ProibidoGostar.com

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 2

    O poder do compartilhamento

    Linguagem Imprópria, Spoiler, Violência

    Tomás hoje vai conhecer que suas palavras têm um poder maior que imagina. E seu poder pode ser expandido com as redes sociais.

    Municipio de Areia Branca, 05:00.

    E começa mais um dia da família Cardoso. Tomás sempre acordava mais cedo que os demais membros, pois precisava analisar sua coluna do jornal antes de começar o expediente. Sabido disso, se levantou de sua cama assim que o alarme de seu smartphone tocou. Ainda sonolento, foi até a cozinha para ativar a cafeteira e fritar ovos.

    Passado o café da manhã, foi até sua escrivaninha em seu escritório e começou a fazer suas análises de texto. Uma hora depois, lembrou que havia criado o blog ProibidoGostar.com.

    - É verdade... Eu quase esqueci... Bem, vejamos se teve algum view...

    E, como esperado, não havia absolutamente nenhum view tampouco algum compartilhamento.

    - Bem, eu bem que tentei. Mas veremos durante o dia...

    Horas depois...

    Edifício da Gazeta de Areia Branca, 12:00 pm.

    Durante o almoço, como sempre, Tomás conversava com Maroto. O refeitório estava bastante cheio nesse dia, já que teria cobertura do jogo entre Esporte Clube Ribeira contra Limoeiros FC. Maroto logo toma a palavra:

    - Maroto, eu ficarei por aqui mesmo. Vou ver o jogo pela TV.

    - Tudo bem, mas você sabe que a galera do Ribeira não gosta que falem mal do Cacalho, né?

    - Só lamento por eles. P*rra, o cara não marca faz sete jogos. Como não vou criticar o cara?

    - Sim, mas pegue um pouco leve dessa vez. A família dele vai estar na cidade. A mãe do cara não está bem de saúde, sabe?

    - Ah entendo. Tudo bem, Maroto. Vou criticar mas não vou exagerar.

    - Valeu, Tommy. Mas me diga... E resolveu as coisas com a Isa?

    - Não. Ela está pior agora. Eu já coloquei ela na linha, mas não adiantou muito. O gênio dela piorou.

    - Paciência, meu amigo.

    - Estou tentando. Fátima também tentou e mesmo com o feedback dela o resultado não foi dos melhores.

    - P*rra. Mesma coisa de antes então...

    - Sim. E ontem eu conheci a fundo essa m*rda de kpop.

    - Hã? Kpop? Que p*rra é essa?

    - Coisa da Isa. Ela ama Esse tipo de música. Cara, ontem eu ouvi algumas.

    - E o que achou?

    - Cara, eu não sei o que de nessa geração. Aquilo é muito ruim. E não é "ruim" por ser de gosto duvidoso. É ruim por ser má influência mesmo.

    - Como assim, Tommy?

    - Maroto, eu pesquisei sobre todo o histórico desse estilo musical e percebi que é uma coisa doentia o que fazem.

    - Em que sentido?

    - Bem, eu criei um blog explicando como é isso. Depois te passo o link pelo WhatsApp.

    - Tudo bem. Vou dar uma lida depois. Bem, vamos nessa. A cobertura do jogo vai começar daqui uma hora e eu preciso chegar no estádio cedo.

    - Vamos.

    Passado o almoço, logos os dois seguem os seus respectivos lugares. Tomás seguiu para seu escritório no jornal e Maroto foi com a equipe da Gazeta de Areia Branca para o estádio. Era de praxe os colunistas ficarem no prédio durante os jogos. Tomás sempre acompanhava as transmissões dos jogos pela TV e elaborava seu texto com a resenha de tudo que acontecia. E assim foi a tarde de trabalho de Tomás.

    Enquanto isso...

    Colégio de Aplicação Silas Romão, 15:00 pm.

    Era o intervalo no colégio. Todos os estudantes estavam sentados ao refeitório, conversando. A filha de Tomás, Isadora, que todos chamavam de Isa, era uma das garotas mais populares do colégio, pois sempre era engajada em fazer eventos de diversos tipos, principalmente quando se referia a animes e, como esperado, kpop. Ela, animada, diz:

    - Olha, tô falando...o "Lights" detonou. Que álbum f*da! P*rra, fiquei ouvindo a noite toda. Vão tocar no evento com certeza.

    - Ah Isa, eu prefiro o "Persona". Tinha mais pegada forte e melódica. P*ta mãe, mano... fica no repeat direto ? Disse Manuela, melhor amiga de Isa.

    - Elinha, tu só fala isso pra me irritar. Mas tu tá certa... é f*da mesmo. Mas o "Ligths" pegou tudo que o BTS fez até hoje e melhorou tudo. É de explodir a cabeça, man... Chorei e tudo quando ouvi a primeira vez.

    Porém a conversa amistosa não durou muito tempo. Alex, um dos integrantes do grêmio estudantil, amigo de Isa, se aproximou e disse:

    - Fala Isa. Elinha.

    - E aí? Como tu tá? ? Disse Isa, com um sorriso no rosto.

    - De boa. Vocês já tão sabendo da última?

    - Nem dá primeira, mano. Diz aí.

    - Pô, galera tá p*ta com umas postagens aí do Facebook. Mó buchicho do c**alho.

    - Diz logo, man!

    - Tá rolando discussão até. Tão compartilhando um link de um site que tá falando uma porrada de coisa de kpop.

    - Falando o que?

    - Só m*rda. Só que isso tá mexendo com todo mundo.

    - Mas já teve disso a tempos. Só ignorar. Deve ser ideia desses frustrados virjão que é vagabundo, vive drogado e é sustentado pelos pais...

    - Pode até ser, gata... Mas dessa vez a parada é mais sinistra.

    - Porque?

    - Olha só o número de compartilhamento...

    Alex então mostrou seu celular para as duas, causando espanto nas jovens. Isa logo se manifestou:

    - P*ta que pariu! O que esse cara escreveu?

    Pelo visto algo grande estava acontecendo.

    Mais tarde...

    Gazeta de Areia Branca, 17:00 pm.

    - "... Ricardo toca a bola para Tizinho, que puxa o contra ataque. A defesa do Limoeiro está desarrumada! Tizinho manda uma bola enfiada pra Cacalho... Espetacular! Deixou ele só com o goleiro... Só tem o goleiro! Cacalho chutou para o... GOOOOOL! QUE GOLAÇO! Cacalho! Depois de receber uma bola adocicada de Tizinho, recebeu na pequena area e tocou lá no cantinho... Sem defesa pra Sidnei, que só viu a bola estufar a rede. Agora, Ribeira um, Limoeiro zero!"

    O jogo estava bem disputado e depois de sete jogos o artilheiro do time do Ribeira tinha de fato saído do jejum. Mas mesmo esse fato não pôde chamar tanta a atenção de Tomás, que a todo instante olhava para o celular. O colunista ignorava totalmente o jogo, tratando de se interessar unicamente as notificações que recebia em seu blog.

    - Como assim? O blog recebeu mais de quarenta mil visitas em menos de um dia? E o link foi compartilhado mais de quinhentas mil vezes? Meu Deus! Eu nunca iria imaginar que iria dar tanto Ibope assim. Cara, houveram mais de mil comentários do no meu blog. Bem, vejamos alguns... ? Disse Tomás, lendo alguns.

    "Você tá certo, velho. Cara, isso aí é f*da de alienado mesmo."

    "Qual seu interesse em fazer essas críticas? Deixa a gente em paz."

    "To contigo, rapá! P*rra, tá mais que certo!"

    "F*da é ver gente te xingando, mano. Só li verdades. Continua?

    ?Agora lista as viadagens dessa gente aí. Tá certo, brow! Tu é f*da!"

    "Seu filho da p*ta! Vai se f*der, seu arrombado! Deixa de ser preconceituoso, virjão!"

    "Sou mãe de uma filha de doze anos e estou estarrecida com tudo isso. Eu não imaginava que minha filha estava ouvindo isso sem saber da realidade desse mundo doentio e grotesco. Encontrar esse blog abriu meus olhos. Continue nesse trabalho ótimo!"

    "Cara, li seu texto e como produtor musical acho que você deveria ser mais mente aberta. O mundo musical, como qualquer meio de negócios, tem muito disso. Mas não generalize. Estou vendo muitos comentários aqui de ódio e de apoio a você. Deveria aproveitar e escrever de forma imparcial algum dia, porque você tem bons argumentos mas está escrevendo na emoção. Obrigado pela atenção"

    "Tu tá f*dido se passar nas quebradas, mano. Galera do sindicato vai te derrubar, filho de uma p*ta!"

    "Haha! P*rra, adorei! Galera desse fandom só tem alienado mesmo. Tudo fracassado que dá nojo."

    "Tá precisando fazer sexo, virjão. Só falou m*rda."

    Os comentários foram os mais variados possíveis. Porém os comentários mais frequentes eram de incentivo para que continuasse e muitos desses eram de pais e mães preocupados com o que leram sobre esse universo. Tomás mal conseguia raciocinar direito, pois a recepção foi muito além do que ele esperava. O escritor estava pensativo, incrédulo por tanta repercussão.

    - *Eu não me lembro que quando uma postagem mina gerou tanta comoção assim antes. Nenhum artigo meu teve tudo isso de compartilhamento e comentários. Nem na época da escola nem da faculdade. O que está acontecendo? Porque essa gente está tão interessada nessas coisas?*

    Era uma situação totalmente diferente. Tomás não estava sabendo lidar, uma vez que como colunista jamais foi tão inquirido como agora. A essa altura não poderia sequer pensar em responder a todos e a cada minuto vinham mais e mais comentários. Era um efeito cascata: não havia o que fazer a não ser assistir ao combate de egos que seu blog havia se tornado.

    O tempo passa...

    Era Alvorada. O sol se escondia já por trás das montanhas da região. A noite havia chegadoa Areia Branca. Na casa da família Cardoso, Tomás havia chegado de carro a garagem. Entrando em sua casa, eis que é recebido por sua esposa, que lhe deu um beijo carinhoso. Mas sua esposa, por conhecer bem Tomás e por ser psicóloga, percebeu algo de diferente em seu marido, diz:

    - Tommy, aconteceu algo?

    - Hã? Não... Não, Fatinha. Eu estou bem. Só cansado.

    - E como foi o jogo?

    - Foi bom. Cacalho fez gol...

    - Só isso?

    - Tipo, eu estou cansado. Preciso tomar um banho e relaxar. Depois a gente conversa, tudo bem?

    - Sim. Concordo.

    E coincidentemente Isa também chega em casa. Sua mãe então, percebendo que entrou em polvorosa, tentou perguntar:

    - Isa, porque está com pressa?

    - Depois, mãe. Tô precisando fazer uma coisa no meu quarto.

    - Isa, o que está acontecendo?

    - Relaxa, mãe. Coisa do colégio. Tô bem. Oi, pai. Tchau, pai.

    - Olá, Isa. Tchau, Isa ? Disse Tomás, brincando com sua filha.

    Isadora estava mesmo com pressa, indo para seu quarto. Lá, deixa sua mochila sobre a cadeira da escrivaninha de seu computador e deixa em sua cama em seguida. Pegando seu celular, abre o WhatsApp, selecionando sua conversa com Alex para chegar até o link do blog. E finalmente ela começa a ler o suposto site:

    "Proibido gostar de: Kpop

    Imaginem só: você mora em um país onde o crescimento econômico veio de uma forma apoteótica e que trouxe bastante repercussão internacional. Agora peguem a estabilidade financeira e o bem estar da população. Somem com o índice de alfabetismo bruto da sociedade em geral. E multipliquem pela educação. Essa é a Coreia do Sul, país asiático simpático e dedicado. Muito deles podemos pegar de exemplo para nosso país, este que precisa muito de boas intenções para ter crescimento no mínimo satisfatório.

    Mas não estou aqui para falar sobre geopolítica, tampouco de crises internas. Melhor: há uma crise. Estive nesse último mês em um a pesquisa sobre as influências asiáticas na nossa sociedade. Suas culturas milenares trouxeram contribuições para a nossa sociedade, mas sempre existe o supérfluo. Uma dessas culturas é relacionada ao mundo pop, mais precisamente ao mundo musical. O Kpop, que é como os jovens chamam a música coreana, é uma dessas ?contribuições? musicais que não fariam falta alguma. Aliás, acho que deveriam ser mantidas em seu país de origem.

    Me perdoem se estou sendo preconceituoso, mas essa é a verdade: não existe um motivo para que esse estilo musical esteja em nosso país como cultura que não seja para alimentar os desejos libidinosos obscuros de nossos jovens pela cultura asiáticas Definindo bem, esse fascínio todo é pelo fato de seres asiáticos, bonitos (de aspecto andrógino, que causa ainda mais impacto), com composições musicais frenéticas e facilmente identificáveis e, o principal, letras polêmicas (e picantes).

    Surpresos pela verdade? Não duvido, tendo em vista que já temos estilos musicais tipicamente tupiniquim que agraciam seu público alvo da mesma forma. A única diferença é que nesses casos podemos classificá-los como algo genuíno de nossa sociedade; como obras de manifestação cultural. Já Kpop, isso é completamente diferente: não existe identificação nossa em nenhum momento. Tudo transcorre de acordo com a realidade do país de origem desse estilo musical. O contexto social não condiz com a nossa sociedade. A mensagem passada vai contra nossos costumes.

    E é justamente nisso que deveríamos (na verdade devemos, mas vou colocar no futuro do pretérito mesmo pra causar murmuro). Vejam que, oriundo disso, há um mercado gigante por trás de tudo isso e feito de forma intencional. Em nenhum momento há um interesse musical de cunho artístico: tudo conota ao absurdo, polêmico e picante com o interesse de ?causar?. A lacração nesse mundo não tem escrúpulos: eles irão entregar o que o público quer sem pestanejar, com único interesse de, como praxe, fazer sucesso sobre o fandom. Não é somente entretenimento; seus idealizadores tem esse nicho como seu produto. E não me refiro exclusivamente aos grupos de Kpop. Toda a Coreia do Sul lucra com isso. Duvidam? Sabiam que esse país lucrou mais de 3,6 bilhões (BILHÕES!) por causa do turismo simplesmente porque os grupos de Kpop existem no mundo? Decerto, o grupo BTS (que quer dizer Bangtan Sonyeodan, sendo o mais popular) já esteve muitas vezes como líder na Billboard americana? Pois bem, isso chegou aqui. E seus e jogos filhos estão consumindo isso, sem você (e antes desse texto, eu também) e eu saber.

    Devem estar se perguntando ?ah é só mais uma moda e toda modamo passageira, blablabla!? mas não se enganem: até adultos tem fascínio por isso. Não se deram por satisfeitos pelas sofrências e sertanejos universitários que tanto inundaram nossas rádios (e postos de gasolina da vida). Já sabem das Letras? É comum encontrar ?estou te esperando já armado e cheio de amor pela sua fechadura suave de amor? e ?quero te ver quente, te sentir quente e entrar ainda mais quente? mas estrofes eloquentes que empolgam com seu ritmo e melodia ?chiclete?, mas que escondem a mensagem em seu idioma coreano. Eu fiquei pasmo ao ver a tradução e, embora não tenha conhecimento dessa língua, o sentimento de quem canta é totalmente compreensível.

    A tenacidade não é plena, fato. É preciso um maior cuidado por parte de nós ante a nova geração de jovens. Não estou dizendo em haver censura (em nenhum momento) mas as devidas precauções para instruir aos nossos jovens quanto a essa influência é deveras importante e importantíssimo na manutenção de nossos valores e costumes. Não precisamos importar esse tipo de coisa; nos já temos esse tipo de produto. Se não podemos impedir então que façamos algo para pelo menos tirar a força da influência. Permitam que seus filhos ouçam (respeitando a faixa etária, tudo bem?) mas sempre instruindo-os da verdade: é tudo um mercado que busca lucro sobre o fascínio quase que pervertido (e com fetiche) dos asiáticos.

    Em breve a segunda parte, onde mostrarei o comportamento do fandom. Preparem um bom analista, pois a coisa é bem doentia.

    Agradeço a leitura e tenham um bom dia?

    Isa por alguns momentos ficou em silêncio. O texto a desagradou, mas ao mesmo tempo desenvolveu um lado crítico até antes não explorado da jovem. Tinha entendido o texto e, embora irritada, não conseguia elaborar um argumento contrário as ideias do autor. Ficou alí pensativa, sem demonstrar reação, em contraponto ao seu semblante mostrando irritação

    Tomás usou um pseudônimo, a fim de manter seu sigilo. Ele se nomeou ?o injusticeito?. E era esse o sentimento de Isa. Ela, refletindo bem, diz:

    - Esse cara... Ele pegou bem pesado e o filho da p*ta falou mais verdades que eu imaginava... Muito bem, desgraçado. Comprou uma guerra agora. Se quer mesmo treta, tu conseguiu.

    Imediatamente Isa ligou para sua amiga, Manuela, dizendo:

    - Elinha, chame todos para a praça.

    - Porque?

    - Tô com vontade de ferrar com a vida do cara desse blog.

    - É sério, meu?

    - Mais sério impossível. Hora de colocar esse c*zão no lugar dele!

    Continua.


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