Capitulo 20

“Homens sábios dizem que só os tolos se entregam

Mas eu não consigo evitar de me apaixonar por você

Devo ficar? Seria um pecado

Se eu não consigo evitar de me apaixonar por você

Como um rio que corre certamente para o mar

Querida, assim algumas coisas estão destinadas a acontecer

Pegue minha mão, pegue minha vida inteira também

Pois eu não consigo evitar de me apaixonar por você”

Can't Help Falling In Love- Elvis Presley

 Ela passou a ficar acordada para observar os sonhos perturbadores do moreno.

Não sabia porque fazia isso e sinceramente tentava não racionar e buscar causas ou razões plausíveis, simplesmente o fazia.

Duas semanas depois, em uma madrugada em que a rosada pensou que o Uchiha não iria para o quarto devido ao avançar da hora, o sono a venceu, o que a fez despertar foram os sons...

Os ruídos que ele fazia. Daquela vez mais altos.

E daquela vez ele não pareceria que ia despertar como das outras.

Ergueu-se da cama e se ajoelhou a seu lado.

Tendeu a tocar na pele branca e salpicada de suor mas recolheu a mão quando a ponta de seus dedos encontraram a pele viscosa.

Ele sofria.

Não sabia o que fazer...

Então simplesmente fez o que sua mãe fazia quando tinha um pesadelo na infância.

Ergueu os lençóis e se embrenhou para debaixo dos mesmos, calmamente se aproximou da figura grande e aterradora a seu lado.

Respirou fundo e aproximou os lábios do rosto pálido

-Está tudo bem Sasuke

Ele tinha uma expressão de dor na face, percebendo a mesma se manter intacta, Sakura esgueirou o corpo mais próximo, o volume da barriga saliente encostou nas costas do corpo quase inerte do moreno.

-Shiiiii....vai passar, isso não é real.

Sussurrou próximo ao ouvido exposto do Uchiha.

Então levou a mão até os fios negros e os desgrudou de sua testa.

O movimento foi tranquilo e terno

-Você não está sozinho

Disse aproximando mais seu pequeno corpo do dele.

Observou a expressão amarga se dissolver aos poucos e então pode relaxar

Esperou mais alguns minutos ali, ainda tinha a mão afagando o cabelo rebelde e o cheiro que saía do mesmo podia alcançar suas narinas, por um momento pensou que o odor a faria nausear como acontecia antes, mas não...

Descobriu que aroma dos cabelos do Uchiha podia ser bem reconfortante, apesar das circunstâncias.

Então os movimentos de seus dedos foram diminuindo, pois o sono já havia a alcançado.

Dormiria ali, no chão do quarto que dividiam, naquele futon, com o corpo junto ao dele.

O silencio finalmente reinou no ambiente.

Horas depois, faltando pouco para o dia alvorecer, o corpo grande do ninja se mexeu, e então ele se virou.

O braço sendo pousado sobre algo macio e proeminente.

E foi nesse instante que aconteceu.

Uma leve e quase insignificante movimentação se deu ali.

Tão sutil que ambos permaneceram adormecidos, um de frente para o outro, com o braço do Uchiha pousado sobre a barriga da Haruno.

Minutos depois, quando a alvorada surgia no horizonte, fazendo os tímidos raios de sol brilharem em determinados pontos do aposento amadeirado, Sasuke se mexeu novamente, e naquele instante o movimento dentro do útero da cerejeira foi forte e intenso em resposta.

Fazendo com que a rosada abrisse os olhos com uma expressão estranha na face.

Então ela o viu, estava bem diante dela, com o rosto a poucos centímetros do seu próprio.

Com a mão de Sasuke envolvida em sua cintura.

Estava presa.

Qualquer movimento e....

Então aconteceu mais uma vez.

O pequeno ser em desenvolvimento dentro da rosada se mexeu, e ela se surpreendeu.

Levou a mão que pendia solta próxima ao moreno a boca.

Seu bebe estava...

Realmente estava se mexendo!

Baixou os olhos buscando o ventre, o braço do moreno estava sobre ele.

Então quando ergueu o olhar novamente, olhos negros e profundos a encaravam.

Sentiu seu sangue gelar.

Tentou abrir a boca para dizer algo, mas não sabia realmente o que diria.

O que diria?

As lagoas escuras continuavam presas a ela, por um momento Sakura se perguntou se ele havia despertado mesmo já que permanecia na mesma posição.

Sasuke não se movimentou um centímetro.

Apenas permanecia ali, a olhando sem nada dizer.

Foi somente quando mais uma vez a vida em desenvolvimento dentro de si se moveu que ele desviou o olhar dos orbes esverdeados para o local onde sentira a ondulação.

Quando Sakura teve seu olhar capturado novamente veio cheio de indagações.

Sua voz saiu baixa e tenra.

-Está se mexendo.

Ela percebeu o leve olhar de surpresa que ele lançara.

Mas assim como começou, terminou, Sasuke levantou o braço da cintura de Sakura, mas num movimento repentino ela o capturou no ar.

Sasuke mirou os olhos verdes indagativo, mas tudo que ela fez em seguida foi levar a mão grande e pousa-la sobre seu ventre.

Pode sentir o corpo másculo retesar bem diante de si.

Com delicadeza ela espalmou sua própria mão sobre a dele em sua barriga de quase cinco meses de gestação.

Acariciou a região, e ali, naquele momento ele pareceu relaxar.

As esmeraldas se mantinham fixas aos ônix a todo o momento.

Sakura retirou a mão de sobre a de Sasuke que continuou a caricia no local mesmo sem o acompanhamento da rosada.

Então ela passou a mão pelos fios negros delicadamente.

Pode ouvir, mesmo que sutilmente, o moreno soltar um suspiro.

Não diziam nada, o silencio imperava no ambiente sendo cortado apenas por sons dos passarinhos que por vezes vinham até próximo a janela assoviar anunciando que o dia já havia amanhecido e o sol brilhava lá fora.

Mas o único brilho em que o Uchiha se concentrava era nos que cintilavam dos olhos de Sakura.

E por Kami, como aqueles olhos brilhavam.

Só os perdeu de vista quando se fecharam ao sentir o contato dos lábios finos e frios.

A união das bocas foi só um roçar...mas o suficiente para acender algo

Algo que nunca foi acesso.

Algo apagado dentro do Uchiha.

Algo que se calou quando seus parentes foram todos mortos.

Quando ele ficou sozinho.

Em um rompante, como uma onda, aquele calor o assolou.

E o fez se sentir afagado, envolvido... só que por dentro.

Trouxe o corpo pequeno para mais próximo do seu, precisava dele perto, pois ele acendia as luzes dentro daquela escuridão sem limites que era sua vida.

E lhe fazia sentir coisas adormecidas e desconhecidas.

Coisas desconexas.

Coisas boas demais para serem reais.

Quando aquele simples roçar se tornou mais intenso sentiu, pela primeira vez na vida...

Seu coração falhou uma batida!

E a medida que o contato se intensificava parecia que ele falhava mais.

Quando suas línguas se encontraram ele achou que seu coração fosse simplesmente parar.

Mas não parou.

Quando as batidas na porta começaram eles não se separaram de imediato, foi apenas quando a voz de Juugo se fez presente.

-Sasuke-sama, está acordado? Precisamos nos falar!

Então eles se separaram, e quando a mirou novamente, as batidas falhas se converteram em aceleradas e descompassadas.

Nada disseram um ao outro, ele apenas tirou a mão do ventre protuberante e retirou os lençóis de sobre si, se levantando em seguida.

Ela não acompanhou seus movimentos.

Ficou ali, deitada, na mesma posição.

Minutos depois se virou e pegou-se olhando para o teto

Levou sutilmente os dedos aos lábios.

O que tinha feito...

Do lado de fora, Juugo e Sasuke conversavam.

-As principais nações ninjas estão em alerta, dobraram as buscas, aqui já não é um local seguro, já andaram perguntando sobre uma garota de cabelos cor e rosa no centro do vilarejo.

O moreno ouvia tudo, parecia estar calmo.

Mas dentro dentre um turbilhão acontecia.

-Vamos partir, avise aos outros.

Foi Karin quem a avisou que estavam de partida.

Não trocaram nenhuma palavra, apenas olhares corriqueiros.

A dona da estalagem de despediu chorosa, Sakura chegou a lhe abraçar, coisa que fez os outros estranharem.

Nem se preocupou em perguntar para onde iriam, sabia que não tinham autorização de lhe contar.

Vagaram por cerca de um mês. Iam de vilarejo em vilarejo dormindo em hospedarias diferentes em cada noite, Sakura percebeu que estavam fugindo.

Ela e Sasuke nunca mais ficaram sozinhos.

Não sabia se isso a confortava...ou incomodava.

Ele mal lhe dirigia a palavra, conversava apenas o necessário com os companheiros de equipe.

Os movimentos do bebe em sua barriga eram a maior distração do grupo nas noites de silencio, sendo aguardados com entusiasmo por Karin e Juugo.

-Dói?

Questionou certa vez o ninja ruivo

-Só chega a incomodar quando acerta algum órgão.

Juugo riu.

A barriga de seis meses não deixava duvidas sobre o estado da cerejeira.

E as viagens constantes começaram a ficar estafantes.

-Ela não pode continuar fugindo nesse estado!

Juugo pressionou Sasuke certa noite quando todos já haviam se retirado, Sakura estava ficando com Karin, que monitorava a saúde da rosada e da criança da maneira que podia.

-Vai acabar acontecendo alguma coisa, e você não vai querer mais esse trauma na sua consciência.

E deixou o moreno sozinho com seus pensamentos.

Então resolveram se separar, Juugo foi dias na frente em busca de um lugar seguro e ela e Sasuke foram atrás viajando lentamente devido ao estado da rosada, estavam disfarçados.

Suigetsu e Karin ficaram para trás, iriam alguns dias depois para dar cobertura, não podiam levantar suspeitas.

Mas o que Sakura não entendia era o porquê de estarem fazendo o caminho inverso.

Estavam voltando?

Tendeu a lhe perguntar mas desistiu, Sasuke parecia mais introvertido que nunca.

Faziam tudo no mais aterrador silencio, e de alguma forma aquilo a atingia.

E se recriminou por isso.

Certo dia, enquanto passavam pelo centro de uma pequena vila não ninja, Sasuke havia se separado dela por um instante para comprar suprimentos.

Se afastou lhe deixando apenas essas palavras:

-Eu já volto, não saia daqui por nada.

Enquanto ela não lhe confirmou ter entendido ele não se foi.

Então a rosada ficou olhando as pessoas ao redor e algumas bancas espalhadas pela rua.

-Deseja alguma coisa senhora?

O homem por detrás da banca de artesanatos a abordou de repente

-Ah, não, só estou de passagem.

-Uma moça bonita como você e nesse estado iria adorar algo como isso.

E então lhe mostrou a pelúcia bordada em formato de carneiro.

-É lindo, mas não, obrigada.

Então os olhos de Sakura caíram sobre algo totalmente fora do mundo infantil.

Uma pelúcia de falcão, os olhos da cerejeira brilharam para a peça.

O homem pegou o artefato e sorriu

-A senhora tem gostos peculiares

Sakura ficou levemente desconcertada

-Posso passar a mão?

-Han?

Ela não entendeu de imediato o que ele lhe pedia.

-Na sua barriga...me lembrou minha esposa quando esperava nosso filho.

A rosada sorriu

Geralmente as pessoas não se aproximavam assim dela, isso devido a carranca com a qual o Uchiha andava a seu lado.

Espantava qualquer um

Mas quando a mão do homem ia tocar no ventre saliente sentiu o puxão a tirando do alcance da mão atrevida.

-Vamos Sakura!

Ela se assustou fazendo o homem recolher a mão às pressas.

-Mas...

Antes mesmo dela prosseguir ele a cortou

-Já ficamos tempos demais aqui

Ela deu uma ultima olhada para o falcão sobre a bancada fazendo Sasuke acompanhar seu olhar, então se virou para acompanha-lo.

-Tudo bem, vamos.

Começaram a caminhar se afastando do local, o Uchiha a observou sorrateiramente pela lateral dos olhos e deu uma última olhada para trás antes de prosseguirem o caminho.

Ele estava demorando pra voltar aquele dia, por um instante Sakura começou a achar que tinha sido abandonada.

Ficou o dia inteiro sozinha naquela hospedaria no meio do nada, no fim da tarde, quando estava prestes a sair e tentar procurar por ele, a figura esguia do moreno surgiu porta adentro.

Ela não se conteve em perguntar

-Onde você esteve?

Ele apenas a mirou e retirando a espada da cintura respondeu

-Por aí.

Seguiram viagem, mais alguns dias e Sasuke finalmente soltou a frase

-Estamos chegando.

E então chegaram, e Sakura não acreditou quando viu para onde tinham ido

Otogakure

A vila do Som

O local para onde ele havia fugido junto com Orochimaru em busca de poder.

CONTINUA...