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As ultimas semanas não haviam sido nada boas para o vilarejo e embora os adultos não falassem nada e tentassem esconder aquilo Sean sabia, ele via nos olhares assustados deles e ele percebia como pouco a pouco, o numero de pessoas do vilarejo ia reduzindo, como uma flor que murcha lentamente.
O primeiro sinal de que as coisas pioraram, e normalmente elas já eram muito ruins, foi a aproximadamente um mês atrás, quando houve o ataque dos zubats. Sean não viu, mas ele ouviu, ele ouviu muito bem o som estarrecedor das asas daqueles pokemons dominando a noite e, acima desse som, o grito das pessoas apavoradas. Quando alguém parava de gritar era fácil perceber de que não era o caso dela ter se acalmado, era o caso dela ter morrido tendo todo o seu sangue drenado para aqueles monstros voadores.
No dia seguinte ele ainda conseguiu ver os corpos sem vida estendidos no chão. Era uma visão horrível, corpos repletos de mordidas e brancos pela falta de sangue. Era claro que, apesar de ter apenas doze anos, Sean já havia visto cenas assim, mas ele nunca conseguia se acostumar a elas.
Quatro dias depois as coisas só pioraram, embora o ataque tenha sido em escala bem menor. Um raticate havia aparecido no vilarejo e atacara um artesão em plena luz do dia. Felizmente era mais fácil lidar com um raticate do que com uma horda de zubats e os aldeões conseguiram atacar o monstro com pauladas e pedradas. Um golpe de foice encerrou a vida do roedor, mas não antes dele ter devorado metade da perna do artesão.
Nos dias que se seguiram ainda houve um ataque de um trio de sparows que embora não tenha ocasionado nenhuma morte deixara quatro pessoas feridas. Um dia depois Carlos, um homem adulto que tinha um Raichu de criação saiu em direção ao vilarejo vizinho em busca de ajuda, um local um pouco maior e com condições um pouco melhores para se defender de pokemons. Carlos nunca voltou e só um ingênuo acreditaria que ainda estava vivo.
Noite passada havia acontecido mais um ataque, o pior de todos. Um enxame de beedrils voara ao redor do vilarejo matando a ferroadas meia dúzia de pessoas. A prima de Sean estava entre as vitimas. Aquilo havia sido a gota d´agua e Sean decidiu que deveria fazer alguma coisa. Ele não tinha nenhum pokemon de estimação como Carlos para protege-lo, mas estava disposto a sair do vilarejo em busca da aldeia vizinha. Ele sabia que as chances de completar sua viagem com vida eram mínimas, mas qualquer coisa era melhor do que ver seus amigos e parentes morrendo um por um nas mãos daqueles monstros chamados pokemons.
Sean vivia em um vilarejo pequeno que não chegava a ter nem duzentas pessoas, ou pelo menos era assim antes dos ataques se intensificarem. Ele podia ser jovem, mas sabia que muitos treinadores de pokemons haviam começado a capturar pokemons com sua idade. Eram crianças astutas que saiam pelo mundo roubando filhotes de pokemons e os criando desde pequenos para lutarem a seu lado e o protegerem. Essas pessoas cresciam e se dedicavam a assassinar pokemons selvagens e eram considerados heróis. Em alguns vilarejos haviam treinadores de fama lendária que se intitulavam como lideres e heróis, eram conhecidos como os lideres de ginásio. Pelo que Sean sabia eles eram os melhores treinadores do mundo, mas haviam rumores que havia um grupo de elite de quatro membros que ainda era superior a esses lideres...
Sean havia visto um treinador uma unica vez, cerca de três anos atrás, o treinador visitara o vilarejo e era seguido por uma corte de pokomen, era lindo e ao mesmo tempo assustador. Sean só conhecia daquele grupo exótico e macabro de pokemons uma nidorina, os demais ele nunca havia visto na vida, nem sabia que existiam o que o fazia pensar em quantas espécies diferentes daquelas criaturas existiam pelo mundo.
Segundo o próprio treinador o seu time de pokemon não era tão forte e haviam outros treinados bem melhores acompanhados. Sean havia ficado surpreso e apavorado na época, e a visão daquele grupo de pokemons, cada um assustador a sua maneira, ainda o causava calafrios mesmo anos depois do ocorrido.
Era noite e Sean estava preparado para deixar seu vilarejo para sempre. O caminho que deveria seguir era a floresta, um caminho perigoso pois todos sabiam que haviam centenas de pokemons vivendo nestes locais. Eles matavam uns aos outros em uma eterna luta em disputa do topo da cadeia alimentar. Tudo que Sean desejava era que todos acabassem mortos e ele nunca mais precisasse ver um pokemon na sua vida, mas é claro que isso não passava de um sonho de criança. Os pokemon nunca iam desaparecer, o mais provável era que os humanos fossem extintos antes disso.
Engolindo o medo Sean adentrou a floresta. Estava escura e solitária, mas ele sabia que cedo ou tarde se depararia com algum pokemon, só esperava que fosse com um dos pequenos, um caterpie, talvez até um pidgey... ele poderia sobreviver a um encontro desses.
Sean andava devagar, a noite escondia os perigos de seus olhos, mas ela também o escondia. Ele andava quase sem fazer barulho, procurava seguir com os olhos algum sinal de pokemons para assim poder alterar sua rota. Não demorou muito e ele começou a ouvir algo. Era um som baixo, parecia um zumbido leve.
- Por favo seja só o vento... – disse baixinho para si mesmo.
O som parou, o que foi bom, mas se seguiu por um forte bater de asas, o que foi ruim, muito ruim. Sean virou o rosto na direção do som a tempo de ver um pidgeotto alçando voo até uns dez metros de altura e então parando lá, bateu suas asas com muita força. Sean percebeu o que ele iria fazer um segundo antes de acontecer e amaldiçoou-se por ter desejado o que havia desejado alguns segundos atrás.
Uma forte rajada de vento assolou a floresta, folhas voaram para longe, areia e poeira foram erguidas e Sean sentiu a força avassaladora do vento empurrando seu corpo para trás. Tentou se manter firme, mas acabou sendo levado pela força do vento e jogado violentamente contra uma arvore.
Sean gritou de dor, mas se forçou a recompor-se rápido. O pidgeotto pairava no ar como uma assombração, sua imagem banhada pela luz da lua. Sean pensou em duas coisas, ficar e lutar ou correr, correr muito rápido. Não foi difícil decidir que ação tomar. Sem olhar para onde, ele correu, correu com toda a força que suas pernas lhe proporcionavam. Estava apavorado, seu coração parecia que ia sair pela boca e ele correu até que escorregar em algo e cair rolando no chão, ralou o joelho e sentiu algo úmido. Nem precisou olhar para saber que era sangue.
Sean se levantou com a mão no joelho, a ferida ardia, mas ele sabia que precisava ser forte. Olhou ao redor e não viu mais sinal do pidgeotto e respirou aliviado. Um joelho sangrando não era nada comparado a um encontro com um pokemon como aquele. Ele poderia ter morrido e estava apenas levemente ferido. Era uma pessoa de sorte.
A dor diminuiu um pouco e ele conseguiu se acalmar. Olhou para o que tinha feito escorregar e percebeu que havia pisado em um caterpie. O pokemon rastejava com o corpo semi-destrudo. Era uma cena triste e por mais que Sean odiasse pokemons não podia evitar a pena que sentia daquela criatura. O corpo do caterpie havia sido parcialmente esmagado, o que sobrara dele não iria viver muito tempo, mas também não havia morrido e assim se arrastava de um forma angustiante tentando prolongar sua vida por mais alguns instantes.
Sean sentia pena e quase se arrependeu do que fez, mas quando ele percebeu o que havia em sua frente perdeu toda a pena e tudo que sentiu foi repulsa por aquele pokemon nojento e todos os pokemons da face da terra. Preso a uma arvore e enrolado em um casulo de fios pegajosos estava o cadáver de uma pessoa, os olhos esbugalhados e sem vida, era quase impossível perceber a forma humana envolta em tantos fios. Os caterpies, vários deles, dezenas até, rastejavam ao redor do cadáver expelindo um musgo mole e nojento sobre o corpo. Sean não conseguiu evitar e vomitou de nojo. Não era apenas um cadáver. Era o cadáver de Carlos.
Sean não viu o corpo de seu Raichu e agradeceu por isso. Ele se levantou com ódio e pisou mais uma vez no caterpie semi-morto acabando com ele de vez.
- Malditos, monstros malditos!!! – ele gritava em um ataque de fúria – que todos vocês morram!!
Carlos era uma das pessoas que Sean mais admirava e o amigo já havia salvo sua vida mais vezes do que ele podia contar. Vê-lo morto assim era... injusto, o mundo era injusto. Tudo que ele conseguia sentir era ódio por viver em um mundo tão fodido como aquele.
Descontrolado Sean foi em direção ao corpo de seu amigo e arrancou todos os caterpies dali. Ele os segurou com as mãos e os apertou até que eles morressem, expelindo uma gosma nojenta de seu corpo. Os que estavam no chão rastejavam lentamente, mas Sean pisou neles com fúria matando-os.
- Seus monstros de merda!!! – lagrimas brotavam de seus olhos – vocês têm que morrer enquanto não evoluem porque se fizerem isso vocês vão nos matar!!!
Sean não se importou mais em ter cautela, gritou e massacrou todos os caterpies que viu e sentiu prazer nisso. Foi então porem que seus gritos de fúria foram suplantados por algo muito pior. Um rugido imenso, um som que fez as arvores balançarem e o chão tremer. Sean congelou. Ouviu passos e teve certeza que o chão tremia com a aproximação de algo... um pokemon muito... muito grande.
Ele devia correr, mas suas pernas não obedeceram. Sean ficou inerte enquanto esperava aquela coisa se aproximava. Primeiramente ele viu os olhos, eram ferozes como de um predador implacável. Depois viu o resto. Era uma criatura gigantesca devia ter três metros, talvez mais. Tinha um corpo arroxeado que era puro músculos, na boca presas afiadas lhe sorriam com a promessa de uma morte cheia de dor. Sean ficou apavorado, se esqueceu de como ficar em pé e caiu no chão. O monstro se aproximou com passos lentos e pesados. Sean nunca havia visto uma coisa como aquela, lembrava vagamente um nidorino, mas era muito pior, uma evolução provavelmente.
A coisa se aproximou, estava agora a apenas um metro de Sean e o garoto teve a certeza que iria morrer.
Ele fechou os olhos e só desejou que terminasse logo.
Pela floresta gritos humanos de puro horror e desespero ecoaram pela noite... e logo cessaram. No dia seguinte não restariam nem sequer os ossos do que um dia havia sido Sean...