Sete Vidas

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    Capítulo 2

    E se eu fosse de outro?

    Hentai, Nudez

    Boa leitura

    Assim que seus olhos se abriram sentiu o peso na cabeça e a ardência no orbe lilás.

    Não reconheceu de imediato aonde estava, mirou o teto com vigas de madeira maciça bem talhadas e estranhou, aquilo de alguma forma lhe era familiar.

    Sentou e notou-se em uma cama de solteiro em um quarto de estruturas muito parecidas com o que ocupava em sua casa no antigo distrito do clã massacrado.

    Levantou passando a mão pelo rosto e andou pelo aposento.

    -Não pode ser...

    Então foi até a janela.

    E era.

    Sua antiga casa no Distrito Uchiha.

    Virou-se novamente para o aposento e procurou pelos detalhes, sim, eles estavam lá.

    Viu a marca no chão de quando ainda muito novo teimou em treinar tiros de kunai dentro do quarto para alcançar o irmão prodígio, obviamente o ato não deu certo, e as kunais nem suas eram...

    Levou uma boa bronca aquele dia.

    Deixou escapar um sutil sorriso ao se lembrar.

    Sentiu a brisa transpassando os vidros da janela e um arrepio percorreu seu corpo, foi até o armário agora muito maior e o abriu, não haviam muitas peças, a maioria em tons acinzentados, pretos e azuis.

    Pegou uma qualquer e a vestiu com maestria apesar da falta do braço.

    Virou-se até a porta e foi até lá a passos firmes mas parou em um assalto

    E se ele não estivesse sozinho ali?

    Será que, por algum motivo...existiria alguém?

    Suspirou e tocou a maçaneta a abrindo

    Nunca foi um homem de ressalvas.

    Olhou pelo corredor. Estava quase tudo como se lembrava...

    Era estranho, um misto de saudosismo, nostalgia e catarse.

    O trauma que acontecera ali anos atrás ainda o atormentava mas não alucinava.

    Não mais

    Enquanto andava pelos cômodos pensou que teria um vislumbre dos corpos de seus familiares mortos, mas não foi o que aconteceu.

    Se lembrou de passar correndo por ali.

    De ver seu pai chamar Itachi para conversarem a sós

    De observar sua mãe cozinhando.

    De seu irmão o levar nos ombros até o jardim para brincarem de ninja com sua mãe lhes repreendendo para que tomassem cuidado.

    Se atreveu a ir aos quartos. Estavam vazios, nenhum pertence real e pessoal deles estava ali.

    Eram apenas aposentos grandes e vazios.

    Vazio...

    Um grande, profundo e absoluto vazio.

    Assim era sua morada

    Assim era a morada de seu espírito

    Quando abriu as portas para o exterior viu seu bairro intacto, muito diferente das ruínas de outrora.

    E tão vazio quanto antes.

    Não soube quanto tempo passou caminhando pelas ruas vazias dentre as casas aparentemente intactas e bem-acabadas, pareciam recém reformadas, assim como a sua própria.

    Um novo distrito Uchiha.

    Mas, para quê?

    De repente ficar ali já não lhe parecia tão cômodo.

    Passou pelos portões e olhou ao redor.

    E então correu

    Pulou sobre os telhados e só parou quando chegou diante da porta.

    Bateu com mais desespero do que era seu comum.

    Não conhecia a pessoa que abriu a porta.

    -Pois não?

    A senhora lhe perguntou assim que viu a figura esguia parada a sua frente

    -Naruto.

    Foi tudo que seus lábios permitiram escapar

    -Ah sim, o antigo morador, nosso herói.  A velha sorriu -Deve estar na casa nova, com a esposa.

    Sua expressão se suavizou

    Então o Dobe conseguiu se casar.

    -Onde fica?

    A senhora ajeitou os olhos de aros transparentes e lhe disse onde ficava a nova residência do Uzumaki.

    -Obrigado.

    E saiu novamente em disparada.

    Quando diante da nova casa do amigo, deixou escapar um sorriso lateral.

    Ele tinha prosperado...

    Aquilo o confortou de alguma maneira.

    Então bateu na porta, dessa vez de uma forma mais calma.

    Ouviu o trinco sendo solto e aos poucos viu a luz da fresta que se formava a medida que ia sendo aberta aumentando.

    Seu sorriso se foi assim que encontrou aqueles olhos.

    -Sakura?

    Tão verdes e brilhantes.

    -Bom dia Sasuke, Naruto-kun não me disse que se encontrariam hoje tão cedo.

    E então lhe sorriu gentilmente.

    Naruto-kun?

    E mais uma vez o vazio estava ali.

    -Não fique parado aí, vamos, entre. Aposto que ainda não tomou café, só fica enfurnado naquele distrito, nem deve se alimentar direito.

    Ela pegou sua mão e sutilmente o puxou para dentro

    E ele sentiu algo como uma corrente elétrica quando ela o fez.

    A rosada fechou a porta e mais uma vez o olhou antes de soltá-lo e se encaminhar para o interior da casa.

    Ainda podia sentir os dedos dela em sua pele grossa e maltratada.

    Seguiu pelo cômodo adentro.

    Então notou em um móvel próximo a porta e abaixo de um quatro com desenhos de flores de cerejeira assinado por seu substituto, uma foto que comprovava tudo aquilo que estava bem diante de seus olhos.

    Eles sorriam nos trajes cerimonias de casamento.

    Naruto segurava sua mão e dava seu tão típico e grandioso sorriso. Um dos maiores que já vira.

    E ela...como os olhos brilhavam

    Mal dava para vê-los abertos devido ao tamanho da felicidade com que sorria para aquela simples foto. Os cabelos rosados presos com um belo arranjo, a roupa branca...o buque, os lábios vermelhos.

    Baixou os orbes e continuou pelo caminho.

    Estava de pé terminando de colocar o liquido esverdeado dentro das xícaras.

    -Venha, sente aqui, é chá verde, sem adoçar como você gosta.

    Ali notou o brilho do anel circular no dedo da cerejeira.

    Se aproximou da bancada e se sentou não sabendo se conseguiria engolir aquele chá.

    -Naruto está no banho. Deixei ele dormir mais um pouco, ontem ficou até tarde lendo pergaminhos importantes, Kakashi-sensei está tirando o sangue dele com essa transferência de cargo.

    Olhou para baixo e viu a bebida na xícara, quase reconheceu seu reflexo disforme ali.

    Então Naruto seria Hokage enfim.

    Seu amigo estava conquistando tudo que sempre quis.

    Deveria estar feliz por ele, não devia?

    Não devia?

    Seu monstro!

    -Deve estar feliz por ele...

    Disse sem ao menos notar, olhando para o liquido imóvel.

    -Não imagina o quanto.

    Levantou o olhar para vê-la, estava sentada em um dos bancos de frente a bancada quase a seu lado, estava próxima mas não o bastante, tinha a xícara entre os dedos e a péssima mania de não segurá-la pela asa, isso já lhe rendeu bons acidentes quando eram mais jovens.

    Ela tinha o lábio erguido em um sorriso mudo, parecia com o pensamento distante.

    Deu um gole na bebida e torceu o cenho levemente

    -Está amargo

    Ele quase deixou escapar um sorriso

    Abaixou a mão e pousou a xícara na bancada, pegou a colher dentro do açucareiro aberto e a mergulhou generosamente lá dentro duas vezes, enchendo o líquido com o elemento adocicado.

    Sakura era apaixonada por doces.

    Uma doçura sem fim

    Sem limites

    Prestou atenção em cada gesto, cada traço das linhas de seu rosto em satisfação ao provar a bebida renovada.

    Os olhos verdes caíram sobre ele.

    Ela pareceu não notar a intensidade daquele olhar.

    -E então, como vão as reformas no Distrito? Acredito que já estejam no fim, não é?

    Então era isso...ele mesmo estava reformando o lugar

    -Sim.   Disse simplesmente

    -Deve estar ótimo. Você tem se esforçado muito.

    -Pode ir até lá um dia.

    A rosada ergueu uma sobrancelha

    -Você me chamando pra ir no Distrito? Está com febre Sasuke?

    Então em tom de brincadeira levou a mão sobressalente a testa do moreno e fez cara de preocupação.

    -Hum, não, você parece bem.

    Mas quando ia retirar ele segurou a mão dela no lugar

    Porque naquele instante as coisas pareceram nos eixos de alguma forma.

    -Sasuke, está tudo bem?

    Sakura pousou sua xícara na bancada e se aproximou um pouco mais do Uchiha.

    Os olhos desiguais estavam ali, totalmente voltados pra ela.

    Não, não estava tudo bem...

    Porque aquela realidade era incômoda.

    Incômoda demais

    -Tem algo te incomodando?

    Como sempre, ele não precisava falar nada.

    Então ela levou a outra mão ao rosto dele e o acariciou gentilmente

    Sentiu o metal da aliança em sua face.

    E um amargor acompanhou o processo

    -Está melancólico hoje.

    Ele permanecia em silencio, rogando para que ela continuasse simplesmente ali, sendo a vidente que sempre foi.

    -Não é bom que fique tanto tempo sozinho naquele lugar, tem lembranças demais lá.

    Abriu a boca mas o som não saiu

    Tomou ar e buscou lá no fundo a pergunta que nem sabia se faria sentindo para a rosada

    -Teríamos sido felizes?

    Sakura se surpreendeu

    Baixou os orbes esmeraldinos mas logo os ergueu novamente

    -Eu não sei Sasuke, não há como saber essas coisas. Você partiu, se foi...e eu acabei me apaixonando por Naruto, ele é bom pra mim, é um grande homem, uma pessoa maravilhosa e...eu não quero magoá-lo.

    Tirou a mão da testa dele mas o Uchiha continuou a mantendo presa entre seus dedos.

    Sakura suspirou.

    Suas próximas palavras foram baixas e suaves

    -Tenho certeza que você vai encontrar uma boa moça e se apaixonar, vai fazê-la feliz, encher aquele lugar de vida e reconstruir seu clã como sempre sonhou.

    Sentiu uma parte de suas forças se esvaindo

    Não!

    Não sem...

    -Nunca saberemos se teria dado certo!

    Ela finalizou.

    -Teme!

    Por fim Sakura se afastou, de vez.

    Mas ainda podia sentir o calor acolhedor.

    -Aqui tão cedo. O que foi, caiu da cama?

    O loiro adentrou no recinto recém banhado e com os cabelos ainda úmidos.

    Sasuke não estava muito aberto a brincadeiras aquela manhã

    Principalmente do Uzumaki.

    Então ele se aproximou da rosada

    -Está tudo bem?

    -Tudo, estávamos conversando.

    Ela respondeu docemente.

    Tudo nela era doce demais.

    Viu o loiro sorrir

    E então se inclinar para encostar os lábios nos dela

    Que apenas fechou os olhos para esperar o contato

    E quando ele aconteceu sua única reação foi  levantar e se virar.

    -Teme?

    Naruto interrompeu o contato e o olhou intrigado

    -Eu já vou.

    -Mas...

    Antes de ouvir mais alguma coisa seguiu pelo mesmo caminho de antes

    Quando bateu a porta da casa estando já do lado de fora, sentiu que somente naquele instante seus pulmões conseguiriam filtrar o ar.

    Olhou para a rua quase vazia àquela hora da manhã

    Passou a caminhar

    Sem destino

    E seus passos foram aumentando até se tornarem mais apressados

    Para lugar nenhum...

    Quando deu por si já corria

    Fugia!

    Pois aquela realidade era perturbadora demais!

    CONTINUA...


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