Uma chance para o amor!

Tempo estimado de leitura: 13 minutos

    16
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Estranhos!

    Álcool, Bissexualidade, Heterossexualidade, Homossexualidade

    Olá pessoinhas lindas.

    Essa será a primeira fic +16 e desse casal amável, portanto não terá senas de sexo, mas, com certeza, terá insinuações.

    Aviso: Capitulo não betado.

    Desejo uma boa leitura todos!

    Estranhos!

    Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.

    Carlos Drummond de Andrade

    O rosto de Shaka estava corado!

    O sol quente daquele país não tinha piedade de sua pele, tão branca quanto papel, que ficava cada vez mais vermelha conforme continuava andando sob a luz escaldante. Mesmo sendo quatro horas da tarde estava muito quente. Passou por uma pracinha, depois de dois quarteirões, chegou a frente a um prédio empresarial que dividia as ruas do quarteirão.

    “Provavelmente tinha se perdido. Não foi uma boa ideia ter descido do taxi”. – Pensou.

    Parou três ruas depois, avistando uma vila de casas de dois andares estranhamente iguais.

    Tetos pontudos e extremidades quadriculares. Cercados de madeira de altura mediana, Portas de vidros e carteiros – bem antigos. – nas calçadas de cada casa. Tinha placa de “não pise na grama” e arvores no lado esquerdo. Todas igualmente podadas. Totalmente bizarro!

    Mas bizarro mesmo eram aquelas letras. Caracteres estranhos que não conseguia ler, indicando o nome da rua. Pegou o celular e rapidamente colocou o nome que estava no papel que segurava. Eram iguais! Estranho... Estranho, mas iguais. Iguais aos letreiros!

    Enfim... Chegara! Mas qual delas? Desesperou-se com a diferente igualdade de caracteres numéricos. Números romanos nunca fora seu forte!

    “Numero deveria ser tudo igual!” – Pensou.

    Pegou o celular, iria digitar novamente, daquela vez, o numero em romano. Mas o aparelho desligou de repente. Outro desespero: A bateria acabou. Péssima hora para isso acontecer.

    Sem o celular teria que se comunicar com as pessoas. Falar. Dizer “oi”. Articular frases inteiras. Seria fácil. Sabia falar. Mas...

    — Com licença... – Pediu desajeitado, quase grosseiro, informação para um jovem que passava na rua. – Sabe onde fica esse numero? – Mostrou o papel para o jovem. Não sabia se pronunciaria certo.

    Era sua primeira vez naquele país quente e de idioma enrolado.

    O jovem, estranho de inicio. Talvez tivessem a mesma idade, mas não os mesmo gostos. Pelo menos, Shaka não ficaria bem com aquele estilo de cabelo rebelde, repicado e azul. A pele morena, tão diferente da sua, reluzia o bronze adquirido do sol. O rosto austero de queixo um pouco quadrado dava certo charme ao moreno. Olhos intensos, levemente puxados, e... Azuis. Mas não azul oceânico igual aos dele... Estava mais para gélidos. Ríspidos... Eram bonitos. Apavorantes e constrangedores, mas bonitos. Shaka sentiu as bochechas esquentarem com sua avaliação.

    Percebeu-se notado, avaliado com desdém. Tinha dito algo errado? Ou será que o outro se ofendera com a avaliação despropositada que fez? Perguntou-se, ajeitando a mochila que carregava no ombro. Era a primeira vez que falava em grego com alguém de verdade. Era tão mais fácil com os exercícios proposto pelo aplicativo. Desviou o olhar e mordeu levemente o lábio. Detestava sair de sua zona de conforto. Será que o pai não entendia isso?

    O jovem de cabelos azuis apontou para um pouco mais a frente. Bem aonde tinha um caminhão de mudança. Ao menos, Shaka via um caminhão de mudança, oito ou nove casas depois. Quando Shaka pensou em agradecer o estranho tinha retomado sua caminhada, descendo pelo calçadão por aonde viera.

    Pois bem... Ele agradeceria depois. Provavelmente seriam vizinhos. Talvez fossem estudar na mesma escola. Frequentar os mesmo lugares. Shaka sentiu um arrepio na espinha com tal possibilidade. O moreno tinha cara de quem gostava de Heavy metal, uísque e confusão. E Shaka odiava os sons metaleiro e ensurdecedores, detestava destilados e era pacifista.

    “Não. Com certeza, não!”

    Muitas passadas depois e Shaka chegou próximo ao caminhão de mudança. Os carregadores transportavam caixas pesadas para dentro da casa. Tinha um homem alto e loiro indicando a direção

    “Isso vai pra lá.” “Essa sobe.” “Coloque isso ali.” “Cuidado para não quebrar esse.” Eram frases que Shaka aprenderia algum tempo depois. Agora ele só olhava e tentava entender o que se passava. O que não era difícil. Já que tinha carregadores e objetos. Moveis desmontados, tabuas grandes. E todo o contexto de uma mudança.

    Aquele homem provavelmente fazia parte “dos outros”. Os estranhos com quem seria obrigado a conviver dali por diante. E tudo porque seu pai resolvera se casar.

    Shaka era filho único de um professor de arqueologia chamado Shion Radesh. Shion era um arqueólogo ativo, de quarenta anos. Muito prestigiado por seu conhecimento e descobertas já feitas. Shion amava historia, escavações e as viagens que fazia a trabalho. Sempre trazia lembranças para Shaka. Algumas bem bizarras, por sinal. Contribuiu muito para o enriquecimento do museu indiano, país pátrio de Shaka e Shion. Shion era um pai amoroso, ausente por conta das viagens, mas amoroso e muito gentil.

    Em um dia qualquer o arqueólogo chegou de uma de suas escavações com uma grande, porém inusitada, surpresa. Surpresa essa que Shaka tentava digerir até aquele momento. Quer dizer... Não entendia como alguém como seu pai resolvera, de uma hora para outra, casar-se com o patrocinador de uma de suas excursões. Foi algo surreal. Shaka não acreditou de primeira e talvez só tenha acreditado porque viu a certidão de casamento. E alguns dias depois foram obrigados a mudar. Simples assim. Ele deixaria para trás dezesseis anos na índia. Os amigos que não fizera, as moças bonitas que não ousava chegar perto e todas as coisas divertidas que não fez e nem tinha vontade de fazer.

    Ok. Não era tanto assim. Mas ainda sim ele queria ter sido consultado sobre a situação. Sua opinião era importante. Não era? Não é? Queria estar presente no casamento escondido de seu pai. E não importava o que Shion lhe dissesse, o casamento tinha sido escondido. Será que “os outros filhos” também tinham sido excluídos?

    Shaka sabia que o marido de seu pai... Era estranho pensar em algo como “o marido de seu pai”. E olha que o indiano nem era preconceituoso. Ainda não entendia como aquele tipo de relação funcionava. Se seu pai sempre tinha sido daquele jeito ou descobriu depois de um tempo. Mas se aquilo fazia seu pai feliz, então apoiaria seu velho. O que não mudava o fato de que o cara que tinha casado com seu pai, tinha mais três filhos. E Shaka não tinha sido devidamente apresentado a eles. Nem por fotografia.

    O homem das “direções” se aproximou do loiro.

    — Está perdido? Precisa de ajuda? – Perguntou em um inglês perfeito.

    Shaka entendia inglês. Fora um dos idiomas que seu pai o obrigara a aprender.

    Aprender um idioma era fácil. Difícil era aprender a se comunicar. Isso Shion não lhe ensinou. Não lhe matriculou em um curso que o ensinasse a dizer o que queria e como queria sem soar arrogante. Como dizia os poucos que ousaram se aproximar. Shaka olhou para os lado “estava perdido?” com certeza! “precisava de ajuda?” muita ajuda. Precisava de ajuda para se achar e para entender. E agora para falar.

    Queria dizer que estava perdido. Queria dizer que queria voltar para casa e para sua vidinha mediana. Queria dizer que o estranho e perspicaz sorriso de um homem um pouco mais velho que ele... O assustava. Queria falar que a estranha, porém explicável, pele bronzeada e enrolados cachos dourados que desciam rebeldes pelas costas larga de ombros retos o deixavam destoado. E que aqueles estranhos olhos azuis. Novamente, não o azul oceânico igual aos dele, ou o azul gélido e ríspido do moreno que encontrara na calçada, mas outro tipo de azul. Azuis da cor do céu de verão. Quentes e acolhedores. Perspicazes. Inquisidores, que desnudou até sua alma, agora o deixavam vermelho de constrangimento.

    — Eu sou Shaka. – Disse somente. Tão baixo. Também em inglês. O medo lhe subido pela barriga.

    Novamente foi avaliado. Dessa vez com curiosidade. Como se o outro tentasse entender, assim como ele.

    — Desculpe Sr... – Alguns carregadores se aproximaram, trazendo outras caixas. Caixas conhecida por Shaka. – Para onde levamos essas?

    — Para o terceiro quarto do segundo andar. – O homem falou enrolado. Tornou a olhar para Shaka. Dessa vez sorriu de forma acolhedora. – Eu sou Milo. Serei o irmão mais velho. – Tornou ao inglês.

    Milo pediu para que entrasse e conhecesse a casa. Tudo estava uma bagunça. A mudança estava três dias atrasada. Mas tinha cobertores e colchões de dormir para todos. E que, enquanto não organizavam tudo, poderiam comer o que quisesse.

    O loiro apenas acenou. Entrou junto com os carregadores. Assim como nas outras casas, as portas de vidro corriam para a lateral. O piso era de madeira envernizados. Ainda não tinha carpete, nem decorações, nem moveis. Apenas pilhas e mais pilhas de caixas. Portas que davam acessos a quartos dos primeiro andar, como também para uma sala de jantar interligada a cozinha. Um balcão separava a cozinha da sala. Tinha dois corredores: um que dava acesso aos fundos da casa e outro que dava acesso ao segundo andar. Shaka pegou o primeiro.

    Não tinha muitas plantas no quintal. Mas tinha uma piscina seca e suja de folhas. Seria de grande ajuda no verão, quando estivesse limpa e cheia. Também tinha gnomos quebrados e um balançador sem balanço.

    — Não está nada interessante. Né?

    Shaka ouviu alguém falar. Olhou para os lados, procurando a pessoa. Não tinha ninguém próximo dos cercados. Será que tinha ouvido coisas?

    — Aqui em cima. – Escutou novamente. Dessa vez avistou, em cima da arvore no quintal vizinho, uma garota bem bonita. A garota sorriu. – Olá?

    — Olá. – Shaka respondeu.

    A menina pulou da arvore para dentro do quintal, da mesma forma que fazia os meninos traquinos. Aquilo era raro. Ver uma moça tão bela fazer algo tão característico de meninos. Raro era estranho. Tão logo, a garota era estranha. Mas Shaka não precisava dizer isso a ela. Ela era alta. Tão alta quanto Shaka. Usava uma calça marrom até os joelhos, com cordinha nas pontas, e uma blusa baby look em um rosa quase branco. Usava uma sandália aberta nos pés, que deixavam visíveis seus dedos esmaltados com base. Os cabelos loiros e ondulados estavam soltos e exalavam um cheiro doce. Os lábios eram levemente rosados. Pele tão branca quanto à de Shaka. Uma charmosa e adorável pinta próximo aos olhos azuis. Dessa vez, azul piscina. Azuis vaidosos. Azuis instigantes.

    — Você é bonito. – Ela disse. Shaka corou e ela sorriu. – E então... Como se chama?

    — Shaka.

    — Olá, Shaka. Eu sou Afrodite.

    — Legal. – Foi tudo o que o indiano disse.

    Não sabia como lidar em uma situação como aquela. Era estranho falar com garotas.

    — Quantos anos têm?

    — Dezesseis!

    — Eu também tenho dezesseis. Faço dezessete, dia 10 de março. E você?

    — 19 de setembro.

    — Faço aniversario primeiro. – Afrodite piscou e mostrou a língua. – Não se preocupe. Vou te convidar para o meu aniversario. Ah, e também vou te dar algumas sementes para você melhorar esse lugar um pouquinho.

    Shaka queria dizer que provavelmente não iria ao aniversario e aquele jardim velho e sem importância não era nada para ele. Mas, tão rápido quanto veio, a garota foi embora dizendo que precisava fazer algumas coisas e que conversaria com ele depois. Novamente, igual a um menino traquino, ela pulou a cerca de madeira.

    O loiro deu de ombros e retornou para dentro de casa, queria ver o andar de cima. O corrimão da escadaria era branco gelo e os degraus eram bem espaçados. Shaka contou quatro portas laterais, uma de frente para a outra, e uma central. Aquele provavelmente seria o quarto que seu pai e outro cara ocupariam. O piso de cima também era de madeira envernizada.

    Shaka passou em frente a uma porta entreaberta antes de escutar o som de algo quebrando. Regrediu algumas passadas e empurrou a porta. Avistou outra garota, dessa vez menor que a tal Afrodite, tão logo, menor que ele também, mas igualmente estranha. A menina tinha cabelos verdes. Pele clara e estava vestida igual a um menino: calça branca e blusa verde. Shaka não conseguiu ver os olhos, provavelmente decepcionados por observarem algo, aparentemente, precioso espatifado.

    — Droga! – Escutou-a murmurar. Recolhendo os pedações do que parecia ser um globo de neve.

    Estranho, seu pai não havia mencionado que teria uma irmã. Mas seu pai não tinha mencionado muita coisa antes que tivesse acontecido.

    — Não sabe bater não? – A menina disse visivelmente irritada. Segurando os pedaços de vidro nas mãos finas. E em um idioma que Shaka conhecia perfeitamente bem, já que ele amava a cultura nipônica.

    Shaka se assustou, ficou nervoso. Era a primeira vez que entrava no quarto de uma garota. Mesmo que ainda não desse para identificar isso naquela bagunça.

    — Não seja grosseiro, Shun!

    O tal Milo falou, atrás de Shaka. Também em japonês. Quantos idiomas aquele homem sabia falar? Aparentemente o pessoal da mudança tinha terminado de descarregar.

    — Grosso é ele que entra no quarto dos outros sem permissão. Grosso e mal educado. Quem é mesmo esse estranho? – Shun perguntou alterado.

    Estranho? Aquilo soou como realmente parecia. Ele era o estranho?

    — Ele é o filho do nosso outro pai. – Milo disse. – Seja gentil com ele.

    — Não sou obrigado a ser gentil com quem não conheço! – O mais novo sentenciou. Havia magoa nos olhos esmeraldinos. Não azuis, como os de todos que conheceu naquele dia, mas verdes translúcidos. Verdes inocentes e gentis, apesar da raiva.

    Milo lançou um olhar repreensivo para o mais jovem que cruzou os braços, birrento como uma criança. Milo voltou-se para Shaka, dessa vez no inglês, e pediu desculpa pelo comportamento insolente e pela gritaria. Apesar de saber que Shaka não entendera uma única palavra, deveria ser desconfortável ser alvo de ações arisca e expressões irritadas. Disse que Shun era um garoto gentil e calmo, mas que estava irritado por ter que mudar novamente e abandonar os amigos que fizera em Detroit.

    Shaka entendeu. Ainda estava desnorteado por também ter que mudar e ser chamado de estranho. E de alguma forma entendia como o garoto, não garota, estava se sentindo. Ele também estava chateado, mas sabia controlar o que sentia.

    — Seu quarto será esse. – Milo disse. Ficava dois quartos depois do quarto de Shun. – O quarto antes do seu é de Ikki. Ele deu uma saída, então o conhecerá mais tarde. O meu quarto será o da ponta à direita. Se precisar de algo pode bater na porta.

    Shaka acenou. Milo o deixou e foi para o próprio quarto. Shaka aproveitou para conhecer seu espaço. Assim como o quarto de Shun, também tinha muitas caixas no quarto do loiro. Uma bagunça sem fim. Parecia até que um terremoto tinha atingido o local.

    As janelas davam vistas para o quintal morto e para um pouco mais distante. Shaka ficou observando aquele lugar, tão distante de sua casa. Parecia uma pintura que, há alguns dias atrás, ele só conseguiria ver em algum quadro em exposição. Agora aquilo era sua realidade. Assim como irmãos que não conhecia e que provavelmente não o aceitariam.

    Era quase como se tivesse sido jogado numa saleta abafada, com a porta trancada

    O indiano fungou. E só então percebeu que estava chorando. Ficou apavorado. Porque tudo aquilo estava fora de seu controle. Shaka chorou baixinho, deitado, até pegar no sono.

    Continua...


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