Clint havia perdido tudo, sua família, sua dignidade, seu heroísmo. Depois de que Thanos estalou os dedos dizimando assim metade da população de todo o universo tudo isso se foi. A única coisa que lhe restou era algo que ele não dava mais nenhum valor: a sua vida.
O pior é que nem mesmo a vingança pudera amenizar a dor que sentia. Thanos havia morrido, não por suas mãos infelizmente. Ele queria ter o prazer de decepar a mão do titã que fizera o estalo e depois enfiar-lhe uma flecha no olho. Isso nunca chegou a acontecer, Thor o matara, mas, mesmo que tivesse sido Clint que diferença faria?
Matar Thanos não traria sua família de volta nem apagaria o vazio que lhe destruía por dentro. Agora, cinco anos após a morte do titã, Clint Barton vagava pelo mundo como um corpo desprovido de alma. Abandonara a identidade de gavião arqueiro, não a merecia mais. Assumira o manto de Ronin. O nome vinha do Japão, era o termo que designava os samurais que perderam seu mestre e, assim, também o proposito de suas vidas. Não poderia haver nome melhor para ele.
Era assim que Clint se sentia. Ele não era nada mais que um assassino sem alma ou esperança que descarregava toda sua frustração nos homens que matava todos os dias. Suas roupas estavam sempre manchadas do sangue de suas vitimas, suas flechas nunca ficavam tempo demais na aljava. Ansiosas elas esperavam voar pelos ares e cravar-se na carne de seus inimigos. A espada de Clint já havia cortado tantas pessoas que viciara-se no sabor da carne humana e do sangue fresco.
E que homens eram esses que Clint matava? Muitos, incontáveis. Durante esses cinco anos matara e matara tentando com isso apagar o vazio que sentia dentro do peito. Toda pessoa que matava era, para ele, Thanos. Clint o havia matado centenas de vezes, mas em nada adiantava para aplacar a sua ira nem preencher com um pouco de paz seu vazio.
E lá estava Clint Barton, o assassino, o sem família, o sem mestre. Em pé em meio a uma movimentada rua de Tokyo. Aos seus pés dezenas de corpos perfurados, decepados, desfigurados. Ele trazia uma aljava carregada de flechas nas costas. Seu arco repousava na mão direita e a espada na esquerda. Uma chuva fina começou a cair. O céu chorava assim como ele, embora as lagrimas de Clint já houvessem se esgotado a muito tempo.
Ele estava cercado de cadáveres, mas nenhum daqueles corpos estava mais morto do que ele. Uma casca vazia, uma existência atormentada. Clint Barton olhou para o céu perguntando-se, talvez pela centésima vez, porque não havia sumido no estalo assim como sua família.
É claro que não encontrou resposta... tudo que lhe restava era continuar a matar ansiando pelo dia em que seria ele a ser morto, o dia em que seria seu corpo jazesse sem vida no chão.
Ele sabia que nem isso lhe traria paz, mas talvez aliviasse um pouco o seu sofrimento. Talvez...