A paixão do capitão de gelo

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    Capítulo 22

    Duas Espadas

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Jigoku

    A “prisão” para as almas que são exiladas de Soul Society. Dividida em níveis seus territórios são patrulhados pelos guardiões demônios, Kushanadas. Esses seres possuem uma aparência peculiar. Seu corpo é dividido em duas partes separadas. A primeira é sua cabeça. Um crânio esqueleto com a parte posterior alongada e sem a mandíbula. Seus olhos são luzes brilhantes e não há um pescoço ou vértebras que o liguem ao corpo. O crânio simplesmente flutua sobre e entre os ombros. A segunda parte é o resto do corpo. Seus braços e pernas são musculosos e apresentam um tom arroxeado. Seu peito também arroxeado é unido ao quadril por uma coluna vertebral. Além disso, uma armadura fixada recobre seu ombro direito.

    O comportamento de um Kushanada é aleatório, possuindo basicamente três funções. A primeira é monitorar e devorar os intrusos no Inferno, podendo ser em parte ou o corpo todo. A segunda é torturar as almas condenadas também devorando-as até que seus corações e suas almas despedacem. Depois de tanto renascerem nos poços gigantes de lava. E por ultimo é encontrar os pecadores no Mundo dos Vivos, espetando-os com sua lâmina até arrasta-los para o Inferno.

    O Kushanada é a personificação do horror e da justiça em Jigoku. Não há nada que possa pará-los. Mesmo ferindo e decepando seus membros, como parte de seus braços, esse guardião demônio continua com seus deveres. Arrastando pelas correntes o Pecador que encontra, tornando seu corpo intangível ao ponto de atravessar paredes e pedras. Ele não cessa até alcança-lo e devora-lo.

    Esse ser é uma das principais razões para que os Pecadores temam o Inferno.

    HISTUGAYA POV

    - Vamos!

    Todos saltaram ao meu chamado. A distância dos tablados flutuantes até os primeiros blocos de pedras era enorme. O vento sacudia meu cabelo e meus kimonos. As zanpakutous em minhas costas porem permaneciam firmes no lugar. Devia me sentir estranho. Afinal de contas, You Ou não me pertence. Apenas me deixou temporariamente carrega-lo. No entanto, havia uma sensação estranhamente confortável. Como se não apenas a mim estivesse normal com a situação, mas Hyourinmaru também. Pousei em cima de uma pedra, vendo pela visão periférica os outros também aterrissando nos blocos ao meu redor. Saltamos outra vez e caímos na via azul.

    Quando o ultimo pousou comecei a correr incitando os outros. Segundos depois Kenpachi logo me ultrapassou e atrás dele Madarame e Ayasegawa. Arfei incomodado. Apesar do poder que possuem o interesse deles em invadir o Inferno era bem diferente do meu. De repente, percebi alguém ao meu lado. Reconheci a reiatsu e suspirei. Urahara.

    - Kenpachi pelo visto quer começar logo a batalha.

    Nem me incomodei em esconder meu desagrado. Estava me concentrando mais no caminho. Essa avenida azul se estendia longíqua entre essas pedras cinzentas, com a cada poucos metros vias paralelas seguiam em outros caminhos. Aqui era um verdadeiro labirinto.

    - Foi a única razão para que viesse.

    Nesse instante, consegui ouvir gemidos e tilintares de ferros. Observei de soslaio sem parar de correr e estreitei o olhar, confuso. Homens e mulheres, vestidos com uma roupa cinzenta e listrada olhavam para nós com um ar vazio... Distante. Em seus pulsos e pescoços correntes enferrujadas e elos quebrados. Urahara também observou e estreitou os olhos como eu.

    - Togabitos.

    - O comportamento deles é estranho.

    Kyouraku que estava atrás com Hirako chegaram mais perto. A desconfiança era clara em seus rostos.

    - Abarai.

    - Hai?

    O tenente se espantou quando o chamei. Ele corria atrás de seu Capitão, que alias permanecia calado o tempo todo. Ainda não compreendo o que Kuchiki fazia aqui. Suspirei me concentrando mais. Agora não era hora pra isso. Dei outra olhada de viés para os Pecadores. Eles ficavam entre os espaços desses enormes blocos de pedras, acima e abaixo, observando com ar apático. Então vi algo que me espantou. Três deles estavam prostrados no chão e salivando. Seus olhos revirados enquanto agarravam os cabelos. Me recompus um pouco do susto.

    - O que sabe desse nível?

    Ouvi um suspiro e continuei correndo a frente. (Mesmo que Kenpachi tenha disparado com seus oficiais).

    - É a entrada e o primeiro nível do Inferno. A maioria dos Pecadores vive aqui.

    Um arquejo de descrença. Hirako

    - Vivem? Eles parecem vaguear por essas pedras.

    - Porque não atacam?

    Kyouraku questionou olhando para os lados. Era muito estranho apenas sermos observados. Éramos intrusos. Se fossem em Soul Society ou em Hueco Mundo a essa altura já haveria batalha. Antes que o tenente respondesse, Kuchiki se pronunciou.

    - A grande maioria já foi torturada inúmeras vezes pelos guardiões. Não possuem mais vontade de lutar e se rebelar.

    O encarei surpreso. Kuchiki olhava a frente impassível. Antes que perguntasse como sabia disto (pois seu tenente era o único de nós que já esteve aqui) um som grave vibrou no ar. Ele ecoou estremecendo as pedras. Franzi as sobrancelhas e parei derrapando junto com os outros. Olhamos ao redor, tensos e procurando. O som vibrou outra vez, fazendo os pelos em minha nuca se eriçarem.

    - O que é isso ?

    O louro debochado sussurrou. Acima de nós chiados de agonia e desespero chamaram minha atenção. Levantei o rosto e minha desconfiança aumentou. Todos os Pecadores que nos observavam fugiam, se escondendo. O som grave ecoou mais uma vez e a via azul onde estávamos estremeceu de impactos seguidos e desajeitados. Como se algo gigante andasse por aqui.

    - Kushanada.

    Virei o rosto para a Abarai. Ele suava frio apertando os dentes. De repente, um grito ecoou e viramos o rosto na direção. Algo à nossa direita vinha de longe veloz. Estreitei o olhar e arfei. Era Madarame e ele voava de costas para cá, como se algo o tivesse atirado. Saltamos pra longe desviando, surgindo no shunpo em diferentes blocos de pedras ao redor dessa via. Madarame caiu se arrastando nela. Segurando sua zanpakutou embainhada numa mão, seu braço esticado para trás. Ele firmou os pés na via derrapando e freando sua queda. Xingando, sumiu no shunpo aparecendo ao meu lado e arfou de raiva.

    - Ikkaku!

    Alguém gritou. Abarai.

    - Kuso! Aquele monstro apareceu do nada!

    Arregalei os olhos. De repente, o som grave ecoou mais perto. A pedra sob meus pés estremecendo com uma reiatsu demoníaca se agigantando sob nós. Urahara arquejou espantado.

    - Saltem!

    Todos em cima do bloco pularam pra longe, um segundo depois uma mão imensa arroxeada atravessou o concreto. A palma aberta para nos agarrar. Apertei os dentes e sumi no shunpo, saltando de bloco em bloco para longe. Caí outra vez na via azul e voltei a correr. O som grave ecoou alto, me deixando surdo com o barulho. Droga! Atrás de mim Urahara, Madarame e Abarai me seguiam. Os Kushanadas nos encontraram! Os outros taichous continuaram onde estavam, disparando acima de nós pelos blocos ao nos acompanhar. Atrás de mim Madarame arfou irritado.

    - Por que esse bakemono está nos seguindo?!

    Os impactos soaram atrás de nós. A via azul e os blocos de pedra estremecendo. Arquejei sob o fôlego.

    - Apenas corram!

    Ao longe uma risada ensandecida se misturava com os sons dos Kushanadas. Respirei com o fôlego queimando. Kenpachi... um estrondo estremeceu essa floresta de pedras e vi distante uma nuvem cinzenta se levantar. Com certeza o taichou do 11º bantai derrubou um dos Kushanadas. Enquanto corria, à direita uma sombra gigante se levantou. Encarei de soslaio, vendo uma caveira alongada e as luzes nas orbitas girando ao me focar. Estremeci irritado. Outro guardião demônio ainda se erguia (sabe-se lá de onde) enquanto nos distanciávamos. O som grave ecoou vibrando no ar enquanto uma sombra apareceu acima de nós. Saltamos no shunpo. Um segundo depois um estrondo soou às nossas costas.

    Fiz um esgar, a via azul por onde corríamos foi destruída.

    - Hitsugaya taichou! Para onde estamos indo?

    Madarame gritou enquanto saltávamos dos blocos e caímos novamente na via. De repente, um Kushanada se ergueu diante de nós. Arregalei os olhos. Não havia como desviar.

    - Nake, Benihime!

    Um relâmpago de reiatsu escarlate disparou acertando o guardião no peito. O impacto o jogando para trás. Pousamos em cima do ombro gigantesco e saltamos mais uma vez. Ao longe o riso ensandecido de Zaraki ecoava junto aos gritos. Os Togabitos com certeza estavam sendo devorados. Pousei num bloco de pedra e corri para a beirada. Aos meus lados Kyouraku, Hirako e Kuchiki apareceram me seguindo.

    - A quantidade só aumenta!

    Hirako reclamou. Não tiro sua razão. Com reiatsus densas, sendo uma de um Vaizard e outra Assassina atraíamos mais e mais Kushanadas até nós. Escutei outro estrondo e a onda de impacto espalhou a poeira cinzenta. Zaraki pelo visto derrubava todo guardião que aparecia em sua frente. No entanto... Estávamos perdendo tempo. Travar lutas nesse nível apenas nos desgastariam, além do miasma do Inferno pesar em minha volta.

    Era absurdo!

    A atmosfera tinha a densidade de uma nuvem de veneno e Karin estava aqui havia horas! O som grave vibrou outra vez. Saltei da beirada do bloco caindo na passagem escura. Enquanto encarava uma via azul paralela os blocos de pedra à minha esquerda explodiram. Os escombros voaram para longe, levantando poeira enquanto um braço enorme se esticava. Kuso! Isso estava mais complicado do que imaginava. Sumimos no shunpo, aparecendo numa via mais abaixo. Aqui era mais escuro, porem ainda estávamos no caminho. You Ou me disse que devia seguir para o leste. Corri disparado, ignorando os olhares dos Pecadores em ambos os lados das pedras. Acima de mim outra via azul se estendia, como uma passarela. Ouvi outros estalos do shunpo e todos agora corriam atrás de mim.

    Acho que entenderam que de algum modo, eu sabia do caminho. Ofeguei por causa da corrida, minha respiração queimando enquanto estreitava os olhos.

    Para onde?

    Segundos depois You Ou me respondeu.

    Direita.

    Entrei numa via paralela e depois a voz de tenor voltou.

    Agora esquerda, depois direita de novo.

    As indicações eram precisas e urgentes. Enquanto corria, entrando em mais uma dessas passarelas intrincadas vi ao longe um abismo. A via azul por onde passávamos acabou. Acelerei estreitando o olhar. Mais um pouco... Quando alcancei o fim do caminho saltei acompanhado dos outros. Enquanto caíamos no abismo que ficava entre a floresta de pedras, uma explosão soou acima de nós. Levantei o rosto com os outros, o vento uivando em meus ouvidos ao me açoitar pela queda livre. Zaraki caía junto de Ayasegawa. O sorriso empolgado dele mostrando o quanto estava se divertindo. Atrás dele, um Kushanada tombava de costas, seu braço decepado e as vértebras enormes de sua espinha dorsal caindo soltas no abismo.

    Arfei voltando o rosto para baixo. Encarando a névoa cinzenta.

    - Agora para onde vamos?

    Madarame gritou e ao meu lado Kyouraku respondeu, sua mão segurando seu chapéu de palha como Urahara fazia com o seu.

    -  Ao segundo nível, creio.

    O tom de voz dele foi risonho. Claro, a pergunta do 3º oficial foi redundante. Ele, Abarai e Hirako estavam um pouco acima de mim, enquanto Kuchiki e Kyouraku e Urahara à minha direita e esquerda. Dei uma olhada furtiva para o capitão do 6º bantai. Seu olhar estreitado, o semblante fechado. Quem visse isso diria que estava contrariado por quebrar uma regra de Soul Society, mas na verdade ele estava preocupado com outra coisa. E entendi a respeito do que era.

    Os nossos inimigos. Como será que agiriam? O fato de abrirem o portão para entrar em Soul Society significava que estavam preparados. Portanto, não estávamos lidando com um punhado de Togabitos rebeldes. Esses Pecadores... se preparam muito bem para isso e significava que no mínimo, a fortaleza deles era bem guarnecida.

    Mal concluí esse pensamento e entramos na névoa cinzenta. O vento açoitava mais meus cabelos e minhas roupas. A umidade daqui criava transpiração em meu rosto. A queda durou minutos. Essa passagem do primeiro ao segundo nível era gigante. De repente, o uivo ficou mais alto e então a névoa se abriu. Pisquei arregalando os olhos. Abaixo de mim um mar azul cobria toda a extensão desse nível. A imensidão de água apenas era interrompida por gigantes lírios de pedra. As “construções” abertas como as próprias flores.

    Aterrissei curvado na beirada de um lírio. A pedra avermelhada sob meus pés. Urahara pousou à alguns metros de mim e Kyouraku e Kuchiki aterrissaram em cima de uma... pisquei varias vezes, uma caveira de um esqueleto gigante. Os ossos atravessados por uma lâmina também enorme ficavam no centro do lírio. A parede curvada e redonda possuía metros e metros de altura. Mas o que me causava espantos foi a ossada. Eram os restos mortais de um Kushanada.

    Uma pequena nuvem de impacto (o fundo do lírio-cemitério era poeirento) me fez encarar abaixo. Pelas reiatsu eram Abarai, Madarame e Ayasegawa. Zaraki caiu por ultimo aterrissando na parte alongada do crânio do esqueleto. Longe dos outros capitães.

    Olhei em volta franzindo o rosto ao me endireitar.

    - Isso é estranho.

    Urahara comentou atraindo minha atenção. Com sua zanpakutou abaixada, sua cabeça inclinada formando sombra em seus olhos, ele mirava a frente com um ar serio. Suspirei olhando mais uma vez em volta.

    - Não há um único som. Sequer de uma brisa.

    - Trata-se mesmo de um cemitério.

    Olhei para a esquerda. Hirako andava até nós observando de soslaio. Suspirei encarando o vazio. Durante toda essa confusão, os ataques e a suposta morte de Karin ainda não havia tido tempo e nem oportunidade para perguntar. De todos que vieram comigo, havia uma pessoa que não deveria faltar. Alias, sua ausência causava estranheza em todos. Pude perceber.

    - Urahara.

    - Hai?

    Suspirei outra vez, estreitando o olhar para o vazio.

    - Por que Kurosaki não estava com você quando chegamos? A situação dele... é tão grave assim?

    Voltei o olhar para a direita. O ex-shinigami piscou encarando a pedra avermelhada. Hirako que estava quieto ao meu lado cruzou os braços esperando. Pelo visto ele também estava preocupado.

    - O golpe que o Togabito fez em Kurosaki-san no ataque de mais cedo atingiu seu “espírito dormente”. Isso afetou o centro de sua reiraku.

    Arfei chocado. Por isso que naquele momento sua reiatsu caía...

    - Então ele perderá os poderes outra vez?

    Hirako piscou, respirando fundo e apertando os braços cruzados. Pelo seu tom, a preocupação era palpável demais. Igual a mim. O irmão de Karin não merecia isso. Não outra vez. Suspirando Urahara ajeitou seu chapéu.

    - Não. Apesar do ferimento, não foi bem feito. Socorri a tempo antes que a situação piorasse. Tessai e Inoue-san estão cuidando do pôs-tratamento.

    Pisquei aliviado pensando no porque disso. Porque atacaram Kurosaki. Me olhando de soslaio Urahara continuou. Ele percebeu minhas duvidas.

    - Conversei com Kuchiki-san depois que a noticia do ataque dos Togabitos em Soul Society chegou até nós. – se voltou para mim – Segundo ela, quando Kurosaki-san invadiu o Inferno há cinco anos um dos Kushanadas emprestou seu poder de julgamento à ele.

    Arregalei os olhos junto de Hirako.

    - Como foi que disse?

    Olhando para o mar Urahara continuou. Sua expressão calma como se estivesse falando algo corriqueiro.

    - Parece que enquanto um Togabito incitava a hollowficação de Kurosaki-san, vários guardiões o cercaram atraídos pela reiatsu distorcida. Enquanto se rebelava retomando o controle sobre si, um Kushanada invés de apanha-lo se desfez em energia espiritual, transformando-se numa espécie de armadura.

    Nos encarou, alheio ao nosso choque.

    - Isso lhe deu poder de destruir as correntes do Inferno e acorrentar o Pecador outra vez. Além dos Kushanadas que o cercavam o tratando como igual. Cessando o ataque.

    Franzi o cenho.

    - Então queriam evitar isso.

    - A sobreposição de Garganta e a passagem de Jigoku, a sabotagem da pesquisa de Kurotsuchi e este ataque à Ichigo...

    Levantei o olhar para Hirako, seu semblante sério dizendo que pensava o mesmo que eu.

    - Estes detalhes foram elaborados por alguém com conhecimento sobre ciência espiritual.

    - A questão é porque tomariam todo esse cuidado.

    Engoli em seco. Estremecendo involuntariamente enquanto apertava os punhos e lembrei do que o Togabito me disse na Prisão Central.

    - Há muito tempo que Shuren-sama planejou isso, taichou-san! Pela glória de nos libertar! Mesmo que demore mais um pouco ele vai conseguir! Sua mulherzinha vai nos dar esse presente!

    O pânico que sentia, justamente pela ultima frase aumentou ainda mais. Eles queriam.... de todos os modos... garantir a permanência de Karin no Inferno.

    HITSUGAYA POF

    No salão oriental, Pecadores atacavam as paredes de gelo que recobriam todo o espaço do centro. O frio congelante predominava o ar, junto com a névoa branca que subia das paredes e do chão. Shuren arfava possesso. Estremecendo de ódio enquanto encarava os pilares de gelo. Estava tão perto, tão perto de realizar sua ambição e esse dragão maldito apareceu. Fechou a mão em punho. Uma labareda em forma de lança explodindo e espantando os Pecadores ao redor. Ele havia aguardado esse momento por anos. Esperando que a pirralha crescesse e pudesse carregar seu herdeiro no ventre que seria a salvação pra esse sofrimento. O tormento que vivia há séculos.

    Essa criança terá a singularidade de pertencer a dois mundos. Sendo gerada dentro da shinigami não teria correntes prendendo-a no Inferno e como possuía sangue de um pecador misturado ao da garota, o poder que teria seria imenso. Ela era irmã de Kurosaki Ichigo e portanto, carregava parte daquele poder monstruoso. Depois que essa criança nascesse, a treinaria e criaria com a mentalidade do pai. De que Pecadores devem ser libertos do Inferno e sendo filho de um, quebraria as correntes.

    Syazel fora bem claro. Havia chances que esse híbrido fosse acorrentado e no processo mataria a mãe no parto. Contudo, poderia ter sucesso também e era nisso que acreditava. Séculos tentando escapar de Jigoku esgotaram suas chances. Ele apenas via essa saída. Não cometeria outra vez o erro de obrigar Kurosaki Ichigo a ajuda-lo. O maldito o destroçou com aquele relâmpago negro de reiatsu, sem contar que os Kushanadas o trataram como merecedor do poder de julgamento. Kokutou foi acorrentado no nível mais profundo por enganar o Inferno. Não. Definitivamente ele não cometeria esse erro.

    As correntes seriam fáceis de quebrar e então fugiriam de uma vez por todas do Inferno.

    No principio era apenas uma obrigação. Uma meta a ser alcançada, no entanto, a menina ficou mais atraente do que podia imaginar.

    Ela era forte, determinada e rebelde. O tipo de vítima que apreciava perseguir enquanto estava vivo, no entanto, havia aquele ar inocente envolta dela. Ampliado pelo cheiro agridoce que exalava. Crevar estava certo, era delicioso. E por um momento, sentiu direto da pele macia dela. Arrepiada de terror. Estava tão delirante de desejo que não notou a pressão espiritual pulsar da garota. Uma energia totalmente diferente da dela e em seguida, o dragão serpente brotou do nada e o atirou para longe. Sem dando tempo de reagir enquanto a envolvia num casulo de gelo feito da própria cauda.

    Maldição! Isso não devia ter acontecido! Ela devia estar incapaz de usar reiatsu alguma. E agora esse ser surgiu impedindo seus planos. Para completar invocou esses pilares congelantes, que não derretem por mais que queimasse com suas chamas. Garogai e Taikon tentavam quebra-lo há uma hora e nenhuma rachadura! Apertou o punho com a labareda. O fogo explodia e queimando ao redor.

    Acalme-se... Haveria um jeito. Ele não desistiria tão fácil. Até porque, depois que a menina tivesse seu híbrido, um ser tão forte como seu irmão para quebrar as correntes, a manteria como sua consorte. Sua escrava pessoal. Há muito tempo que não desejava isso.

    Retomando o controle saiu do salão entrando no corredor lateral. Os pecadores quando o avistaram se afastaram temerosos. Ignorou totalmente. Caminhava a passos largos direto para outra câmara dessa montanha. Szayel teria que lhe explicar como isto estava acontecendo e lhe dizer já como resolver. Ao entrar num salão adjacente (servia apenas de ligação entre as câmaras orientais e oeste) um vulto negro surgiu ao seu lado. Shuren não parou de andar, a raiva ainda nadava em suas veias com a frustração.

    - Seja rápido Crevar. Não estou de bom humor.

    - Há cerca de uma hora nove shinigamis invadiram Jigoku meu senhor.

    Parou de rompante espantado. Se voltando para o hollow estreitou o olhar, seus punhos faiscando de raiva.

    - Como disse?

    Se curvando sem se intimidar o Vastor Lorde continuou.

    - Eles conseguiram cruzar o portão enquanto Keitou era pego pelo Kushanada. Estão agora no segundo nível.

    Suspirou fundo, tentando se controlar.

    - Aquele shinigami está com eles?

    Crevar assentiu, sabia de quem seu senhor estava falando.

    - Hai. Cinco capitães da Brigada e mais outros três com o mesmo nível de reiatsu. Dentre eles, há um com poder similar ao do shinigami daikou.

    Shuren retomou sua caminhada. Atrás dele Crevar o acompanhou. Eles entraram num túnel subindo os degraus largos e avermelhados de pedra. As chamas que queimavam nos buracos nas paredes iluminavam fracamente o lugar.

    - Isso é relevante. O único que possui alguma influencia dos guardiões é Kurosaki Ichigo e ele não poderá fazer nada.

    - E quanto à eles meu senhor?

    Shuren suspirou. Reprimia a luxuria enquanto pensava racionalmente. Era um excelente líder em questões táticas. Por isso conquistou a posição que ocupava atualmente neste Vale.

    - Deixe que cheguem até aqui. Os poços de lava amarela queimam todo aquele que a tocar. Além disso, os Kushanadas nos ajudarão.

    Olhou sobre o ombro.

    - Mande alguns Pecadores. Distraia-os o suficiente para que os guardiões os peguem. Se forem mortos, serão acorrentados como nós.

    Sorriu de prazer.

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    Os passos e os tilintares de correntes soaram enquanto as chamas nas paredes, de repente, queimaram mais fortes. Syazel curvou os lábios de ironia. Com toda calma girou na cadeira em que estava sentado encarando os visitantes. O defunto de cabelos azuis e o Vastor Lorde Negro andavam determinados para cá. Sorriu mais irônico. Seu laboratório ocupava a maior câmara da montanha de ossos. Os equipamentos trazidos de Hueco Mundo, do Palácio de Las Noches, tomavam todo o espaço. Bom, o defunto o obrigou a ser seu escravo, então o mínimo que poderia fazer era montar um laboratório decente. De preferência um que fosse igual ao que possuía em Hueco Mundo e o Vastor Lorde foi obrigado a buscar para que montassem aqui.

    Os dois de repente sumiram aparecendo a meros passos dele. Syazel engoliu uma risada ao se curvar para seu senhor. Pelo sangue no abdômen e o queixo arroxeando, o defunto teve um tanto de trabalho ao se divertir com a pequena shinigami.

    - Shuren-sama... A que devo a honra de me visitar?

    O Pecador soltou um pequeno rosnado. Isso o intrigou, mas continuou calado.

    - Poupe-me do seu sarcasmo Espada. Quero me explique porque a garota ainda usa poder espiritual.

    Tudo o que fez foi levantar a sobrancelha.

    - Como?

    De repente, seu pescoço foi agarrado. Sufocando-o. Levantando devagar, sentindo sua garganta lentamente ser esmagada, mirou os olhos do seu senhor. O Defunto estremecia de raiva e... que droga! Tinha muita força e nem se esforçava em estrangula-lo.

    - Não esgote minha paciência. Quero saber por que a corrente no pulso dela não está funcionando.

    Tossindo e sufocando, Syazel segurou o pulso de Shuren tendo o atrevimento de esboçar um sorriso. Vendo, o Pecador se irritou ainda mais. Os dedos se cravaram com mais força em sua garganta. Tossindo, Syazel tentou explicar.

    - A corrente... que pus nela... está funcionando meu senhor. Ela não pode... usar seu próprio poder.

    Um movimento a sua esquerda chamou sua atenção. O Vastor Lorde se aproximou.

    - Está dizendo que Shuren-sama é mentiroso?

    Syazel soltou um riso engasgado. Shuren estava se irritando. Enquanto agarrava o pescoço do ex-Espada sua palma pegou fogo. Mas invés de gritar, o maldito riu ainda mais. Rosnando de raiva levantou o homem pelo pescoço e então o atirou. Syazel voou pela câmara até se chocar com uma coluna de metal, os chiados saindo com o rombo do seu choque. Porem, ele não se importou. Com os cabelos rosados no rosto, passou a mão no queixo, limpando o sangue que escorria. Devagar se levantou, consciente do Vastor Lorde que sumiu no Sonido.

    Antes de Crevar perfura-lo com suas foices (seus braços viravam laminas de ossos afiadíssimos) desapareceu surgindo junto ao monitor bem ao centro da câmara. Uma reiatsu distorcida vinha em sua direção e com toda calma, ainda digitando num teclado do console, agarrou o punho de sua zanpakutou. Um deslocamento de ar às suas costas o alertou e sacou a espada. Estendendo a zanpakutou para trás. O fio da lâmina estava a centímetros do pescoço do hollow, enquanto a foice do braço deste apontava em suas costelas. Se um se mexesse, mataria o outro.

    Syazel quase riu e olhou debochado sobre o ombro. A expressão de fúria contida no Vastor Lorde era impagável.

    - Não tão depressa, Crevar. Assim acabaria com seus planos.

    Sussurrou estreitando o olhar. Como esperava, o hollow estremeceu de ódio.

    - Do que está falando?

    Syazel sorriu de ironia.

    - Se morrer aqui, será acorrentado como eu. E nós dois sabemos que não é isso que quer.

    Suspirando de raiva os dois se encararam por um longo minuto então se afastaram. Shuren que estava no mesmo lugar assistia esse confronto intrigado. Ele sabia muito bem que ninguém possui uma lealdade cega no Inferno. Tudo era questão de poder. E por isso, sempre se mantinha reservado quanto ao Vastor Lorde. Contudo, resolveria isso depois. Tinha coisas mais urgentes em que se preocupar. Sumiu aparecendo perto dos dois. Diante do console prateado, o Espada apertou uma ultima tecla e então a imagem no monitor mudou. Shuren estreitou os olhos para a tela. Mostrava uma cena que o encheu de raiva. O shinigami de cabelo branco com um dragão serpente de gelo girando ao seu redor.

    - Está falando desse tipo de poder, meu senhor?

    - Menos sarcasmo Syazel. Senão o mato já.

    O Espada ficou calado porem um vazio de raiva o corroeu por dentro. No Inferno, ninguém morre de fato. Leva anos para isso acontecer. Reviver nas profundezas não estava nos seus planos. Quando renasceria o híbrido já teria quebrado as correntes e ele continuaria preso aqui.

    - Apenas uma simples pergunta.

    O defunto suspirou, percebeu em sua expressão sua raiva aumentar.

    - Sim.

    Voltando os olhos para a tela, Syazel abriu mais duas janelas. Nelas continham informações de quando examinou a shinigami ao chegarem da encursão. Dando um zoom na imagem, o ex-Espada explicou.

    - Esse poder é a zanpakutou do Capitão do 10º Bantai, Hyourinmaru. A forma de liberação dela é esse dragão de água e gelo.

    Shuren estreitou o olhar, de repente compreendendo.

    - Então...  a reiatsu que senti emanar da garota...

    - Não é dela. – Syazel completou desdenhoso e passou para a próxima janela que abriu – É espantoso, mas de alguma forma o Taichou do 10º esquadrão ligou sua alma com a da shinigami. Isso permite que seus poderes, ou seja, as entidades de suas zanpakutous possam habitar em ambos.

    De repente, uma dor excruciante o tomou entre costelas. Syazel inclinou o rosto para baixo, estremecendo e cuspindo sangue. Uma lâmina de fogo estava cravada em suas costelas e no punho, uma mão algemada a segurava.

    - Por que não disse isso antes?

    A voz de Shuren era calma ao contrario da chama que lhe queimava por dentro. O ódio o corroeu por essa dor.

    - Não achei necessário.

    A lâmina se cravou mais dentro dele, o fazendo gemer. Se apoiou no console, se recusando a desmaiar. Humilhação era algo que não suportava. Ofegando continuou.

    - A ligação entre eles... é recente... e a zanpakutou desse capitão... não tinha acesso ao interior dela.

    Estremeceu o encarando. Shuren estreitou o olhar. Isso demonstrava que prestava atenção.

    - O senhor me mandou que a preparasse imediatamente... Não tive tempo de curar suas feridas... muito menos criar outra corrente que inibisse todos os poderes que a menina tinha... O dela e do capitão.

    A lâmina de chamas saiu de dentro dele. Queimando e abrindo mais a ferida. Syazel apertou os dentes de ódio enquanto se debruçava no console. Sentia o sangue escorrer, manchando suas roupas já gastas. A sorte que possuía rápida regeneração. Logo o ferimento se fechava, mas levaria horas pra se recuperar. Maldito defunto!

    - Então o que me sugere Syazel?

    - O dragão tomou todo o salão oriental com pilares de gelo. Nada destrói essa muralha.

    Ainda ofegando se endireitou. Então era esse o motivo da confusão há uma hora. Pela reação do defunto o dragão atrapalhou sua diversão com a menina. Teve vontade rir. Queria muito ter visto isso.

    - A shinigami está dentro da muralha de gelo, correto?

    - Óbvio que sim.

    Ajeitando os cabelos suados, os jogando para trás suspirou. Se virando para o defunto empurrou os óculos sobre o nariz, dando um mínimo sorriso.

    - Então só uma coisa há fazer.

    HITSUGAYA POV

    Para se chegar ao terceiro nível tínhamos que mergulhar nesse mar. A grande massa de água era do mesmo tamanho da passagem de névoa entre o primeiro e segundo nível. Depois daquela conversa com Urahara e Hirako todos saltamos do lírio-cemíterio. A velocidade do mergulho facilitou nossa passagem. Quando irrompemos no terceiro nível, respirei fundo soltando o ar. Água e espuma se espalharam respingando enquanto caímos aqui. Olhei em volta, ouvindo o uivo do vento nos ouvidos. Meus cabelos e kimonos sacudindo.

    Aqui era rochoso e estéril. A luz iluminava fraca este Vale. Com apenas frestas que atravessavam a grande massa d’água, que por analogia, era o ‘céu’ do terceiro nível. Aqui apresentava um ambiente mais escuro que o segundo. Encarei abaixo, o chão negro chegando mais perto. Usando reiatsu para amortecer a queda parei no ar a poucos metros do solo. Enquanto ainda observava em volta, alguns capitães pousaram em cima de um monte rochoso à minha esquerda. Abarai, Madarame e Ayasegawa aterrissaram no chão. Desci lentamente escutando mais uma queda. Pela visão periférica vi Zaraki se levantando, curvado perto de uma série de crateras. Nelas um líquido amarelado fumegava. Me lembrava lava e tive um tanto de receio quanto a isso.

    Pousei no chão, sentindo o ar quente evaporar rápido minhas roupas molhadas. Meus cabelos porem ainda úmidos. Contudo, não era o que importava por hora. Karin estava aqui. Em algum lugar ela estava aqui e mais perto agora. Um estalido ao meu lado avisou de uma pessoa. Pela reiatsu reconheci quem era. Suspirando Urahara olhava em volta como eu.

    - O ar daqui é seco.

    - Hum.

    - Então aqui é o Vale?

    Encarei de soslaio a pessoa. Kyouraku observava astuto em redor. Suspirando, dei um salto sumindo e aparecendo no alto. Procurei envolta com o olhar. Devia havia alguma indicação. Algo que mostrasse uma construção fortemente guardada.

    - Hitsugaya.

    Reprimi um suspiro. Urahara estava ao meu lado e parecia que queria me perguntar alguma coisa

    - Diga.

    Pestanejando com meu seco ele continuou, sorrindo afetado ao se inclinar.

    - Essa zanpakutou em suas costas é de Karin-san?

    Prendi a respiração, estreitando o olhar minimamente. Vendo essa reação ele continuou.

    - Bem interessante. Eu imaginei que seria. A conexão entre vocês continua instável ou já melhorou?

    Inclinei o rosto, escutando vozes alteradas abaixo de nós. Kenpachi discutia com Kyouraku porque estávamos parados e para completar Kuchiki se intrometeu na conversa, dizendo naquele tom austero e imperturbável sobre cautela e estratégia. A qualquer minuto esperava os dois puxarem suas espadas.

    - Faça a verdadeira pergunta. – encarei atravessado Urahara, ele me observava risonho – Quer saber se You Ou teve contato comigo?

    O louro de chapéu listrado sorriu.

    - Hai. É um fato muito peculiar sua situação com a irmã de Kurosaki-san.

    O encarei mais desconfiado. Naquele dia em que descobri a razão por Karin ficar “doente” percebi que ele não me disse tudo. Essa conexão de almas foi um choque para mim, ainda mais sobre seus efeitos colaterais. Deve ser por isso que aceitei tão rápido You Ou aparecer no meu mundo interior. Porem, algo me intrigava. Se o Rei Falcão estava lá, onde Hyourinmaru estava?

    - Sabe, Hitsuga...

    Um som grave ecoou por esse vale. Alerta encarei abaixo. Uma das crateras com a lava amarelada explodiu. De dentro dela um imenso braço arroxeado se esticava. Junto dele um kushanada se erguia. Urahara e eu sumimos no shunpo, aparecendo longe dali. Lentamente o guardião demônio se levantou mais e girou a caveira para nós. Fiz um esgar, assistindo enquanto o mesmo se virava em nossa direção, agarrando as bordas da cratera se içando.

    Uma reiatsu de repente cresceu e olhei para a pessoa. Zaraki corria no shunpo já levantando sua espada. Quando apareceu no ar, diante do kushanada, Hirako surgiu em sua frente.  O ar estremeceu mais forte e o vi erguer a mão, num gesto de garra diante do rosto.

    Um segundo do depois, o cero em vermelho atingiu em cheio o guardião. Que caiu tombando inclinado e nesse instante, Zaraki aproveitou. Surgiu acima da caveira dando um golpe. O monstro foi cortado ao meio. Suas metades caindo para os lados e destruindo mais as crateras. Com o líquido amarelado se espalhando, transbordando numa onda gigante, todos que estavam por perto saltaram pra longe. Madarame surgiu agachado num outro monte. Gemendo do braço avermelhado. Ayasegawa e Abarai se espantaram um pouco.

    - Ikkaku, mas o que...?

    Suspirando irritado ele se endireitou, olhando para os machucados.

    - Foi aquela lava. Respingou um pouco quando saltei.

    - Isso queima como ácido.

    O tenente comentou. Todos olhamos para baixo. A lava amarela seguia como um rio até a beirada da depressão (somente agora que percebi as nuvens cinzentas mais abaixo) e caía até seu volume diminuir.

    - Yare, Yare. Olhe o que temos aqui?

    Giramos para a voz e o que vi me fez arregalar os olhos. Em cima de uma colina, quatro figuras de vestes brancas e esfarrapas sorriam para nós. Uma delas, um homem alto e magro se inclinava para frente segurando uma foice negra para trás. A lâmina tinha o formato de meia-lua. Relanciei o olhar para o resto. Havia um sujeito alto e atarracado de pele escura, ao lado dele um homem onde no lugar de sua cabeça e pescoço estava um “aquário” com suas esferas falantes. Uma delas se pronunciou, a voz irritante.

    - Deixe de besteiras, Nnoitra! – se calou e a outra esfera continuou – Shuren-sama deu ordens para matar os invasores.

    Todos se retesaram. Estávamos parados no ar, espalhados e olhando para os quatro. A última figura foi que me deixou mais tenso. Ele era o mais forte de todos. Sua pele escura e o sorriso largo me lembrou nitidamente quem era. Yammy, o 10º Espada. Observei os demais outra vez, sentindo mais reiatsus aparecendo.

    - Taichou...

    Abarai apareceu ao lado do seu Capitão e Kuchiki deu um mínimo aceno. Os quatro Espadas, agora acorrentados no Inferno não eram os únicos aqui. Mais Togabitos se amontuavam ao nosso redor. Em instantes, estávamos cercados. Um baque surdo chamou minha atenção. Olhei para direita e vi Zaraki. Sorrindo empolgado, sua espada apoiada no ombro, ele pisava em cima de três pecadores. Os homens gemiam de dor e sangravam. O taichou levantou o olhar para cima e encarou os Pecadores em cima do monte. Seu olhar direto para o 5º e 10º Espada.

    - Yo. Já faz um tempo.

    O Espada com a foice segurou o sorriso estremecendo de raiva.

    - Desgraçado. É hora de acertar as contas.

    Zaraki apenas alargou o sorriso.

    - Yosh.

    Os dois sumiram no shunpo e um tinir de aço ecoou nesse vale. Todos sacaram suas zanpakutous saltando e sumindo enquanto avançando como uma onda, os Pecadores escondidos corriam até nós. Apareci acima da cratera destruída e uma reiatsu distorcida avançou em mim. Balancei a espada, chocando com um braço enorme. A pele escura sem um arranhão. Levantei o olhar, forçando a zanpakutou contra o braço do Espada musculoso. Sorrindo para mim, ele se inclinou, me fazendo cerrar os dentes.

    - Yo, taichou-san. Lembra de mim?

    Suspirei sob o fôlego

    - Claro.

    Tirei a zanpakutou do caminho e sumi. Yammy perdeu o equilibro, se inclinando mais. Apareci acima dele girando o corpo e dei um golpe com a espada. Ele rápido levantou o braço bloqueando, o hierro da pele o protegendo. Pude ouvir um sorrisinho.

    - Só isso?

    Terminando o giro meu pé acertou sua nuca.  Coloquei todo o peso no golpe. O ouvi se engasgar e um zunido a minha direita chamou minha atenção. Um relâmpago vermelho vinha pra cá. Desviei enquanto Yammy rosnava possesso, se virando para mim.

    - Seu moleque!

    O relâmpago o acertou, atirando-o pra longe. Percebi que ele caiu dentro da lava amarela

    - Nobiro... HOUZUKIMARU!!!

    Pela visão periférica vi Madarame avançando em vários Pecadores, sua lança de 2 metros balançando e girando enquanto acertava e derrubava um seguido de outro. Aseyagawa também estava ao seu lado com sua Shikai. Eu teria liberado a minha também, mas sentia algo estranho. Como se Hyourinmaru me alertasse a não fazer isso.

    - A guarda totalmente aberta!

    Arregalei os olhos, girando para trás. O Espada com a foice de meia lua pulava em mim, a arma levantada para o alto, pronta para me golpear. Antes que me acertasse uma rajada de lâminas pequenas e rosadas bloqueou o ataque. O Arankar estalou a língua e depois Zaraki apareceu ao lado dele, seu braço em arco dando um golpe nas costelas do mesmo. Quando o Espada saltou pra tomar distancia Kuchiki apareceu a minha frente. Ele encarava o inimigo sem dar a mínima atenção ao outro capitão (e muito menos a mim)

    - Oe! Kuchiki! Ele é minha presa.!

    - Apenas desviei de um ataque do inimigo. Não lembro de ter roubado presa de ninguém.

    O encarou frio e atravessado.

    Antes que fizessem algo, um coro de sons graves estremeceu o ar envolta. Todos paramos. Os Pecadores, os Espadas mortos e nós. A respiração suspensa de tensão. Então o som grave ecoou mais uma vez e o solo estéril estremeceu de impactos. Virei o rosto e vi ao longe as sombras gigantes de kushanadas caminhando para cá. Kuso! Poderia piorar? Nesse instante, uma reiatsu demoníaca se agigantou abaixo de mim. Sumi no shunpo sem pestanejar, em tempo de desviar de uma mão arroxeada e gigante se esticando para me apanhar. Hirako surgiu perto do Kushanada, sua máscara-hollow cobrindo seu rosto. Ele deu um golpe rápido e o imenso braço foi decepado. Caindo com um estrondo de levantar pedras e poeira.

    Estreitei o olhar, apertando o punho da zanpakutou. Todos estão lutando com suas forças. Uma explosão de reiatsu de repente chamou minha atenção. A minha direita correntes de ar giravam em torno da reiatsu que crescia e então num brilho avermelhado elas se dispersaram, junto de um grito estridente. Abarai balançou o braço gritando enquanto a serpente de ossos de seu Bankai mergulhava numa horda de Pecadores. O estrondo ao acertá-los levantou poeira e pedras. De repente, uma reiatsu apareceu ao meu lado.

    - Não estão atacando com todo poder.

    Urahara. Estreitei o olhar, vendo mais Pecadores aparecerem.

    - Estão tentando nos atrasar.

    O som grave vibrou outra vez. Kuso! Os Kushanadas estavam mais perto. E ainda nem vi um sinal da fortaleza do Togabito de cabelo azul.

    - Siga para a depressão. Encontrará uma montanha de ossos.

    Arfei com a voz. Virei o rosto para trás, vendo as crateras de lava amarelada e as nuvens cinzentas abaixo.

    Nesta direção?

    You Ou fez um som consentindo. Percebi que Urahara me observava com atenção. Nem precisei explicar, ele já tinha percebido que não carregava a zanpakutou de Karin por acaso.

    - Vamos.

    Sem olhar pra trás sumi aparecendo metros distante da batalha. Urahara me seguiu e corri no shunpo até a beirada da depressão. Em outro momento eu teria ficado junto dos outros, mas minha prioridade era a fortaleza de tal de Shuren. A principal razão para estarmos aqui. Chegando a beirada, bati o pé na pedra tomando impulso e Urahara atrás de mim. Caímos na névoa cinzenta, a queda livre açoitando minhas roupas. Urahara que estava ao meu lado, arquejou ao me perguntar.

    - Tem certeza?

    - Hai.

    Já via o solo escuro quando um zunido veio na minha direção. Desviei sumindo, aparecendo no chão. Atrás de mim uma explosão rosada abriu essa cortina de névoa. Antes que assimilasse, um rasgado de som veio a minha direita. Girei levantando a espada, chocando com uma lâmina negra. Estreitei o olhar e encarei o Vastor Lorde. Sem surpresa era aquele que vi na batalha do 12º bantai.

    - Yo.

    Cumprimentou debochado. Tomando um impulso me empurrou arrastando. Apertei os dentes, tentando frear e aguarrei o punho da espada com as duas mãos. Foi ao mirar um instante para seu braço que vi. Um pedaço de tecido branco.

    Arregalei os olhos surpreso. Na distração, o Vastor Lorde forçou o braço para o lado me jogando para longe. Me entalei com o golpe. Girei no ar e freei com reiatsu, antes que me chocasse numa pedra. Ao longe, mais explosões rosadas e pude ouvir um risinho debochado. O vastor lorde virou o rosto na direção e suspirou enfadado.

    - Taikon... Como sempre brincando.

    - Oe!

    Ele voltou a me encarar. Dando um mínimo sorriso abaixou suas foices. Elas graduamente tomaram a forma de braços e vi amarrado no pulso o mesmo tecido branco. Uma raiva ferveu dentro de mim, me fazendo apertar com força demasiada o punho da zanpakutou.

    - Isso no seu pulso...

    Levantando o braço, ele o olhou e pontas soltas balançaram com a brisa.

    - Ah... é daquela shinigami. Tirei de seus cabelos antes de entrega-la para Shuren-sama.

    Engoli em seco. Notando uma cor que não vi a primeiro momento. As fitas brancas... estavam manchadas de sangue. Encarei o Vastor Lorde. Ele sorria largo adorando o quanto me abalei por isso. Tentei me controlar, cerrando os dentes minha mão se retorceu no punho da zanpakutou.

    - Onde ela está?

    Ele quase riu de escarnio abaixando o braço. Isso aumentou minha raiva.

    - Acha mesmo que vou dizer?

    Apertei ainda mais o punho da espada.

    - Onde ela está?

    Ignorando minha pergunta, o Vastor Lorde levou o pulso com as fitas brancas ao rosto. Estremecendo assisti ele respirar fundo sob as fitas e então abaixou o pulso.

    - Que cheiro bom... Ainda melhor misturado ao sangue dela.

    Tomei impulso e avancei levantando a espada. O hollow rápido levantou o braço, transformando numa foice. As fitas rasgaram e caíram. Se esvoaçando com o deslocamento de ar. Sumimos outra vez, tirei golpea-lo. Mas ele rebatia. De repente ele subiu e senti a reiatsu atrás de mim. Balancei a espada num arco bloqueando a foice de seu braço e girei para trás, levantando a perna e chutando-o. O Vastor lorde sufocou supreso com o golpe, voando para trás. Bati no ar e fui atrás dele. Mergulhando ainda mais nevoa que se abria.

    O hollow então firmou os pés no ar, se virando com a força do golpe e apontou uma foice para mim. Um brilho vermelho cresceu e desviei sumindo. Apareci ao seu lado, enquanto o cero explodia ao longe e feri suas costelas num golpe. Sangue respingou enquanto ele gemia então me atacou. O ar deslocava forte com nossas reiatsus, o estrondo do choque de osso e lâmina ecoou nessa planície. Arfei pra tormar folego e desviei pro lado, chutando um braço seu no cotovelo. Quando ia cravar a espada em seu peito ele retorceu o corpo e seu pé me acertou no abdômen, tirando meu folego.

    Voei para trás e ouvi um choque alto. Um segundo depois meu corpo inteiro doeu. Tinha sido jogado contra uma pedra. Os pedaços voaram pra todos os lados e respirei com raiva. Tentando me controlar. Eu não posso mata-lo. Precisava saber como entrar na maldita fortaleza. Mas estava difícil, a provocação que ele fez... Me perturbava demais!

    Apoei a mão livre na pedra e empurrei me desprendendo, sumindo outra vez. Segui a reiatsu e estiquei o braço. O hollow jogou seu braço para baixo e girando, bloqueando minha estocada. Virado de lado, ele podia muito bem me perfurar com sua outra foice, mas então ele suspirou me confundindo (apesar da minha raiva).

    - Porque quer tanto saber onde ela está?

    Arfei possesso.

    - Não é da sua conta.

    Sorrindo ele forçou mais a foice para baixo.

    - Não perca seu tempo. A garota... já pertence a nós. Ela dará aos Pecadores uma saída para o Inferno. Um hibrido de Shinigami e um Togabito.

    Arregalei os olhos. Rindo de mim, o hollow me deu um golpe que consegui bloquear por puro reflexo. Me jogando para trás, meus pés derraparam se arrastando na areia igual a ele. Curvado em posição de ataque ele continuou, pronunciando cada palavra com um prazer cruel.

    - Desde que a trouxemos meu mestre está tentando engravidá-la. Ele quer muito esse herdeiro.

    Todo meu corpo amorteceu, meus olhos tremendo do choque que me tomava enquanto assimilava a ideia. A pouca sanidade que mantinha finalmente quebrou.

    HITSUGAYA POF

    Encarando as paredes de gelo Shuren estreitava os olhos. Analisando com atenção. Crevar a essa altura devia estar em confronto com aquele shinigami. Devia ter paciência, seu objetivo estava atrás dessa prisão congelante que o dragão maldito criou. Se Syazel estiver errado... De repente, uma rachadura brotou de um pilar. Bem diante dele. Sorriu ansioso, esquecido da frustração enervante que o consumia. Estava dando certo. Quando aquele shinigami chamar o dragão, o gelo desaparecerá. Inclinou o rosto, estreitando os olhos enquanto a ansiedade o tomava.

    Seu principal ponto fraco... são seus sentimentos pela garota, Capitão.

    HISTUGAYA POV

    - Desde que a trouxemos meu mestre está tentando engravidá-la. Ele quer “muito” esse herdeiro.

    Na..ni?

    Minha respiração estava presa. Meu pulso acelerado enquanto a frase se repetia e repetia. Tinha plena consciência de que o hollow estava em minha frente e que Urahara lutava com outro Togabito nessa planície. No entanto, não conseguia me mexer. Lembrando de coisas que não convinham no momento, mas tinham haver com que o hollow me disse. Me lembrava daquele dia. Na verdade, de algo especifico. Karin dormindo nos meus braços, tranquila e segura enquanto tomava a decisão de que cuidaria dela para sempre.

    Nem sei em que momento aconteceu. Num minuto estava estático e desnorteado, mas no outro... um ódio me dominou. Tão grande que não lembro de ter sentido assim antes. Quando voltei a mim, minha espada estava cravada no hollow. Eu o empurrando para longe. A névoa se agitou com o ar tremulante em minha volta enquanto estava gritando. Uma foice zuniu a minha direita e retirei a espada, rebatendo para cima então girei dando um chute no peito do hollow. Ele voou até se chocar com um monte. Não parava de arfar queimando de tanta ira. Tudo o que eu queria agora era me vingar.

    Tomei impulso aparecendo no alto. Levantei o braço com a espada enquanto encarava o hollow lá embaixo. Vagamente ouvia as explosões, mas não dei importância. Aumentei minha reiatsu e estreitei o olhar.

    - Souten Nin...

    - MATTE!!!

    Arfei com as vozes. Uma cavernosa, outra de tenor. Elas, elas eram...

    Antes que assimilasse, senti uma explosão em minhas costas. Fui jogado para baixo. Arquejando de dor encarei o solo crescendo diante de mim. Antes que chocasse sumi no shunpo aparecendo numa parte da planície e inclinei para frente, arquejando enquanto sentia meu haori empapar num líquido morno. Maldição! O que foi aquilo?

    - O que foi taichou-san? Achei que iria me matar.

    Levantei o rosto, meus cabelos caíam nos meus olhos. O desgraçado escondia a reiatsu. Contudo, Karin...

    - Ela está bem.

    As vozes disseram. Arregalei os olhos, um alivio me tomando apesar de tudo. Com a razão voltando me tirando do caos... O ódio porem, não diminuindo procurei entender.

    - Não me empunhe! Eles querem que me chamem e então conseguirão o que almejam!

    Estreitei o olhar, analisando minhas chances sem usar Hyourinmaru e não eram nada boas. Agora estava ferido e ainda havia a fortaleza que não encontrei. Então You Ou me sussurrou algo. Apenas duas palavras que me deram mais vontade de lutar. De cabeça baixa, senti um deslocamento de ar girando em minha volta, era branco e frio, porem a corrente que começou a girar lenta em meu torno foi aumentando e subindo. Logo uma ventania, de repente, tomou conta desse lugar e virei de lado, minha mão agarrando o punho da zanpakutou embainhada em minhas costas. Meus cabelos açoitavam e meus kimonos sacudiam. As rajadas abriram a névoa e se olhasse para o céu de água nuvens negras se juntavam. O Vastor Lorde surgiu a metros em minha frente e saquei a zanpakutou.

    Com Hyourinmaru na mão direita e You Ou na esquerda, recuei um braço e juntei os gumes perto dos punhos ao dizer.

    - Subjugue os céus...

    Levantei o olhar encarando o Vastor Lorde que corria até mim. A essa altura as rajadas congelantes de vento varriam essa planície. Agarrei os punhos das zanpakutous mais forte e puxei as espadas. As lâminas em atrito ao gritar.

    - HISAME!!!!

    HITSUGAYA POF


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