Contos de terror

Tempo estimado de leitura: 38 minutos

    14
    Capítulos:

    Capítulo 4

    Convite para o paraíso

    Linguagem Imprópria, Violência

    Sammy olhou mais uma vez o estranho cartão em suas mãos. Não sabia dizer se acreditava no que aquela velha senhora que lhe dera o objeto havia dito, mas uma coisa era certa: o cartão lhe assustava. Por fora parecia apenas um pedaço de papel comum. Era pequeno, feito com um papel de qualidade, embora já muito envelhecido pelo tempo. Estava totalmente em branco, com exceção de uma mensagem em seu centro aonde era possível ver uma simples mensagem, grafada com letras elegantes:

    Convite para o paraíso

    Aquilo só poderia ser brincadeira certo? Não era possível que algo assim fosse possível. Mesmo assim a velha havia lhe garantido que o cartão era real. ?Seu dono pode usá-lo apenas uma vez? ela havia dito enquanto estendia suas mãos ossudas oferecendo-lhe o cartão ?depois que o usar passe adiante, afinal todos merecem ver o paraíso não acha?? ela ainda a havia dito para ter cuidado pois ?o paraíso pode ser mais perigoso que o inferno? Sammy achou a fala bonita, mas não acreditou que tivesse algum sentido além de ser chamativa.

    Naquele momento Sammy riu, o que se mostrou um erro. A velha mendiga, vestindo farrapos e cheirando tão mal quanto um cachorro morto, o fuzilou com um olhar assustador.

    Mais por medo da velha do que por qualquer outro motivo Sammy pegou o cartão e quando o fez sentiu uma estranha sensação. Ela não sabia explicar, era como se estivesse tocando em algo alienígena, algo que não pertencia a esse mundo.

    Sammy era apenas uma adolescente comum de dezessete anos, com uma vida comum e sem graça. Porem aquele estranho cartão, se fosse mesmo real, mudaria as coisas.

    Ironicamente ela nem queria o tal cartão para começo de conversa. Havia encontrado a velha sentada no chão implorando por comida e, em um ato de bondade, Sammy lhe dera uma maça que trazia consigo. Era só uma simples maça mas a velha parecia que havia ganhado um colar de diamantes. Ela oferecera, de uma forma um tanto apavorante, o cartão para Sammy. A garota recusou de início, mas a velha foi tão insistente que ela acabou aceitando.

    Uma hora depois do ocorrido, já no conforto de sua cama, Sammy estava deitada e fitava o tal cartão. Se o que a velha dizia era verdade aquele objeto tinha um valor inigualável e Sammy o havia conseguido simplesmente em troca de uma maça. Parecia um negócio bem lucrativo não?

    O problema é que a velha não havia dito muito sobre os poderes do cartão, apenas falara que ele mostraria a Sammy uma vida perfeita e que, para usá-lo, devia-se apenas segura-lo e dizer ?Eu aceito o convite?.

    - Mas que vida perfeita seria essa? ? disse para si mesma ? será que vou finalmente namorar com a Anne?

    Anne era sua paixão secreta. Sammy não gostava de garotos e isso a deixava confusa e sem apoio. Não tinha coragem de falar sobre sua sexualidade com seus pais, pois temia a reação deles. Sua mãe era muito religiosa, do tipo que ainda acredita que duas pessoas do mesmo sexo se amando é um pecado imperdoável. Seu pai era mais contido, mas ele já havia dado inúmeros sinais de que queria que sua única filha tivesse um maravilhoso casamento hétero e lhe desse netos, de preferência héteros também.

    Talvez o seu paraíso fosse um mundo sem homofobia certo? E, claro, um mundo em que ela namoraria Anne Sanders. Sammy ainda fitava o cartão com um olhar de dúvida. Uma voz em sua mente lhe dizia para rasgá-lo, porque coisas mágicas nunca faziam bem no final das contas. Mas isso era coisa de contos de fada certo? É claro que algo magico faria o bem.

    - Acho que não tem mal nenhum em tentar ? Sammy respirou fundo e então disse as palavras magicas ? eu aceito o convite.

    Por uns dois segundos ela pensou que nada aconteceria, então sentiu uma descarga elétrica percorrendo todo o seu corpo. O mundo girou ao seu redor Sammy perdeu a noção de direção. Sons, imagens, aromas... tudo se misturava em um turbilhão caótico. Ela pensou que iria vomitar, seus olhos giraram e tudo escureceu.

    Robert chegou em casa tarde da noite. Ele estava cansado depois de mais um longo dia de trabalho. Queria descansar, mas sua mulher o recebeu com palavras preocupadas, na verdade quase beiravam ao desespero.

    - Tem algo errado com nossa filha. Sammy está no quarto a horas e não fala coisa com coisa. Ela está agindo estranho Robert! O comportamento dela me assusta.

    Robert achava que a esposa estava exagerando. Sammy era adolescente e provavelmente estava tendo mais uma daquelas crises que os adolescentes sempre tem. Mesmo assim a insistência de sua mulher fora tanta que ele resolveu ir falar com a filha.

    Aproximou-se do quarto da garota e bateu na porta duas vezes, não houve resposta. Chamou por Sammy, mas a garota não respondeu, então, sem paciência, adentrou no quarto da filha.

    O que viu foi estranho, perturbador. A garota estava sentada na cama, agarrava algum pedaço de papel velho com todas as forças. Suas mãos tremiam e lagrimas jorravam de seus olhos. Ela falava sozinha em um monologo desesperado.

    - Me leve de volta! ? dizia angustiada apertando com força o papel em suas mãos ? Me leve de volta! Me leve de volta! Me leve de volta! Eu quero a minha a vida de volta!! ME LEVE DE VOLTA!!!

    Robert correu desesperado para filha. Balançou a garota com força, mas ela parecia nem notar sua presença. Lagrimas jorravam de seus olhos enquanto ela implorava para ser levada de volta.

    - Eu aceito o convite ? dizia em com um riso histérico ? eu aceito o convite então por favor me leve de volta!

    Robert tentou falar com ela, mas sua filha parecia não estar ligada a realidade. Apenas balbuciava aquelas palavras desconexas. Ela não agia mais como uma pessoa normal, apenas ficava a fitar aquele pedaço de papel com olhos desesperados e continuar a falar ?eu aceito o convite!? como se conversando com alguma entidade invisível.

    Sammy se afogou em tristeza e desespero, não mais comeu durante dois dias. Seus pais chamaram cinco médicos para descobrir o que a garota tinha, mas a resposta era sempre a mesma. Eles diziam que ela estava totalmente saudável, fisicamente falando, e seu estado era puramente psicológico. Chamaram um psicólogo que afirmou, depois de uma longa sessão com ela, que Sammy estava em uma depressão profunda. Um padre fora chamado também e ele disse que a depressão estava sendo causada por um demônio que a estava atormentado. Eles pediram ao padre que exorcizasse o tal demônio, mas mesmo depois de todo um demorado ritual nada mudou. Sammy continuava a agir como uma louca vivendo em uma realidade que só ela via.

    Ela faleceu uma semana depois de ?aceitar o convite? por falta de alimentação. Suas últimas palavras eram as mesmas de sempre, balbuciava como uma sobre uma vida que havia lhe sido arrancada e implorava para tê-la de volta. Ninguém sabia ao certo como a garota mudara tanto tão repentinamente, mas os pais de Sammy tinham certeza que um papel velho a qual ela só largou ao morrer era a resposta.

    Um simples cartão aonde se podia ler:

    Convite para o paraíso


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