tudo! Qual é o seu plano, seu patife? Eu sabia! Eu sabia que havia algo por trás disso tudo!

    Viktor então, pela primeira vez, muda sua base de luta. Moveu uma de suas pernas para trás, flexionando-a um pouco. Colocou seu braço medição para trás de seu dorso e o outro para frente, elevando em ante bravo pista frente de seu rosto. Era uma base defensiva, como assim Neera Li analisou:

    — *O que? Mesmo estando praticamente destruído ainda tem forças para me confrontar? Não me faça rir, invasor! Já estou farta disso tudo. Já não tenho mais duvidas sobre você, Viktor. Você nunca vai causar mal algum a ninguém dessa cidade. Eu nunca irei permitir que tire nossa paz! Poderia ter acabado para você de um jeito mais digno, mas irei lhe entregar uma derrota humilhante... Eu vou deixá-lo inconsciente na frente de todos, para que não possa mais se levantar...*

    E parecia mesmo que tudo iria se decidir nesse último confronto. A base defensiva de Viktor estava mesmo incomodando Neera Li. A alta sacerdotisa do reino de Shang Tu então começa a correr em direção a Viktor, que pensava:

    — *Meu último movimento... Minha última alternativa.... Como meu mestre me ensinou... Só tenho uma chance...*

    Mas antes que pudesse pensar em mais estratégias, o jovem percebeu então algo inesperado: uma borboleta azul estava exatamente entre ele e a panda, voando sob a arena.

    — *Hã? Uma borboleta?! Nossa... Ela vai ser morta! Eu não posso deixar... Ela não tem nada a ver com isso... Eu... Eu preciso protegê-la...*

    E num movimento de mãos, Viktor consegue abrigar a pequena borboleta azul entre suas mãos, a poucos segundos antes de ser acertado por um violento soco de Neera, que o atinge em seu dorso com toda sua força, fazendo com que fosse arremessado para além da arena, indo para fora do espaço. Viktor então se choca contra a parede da arquibancada do Coliseum, caindo em seguida no chão gramado.

    Lilac e suas amigas logo correm para perto do jovem, a fim de acudí-lo. Com o pouco de consciência que ainda tinha, mesmo bastante tonto, ele abre suas mãos e consegue ver a borboleta são e salva alçar vôo, voltando a seu rito. Lilac, Carol e Milla então chegam, gritando pelo seu nome, mas lentamente Viktor começou a fechar seus olhos, perdendo os sentidos em seguida. Viktor nem mesmo pôde ouvir o anúncio do juiz, pois caiu para fora da arena, o que deu a vitória a Neera Li.

    Na tribuna real do Coliseum, Royal Magister, que acompanhava todo o ocorrido, se levantou e passou a caminhar até a saída. Observado por Gong, ele diz:

    — Estou muito satisfeito pelo resultado. O programado foi concretizado. Gong, peça para que Neera Li leve o jovem até o castelo assim que ele estiver melhor, está bem?

    — Como quiser, Vossa Excelência.

    — O que foi, Gong?

    — Sobre o que acabamos de ver, Vossa Excelência...

    — Acalme-se, Gong. Vamos averiguar tudo. No momento, siga com o ordenado.

    — Afirmativo, Vossa Excelência!

    Royal Magister se retira da arena, arguido para seu castelo em seu veículo real.

    Momentos depois...

     Na enfermaria do Coliseum.

    Lilac, Carol e Milla aguardavam ansiosas por notícias da saúde de Viktor. Sentadas no saguão, conversavam sobre o ocorrido. Lilac então diz:

    — Eu juro, Carol... Se a Neera deixou o Viktor em coma, eu vou pessoalmente lá no castelo tirar satisfações com ela!

    — Ih Lilac... Tô com medo de você. Pra tu falar assim é porque a coisa é séria mesmo...

    — É... É tudo culpa minha... – Disse Milla, ainda bastante abatida.

    — Milla, fica sussa. Tu não tem culpa de nada. O piá que deve explicações aqui...

    — Milla, o que aconteceu com o Viktor? Porque ele entrou nesse torneio? – Perguntou Lilac, mais calma.

    — Lilac... Carol... Bem... Viktor me disse que...

    E antes que Milla pudesse continuar, um dos doutores da enfermaria aparece e informa:

    — Senhorita Lilac?

    — Sim, sou eu! Como está o Viktor?

    — É sobre isso que eu queria falar. Ele está bem.

    — Bem?! É sério?

    — Como posso dizer... Bem, ele está melhor do que qualquer um aqui poderia imaginar.

    Só em ouvir isso, a dragão, com um só movimento, usa sua velocidade supersônica e entra no leito onde o jovem está. Lá, ele até se surpreende com Lilac.

    — Nossa! O que está acont... Hã? Lilac?!

    — Viktor, você está bem mesmo! Que bom!

    E entrando ao recinto, estava Carol e Milla, sendo acompanhadas pelo médico, que diz:

    — Senhorita Lilac, poderia ir mais devagar?

    — Me perdoe, senhor. Mas precisava ver se ele estava mesmo bem.

    — Ele teve algumas luxações na mão e dorso e seu braço estava deslocado quando chegou aqui. Mas já colocamos no lugar. Só vai ficar um pouco dolorido aí por alguns dias...

    — Muito obrigado por ter ajudado, senhor.

    — Disponha. Eu vou protocolar a alta do paciente, tudo bem? Fiquem a vontade.

    Com Viktor ainda deitado a cama, Carol fiz:

    — E aí, piá? Como se sente depois de bancar o Joseph Climber?

    — Carol, não é hora pra suas maluquices! – Disse Lilac, irritada.

    — Ih relaxa. O cara tá bem, fica sussa.

    — Eu estou bem, Carol... Só um pouco triste...

    — Triste? Porque? Você quase foi morto pela panda tsudere!

    — Carol, já falei pra não chamar a Neera assim – Lilac estava ainda mais impaciente com sua amiga.

    — Tá, Lilac...

    — Eu nunca lutei contra alguém como ela...

    — Você deveria ter ficado no chão até o juiz terminar a contagem, Viktor. Você não tem ideia de como eu fiquei preocupada com você... – Lilac então diz ao rapaz como se sentiu.

    — Mil perdões, Lilac. Mas eu precisava... 

    — Porque? Estou até agora tentando entender essa história! Milla ia me contar mas...

    — Milla... vem aqui – Chamou Viktor, estendendo sua mão a Milla.

    A canina então se aproximou do jovem. Ela estava muito abatida, parecendo que iria chorar. Viktor, percebendo isso, tratou de abraçá-la, confortando-a.

    — Milla, obrigado por sua ajuda. Você é demais.

    — Viktorius... Eu tentei te contar sobre minha mestra, mas eu esqueci... Eu que fui a culpada por tudo!

    — Não, Milla... Você não tem culpa de nada. Eu assumo essa responsabilidade. Você só fez o que eu te pedi. O culpado sou eu.

    — Viktorius, você está bem?

    — Estou sim, Milla. Estou acostumado a receber golpes.

    — Minha mestra é muito forte. Ela te machucou...

    — Não se preocupe, Milla. Quem luta espera por isso.

    — Viktorius... Me perdoa.

    — Milla, não tem que me pedir perdão. Eu que devo desculpas a todas vocês. Eu deveria ter contado tudo desde o início.

    — Isso! Finalmente! O que aconteceu, Viktor? Porque entrou nesse torneio? — Perguntou Lilac.

    — Bem, eu...

    E antes que pudesse continuar, eis que Neera Li entrou no leito de Viktor. Causando comoção por parte das garotas, a bela panda diz:

    — Ah então está acordado... O médico me disse.

    — Neera? O que está fazendo aqui? – Lilac não perdeu tempo.

    — Dragão, não lhe devo satisfações. Estou aqui por causa de Viktor.

    — O que? Por minha causa? – Perguntou Viktor, surpreso.

    — Sim. Estou aqui pra saber sobre sua saúde. Você está bem?

    — Estou sim, obrigado por perguntar.

    — Que bom. Poderia me dizer se consegue se levantar?

    — Bem, eu ainda não tentei mas...

    E fazendo a vontade de Neera, Viktor fica de pé, na frente dela, que diz:

    — Muito bom. Você conseguiria estender suas mãos de punho fechado para frente?

    — Hã? Bem, posso tentar...

    Dito e feito, Viktor faz exatamente o que Neera havia pedido. E logo veio a surpresa: Neera Li encaixou um par de algemas nos pulsos de Viktor e disse:

    — Viktor, você está preso. Tudo o que disser poderá ser usado contra você. Recomendo que não resista para que não seja preciso que o deixe inconsciente outra vez.

    — Mas o que? Eu, preso?

    — NEERA, O QUE É QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Gritou Lilac, assustada com o ocorrido.

    — Mestra, não faz isso com o Viktor! – Implorou Milla.

    — Tu espanca o cara e depois vem aqui e leva o piá em cana? Tá maluca? – Carol estava incrédula.

    Neera, mostrando um pouco de irritação em seu rosto, responde a Carol:

    — Vindo de uma arruaceira, não admira que este patife seja o problema.

    — O que? Mas tu bebeu, duas cores? Viktor é praticamente um escoteiro de tão certinho que é. E não sou “mana da rua” não, tá beleza?

    — Cale-se, Carol! Chega!

    Lilac, olhando para Neera, mostrou que não estava gostando de nada que estava acontecendo.

    — Neera, isso que está fazendo é uma imensa injustiça. Você está cometendo um erro absurdo.

    — Dragão, eu não me importo com sua opinião. Agora, saiam da frente.

    — Neera!

    — Saia da frente!

    Milla, que até então estava quieta e chorando, se levanta da cadeia que estava sentada e se queixumes de Neera, dizendo:

    — Mestra... Me leva no lugar dele.

    As palavras de Milla deixaram suas amigas completamente imóveis. Neera então diz:

    — Milla, não se intrometa. Eu estou trabalhando.

    — Ele não fez nada demais. Eu que sou a culpada.

    — Milla, se quer fazer uma coisa útil, saia da minha frente. Mais tarde prometo conversar com você... em particular.

    Era inútil os esforços de Lilac e suas amigas de tentarem convencer Neera de soltar Viktor. A bela panda estava mesmo determinada em cumprir com sua missão, levando o jovem algemado até o veículo da STPD (Shang Tu Police Department) e seguiram em direção ao castelo. Lilac, observando tudo, diz:

    — Royal Magister irá nos ouvir. Vamos, não podemos ficar paradas!

    — Sim! Vamo nessa. Milla, sobe na garupa, vai! – Disse Carol, já sentada em sua moto.

    E logo as garotas seguem rapidamente para o Castelo de Shang Tu...

    Tempo depois...

    Castelo de Shang Tu, noite.

    Tudo estava se desenrolando da pior forma possível. Viktor foi mantido preso em uma cela fria e escura, enquanto aguardava sua custódia. O jovem estava sentado em uma cama durante todo o tempo que esteve no local. Ele estava em pensando, preocupado com seu futuro.

    - *Cara, eu nunca fui preso na minha vida antes. O que eu fiz de mal? Aquela panda revoltada me chamou de invasor, como aquele outro panda também me chamou. O que está acontecendo?*

    E logo um quarteto de guardas aparecem e, entre eles, aparece Neera Li, que diz:

    — Hora da averiguação, invasor. Akira iremos descobrir todo seu plano.

    — Você está maluc...

    — Escolha bem suas palavras quando se referir a mim, seu miserável! Senão irá ficar o resto da sua vida nesse lugar!

    Embora Neera Li tivesse uma beleza admirável, fazia questão de se expressar como uma policial e expor sua autoridade ante seus prisioneiros. Viktor entendeu bem esse fato e logo tratou de se calar. E de forma ordeira, saiu da cela da cadeia, seguindo andando junto aos outros guardas, sendo observado por Neera Li a todo instante.

    A seguir, adentram ao salão principal, onde ficava o trono do monarca de Shang Tu, o imponente Royal Magister. Se levantando de seu trono, olhou para todos, enquanto os guardas se aproximavam trazendo Viktor com eles. Neera, caminhando até Viktor, goleia as pernas do jovem com seu cajado, fazendo com que se ajoelha-se. Ela então diz:

    — Mostre o pouco de respeito que sabe ante nosso monarca, seu patife. Abaixe sua cabeça.

    Royal Magister, percebendo o excesso de Neera, diz:

    — Alta Sacerdotisa, peço que não exceda na força. Um prisioneiro deve ser tratado como tal, mas sem tantas inimizades. 

    — Eu compreendo, Royal Magister. Mas Viktor desde então não merece tal respeito.

    Royal Magister então se aproxima do jovem, dizendo:

    — Qual seu nome, rapaz?

    — Viktor.

    — Somente dessa forma? Não há linhagens?

    — Me chamo Viktorius Ashem.

    — Peculiar sua linhagem, jovem. Neera, qual é o relatório da missão?

    Neera Li então, ao tomar posse em um bloco de notas, começa a dizer:

    — Durante nossas investigações, verificamos que alguns indivíduos se interessaram pela “Brave Sword of Shang Tu Spirits”. General Gong e eu interceptamos algumas correspondências envolvendo nosso reino com o reino vizinho Shuigang.

    — E o que conseguiram?

    — Nós conseguimos fazer com que um de seus comparsas chegasse até a final. Viktor, mesmo diante de General Gong e de mim não desistiu do torneio, então é certo que ele faz parte do plano de Spade de roubar a espada.

    Viktor, que ouvia pacientemente tudo aquilo, não pôde ficar calado.

    — Esperem... Deixa eu ver se entendi bem: vocês estão me acusando de eu tentar roubar a espada? E quem é esse tal Spade?

    — Cale-se, Viktor! Não lhe dei permissão para...

    — Cala a boca você! Estou cheio de ficar levando porrada e ser mandado por você!

    — Como se atreve? Isso irá ser usado contra você durante todo esse processo por desacato a uma oficial!

    — Vocês estão malucos! Eu não entrei nesse torneio pra tentar roubar nada!

    — Não minta! Você mesmo disse que estava seguindo com o plano de vocês!

    — Eu disse sim, mas não me lembro de ter dito que era pra roubar!

    Royal Magister, se aproximando de Viktor, diz:

    — Viktorius Ashem, creio que devo dar-lhe a oportunidade de se expressar. Mas antes que comece, devo lhe avisar que tudo o que disser a partir de agora será cuidadosamente avaliado por mim e minha Alta Sacerdotisa. Há guardas como testemunhas inclusive. Explique-se.

    — Obrigado, senhor.

    — Soberbo. Agora conhece.

    — Eu entrei nesse torneio para ajudar uma amiga.

    — Ajudar uma amiga? A quem se refere? 

    — A senhorita Carol Tea.

    — Haha... Eu esperava por isso – Disse Neera, com um sorriso debochado.

    — E porque quis ajudá-la? Qual o motivo? – Disse o monarca, olhando para Viktor.

    — Um dia atrás, nós fomos até a cidade para lazer e do nada as garotas precisaram procurar por resquícios de uma jóia. Eu tentei ajudar procurando também. Só que teve um cara forte que tinha uma das pedras e a senhorita Lilac lutou contra esse cara...

    — Continue.

    — Então ela o venceu, mas o cara jogou a pedra no lixo e do nada um monstro se formou. Eu peguei a moto da senhorita Carol e a joguei contra a criatura, destruindo tudo.

    — Então você destruiu a moto da Carol? Haha... Como eu queria ter visto! — Disse Neera, agora rindo.

    — Continue, Viktorius Ashem – Royal Magister estava dando total liberdade para que o jovem explicasse sua versão.

    — Essa manhã eu vi que o custo pra ela conversar a moto era muito alto e devido me inscrever no torneio pra ganhar a espada e conseguir dinheiro pra ajudar a Carol. Foi só isso!

    Royal Magister ficou imóvel por alguns instantes. Olhando fixamente bjos olhos do jovem, logo tratou de dizer:

    — Neera, traga Lilac e suas amigas. Deixe que entrem.

    — Vossa Excelência, está certo disso? Essa história que Viktor contou é um pouco idiota demais para ser verdade.

    — Eu entendo sua análise, mas precisamos comprovar a veracidade dessa história. Lilac tem nossa plena confiança.

    — Compreendo, Vossa Excelência. As trarei agora mesmo.

    E como ordenado, rapidamente a bela dragão, acompanhada por sua amigas, Carol e Milla, entram no salão. Imediatamente todas se aproximam de Viktor, o abraçando forte. Lilac então toma a palavra.

    — Royal Magister, Viktor não é um criminoso!

    — Isso iremos comprovar agora, Sash Lilac. Gostaria de fazer uma pergunta a Carol Tea.

    — Hã? Que tem eu, tio? – Disse Carol, surpresa.

    — Carol, é o Royal Magister! Tenha respeito! – Lilac mais uma vez salvou sua amiga.

    — Ih, é mesmo! Então... O que seria, Vossa Excelência?

    — O que Viktor é de você?

    — Tipo, o piá aí é meu parça.

    — Sua linguagem rudimentar é cativante. Mas me diga: Viktorius Ashem destruiu sua moto?

    — Bem... Sim. Mas eu peço perdão pelo que eu fiz a ele! Eu tava muito irritada e...

    — Hã? O que fez a ele?

    — Bem... Eu tava tão revoltada com o piá aí que deixei ele torto de tanto apanhar e o amarrei de ponta cabeça durante a noite toda. 

    Neera Li, até então quieta, não conseguiu segurar seu comentário ácido:

    — Haha... Então Carol o agrediu? E você tentou mesmo ganhar o torneio, Viktor? Patético...

    — Neera! Tu tá chata pra dedéu, hein! Tu não tá ajudando... – Carol estava incomodada com Neera.

    — Carol Tea, você sabe porque Viktorius Ashem entrou no torneio? — Disse o monarca.

    — Não, Vossa Excelência. Tamo querendo saber disso faz tempo, mas sempre que o Viktor vai tentar dizer, vem um caboclo e impede do piá dizer. Até o inútil do locutor atrapalha.

    (Eu avisei que ela não ia me deixar quieto, não?)

    Milla, ao ouvir toda a conversa, diz:

    — Eu ajudei o Viktorius no plano.

    — Milla Basset, do que está falando? – Perguntou Royal Magister a canina.

    — Eu ajudei o Viktorius a entrar no torneio. Eu insisti que ele não entrasse, mas ele queria muito ganhar a “Brave Sword of Shang Tu Spirits”...

    Lilac e Carol então se surpreendem com a notícia. A bela dragão, olhando para Milla, diz:

    — Milla... e porque Viktor queria tanto ganhar essa espada?

    E Royal Magister, olhando para Viktor, diz:

    — Para ajudar Carol Tea a pagar o conserto de sua motocicleta.

    Assim que o monarca diz o motivo, Carol imediatamente olhou para Viktor, ficando calada em seguida. Ela, mostrando um pouco de surpresa, diz:

    — O piá... ele... ele fez isso tudo por mim?

    — Viktor, porque você não nos disse? – Lilac completou.

    Royal Magister, ainda olhando para Viktor, continuou:

    — Tenho uma última dúvida, Viktorius Ashem.

    — Si-sim, senhor?

    — A borboleta...

    Viktor, ao ouvir sobre o assunto, percebeu na voz do monarca um tom um pouco mais duro. E Royal Magister continua:

    — Porque a salvou?

    — Hã? Borboleta? Mas do que estão falando? – Lilac estava confusa.

    — Durante a luta contra Neera, no último golpe... eu salvei uma borboleta. Se eu não tivesse feito isso, ela teria morrido – Respondeu Viktor, olhando de forma séria para o monarca.

    — Sua atitude poderia ter lhe custado a vida. Porque a tomou?

    — A borboleta era inocente. Não tinha nada a ver com a luta.

    — Mas um inseto tem pouco tempo de vida...

    — Uma borboleta vive para ser bela. Ela tem um enorme caminho, desde que nasce como uma larva, se desenvolve, transformando-se numa lagarta. Passa mais da metade da sua vida se alimentando para enfim formar um casulo. Ela se preparou a vida toda para se transformar num ser belo... Como poderia permitir que todo seu esforço fosse em vão?

    — Mas uma borboleta não vive mais que um dia...

    — ... e eu consegui que ela vivesse o suficiente para que aproveitasse cada segundo de sua vida!

    Por um bom tempo, Royal Magister fitou os olhos de Viktor, percebendo veracidade nas informações recolhidas. Ao fim, deu-lhe as costas e se aproximou da sacada de seu salão. Olhando para a cidade, tratou em dizer:

    — Viktorius Ashem, diante das circunstâncias, eu concedo a ti um habeas corpus.

    — Como é?

    — Suas palavras ecoam honestidade. E creio que seus ensinamentos como artista marcial traz-me confiança. Por ser amigo de Lilac e suas amigas, não poderia esperar outra coisa.

    — Isso quer dizer que...

    — ... que eu o livrarei? Não exatamente. No momento, temos muito que conversar, e não me refiro somente a você. Mas a todos vocês...

    Continua.


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