Não foi tarefa fácil chegar até sua mãe e lhe revelar aquele pedido interno que já o atentava a algum tempo. Haviam motivos para a progenitora se manter afastada daquele lugar e ele sabia bem, então foi com ressalvas que chegou até ela e lhe fez o pedido.
Sakura era uma mulher muito aberta e amorosa, mas nunca perdia o filho de vista, ele sempre estivera com ela desde o nascimento, não importasse a ocasião, Samir era seu companheiro, seu parceiro.
Mas quando o assunto era Konoha...sentia que tinha de ir a passos lentos.
Por isso contou com a ajuda de seu pai, a melhor pessoa do mundo! O patriarca sempre o ajudava a “dobrar” sua mãe em diversas questões, e naquela ele precisou mais do que nunca do líder de Dohã.
Ele se embebia nas palavras dela… de como era o monte dos Kages lendários, da guerra... céus, como ele adorava ouvir sobre aquela guerra e suas reviravoltas! Ela falava com saudosismo de seu lugar de origem, mesmo nunca tendo cogitado a ideia de voltar para lá, e as cartas trocadas com o padrinho ao longo dos anos apenas aguçaram mais sua curiosidade.
Nos treinos que tinha com sua progenitora desde a infância, onde ela lhe mostrou ainda quando usava fraudas a formação do chakra entre os dedos, fazendo-o se encantar na hora, aquilo o atraiu e instigou por toda a vida.
Era um jovem ocupado por ser filho do Emir* de uma região em expansão, mas ela sempre separava um tempo para eles, para os treinos, por pedido do próprio menino, sua mãe, Sakura, nunca o forçou ou o direcionou a este caminho.
-Uma fruta nunca cai muito longe do pé Habiba….
Seu pai dizia.
E então ela lhe ensinou, e ensinava com o passar dos anos, mesmo com tantos afazeres, mesmo com sua importância política para Dohã, mesmo com seu trabalho para o desenvolvimento da medicina...ela sempre arrumava um tempo para eles.
E céus, como ela forte! Possivelmente seu corpo adquiriu uma resistência muito superior à dos outros devido aos golpes que recebia da própria mãe, e quando não desviava, mesmo sabendo que ela se continha para não machucá-lo, a flor do deserto deixava aquele ar voraz de batalha e o maternal sobressaía, então a luz verde surgia para lhe curar todas as dores.
Sua mãe tinha o poder de curar tudo, nem precisava da luz para isso, apenas seu abraço, por vezes, já era suficiente.
Mas não demorou para que se encantasse pelo chakra verde.
E hoje, tantos anos depois, chegar até ela e lhe pedir para ir para Konoha foi a maior batalha já travada entre ambos.
Não de palavras, golpes ou socos, mas de olhares e reprimendas mentais.
Ele entendia, talvez deixá-lo ir fosse muito para uma mãe como ela, era filho único, tanto ela como seu pai haviam passado por muita coisa durante a vida, guerras, dor, opressão, libertação…
Ver o jovem rapaz de 17 anos caminhar pelas dunas em uma direção oposta a deles, indo e não vindo, poderia ser muito para pais tão zelosos e preocupados, que ainda enfrentavam muitas coisas pelas posição que ocupavam, mas assim como eles tão jovens travaram batalhas internas e externas tão poderosas, era sua vez.
As recomendações foram tantas que ele se achou novamente com sete anos de idade indo para o acampamento da escola com os colegas.
Seu pai apenas maneou a cabeça sorrindo quando ele o encarou através da figura da mãe lhe pedindo auxílio.
Depois veio o abraço, forte, apertado, e o beijo, tanto dela quanto dele. A barba de seu pai até hoje lhe fazia cócegas na face.
Ele não sabia se seria líder de Dohã algum dia, até porque depois da morte dos pais, o cargo seria posto em votação, assim como foi quando entraram, ele não sabia se seguiria a carreira médica, ou se seria um ninja...o ninja que poderia ser se fosse para o extremo oriente, para a terra de sua mãe e conhecer a outra metade de suas origens.
Mas ele nunca descobriria se não tentasse, então partiu, pela primeira vez,sozinho, cruzou as areias para o mais longe possível, para além do que já conheceu.
Mesmo com os pais lhe pedindo para que fosse acompanhado, insistiu para ir só.
-Quero mostrar que sou um bom ninja.
Ela sorriu, ela entendia afinal de contas, sabia que entendia.
Então partiu, e Konoha, o lar de infância de sua mãe, era seu destino.
A viagem que antigamente durava bem mais, agora era feita em menos tempo, mas mesmo assim não queria dizer que era menos cansativa. Utilizou-se o mínimo possível dos “prazeres” do mundo moderno e escolheu o método rudimentar, queria sentir na pele, viver aquilo com toda intensidade, se é que era possível.
Além disso, estava indo com uma missão, pela primeira vez em anos, os laços entre Dohã e Konoha seriam estreitados, isso se o Hokage aceitasse.
Não pôde dizer que foi fácil, pois não foi e sentiu-se fraco no processo, mas uma coisa que ouviu de sua mãe é que ninjas nunca desistem, e que isso ela aprendeu com seu antigo companheiro, o atual Kage da Vila da Folha.
Quando os portões surgiram diante de si, sentiu algo diferente, um pulsar além de sua imaginação, estava em Konoha, finalmente…
Ao se apresentar aos ninjas da entrada, bem diferente do que a mãe descrevia e mais parecido com o que o padrinho dissera, apresentou a carta de Kakashi ao homem fardado, e por fim este liberou sua passagem.
A Vila da Folha era enorme e movimentada, por um momento achou que muitos estranhariam seus trajes exóticos do deserto mas não, era pouco observado, por fim, decidiu explorar o lugar depois, antes de tudo precisava encontrar o local de morada do padrinho, aquele que o hospedaria durante seu tempo na vila.
Não era do tipo rastreador e sinceramente nem adiantaria muito ser naquela situação já que só se lembrava da figura mascarada na tenra infância, portanto não se recordava das características de seu chakra. Tinha intimidade com com o homem, mas sempre através das cartas.
Seu animal de estimação, o grande lobo cinzento que o acompanhava pelo palácio afora, presente do mascarado quando partiu de volta para sua terra, dizendo-lhe que ele não poderia ficar mais deixava o pequeno animal como forma de manter-se perto e protegê-lo.
Samir nunca mais se desgrudou do animal, mesmo tendo que fazê-lo agora. Canino ficou em casa mas seu coração estava com ele, pediu ao lobo que cuidasse dos pais até que voltasse, ele lhe lambeu a face e voltou a se enrolar sobre as almofadas no chão do quarto, o clima era difícil para um animal como aquele no deserto, então não saia muito com ele pelas dunas, eram cansativo e estafante para Canino.
Andar em meio aquela multidão que transitava pelo centro da vila não estava o ajudando a encontrar o endereço da carta, ele falava bem o idioma local, mas seu sotaque e os barulhos ao redor não permitiam que as pessoas lhe entendessem bem, por fim optou por fazer algo que sua mãe o havia ensinado ainda quando menino, subir pelos telhados.
Fazia muito daquilo com os ninjas de Suna que estavam em Dohã, mais por divertimento do que por necessidade. Mas ali, era uma questão pessoal, então pulou e ficou satisfeito em ver que sua técnica não era tão ruim assim...era?
Talvez não fosse pois a garota parada diante de si mal percebeu sua chegada.
Ficou parada por alguns instantes o observando.
É, talvez tenha superestimado sua aparência para as pessoas locais.
-Hatake Kakashi?
Disse por fim, não queria estender muito a conversa, sentia-se frustrado ainda das tentativas anteriores.
-O que…?
Fez um gesto de insatisfação com a boca coberta pelo lenço que passou despercebido pela outra.
-Procuro por Hatake Kakashi, poderia me ajudar?
Ela ficou mais algum tempo em silêncio, os grandes olhos azuis apenas o miravam.
Talvez ele não tenha sido claro, estava prestes a reformular a pergunta quando a resposta veio
-Duas casas a frente.
Então olhou na direção que seria contando as casas.
Sorriu sutilmente e a olhou mais uma vez
-Shukraan!
Disse por fim já se adiantando para o local onde seria a casa de seu padrinho.
Quando o homem abriu a porta, ficaram se encarando por um momento.
Os cabelos prateados estavam um pouco mais grisalhos que o natural.
-Você cresceu
Foi o que o Hatake disse
Então o jovem apenas avançou sobre o homem e o abraçou.
-Padrinho!
O ex Hokage recebeu o carinho de bom grado, talvez tenha acabado se acostumando com as demonstrações de afeto do povo do deserto no tempo que passou lá.
-Deixe eu ver esse rosto
Kakashi pediu quando Samir o soltou
O jovem rapaz desamarrou a parte do lenço que cobria a face deixando apenas os olhos à mostra
-Nossa...está a cara do seu pai!
Samir sorriu
-Só você acha isso eiraab*
-Venha, entre, não fique na porta.
O jovem adentrou na casa e olhou tudo ao redor.
-E então, o que achou?
-É a primeira vez que entro em uma casa oriental.
Kakashi sorriu
-E vai comer comida oriental também, aposto que está com fome.
-Faminto!
Conversaram sobre a viagem, sobre Dohã, sobre como sua mãe sentia falta do homem grisalho.
-Meu lugar é aqui, sua mãe sabe disso.
-Sim, eu sei, depois que jida* Tsunade foi para o interior com as missões médicas ela tem se sentido abandonada.
Kakashi sorriu.
-Seus avós se foram muito cedo quando se mudaram para Dohã, talvez só agora isso tenha a atingido.
O rapaz juntava as mãos sobre os hashis buscando alcançar a comida.
-Sim, é verdade, mas mamãe é uma mulher forte, não se permite chorar muito.
-Você nem imagina o quanto meu rapaz…
E pousou as mãos sobre um dos ombros de Samir o vendo ter dificuldades com o aparato para comer.
Sorriu, talvez fosse sim uma boa ideia ter o afilhado ali lhe fazendo companhia por um tempo, custava admitir mas sentia falta em alguns momentos da movimentação de Dohã, o jovem lhe trazia uma certa nostalgia do lugar.
O viu utilizar-se do controle de chakra para manter os hashis no lugar e poder alcançar a comida na pequena travessa.
-Está muito bom.
-Shukraan.
Kakashi respondeu fazendo Samir começar a rir.
A risada expansiva de Sakura.
Samir era um jovem feliz, alegre, de bom coração, assim como sua mãe era.
Antes de ser quebrada.
Após comerem, Kakashi hospedou o rapaz no mesmo quarto onde antes, quase vinte atrás, a jovem Sakura também estivera, então o deixou descansar após a longa viagem e prometeu mostrar-lhe a vila a noite.
Tomou um bom banho e trocou-se, o clima ali era muito agradável e chegou até a sentir certo frio, então as roupas cobertas do deserto feitas exatamente para as variações térmicas ao longo do dia serviram muito bem.
Caminharam tranquilamente e Samir não se cansava de ouvir a história da fundação da vila, sua mãe nunca entrou muito em detalhes e ouvir da boca de um ex Hokage, vendo seu rosto entalhado na grande pedra era de grande emoção para o rapaz.
-Sinto orgulho de você, eiraab.
O Hatake o mirou com as mãos dentro dos bolsos.
-Porque diz isso?
Porque é uma honra para mim ter ligação com alguém de tanto valor.
O grisalho desviou o olhar para o monte, a forma como aquele povo valorizava as pessoas que lhes eram queridas era admirável. Talvez se Konoha tivesse um pouco disso muitos conflitos poderiam ter sido evitados.
-E eu orgulho de ser seu padrinho.
Disse sem mira-lo.
-Amanhã vamos apresentá-lo ao Hokage. Vamos ver o que Naruto terá a dizer quando o ver.
Kakashi o olhou e o outro sorria.
Mal via hora de conhecer o famoso Kage da Vila da Folha, Uzumaki Naruto.
Acordou cedo sem precisar ser acordado, a verdade é que estava eufórico, ansioso, animado!
Levantou-se e se vestiu indo ter com o padrinho, comeram rapidamente deixando a louça para depois mesmo com Samir insistindo para o ajudar, Kakashi apenas lhe disse que não havia problemas, eram homens livres, deviam curtir sua liberdade um pouco.
O rapaz sorriu e concordou.
Ficou admirado com o respeito com que as pessoas tratavam o Hatake, quando pararam diante do escritório puderam ouvir as vozes lá dentro.
-Vamos arranjar outro membro para o time, Shikamaru, peça que me tragam o registro dos ninjas…
Então Kakashi apenas bateu sutilmente na porta já adentrando no local.
-Naruto…
-Kakashi-sensei, que bom que está aqui, talvez possa me ajudar a solucionar esse problema, Mitsuki voltou para Orochimaru e..quem é esse rapaz?
Naquele momento os olhos azuis miraram Samir dos pés a cabeça
-Esse é Samir Hadiya, veio de longe para conhecer nossa vila, e é uma pessoa muito preciosa para mim.
Samir então saiu do lado de Kakashi e se pôs diante da mesa do Uzumaki
-É um prazer estar diante de uma figura tão importante, Hokage-sama.
E se curvou em sinal de respeito.
Naruto olhou de rabo de olho para Shikamaru
-Oe, não precisa dessa cerimônia toda, pode ficar a vontade.
Naruto sorriu levemente sem graça.
O jovem se pôs de pé.
-Então, a que devo o prazer de sua visita a Konoha...Sa..Sa
-Samir.
Lhe ajudou Shikamaru. Aquele sobrenome estranho lhe pareceu familiar de alguma forma.
-Isso! Sorriu Naruto
-Vim até aqui porque tenho tenho laços com essa Vila e também por isso.
Então lhe estendeu o papel que levava entre as mãos
O Uzumaki pegou o papel, não era um pergaminho como estava acostumado, era uma espécie de fibra diferente.
-Papiro?
Shikamaru questionou
-É mais resistente no lugar de onde venho.
-E de onde você vem…?
Naruto questionou começando a ler as letras escritas naquele papiro, algo que nunca havia tocado antes
-Não pode ser…
Então os olhos azuis subiram para o rapaz novamente
-Dohã?
-Sim.
Ele respondeu e abriu um sorriso
-Você veio de Dohã?
O Hokage baixou o papel de fibra de planta e o mirava com os orbes arregalados.
-Sabe a quantos anos tento contato com sua nação e nada?!
Naruto estendeu o papel para Shikamaru que o pegou e começou a ler
-Então o líder de Dohã finalmente quer ter relações com Konoha…
Ponderou o Nara
-Sim, meu pai está muito interessado no que Konoha tem a oferecer a nossa nação e no que podemos dar em troca.
-Você é filho do líder?
O Nara questionou, agora se lembrava da origem do sobrenome, já ouvira Gaara o dizer anteriormente
-Sim.
-E o que faz aqui?
Samir se calou por um momento.
-Vim aprimorar minhas habilidades ninjas, mesmo tendo várias migrações entre diversas vilas ninjas e Dohã, não é a mesma coisa do que estar realmente em uma delas.
-Porque Konoha?
Shikamaru ainda o perguntou.
-Como já disse, tenho laços aqui, então nada melhor que vir me aprimorar aqui.
Laços...aquela palavra era tão peculiar para o Time 7.
Naruto sorriu e lhe estendeu a mão
-Pois então, bem vindo a Konoha, Samir-san.
-Apenas Samir.
Ele o corrigiu
Naruto não sabia o porque mas havia ido com a cara daquele garoto, algo nele lhe chamava a atenção além da roupas e dos modos extremamente educados.
Kakashi tocou em seu ombro e Samir deu um passo para trás.
-Me espere lá fora enquanto dou uma palavra com Naruto.
-Sim eiraab.
Então se curvou mais uma vez para Naruto e Shikamaru e se retirou.
-De onde conhece esse garoto Kakashi?
Naruto quis saber na hora que ficaram a sós.
-É uma longa história Naruto, na hora certa você vai saber, agora, a qual problema você se referia quando entrei?
-Ah, sim, bom...Mitsuki deixou o time 7!! Voltou para Orochimaru, sabe que não temos como impedir esse tipo de coisa, estamos com uma equipe desfalcada e pelo que sabemos não temos ninjas disponíveis para cobrir essa perda.
Kakashi sorriu por detrás da máscara com a possibilidade que lhe veio à cabeça.
-Sua solução acabou de sair por aquela porta.
Naruto ergueu uma sobrancelha
-Fala do garoto? Não posso por um ninja estrangeiro em uma equipe já formada, nem o conhecemos direito, não sabemos de sua capacidade, treinamento…
Kakashi interrompeu o ex aluno
-Acredite, ele o membro perfeito para ocupar o time 7.
O Uzumaki mirou o antigo sensei em silêncio.
-Porque diz isso? O que ele representa para você?
Kakashi deu um passo em direção a mesa que já fora sua e se curvou, então uma frase, uma pequena frase fez com que apenas o Hokage entendesse o que o sensei dizia, pois era algo único e exclusivo deles.
De sua infância, algo totalmente alheio para o Nara ali presente.
-Lembre-se da célula tripla.
Então foi como se uma nuvem saíssem de sobre o olhar do Uzumaki e o orbes azulados cresceram em entendimento e surpresa
Aquele sorriso, sim...aquele sorriso dado pelo garoto o acompanhou por toda infância e adolescência.
-Não pode ser….
A voz sempre mais alta que o normal saiu baixa e incrédula
-Ninguém deve saber.
Então se afastou e se virou
-Bom dia.
Disse abrindo a porta e saindo em seguida
-Naruto…
Shikamaru começou mas o Hokage se adiantou ainda para a porta fechada por onde o Hatake acabara de passar.
-Providencie tudo para que o jovem seja colocado na equipe.
-Hokage, tem certeza?
Então ele se virou e mirou o conselheiro e amigo
-Tenho…
Olhou mais uma vez para a porta
-Tenho plena certeza.
Então concluiu mais para si mesmo do que para o moreno
-É o único lugar onde ele poderia ficar.
CONTINUA...
*Emir- Título laico atribuído a lideranças militares, governadores ou grandes autoridades. A palavra vem do árabe amir, que significa “comandante” ou “príncipe”. O título é usado hoje por líderes de países como Qatar e Bahrein. Os Emirados Árabes Unidos, apesar do nome, são governados por xeques.
*eiraab- padrinho
*jida- vovó