“(...) O tempestade vem
Me abraça e me devora
Em teu manto sagrado
Bem aventurança, êxtase e gloria
Sementes de um amor
Areia e pó que o vento do deserto carregou
Rasgando a solidão retornam os girassóis
No templo do amor
Um novo deus nasceu
E a morte não mais pra nós.”
A Miragem
O destino não era traçado, era simplesmente seguido, por onde as duas passavam eram lembradas por seus feitos, agraciadas, mas a dor...aquela lá dentro, escondida, escusa, a acompanhava em cada passo, principalmente quando alguém lhe perguntava sobre o Uchiha, sobre o casamento que não era segredo para ninguém.
Não havia motivos para ser.
Então foi para mais longe, para além daquelas vilas onde o nome do clã amaldiçoado pudesse ser lembrado.
Uma forma de lhe aplacar as tristezas sempre foi ajudando os outros, por onde iam não era diferente, ajudaram com enfermos, moléstias, epidemias...
Alguns sorrisos já eram vistos no rosto da cerejeira, o mundo era grande demais e cheio de mistérios. Percebeu que seria útil aonde quer que fosse, então decidiu ir além, além de todas as nações ninjas, para lugares jamais ouvidos antes.
Tsunade foi contra no início, achava que a pupila estava exagerando em ir tão longe, que estava se arriscando, mas a rosada estava decidida e nada a faria mudar de ideia.
A loira nunca a tinha visto tão certa de algo.
Não a questionou mais.
No cais, quando ambas estavam nos limites do que formavam todas aquelas Vilas e Nações a Senju se virou para a discipula, Sakura apenas observava o horizonte enquanto a brisa do mar balançava os fios rosados.
-Você vai deixar a melhor medicina por causa de um homem?
Questionou a loira
-A melhor medicina será onde eu estiver
Naquele momento a cerejeira a mirou e sorriu.
Tsunade sorriu em resposta, aquela garota, não...aquela mulher havia amadurecido.
Estava orgulhosa dela.
Então ela levou as mãos até o hitaiate e o desamarrou, olhou uma última vez para o desenho da Vila da Folha na placa de metal, passou lentamente o polegar sobre ele e o estendeu para a mestra.
Tsunade se surpreendeu mas não disse nada.
-Não preciso mais disso.
A loira o pegou e maneou a cabeça resignada.
Então Sakura a abraçou e apertou lhe transmitindo todo o agradecimento que palavras somente não conseguiriam expressar.
-Até mais shishou.
Tsunade passou a mão pelo rosto da kunoichi e sorriu.
-Se cuide.
Então a rosada se virou para o enorme navio e subiu, sem olhar para trás.
E depois de muito tempo o ar entrou em seus pulmões de uma maneira libertadora e única, como se somente agora ela pudesse respirar de verdade.
Sorriu, como a muito tempo não sorria.
A primeira parada foi uma região nova, mas muito parecia com sua terra, as pessoas tinham a mesma aparência física que a sua e a língua também não lhe era tão estranha, era um local extremamente desenvolvido, portanto não se demorou por lá decidindo assim por seguir viagem.
Iria por terra daqui em diante até onde...Deus quisesse.
Quando chegou no próximo país, se surpreendeu com a geografia e cultura do local.
Era diferente mas mesmo assim familiar.
As montanhas gigantescas lhe pareceram fascinantes, a cultura belíssima, a pobreza de algumas regiões a fez trabalhar apenas por estadia ou comida. Os templos magnânimos, a religiosidade única era fascinante. As comidas exóticas não eram suas favoritas e não ousou experimentar de tudo. A língua também acabou não sendo uma barreira tão grande, sua memoria ajudava nessa questão e se virava bem, as semelhanças com alguns aspectos de sua língua materna a ajudavam, além dos trejeitos físicos também lhe serem parecidos.
Mas seu coração não se fixou ali, ela sentia que devia ir mais longe e apesar dos temores que vinham em seu interior, prosseguiu, e o que encontrou ao sair daquela região a assustou.
Toda aquela beleza pareceu se esvair e a riqueza da paisagem morreu.
A onda de calor somente aumentava à medida que viaja para o interior e num dado momento o grupo com quem estava sessou a viagem devido as condições extremas que estavam por vir.
Então, por um acaso do destino, enquanto estavam acampados no terreno seco e pedregoso, um grupo se aproximou, seus instintos se aguçaram mas a rosada percebeu não correr chakra pelos seus corpos, apesar da aparência rude e diferente de tudo que já viu, eram homens
tranquilos e diligentes, uma jovem que havia se afeiçoado a cor de seus cabelos apenas lhe sussurrou
-Tuaregues...
E algo naquele nome estimulou sua curiosidade
-São homens do deserto do oeste, estão muito longe de casa...
Eles compartilharam água e comida com o grupo de Sakura.
A rosada percebeu que em dos animais em que viajavam, que descobriu naquela noite serem mulas, havia uma criança dormindo de forma desconfortável.
Pediu a jovem para lhes perguntar qual era o problema da criança.
A língua enrolada que eles falavam com velocidade pareceu impossível de entender para a cerejeira.
-Está com febre, os remédios deles não estão fazendo efeito, então estão viajando pro leste em busca de uma cura.
-Diga a eles que sou médica, que se permitirem posso olhar a criança.
Os homens, que não eram muitos, cerca de sete no total, que variavam entre velhos e jovens sorriram por detrás dos lenços que usavam sobre as cabeças e lhe direcionaram ao animal lhe dizendo palavras que ela não fazia ideia do que significavam.
Um deles retirou a criança da mula e a pousou sobre o chão.
Sakura notou que era um menino, não devia passar dos seis anos, respirava com dificuldades e queimava em febre.
Esteve evitando usar o chakra durante toda a viagem nessas novas terras por onde passava, notou que o chakra era algo desconhecido então ela não queria chamar a atenção, usava o máximo da medicina tradicional, mas ali...aquela criança morreria antes do dia nascer, todo o esforço daqueles homens seria em vão.
Então fez, materializou a luz verde entre as mãos e a percorreu pelo corpo pequeno e frágil.
Ouviu os sons de surpresa mas não se abalou, manteve-se concentrada no que fazia.
O garoto tinha algum tipo de vírus ou bactéria no corpo, algo que ela não conhecia, provavelmente proveniente daquelas terras, usou o chakra para diminuir a temperatura do corpo. Pediu a jovem para lhes dizer que ele estava desidratado e que uma espécie de bactéria estava alojada em seu organismo, explicou os sintomas e o que estava no corpo do menino, quando ela traduziu a mensagem eles pareceram se tranquilizar.
Disseram que é a doença da água, que pela dificuldade de encontrá-la nos últimos tempos algumas pessoas tem tomado de qualquer origem o que acarreta em infecções como aquela, voltariam para casa pois lá sabiam exatamente do que ele precisava.
Então um estalo veio na mente da rosada.
E se ela fosse com eles?!
Buscava algo novo, não é?
Na manhã seguinte estava partindo em cima de uma mula, junto ao garoto que agora já falava e sorria mostrando certa melhora.
Não entendia nada dos eles falavam, mas com gestos estavam se virando.
A medida que iam para o oeste, percebeu como o clima castigava e o calor parecia aumentar consideravelmente. No meio do caminho encontravam caravanas que dispunham de comida, roupas, sapatos e utensílios do dia a dia para comercializar. Eles levavam tudo aquilo em cima de um animal que Sakura nunca viu na vida, era estranho e fascinante ao mesmo tempo...
Alguns tinham algo como uma corcova nas costas, outros, duas.
Lá, ela escolheu roupas que condiziam com o local e até contou com a ajuda do garotinho que ajudara para escolher as melhores peças, ele apontava as que mais gostava e Sakura pegava.
No fim do dia estava envolta em tecidos marrons, quase negros que cobriam toda sua pele, os cabelos cor de rosa mal eram vistos pelo lenço que era transpassado pela cabeça.
O terreno pedregoso e seco ganhou nova aparência quando as dunas surgiram.
As maiores que já vira...
Muito maiores que as de Suna. Pareciam montanhas gigantes de areia que não tinham fim, para onde olhasse lá estavam elas.
Lhe ensinaram a passar o lenço pela testa, nariz e boca, deixando apenas os olhos esverdeados expostos.
Evitava que a areia trazida pelo vento adentrasse pelas vias aéreas e o calor lhe castigasse a face.
Chegou a pensar que a quantidade de tecido lhe sufocaria devido ao calor, mas foi o contrário, aqueles panos tinham algo que abrasavam a sensação térmica do dia e não deixava a pele queimar a medida que o sol subia e lhes castigavam, e a noite, quando o frio vinha pungente e cortante, esquentava o corpo impedindo o choque térmico, além de evitar que a areia cortassem a pele quando o vento vinha forte.
Além de evitar os animais peçonhentos que surgiam da areia.
Por fim chegaram a um assentamento, um enorme assentamento, lá haviam homens, mulheres, crianças e jovens de todas as idades. Animais que ela nunca havia visto de perto, eles tinham hábitos rudimentares aos seus olhos mas que a atraíam.
Foi tratada como uma rainha.
Não esperava tanto por ter simplesmente ajudado com o garoto.
Quando uma senhora lhe estendeu mais um prato de um ensopado ela quis recusar, imaginou que ali tudo deveria ser racionado e bem dividido
Ela apenas pegou suas mãos e sorrindo disse
كرم الضيافة
-Karam aldiyafa*
Mesmo sem entender o que lhe fora dito , aquilo lhe pareceu profundo de alguma forma então aceitou e provou novamente daquela comida tão diferente e de temperos tão unicos
No dia seguinte eles levantaram acampamento, Sakura viu por qual meio eles iriam viajar, em um daqueles enormes animais com corcovas. Engoliu em seco, era uma ninja, já havia passado por uma guerra, aquilo não era nada!
Ficou enjoada quase que por todo o caminho, o vai e vem que do animal fazia a comida revirar em seu estomago.
Mas não reclamou.
No pouco tempo que passou com aquele povo, aprendeu sobre os hábitos e costumes do deserto, não tudo mas o suficiente para respeita-los, a tratavam muito bem e no início achou que foi por ter curado o menino ou pela forma que o fez, mas não...eles eram daquela forma, eram brutos e gentis ao mesmos tempo e a admiração que brotou em seu peito a fez o ver como heróis, não por terem vencidos guerras como ela, mas por vencerem todos os dias o monstro do deserto, da fome, da sede, da loucura naquele mar de areia.
Se esforçou para conseguir pronunciar nem que fosse o mínimo daquela língua extremamente complexa mas que pareceu mágica quando as palavras começaram a fazer sentido.
Seus cabelos rosados chamavam a tenção das crianças que foram suas principais professoras.
Mas então, um dia, em meio aquele deserto sem fim, algo surgiu.
Entre as dunas ela brotava como uma miragem.
Naquele lugar, árido e infértil, onde o tom terroso e amarronzado se sobressaía, ela parecia uma visão.
O verde das árvores, o barulho mesmo que distante dos pássaros...
Aquilo ainda existia?
Então, ao seu lado, o menino agora totalmente recuperado lhe cutucou sobre seu animal e apontou em direção aquela aparição
-Dohã.
CONTINUA...
Obs:
*No início Sakura e Tsunade estão no limite do Japão em si, ela pega o navio atravessando o mar do Japão até a Coreia (do sul), segue para a China até chegar no Oriente Médio.
*كرم الضيافة
karam aldiyafa (Significa: a hospitalidade é sagrada)
Algo real para os Tuaregues.
Os tuaregues (em árabe: الطوارق) ou imuagues (Imuhagh) são um povo berbere constituído por pastores seminômades, agricultores e comerciantes. No passado, controlavam a rota das caravanas no deserto do Saara. Maioritariamente muçulmanos, são os principais habitantes da região sahariana do norte da África, distribuindo-se pelo sul da Argélia, norte do Mali, Níger, sudoeste da Líbia, Chade e, em menor número, em Burkina Faso e leste da Nigéria. Podem ser encontrados, todavia, em praticamente todas as partes do deserto. Falam línguas berberes e preservaram uma escrita peculiar, o tifinague. Estima-se que existam entre 1 e 1,5 milhões nos vários países que partilham aquele deserto.