Um encontro Silencioso/Aqueles Olhos...

Prólogo: Um encontro silencioso

O céu estava límpido naquele dia, mas as ruas, desertas. Não se sabia o porquê de todos terem resolvido permanecer em seus lares naquele dia, mas pouco importava. Ele andava, solitário e frio, como sempre, com as mãos no bolso de suas calças pretas, que usava independentemente do calor que fazia. Não tinha razão aparente para caminhar por aí, vagando como um lobo desgarrado de sua matilha, mas na verdade só queria se distanciar. Ele sempre fora o foco das atenções, por mais que nunca se importasse com o que era dito sobre seus atos ou sobre si. Apenas vivia sua vida, compenetrado, focado e direto em seus objetivos, agora turvos, já que seu propósito na vida estava cumprido. As garotas o achavam o máximo, faziam de tudo para ter sua presença por mais apática que seja, afinal, ele era Uchiha Sasuke. Só que nada que fizesse, mesmo sendo ações expressivas, as forçava a entender que ele as desprezava e talvez por essa razão que o único sobrevivente do trágico clã Uchiha, também nunca procurou uma namorada.

Passava por um bosque, ou melhor, por dentro dele, relembrando de todo o treinamento árduo que fizera, tudo em nome de uma causa repleta de ódio, mas que já estava concretizada e seu irmão, morto. Estava quase se isolando da realidade física, quando, ao dar a volta em uma árvore particularmente grossa e antiga, ouviu um soluçar de uma garota. Seus sentidos aguçados logo que ativados, o trouxeram de volta ao mundo real, retirando-o de suas lembranças de um passado amargo e cheio de sangue.

Olhou para o alto, apenas para encontrá-la no alto da árvore, sentada e chorando. ?E agora ainda tenho de aturar mais essa?, tornou a olhar para frente, e ignorou as lágrimas alheias, enterrando-se novamente em seu mundo de lembranças. Entretanto, o que lhe pareceu uma tarefa habitual, como sempre a desempenhou com maestria nas situações de seu cotidiano, agora já não estava sendo tão fácil. Soltou um suspiro, sentindo-se derrotado por sua própria consciência. ?Certo, isso tudo é muito estranho. Por alguma razão, eu não consigo ignorá-la como faço com todas as outras?, deu meia volta, e tornou a observá-la, esquadrinhando-a minuciosamente.

Ela chorava, de fato, mas num tom suave e tímido como se fosse delicada demais até para expressar seus sentimentos abertamente. Porém, ao notar o jovem de cabelos negros fitando-a, sentiu algo diferente vindo desse rapaz.

Nenhum dos dois arriscava alguma palavra, apenas se olhavam e analisavam, um a tristeza alheia e a outra, a frieza daquele que estava ali, parado, estático e sem um mínimo intuito de fazer alguma coisa. Alguns minutos se passaram, como se fossem horas. O jovem trajava uma calça preta, cujos bolsos estavam preenchidos por suas mãos, uma camisa de manga comprida branca, e um colete verde, cheio de bolsos, tão característico dos jounin de Konoha, além dos coturnos que usava sempre que possível. Enquanto a garota estava vestindo uma calça azul, combinando com seus cabelos negro-azulados, e uma jaqueta fechada, branca e azul-marinho, que ressaltava seus grandes olhos perolados e inchados.

Enfim, sem pensamentos aparentes, Sasuke deu um passo atrás, dando meia volta e caminhava na direção oposta a daquela que chorava no alto de uma árvore, ?Não vou me meter em assuntos alheios, não é do meu feitio?.

- Sasuke-san ? ouviu-a chamá-lo pelo nome e parou, olhando por cima de seu ombro.

Capítulo Um: Aqueles olhos...

Na hora em que ouviu seu nome sendo dito de uma forma tão suave e baixa, que se estivesse no centro de Konoha provavelmente não conseguiria escutar, sentiu algo dentro de si que nunca havia lhe passado pela cabeça. Ele, o garoto mais frio e mais solitário, se apiedando por uma garota qualquer? ?Putz, eu tenho mesmo que parar de andar tanto com o Naruto. Ele vai acabar amolecendo meu coração. Agora eu to parando pra ajudar uma garota que chora, daqui a pouco o que vai ser? Correr num jardim florido com um vestidinho rosa??, mas sem resistir ao impulso de seu corpo, voltou a ficar de frente para aquela que o chamou, até que a reconheceu, pelo seu jeito meigo, suave e formal com que tratava as pessoas.

- Hinata-san? ? indagou, ainda sem ter muita certeza do que dizia. Ele mal podia ver o rosto da garota, pois a mesma o escondia entre as pernas, ?E por sinal, que pernas! Epa... Não pode ser! Eu, Uchiha Sasuke, tive um pensamento malicioso! Algo me diz que eu devo parar de escutar aquele velho tarado do Jiraya?.

Ao ver que finalmente Sasuke havia se tocado quem ela era, desenterrou a cabeça dos joelhos, tornando agora o seu rosto visível. Era um lindo rosto, sem a mínima dúvida, só que no momento estava inchado em decorrência das lágrimas que saltavam incessantemente de seus olhos perolados. ?Não sei se devo pedir a ajuda dele, afinal nunca falei com ele?, só que antes que pudesse esboçar alguma reação, o garoto estava ao seu lado, olhando-a com seus olhos negros, profundos e penetrantes.

- Sas... uke-san? ? disse suavemente Hinata, sentindo que a voz lhe falhava. Sasuke percebeu pela rouquidão daquela que agora tentava ajudar, que seu sofrimento e suas lágrimas devem ter durado um bom tempo, e provavelmente iam durar mais se por algum acaso do destino, ?Destino? Quem sou eu? E o que fizeram do Sasuke que costumava andar nesse corpo? Desde quando passei a acreditar em destino??, ele não tivesse resolvido andar pelo bosque e sentir a nostalgia dos seus tempos de vingador.

Aquele homem ali parado apenas a olhava com seus olhos negros. Hinata sentiu que poderia se perder no infinito da negritude dos olhos de Sasuke, e por sinal, estava começando realmente a se deixar perder ali, por causa da demora dele em dizer algo, parecia estar reflexivo. Ao mesmo tempo, Sasuke estava num estado de total ausência de fala. Tudo isso, graças aqueles olhos dela. Por mais que estivessem inchados, isso não impedia que as duas pérolas brancas cortassem a alma do Uchiha, mas não sabia exatamente o que sentia. Só sabia de uma coisa: não deveria, não podia e não queria deixá-la ali sozinha, a se desgastar em suas lágrimas de dor.

- Isso pode não ser muito a minha cara, mas... Conte-me o que houve, eu talvez possa te ajudar ? até que enfim, uma frase completa. O espanto da Hyuuga ao ouvir Sasuke lhe propondo ajuda foi total, ?O que houve com aquele cara insensível e frio que costumava ser o Sasuke??, Hinata, mesmo sentindo que seu coração era de Naruto, sempre observou Sasuke de longe, todas as suas atitudes, todos os jeitos que dispensava qualquer garota que viesse tentar dar em cima dele. E agora ele estava ali, tentando consolá-la.

- Sasuke-san, acho que você já sabe a razão de todo o meu sofrimento ? de fato, ele saberia, se estivesse em Konoha pelos últimos dois dias, mas como estava em sua roupa usual de missões, pode-se concluir que não foi exatamente o que aconteceu. Sasuke esteve envolvido num assassinato de um fugitivo importante de Konoha, o que não vinha ao caso no momento.

- Na verdade, Hinata-san, não sei. Estive fora durante os últimos dos dias em missão ? a apreensão agora tomava conta da mente do jovem Uchiha, que dava toda sua atenção à garota, na espera que ela dissesse o que havia acontecido de tão trágico em sua vida para estar nesse estado lastimável.

- Naruto-kun e Sakura-san, estão... Juntos ? o baque de ouvir a notícia foi imenso. ?Como assim aquele perdedor e a Sakura tão juntos? Ela sempre foi caidinha por mim e TODO MUNDO sabia disso. Também não é novidade que Naruto baba a Sakura desde os tempos de escola, mas... será possível? A Hinata... peraí! Se eu for parar pra pensar, realmente, ela sempre admirou o Naruto de longe, talvez porque gostasse dele, não, acho que ela o amava?, mas algo saiu inesperado em tudo aquilo. A perspectiva de Hinata amar Naruto o deixou com um sentimento que nunca sentiu antes, não nesse tipo de situação. Uchiha Sasuke sentiu inveja por uma mulher!

- Isso não é possível ? disse calma e friamente o garoto, como sempre fazia ? A Sakura nunca desistiria de mim pelo Naruto. Ao menos é o que parecia até eu sair em missão alguns dias atrás.

Hinata permanecia silenciosa, as gotículas lentamente escorriam de seus olhos, e eventualmente soluçava, sem saber o que dizer. Até aquele momento, Sasuke estava agindo anormalmente, e sendo gentil, coisa que sem dúvida seria algo para se recordar, caso a ocasião não fosse essa.

- Venha, vou te levar pra casa ? disse o garoto, enfim. Levantou-se, ainda estando no galho imenso daquela árvore no meio do bosque.

Por um momento tudo parou. Sasuke permanecia em pé onde estava, sem tirar seus olhos negros de cima de Hinata, que agora estava sentada normalmente, olhando para ele. ?Ela só pode ta brincando, se acha que eu vou puxa-la pela mão pra levar ela pra casa?, alguns segundos se passaram, até que ele pôs sua mão sobre a delicada e pequenina mão daquela garota que jazia estupefata à sua frente.

O toque da mão de Sasuke sobre a sua fez com que Hinata acordasse de seu transe. Apesar daqueles dedos grossos e ásperos e da palma desenvolvida e forjada para o combate, a sensação que a garota teve foi suficiente para faze-la corar de leve. Com seu rosto um pouco ruborizado, levantou de onde estava, com a ajuda do herdeiro Uchiha, e juntos desceram da árvore.

Ao chegarem ao chão, os dois notaram que estavam ainda de mãos dadas. Sasuke logo soltou Hinata, corando um pouco no processo. Tentou disfarçar um pouco olhando para o outro lado, mas foi inútil. Ela já tinha percebido. ?Sasuke-san sabe ser gentil, isso é novo?, e ao olharem um para o outro, os dois coraram novamente.

Após esse momento constrangedor para Sasuke, mágico para Hinata, os dois prosseguiram, em direção a saída mais próxima do bosque. Nada se falaram no meio do caminho, por mais que quisessem. O clima entre os dois era de puro constrangimento e timidez, e por mais que o Uchiha pudesse negar, sentiu algo esquisito subindo sua espinha ao tocar a mão de sua acompanhante. ?Não entendo. O que ela tem de diferente que me fez tratá-la dessa forma??.

Enfim, estavam do lado de fora do bosque. Andavam lado a lado, apesar de nenhuma palavra ser trocada. Cada um estava absorto em seus pensamentos, ambos indagando a si mesmos a razão de estarem ali, juntos, sendo que nunca tinham se falado antes. O céu azul, e sem nuvens, dava margem para o sol brilhar intensamente naquela tarde de verão.Sentindo um pouco de calor, Sasuke puxou as mangas de sua camisa, que trajava por debaixo do colete, expondo seus braços bem definidos e musculosos, mas não exagerados. Hinata não pôde deixar, por um momento, de admirar a perfeição dos braços do rapaz ao seu lado. Tentou ser discreta, mas não foi o suficiente para escapar a Sasuke. Ele sabia que estava olhando para ele, mas por alguma razão sentiu-se bem com isso.

- Hinata-san ? quebrava Sasuke, o silêncio entre os dois, já no meio do caminho quando se aproximavam do centro de Konoha ? Acho melhor não passarmos por aqui. Tem outro caminho que chegue na sua casa?

- Tem... ? respondeu baixinho, a jovem ? Mas o que torna o centro um lugar tão ruim? ? Hinata não conseguia compreender a relutância do garoto em passar pelo centro, já que era um caminho bem mais curto do que se fossem contornando.

- Digamos que isso tudo que estamos passando, mereça ficar em segredo ? respondeu meio sem jeito o Uchiha.

No momento, tudo o que Sasuke queria era poupar Hinata de um possível encontro com Naruto e Sakura, já que os dois trabalhavam no centro, pois era lá que ficava o grande edifício da Hokage. Sabia que seria inevitável que ela se encontrasse com o garoto-Kyuubi, mas preferia que fosse em algum outro dia, quando ele não estivesse presente, "Olha eu aqui me preocupando novamente com essa garota! Eu preciso ir a um psiquiatra?.

Entretanto, o que se passou pela mente da jovem Hyuuga foi que Sasuke talvez tivesse vergonha de ser visto com ela por suas fãs. E ele, na concepção da garota, realmente não precisava ser visto com uma garota tão sem graça como ela, ?É claro, ele tem uma reputação a zelar, afinal. E eu... Sou só uma derrotada qualquer, que é tão digna de pena que despertou a pena até no cara mais frio de toda a vila?.

Mas, por fim, acabaram dando a volta e pegando um caminho um pouco mais lento. Algo em Sasuke parecia estar contente, mas não soube dizer o que era. Ainda nessa preocupação em saber o que estava mudando nele, os dois chegaram à mansão Hyuuga.

Hinata já ia entrando, quando Sasuke a segurou por um dos braços, o que foi completamente inesperado. A garota se virou, ficando frente a frente com ele, porém, estavam tão próximos que podiam sentir a respiração um do outro. O Uchiha pôs a mão no ombro dela. Suas atitudes estavam assustando-a, porém ela não queria que parasse.

- Hinata, preferi vir por esse caminho, pois não sei quem iríamos encontrar pelo centro ? admitiu o garoto ? E optei por evitar qualquer transtorno. Não se deixe abater por uma coisa dessas, afinal, o Naruto nem digno de você ele é.

Corado, o jovem Uchiha Sasuke deu as costas e se foi, deixando Hinata a pensar sobre suas não usuais atitudes. Ainda confusa, entrou em casa.

Enquanto isso, Sasuke inicialmente pensou em voltar para sua casa, mas sentiu que precisava fazer alguma coisa. Foi caminhando de volta ao centro, mas algo dentro de si o estava impedindo de se segurar, e começou a saltar de telhado em telhado, tão rapidamente que somente alguém muito experiente para notá-lo se deslocando.

Logo estava a procura de alguém que precisava questionar sobre o que ficara sabendo. Indo rapidamente de um lado a outro, zanzava pelo centro da Vila de Konoha, até que a viu. Aquela jovem de cabelos rosados, pele alva como a neve e olhos verde-esmeralda andava, e por incrível que parecesse a Sasuke naquele momento, estava agarrada ao braço do jovem loiro de cabelos espetados com quem conviveu praticamente sua vida toda.

Ignorando todo e qualquer tipo de reação que poderia causar, o Uchiha subitamente apareceu em frente aos dois, olhando-os com seus olhos negros e novamente, pétreos.

- Sasuke! ? exclamou Naruto, assustado. Também, não era para menos. Afinal, ele ia calmamente andando pela rua com sua nova namorada, e de repente um vulto aparece em sua frente, qualquer um que não tivesse nervos de aço se assustaria.

- Sasuke? ? indagou Sakura. Ao ouvir a forma com que Sakura se dirigiu a ele, notou que talvez fosse um sinal de que aquilo era, de fato, verdade.

- Então... Era mesmo verdade ? disse o Uchiha, encarando os dois seriamente. Não se sentia abalado psicológica ou emocionalmente com o namoro dos dois, na verdade se sentia aliviado de ter menos uma correndo atrás de si.

- Já ficou sabendo? Nossa, a fofoca corre solta por aqui mesmo, hein? ? brincou Naruto. Infelizmente para o garoto loiro, Sasuke não estava para brincadeiras. Ele se aproximou do casal, sussurrando no ouvido do jovem um ?Venha comigo? num tom muito aborrecido. Sem questioná-lo, e talvez com um pouco de curiosidade, seguiu-o até um local onde pudessem conversar em paz: um beco ali próximo.

A vontade do garoto Uchiha, era de simplesmente atacar Naruto pelo que fez a Hinata. Mas sabia que não seria a coisa certa a fazer, e também não sabia de onde vinha esse impulso, mas de algo ele tinha certeza: desse jeito as coisas não ficariam.

- Fala logo, Sasuke. Não tenho o dia todo! ? reclamou o garoto-Kyuubi.

- Cala a boca e me escuta ? ao dizer isso, o sorriso de ponta a ponta que Naruto tinha desapareceu ? Você tem noção de quem me contou que você e a Sakura estavam juntos?

Naruto estava confuso, e seus olhos azuis mostravam perfeitamente isso, ?Que diabos esse cara ta tentando me dizer??. Sasuke agarrou a gola da camisa de seu parceiro loiro, levantando-o até a altura de seus próprios olhos, que já não eram mais os olhos negros de sempre. Suas pupilas estavam vermelhas, tinha ativado sua arma mortífera.

- Quem me contou foi a Hinata, enquanto chorava um oceano lá no bosque. Eu quero que você me escute, e me escute muito bem ? o tom de sua voz era ameaçador, e seu olhar poderia matar, e Sasuke sabia disso ? Da próxima vez que magoar a Hinata, eu arranco seus braços e bato em você com eles.

Soltou o seu parceiro, que caiu sentando no chão, a procura do ar que perdera ao encarar os olhos mortais de Sasuke. O Uchiha já tinha se virado, e estava preparado para partir, quando, ainda sentando, Naruto o indagou:

- Uchiha Sasuke, desde quando o pensamento dos outros te importa? ? pronto. Atacou a ferida do jovem.

O jovem que se encontrava na saída do beco, ao invés de simplesmente atacá-lo como é de costume, apenas olhou por cima do ombro, bufou e disse:

- Não é de sua conta ? e depois sumiu.