Procura-se um Marido

  • Aelita
  • Capitulos 6
  • Gêneros Romance e Novela

Tempo estimado de leitura: 2 horas

    18
    Capítulos:

    Capítulo 4

    Capítulo 4

    Álcool, Hentai, Linguagem Imprópria, Sexo

    Assim que entrei em casa, me lembrei da existência de Clóvis. Era difícil não notar o advogado atarracado carregando um amontoado de documentos escada acima.

    -Ah,Lucy! Como foi seu primeiro dia na empresa? - ele quis saber, virando-se para me observar e deixando cair alguns papéis.

    - Péssimo! Mas tenho certeza que você já sabia. – Subi alguns degraus e o ajudei a recolher as folhas caídas. Lancei um olhar rápido para a papelada; eram antigos documentos de vô Narciso. Entreguei tudo a ele e me afastei um pouco.

    - Preciso arquivar tudo isso – ele comentou em voz baixa, como quem se desculpa. – Espero que esteja com fome. A Telma está na cozinha ajudando a Mazé com o jantar.

    - Ah- exclamei, sem nada melhor pra dizer. Eu já conhecia Telma dos jantares que ela acompanhava o marido e que o vovô me obrigava a freqüentar. Não era uma mulher desagradável, apenas um pouco sem noção. – Vou... vou dizer oi então.

    Comecei a descer a escada, mas Clovis me chamou.

    - Fiz algumas mudanças no escritório do seu avô. Espero que você não se importe.

    Não respondi. Desci a escadaria apressada, evitando passar pela porta do escritório. Eu não queria ver as mudanças. Não queria que outra pessoa usasse aquela sala. Não queria nada daquilo! Telma estava dando ordens a Mazé, e, pelo olhar da cozinheira e o modo como cortava a cenoura com um cutelo, entendi que eu não era a única insatisfeita com os novos moradores.

    - Lucy, amada! Eu estava ansiosa para ver você- disse Telma, abrindo os braços e me envolvendo num abraço sufocante. – Uma pena que seu avô tenha partido desse jeito. Eu sinto tanto!

    -Hãã...obrigada

    -Mas não se preocupe com nada. Vou cuidar de tudo pra você – ela me soltou, dando um tapinha em minha bochecha. – Vamos viver como uma família! Você, o Clóvis e eu seremos muito felizes, pode apostar. Adorei a decoração do seu quarto. Foi você mesmo que escolheu as cortinhas?

    - Você entrou no meu quarto? – perguntei horrorizada.

    Ela acenou com a mão fina e cheia de anéis.

    - Só para conhecer melhor a casa. Aquele seu closet é maravilhoso. Falei com Clóvis sobre ele. O que temos no nosso quarto não é tão espaçoso.

    Pisquei, atordoada. Nosso quarto? Desde quando Telma e Clóvis tinham qualquer coisa que fosse deles na casa do meu avô? Na minha casa?

    - Partes dos meus sapatos ainda está em caixas- ela prosseguiu. – O Clóvis sugeriu que eu usasse o closet do quarto ao lado, mas prefiro ampliar o nosso quarto e ter todos os meus lindinhos pertos de mim. Você não se importa, não é? Aquele quadro sobre sua cama é um legitimo Renoir?

    - Hã...é- resmunguei atordoada.- Telma, se você não se importar, gostaria que não entrasse no meu quarto enquanto eu estiver fora.

    - Ah, querida! Eu não quis ser enxerida! –ela tentou me abraçar, mas me esquivei rapidamente. – Só quero que sejamos amigas. Melhores amigas. Pode me chamar de mamãe se quiser.

    - A menina já tem mãe- Mazé resmungou, fincando o cutelo na tabua de carne e abrindo a geladeira à procura de alguma coisa. Lancei-lhe um agradecimento mudo.

    - Vou tomar banho- eu disse, desejando escapar de Telma o mais rápido possível.

    - Ah, maravilha! O jantar está quase pronto, não é mesmo, Mazé?

    - Sim, senhora- a cozinheira grunhiu, lançando um olhar perigoso para a mulher. Telma precisaria tomar cuidado com Mazé enquanto ela tivesse com o cutelo assim, a mão. – Mas sugiro que me deixe terminar o jantar. Faço isso há anos, não preciso de supervisão.

    Telma soltou um risinho estridente.

    - Ah, querrida, claro. Fiquei tão empolgada que não percebi que estava atrapalhando. Que lapso! – ela alisou com tapinhas gentis a franja empinada e dura de laquê. – Vou ajudar o Clóvis com a mudança no escritório. Me desculpe, Lucy, mas o seu avô não tinha o menor bom gosto. Aquela sala precisa de cor!- ela me deu um beliscão na bochecha antes de sair remexendo os quadris esguios.

    Retirei o cutelo da tábua.

    - Vamos, Mazé. Você segura e eu faço o resto.

    - Não, menina! – ela disse, segurando meu braço e rindo um pouco. - Eu gosto do seu plano, mas acho melhor deixar essa mulher viva. Se você for para cadeia outra vez, duvido que o Clóvis te ajude. Eu não gosto desse homem. – Ela estreitou os olhos em direção a sala, de onde vinha a voz estridente de Telma. – Nem da mulher dele.

    -Eu também na, Mazé. Mas não quero o seu dinheiro. Vou me virar sozinha dessa vez e provar que o meu avô estava errado a meu respeito.

    Espero que não se meta com nada ilegal.

    Revirei os olhos.

    - E quando foi que eu fiz isso? - Assim que ela abriu a boca para responder, dei um beijo rápido em sua bochecha e saí correndo antes que ela pudesse me lembrar da bomba no banheiro do colégio que Mari e eu acidentalmente detonamos. A oitava serie não foi tão ruim assim afinal...

    Tomei um banho demorado, desejando evitar o confronto com minha nova babá e sua adorável mulher. Por fim, desistir. Aquela coisa de acordar cedo- e trabalhar o dia todo- tinha me deixado faminta.

    Desci para o térreo um tanto ressentida. Eu me perguntava o que aquela gente estava fazendo ali, usurpando as coisas do meu avô daquela maneira. Eu ainda estava furiosa com o vô Narciso- muito, pra falar a verdade -, mas qual é? Colocar aqueles dois ali para me vigiar? Meu avô realmente achava que eu não seria capaz de enrolar o casalzinho e escapar? Seria mais fácil que entrar sem pagar em um show de rock. Não que eu já tivesse feito isso...

    O casal já estava à mesa quando cheguei à sala de jantar. Clóvis, claro, sentado à cabeceira. No lugar do meu avô. Meu estomago retorceu.

    Eles não viram quando me aproximei

    - Tem muita coisa para resolver. Diversos contratos não assinados, transações inacabadas, muito trabalho a ser feito- Clóvis lamentou. – Creio que não vou poder levar você aos Andes, Telma.

    - Ah, amado! Não diz isso! Estou esperando por essa viagem há meses.

    -Desculpa, Telma. Não posso me ausentar agora. Preciso resolver todos os assuntos inacabados do Narciso.

    - Isso não está certo, Clóvis! – ela espalmou as mãos sobre a mesa. Planejei nossa viagem durante meses. Porque temos que adiar nossos planos só porque o homem morr...

    Cheguei no meu limite

    -Termina- exigi, ficando a vista dos dois, com punhos fechados ao lado do corpo.

    Clóvis suspirou exasperado e Telma recuou na cadeira, surpresa, rosto pálido como osso

    - Ah, desculpa, amada. Eu não quis dizer isso, só...

    - Não, claro que não – interrompi, furiosa. – Desculpa, Telma, se o meu avô morreu e melou seus planos. Pode acreditar que eu ficaria muito feliz se o seu marido estivesse livre para te levar a qualquer parte do planeta.

     - Meu bem, eu..

    Enrijeci imediatamente e, antes que fizesse alguma besteira, como, digamos... me jogar sobre Telma e fazêla engolir os talheres na transversal, decidi ir embora.

    - Onde você vai a essa hora, Lucy? Já é tarde- Clovis se levantou e veio atrás de mim. – Você ainda não comeu

    - Perdi a fome. E você não é meu avô, Clóvis. Pare de tentar agir como ele – cuspi

    Voei para a casa de Mari e contei a ela todo o ocorrido, do meu dia na B&L ao jantar com a dupla sem noção.

    - Pensa, Lucy! Tá cheio de advogados na B&L, um andar inteiro deles! Talvez alguém queira ajudar a futura dona. Você só precisa encontrar a pessoa certa- disse ela, enquanto pintava as unhas dos pés de vermelho-rubi, sobre o lençol branco da cama.

    - Você não entende! Todo mundo na B&L me ignorou. Não sei por quê, mas é assim que as coisas são. Ninguém vai me ajudar.

    - Talvez não agora, por ser tudo muito recente, mas você sabe como fazer amigos- ela rebateu.- Se der abertura, se piscar esses seus olhos cheio brilho, eles vão ficar caidinhos por você.

    - Até parece! – revirei os olhos, me deixando cair no colchão.

    - Não mexe a cama! Vou borrar tudo!

    - Desculpa

    - Tudo bem, já tô terminado mesmo. E faça o que seu avô pediu. Ele deve ter planejado mais que uma carreira de secretaria para você. Talvez seja apenas um teste e, se você não voltar, vai falhar e nunca vai saber.

    Suspirei, cobrindo a cabeça com o travesseiro para abafar o grito. Eu não queria voltar para aquele lugar cheio de andares e pessoas ríspidas, musculosas e mal-educadas, com a barba por fazer e que me deixavam inquieta. Mas talvez vovô tivesse deixado mais cartas...

    Com toda a tagarelice de Telma, acabei me esquecendo de perguntar a Clóvis sobre a mensagem.

    - Tudo bem. Eu volto para o purgatório.

    - Ótimo! Então vamos pintar suas unhas. Que tal trocar esse preto por algo mais colorido? –ele sorriu candidamente, observando minhas mãos.

    -O que tem de errado com o preto? – escondi os dedos sob os quadris

    - Nada, mas você usa unhas pretas desde... Meu Deus, Lucy! Você nunca usou outra cor! O que custa me deixar passar um rosinha ou..

    - Pode parar! Nada de rosinha! Eu gosto de preto.

    - Um vermelho, então...

    Uma batida na porta me salvou de acabar com unhas rubras com uma pinup.

    - Meninas, estou saindo e não tenho hora para voltar – a cabeça de Ana apareceu no vão da porta. Ela estava maquiada, com os cabelos negros, iguaizinhos aos da minha amiga, perfeitamente escovados. Estava linda, como sempre.

    - Outros encontro, mãe? - Mari choramingou sem desviar os olhos dos próprios pés.

    - Mariana, eu sou divorciada e maior de idade. Posso ter quantos encontros eu quiser. Se decidirem sair, não voltem muito tarde. Amanhã é dia de trabalho.

    - Tá bom, mãe.

    Ana estava fechando a porta, mas se deteve.

    - Está tudo bem, Lucy? _ perguntou. – Você parece triste.

    - Só estou cansada- sorri um pouco. – Dia ruim no trabalho.

    Ela assentiu, complacente.

    - Pobrezinha. Vai melhorar, você vai ver. No começo é difícil, mas depois você pega o jeito e nem percebe mais o que está fazendo, entra no piloto automático.

    Estremeci. Ana era dentista, não deveria trabalhar no piloto automático. Não enquanto tinha nas mãos seringas com agulhas gigantescas e brocas barulhentas.

    - Tomara.- respondi

    Com uma piscadela graciosa, ela fechou a porta.

    Mari soltou um longo suspiro.

    - Honestamente, minha mãe já passou da idade de sair por aí com caras que mal conhece.

    - Não concordo. Ela é jovem e linda. Não tem que passar o resto da vida sozinha só porque o primeiro não deu certo – resmunguei, pegando uma revista de moda folheando-a de trás para frente.

    - Eu sei. Acho que só estou com um pouco de inveja por não ter um encontro, ou pelo menos a perspectiva de um – ela confessou.

    - Podemos dar um jeito nisso. Quer sair?

    - Não. Você passou por muita coisa hoje. Vamos ficar em casa, ver um filme antigo e nos entupir com chocolate que eu trouxe – ela fechou o vidrinho de esmalte e admirou seu trabalho.

    Joyce continuou habilmente me torrando a paciência, e ninguém falava comigo além do necessário. Até o rapaz musculoso – pelo menos ao que me parecia – e grosseiro, cujo nome não me dei ao trabalho de perguntar, se manteve distante depois de duas ou três tentativas de me abordar. Eu fugia dele assim como do relógio de ponto. O mesmo acontecia em casa. Eu me esgueirava pela mansão, tentando evitar qualquer encontro com a dupla dinâmica. E acabei conseguindo, graças a Mari, que me convidava para dormir em sua casa quase todas as noites. Telma e Clóvis não me preocupavam mais.

    Duas semanas depois de começar o meu martírio na B&L, Clóvis deu o ar da graça durante o almoço para perguntar como eu estava me saindo.

    - Eu mal vejo você. Parece que nem moramos na mesma casa. – O que, para mim, era um alivio. – como estão as coisas por aqui, Lucy?

    - Humm... – resmunguei enquanto mordia uma batata malcozida. – Olha em volta, Clóvis. Todo mundo me adora. Isso aqui é o céu!

    Ele observou os rostos curiosos que nos observava. Joyce, no outro canto do grande salão, parecia prestes a explodir, sem saber o que falávamos. - Eles podem estar com medo de você – ele sugeriu. – Afinal isso tudo um dia será seu.

    - Medo – zombei – Dá herdeira falida. Sou mesmo assustadora.

    - Tenho uma coisa para você – ele colocou a mão no bolso interno do paletó.

    Meu coração disparou.

    - Uma carta!

    Ele sacudiu a cabeça.

    - É uma coisa que seu avô queria que ficasse com você. Isto está fora da herança. – Ele me entregou um saquinho de veludo azul. – Sei que não tem valor comercial, mais acho que você vai gostar.

    Arfei quando vi o relógio que vovô nunca tirava do pulso – a pulseira de couro negro, um pouco desgastada, contrastando com a caixa dourada

    - Foi o primeiro bem de valor que o vovô comprou com seu próprio dinheiro – apontei.

    - Eu sei, ele me contou. Mas não vale nada hoje em dia. Sinto muito – ele deu de ombros.

    Para mim valia mais que um diamante do tamanho da cabeça do Clóvis, o que não era pouca coisa. Não pude evitar as lágrimas.

    - Obrigada, Clóvis! – pulei da cadeira para abraça-lo.

    Ele pareceu sem jeito com a minha demonstração de gratidão, e deu uns tapinhas desajeitados nas minhas costas.

    - Eu só cumpro ordens, Lucy. Mas você entendeu o recado?

    Sorri

    - Entendi! Claro que entendi! O vovô queria que alguma coisa dele ficasse comigo, para que eu sentisse sua presen... – me interrompi. Sacudi a cabeça e sorri, sentando-me novamente. – Ele quer dizer Não se atrase, não é?

    Clóvis assentiu.

    - A Joyce me disse que você se atrasou todos os dias desde que começou a trabalhar.

    - Não é bem assim. Hoje cheguei só quinze minutos atrasada. É quase o mesmo que chegar na hora – me defendi

    Ele riu, sacudindo a cabeça.

    - Para os seus padrões, creio que seja mesmo. Bom, preciso ir.

    -Tá bom. Obrigada por me entregar isso – apontei para o relógio. – E... desculpa se tenho sido um pouco agressiva, mas é que tem tanta coisa acontecendo e... sei lá, não estou conseguindo lidar direito com tudo isso.

    - Não se preocupe. Entendo perfeitamente – ele sorriu um pouco e se foi.

    Olhei para o grande relógio do refeitório e notei que o de meu avô estava quinze minutos adiantado. Por isso ele nunca se atrasava! Eu ri, colocando a peça fria no pulso. Quando levantei a cabeça, encontrei os olhos do camarada mal-educado fixos em meu rosto – eu precisava para de me referir a ele dessa forma; camarada havia saído de moda fazia pelo menos uma década! O problema era que sua aparência não ajudava. Apesar do terno alinhado e da postura séria, definitivamente havia algo de selvagem em seus olhos, para não mencionar os cabelos, mais longos do que homens de negócios costumavam usar. Algo nele me fazia pensar em fugas alucinantes e bungee jumping. Encarei-o por um instante, me recusando a desviar o olhar. Senti um pequeno tremor subir pela coluna. O modo como ele me observava, mesmo a distancia, era intrusivo, parecia me deixar em evidência, como se um holofote tivesse apontado para mim. Como se ele pudesse me ver por dentro. Ver minha alma.

    Meu celular tocou e, agradecida por poder me livrar das esmeraldas penetrantes, atendi.

    - Lucy, você não vai acreditar! Acho que encontrei a solução para o seu caso. Vá direto para minha casa depois do trabalho. Minha mãe vai fazer enchiladas. À noite te explico tudo com calma, mas vou avisando que é coisa certa. Eu disse que ia te salvar, não disse? – Mari falou sem parar para respirar.

    - Sério? Isso é aravilhoso! – Finalmente um pouco de sorte. – Me conta tudo. O que você pensou?

    - À noite a gente conversa. É meio complicado. Tenho que ir. Beijinho!

    Depois desse telefonema, fiquei mais confiante de que tudo daria certo no final das contas. Eu não fazia ideia do que Mari tinha em mente e, de toda forma, não me importava, desde que eu pudesse ter minha antiga vida de volta. Estava divagando sobre a possibilidade de uma viagem a Bucareste nos próximos meses, por isso nem me dei conta quando entrei no elevador lotado e, tarde demais, vi que uma cabeça se sobressaía das demais. Uma cabeça com cabelos cor de rosa, estilo moicano do que o escritório pedia, e que eu tinha evitado a todo custo nas últimas semanas. Entretanto, quando o notei já era tarde demais e as portas haviam se fechado. Esperei ansiosa, olhando para a frente, as mãos suando, até que o elevador se abriu e o sexto andar surgiu em meu campo de visão. Atirei-me porta afora, agradecida por escapar ilesa.

    Mas eu ainda não estava a salvo.

    - Posso falar com você? – o rapaz disse num tom amistoso, antes que eu pudesse desaparecer por trás de uma das portas das saletas.

    - Hãã... na verdade estou ocupada. Até mais – e tentei me dirigir para qualquer lugar que fosse.

    Ele me seguiu com facilidade. Não era de admirar, tendo em vista aquelas pernas longas e fortes... Não que eu tivesse reparado.

    - Por favor, espera – ele pediu, se colocando à minha frente.

    Virei-me para a porta ao seu lado. Sala treze, sexto andar. A sala as copiadora. Mas eu não tinha nada para copiar, a não ser que Joyce quisesse reproduções de outras partes do meu corpo. Sem ter uma desculpa razoável, desisti.

    - Que foi agora? Veio me dizer mais alguma adorável suposição sobre o meu relacionamento com meu avô?

    - Na verdade, vim me desculpar – ele disse, numa voz baixa e macia. O rosto sério parecia sinceramente arrependido. – Eu não queria te magoar. Você acabou de perder um parente e eu fui muito rude. Mesmo que você seja irritante e mimada, eu não tinha o direto de ser grosseiro. Desculpa.

    Cruzei os braços sobre o peito. Por alguma razão, aquele estranho mal-educado me deixava inquieta.

    - Sensacional seu pedido de desculpas, camarada.

    - Natsu – ele disse, colocando as mãos nos bolsos da calça e atraindo meu olhar quase que instantaneamente para seus quadris estreitos, o volume na... Desviei os olhos rapidamente.

    - Hã? – perguntei

    - Meu nome é Natsu.

    - Natsu Tipo Vem aqui, Natsu? – provoquei

    Ele pareceu constrangido.

    Fiquei surpresa. Era um nome bastante incomum e muito, muito sugestivo para aquele homem enorme, com – pelo menos ao que parecia, não que eu tivesse reparado nem nada disso – músculos definidos na medida certa, como os de um nadador.

    - É a sua cara – sorri.

    Ele se empertigou um pouco.

    - Era o nome do meu avô.

    - Seu avô era assim como você? Educado e gentil?

    - Eu já pedi desculpa – ele disse firmemente, se aproximando. Ficamos um pouco mais de um metro de distância um do outro. – O que mais você quer, Lucy?

    - Olha só, aprendeu meu nome! – zombei. – Você tem um jeito muito peculiar de pedir desculpas, mas eu aceito, se for pra te manter longe de mim. Então...

    Ele endireitou os ombros, ficando uma cabeça, um pescoço e um pedacinho do ombro mais alto que eu. Amaldiçoei-me silenciosamente. Eu devia ter usado salto alto e transformado meus míseros um metro e sessenta e três em fabulosos um e setenta.

    - Então não temos mais nada para conversar – ele proferiu ríspido.

    - Não tínhamos desde o início. Boa tarde, Natsu. – retruquei empinando o nariz para encará-lo

    Àquela curta distancia, pude notar que suas íris cristalinas, de um castanho suave, tinham pequenas pintas amarelas ao redor das pupilas, dando impressão de que as cores se misturavam a todo momento, como um caleidoscópio.

    Ele me encarava de volta, o queixo trincado, a respiração pesada. Eu estava decidida a não arredar pé. Dessa vez não desviaria os olhos por nada, embora meu coração batesse rápido e descompassado por causa do desafio.

    Natsu ergueu a mão para... me tocar? Endireitei os ombros, esperando... pelo que, eu não sabia. Contudo ele soltou o braço e recuou, parecendo constrangido, me deixando um pouco decepcionada – por quê, eu também não sabia.

    - Boa tarde, Lucy – ele disse, com uma voz rouca e decidida que me causou arrepios.


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