Contos de terror

Tempo estimado de leitura: 38 minutos

    14
    Capítulos:

    Capítulo 3

    Aqueles que trazem a morte

    Linguagem Imprópria, Violência

    Esse conto foi escrito em memória ao Eterno-deus Rhonas que, apesar de ser eterno e de ser deus, morreu duas vezes (rs).

    Brincadeiras a parte, gosto muito dos deuses Eternos de Magic the gathering, mas a cena em que Rhonas tem sua segunda morte é ridícula, então fiz esse conto para mostrar o quanto ele é foda. Quis ir em uma onda mais de terror e fazer algo acessível para a maioria das pessoas, mesmo as que não conheçam nada de Magic.

    Devido a isso fiz esse conto sem muitas refêrencias a história de magic nem ao contexto da invasão (embora, quem conheça a história do jogo vai saber perfeitamente aonde essa fanfic se encaixa).

    Alec tinha certeza que aquelas criaturas, aquelas... coisas, iriam destruir todo e qualquer ser vivo que caminhasse sobre a terra. Por um momento teve esperanças que os soldados que protegiam a cidade pudessem detê-las de alguma forma, mas quando o líder das criaturas emergiu tão poderoso e imponente como uma montanha vagante essa esperança se foi por completo.

    A visão da criatura se aproximando era assustadora, mas nem por isso menos majestosa em todo seu poder e supremacia. Alec podia vê-la caminhando com seus passos firmes que faziam a terra tremer a cada pisada. Devia ter uns dez metros, superando em tamanho as maravilhosas igrejas da cidade. Era um gigante a esmagar formigas e ele eram só mais uma dessas formigas.

    A criatura era um ser de formato estranho. Possuía a aparência de uma serpente com fisionomia humana, uma mistura bizarra de ambos. Trajava uma armadura dourada e, em suas mãos largas carregava seu cajado, tão alto quanto uma torre, cuja na ponta possuía uma lamina em forma de meia-lua.

    O mais incrível era seu corpo. A criatura não possuía pele ou escamas, mas sim feita de um mineral azul escuro que brilhava de forma sinistra. Seu exercito marchava a seus pés, soldados feitos do mesmo mineral azul misterioso. Eles caminhavam com suas armas em riste massacrando sem discriminação ricos, pobres, mulheres e crianças. Suas espadas antes douradas estavam rubras de sangue, suas lanças já haviam perfurado dezenas de corações. E ainda assim eles avançavam em busca de mais.

    Alec sabia que deveria correr, deveria procurar um lugar seguro e se esconder, e, se tivesse sorte, aquela criatura sinistra poderia não nota-lo. Isso era o que ele sabia ser o certo, mas tudo que ele conseguia era tremer de medo diante daquela figura.

    - Alec o que você está fazendo?! ? ele sentiu a mão de Thalia, sua irmã mais velha, apertar o seu pulso com força ? precisamos sair daqui!

    Ele tentou se mover, mas suas pernas não o obedeceram. O deus-serpente moveu uma de suas mãos em um gesto potente, destruindo assim uma torre a sua esquerda aonde quatro soldados atiravam, inutilmente, flechas incendiarias em seu corpo blindado. As flechas não perfuraram seu corpo e as chamas logo se apagavam sem causar o menor dando. O deus era completamente invulnerável.

    - Vamos morrer... vamos todos morrer ? disse com uma voz tremula e sem esperanças, Sentiu um liquido quente no meio de suas pernas e percebeu que urinara. Não havia motivos para sentir vergonha, ninguém ali estava prestando atenção nele e, mesmo que estivesse, que diferença faria se ele logo estaria morto?

    - Se ficarmos parados iremos morrer com certeza! ? grunhiu Thalia puxando o braço de Alec.

    Ela correu dali e Alec, como um mero boneco, a seguia olhando para trás, para o deus serpente que se aproximava cada vez mais. A cidade estava um caos, todos corriam de um lado para o outro. Alguns tolos lutavam, os desesperados fugiam, mas no fim todos iriam morrer.

    Quando aquilo havia começado? Parecia que a uma eternidade, mas Alec ainda se lembrava de que, naquela manhã, estava fazendo compras com Thalia na feira. Os dois rindo e decidindo o que fariam para o almoço.

    Mas aqueles momentos felizes não voltariam mais, haviam sido eclipsados pelo chegada repentina do deus-serpente e seu exercito de assassinos. Ele não sabia de onde eles haviam vindo nem o que eram de fato, mas seu objetivo era claro: matar.

    Alec corria guiado por Thalia, eles eram jovens, ela tinha dezesseis, ele quatorze. Nenhum dos dois viveria para completar o próximo aniversario. Alec não queria morrer ainda, queria ao menos provar o sabor dos lábios de uma garota antes disso, mas pelo visto tudo que provaria era o sabor amargo do veneno do deus-serpente.

    Eles corriam passando por cima de cadáveres cortados, decepados e esmagados. Alec nem se espantava mais com aquele palco de horrores que havia virado a cidade. Vira tanta morte nas ultimas horas que acabara se tornando indiferente a ela. O cheiro da morte já lhe era comum, como um amigo que o chamava para perto de si. O vermelho do sangue cobria tudo ali e Alec nem conseguia mais distinguir o vermelho natural das manchas de sangue. A cidade inteira parecia banhada em sangue ou talvez sua imaginação estivesse exagerando na carnificina.

    - Vamos para os becos! ? disse Thalia ofegante. Alec olhava para a irmã perguntando-se porque nunca lhe dissera o quanto a amava e estimava. Os dois viviam brigando, mas ela era sua única família depois que seus pais se foram certo? Ele abriu a boca, mas nenhum som saiu. O deus parecia ter roubado não apenas sua esperança, mas também sua voz.

    Os becos não estavam longe, eles poderiam chegar em dez minutos. Era uma área não muito visitada da cidade e talvez o deus e seu exercito não dessem prioridade a áreas assim e se concentrassem nas regiões mais concentradas.

    - Não vamos conseguir... ele vai nos alcançar, vamos morrer, vamos todos morrer ? disse sem esperanças. Suas pernas doíam de tanto correr. Para que correr? A cada vinte passos que davam o deus vencia a mesma distância apenas com um. Ele iria alcança-los, iria mata-los. Então... porque correr?

    Thalia suava, sua respiração estava ofegante e sua roupa estava manchada de sangue. Não o sangue dela, mas talvez logo estivesse manchado desse sangue também. Ele sentiu ela apertar sua mão com mais força.

    - Vamos sobreviver, temos que sobreviver. Acredite nisso caso contrário você irá mesmo morrer!

    Mas ele não acreditava. Queria apenas que aquilo acabasse. Queria morrer e assim por fim ao seu sofrimento. Eles continuaram correndo. Era possível ver o deus se aproximando cada vez mais. Ele estava mais próximo, parecia estar seguindo-os, caçando-os dentre todas as pessoas da cidade. Alec olhou nos olhos da criatura, orbitas vazias tão poderosas e perigosas como dois buracos negros. Ele sentiu calafrios e, mais uma vez, desejou morrer.

    Isso se mostrou um erro, não o desejo de morrer, mas olhar nos olhos do deus. Alec não percebeu o cadáver de um soldado a sua frente e tropeçou nele. Caiu no chão soltando a mão de Thalia e ralando o joelho. Sua irmã parou e o fitou horrorizada. Angustiada ajoelhou-se e tentou ajuda-lo a se levantar. Esse foi o erro dela. E custou sua vida.

    Dois soldados do deus se aproximaram, portavam lanças com pontas duplas sujas de sangue. Thalia levantou a cabeça percebendo-os tarde demais. O primeiro enfiou a lança na barriga dela, o segundo no coração. Ela soltou um jeito de dor e angustia, mas eles não se importaram. Retiraram as armas abrindo dois buracos no corpo de Thalia. Ela caiu no chão, e morreu.

    Então os soldados olharam para Alec e o garoto olhou de volta. Sua visão porem não se deteve nas criaturas, mas sim no enorme deus serpente que agora estava a apenas alguns metros de distância. Ele teve certeza que a cabeça do deus se inclinou lentamente para baixo para fita-lo.

    Novamente os olhos vazios do deus o prenderam como por encanto. Ele nem percebeu quando os soldados ergueram novamente suas lanças e, impiedosamente, baixaram as armas em um golpe fatal.

    Alec caiu quase sem vida ao lado do corpo da irmã. Ele viu que ela chorava. Percebeu que chorava também. Aquele era o fim, logo eles seriam só mais dois corpos indistintos nas ruas, duas massas de carne sem utilidade... não.. eles já eram isso. A escuridão engoliu Alec e ele só desejou que a morte lhe levasse a um lugar tranquilo.

    Embora no fundo não acreditasse em finais felizes.


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