Os Cinco Selos

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    Capítulos:

    Capítulo 189

    Incógnita

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Yooo,

    Vamos dar continuidade a exploração dessa nova personagem maravilinda, Vida

    Boa leitura ^^

    Vida mergulhou o braço no reservatório onde ficava as almas e puxou uma delas. A energia era translúcida e não sólida, mas não escapava por entre seus dedos. Ela ergueu o martelo negro, envolveu-o em chamas azuis, e chocou-o contra a alma, ressoando e espalhando as chamas.

    — Como funciona a reconstrução das almas? — perguntou Ed.

    — Ora, interessou-se em meu ofício agora? — Ela sorriu. — Almas são coisas delicadas. Carregam sentimentos, sendo esta a constituição mais presente, e memórias. Quando mais sentimentos e memórias negativas uma alma carrega, mais pesada se torna, portanto não conseguem subir com facilidade até aqui, ou não sobem mesmo. Todas as almas merecem ser reconstruídas, Morte. Infelizmente, após a morte de Azrael, que era responsável por garantir que as almas chegassem até mim, muitas destas almas pesadas se perdem a todo momento, agora sofrem eternamente. As que chegam, martelo até que sua pureza seja restaurada — Parecendo triste, Vida voltou a martelar a alma que tinha em mão, acertando-a algumas vezes. — O corpo de um ser, dos seus filhos, por exemplo...

    — Espera, como você sabe que tenho filhos?

    — Fora estranho, na verdade. Em um certo momento, senti a necessidade de dar o meu máximo para devolver a integridade em duas almas. Quando eu terminei a primeira, ela não se definhou imediatamente como as outras. Após terminar a segunda, as duas almas foram juntas embora. Então eu senti que eram seus filhos.

    — Chamam-se Deckard e Miana — disse Liz. — E a mãe deles é Mikaela, um demônio.

    Vida, no momento em que ia bater martelo, parou imediatamente e virou-se para seu irmão com um sorriso de orelha-a-orelha.

    — É isso mesmo que eu acabei de escutar, senhor aniquilador de demônios? — Ela assobiou. — Um dia você caça demônios, no outro cópula com eles, não é mesmo?

    — Vá se foder, irmã.

    — Que boca suja! — Vida se virou e voltou a martelar. — Então, voltando ao meu pensamento... Seus filhos, por exemplo, ao ser gerados, da forma que você já conhece bem, pegaram uma parte de sua alma e da Mikaela, e a alma de vocês são impuras. — Após dar os últimos impactos, Vida ergueu a essência em sua mão e ela definhou lentamente no ar. — Então, chegamos a minha parte. As almas que purifiquei encontraram os corpos de Deckard e Miana, e adentraram em sua essência. A pureza irá se impregnar nas almas deles, até mesmo irá impedir com que eles se tornem iguais a vocês. Talvez se tornem parecidos com você, talvez com Mikaela, ou até mesmo nada parecidos... mas nunca hão de ser iguais. Varia de acordo com as experiências. — Ao terminar, os olhos dela cintilavam e um sorriso espontâneo brotou em seus lábios. — Fascinante, não?

    — Na verdade, não — ele disse, sorrindo.

    — Vá se foder, irmão.

    — Que boca suja!

    — E quem era responsável por isto antes de você, Vida? — questionou Liz, com os olhos vidrados.

    — Quem mais, senão o Senhor?

    Vida voltou a se concentrar com suas almas, enquanto Edward e Lizzie contavam sobre suas aventuras, desde quando selaram Bahamut até o momento em que levaram eles a estarem ali. Mesmo estando fazendo seu trabalho, ela escutou atentamente a história na concepção dos Selos, ocorrendo-lhe alguns questionamentos às vezes.

    No momento em que a história acabou, Vida também terminou com as almas. Ela dirigiu-se para o outro lado até ficar próxima do reservatório que contém lava. No balcão ao lado, pegou um cristal incandescente como a própria lava e colou no meio do seu peito. A partir dele, elos prateados começaram a cobrir o torso dela, até formar uma cota de malha que a cobria dos ombros até os pés. Quando Vida abriu a boca para falar, fora interrompida pelo crocitar, e o Corvo pousou na cabeça da Lizzie e o corvo branco no ombro de Edward, e começou se aninhar. Ele sorriu e passou a mãos nas costas do corvo.

    — Você é familiar... — disse, desconfiado.

    — Com certeza é. Foi você que trouxe a alma dela até mim, afinal.

    — Você é a companheira do Corvo! — Edward sorriu com o crocitar do Corvo. — Qual é o seu nome?

    — Senhora Corvo — respondeu Vida. — Fiquei surpresa por você ter me mandado uma alma diretamente. Aceitei como um presente. Com um pouquinho do meu poder e da alma dela, consegui criar um corpo, e por isso é branca. Desde então, Senhora Corvo me faz companhia. Venha, Corvo. — Ela esticou o braço, e a ave pousou. Em seguida, Vida abriu um sorriso olhando para Edward. — A vida dele está conectada a sua. Como isso?

    — Bem... eu consigo curar com minhas chamas — começou Liz. — Houve um dia em que o Corvo foi pego por um demônio e só não morreu porque eu o curei. Nós só percebemos que a vida dele estava ligada ao Ed quando Mikaela disse o mesmo.

    — Você pode curar com as chamas...? Mas é claro! Minhas chamas podem fazer isso... e também podem queimar, ou seja, matar. Com você, irmão, é o mesmo. Suas chamas queimam muito mais que as minhas, porém a capacidade de minha parte em você se limita apenas em curar, reconstruir. Já que a Liz é metade de sua alma, ela ficou com esta parte de você.

    — Nossa, quanta coincidência! — exclamou Ed. — Parece até mesmo que não foi planejado e acabou fazendo sentido no fim por mero acaso.

    — Realmente. — Ela olhou para Lizzie. — Vamos dar uma olhada em sua lâmina?

    Com o balançar do braço, Corvo voou e a Senhora Corvo o seguiu. Lizzie aproximou esticando sua mão, e Vida segurou e transformou-a em foice. Ela girou a foice rapidamente, movimentando-a passando de mão em mão, que alternava continuamente a posição — seu cabelo ondulava com vento gerado. Por fim, parou e a lâmina vibrou ressoante. Vida aproximou a lâmina azul perto dos seus olhos, observando a integridade minuciosamente. Quando encontrou trincas e fragmentos faltando na parte do fio, suas sobrancelhas se juntaram em uma expressão de furiosa.

    — Morte! Você tem que cuidar melhor da Lizzie! A lâmina está um caos!

    Edward observou a lâmina com os olhos semicerrados, e não conseguiu sequer encontrar um problema. — É mesmo? — disse, receoso.

    — Claro! — Vida passou a procurar por toda a lâmina, e encontrou mais erros no lado sem fio. — Você ataca até mesmo com o lado sem corte?!

    — Às vezes...

    — Inacreditável. Coitada da Liz por ser manejada por um monstro como você.

    “Seu monstro”, sussurrou Lizzie.

    — Viu? Até ela concorda.

    — Você consegue escutá-la? — Ed ergueu a sobrancelha.

    Vida dirigiu-se para perto do recipiente de lava. Suas chamas azuis envolveram harmonicamente a foice, e depois mergulhou completamente a lâmina na lava, deixando-a lá ainda envolto em suas chamas.

    — E os outros não conseguem?

    — Não.

    “Só irei ficar surpreso se ela for capaz de me escutar”, sussurrou Sombra.

    — E sou — confirmou ela.

    “Certo. Estou surpreso.”

    Edward encostou-se na balaustrada e cruzou os braços, e ar de sério emanou dele.

    — Como lhe disse, Lúcifer criou um Império em outra dimensão, o Inferno — ele começou —, com a ajuda da magia nos livros dos Mephistos. Supomos que a magia seja a mesma que Pietra domina, a de criar dimensões, porém em uma escala muito mais poderosa. Ademais, Mikaela afirmou que há muito Lúcifer já estava interessado nos livros da ordem, o que podemos supor que ele estudou muito nos aspectos sobre magia. Isso explicaria como meu querido mentor chegou a tanto, Vida?

    — Com certeza, e muito mais. Entenda, irmão, que a dominação completa da magia não significa que ele conjure magias existentes em proporções inimagináveis, como também possibilita a criação de novas.

    — De fato. Estamos cientes disso. Mas ele cria demônios. Claro, para um ser que estudou e conseguiu criar um novo “mundo”, também seria possível manipular almas para a criação destes seres. Contudo, ele não passou tempo o suficiente no plano existencial para dominar estes dois assuntos.

    — Concordo. Levando em consideração o dia em que Lúcifer fora banido do céu até o momento em que ele criou o inferno, é impossível ter destreza nestes dois assuntos. E, se ele criou e deu vida a uma nova dimensão, não sabe manipular uma alma sequer. Então chegamos a questão: como Lúcifer cria demônios?

    — Exato. Nós dois sabemos o porquê do Bahamut conseguir tal feito mesmo sendo burro. Com Lúcifer, por outro lado, só consigo imaginar que outro ser esteja ajudando. Existe ou tem a possibilidade de existir outro ser igual a você, Vida?

    Vida olhou por cima dos próprios ombros com um olhar sério. — Não existe ser como eu, Morte. — Ela ergueu a foice que estava mergulhada na lava até então. A lâmina estava rubra e o líquido incandescente gotejava pesadamente. A quentura que exalava da lâmina fazia o ar ondular. — Contudo, criar demônios não é necessário ser como eu. Bahamut, com aquelas mãozinhas destruidoras dele, corrompia a alma do humano com um simples toque e, consequentemente, colapsava a mente, criando seus adoráveis demônios.

    — Mesmo que Lúcifer fosse capaz de algo do tipo, é inviável. Seu tempo é curto para criar um exército tão grande, e perceberíamos o sumiço de tantos humanos.

    — Mas há uma coisa que ninguém perceberia o sumiço, até porque, tecnicamente, está perdido: almas que não voltam para cá. — Após esfriar um pouco, ela repousou a lâmina da foice sobre a bigorna e deu a primeira martelada. As chamas pulsaram em meio a faíscas rubras, e Edward sentiu um cálido ainda mais forte. — E só imagino um único ser capaz de atrair almas para o inferno. — Mais um impacto contra o aço, desta vez mais forte. — Azrael é seu nome.

    — Azrael?! — Edward conteve sua surpresa. Respirou fundo, e apoiou as mãos na balaustrada. — É impossível. Kleist partiu o corpo do anjo da morte em dois com a sua espada. E sim, era visível que ele morreu com isso. A alma de Azrael não chegou a você?

    — Agora lhe conto uma curiosidade inédita, irmão: as almas dos anjos não voltam para mim. — Vida martelou mais duas vezes, fazendo uma pausa cronometrada para a terceira vez. — As almas deles simplesmente se dissolvem e viram parte da energia da natureza, ou seja, mana. — Em seguida, mergulhou a lâmina na água, fazendo vapor exalar aos montes. — Na verdade, a única alma de anjo que forjei, fora a Uriel. Provavelmente você notou algo diferente nela.

    — Sim, notei. Por que apenas ela?

    — Não faço a mínima ideia, de verdade. — Depois que a lâmina esfriou, Vida colocou-a de volta no reservatório que contém lava. — Tendo em vista que era um anjo, martelei com tanta destreza quanto em seus filhos.

    — Isso é meio curioso... — Ele maneou a cabeça em negação. — Voltando... Certo, vamos imaginar que Azrael esteja de fato vivo. Lúcifer deu um jeito de trazer Azrael de volta, criou o inferno, o anjo da morte atrai as almas para lá... e depois?

    — Bem, a alma precisa de um corpo com cérebro. Pode ser qualquer um cérebro, já que ele irá entrar em colapso e perderá qualquer memória que outrora teve.

    — E como eles fazem tudo isso?

    — Isto, irmão, é uma incógnita — ela sorriu.

    Edward manteve-se em silêncio, pensando, enquanto Vida continuava seu trabalho com a foice. Ela repetiu exatamente o mesmo processo no mesmo tempo, terminando ao colocar a lâmina no reservatório com água.

    — Tem ideia do porquê Ele não faz nenhum movimento? — indagou Ed. — Sei que não gostar de matar, mas a situação é completamente diferente agora. O Reino dos Céus está exposto para todos. Há coisas para fazer sem necessitar sujar as mãos de sangue.

    — Acredito que Ele esteja recuperando e reservando as forças. Criar este mundo, anjos, Bahamut, Selos, eu e tantas outras coisas, você tem que admitir que muito poder que esvai para tal.

    — Recuperar e reservar até mesmo nesta situação... para o quê?

    — Ora, para administrar melhor o mundo. Eu fui criada simplesmente para suprir este dever Dele.

    — Certo. Agora diga-me o que você pensa de verdade.

    — O que penso? — Vida se virou para ele com um meio sorriso malicioso. — Para o que mais, senão deixar este mundo?

    — Deixá-lo...?

    — Certamente. Olha só o caos que isto tornou-se. Perdeu o controle sobre o mundo faz tempo. Bahamut, Lúcifer, Ganância... e até mesmo os Selos saíram de seu controle. Os humanos, então... só irão restaurar sua fé porque estão vendo o Reino e anjos com os próprios olhos agora, mas certamente há aqueles que hão preferir ir contra tudo isto ainda assim.

    Edward nada disse, e Vida deixou o silêncio perpetuar propositalmente. Ela puxou a foice da água e ergueu-a, e o Selo arregalou os olhos ao ver o belo cintilar da lâmina. Agora que a foice estava completamente restaurada, era nítida a forma em que antes estava desgasta. Ela moveu a foice lentamente no ar, e depois arremessou-a para seu portador. Edward segurou a haste e repousou-a em seu ombro. Vida retirou o cristal do peito e toda a cota de malha se definhou, voltando a ficar apenas trajada com o tecido branco. Também se encostando na balaustrada, ela fintou Edward, que estava com uma expressão séria.

    — Vida, se um dia eu viesse aqui para te levar embora... O que você faria?

    — Iria com você — simplesmente ela disse.

    — Por quê?

    — Primeiramente, porque você estaria precisando de mim. Esse sentimento que nutro por você é estranho. Só nos vemos duas vezes contando com agora, e mesmo assim confio completamente em ti. Acredito que nosso laço é muito mais do que a simples irmandade; é o destino. Somos vida e morte, afinal; não há elo mais poderoso. — Vida olhou envolta, pensado. Por fim, suspirou e continuou: — Segundamente, por mim. Estou cansada daqui. Anos e anos de solidão... cansa. Ao menos tenho a Senhora Corvo. Irônico, não? A vida ser solitária, e a morte ser rodeado de seres. — Ela balançou aos braços. — Não se engane, não estou sentido inveja de você ou algo parecido. Só é a verdade.

    — Entendo. — Edward se espreguiçou. — Tenho que ir agora, irmã.

    — Espere.

    Ela rapidamente dirigiu-se até um balcão, pegou todos os seis amuletos que havia sobre ele e aproximou-se de Edward, entregando-os nas mãos.

    — São armadura que forjei para vocês. Fiz até mesmo para Mikaela depois que soube que se tornou uma de vocês. — Olhou nos olhos. — Preste atenção... Você irá colocá-lo perto de algum lugar em seu corpo e adicionar um pouco de suas chamas. Quando fizer isto, ficará marcado em sua pele como esta marca da lua em seu pulso. A armadura fará parte de seu corpo, então é só pensar que ela vira à tona ou sumir. Entendeu?

    — Precisamente.

    — Ótimo. — Vida encostou sua testa na dele. — Foi bom te ver, irmão.

    — Digo o mesmo, irmã. — Ele pressionou mais forte.

    Edward afastou-se, virou e começou a descer os degraus. Seguindo pela estrada de tijolos, a fenda se abriu em sua frente. No momento em que ia adentrar, Corvo crocitou e pousou em seu ombro.

    — Não, Corvo — ele dizia —, fique aqui. Sua vida está conectada a minha, ou seja, é imortal. E isso significa muito tempo. Então... fique com elas.

    Corvo crocitou e não se moveu.

    — Não tem escolha, irmão — disse Vida de cima da construção, apoia na balaustrada com Senhora Corvo no topo de sua cabeça. — Você não faz a mínima ideia de como chegar no inferno, certo? Lúcifer não é tolo, acobertou a entrada para que a morte não seguisse os rastros das almas. Mas ele não contava com o corvo... um animal que tende a ser mais sensitivo. Use-o.

    Sem dizer nada, Edward assentiu com a cabeça e adentrou na fenda.

    Continua <3 :p


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