Capítulo Único

Era primavera. E por onde quer que passasse havia cerejeiras em flor. Do alto da colina onde agora descansava a paisagem era um borrão mesclado de rosa e verde, sob o azul do céu de março. Era impossível não lembrar dela. Aliás, ás vezes tinha a impressão de que tudo o fazia lembrar dela.

Três anos desde que deixara sua família em busca de redenção. Sim, família, porque se ainda existia algo que o lembrava família isto era o seu antigo Time 7. E se o Time 7 era família, quando pensava em lar a única coisa que lhe vinha a mente era ela. Sempre ela.

Estava desesperado para ver o mundo por uma nova perspectiva, sem o peso da vingança sobre seus ombros e névoa do ódio em seus olhos e sendo assim durante esse tempo visitou inúmeros lugares, e redescobriu a si mesmo. Mas sempre havia a sensação de que algo faltava.

O rosa no horizonte obviamente lembrava seus cabelos. Cabelos que ela cuidadosamente deixou crescer por anos, e cortou-os durante uma tentativa de proteger a ele e a Naruto. Parando para pensar, achava que somente a partir dali ele realmente a enxergou, soube no momento em que a viu com os cabelos curtos que ela não era só mais uma garotinha irritante, soube no momento em que ela o abraçou e ele retomou o controle de si e fez o selo regredir, que no fim das contas, de alguma maneira, ele era dependente dela.

O verde lembrava seus olhos. Os olhos que por tantas vezes derramaram lágrimas por ele. Os olhos que ele não pode encarar quando imploraram para que ele ficasse na vila. Os olhos que o encaram surpresos quando ele a tocou na testa, colocando ali todos os sentimentos que ele nunca saberia expressar.

Teve seus devaneios interrompidos pelo pio de um falcão que cruzava os céus, o assistiu pousar em uma cerejeira alguns metros mais adiante. Sorriu. Sabia o que lhe faltava. Sempre soube. Ainda tinha muito do mundo para ver, mas a partir a agora, se ela permitisse, veria ao lado dela.

Tinha plena consciência de que não a merecia, não depois de tudo que havia feito. Mas era egoísta, e se ela ainda o quisesse não iria abrir mão dela. Não mais.

Levantou-se. Já sabia para onde iria seguir.

. . . . .

Eram vinte e oito de março quando passou pelos portões da vila, e não ficou realmente surpreso ao vê-la em um ponto mais à frente no caminho. O mesmo lugar em que a viu pela última vez. Talvez fosse mera coincidência, mas não duvidava que ela soubesse que ele estaria ali, assim como um dia soube que ele estava indo embora.

Ela era linda. De todas paisagens que vira nos últimos anos, nada se comparava a cena que visualizava agora. Sentiu um frio no estômago quando a viu correr em sua direção, que foi substituído por um calor que envolveu todo seu corpo quando sentiu os braços dela ao seu redor. A apertou contra si com o único braço que tinha. O cheiro que vinha dela era tão bom. Se lar tinha um cheiro, era o cheiro dela.

- Você voltou! ? a ouviu dizer contra seu pescoço.

- Feliz aniversário. ? murmurou em resposta.

Sentiu as lágrimas dela molharem sua roupa, mas desta vez não se importou. Sabia que não eram lágrimas de tristeza.

Afastou-se um pouco para que pudesse erguer o rosto dela. Secou as lágrimas com seu polegar, tocou-a na testa e então se inclinou na direção dos lábios dela, cobrindo-os com os seus, colocando ali todos os sentimentos que ele nunca conseguiria expressar. Um momento que ambos ansiaram demasiadamente.

Era primavera. E finalmente o falcão pousava nos galhos da cerejeira.

Fim.