Yokkkkkkkk
OLHA NÓS AQUI DE NOVO
Perdão por ficar tanto tempo sem postar. Mês passado foi exaustivo e levemente desesperador, então acabei ficando sem criatividade e perdi a vontade de escrever. Como já disse antes, não me obrigo a escrever, senão torna-se algo massante e chato, assim como o próprio capítulo
Enfim, enfim
Boa leitura ^^
Os demônios abriam espaço para que os espectros passassem puxando a arcanjo. As correntes mágicas não só a prendiam, mas como também inutilizava a sua capacidade de criação de gelo — além disso, os espectros iriam a eletrocutar caso fizesse movimentos bruscos, como percebera anteriormente. Andando por entre a horda, os demônios olhavam para a Uriel de forma sedenta, remexendo-se ansiosos por querer devorá-la, contudo os espectros os afastavam com ameaças sinalizadas com suas magias.
Enfim, ficaram de frente para a gigantesca porta do castelo, que era feita de madeira e reforçada com metais e grifos. Sob o ranger alto e agudo, a porta começou a se abrir, e Uriel sentiu um ar mais quente roçar em sua pele. Antes mesmo fosse completamente aberta, os espectros adentraram.
A sala de entrada havia nada de incrível. A construção da parede e das diversas pilastras era de uma pedra cinzenta e lisa, e a iluminação bruxuleante era provida de chamas no alto dos pilares. Ali era tão silencioso e vazio que os passos ecoavam.
Seguindo para uma segunda sala, certas coisas mudaram. A iluminação agora era em abundância, com um grande lustre no centro, onde se encontrava quatro caminhos. No chão, haviam longos tapetes vermelhos. Vários espectros se encontravam ali, parecendo estar no aguardado dela e de mais um ser.
Ora, o ranger da porta ecoou, e quem Uriel já esperava adentrou. O antigo anjo da morte, Azrael, se aproximava a passos lentos. Seu corpo era revestido por sua armadura e o rosto era completamente oculto pela escuridão do capuz. Suas ombreiras, manoplas, botas e algumas partes da couraça era feita de um metal cinzento, enquanto o resto era de couro negro. Em sua cintura, cintilando e tintilando, estavam suas foices de mão, cujas lâminas eram tão curvadas que parecia um “C”. As asas negras estavam à mostra.
O anjo caído ficou próximo a arcanjo.
— Você deveria estar morto, Azrael — ela disse.
— Assim como você, quando caiu do céu naquele dia. Mas cá estamos novamente, e você, Uriel, caiu do céu direto para o inferno, em meu covil.
Uriel fintava a escuridão por dentro do capuz com desprezo, e sentia-se ser olhada da mesma forma.
— Poupe-me trabalho e diga logo como está a situação das tropas de Deus.
— Julga que irei contar-lhe sobre os planos do meu Senhor? Julga-me impura assim como você, Azrael? Nunca hei de expor meu Senhor ou o Reino dos Céus; nem sob a pior tortura.
— É o que veremos. — Azrael olhou um de seus espectros. — Levem-na para o calabouço e digam que ordenei a tecelã a responsabilidade de torturá-la para extrair informações. Só pare quando ela disser algo relevante, se não só quando morrer, não antes disto.
Uriel escutou o som do estalar e no momento seguinte sentiu os raios que percorreram pelas correntes atingirem seu corpo, cerrando os dentes de imediato para não gritar de dor. Enquanto isto, Azrael se inclinou para se aproximar dela.
— Lembre-se que eu era devoto assim como você, Uriel. Olha para mim agora... um dos governantes do inferno. Iremos ver se sua fé é tão inabalável assim.
***
Os olhos de Uriel lentamente se abriram, e a primeira coisa que reparou foi que estavam em um pequeno quarto escuro. Depois, que estava suspensa no ar por uma corrente que estava presa em seus punhos e também em seus tornozelos. Ademais, estava completamente despida de sua armadura, nua. Tentou usar seu gelo, porém não conseguiu criá-lo.
— Vejo que acordou, anjo — ecoou uma voz. — Não precisa do esforço para usar seu gelo, pois nas algemas há uma runa que impedirá isto.
Seguindo a voz com os olhos, ela encontrou o demônio horrendo. Seu corpo, com a maior parte oculto por um sutil tecido, era grotesco e flácido, com vários orifícios que expeliam um pus amarelado. Sua perna direita era mais robusta que a esquerda; seu olho direito mais caído do que o esquerdo. De sua cabeça, brotavam poucos fios de cabelo. Seu nariz era praticamente dois orifícios e seus lábios achatados e largos. Não obstante, suas mãos eram de pele lisa e formato impecável.
— Me chamo Meiritelle, a grande tecelã. Azrael me deixou com a responsabilidade de comandar sua tortura, Uriel. E eu soube que arcanjos são bem resistentes, não sendo só apenas nossos dois governantes. — A demônio pegou uma haste de metal com uma runa desenhada na extremidade e começou a se aproximar de Uriel. — Está runa fará você sentir mais dor... assim balanceamos as coisas.
Meiritelle trouxe o metal até próximo os lábios e sussurrou “Acenda”, assim fazendo com que a runa passasse a emanar a coloração roxa; em seguida pressionou contra o canto da barriga da arcanjo. Uriel sentiu sua pele queimar, porém não era nenhuma dor fora do normal.
— Com isto, podemos começar, Balro — determinou a tecelã. — Comece com um chicote desta vez.
Uriel já havia notado a presença de outro demônio no recinto. Balro saiu de um canto escuro. Era alto, musculoso, de pele vermelha, olhos negros e chifres espessos que arqueavam para trás — um digno demônio clássico. Ele pegou um chicote e imediatamente o fez açoitar na coxa esquerda da Uriel, que cerrou os dentes de dor e se remexeu. A dor que ela sentiu fora realmente muitas vezes maior do que normalmente seria. Antes que conseguisse recuperar o foco, o chicote estalou mais uma vez em sua coxa, no mesmo ponto, porém ela não gritou.
— Ora, é bem resistente mesmo. Dois golpes e a ferida não abriu e ela nem gritou — observava a tecelã. — Bem, então prossiga, Balro. No mesmo ponto, sim?
Desta vez, a arcanjo viu o chicote ondulando no ar e atingindo-a em cheio, e de novo e de novo. Os três golpes a atingiram na coxa esquerda, e o quarto seguinte fora no mesmo local, e desta vez um rasgo fora causado, fazendo com que Uriel gemesse de dor, para a satisfação de Meiritelle e alegria de Balro.
— Ótimo! — exprimiu a tecelã, olhando para a anjo. — Agora, Uriel, diga-me alguma informação útil sobre o céu, ou irá sofrer estas dores até a morte. Caso conte, iremos parar e levá-la até o senhor Azrael.
— Nunca hei de contar o que fará mal ao meu Senhor e seu reino — respondeu Uriel.
— E foi o que ela disse, Balro.
E o açoite acertou sua costela. Nos momentos seguintes, apenas houve o estalar consecutivos e incessantes do chicote, enquanto Uriel se remexia e gemia de dor quando um talho se fazia em sua pele. O tempo se passou, e Uriel perdeu a noção de quantos açoites havia levado, mas os cortes já haviam tomando conta de seu corpo: coxas, barriga, costela, seios, pescoço, costas, nádegas. O sangue escorria pelo seu corpo até os dedos da ponta do pé e gotejava no chão. Ela estava levemente pendida para frente, pois as correntes era a única coisa que a mantinha ereta. Suas pálpebras encontravam dificuldades de se manter abertas. E a única vitória que ganhava, era que Balro estava cansando de tantos ataques seguidos.
No intervalo de cada talho, Meiritelle perguntava novamente sobre quaisquer informações valiosas sobre o Reino dos Céus, e a resposta era sempre a mesma:
— Nunca hei de contar o que fará mal ao meu Senhor e seu reino.
Da última vez, porém, a tecelã demoníaca se estressou. Ela pegou suas agulhas e linhas e costurou os ferimentos mais graves no corpo da anjo. Uriel, apesar da terrível dor que sentia a cada passada da linha, surpreendeu-se com a maestria das mãos da demônio e ainda mais com a qualidade da costura.
Meiritelle dirigiu-se até seu balcão e desdobrou uma toalha, onde a espada da Uriel estava enrolada. Ela pegou a lâmina e a marcadora de runa e encarou a arcanjo, que focou o olhar na espada.
— Irei te marcar com outra runa, sua vadia, e você sentirá ainda mais dor — dizia a tecelã, com raiva —, além disso, sairei te cortando dedo por dedo, membro por membro. Como deve ter percebido, consigo costurar muito bem, e irei costurar cada parte do seu corpo para eu arrancar de novo, entende?! Então, diga-me agora sobre a situação de seu reino e seu Senhor de merda, pois, caso não...
— Desabroche — sussurrou Uriel.
A demônio se assustou quando o guarda-mão em forma de broto da espada desabrochou em uma flor, e, antes que ela conseguisse indagar o que seria isto, uma espécie de nevasca passou a emanar violentamente por toda a sala¹.
— Murche.
Respondendo a voz da Uriel, a pétalas da flor se juntaram novamente como um broto e a nevasca parou. Contudo, apenas dois segundos foram o suficiente para congelar Meiritelle, Balro e o resto da sala por completo.
Com força o suficiente para seus ferimentos sangrarem mais, Uriel conseguiu romper os elos da corrente congelada e recaiu sobre o chão, e depois fez o mesmo com as correntes em seus tornozelos. De pé, rapidamente estilhaçou o braço congelado da tecelã, recuperou a espada e encrustou na cabeça dela e na do Balro por segurança.
Sentia todo seu corpo latejar, estava ofegante e sentia os filetes de sangue escorrendo e esquentando sua pele. Após respirar fundo, suspirou lentamente.
— O plano de se infiltrar foi mais doloroso do que pensei que seria — sussurrava para si —, porém um sucesso.
Ela olhou para o máximo de feridas que conseguia ver, e ficou satisfeita por ter nenhuma muito grave, a não ser as que já foram suturadas pela tecelã. "Eles realmente queriam me torturar por muitas horas", pensou. Percebeu, também, que a runa que lhe aumentava a dor estava desaparecendo, e ficou grata por isto. Uriel tentou invocar sua armadura, mas não conseguiu, então imaginou que tiraram de seu corpo peça por peça.
Uriel julgava impossível não escutar o barulho que a nevasca fez, mas ainda sim abriu a porta com cautela e com a espada em punho. Para seu alívio, não havia demônio na outra sala, que era mais ampla, e sua armadura ali se encontrava, espalhada.
Após equipar todas as peças de sua armadura, dirigiu-se até a porta e abriu-a, lançando-se em um corredor estreito e mal iluminado pelas velas. O brilho prateado de sua armadura era muito intenso, então, após um cintilar, recolheu-se por inteiro em uma marca rúnica no seio de Uriel, deixando-a nua novamente.
Atenta, ela seguiu pelo corredor até se dividir em três caminhos aparentemente distintos. Suas dúvidas de qual caminho percorrer iam se abatendo conforme escutava sons emanando, com exceção de um lado. Por conta disto, a anjo rumou para a direita, e este corredor demostrava ser exatamente como o anterior: paredes de rochas irregulares com orifícios para as velas, mal iluminado e apertado, dando passagem apenas para um pouco mais do que a largura de seu corpo.
Subitamente, o corredor se transformou em uma câmara com grandes dimensionamentos. Uriel, com o olhar, seguiu os pilares naturais de rochas e mal conseguiu enxergar o seu fim. O aroma de terra, mofo, umidade e um que ela não fazia ideia do que era adentraram em suas narinas. "Estou mesmo em um calabouço", pensou. Havia pontos brilhantes amarelos espalhados por todo o local, o que chamou a atenção dela.
Dando um passo à frente, sentiu como se pisasse em musgos, porém era mais grudento, e Uriel julgou ser melhor não tentar descobrir o que é. Aproximando-se do foco de luz, notou que tratava de uma espécie de útero, pois dentro havia um feto, aparentemente, humano. Era um aglomerado deles, e todos pareciam estar na mesma condição. Seguindo para os outros aglomerados, Uriel notava o contínuo crescimento entre eles, praticamente até a fase adulta, mas seus corpos não desenvolviam robustez, apenas tamanho.
Sons de névoa.
De imediato, Uriel se ocultou em um breu, e um grupo de espectros chegaram a câmara. Com sua magia, eles selecionaram os aglomerados que estavam em fase adulta e voltaram pelo mesmo caminho, carregando-os. Após esperar poucos minutos, ela seguiu pela mesmo corredor, que era mais largo do que o anterior.
Conforme adentrava, mais alto era possível escutar os gritos de agonia ecoando. Uriel andou até o corredor se transformar em uma área quadricular com um conjunto de três portas nas laterais — e de lá que emanavam os berros. Curiosa, dirigiu-se de maneira silenciosa até uma das portas e, através de uma janelinha feita de barras de ferro, observou o que acontecia.
Ora, havia um espectro e outro tipo de demônio dentro. Estes eram altos, esguios, com braços longos e pele avermelhada. Seu corpo tinha curvas femininas; seu rosto era ligeiramente pequeno, com olhos negros profundos e sem boca; e o par de chifres se estendiam para o lado, formando um “L”. Estas, as tecelãs, sutilmente, dissecavam os corpos que estavam sobre uma bancada, e os espectros pareciam anotar em uma espécie de pergaminho. Os indivíduos na bancada, constatava Uriel, detinham aparência e formas estranhas: alternavam entre seres de quatro braços e musculosos; reptilianos; e peludos com caudas. Na sala seguinte, o dessecamento continuava nos mesmos seres, porém com eles vivos. "Mas o que Lúcifer e Azrael estão fazendo?", pensou Uriel, com desprezo.
Ignorando esta situação, Uriel seguiu pelos corredores, alternando entre os caminhos, encontrando mais salas, mas finalmente achou uma escada, que a levou para cima direto até uma porta. Ao abri-la, deu de frente com um grupo misto entre tecelãs e espectros.
Subitamente, Uriel fez o gelo brotar a partir dos seus pés, emergindo como estacadas e perfurando muitos demônios. Flexionando as pernas, avançou em uma estocada com a lâmina e perfurou um espectro que estava prestes a lançar uma magia, e o gelo o rasgou de dentro para fora, saindo em espinhos e perfurando outros dois demônios. Uma última tecelã estava no canto da sala, e a anjo jogou sua espada na testa dela, matando-a instantaneamente.
Em seguida, saiu da sala e prosseguiu silenciosamente pelos salões e corredores do enorme castelo, se esgueirando incrivelmente bem, e não encontrou dificuldades ao passar pelos demônios. Ao deparar-se com mais uma escada, onde se estendia em forma de caracol, ela não hesitou em usá-la, subindo lentamente os muitos degraus até o topo. Assim, terminou de frente para uma enorme porta de pedra, esculpida com várias gravuras de almas.
A marca rúnica em seu seio cintilou, e a armadura prateada tomou conta de todo seu corpo em seguida. Com ambas as mãos, empurrou a pesada porta de rocha. Com a não direita, agarrou o punho da espada e apontou para o Dedo que estava do outro lado da ampla sala, sentado no trono.
— Em nome de Deus, serei responsável por expurgar sua vida, anjo caído Azrael — disse Uriel.
Continua <3 :p
Observações:
1- Olha, eu realmente não sei se eu expliquei isto antes, e fiquei com preguiça de procurar se já, mas a espada da Uriel acumula sempre uma parte do frio em sua flor, por isto conseguiu criar esta nevasca.