O Principado de Órion

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    Capítulos:

    Capítulo 27

    Heróis do Passado

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Mal Gajeel indagou e sua voz propagou noite afora, causando outra onda de tremor em Levy e um pequeno susto em Lucy. Sua voz tinha um tom carregado de nervosismo e indignado, principalmente porque o outro Dragon Slayer ignorou. Natsu procurava manter a calma enquanto ainda observava tanto a plataforma de pedra como o trem queimarem infernalmente. O clarão das chamas era tão forte que não se espantaria se um vilarejo ali próximo notasse. Sem contar da sensação incômoda de inquietação lhe arrepiando a nuca.

    Estavam sendo observados. E não por presenças quaisquer. Eram poderosos, bem prováveis os autores da explosão.

    - Vamos embora. Aqui não é seguro.

    - Matte, Salamander.

    Antes que girasse no lugar, agarraram seu braço com firmesa, impedindo que andasse. Natsu apenas encarou a mão lhe segurando e depois ergueu o olhar para Gajeel. Ele não estava tão alterado, ainda não, apesar do grito. Mas o aperto em seu braço indicava que faltava pouco.

    - Solta.

    - Não até você me dizer o que raios quis dizer com isso.

    Travou os dentes, se irritando. Ao notar, Gajeel pressionou os dedos aumentando o agarre. Inferno... Não queria perder tempo. Estavam em campo aberto, perto de um desastre em chamas e ele preferia discutir?! Aqui?!

    - Gente, n..não vamos brigar, t..tá? Não é hora pra isso.

    Pela visão periférica, viu a amiga da loirinha se aproximar tímida dos dois. Lucy estava junto dela, abraçando o gato azul em tentativa de esconder o nervosismo.

    - Levy tem razão. Além de presos aqui, estamos sem bagagem, num ermo e ainda por cima longe da nossa parada. N..não é momento pra brigar.

    Tinha que dar credito a elas. Nesse impasse, tanto ele como o comedor de sucata exalava hostilidade. Sutil, mas transparecia. Se aproximar dos dois e tentar chama-los a razão era uma prova de coragem e tanto. Porém, Gajeel não queria ceder. Respirava fundo, tentando controlar a sensação de revolta sabendo que seria inútil. Ele não gostava de ficar exposto ao perigo sem aviso prévio. Alias, ninguém gostava, mas tinha assuntos demais na cabeça pra lembrar de uma coisa dessas. Como ia imaginar que explodiriam o trem? Outra vez?!

    - Responda, Salamander. Sabia que um ataque desses podia acontecer?

    Apenas estreitou os olhos. Isso já o estava dando nos nervos.

    - Devia escutar sua parceira. Vamos, antes que fique mais perigoso.

    Dito isto, puxou o braço, se soltando do agarre. Gajeel apenas continuou calado o encarando e sem se intimidar devolveu o olhar. Por isso detestava fazer missões com ele naquela época. Volta e meia eram brigas, discussões ou os dois simplesmente saindo no soco. O começo daquele time não foi bom pra ninguém. Nem para Lucy que tentava acalmar os ânimos, para o comedor de sucata obrigado a entrar e muito menos pra ele que o teve de aturar. Claro que a parceria veio com o tempo e a confiança também.

    Mesmo assim não suportava esse lado de Gajeel.

    Ainda o olhando, se virou para uma direção, ao norte onde se podia ver uma mancha do que seria uma floresta.

    - Depois conversamos.

    - Que seja.

    Gajeel quase riu sarcástico, mas não contestou. Ambos ouviram o suspiro aliviado das garotas. Até por que, precisavam encontrar um abrigo decente. Seria uma longa noite de caminhada.

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    - Estão indo embora. Vamos segui-los?

    O homem em pé ao lado não parecia nenhum pouco preocupado. Isso a fez curvar os lábios divertida. Azuma dificilmente se abalava. Fechando a luneta, por onde observava os quatros sobreviventes da explosão, se levantou da posição agachada soltando um suspiro. Fora uma excelente ideia terem escolhido esse lado da montanha a favor do vento.

    Assim não seriam descobertos através do cheiro pelos dragon slayers. Isso seria inconveniente.

    - Não é preciso, teremos outra oportunidade. Atrasará um pouco, mas não afetará nosso objetivo. – estreitando o olhar, mirou na direção que o grupo seguia – Tudo é questão de sorte.

    - Entendo o que quer dizer.

    Estratégias e poder tinham de sobra. Não eram tolos que mal sabiam manipular o poder mágico que possuíam. A única razão para a missão ter saído um fracasso, mais uma vez, era a sorte. As chances de êxito eram eliminadas por dois fatores. Os quais agora tanto ela como o parceiro sabiam.

    - Ultear-sama – se voltou para o lado, encontrando o semblante sereno de Azuma – Assim que conseguir o artefato, o mestre deseja seu retorno imediato ao quartel general.

    Sorriu afetada.

    - Não se preocupe com isso.

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    Há quanto tempo será que andavam? Não fazia ideia.

    Com um sopro de vento cortando entre as árvores, enregelava ao ponto de estremecer de frio. Ao seu lado, Levy se abraçava esfregando as mãos nos braços. Seu rosto estava tão exausto quanto o dela, podia apostar. Levou o olhar para frente, fitando as costas dos dois rapazes que as “acompanhavam”. Curvou os lábios com um pouco de desgosto.

    Natsu e Gajeel não trocaram uma palavra sequer. Nem para discutir, conversar e muito menos amenizar o clima estranho que se instaurou depois daquilo. Franziu o rosto, lembrando do que aconteceu horas atrás.

    - Isso é inútil. Tudo o que havia por aqui virou cinzas.

    Gajeel afastou um armário de metal da parede com uma mão, sem o menor o cuidado. O móvel balançou pela força demasiada e caiu num intrépido no piso. Tanto Levy como ela soltaram um grito, pulando de susto. Happy por incrível que pareça continuou dormindo.

    Zangada por isso, Levy expirou. Exalando o ar que prendia nervosa.

    - Pelo amor de Deus, tenha mais um pouco de cuidado. Ainda não sabemos se...

    - Se...

    Sorrindo sarcástico Gajeel se aproximou um passo e ao ver, Levy estreitou o olhar, séria.

    - Se é seguro.

    O silêncio pesou nesse instante, enquanto engolia em seco. Ela não queria pensar nisso. Não agora que estavam nessa situação.

    Antes de caminharem na direção que Natsu seguia, Levy levantou a questão se sabiam para que direção ficava a cidade de Oshibana. Isso fez Natsu estacar no lugar e Gajeel aproveitou para debochar do colega. Quando pensou que teriam outra discursão ali mesmo, se lembrou do terminal de trem ali perto. Devia ter um escritório como os outros e por consequente, um mapa da região. Foi um consenso irem procurar no que restou da plataforma, mesmo que um dos quatro estivesse relutante.

    Ainda encarando a amiga, Gajeel apagou o sorriso assumindo um ar neutro. Isso as confundiu.

    - Não precisa se preocupar, seja lá quem for não está por perto.

    Franziu o cenho, junto de Levy ao aninhar mais o gato azul em seus braços.

    - Como pode ter certeza?

    - A presença deles se apagou desta área.

    Surpresa se virou na direção da voz, encontrando Natsu atravessar uma porta para a sala onde estavam. Ele carregava um quadro pela mão, devia ter cerca de sessenta centímetros quadrados.

    - A emboscada não saiu como planejaram.

    Ele tinha que ter esse humor ácido? Um calafrio percorreu sua espinha e pelo canto de olho viu Levy sentir o mesmo. Resolveu ignorar, se aproximando de Natsu quando o mesmo puxou uma mesa torta de aço para o centro do cômodo. Ele colocou o quadro em cima do móvel, tirando a fuligem do vidro com a mão.

    - Onde achou isso?

    Se inclinou para mais perto analisando. Era um mapa ferroviário. Mostrava as linhas de trens e os terminais de plataformas a Oeste de Eramar.

    - No que restou do gabinete dos fundos. – com uma pausa, o mago continuou – Não conseguiram escapar.

    Uma sensação gelada tomou conta de seu estômago. Levy gemeu involuntariamente perto dela enquanto Gajeel se manteve quieto. Foi muito bom que resolveram investigar essa sala primeiro.

    - Luz, Salamander.

    Sem contestar, Natsu ergueu uma mão, formando em sua palma uma bola de fogo. As chamas se retorceram mantendo a forma iluminando em segundos o lugar. Eles se inclinaram para o quadro, analisando o mapa e foi quando percebeu. O estranho vidro que protegia a ilustração cartográfica não era de quartzo e sim de cristal, lacrima especificamente. Por isso não havia derretido...

    Indicando com um dedo um ponto especifico, Natsu se manifestou.

    - Aqui. Esse é o local onde estamos.

    - Então nesse caso...

    Buscou com os olhos a linha de trem, seguindo até o ponto onde indicava Oshibana. Reprimiu um gemido, estavam muito longe do destino. Diante dela, ouviu um estalo de língua. Gajeel mirava com um ar aborrecido.

    - São mais de mil km. Elas não vão aguentar.

    Arregalou os olhos.

    - Espere aí. Está querendo dizer o que? Não somos um peso morto.

    Tudo o que Gajeel fez foi levantar o olhar cético para ela. Causou uma bolha de irritação dentro de si.

    - Levy e eu podemos muito bem acompanhar vocês. Não é, Levy?

    Se virou para a amiga e todo seu ânimo esvaiu. Ela olhava pálida, de um jeito preocupado a distância no mapa.

    - Lucy, eu não sei... São sete horas de viagem de trem e se me lembro bem, aqui era um dos primeiros pontos de desembargue e embargue.

    Mordendo o lábio, Levy analisou outra vez o mapa em desânimo.

    - Humpf. Como disse, “não vão aguentar”.

    Se voltou para frente, encarando os olhos vermelhos e debochados do caçador de dragões de ferro. Aquela irritação apenas aumentou, inflando com o descrédito que via nesse sujeito!

    - Isso não quer dizer nada!

    Ele quase riu de chacota.

    - Que tal aceitar a verdade?

    Arfou ofendida. Esse...

    - E que tal se calarem a boca?

    Parou no mesmo minuto, virando o rosto para Natsu junto de Gajeel. Ele que até então estava surpreendentemente quieto, mantinha o ar tenso. Erguendo os olhos do mapa, mirou entre as mechas para eles causando aquela mesma onda de arrepios.

    - Odeio concordar, mas Gajeel está certo. Vocês duas não vão aguentar uma viagem a pé nessa distância.

    - Mas...

    - Não insista, Loirinha. Mil quilômetros não são brincadeira. Alguma vez já caminhou uma distância dessas?

    Com essa pergunta se calou, antes que reclamasse. Natsu a olhava como forma de fazer entender, mas não conseguia apagar essa teima dentro de si. Era como se não acreditasse no potencial dela. Se sentia diminuída e não queria aceitar. De jeito nenhum.

    - Então o que vamos fazer? Ficar parados aqui?

    - Eu não disse isso.

    Outra olhada severa, mas... Dessa vez... Algo no tom dele fez com que o escutasse e a contragosto, recuasse nas respostas. Mirando o mapa, Natsu traçou um caminho, desviando da linha de trem seguindo região adentro.

    - Vamos cortar caminho atravessando esse prado, até a floresta perto das montanhas. Oshibana fica a sudoeste dali.

    - Diminuiria metade do trajeto.

    Gajeel analisou também e Natsu se endireitou.

    - Exatamente.

    Nesse instante, enxergou algo notável enquanto observava esses dois. Eles se detestavam, o que era fato. Mas quando o momento exigia cooperavam entre si. Parecia verdadeiramente que faziam parte de uma equipe.

    - Oh.

    Piscou confusa e mirou para o lado. Levy também havia notado o que viu. Tinha um ar admirado no rosto.

    - Parecem mesmo soldados.

    Mal comentou e ficou rubra de vergonha. Havia pensado alto. Natsu e Gajeel a olharam piorando o rubor da baixinha e rindo sem graça, Levy tentou disfarçar.

    - Não, quer dizer... Eu não quis...

    - Não faz mal, baixinha. Não passamos disso mesmo, não é Salamander?

    Voltando os olhos para Natsu, Gajeel sorriu debochado com um olhar subentendido. Natsu ficou tenso e não retrucou. Apenas absorveu a bola de chamas que segurava na palma da mão.

    - Vamos embora.

    Quebrando o quadro no que restou da mesa, retirou o mapa da moldura e saiu do cômodo enrolando-o nas mãos. O ar tenso que surgiu a deixou mais que nervosa e temeu que continuasse pelo resto da noite.

    Segurou um suspiro. A curiosidade sobre a insinuação do exterminador de dragões de ferro a deixava sem sossego, sem contar que se sentia esgotada. Ao longo do caminho, andaram por horas até saírem do campo e entrarem nessa floresta. Era fechada, com arvores altas de troncos robustos e vegetação rasteira. Constantemente tinha que vigiar para não tropeçar em raízes saltadas do chão.

    O único som além do uivo do vento e os passos dos quatros esmagando folhas e remexer o chão, era o ronrono do bichano nos seus braços. Happy tinha acordado quando encontraram a floresta. Reclamara de dor de cabeça, confuso com o lugar onde estavam. Até onde lembrava, estava em pânico dentro do trem pegando fogo. Lucy o acalmou no caminho junto de Levy e o gato azul havia voltado a dormir, resmungando sobre peixes.

    Isso em parte aliviou o clima pesado, mas só um pouco.

    - Será que falta muito?

    Piscou com a quebra de silêncio e olhou para a direita. A baixinha de cabelo azul tinha um ar cansado no rosto.

    - Eu não sei.

    Com seu tom, a outra a olhou por um momento desviando de um galho no meio da trilha.

    - Esse é o caminho mais curto. Tenho a impressão que vai amanhecer e ainda não saíremos dessa mata.

    Dando mais um passo, Levy vacilou por um momento e então caiu sentada.

    - Levy!

    Seu grito alertou os outros dois que se voltaram para trás. Não pôde ver como reagiram, apenas se aproximou da amiga, se abaixando perto dela. Se preocupou ao ver que a palidez era pior do que imaginava. Ela ofegava e mantinha os olhos fechados, como se concentrasse em apenas respirar.

    - Ei, baixinha. O que houve?

    Passos chegaram perto e logo Gajeel havia se agachado perto de Levy. Ele olhava para o rosto dela, notando o suor frio da mesma. Levy estava ao ponto de desmaiar.

    - Salamander.

    - Eu sei.

    Levantando o olhar, Lucy viu Natsu perto dela. Nem tinha percebido quando ele chegou.

    - O que foi?

    - Vamos dar uma parada. Amanhã, continuaremos.

    - Ah.

    Viu um movimento de soslaio e olhou em tempo de ver Gajeel segurar Levy, de um jeito que a aninhasse nele e se levantou, carregando-a nos braços. O gesto a deixou encabulada e surpresa. Foi... Um tanto inesperado e... Carinhoso. Piscou tentando se situar enquanto o outro se afastava e ouviu um risinho perto dela. Se voltou para o lado, vendo Natsu se divertindo às suas custas.

    - O que foi?

    - Você se envergonha muito fácil.

    Como se fosse possível ficou mais vermelha.

    - E..eu, eu não... Não corei de vergonha.

    Natsu estreitou o olhar, nada convencido.

    - Sei – ofereceu uma mão para ela – Vem.

    Emburrada, ajeitou Happy em outro braço e segurou a mão de Natsu... Só para cair praticamente em cima dele quando o mesmo a puxou para cima. Se espantou com a fraqueza nas pernas. Se ele não tivesse enlaçado sua cintura e recuado um passo, teriam ambos caído no chão.

    - O que?

    Como é possível? Suas pernas não respondiam direito. Sabia que estava cansada, o latejar constante nos membros mostrava isso, mas a esse ponto?

    - Pelo visto, temos outra exausta aqui.

    Natsu riu abafado e preferiu não ver seu ar sorridente. Sem surpresa, sentiu ele se abaixar e passar o outro braço atrás de suas coxas a erguendo do chão. Girando no lugar, Natsu seguiu um caminho, bem na direção que Gajeel foi e sentiu um mal estar tomando conta de si. Odiava isso, mas era verdade.

    - Deve estar feliz agora.

    - Como assim?

    Sem parar de andar, Natsu se embrenhou mais na mata.

    - Acabou de comprovar que tanto Levy como eu somos fracas.

    Ele suspirou alto.

    - Ainda chateada com aquilo.

    Se calou, apertou os lábios. Ele estava certo, mas não ia admitir. Nem ela mesma entendia direito por que agia assim. Andando mais calmo, como se retardasse a chegada para onde os outros estavam, Natsu a estreitou entre seus braços. Fazendo-a ter consciência de como o calor do seu corpo a envolvia e sem querer se arrepiou.

    - Entenda uma coisa: não menosprezo seu jeito, por como você é, muito menos sua condição física. Você não precisa ser como ela.

    Empalideceu. Sem querer seu coração martelou dentro do peito, acelerando ainda mais quando Natsu a trouxe para mais perto e teve que erguer os olhos para ele. Seus olhos a fitavam intensamente, sem desviar com uma certeza inabalável.

    - Acredite em mim, vocês não são iguais e não me importo nenhum pouco com isso. Não mais.

    A última parte, sussurrada, causou um prazer misturado em alivio.

    - Por... por que está me dizendo isso?

    Quase rindo ele tombou o rosto para o seu, a respiração morna a deixando mais tonta ao cobrir seu rosto enquanto fitava os olhos negros e calorosos.

    - Porque precisava. Loirinha insegura.

     Mal ofegou e os lábios mornos cobriram os seus. Pressionando ao se encaixarem nos seus, sem resistência. Ele engoliu seu ofego. A língua quente invadiu sua boca, envolvendo a sua numa carícia ao sugar seu lábio inferior com toda a calma. Sua cabeça girou desorientada com a falta de ar, havia esquecido de respirar. Natsu não lhe beijava atrevido, a beijava assim porque queria e podia. Na palma de  sua mão, que sem perceber havia agarrado com força o colete dele, sentia como o seu coração martelava. O ondular da respiração forte também a envolvia, afinal a segurava bem junto de si.

    Antes que se desse conta, num mordiscar ele se afastou apenas um pouco, fitando-a de perto ao encostar a testa na sua. De olhos semicerrados não disseram nada, não precisava. Ela entendeu muito bem. Se Gajeel e Levy não estivessem por perto, muito menos o Happy nos seus braços, Natsu a faria dele ali, nesse instante sem resistência alguma sua.

    ////////////////////////////////////////////////////

    No dia seguinte.

    Se sentia cansada, mesmo descansando não tinha coragem em se levantar, muito menos sair do torpor. Uma brisa, um tanto forte refrescava seu quarto. A deixava mais acordada. Também pudera, seu colchão parecia tão duro que juraria que dormia no chão.

    Espera. Chão?

    Mais desperta, abriu os olhos aos poucos e a primeira coisa que viu foi uma paisagem em borrões através de uma porta, tamanha a velocidade que percorria seja lá onde for estava. O vento vinha dali. Pra completar, todo o local sacolejava igual a um trem...

    Teve um estalo e rapidamente acordou. Se sentou, olhando abismada ao redor. Estava num vagão de carga, encostada num saco que servia de travesseiro e ao seu lado, Levy ainda dormia.

    - Como? Onde?

    - Finalmente acordou.

    Olhou para a voz e encontrou Natsu sentado do outro lado do vagão. Precisamente, perto da porta e parecia muito pálido.

    - Patético. Parece... Um porco vomitando.

    Mirou para a direita e viu Gajeel tão enjoado como Natsu. Suava frio ao ponto de se agarrar no beiral da porta de acesso também aberta do seu lado.

    - Não quero... Ouvir isso de você.

    Observando um e outro, sacudiu a cabeça se arrependendo em seguida. Seu pescoço estava duro. Provavelmente porque dormiu de mau jeito. Alias, quando foi que dormiu? Não lembrava.

    - Quando pegamos um trem?

    Respirando fundo, como para controlar a ânsia, Natsu fechou os olhos.

    - Assim que dormiram... Eu e o comedor de sucata...

    - Como é, maldito?

    - Cala a boca... Enfim, nós dois levamos vocês indo por outro caminho na floresta. Não iriam... Aguentar outro dia de viagem... Então... Chegamos à estação Kunugi. Tivemos sorte... Esse trem já iria partir.

    Gajeel fez um som repulsivo, antes de retrucar. Era claro o motivo por estarem próximos das portas.

    - Sorte, o caramba. ... Esse kusoyarou derrubou dois soldados enquanto arrombei o cadeado desse vagão. Merda.

    Lucy olhou bem no instante que Gajeel se dobrou pondo a cabeça pra fora da porta. Teve pena dele. Seja lá o que comeram não restou mais nada, eram apenas os episódios vazios de vômito e enjoo. Se perguntou por que não cheirava mal e viu um pedaço de pano na mão de cada um.

    Que bom.

    - Então... – olhou para Natsu vendo-o menos nauseado pelo visto – Agora chegaremos a Oshibana mais rápido.

    Assentindo ele confirmou.

    - Já estamos perto.

    Um semblante de alivio se passou nos rostos deles e preferiu ficar quieta.

    Natsu estava certo. Apenas uma hora se passou e já avistaram a cidade turística Oshibana. Assim que o trem começou a desacelerar, acordou Levy que se espantou ao ver onde estava. Ela não tinha muito tempo para perguntar. Apenas acordou o suficiente antes de saltarem do trem, afinal eram clandestinos.

    Pelo fato de Natsu e Gajeel estarem fracos pelo enjôo, esperaram o trem parar quase totalmente e pularam na plataforma de pedra do terminal. Por sorte, ninguém os notou e se esconderam como puderam entre a multidão. O terminal estava abarrotado. Abraçando Natsu pelo tronco, pôs um braço dele sobre seus ombros do mesmo jeito que Levy fez com Gajeel. O máximo que conseguiram ir com eles foi até a praça da Estação.

    Ambas sentaram nos bancos de madeira, largando os dois ao seu lado e ofegaram de alivio. Esperaram por um tempo até os rapazes se recuperarem e assim que aconteceu, uma hostilidade, aquelahostilidade estalou no ar. Se erguendo do banco, Gajeel encarou Natsu com um ar superior.

    - Muito bem, Salamander. Agora é cada um pro seu lado.

    Natsu apenas devolveu com um olhar frio, sem dizer nada. Parecia que uma trégua havia sido feita e acabada ali mesmo. Eles não iam mais se aturar. Levy olhou desconcertada para ela, sorrindo sem graça. Se sentia igual, não podia culpa-la.

    - Até mais, Lu-chan. Quem sabe a gente se vê.

    - Clar...

    - Eu espero que não.

    Se virou indignada para Natsu. Ele a cortou no meio da frase, ainda por cima sustentando uma carranca fria. Não para a amiga, mas para o acompanhante dela. Faíscas saltaram no choque de olhares de raiva e Levy ficou pálida, sem perceber se escondendo atrás de Gajeel. Obvio que o outro não gostou.

    - Qual é o seu problema?

    Natsu apenas se endireitou no banco o encarando sério. Ela conhecia esse olhar. Rápido o agarrou pelo braço, o toque surtindo efeito quando o mago desfez o olhar mal encarado. Se levantando, ele a agarrou sua mão a levando para longe. Apenas deu um aceno desajeitado para Levy, enquanto tentava acompanhar os passos apressados de Natsu.

    Sinceramente, estava com vergonha desse comportamento infantil. Dos dois.

    Assim que desceram a escadaria da Estação entraram na avenida principal, lotada de pessoas. Natsu diminuiu o aperto em sua mão, caminhando mais devagar, sem arrasta-la. Desse modo, pôde admirar ao redor. Era estranho, a cidade por onde qualquer rua andassem estava enfeitada. Haviam barracas de comidas e bugigangas. Pessoas de outras localidades de acordo com o sotaque que falavam.

    O mais interessante eram os desenhos semelhantes espalhados nos efeites. Nas bandeirolas de papel de seda colorido, eram figuras de criaturas aladas, outras com chifres. Nos desenhos pintados nas paredes e o chão, representações de batalhas, de um tipo de folclore. Era até divertido, foi quando notou uma multidão aglomerada numa praça.

    - Natsu, o que será aquilo? Vamos lá ver!

    Ele estranhou um pouco e deu de ombros. Por que não? Tinham um tempo até se encontrarem com o cliente do pedido. Se aproximaram até abrir um caminho por entre as pessoas e sem perceber, de repente, Lucy esbarrou nas costas do mago. Ele havia parado de andar e nem a avisou.

    - Ei, por que parou?

    Esfregou o nariz. Doía, oras. Demorou em notar os cochichos por perto. Olhou em volta e notou algumas pessoas a olharem espantadas, outras bem confusas, mas ao todo era o mesmo ar de surpresa. Assim que as flagravam desviavam o olhar, mas voltaram. Chegando ainda a apontar descaradamente para ela. Espere.

    Não era somente para ela. Eram para Natsu e ela.

    Incomodada, olhou sobre o ombro do mago estranhando porque ele havia ficado quieto e ao mirar adiante, entendeu o motivo. Seu queixo caiu, com certeza empalideceu e seus olhos aumentavam de tamanho sem acreditar no que via.

    Havia uma estátua, uma escultura de mármore representando três figuras. Três pessoas que ela reconhecia facilmente apesar da cor monocrática da pedra. A do lado direito era de um rapaz de longos cabelos selvagens, expressão carrancuda. A do lado esquerdo outro rapaz, seus cabelos bem mais curtos e repicados para todos os lados. Ambos usavam o mesmo tipo de roupa. Botas de cano médio, calças largas e camisas por debaixo de coletes e sobretudos. Antiquados e ainda sim reconhecíveis. A figura central representava uma garota. Seus cabelos soltos e compridos, usava um vestido curto para a moda da época com certeza. As mangas eram separadas da roupa e farfalhantes, mas não deixava de mostrar o que ela segurava em uma das mãos. Três chaves entre seus dedos.

    Piscou atordoada. Não é possível, era? Eles... Eles eram?!

    - Natsu, o... O que significa isso?

    Ele não respondeu. Estava tão embasbacado como ela. Sabia que havia esquecido algo importante, mas não imaginava que seria daquela magnitude. Num pequeno palco, um homem de meia idade acenou pedindo silêncio. Estava muito bem vestido, poderia ser o prefeito da cidade pela quantidade de seguranças ao seu redor. Ele abriu os braços de modo amplo, iniciando seu discurso.

    - Povo de Oshibana! Em homenagem ao aniversário desta cidade, finalmente entregamos essa obra em tributo a esses heróis, que livraram no passado nosso lar da ameaça de Zirconis, o dragão de Jade. O Time Hono to Tetsu!

    O povo gritou extasiado enquanto que Natsu franzia o rosto. Exasperado e no fundo, um pouco apavorado. Havia se esquecido por completo disso!


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