E se apenas fossemos!

Teve medo de abrir os olhos.

Pois algo lhe dizia que qualquer realidade seria pouca demais, ínfima demais, se eles lhes faltassem.

Se sentiu mal em pensar assim, mas a verdade

Bem lá no fundo...

Já estava acostumado a viver sem sua família.

Foi bom revê-los, estar com eles, senti-los, foi a despedida que nunca pode ter!

Mas nada o preparou para estar sem seu amigo cabeça oca.

Nada o preparou para estar sem ela...

Ela...

Um mundo sem ela mas abarrotado de Uchihas era incompleto.

Imperfeito!

Não existia perfeição sem ela...sem Sakura!

Então quando as mãos pequenas e delicadas tocaram sua face ele soube.

Eram mãos de uma iro-nin

Mãos perfeitas!

E aquele contato lhe deu as forças necessárias para abrir os olhos

E encontrar a preciosidade.

Que não estava em joias, ouro ou qualquer outro tipo de riqueza.

Estava nos olhos de Sakura.

A luz do sol adentrava pela janela do quarto do hospital e resvalava sobre a figura de jaleco com os cabelos cor de rosa amarados desordeiramente sobre o topo da cabeça.

Estava linda.

Mais do que ele se lembrava

-Sasuke-kun, que bom que finalmente acordou!

E então sorriu pra figura do enorme ninja deitado sobre o leito de hospital.

E o aposento lhe pareceu se iluminar ainda mais.

Se aproximou erguendo a mão para retirar a toalha úmida da testa pálida do último Uchiha.

Notou que ia se afastar, mas ela não podia

Não devia se afastar

Não devia ficar longe dele, nunca mais!

A cerejeira sentiu o toque da mão de Sasuke em seu pulso lhe impedindo de prosseguir.

Ela olhou para a mão grande em sua pele e depois para o ninja

-Vou pegar outra toalha

Ele não sabia muito bem como dizer aquilo, não era bom com palavras, jamais seria, mas tudo que desajava era que ela estivesse ali, perto o bastante para que ele a alcançasse, que não saísse de perto nunca mais.

Nunca mais

-Eu não preciso de outra toalha

Quando a rosada foi tomar ar para contestar ele prosseguiu

-...preciso de você.

Os orbes esverdeados se arregalaram.

Não importava se aquela era a sua realidade ou qualquer outra, não importava. Em qualquer uma, em todas elas

Ele só queria ela!

A cerejeira se aproximou mais do leito e então o moreno se sentou na cama com mais dificuldade do que imaginou.

Sua cabeça doía.

Mas nada o faria parar.

-Sasuke-um, tenha cuidado, você sofreu um acidente no caminho pra vila, ficou desacordado durante dias, precisa descansar, podem haver danos internos que trazem sequelas se não observadas e...

E ele a calou quando uniu seus lábios ao dela.

A única sequela que teria seria o arrependimento em não beija-la e tê-la nos braços a partir daquele momento.

O corpo da kunoichi ficou tenso no mesmo instante e os olhos esmeraldinos se mantiveram abertos, foi somente quando os dedos da mão dele subiram do pulso para o braço fazendo um vai vem letárgico e gostoso ate chegar em seu rosto que ela se permitiu relaxar.

Não era um sonho.

Sasuke estava a beijando.

A toalha escorreu de seus dedos quando as mãos pequenas subiram e tocaram no tórax coberto pela roupa do hospital.

Os dedos grossos e calejados da única mão do ultimo Uchiha passearam pela face alva indo ate os pouco fios de cabelo rosado que pendiam na nuca exposta.

Ela se arrepiou e seu corpo pareceu se derreter mais quando a língua dele lhe pediu passagem.

E ela cedeu.

Envolvida naquele calor abrasador e aconchegante que era estar nos braços dele.

Não era como imaginou quando garota, era melhor...

Quando se separaram ela não conseguiu abrir os olhos, apenas o som das respirações aceleradas e levemente descompassadas podiam ser ouvidas no ambiente.

Sasuke colou sua testa na dela

Sim, era ela ali, a sua Sakura.

Jamais tocou no corpo dela, jamais experimentou dos lábios dela, mas ele sabia, reconhecia aquele palpitar.

Não dela, mas dele.

Aquele palpitar que brotava em seu peito e só agora ele entendia o que era.

Era o mais puro, profundo e completo amor.

Um amor que precisou passar por várias realidades, por várias daquela mulher arfante e de olhos fechados diante de si para ele entender.

Era ela, apenas essa o fazia se sentir assim.

Ele beijou o pequeno nariz da kunoichi e depois sussurrou

-Venha comigo

Então ela abriu os olhos

-Está me pedindo...

-Estou lhe implorando, por favor... venha comigo.

Ela sorriu, o maior sorriso que ele já viu ela dar na vida, em meio a ele as lagrimas vieram como cascatas.

Ela mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça em afirmação.

-Vou. Eu vou!

E ela o abraçou envolvendo o corpo grande como podia.

Mas tudo que ele queria era provar dos lábios dela mais uma vez.

E para sempre.

-Testuda você sabe se...

Quando a loira abriu a porta viu os dois em meio as caricias. Sakura se separou do Uchiha e tentou limpar o canto dos olhos como pode, Ino levou o prontuário que tinha entre as mãos até boca para esconder a expressão de espanto.

-Desculpe, não quis atrapalhar, posso voltar depois

-Não, tudo bem Ino, só estávamos conversando.

A Yamanaka soltou um leve pigarro e prosseguiu

-Você vai fazer a cirurgia do paciente do quarto 505?

A rosada estava sem jeito

-Não foi transferida para semana que vem?

-Sim, qual o problema?

Levou os olhos até o Uchiha

Ele apenas a encarava com seu único olho negro exposto.

Então lhe sorriu sorrateiramente, um sorriso cumplice.

Um sorriso que a partir daquele dia seria somente deles.

-Desculpe Ino, vou precisar transferir esse caso.

-Você transferindo um caso porquê?

Nunca se sentiu tão realizada em dizer aquelas palavras

-Não vou estar na vila.

Partiram pouco após Sasuke ter alta do hospital.

Pediu desculpas a Naruto por não ter comparecido ao casamento, o loiro o perdoou quando disse que ele compensaria quando viesse para o nascimento de um futuro filho.

Foi um trato.

Pensou em falar com Kakashi sobre os lugares por onde passou, não saberia dizer se foi real ou apenas um sonho, um sonho tangível, mas ainda sim um sonho provido pelo rinnegan.

Mas acabou deixando pra lá, pois no fim das contas não importava.

Tudo que lhe importava estava ali, bem a seu lado falando sem parar em como gostaria que ele lhe mostrasse tudo.

E ele mostraria...afinal teriam uma vida inteira pra isso.

Mesmo ele ainda a escondendo esse fato.

No lugar certo, na hora certa, faria o pedido, coisa que não tardaria, pois contava os dias para finalmente tê-la completamente

Quando selaram seus votos de casamento naquele lugar simples e remoto naquele vilarejo tão distante de casa, Sasuke temeu que aquilo fosse pouco pra ela.

Talvez Sakura desejasse um grande casamento em sua vila de origem ao lado de seus familiares e amigos.

Mas quando ela disse aquelas palavras soube que sua Sakura não era uma mulher de muitos caprichos, tudo que ela precisava, como dito em seus simples votos, era do amor que unia os dois.

Muitos homens veem o casamento como uma prisão.

Ele queria entender de onde tiravam isso, pois nunca se sentiu tão livre...

Estar nos braços da cerejeira era como voar por um imenso e claro céu azul e ter uma linda arvore para descansar.

Tocar o corpo dela, descobrir o que a agradava e em consequência o agradava também...era voar nesse céu.

Ouvi-la sussurrar, gemer...

Transpirar...

Arfar!

Lhe mostrava o porque de ter peregrinado tanto e no fim voltado para o início.

Para o começo.

Pois era lá que estava o que ele procurou por toda sua vida.

No fim não pode cumprir o trato com Naruto, pois foi numa cilada do destino, num dos esconderijos frios onde planejou coisas perversas e cruéis que algo lindo e puro nasceu.

-É uma menina!

O choro alto daquele ser minúsculo e de cabelos tão negros como os seus lhe trouxe algo até então desconhecido.

Não havia palavras para descrever aquela sensação.

Mas ao olhar para a figura da esposa deitada sobre a maca, suada e cansada após colocar aquele pequeno ser no mundo, aquele ser que os unia mais ainda, disse algo que poderia soar de maneira extremamente banal.

Mas mesmo assim dizia tudo

-Obrigado

Pois não existia palavra melhor que o definisse para ela

Seria sempre

Por toda vida

E talvez além dela

Um pequeno e simples

Obrigado

Mas carregado de história e de um sentimento tão profundo que nunca mais o fez saltar para nenhuma realidade.

Pois não existia nenhum outro lugar onde quisesse estar a não ser ali, com elas!

Não existia realidade melhor do que aquela.

Nenhuma vida supriria aquilo que tinha

Pois em todas as vidas o que ele sempre desejou estava bem ali, envolvidas por sua capa de viagem para protege-las no caminho de volta a vila.

FIM.