Os Cinco Selos

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    Capítulos:

    Capítulo 187

    Derrocada

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Yooooo!

    Acredito que a grande maioria que ler o início e descobrir do que se trata, irá pensar automaticamente: "FINALMENTE!"

    Boa leitura! ^^

    Cerca de mil anos antes...

    O arcanjo Samael situava-se no interior de seu templo, sentado sobre os degraus, olhando para um ponto fixo aleatório. Estava sozinho, pois, não muito antes, havia dispensado suas tropas do treinamento. Mais especificamente, dispensou-os quando a teve a confirmação da vitória dos Selos sobre Bahamut. Ele não ficou surpreso, porém, por seus discípulos terem vencido o embate. "Mas devo admitir que selar uma monstruosidade de tamanha periculosidade ao invés de matá-lo é um tanto patético", pensou. Apesar deste pensamento, tinha a completa noção de que essa decisão não havia partido dos nephilins, mas de alguém ainda mais poderoso que o próprio Bahamut.

    Levantou-se, então, dos degraus e desceu calmamente, aproximando-se de sua armadura prateada que estava jogada ao chão. Primeiro, equipou suas grevas, depois o peitoral, suas braçadeiras e, por sim, as manoplas. Ele pegou sua espada que estava fincada no chão, e admirou por um tempo a bela lâmina.

    Um anjo, que futuramente será conhecida como um dos grandes arcanjos, adentrou no templo. Uriel andou sem pressa até aproximar-se de Samael — sua armadura cinzenta era ofuscada pelo brilho prateado da armadura do arcanjo. Sua expressão estava séria, quase que indiferente.

    — Grande arcanjo, vim trazer-lhe uma mensagem — Ela fez uma rápida reverência inclinando-se para frente. — Vosso Pai solicita a sua presença em seu trono.

    — Imagino que sim. — Samael acoplou a espada na cintura. — Uriel, penso que você notou que é... diferente dos outros anjos. É mais astuta, habilidosa, disciplinada. Além disto, tem um poder especial digno de um arcanjo: criocinese. Assim sendo, você, Uriel, é a única capaz de substituir-me, e a única que aceito para tal.

    — Substituir? O que quer dizer com isso, Samael?

    — Responda-me algo. Se tivesse um inimigo tão poderoso quanto você, ou até mesmo inferior, o que você faria? Mandaria subordinados para confrontá-lo que, para eles, é uma ordem quase impossível de se cumprir? Você atacaria juntos com seus subordinados? Ou até mesmo atacaria sozinha, para preservá-los?

    — Hmm... — Uriel olhou para o chão, pensativa. Quando encontrou a resposta, voltou seu olhar azul e certo para o arcanjo. — Eu atacaria com meus subordinados. Se não, atacaria sozinha, considerando que posso lidar com meu suposto inimigo.

    — Sim. Agora, por que Ele não faz o mesmo?

    Quando entendeu do que a hipotética situação exposta por Samael tratava, Uriel ficou receosa e nervosa.

    — Como assim, Samael? Você... você sabe que Ele deve administrar o mundo em seu trono. Mantê-lo... Não é tão simples o ato Dele sair dos céus como os próprios Selos, ou até mesmo nós.

    Samael negou com a cabeça, um pouco decepcionado.

    — É exigir demais de você. Não tem experiência. — Ele a olhou nos olhos, sério e levemente sombrio. — Um dia, Uriel, tenho certeza que um evento, ou até mesmo um ser, fará você enxergar além do mais belo altar. Te alerto desde agora: quando esse dia chegar, não se assuste com a imundice em volta de você. Continue astuta, habilidosa e disciplinada.

    Antes que Uriel falasse algo, Samael encerrou a conversa ao passar por ela, indo em direção a saída. Contudo, ele parou e olhou por cima do ombro e disse:

    — Não saia daqui, não importa o que acontecer lá fora. É uma ordem.

    Então, ele seguiu o caminho. Passando por entre os templos dos arcanjos, Samael observou as grandes quantidades de anjos treinando sem parar com o auxílio de respectivos arcanjos. "Sempre me perguntei para que tudo isso. Dizer que fomos criados para proteger é uma completa mentira", pensava Samael, "Bahamut fora o primeiro a nos ameaçar, e o que foi feito?! Ele deixou as próprias criações quase serem completamente dizimadas para que eu treinasse a nova raça! Os meus discípulos! E nós?! Fora que Ele é muito mais forte que seu filho!" Samael começou a subir as escadas que levava para a sala do trono, ignorando os serafins enquanto passava por dentro de suas repartições. "O pior é que todos acreditam que Ele não lutou por ter que administrar o mundo. Uma mentira! Na verdade, já perdeu o controle do mundo há tempos. Um deus fraco".

    Enfim, Samael parou em frente a grande porta da sala do trono, e hesitou por um instante. Não por medo, muito menos por incerteza; simplesmente porque o que viria a seguir era algo inédito para qualquer anjo. Sentiu-se ansioso e curioso. Segurando-se para não sorrir, o arcanjo empurrou a porta. Adentrando, o Senhor dos Céus encontrava-se em seu trono, e o arcanjo Miguel também estava lá, o que não o surpreendeu.

    — Chamou-me, Senhor?

    — Você sabe o porquê de estar aqui, Samael — respondeu seu Senhor. — Fora o responsável pela fuga de meu filho.

    Miguel, que não sabia o motivo de estar ali até então, arregalou seus olhos de surpresa.

    — Você fez o quê, Samael? — disse, com receio na voz.

    — Exatamente o que fora dito, Miguel. Responsável pela fuga do querido filho. — Samael deu de ombros. — Talvez até mesmo responsável por ter entorpecido ainda mais a mente doentia dele.

    — Por quê?!

    — Porque eu queria trazer algum sentido útil para a minha vida! — vociferou Samael. — Qual é o sentido de nossa existência?!

    — Devemos defender o Reino dos Céus e seguir nosso Senhor!

    — Defender do quê ou quem?! Quando fomos criados, nem sequer existia algo que pudesse trazer risco aos Céus! Mas, finalmente, Bahamut tornou-se essa ameaça. E o que fora feito, Miguel?! Uma nova raça para enfrentá-lo! Nós e Ele continuamos aqui enquanto muitas das criações eram mortas porque os Selos ainda não estavam preparados. Por fim, meus discípulos selaram Bahamut ou invés de matá-lo! Ele irá voltar ainda mais poderoso, e mais uma vez ficaremos aqui, presos em grilhões! Deixando a destruição se alastrar enquanto os Selos tentam salvar o equilíbrio, ao contrário Dele!

    — Nosso dever não é questionar Seus desejos, Samael! É segui-los lealmente!

    — Mas eu não concordo com isso! Eu sou poderoso! Cansei de ficar aqui fazendo a mesma coisa durante anos e anos. Ou seja, cansei de fazer nada com seres cegos e patéticos!

    — Você só é um ser composto de orgulho e arrogância.

    — Pelo menos eu sei quem eu sou, irmão, e também sei o que devo fazer.

    — Ah, e o que você fará agora, irmão? — questionou Miguel, friamente.

    Os olhos vermelhos de Samael tornaram-se sombrios e um sorriso sádico brotou em seus lábios. — Irei dar um motivo para a existência fútil e medíocre de vocês.

    De imediato, Miguel lançou-se em direção ao arcanjo que se rebelava, agarrou-o pelo pescoço e passou a carregá-lo para fora da sala do trono. Sentindo o aperto em sua garganta, Samael nada fez, e esperou até seu irmão levá-lo até o pátio central. Quando chegaram, Samael livrou-se, segurou Miguel e arremessou-o direto para ao chão. Antes de suas costas tocarem a superfície, a luz amarela tomou conta do corpo do Miguel e ele conseguiu recuperar-se da queda com suas asas, subindo novamente. Samael empunhou sua lâmina e a energia negra envolveu seu corpo. Com o encontro das duas forças, o brilho amarelo e negro emanou demasiadamente, atraindo a atenção de qualquer um do Reino.

    — Seu herege! — vociferou Miguel, tão alto que sua voz ecoou.

    — Você me decepciona, irmão.

    Múltiplos golpes rápidos e poderoso foram trocados, espalhando a cor amarela e negra, causando ondas de energia que pareciam fazer o Reino tremer. Miguel era um arcanjo tão poderoso quanto Samael, mas Samael provou ser muito habilidoso. O arcanjo Miguel não fora capaz de acompanhar a movimentação de seu irmão, e acabou sendo vencido, atirado violentamente ao chão.

    Sem tempo para vangloriar-se, Samael postou seu corpo de lado para desviar do raio azul disparado por Amtiel. Em seguida, também desviou de um ataque da grande e pesada espada de Natanael. Dali em diante, os arcanjos foram aparecendo gradativamente, todos confrontando Samael ao mesmo tempo: o vento oscilava, a areia avoaçava, raios estalavam, ilusões eram criadas. Naquele momento, porém, os arcanjos descobriram quem era de fato Samael. Ele combateu os onze arcanjos de frente, encontrando falhas nos poderes e na movimentação de cada um, e os arcanjos deram-se conta que não conheciam o estilo de luta de Samael. Acontece que, dentre todos estes longos anos, os arcanjos lutaram entre si em treinamento, mas Samael nunca participou, apenas observava — e isso ajudou-o em muito no momento.

    Ora, minutos haviam se passando, que pareciam ter sido uma eternidade, e seis dos grandes arcanjos já haviam sido tirado de fora do combate por Samael, e os cinco restantes passaram a hesitar. No entanto, Samael também estava na pior: partes de sua armadura havia sido danificas ou arrancadas, detinha vários rasgos pelo corpo e estava exausto.

    Atraindo a atenção de todos, de armadura dourada e asas laranjas cristalinas, o serafim da Ganância aproximava-se lentamente no ar em direção ao conflito.

    — Irmãos — começou Ganância —, está devidamente evidente a necessidade de minha intervenção na batalha para a proteção de vosso Senhor. Ademais, trago-lhe a palavra do Senhor, Samael. — O Serafim encarou o arcanjo. — “Arcanjo Samael, você está banido do Reino dos Céus por toda a eternidade”. — Ele abriu os braços e entoou com a voz mais rígida: — Dito isso, irmãos, peço-lhes que me emprestem seus poderes para que eu possa fazer a vontade de vosso Pai expulsando este ser que maculou nosso lar.

    Com os arcanjos concordando imediatamente, Ganância começou a sentir os poderes de seus irmãos adentrando em seu corpo, entorpecendo sua força, fazendo-o sentir especificas coisas que não conseguia.

    Sabendo que aquela era sua derrocada, Samael disse imediatamente em alto e bom tom:

    — Ouçam-me! Quero que todos saibam que revogo meu nome e amaldiçoou! A partir de agora, chamo-me Lúcifer! E quero que todos saibam que eu, apenas eu, fui capaz de ferir onzes arcanjos e, não só isso, como também derrotei seis de vocês!

    Lúcifer, de cabeça erguida e olhar carregado de desprezo, encarou o serafim nos olhos, e depois só abriu os braços, deixando-se a mercê do ataque. Ganância ergueu a lâmina, e a poderosa amálgama de poderes começou a intensificar, dentre eles, os mais notáveis: a luz amarela, raios estalando, o vento e a areia. Junto a isso, o serafim sentia sua força física muitas vezes mais forte do que era e aumentando cada vez mais.

    — Ouçam-me! — berrou novamente Lúcifer. — Rezem para que este golpe cause minha morte! Pois, se não, voltarei ainda mais poderoso e serei responsável por trazer desgraça para este Reino!

    Então, impetuosamente, Ganância abaixou a espada. O poderoso golpe com a junção dos poderes dos arcanjos cintilou fortemente e todos sentiram a forte pressão que exalava. Lúcifer não se moveu e encarou o poder sem desviar o olhar. Quando sua sentença o atingiu, sua armadura fragmentou e um rasgo em seu torso se abriu. Ele fora projetado com violência para trás, viajando até para fora dos limites do Reino dos Céus. Sentiu toda a força de seu corpo esvair e começou a cair. Dando-se conta que estava cada vez mais distante da borda e que sua espada não estava mais em sua mão, um último pensamento veio a Lúcifer antes de perder a consciência: "Ah, então, se desconfiar de que esteja sendo controlado, basta questionar as ações de quem você segue".

    Uma fenda abriu-se e Lúcifer continuou sua queda adentrando nela.

    Ora, não só Lúcifer teve novas perspectivas e ideais naquele marcante acontecimento. Ganância, com todo aquele poder percorrendo pelo seu corpo, sentiu a melhor sensação de sua vida. No momento em que os poderes foram se definhando e voltando para os respectivos usuários, porém, o serafim perdeu aquela sensação e sentiu-se, pela primeira vez, pequeno, e odiou isto. Em seu âmago, invisível e despercebido para todos, cresceu uma sede sombria que, para ser saciada, desencadearia a guerra entre os anjos: a ganância pelo poder.

    ***

    No céu, no plano existencial, uma ruptura rasgou-se, e de lá saiu Lúcifer, caindo em direção ao chão. Seu corpo tornou-se carne e ossos, então todos seus ferimentos começaram a sangrar, principalmente pelo o que foi feito por Ganância. A consciência havia deixado Lúcifer.

    Quando suas costas tocaram o solo, afundou-se em uma cratera não muito profunda. Por lá ele ficou, com a poça de sangue formando-se sob ele, acumulando-se gradativamente. Não obstante, seu peito subia e descia lentamente, quase imperceptivelmente.

    Continua <3 :p


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