A paixão do capitão de gelo

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    Capítulo 20

    A intenção de Shuren

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    No escritório do décimo bantai havia um silencio que ninguém ousava interromper. Matsumoto fukutaichou dispensou todos os shinigamis que ali trabalhavam, forçando um sorriso ao dizer que estavam de folga àquela noite. Claro, a maioria estranhou, mas mesmo assim todos saíram. Somente alguns ficaram no prédio. Kyouraku e Hirako estavam na varanda discutindo os fatos sobre o ataque nos canais enquanto Matsumoto e Renji ficaram no corredor, de frente à porta do gabinete do capitão. O tenente do sexto bantai estava encostado na parede verde, as mãos nos bolsos e encarando o chão e a ruiva estava ao seu lado, os braços cruzados, olhando o piso sem de fato de ver.

    Os dois fukutaichous sentiam uma tristeza e pesar, porem a reiatsu irradiando densa e abalada do outro lado da porta, os arquejos sufocados que fingiam não ouvir diziam que o Taichou do 10º esquadrão... estava muito pior.

    HITSUGAYA POV

    Como pode existir uma dor assim?

    Eu sei que em algum momento iria parar. Teria que parar. Do contrário como poderia me mexer? Sentia meu corpo pesado e fraco. Como se toda minha energia fosse sugada por exaustão. Outra vez a dor se retorceu no meu peito como garras puxando e rasgando, tentando me tirar qualquer sentimento a que me agarrava. Ainda estava sentado no chão, arquejando sem folego e segurando a espada embainhada. Podia sentir uma energia emanando dela e por isso a apertava mais e mais forte, ignorando as lágrimas que insistiam em vir, o bolo na minha garganta enquanto tentava suportar essa dor...

    Ela estava... Karin estava...? Cerrei os dentes estremecendo mais forte. Não fazia sentido. Eu não aceito isso. Mesmo quando Hirako me disse e a palavra ainda ecoava nos meus ouvidos, a zanpakutou dela estava aqui na minha mão! Ainda sinto uma energia espiritual vindo dela! Arquejei mais forte, meu pranto menos convulsivo. Agora um torpor me tomava, anestesiando enquanto eu estremecia aos poucos. Abrindo os olhos, encarei esgotado o piso de madeira e soltei minhas blusas. Havia mais quatro reiatsus aqui. Duas no corredor e as outras duas na varanda desse prédio. De qualquer modo, isso não me importava. Desde que ninguém me venha com palavras de conforto, não me importava.

    Pisquei desnorteado, consciente de que meu rosto estava molhado das lágrimas e mais delas vinham, agora silenciosamente.

    Não tem sentido. Mesmo esse vazio que me sufocava e doía em meu peito, Karin... Karin não podia... Estremeci mais forte e fechei os olhos pensando nos fatos, um esforço difícil no meio desse caos em que estava minha mente. Contudo, procurei pensar. O dia em que senti a presença no quartel. A forma como o Pecador a olhava. O ataque naquela floresta dias atrás. O portão que abriram.

    Suspirei um pouco mais calmo. Sentindo todo e qualquer som ao redor desaparecer. O silencio me centrando mais e pela primeira vez desde que cheguei no escritório fiquei intrigado. Em nenhum momento houve intenção de assassinato. As oportunidades foram claras e mesmo assim... Porque se dariam ao trabalho? Porque ainda sinto sua zanpakutou emanar reiatsu?

    - Porque ela não morreu.

    Arfei espantado com a voz e de repente uma rajada de vento me acertou jogando meus cabelos pra longe, sacudindo meu kimono. Senti um pulso vindo da espada embainhada e do meu peito. Outra rajada me acertou e inclinei pra frente, me apoiando num joelho enquanto era arrastado e levantava um braço, cobrindo meu rosto. Com os olhos entreabertos lentamente ergui a cabeça e arfei chocado. O campo congelado. Ventos varriam o gelo e a neve junto com o grito agudo de uma ave. Estremeci mais em choque, sem perceber que parara de chorar. Diante de mim, batendo suas asas negras, um imenso falcão cinzento me encarava.

    HITSUGAYA POF

    Jigoku

    O primeiro nível do Inferno era o mais perigoso. Apesar de que o perigo ficava mais para os Pecadores que desistiram de lutar. A maioria residia aqui. Entre os inúmeros blocos de pedra levemente imitando prédios. Com o ‘céu’ escarlate, os tablados flutuantes, esse nível de Jigoku era onde os Kushanada mais patrulhavam. As três figuras encapuzadas saltavam de blocos e em blocos, correndo ao ignorarem os olhos dos outros Pecadores que os viam passar. O quarto ser, um hollow Vastor Lorde corria pela rua azul que ficava entre essas pedras, abaixo dessa rua, mais outras vias corriam entre os imensos blocos de pedra. Precisavam se apressar. Mesmo que fossem mais fortes dos que viviam aqui tinham que chegar o mesmo rápido possível.

    Nunca se sabe quando ou de onde um guardião pode aparecer.

    Gunjou saltou de uma das pedras, correndo enquanto enrolava mais as caudas aneladas envolta da pequena shinigami.

    Reprimiu um esgar. Suando por trás da máscara. O miasma daqui estrangulava sua reiatsu. Não era de admirar que a garota ficava mais pálida a cada segundo.

    - Gunjou!

    Virou o rosto para o chamado. Taikon apontava para a esquerda e logo saltou de uma pedra do tamanho de um prédio.  Ofegou nervoso e rápido usou sua velocidade chegando à beirada do imenso bloco de pedra saltando também. Um segundo depois um som ecoou por toda essa floresta de pedras. Grave e profundo penetrando no concreto. Era o sinal que alertava sobre a aproximação de um Kushanada. Caiu na fenda escura, sentindo aos lados a presença dos outros enquanto encarava uma via azul abaixo.

    De repente, bem diante dele, uma imensa mão arroxeada atravessou a pedra do bloco. Ela encheu sua visão, aberta para agarra-lo. Sumiu aparecendo há três vias abaixo. Correndo e apertando mais a garota contra si. Mais sons graves e ecoantes soaram. Apertou os dentes, faltava pouco. Já podia ver o final do caminho. Nesse instante, uma imensa caveira alongada se ergueu através da via azul, as luzes gigantes e amarelas nas orbitas girando antes de focá-lo.

    Iria saltar acima do Kushanada, quando escutou ao lado.

    - Cero.

    Uma luz maciça e vermelha acertou a caveira como um canhão. Parou derrapando, girando o corpo enquanto protegia a shinigami da explosão. A nuvem cinzenta de impacto o atingiu em cheio, o vento furioso espalhando os escombros dos blocos e das vias. Respirou irritado se endireitando. À sua direita e esquerda Taikon e Garogai apareceram. O hollow pousou calmamente diante dele, a máscara voltada para o estrago que fez. Pedras esmigalhadas, a rua azul quebrada.

    - Crevar. Avise antes.

    A máscara branca se voltou para ele e então o hollow deu alguns passos se aproximando. Era tão alto quanto ele e o fato daquele sorriso arrogante estar estampado na criatura o irritava.

    - Se não fizesse isso, você teria se pego junto com essa carga preciosa.

    O sorriso aumentou enquanto inclinava levemente o pescoço para baixo. Todos olharam para a garota shinigami. De fato, ser devorado era algo ocorrente, até suportável, mas a garota? Era outra questão muito diferente. Como o próprio hollow arrogante disse. Ela era preciosa. Não colocaria tudo a perder num descuido.

    Deu a volta passando pelo hollow negro, caminhando enquanto ouvia mais outros Togabitos sendo devorados. Os blocos de pedra estremecendo com o andar dos Kushanadas.

    - Vamos. A shinigami está atraindo os guardiões – olhando sobre ombro – e você também.

    Dito isso, sumiu. Junto com Taikon que soltou uma risadinha e Garogai que grunhiu enfadado. Crevar suspirou desgostoso e continuou a corrida. Teriam que passar por mais um nível até chegar à fortaleza. Sumiu no sonido correndo sobre os escombros das vias azuis e os blocos até o abismo, caindo na nevoa cinzenta.

    Soul Society

    HITSUGAYA POV

    Arfei impressionado enquanto fitava os olhos alaranjados do falcão. Incrivel. O animal tinha no mínimo cinco metros de altura e quanto a sua envergadura, as asas negras quase dobravam esse tamanho. O vento soprava furioso aqui, porem, não me açoitava mais. Ele me envolvia. A ave parou de bater suas asas e pousou diante de mim, seu peso estremecendo o chão cheio de neve enquanto se esticava mantendo uma postura altiva. Respirei mais calmo.

    - You Ou.

    A ave estufou o peito piscando. Parecia preocupado.

    - Vejo que não preciso me apresentar shinigami de cabelo branco.

    Franzi a testa ficando de pé. A zanpakutou e a bainha em minha mão tinham sumido. Claro, agora sua entidade estava diante de mim.

    - Como...?

    Pisquei confuso e o Rei Falcão olhou para os lados girando a cabeça, estufando o peito outra vez como se estivesse suspirando.

    - Eu não sei. De primeiro apenas via de relance esse lugar. Havia um dragão de gelo... No entanto, agora estou aqui. O que dado às circunstancias é uma ótima oportunidade.

    Me encarou sério. Agora aquele sonho que tive dias atrás faz sentido.

    - Disse que Karin está viva.

    - Sim.

    A ansiedade quase me cegou. Disparando meu coração. Mas procurei me concentrar. Pelo comportamento de You Ou, não era a única noticia.

    - Eu não sei onde ela está. Não consigo ver. Os que a levaram devem tê-la apagado.

    - Pode senti-la?

    O Rei Falcão fechou os olhos. Depois de um longo minuto estufou o peito lentamente. Os ventos giravam ao nosso redor sacudindo com menos força.

    - Posso, mas vagamente.

    Suspirei estreitando o olhar. Karin foi então sequestrada. Isso me aliviava por estar viva, mas esse fato me agoniava demais. Como ainda olhava para o falcão, vi quando abriu os olhos. A determinação tomou conta deles.

    - O lugar para onde levaram minha senhora é denso, caótico. Isso está fazendo mal à ela. E ainda...

    Pisquei intrigado.

    - Ainda...?

    O falcão entortou o pescoço, olhando para algum ponto enquanto se esforçava para entender.

    - É como se tivessem me bloqueado dela. – voltou a cabeça para mim, me encarando – Sabe onde Karin está?

    Engoli em seco, apertando os punhos numa tentativa vã de me controlar. O Rei Falcão percebeu esse gesto meu, mas continuou calado. Encarando longe suspirei meio tremulo.

    - Sei. Em Jigoku.

    A ave pestanejou surpresa. Quanto a mim, segurava um pânico torturante me perguntando como não percebi. Era tão obvio. Eles não esconderam tão bem seu interesse nela, principalmente aquele Pecador de cabelo azul. Meus punhos se apertaram com mais força, meus olhos se estreitando dando lugar para a raiva.

    - Vai resgatá-la.

    Não era uma pergunta.

    - Vou.

    - Então eu estava mesmo certo.

    O encarei com essa frase e You Ou me observava com um misto de orgulho e altivez. Me lembrava um pouco Hyourinmaru.

    - Irei com você. Vou guia-lo até ela quando estiver lá.

    - Por quê?

    Eu precisava saber. Zanpakutous somente caminham com seus donos. Mesmo que tenha esse contato comigo por causa da Conexão de minha alma com Karin, a atitude de You Ou era no mínimo estranha. Se endireitando ele me fitou com respeito. Estufando o peito ao dizer.

    - É o Companheiro de minha senhora. Sua ligação com ela é muito forte além de ser um grande guerreiro.

    Apenas assenti aceitando. O fato dele me dizer isso já era um grande um elogio. O vento soprou furioso. As rajadas açoitando suas penas e meus kimonos. You Ou bateu suas asas voando e estiquei minha mão para frente. A ave brilhou num prata luminoso e fechei os olhos, me concentrando. Logo os ventos pararam e o ar congelante desapareceu.

    Abri os olhos me encontrando de pé no gabinete, apertando os dedos na bainha do Rei Falcão.

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    Ela não morreu.

    Suspirei fundo sentindo a dor que me rasgava sumir aos poucos. Pelo ar tremulante em minha volta, que se acalmava enquanto suspirava mais, eu estava a ponto de congelar o gabinete inteiro. No entanto, não era hora pra isso. Abaixei o braço que esticava a frente e segurei a correia da zanpakutou embainhada, passando-a pelo pescoço enquanto pendurava You Ou em minhas costas, atravessado em Hyourinmaru.

    Esperei uns instantes para me acalmar mais e passei a manga de um dos braços nas bochechas, enxugando. Era um gesto inútil. Os quatro shinigamis que estava aqui notariam pelos meus olhos inchados e nariz avermelhado que eu estava chorando. Contudo, talvez... eles não iriam mencionar nada. Até porque minha prioridade agora era outra. De repente, varias reiatsu apareceram no gramado em frente ao prédio. Franzi a testa e então para aumentar minha confusão, duas delas entraram esbaforidas no corredor. Encontrando Abarai e Matsumoto. Logo eles discutiram, Matsumoto tentando expulsá-los daqui, mas então consegui ouvir um pedaço da conversa.

    - Matsumoto fukutaichou! Dois deles estão agora fugindo pela cidade!

    - Do que está falando?

    Abarai peguntou e apurei os ouvidos.

    - Os invasores do ataque nos canais senhor. Encontramos dois deles perto do portão norte de Seireitei.

    Arregalei os olhos, prendendo a respiração. Mas apenas durou uns segundos. Logo depois a raiva me tomava e estreitei o olhar, estremecendo. Encarando uma janela meus punhos se fecharam enquanto minha reiatsu já abalada, explodiu.

    HITSUGAYA POF

    - Nani?!

    Hirako se virou espantado para a porta. Sentindo uma pressão espiritual aumentar de repente. Instantes depois um estrondo estremeceu o prédio inteiro. O grupo de shinigamis que esperavam no gramado arquejaram de susto  enquanto Kyouraku e ele correram para a entrada, atravessando o hall seguindo direto para o corredor. Os outros que estavam aqui foram jogados contra a parede. No corredor um frio congelante tomava conta do lugar. Hirako reprimiu um esgar. Matsumoto e Renji que tinham se levantado segundos depois encaravam chocados as portas arrombadas do gabinete. Rapido se juntaram à eles e os dois capitães ofegaram de susto. Uma nevoa fria e branca subia enquanto os moveis estavam jogados e derrubados, somente as estantes ficaram no lugar, porem... O gabinete inteiro estava congelado. Desde as paredes até o teto. As janelas tinham as vidraças quebradas e as luzes piscavam falhando.

    Exasperado Hirako se voltou para Abarai.

    - O que aconteceu aqui?

    O tenente engoliu em seco.

    - Não sabemos. Matsumoto e eu tentamos impedir que esses dois incomodassem o Capitão Hitsugaya.

    Ofegou olhando ao redor. Incredulo. Matsumoto não conseguia dizer nenhuma palavra, vendo o estrago que ficou o comodo e lembrando. Está mais forte que antes. Hitsugaya era apenas um menino quando o conheceu e mesmo assim sua reiatsu era densa demais na época. O fato dele destruir o lugar desse modo...

    - O que falaram para ele?

    Hirako perguntou possesso. E Abarai apenas ficou mais desnorteado.

    - Nada, capitão. Eles sequer entraram aqui!

    Kyouraku soltou um suspiro. Seu rosto fechado.

    - Ele deve ter ouvido.

    Os tenentes arregalaram os olhos. Os dois shinigamis que se recompunham da explosão estremeceram quando o capitão do 5º bantai se voltou para eles.

    - Onde?

    O de cabelo arrepiado engoliu em seco.

    - Como capitão?

    Estreitando olhar Hirako se aproximou.

    - Onde viram os Togabitos pela ultima vez?

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    A noite já tinha caído em Soul Society e a maioria dos shinigamis faziam patrulhas pelas ruas. Era algo rotineiro. Cada portão de esquadrão era guardado por dois soldados. Tochas eram acesas iluminando as ruas e ainda havia pessoas passeando pelas vias. Não era um espanto. Afinal, era cedo. No entanto duas figuras corriam desesperadas pelos telhados, se escondendo nas sombras. Uma delas, de corpo alongado e atarracado saltava a frente, quase fazendo o manto negro que a cobria se abrir. O segundo Pecador ofegou agoniado atrás. Tinham pouco tempo. Eles se perderam dos outros. O trabalho deles era criar se necessário distração para um certo shinigami, contudo, nem foi preciso. O plano tinha corrido muito bem até ficarem se divertindo nos bairros da outra cidade pobre e perderem a hora.

    Murakumo se inclinou para frente, correndo disparado. Aquele sujeito de cabelo rosado foi claro. Depois do crepúsculo, o portão se fechará. Saltaram mais uma vez parando numa rua pavimentada e vazia. Keitou estalou os dedos dando mais um pulo subindo no ar. No mesmo instante, chamas azuis riscaram em uma linha no ar e se abriram. A fenda negra e o som de correntes tilintando. O Pecador atarracado atravessou a passagem e Murakumo se desesperou. Saltou também e já quase alcançava quando as correntes duplas que cruzavam a passagem de repente trincaram. O fogo tremulou vacilante e então as chamas desapareceram. Arregalou os olhos por trás da máscara e perdeu o equilíbrio. Caiu em cima do telhado destruindo e quebrando. Uns shinigamis que patrulhavam ouviram o barulho e rápido correram até lá.

    Xingando, Murakumo sumiu. Aparecendo em cima de uma torre. Ofegou agoniado. Entrando em desespero. Tinha que fazer alguma coisa. Os soldados não podiam encontra-lo. Sumiu outra vez, aparecendo e caindo num pátio gigantesco. Os blocos de concreto na perfeita limpeza. Isso lhe dava asco. Ficou tão distraído nesse pensamento, correndo disparado que não sentiu a presença.

    De repente, um borrão cruzou seu caminho dando lugar para uma pessoa. As nuvens que cobriam os céus se abriram e o luar iluminou o pátio num tom pálido de prata. Murakumo derrapou parando, arregalando os olhos ao ver um shinigami de cabelos brancos virado de lado. Pelo haori e o cachecol verde enrolado no pescoço se tratava justamente daquele que devia distrair. No entanto, as duas zanpakutous cruzadas nas costas dele o confudiu. Ele não era usuário de uma espada? Mal pensou nisso e o shinigami o encarou de lado, sério. Com o vento soprando de repente no pátio, o olhar frio e cortante o apavorou tanto quanto a pergunta.

    - Vai a algum lugar?

    Antes que respondesse uma rajada furiosa de gelo o atingiu, encobrindo seu grito.

    HITSUGAYA POV

    A Prisão Central. Um complexo de predios onde mantínhamos todos os prisioneiros até ser dada a pena ou execução por seus crimes. Cada esquadrão tinha suas celas em separado, com uma porta gigantesca em relevo o kanji e trava eletrônica. Somente quem tinha a chave de acesso podia entrar. Então nesse caso, quando entrei no prédio principal, arrastando num kidou o Togabito preso no bloco gelo ninguém me questionou pela cena que estava armando. O shinigami na recepção me entregou uma pequena placa de metal com veios e sumiu dali.

    Acho que minha ira não estava tão controlada assim.

    De qualquer modo, segui para a ala das celas do 10º bantai e abri a porta enfiando a chave na fenda lateral ao lado do beiral. Num zumbido a porta se deslizou e entrei calmo no corredor de madeira. Aqui estava vazio. Ótimo. Escolhi uma cela ao acaso e abri as grades. Puxando com violência a corrente na minha mão, joguei o Pecador para dentro. O sujeito bateu na parede, quebrando o gelo e rolando, logo correndo até mim. Estreitei os olhos.

    Desgraçado.

    - Haunawa.

    Apontei a mão pra ele, um raio amarelo girando no meu pulso e o kidou pulou o acertando. Balançando o braço o atirei numa cadeira branca que ficava aqui prendendo no móvel. O sujeito gritou esperneando desesperado tentando se soltar.

    - Desista.

    A máscara branca de olhos vermelhos me encarou e ele parou de se debater. Se inclinando para frente, o Pecador soltou um risinho. Fervendo minha ira.

    - Eu pensei que fosse mais adulto, moleque. Não devia falar com seu superior? Antes de me prender?

    Riu outra vez. Já estava perdendo a paciência quando três reiatsus apareceram aqui. Fiquei mais irritado, porem lembrei que havia deixado a porta aberta.

    - Hitsugaya! O que está fazendo?

    O louro debochado me perguntou. Vi pela visão periférica seus olhos arregalados de espanto. Abarai estava no corredor tão chocado quanto ele, porem minha surpresa foi Kyouraku. Esse estava calado olhando para o Togabito na cadeira.

    - Interrogando um prisioneiro. E o que você faz aqui?

    Hirako suspirou estreitando os olhos e entrou na cela ficando ao meu lado para sussurrar.

    - Você não está em condições para uma coisa dessas e muito menos é isso que quer.

    Suspirei forte o encarando atravessado. Pela primeira vez vi que estava preocupado, seriamente. Contudo...

    - Se acha que quero vingança, enganou-se capitão. Eu quero respostas. – olhei para o prisioneiro – e ele me dará.

    Passei por ele encarando o pecador. O riso que soltava logo morreu com meu olhar.

    - Para onde a levaram?

    Ouvi uns arquejos e ignorei.

    - Hitsugaya, você acha...

    - Exatamente o que entendeu.

    Estreitei o olhar. O ar ficou mais pesado aqui. Apenas não sabia se era pela surpresa da minha pergunta ou porque minha reiatsu estava se descontrolando. Ao meu lado, Hirako arfou mais e então se aproximou agarrando meu ombro, minha raiva só aumentou.

    - Pare com isso! Sei que está em choque pela morte da garota, mas não pode...

    - Eu sei do que estou falando, Hirako! Cale-se!

    Me sacudi da sua mão com violência, o fazendo me soltar. Isso o assustou. Junto com o tenente e o outro capitão. Suspirei pra arranjar um pouco de calma. Sabe lá de onde.

    - Ela... Não morreu. You Ou me disse.

    Seus olhos se arregalaram. Finalmente entendendo. Com essa pausa, aproveitei me voltando para o Pecador. Ele até então estava quieto assistindo. Estreitei o olhar outra vez.

    - Me responda. Para onde a levaram?

    Soltando um risinho sua cabeça se curvou para o lado.

    - É bem obvio, não acha?

    - Você não entendeu – me aproximei mais uns passos, o ar tremendo em minha volta – Eu perguntei pra qual lugar do Inferno a levaram?

    O Togabito se endireitou, se intimando e engolindo em seco.

    HITSUGAYA POF

    Horas depois

    KARIN POV

    A primeira coisa que senti foi a dor. Amena e incomoda na minha barriga. Gemi tonta, saindo do torpor sentindo todo meu corpo pesado. Abri os olhos lentamente enxergando tudo embasado até minha visão melhorar. Acima de mim um teto de pedra avermelhada se estendia irregular e alto. Pisquei confusa. O quarto do Toushirou não tinha um teto assim. Fiquei o encarando até que lembrei. Em pânico sentei de repente, a dor aumentou. Rapido segurei o local e senti um tecido áspero e molhado. Olhei meus dedos vendo sangue e notei mais algumas coisas. A primeira que estava somente com a parte de baixo do meu kimono negro. O top branco estava um pouco sujo e havia faixas e mais faixas enroladas no meu abdomem. Esse era o tecido àspero. A segunda, no meu pulso direito, uma correntinha enferrujada estava enrolada nele e me incomodava. Já a terceira, eu estava sentada numa cama. Larga, macia e de casal. De todas essas, foi a que mais me assustou. Levantei apressada, pisando no piso também avermelhado e uma tontura me engolfou. O lugar girou e rápido agarrei uma coluna da cama. Me sustentando.

    - Não se esforce Karin, você ainda não se recuperou.

    Arregalei os olhos e virei o rosto para a voz. Sentado numa cadeira de esfotados carmim Shuren me encarava divertido. Olhei pra ele e percebi que também esta só de calça. Um arrepio desceu pela minha espinha, aumentando meu pânico.

    - On-onde estou?

    Ele sorriu do meu gaguejo, me fazendo engolir em seco. Se levantando da cadeira ouvi um tilintar e rápido encarei seus pulsos. Algemas e correntes quebradas. Reparando no meu olhar ele levantou o pulso, caminhando até a mim.

    - Isso? São correntes de Jigoku.

    Arregalei os olhos o encarando. Shuren abaixou o braço, sorrindo disfarçado.

    - Ji-jigoku?

    - Sim. E respondendo sua outra pergunta é onde está agora.

    Meu ar faltou e agarrei com mais força a coluna. Eu.. eu estou no Inferno? Mas isso é...

    - Impossível?

    O encarei outra vez e tomei um susto. Ele estava perto demais de mim. Me inclinei para tras tremendo, caindo sentada na cama. Shuren quase riu disso e deu meia volta indo até a parede de pedra avermelhada. Havia vários buracos nelas. A maioria vazios, outros com chamas amarelas.

    - Até semanas atrás realmente era impossível. Afinal, você é uma alma inocente, vivendo em Soul Society. Jamais caíria aqui.

    Enfiou a mão num desses buracos trazendo uma lanterna antiga. Daquelas que parecem com caixinhas de vidros e ferros. Porem, a que trazia não tinha nenhuma vela ou vidro. Pelo contrario, chamas alaranjadas queimavam nela. Engoli em seco e me encolhi, trazendo as pernas pra longe dele quando se aproximou. Shuren nem se importou. Se apoiou num joelho, erguendo a lanterna um pouco acima da cabeça.

    - E sabe porque?

    Fiquei calada. Notando em silencio uma coisa inquietante. Minha reiatsu... Eu não sentia nenhum pouco.

    - Por que não é uma Pecadora.

    Lembrei daquele dia na floresta. Toushirou o chamou assim.

    - O que é isso?

    Sorrindo satisfeito, ele inclinou o rosto. Pelas poucas chamas nesse quarto estranho (eu tinha a péssima impressão que era dele) sombras cobriram seu rosto, o deixando mais assustador.

    - Bem curiosa. Pecadores são almas de pessoas jogadas no Inferno. Enquanto vivas, cometeram crimes hediondos, tão imperdoáveis que uma zanpakutou não purifica. Então somos acorrentados nesse lugar, torturados por toda a eternidade pelos guardiões.

    Nesse instante, um som grave ecoou. Pulei de susto e Shuren se levantou dando a volta até ficar ao pé da cama. Mais perto de mim.

    - Não se preocupe. Os Kushanadas não vão te encontrar. Essa montanha é um solo sagrado. Feitas dos ossos de outros guardiões demônios.

    Estremeci. Sinceramente, essa aula de história estava me deixando mais apavorada. Me olhando de soslaio, Shuren deu um sorrisinho.

    - Antes de chegarmos ao que interessa, lembra de cinco anos atrás?

    Engoli em seco. Suspirando fundo pelo nariz.

    - Você me sequestrou.

    Ele quase riu do meu tom de acusação.

    - Sim e não saí bem disso graças à Kokutou. – sussurrando – que fique mais tempo nas profundezas – Porem aquele cretino de certo modo me fez um favor.

    - Co-como assim?

    Me arrastei pra longe e Shuren ergueu a lanterna. Sem querer olhei para as chamas. E o que vi nos seus veios me espantou. Um hollow, de corpo humano e branco com chifres na máscara atacava um outro também humanoide, só que esse parecia um morcego, com as pernas negras, a cauda e as asas. Vendo meu espanto, ele continuou.

    - Isso é memoria. E esse monstro branco é seu irmão

    O encarei chocada.

    - Não! Esse não é o Ichi-nii! Não pode ser ele!

    - Ah! Então Kurosaki Ichigo esconde coisas da família – estalou a língua – não devia fazer isso. Só causa problemas.

    Bati no colchão.

    - Não é o Ichi-nii!

    - Claro que é. Eu vi com meus próprios olhos seu irmão se transformar nesse monstro. – sorriu do meu horror – por isso invadi sua casa e tentei sequestrar as irmãzinhas, porem consegui apenas uma.

    Abaixou a lanterna. Eu não consegui falar. Chocada ou talvez apavorada com tudo isso. Sem contar que a ferida se abriu com aquele movimento brusco.

    - Seu irmão tem um poder incrível. Tão poderoso que pode quebrar até as correntes do Inferno. Mas ele é perigoso demais de se lidar. Até com ele mesmo.

    - O que você quer?

    Engoli em seco. Esse cara estava adiando muito o assunto e comecei a sentir um pavor crescendo. Me fazendo tremer.

    - Gosto de você garota, é bem direta. – sentou na cama e me arrastei mais pra trás, percebi que se irritou mas disfarçou bem – como eu disse. Seu irmão é perigoso demais. Não é uma pessoa que se dobre tão fácil.

    - Meu irmão não vai fazer nada pra você.

    Disse com raiva e Shuren riu. Procurei não me apavorar mais e agarrei um travesseiro por trás. Discretamente.

    - Claro que não. Não estou contando com isso.

    Franzi a testa confusa.

    - Então porque...?

    - Sua família tem uma linhagem de filhos únicos. Almas densas de poder. Sua outra irmã não possui esse traço tão característico, mas quanto você e seu irmão...

    Estreitou o olhar suspirando. Um calafrio me varreu.

    - Seu irmão não é um shinigami, nem um humano e muito menos um hollow. Porem tendo um pouco de cada um o transformou nisso.

    Me mostrou a lanterna outra vez. A mesma cena da luta.

    - Quanto a você é uma alma e ainda melhor, uma shinigami. Seu poder é considerável, mas não supera o meu.

    Engoli em seco, agarrando com mais força o travesseiro.

    - O..o..o que quer dizer?

    - Hollows são bestas sem coração, mas não são almas corrompidas. Agora um Pecador... O próprio miasma do Inferno só é suportável para um Togabito. Não se sente cansada Karin? Oprimida?

    Fiquei calada, mas não consegui disfarçar o mal estar. Devo estar pálida só com esse ar pesado em minha volta. Sorrindo, ele continuou.

    - Fiquei imaginando muito isso. O que aconteceria se houvesse um ser que fosse um hibrido de shinigami e um Pecador?

    Estreitou o olhar, se deliciando com meu choque.

    - Com certeza deve ser mais poderoso que seu irmão.

    Deliberadamente seu olhar deslizou em mim, parando bem abaixo. A essa altura eu tremia de pânico.

    - Fico muito agradecido que Gunjou a golpeou na barriga. Se fosse seu ventre poderia correr o risco de deixa-la estéril.

    Aproveitei e atirei o travesseiro na sua cara. Shuren se distraiu deixando a lanterna cair. Algo pegou fogo, mas não liguei. Pulei da cama e disparei para o arco do outro lado do quarto, mal reparando na decoração. Não havia porta e agradeci à isso. Entrei no corredor largo de pedra avermelhada. Correndo com todas as minhas forças sentindo a ferida doer, mas não me importei. O pânico me tomava, me gelando apesar do calor que emanava das pedras.

    Procurei por alguma porta, qualquer lugar nesse corredor longo e enorme. Mas não achei nada e não havia ninguém aqui. Vi um corredor lateral e disparei por ele, quase batendo na parede, meu folego queimando meus pulmões. Me senti fraca com esforço, mas eu precisava correr. De repente vi uma luz no arco do fim desse corredor e forcei mais as pernas. Quando atravessei o beiral a luz por um momento me cegou, mas não parei de correr. Meus olhos se acostumaram e notei que estava numa grande área, como um salão de um castelo. Mas sem um móvel ou as pedras cinzentas. A única coisa que havia aqui era aquelas pontudas subindo e descendo do teto e chão.

    Acima bem no alto, uma abertura dava lugar para céu azul. Me distraí um pouco, a cor lembrava mais a água do que o próprio céu. De repente, um peso bateu nas minhas costas e caí nesse chão duro gritando. Braços me agarraram me virando e deitando no chão. Comecei a espernear e chutar, soltando um braço e fechei o punho dando um soco. Acertei pelo o que senti o rosto e ouvi um risinho. No segundo seguinte, agarraram meus pulsos e prenderam contra o chão acima da minha cabeça e fechei as pernas, tremendo e arquejando. Acima de mim, Shuren se inclinava ofegando. Pelo seu olhar, escuro de luxuria ele pouco se importava com meu soco. Tinha até machucado, pois cuspiu sangue pro lado.

    O aperto nos meus pulsos aumentou junto com meu pânico.

    - Ah menina... Eu vou gostar muito de dominar você.

    Um joelho seu se enfiou com violência entre minhas pernas abrindo-as. Ele segurou meus pulsos numa mão só enquanto a outra agarrou a faixa da minha calça, puxando com força tentando soltar. Eu não parava de gritar, minha mente virando um branco de terror e comecei a chorar. Ele me arranhou na barriga e gritei com mais força. Quando Shuren enfiou o rosto na curva do meu pescoço, senti ele respirando forte e lembrei de Toushirou. Chorando ainda mais. Ele nunca vai saber o que aconteceu comigo...

    Apertei os olhos parando de lutar porque a ferida doía demais. Estava tão apavorada que comecei a ver pedaços brilhantes caindo da abertura. Pensei que eram pedaços de gelo e então, de repente o ar aqui ficou mais frio. Quando Shuren conseguiu rasgar um pouco minha calça ouvi uma voz grossa e cavernosa.

    - Souten Ni Zase...

    Arregalei os olhos. Essa frase... De repente o ar ficou congelante e os pedaços de gelo caíram girando. O rugido de uma fera se propagou enquanto uma rajada branca e fria me envolveu num estrondo. Shuren foi jogado pra longe de mim gritando ao mesmo tempo que algo imenso caiu no piso da caverna, estremecendo-a. Tonta pela rajada branca não consegui ver nada e então algo parecido como garras me seguraram pelo tronco e me levantaram. Gritei de susto quando me colocaram numa superfície congelante, que se mexia girando com o som de gelo estilhaçando até parar. A rajada branca se dissipou e olhei em volta para onde estava. Paredes de gelo celeste, com relevos em formato de escamas. Um vapor branco saía da minha boca a cada vez que respirava e escutei um rosnado grave, ecoante. De um animal perigoso prestes a atacar.

    - Não vai machuca-la!

    A voz soou em tom de ameaça outra vez e estremeci mais chocada. Entendendo o que era esse casulo de gelo onde eu estava.

    Um imenso dragão serpente de olhos vermelhos e gelo celeste.

    KARIN POF


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