Eu te disse que poderíamos voar

O fogo que os consumiu no tempo que se passou não foi o da luxúria, mas o da chama que crepitava em seus corações, que ardiam um pelo outro.

Ela continuava ocupada com a construção do centro médico, e ele...preso nos treinamentos, ignorou veementemente os olhares tortos que lhe eram laçados por pensarem que havia tido algo com a garota de cabelos negros, por mais difícil que fosse admitir Sakura tinha razão, ele devia manter esse tipo de pessoas afastado, pois então, por serem fofoqueiros e interessados na vida alheia, pagaram nos treinos, árduos e estafantes, sem tempo para conversas e pensamentos tortos.

Eles não tinham o que fazer? Pois bem, agora teriam!

Quando a noite chegava ele a esperava e quando demorava demais dava um jeito de ir até lá, era cansativo para ambos, mas um dia tudo aquilo teria fim, só não esperavam que a solução viesse tão rápido, e de uma forma tão peculiar.

Quando Katsuo os chamou em sua sala logo cedo naquele dia em especifico, estava alegre e radiante, o homem sempre fora um ser despreendido e dado a sorrisos fáceis, mas aquele era estranhamente maior que os outros.

-Que bom que vieram juntos, tenho uma surpresa para vocês!

Assim que ambos, Sakura e Sasuke cruzaram a porta, ele se levantou da mesa e se encaminhou para perto.

-Sakura, prometi a você alguém para ajudar com o centro médico e as novas recrutas, nenhuma vila conseguiu disponibilizar uma Kunoichi, mas então alguém acabou se oferecendo.

A cerejeira estranhou, alguém havia se oferecido?

Mas foi quando a figura ruiva passou pela porta que ela compreendeu.

-A senhorita Karin veio nos socorrer.

Ambos se surpreenderam ao ver a ex companheira de equipe do Uchiha ali.

Estava exatamente como se lembrava, as mesmas roupas, os mesmos óculos.

-Como vai...Sasuke-kun?

Ela o cumprimentou ignorando a presença da rosada.

-Foi um alivio para nós saber que Karin estava do nosso lado, afinal de contas ela conhece isso aqui como ninguém.

Eles nada disseram, Sasuke continuou impassível e Sakura olhava para Katsuo.

O homem parou de falar e finalmente com ar serio perguntou

-Algum problema em ter ela aqui?

A pergunta passou pela cabeça da maioria dos presentes da sala, mas foi a rosada quem a respondeu

-Nenhum problema.  Então direcionando os orbes verdes para a ruiva concluindo –Seja bem-vinda Karin.

E lhe sorriu gentilmente.

Sasuke olhou de Sakura para a Uzumaki e apenas complementou

-Se não precisa mais de mim Katsuo-sama, os recrutas me esperam.

O grisalho se sobressaltou com a voz grossa do último Uchiha

-Oh, não, não Uchiha, pode ir, as duas irão para o centro médico mas logo alguém levará a senhorita Karin até a área de treinamento para conhecer nossas futuras kunoichis!

Ele nada disse, apenas se virou mas antes cruzou o olhar desigual com o os olhos esverdeados da cerejeira, então passou pela porta e saiu.

-Bom, espero que se deem bem juntas!

E lá estava o sorriso no rosto do homem novamente

-Sakura lhe mostrará tudo que precisa Karin.

A ruiva sorriu para Katsuo e então olhou para a rosada, Sakura fez uma leve reverência para o líder do Som se virando em seguida, esperando que a ruiva a acompanhasse.

Passou pela porta e desceu as escadas no mais absoluto silencio, foi somente quando já estavam na rua e a brisa fria do inverno as atingiram que a voz levemente estridente da Uzumaki alcançaou seus ouvidos.

-Você conseguiu mesmo fisgá-lo, não é?!

Sakura ouviu as palavras e o tom utilizado pela ruiva, mas tudo que fez foi continuar andando.

-A alguns anos eu teria desfalecido se o Sasuke me olhasse daquela maneira...da maneira como ele te olhou quando saiu daquela sala.

A Uzumaki continuava falando enquanto a cerejeira caminhava alguns poucos passos à frente

-Mas acho que depois que ele se casou com uma garota qualquer, eu entendi que ele não valia a pena, não depois de tudo.

Inconscientemente Sakura diminuiu o andar, então Karin a alcançou ficando ambas lado a lado

-Agora vendo vocês dois aqui, juntos, você nunca desistiu dele não é?

Sentiu o olhar pesado dela sobre si

-Mesmo ele tendo te humilhado se casando com outra mulher, você nunca desistiu...

Sentiu seu sangue esquentar, aquela conversa completamente unilateral que a ruiva estava tendo começava a irritar

-Não sei se eu chegaria a esse ponto!

Parou e então se virou para ela

A ruiva não pareceu intimidada, os olhos castanhos avermelhados a observavam por detrás das lentes de aros negros.

-Mas devo confessar que mesmo depois de tanto tempo ele continua muito atraente e consegue despertar certas coisas...

-O que você quer dizer Karin? Fale logo de uma vez para que possamos ir trabalhar.

Ela se calou, então passou sutilmente a mão pelos fios ruivos e suspirou

-Eu reconheço minha derrota, você ganhou, você o merece no fim das contas.

Sakura não se sentiu à vontade com as palavras ditas pela outra

-Ele não é um prêmio pra ser disputado, é uma pessoa

-Você entendeu o que eu quis dizer

-Sim, e você entende que ele tem sentimentos e o quanto é difícil pra ele, depois de tudo que passou colocá-los pra fora, ele continua errando mas procura retificar esses erros. Talvez agora saiba por que não ele, mas os sentimentos dele não escolheram você.

A ruiva permaneceu calada, Sakura então se virou e tornou a caminhar

-Vamos, temos muito trabalho a fazer.

E partiram para onde o centro médico estava sendo construído, dessa vez em total e completo silencio.

Mas graças a chegada da ruiva em Oto, Sakura pode chegar mais cedo em casa aquele dia, talvez tê-la ali não fosse tão ruim assim.

-Como foi?

Ele perguntou assim que a rosada cruzou a porta

Enquanto terminava de tirar as botas e deixar a capa na entrada, ela o mirou e começou a narrar

-Chegamos no centro médico e começamos a nos estapear, unhar a até arrancar tufos de cabelos por sua causa, parecíamos duas leoas brigando por um pedaço de carne.

Sasuke fez uma expressão de descrença que a rosada achou levemente engraçada.

-Foi tudo bem, ela vai ficar encarregada de fazer a transferência de unidades, ela parece realmente saber o que está fazendo, assim sobra menos trabalho pra mim e Naomi.

Viu ele desviar o olhar, então se aproximou

-Está tudo bem, você não é mais tão gostoso quanto pensa...

Dessa vez ela soltou uma gargalhada quando ele abriu a boca aparentando estar extremamente ofendido

-Vou te mostrar quem não é gostoso...

E já foi se aproximando aspirando o aroma da curvatura de seu pescoço

-Não...eu preciso de um banho, de preferência na banheira!

Então o afastou levemente e se virou para as escadas, mas parou antes de alcançar o primeiro degrau.

-Quer vir comigo?

-Sakura, mal cabe uma pessoa naquela banheira, que dirá duas.

Então a Haruno se virou novamente para o moreno e sorriu com a lateral dos lábios

-Quer apostar?

Sasuke se aproximou e tentou entrar em seu jogo

-Virou bruxa agora?

Ela sorriu com o comentário

-Vai caber... seu eu estiver encima de você.

Então ergueu a mão e passou um dedo sobre o rosto bem feito do homem a sua frente

Era possível ficar duro somente com algumas palavras?

Ah sim...era

Se aproximou mais e a abraçou pela cintura fazendo notar aquela parte recém desperta.

-É talvez você seja mesmo uma bruxa...

Ela correspondeu o agarrando pelo pescoço

-Eu?

-É, porque você me enfeitiçou.

Buscou os lábios cálidos e macios enquanto sem olhar por onde iam, despiam-se pelo caminho subindo as escadas até o andar superior.

Talvez Sakura fosse mesmo uma bruxa ou algum tipo de ser encantado, porque por mais inacreditável que pudesse parecer, ela fez caber. Mesmo um homem grande como ele, que mal conseguia ficar submerso naquele micro ofurô que ela insistia em chamar de banheira, se viu totalmente preso enquanto ela fazia sua mágica, e o micro ofurô pareceu o melhor lugar do mundo naquele momento.

Sasuke começou a achar que a chegada da ex companheira de equipe foi a melhor ideia já pensada nos últimos tempos, ele já não ficava mais tanto tempo sozinho, e finalmente eles conseguiram começar a jantar juntos.  Sakura lhe contou que as fofocas sobre ele e Midori haviam diminuído e que ela até achava engraçado quando alguém comentava algo sobre, a pobre garota devia estar desesperada para se atirar daquele modo, e ela sabia bem que garotas desesperadas jamais conseguiam o que queriam, eles não se importavam com aquilo, e o Uchiha não voltou a treinar a garota, deixando este encargo para Hiroki.

Quando ela veio lhe questionar, apenas disse que ela perdeu a chance de ser a melhor Kunoichi de Oto por não saber se portar como mulher.

Dias depois, quando a organização do centro médico havia avançado a olhos vistos, Karin começou a ajudar no treinamento com as novas recrutas. Sakura precisou admitir que a ajuda da ruiva foi essencial e que ela conhecia muito bem todo o funcionamento do local onde era o hospital atualmente, já que fora um dos centros das pesquisas de Orochimaru, fazendo a transferência para a nova sede ser rápida e eficiente.

Era muito bom chegar em casa e ter o jantar quente e pronto a esperando, podia se acostumar com aquilo...talvez para o resto da vida? Quem sabe...

Era ela a curiosa dessa vez, então não se fez de rogada ao perguntar

-Como foi hoje?

Questionou levando o hashi com o pedaço de peixe aos lábios.

-Normal.

Sakura ergueu o olhar para o moreno a sua frente do outro lado do balcão

-Só normal?

-Com mais mulheres talvez...

A rosada estreitou o olhar

-Você entendeu minha pergunta

O único orbe negro a mirou

-Ela as treinou em um ala, mal me cumprimentou, foi somente mais barulhento que o comum.

-Hum...

Respondeu mastigando um pedaço de peixe

-Ela chegou com aquele ninja... que você quebrou, estavam de mãos dadas

Sakura deixou os hashis caírem sobre o prato

-O Sano?!

Sua surpresa foi instantânea

-Esse aí

O Uchiha finalizou voltando a atenção para a comida

Sakura não sabia se estava mais espantada por Karin estar com Sano ou por...

-Não acredito que está me contanto uma fofoca!

Então começou a rir

Mais uma vez Sasuke a mirou, ela via como a mulher ria levando a mão a barriga

Girou os olhos desiguais pelas orbitas

-Você perguntou.

-Fofoca é fofoca Sasuke, Ino sentiria orgulho de você!

Sakura ria despudoradamente as suas custas, ia deixar pra lá e voltar para sua refeição quando olhou para a salada na travessa entre os dois, se pudesse a faria engolir aquela travessa inteira para que parasse de rir.

Então ponderou, o que estava o impedindo?

Pegou um pedaço de cenoura, aparentemente o legume favorito da cerejeira, e jogou diretamente sobre ela, acertando na testa alvo de tantas piadas na infância, se ela não se mexesse tanto teria atingido o losango em cheio.

O silencio veio na hora.

Ah...o silencio!

Mas ele durou pouco

-SASUKE!

O olhar de surpresa e descrença pelo que acabara de fazer estava estampado no rosto da Haruno.

Então foi a vez dela, a vingança, será que ela não tinha aprendido com ele que a vingança não levava a lugar algum?

Parecia que não pois ela pegou um pedaço de tomate

Ela não ia desperdiçar aquele belo e suculento pedaço de tomate

Ia?

-Sakura...

Falou em tom de aviso

Nem se limitou a mexer porque no fundo achou realmente que ela iria recuar ao ouvir seu nome ameaçadoramente

Quando o fruto atingiu bem o meio de seu nariz, deixando um rastro de semente e fluido ele continuou a olhando, descrente

Ela mordeu os lábios contendo a risada que com certeza escaparia

-Você me paga!

Então ela se sobressaltou se levantando correndo ao ver o enorme homem se erguer e ir em sua direção.

-Não Sasuke!

Ela não estava fugindo de verdade e ele não estava zangado realmente, quando a alcançou com o braço protético a jogando sobre o tapete da sala, a risada que soltou dessa vez soou de uma forma abrasadora, gostosa

Tudo nela era sempre muito gostoso

-Peça desculpas

-Não!

E continuou sorrindo

Então ele desceu e ergueu o agasalho que ela vestia

-Ah...suas mãos estão frias!

Então a mordeu levemente ali fazendo-a se encolher

Sakura tinha muita sensibilidade naquela região, percebeu no primeiro instante que a teve

Ele subiu e encontrou seu olhar

-Peça!

Ele mexeu a franja sutilmente tentando retira-la de frente a sua visão

Sakura então se apoiou sobre os cotovelos e afastou a franja escura beijando e passando a língua pelo local onde o tomate o atingiu

E sussurrou de uma forma lenta e extremamente sensual

-Desculpe

A descarga elétrica foi instantânea.

Talvez para eles o tapete fosse onde tudo sempre se iniciasse...

E quem sabe onde tudo tivesse fim.

CONTINUA...