Capitulo 29

“Depois de tentar consolar Kakashi, que estava inconsolável, voltei a dar atenção aos meus papeis, muita coisa estava acumulada do tempo que estive fora e já era hora de voltar ao trabalho. Passando os olhos rapidamente pelos mesmos, me deparei com algo que realmente chamou minha atenção. Eram os documentos de transferência de Sakura para outro médico, Akasuna no Sasori. Eu sabia que aquilo poderia acontecer, afinal ela era terminal mas enquanto aceitasse tratamento havia esperança. Meu peito se apertou mas sabia o que tinha de fazer. Assinei os mesmos e me levantei pronto para me encontrar com ela.

Eu não costumava ir a seção de oncologia, quando entrei muitas enfermeiras me encararam, algumas por estarem surpresas de me ver ali, outras mostrando interesse, ignorei e procurei Sakura com o olhar. Ela estava sentada em uma cama no canto do amplo local, sorriu fracamente quando me viu.

–Como se sente? Perguntei assim que me aproximei dela.

–Péssima.

–Não se preocupe, logo logo isso passa.

–Odeio essa parte do tratamento.

–Mas é isso que vem te mantendo viva até hoje, devemos agradecer a ele.

–Sakura? Sua bacia. Uma enfermeira se aproximou e entregou o objeto pra ela, caso a mesma se sentisse enjoada e precisasse botar tudo pra fora, ato todo feito sem que a mesma tirasse os olhos de mim.

–Obrigada. Ela respondeu e recostou a cabeça nos travesseiros encostados na cabeceira do leito.

Mesmo depois de se afastar a enfermeira continuou a me encarar.

–Você faz sucesso a onde quer que vá.

Não foi uma pergunta, foi uma constatação.

–Não me interesso por esse tipo de mulher.

–Fico imaginando o que elas devem estar pensando...como alguém como eu conseguiu alguém como você. Porque você escolheu alguém doente e sem expectativas...

–Só de pensar uma coisa dessas já mostra que não valem a pena.

–Qualquer um pode pensar isso! Sua família, seus amigos!

–Eu não me importo com eles.

Ela baixou a cabeça e respirou fundo. O remédio que era lançado em sua veia era muito forte e a deixava fraca.”

–Sakura! Achei que não viria hoje. Uma jovem se aproximou e se sentou no leito ao lado.

–Acabei me atrasando.

Depois de encarar o moreno ela sorriu e voltou a falar.

–Ah sim, entendo o porque.

–Esse é Sasuke, meu...

Ela se calou, não sabia o que dizer. Era seu médico? Se amante?

–Sou namorado dela. Sasuke Uchiha.

–Você é o Doutor Delícia?

–Hãn?

Sakura levou a mão a boca e deu um singelo sorrisinho.

–Quem diria, agora entendo porque o chamam assim...

Sasuke nunca tinha ouvido falar daquilo, Doutor Delícia, de onde essas mulheres tiram essas coisas?!

–Tenho que ir, meu bonitinho está me esperando.

–Juízo Hana. Sakura disse ainda mantendo o sorriso nos lábios.

–Pode deixar. Tchau Doutor.

Sasuke nada disse, virou para Sakura que parou de rir no mesmo instante

–Que história é essa de Doutor Delicia?

–Não olhe pra mim, não fui eu que inventei!

–Então quem foi?

–Ela me mataria se soubesse que contei, mas foi a Ino. Ela realmente se interessou por você quando te viu a primeira vez.

Sasuke girou os olhos.

–Mas no fim ela acabou caindo nos encantos do Kakashi...ou na lábia dele.

O moreno ainda a encarava, não sabia se a rosada já soubera da gravidez da amiga.

–Tem falado com Ino?

A cerejeira voltou a sorrir.

–E quando a Ino para de falar?!

–Ela falou com você sobre...

Sakura o interrompeu.

–Sobre a gravidez? Ela me contou quando ainda estava suspeitando.

–E o que você acha de tudo isso?

Sasuke sabia que Sakura e Ino eram como irmãs.

–Acho que eles colheram o que plantaram.

A rosada se desencostou dos travesseiros e levou a mão no rosto do Uchiha.

–Não se preocupe, eu fico feliz que ela finalmente tenha encontrado alguém. No fundo eles demonstram que não se importam, que se envolvem apenas carnalmente mas eu sei que não é assim, Ino nunca esqueceu de se prevenir antes, ela tem adoração pelo corpo e pela carreira, se Kakashi fez com ela se esquecesse disso tudo, ela o ama, eu tenho certeza.

–Se você diz.

– Eu sei que eles vão ficar bem. Você também vai ficar, todos vão.

O moreno se remexeu, não gostava quando ela falava assim, não se incluindo.

–Você também vai ficar bem.

–Pra onde quer que eu vá, eu sei que estarei bem.

–Você não vai a lugar nenhum. Vai ficar bem aqui.

Ele se aproximou e segurou sua mão.

–Seria perfeito....se fosse verdade.

E mais uma vez recostou a cabeça nos travesseiros fechando os olhos.

E ainda de olhos fechados completou

–Mas pra onde quer que eu vá, vou continuar te amando.

“Ela apertou minha mão com força e acabou adormecendo.

Senti algo dentro de mim se apertar. Comei a suspeitar. Sakura sofrera uma cirurgia séria no dia que em que fui baleado, mais uma de tantas. Com o tratamento que fazia agora ela deveria estar melhor, mas parecia acontecer o contrário, parecia pior e definhando cada vez mais.

Eu não queria acreditar naquilo, não queria ver aquilo. Soltei sua mão a sai dali as pressas, precisava falar com ele sobre o caso dela, ele tinha que ajuda-la, de um jeito ou de outro.

Então eu fiz, fui atrás de Akasuna no Sasori. Engolindo todo o meu orgulho.

Os cabelos avermelhados do mesmo o tornavam inconfundível. Estava encostado no balcão preenchendo alguns prontuários.

–Doutor Akasuna.

Minha voz saiu séria e grave.

Ele me encarou, seu rosto não transpassou surpresa, parecia que ele já me conhecer.

–Doutor Uchiha. Correto?

–Sim. Vim falar sobre Sakura.

–Foi o que imaginei.

Ele fechou a pasta com os prontuários e me deu atenção.

–Gostaria de saber como vai o caso dela.

–Bem.

Foi tudo o que disse.

Respirei fundo. Tinha que ter paciência.

–Não estou aqui como um simples acompanhante. Estou aqui como médico que transfere sua paciente a outro médico, quero saber quais são as opções de tratamento que tem mente pra ela.

–Muito bem. Ele fez uma pausa. –Sakura não está mais respondendo a quimioterapia pois seu tumor cresceu e se encontra em uma área difícil de operar, no momento a quimioterapia é somente para que não aconteçam metástases.

Como médico sabia que aquilo poderia acontecer, mas como homem aquilo me acertou em cheio.

–E o que pretende fazer?

–Se importa mesmo com ela não é?

–Não mude de assunto Doutor...

Ele me interrompeu.

–Eu sei que está aqui porque se importa com ela, sei da relação de vocês.

–Isso não vem ao caso agora.

–Pois no meu caso vem. Estou aqui exclusivamente por ela.

Senti meu sangue ferver na hora.

–O que quer dizer?

–Estou dizendo que estou aqui unicamente por ela e por tudo que vivemos.

Me aproximei mais dele com ganas de o socar, como ele tinha coragem de dizer tudo isso na minha cara?!

–Minha história com Sakura ainda não acabou.

Fiquei cara a cara com ele.

–Pelo que notei não a vi correr para os seus braços quando voltou.

Ele sorriu pela primeira vez.

–Vejo que ela lhe contou sobre nós. Pois muito bem...Doutor Uchiha. Notei o tom de escárnio em sua voz. –Quer saber o que pode salvá-la? Terei que cortar uma parte do seu cérebro para que tenha uma chance.

–Mas...

Eu sabia o que aquilo significava.

– Ela perderá parte do córtex cerebral. E as conseqüências... bem creio que saiba quais são.

Sim, eu sabia, e aquilo foi como um soco no estômago. Sakura poderia perder a fala e a capacidade de reter informações, além do que... poderia perder toda memória recente.

E eu fazia parte da memória recente dela.

–A cirurgia está marcada para semana que vem, só falta ela assinar os papeis.

Então era isso. Tudo fazia sentido.

O motivo pela qual Sakura fora até minha casa. Ela estava se despedindo.

Me recostei no balcão e baixei a cabeça. Nem notei quando Sasori saiu dali.

Ela ainda não tinha assinado os papéis, sinal que estava em duvida.

Eu a deixava em duvida!

Mordi os lábios sentindo cada vez mais meu peito apertar.

Qualquer que fosse a escolha dela, eu poderia perde-la. Se não fizesse o procedimento a doença avançaria mais e ela não agüentaria, mas se o fizesse...ela provavelmente não se lembraria mais de mim.

Como se uma força sobrenatural houvesse se apossado de mim eu corri, corri muito.

Abri as portas do local com força. A enfermeira já encerrava a seção e a ajudava a se recompor. Ela estava de pé pronta para voltar para o quarto.

Sorriu quando me viu.

–Que bom que voltou.

Estava serio e ela percebeu.

–O que foi?

Segurei seu rosto com ambas as mãos e olhei fixamente dentro dos seus olhos.

–Você vai fazer aquela cirurgia!”

CONTINUA...