A paixão do capitão de gelo

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 19

    Gota de diamante

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Jigoku

    Num corredor de pedra avermelhada, um homem esguio e musculoso andava com passos vagarosos. Com os cabelos rosados batendo nos ombros, uma mecha insistente caindo nos olhos por mais que afastasse, os óculos lhe davam uma aparência intelectual do cientista que era. Szayel Aporro caminhava com calma nesse corredor de pedra. Ou melhor, o túnel da caverna. Estreitou os olhos reprimindo um esgar. Suas vestes um dia brancas estavam esfarrapadas, mas ainda conservava certa altivez do Espada que já foi. O Inferno era mesmo uma droga. Há cinco anos caiu nesse Vale e cometeu a estupidez de enfrentar o líder. O defunto de cabelo azul. Apesar de trabalhar como um escravo, se vestir quase como um mendigo o que realmente irritava era o tilintar persistente. Sempre quando andava, ao menor movimento. Os ferros e as correntes quebradas em seus pulsos e braços eram seu ‘inferno’.

    No entanto, sorriu torto enquanto dobrava uma esquina e entrava em outro corredor. A tarefa que recebeu nesses cincos anos era muito promissora. Uma pequena vingança contra aquele shinigami odioso. Enquanto seguia no tunel de pedra avermelhada, com chamas em buracos nas paredes iluminando, logo avistou a abertura dando ao “salão de audiência”. Cruzou o beiral de pedra e seguiu direto para o tablado com o trono. As estalagmides e estalagtides despontando do teto e chão desta parte da caverna. Tinha que admitir. Era muito engenhoso construir no interior de uma montanha uma fortaleza. Enquanto abria caminho na multidão barulhenta, olhou atravessado com desdém os outros defuntos. Pedindo o de sempre, um pouco de proteção.

    Que medíocre.

    Sentado no trono, Shuren assim que o viu atravessar a multidão de Pecadores dispensou três desses sujeitos. Fez uma inclinação rápida ao ficar diante do primeiro degrau do tablado de pedra e se endireitou.

    - Está quase pronto, senhor.

    O defunto sorriu afetado do seu sarcasmo. Mas não se importou. Ele sabia o quanto detestava ser seu escravo.

    - Syazel... eu preciso de mais certeza do que um quase . Os homens que enviei não podem ficar em Soul Society para sempre.

    Syazel ao contrario de se irritar ficou mais desdenhoso.

    - É claro, mas eles terão tempo. O portão logo se fechará e estou garantindo que o senhor tenha o que quer.

    O olhou convencido enquanto a expressão do defunto se nublava um pouco, suspirando ao lembrar...

    - Uma semana.

    - Não mais que isso.

    Shuren piscou voltando ao presente e se ajeitou no trono. O rosto sóbrio.

    - Já pode ir.

    Syazel se curvou e deu meia volta. Abrindo caminho no meio da multidão. Pretendia terminar ainda hoje suas ordens e depois assistir com prazer os resultados. Como será que os shinigamis reagiriam se soubessem? Sorriu com prazer. Claro, seria tarde demais quando fossem intervir.

    Soul Society

    KARIN POV

    - Hum

    Franzi o rosto enquanto andava devagar pela passarela. Uns três caras estavam voltando do refeitório e rápido desfiz essa careta, dando um sorriso quando passaram por mim. Depois franzi o rosto de novo. Pelo sol quase a pino e a agitação comum no esquadrão eu acordei ao meio-dia senão mais. Desci os degraus no fim da passarela e dobrei pra direita entrando na varanda de madeira polida do refeitório. Estava morrendo de fome.

    Acordei com os roncos famintos da minha barriga. Alias, eu nem havia jantado. Suspirei um pouco cansada e tentei de verdade andar o mais normal possível, mas... Caramba, ainda doía. Quando acordei ainda pouco estranhei o quarto por um momento, piscando confusa olhando em volta até que levei um susto. Olhei pra mim mesma e realmente não me enganei. Enrolada num lençol branco eu estava nua! Espiei ansiosa pra direita e meus ombros tinham caído.

    Toushirou tinha ido embora e devia ter sido bem cedo porque o lado do futon onde passei a mão estava frio. Havia me sentado devagar sentindo e lembrando do que fizemos de madrugada. Meu rosto queimou. E rápido abaixei a cabeça enquanto cruzava o beiral e seguia direto à bancada com a comida. As mesas compridas quase todas ocupadas dos soldados. Puxa vida. Do jeito que fizemos... Tá, eu fiquei receosa e doeu muito no começo, mas mesmo assim... Toushirou conseguiu me fazer gostar. Tanto que quase desmaiei. Fico imaginando o que será que aquela coisinha de fitas faria se soubesse.

    Sorri maldosa, pegando as tigelas de ensopado e arroz depois andando até uma mesa quase vaga com meu almoço na bandeja. Ao sentar na almofada (tendo todo o cuidado) imaginei sua reação. Choraria? Teria talvez um ataque? Ou ficaria chocada? Ah, agora queria muito ver...

    Peguei os hashi e agradeci a comida logo atacando a tigela de arroz. Eu estava com tanta fome. Quando meu estomago sossegou um pouco suspirei deliciada com o ensopado e mastiguei mais arroz, pensando. Antes de tomar um banho me analisei preocupada como esconderia as marcas vermelhas (porque com certeza estava cheia delas) e de novo arfei surpresa. Minha barriga, cintura, coxas e os seios não tinham um sinal sequer. Nada insinuando que alguém me agarrou e beijou. Rápido, fui até minha mochila gemendo um pouco do incomodo entre as pernas e catei meu espelho de mão. Olhei meu pescoço, esticando de um lado pro outro e nada também.

    Tomei um pouco do ensopado. Escutando a cacofonia dos shinigamis que almoçavam. Meu namorado era mais cuidadoso do que pensei. Antes de sair Toushirou deve ter curado todos meus hematomas da nossa noite de paixão. Corei um pouco abaixando o rosto. Ele estava agindo um tanto estranho com essa atenção toda. Confesso que gostei disso, ele até arrumou o quarto dando um sumiço nos panos e na água vermelha da bacia. Mas... Sei lá. Não parece com um namorado cuidando da sua garota, se é que algum faz isso. Ele estava agindo como... Como... Lutei pra achar a palavra e quase me esgasguei de susto.

    Ele estava agindo como meu marido!

    Tá. Muito convencido da minha parte, mas pensando bem, ontem quando nós... Nós... Enfim, quando a gente se entregou foi tão natural. Mesmo com meu nervoso me sentia plenamente segura, afinal de contas, era o Toushirou. Meu mari... Arregalei os olhos. Namorado! Ele era o meu namorado! Que droga. Agora não consigo parar de pensar nisso. Peguei mais arroz com os hashis. Como seria o Toushirou casado? Seria fiel pra sua esposa? A trataria com respeito e nunca, nunca teria um caso com a coisinha de fitas?!

    Uma raiva súbita me fez apertar os dentes, estreitando os olhos. Ah... Se ele sonhar em me por um par de galhos na testa eu quebro ele e a vadia daquela tenente. Nem que seja presa depois.

    Peraí. Mas o que eu tou pensando?!

    Toushirou nunca faria isso! E até porque é mais fácil aquela falsa da Hinamori pular em cima dele. O que com certeza vai ser o pior erro dela.

    //////////////////////////////////////////////////////////////////////////

    Depois do almoço fui até meu quarto pegar algum dinheiro. Como suspeitava só tinha mais um par de fitas e já que não teria aulas por esses dias aproveitaria pra comprar mais. Fui até o escritório, pra avisar o Toushirou. Eu podia demorar e não queria depois me explicar pra ele. Deslizei a porta do gabinete já entrando e dizendo.

    - Taichou, o senhor...

    Parei piscando. Ué? A mesa do capitão estava vazia. Olhei em volta caminhando em direção aos sofás no meio do comodo, mas Rangiku também não estava aqui. Que esquisito. Sentei no sofá, suspirando. Vou esperar um pouco. Afinal de contas, ele deve ter ido pra uma reunião, sei lá. Comecei a brincar com as pontas da minha fita no lado direito do meu cabelo. Fiquei uns cinco minutos quieta até que levantei o olhar encarando a mesa do Toushirou. Estava sentada no sofá que ficava voltado pra ela. Enquanto a encarava uma curiosidade me bateu.

    Olhei pra porta, para o corredor. Hum... Deserto. Levantei do sofá e fui até sua mesa. Aproveitaria essa oportunidade pra bisbilhotar um pouco. Sorri sozinha e comecei pelo o que tinha no tampo de madeira lisa. No canto esquerdo uns livros pesados de capa azul estavam empilhados. Abri um lendo a folha de rosto e bufei. Contabilidade. Fechei o livro. Sempre detestei matemática. Passei para as outras coisas. Uma caixa com tinta preta e um pincel em cima. Umas folhas meio espalhadas diante da cadeira dele... Peguei uma dando uma lida rápida.

    “Desaparecimento de shinigamis na rede águas subterrâneas.”

    Franzi as sobrancelhas. Onde raios fica isso?!

    - Karin-chan?

    - Kyaah!!

    Dei um pulo largando a folha. O documento quase cai em cima da caixa de tinta e peguei rápido me virando pra porta. Rangiku me olhava desconfiada com a mão na cintura.

    - O que está fazendo?

    Engoli em seco. Droga! Atrapalhada coloquei de qualquer jeito a folha na pilha sabendo que o Toushirou notaria.

    - Ah! E...e..eu só estava...

    - Bisbilhotando.

    Arregalei os olhos e nesse instante Rangiku não aguentou. Soltou uma risada andando até mim. Meu rosto queimou de vergonha.

    - Não é nada disso.

    Ela me encarou nada convencida. Droga! Porque não reparei se vinha alguém?

    - Sei. Fique tranquila. O capitão não vai reparar na pilha bagunçada, mas se tivesse mexido nas gavetas...

    Minha curiosidade inflou.

    - O que tem nelas?

    Rangiku piscou de repente confusa.

    - Eu sei lá. Semana passada fui pegar umas folhas porque as minhas acabaram e ele ficou bravo quando fui procurar numa delas.

    Demos a volta na mesa e olhamos para as quatro gavetas. Ah, eu queria agora tanto ver...

    - Melhor não, Karin-chan.

    Levantei o olhar e Rangiku me olhou meio risonha meio envergonhada. Meus ombros caíram e saí de perto da mesa.

    - Se você diz, tudo bem. Mudando de assunto, sabe cadê o Toushirou?

    Rangiku suspirou fazendo aqueles seios enormes inflarem e me dando uma inveja. Se tivesse só um pouquinho mais...

    - Chegou uma borboleta infernal convocando-o para uma reunião. Deve ser algo importante porque a mensagem dizia que era a respeito do ataque daqueles monstros.

    - Ah.

    Ainda sobre isso?

    - Queria alguma coisa?

    Olhei pra ela. Rangiku sentou no braço do sofá curiosa. Dei os ombros.

    - Nada demais. Eu vou ao mercado comprar umas coisas e queria avisar pra ele.

    - Que bonitinho, Karin-chan.

    Me espantei. Ela me olhava risonha e contra vontade corei.

    - O que é que tem? E, além disso, preciso ir logo. Dá o recado pra mim?

    - Está bem.

    Ela ainda sorria e me emburrei um pouco, andando até a porta.

    - Arigatou.

    Estava quase chegando ao beiral quando Rangiku me chamou.

    - Ah, Karin-chan! O Taichou estava meio estranho hoje de manhã... Quase não trabalhou direito e passou o tempo todo distraído. Ficava olhando pro vazio e quando perguntei nem quis me responder.

    Parei no lugar arregalando os olhos. O coração batendo de repente rápido. Ai não, será?

    - O engraçado é que nem me perguntou do meu trabalho. Ele sempre me cobra e outra coisa. O capitão sumiu desde a reunião de ontem à tarde. Só apareceu hoje de manhã.

    Meu rosto queimou mais junto com o nervosismo me tomando. Claro! Toushirou não tem o costume de ficar muito tempo longe do escritório. E a Rangiku reparou. De repente, minha nuca ardeu.

    - Karin-chan.

    Dei um pulo ainda de costas.

    - Hai?

    - Agora que notei você parece meio estranha também.

    Prendi o folego. Antes que arrumasse uma desculpa pra sumir daqui o ar agitou de leve na minha frente e levantei a cabeça recuando um passo. Rangiku me encarava desconfiada, suas mãos na cintura.

    - O que foi?

    Estreitou mais os olhos e deu uma meia volta me olhando de cima a abaixo, aumentando meu nervoso.

    - Hum... Você está um pouco abatida. Não dormiu bem?

    Numa explosão lembrei de tudo e meu rubor aumentou, me deixando vermelha que nem um tomate. Rangiku estranhou.

    - N..nã..não. Eu..

    Os olhos cinzentos ficaram confusos com meu gaguejo até que se arregalaram. Rangiku se endireitou ofegando.

    - Ai, Meu Deus! Vocês...

    Me entalei entrando em pânico.

    - Não é nada disso que tá pensando!

    O olhar dela ficou malicioso com meu chiado. Ai, droga! A vergonha que me tomava só dobrou.

    - Sokka.

    Estremeci nervosa, aumentando o olhar malicioso dela.

    - É sério. Agora tenho que ir.

    Saí praticamente correndo, minhas bochechas pegando fogo de tanta vergonha. Fechei os olhos por um momento implorando. Por favor, por favor que ela não faça nenhuma piadinha com o Toushirou! Ele vai ficar possesso. Claro, sentiria vergonha. Mas a raiva seria maior. Eu tenho que dá um jeito nisso antes dele voltar. Quem sabe se ameaça-la sobre a ideia dela pra manchete do jornal não fizesse Rangiku calar a boca? Afinal, o Toushirou ainda não sabe que foi por culpa dela a cidade inteira saber do nosso namoro.

    KARIN POF

    No departamento de comunicações do Centro Tecnologico, Akon encarava o telão enquanto os outros shinigamis cientistas trabalhavam agitados. Na passarela onde estava em pé, diante do telão de imagens olhava para os dados que apareciam em ritmo frequente. Fez um esgar, apertando as mãos cruzadas nas costas.

    - Terceiro Oficial, na zona 30-04...

    - Eu sei. Continue analisando.

    O shinigami hesitou um pouco, preocupado.

    - Mas senhor. Esses ataques estão acontecendo deliberadamente. Os espíritos da cidade...

    - Sei bem disso, Rikuo. – estreitou os olhos, apertando mais as mãos – E por isso mesmo que devemos ter cautela.

    Rikuo calou-se e seguiu para o seu posto. Ele estava certo. Os ataques aos Konpakus de Karakura não eram normais, além disso, pelo o que via no telão não eram os únicos alvos. Inclinou a cabeça, mais pensativo. Tomara que Urahara Kisuke esteja investigando também. E que isso não esteja relacionado aos Togabitos.

    KARIN POV

    Arght. Eu nunca, nunca mais deixo pra comprar essas coisas depois. Andava até o ajolamento praticamente me arrastando, nas minhas mãos um pacotinho de papel. Sério, porque essas fitas são tão dificieis de achar? No mercado fui a mesma loja onde comprei da ultima vez e quando cheguei a moça de kimono vermelho me disse que não vendiam mais. Então tive que procurar outra loja. Fechei os olhos suspirando, entrando na passarela. Acho que andei nas ruas inteiras até encontrar e como se não bastasse, encontrei a Hinamori no lugar. Apertei os dentes descendo os degraus e seguindo direto pro alojamento. Mal percebendo os shinigamis ao redor. Aquela garota ou me ignorou ou realmente não viu. De qualquer modo eu não estava com animo pra brigar. Comprei um pacote com várias fitas brancas e me mandei.

    Mas quando tivesse oportunidade, perguntaria por que ela disse ao Toushirou que chamei o Renji no dia que desmaiei na Academia. Eu ainda não engoli isso. Por causa dela Toushirou e eu brigamos. Suspirei terminando de subir as escadas. Preciso de um banho e depois vou conversar com a Rangiku. Porem, quando entrei no meu quarto arregalei os olhos.

    - Mas que...?

    Corri pra dentro e procurei em cada canto. Minhas coisas sumiram! O futon estava dobrado no armário. Havia lençóis limpos também, mas nem um sinal da minha mochila! Sai praticamente correndo até a recepção. Ao entrar no hall vi Rangiku conversando com uma garota, que alias, parecia nervosa. Nem tinha chegado perto quando ao se virar Rangiku me notou e sorriu. Fiquei desconfiada.

    - Ah, Karin-chan. Demorou, o capitão estava mesmo perguntando de você.

    A garota ficou encabulada e escapuliu dali. Bom, não a culpo. Eu também corei um pouco.

    - Rangiku não precisava falar assim.

    Ela revirou os olhos andando até a saída e fui atrás.

    - Qual o problema? Falando nisso, tomei a liberdade de arranjar outro quarto pra você.

    Arregalei os olhos ficando ao seu lado. Ela me encarou e riu da minha cara.

    - Porque fez isso? Pensei que tinham roubado minhas coisas.

    - Que isso. Conseguiu o que queria?

    Estreitei os olhos. Ela sabe mesmo desviar do assunto.

    - Claro. E não me enrola – saímos da passarela seguindo para o caminho de cimento – Porque me trocou de quarto?

    Rindo sem graça, Rangiku me levou até um prédio perto do escritório do capitão. Era uma construção pequena e tínhamos que subir um lance de escadas de madeira até o segundo andar. Entrando num corredor de paredes verdes ela continuou calada até parar diante de uma porta de correr. A encarei mais desconfiada e então, me ignorando puxou a porta.

    - Pronto. Aqui é onde você ficará por esses dias.

    Suspirei entrando no comodo. Pelo visto ela não vai me dizer. Enquanto andava fui olhando ao redor. Com uma estante num canto da parede e uma mesa baixa ao fundo o quarto era bem limpo. Bem maior dos que havia no alojamento. O piso de madeira espelhava e perto de outra porta tinha um armário negro e minha sacola com minhas coisas pousava vazia em cima de um banco. Desconfiada abri o armário e encontrei todas minhas roupas penduradas em cabides. Até minha escova de cabelo e meu espelho estava numa penteadeira. Foi quando eu notei. Do outro lado do espaço onde estavam minhas mudas, havia pendurados outros kimonos negros. Engoli em seco. A compreensão batendo em mim.

    - Rangiku, esse quarto...

    Me virei mas ela já tinha sumido. Ah droga! Olhei o armário de novo e vi um cachecol verde. Todo dobrado numa prateleira.

    Eu não acredito que me pos no quarto do Capitão! Coloquei o cachecol no lugar e fechei o armário. Sério, agora sim ela exagerou. O que o Toushirou vai achar? Com certeza vai castiga-la. Bem... Fazer o que. Guardei minhas fitas novas na sacola e segui para a porta lateral. Abri checando e era mesmo um banheiro. Puxa os capitães tem certas comodidades. Já que estou aqui, resolvi bisbilhotar um pouco. Com certeza, aqui devia ter coisas mais interessantes do que na mesa dele no gabinete.

    Observei ao redor procurando algo interessante nesse quarto espartano e então encontrei. Fui até a mesinha ao fundo e me abaixei. Havia um vão debaixo do tampo e dei uma espiada. Estava anoitecendo e mesmo com as luzes no teto quase não vi nada. Apalpei até encontrar uma coisa. Franzi a testa. Parecia uma caixinha. Peguei dando uma espiada rápida na porta aberta e coloquei em cima da mesa.

    Hum... Era pequena e toda entalhada. Levantei a tampa com cuidado (sempre dando uma espiada na porta) e baixei o olhar. Arqueei as sobrancelhas, arfando. Dobradas em ondas, fitas brancas enchiam a caixinha de madeira. Peguei uma com cuidado, sentindo meu coração bater errado e meu folego faltar. Feita de cetim a fita tinha dobras em toda sua extensão. Como se alguém a tivesse segurado e enrolado nos dedos varias e varias vezes. Coloquei no lugar e analisei as outras. Meu coração bateu mais errado. Todas elas tinham amassados.

    Pousei as mãos na mesa, piscando e suspirando. Toushirou...

    - Karin?

    Prendi o folego. Droga! Fechei a caixinha e rápido coloquei no lugar. Antes que ele aparecesse na porta sumi no shumpo indo até o armário. Abri a tempo dele entrar aqui.

    - Ah, oi.

    Toushirou piscou confuso e fechou a porta. Mordi o lábio, será que ele notou meu nervoso? Peguei uma toalha e um kimono florido. Me virando pra ele segui até o banheiro sorrindo sem graça. Toushirou apenas me olhava curioso, parado no meio do comodo.

    - Gomem, a Rangiku me mudou pra cá, mas logo eu vou...

    - Não tem problema.

    Parei no lugar. Me olhando calmo ele caminhou até mim, a cada passo seu amolecendo mais meu corpo. Afetando meu coração atordoado.

    - Aonde foi? Matsumoto disse que tinha saído.

    Encarei o chão um pouco encabulada. Droga! Porque não esqueço a caixinha com minhas fitas? Tá, ele as roubou e guardou e... e...

    - Karin.

    - Hai.

    Levantei a cabeça nervosa. Toushirou segurou um sorriso estreitando o olhar. Umas mechas brancas caiam em seus olhos e mesmo nervosa percebi que estavam divertidos. Esticando a mão até meu colo (e ignorando meu espanto) Toushirou segurou a correia da minha bainha e puxou devagar pra si. Me curvei enquanto ele se debruçava, o folego morno banhando meu rosto e me deixando tonta.

    - Porque está nervosa?

    Me encarou profundamente e contra vontade um calor tomou meu pescoço subindo pelo meu rosto. Toushirou sorriu ao ver, me deixando mais nervosa e sem graça.

    - E..eu..eu não estou...

    - Está. – quase rindo fechou os olhos e colou a testa na minha, roçando e me fazendo suspirar – Não precisa ficar assim. Eu não sou seu companheiro?

    Franzi a testa confusa.

    - Nani?

    Pestanejando ele soltou minha correia, se afastando um pouco. Pelo seu jeito nervoso, parecia que disse isso sem perceber.

    - Ah... Nada. Mudando de assunto, como se sente? Acha que está em condições de treinar amanhã?

    Minha confusão aumentou. Parada perto do banheiro o assisti se afastar andando pelo quarto e tirando a zanpakutou das costas. Ele a colocou na estante e foi tirando o cachecol também. Apertei os olhos. Toushirou estava me enrolando, mas continuei a conversa.

    - Acho que sim, porque pergunta?

    Suspirando ele colocou o cachecol dobrado na estante e se virou.

    - Precisamos controlar nossa troca de reiatsu. Lembra que lhe falei sobre a conexão?

    Se encostou na parede ao lado da estante, cruzando os braços. Segurei melhor a toalha e o kimono, enquanto tirava a zanpakutou das costas.

    - Sim. Tem haver com aquela doença estranha, não é?

    Toushirou assentiu.

    - Você precisa aumentar seu poder e também temos que controlar nossas Shikais. Não quero drenar sua energia outra vez.

    Me olhou condoído e sorri um pouco.

    - Tá. Então a gente começa amanhã?

    - Se estiver em condições.

    Fiquei um pouco corada e me irritei. Ele estreitou o olhar se divertindo.

    - Eu já disse que sim.

    Entrei no banheiro quase batendo a porta. Mas ainda pude ouvir um risinho. Droga. Essas duas semanas vão ser estranhas.

    KARIN POF

    Dias depois

    HITSUGAYA POV

    Fazia quase uma semana que começamos o treinamento e ainda não conseguimos nada como resultado. Era frustrante. Todas as tardes Karin e eu lutávamos e ainda ela se cansava fácil. O combate ficava equilibrado até eu liberar Hyourinmaru e então You Ou se descontrolava. Ao ponto que ela ficava ofegante tentando manter a Shikai. Isso realmente me preocupava.

    Karin insistia em continuar, mas não era viável. Então parávamos. Eu voltava aos meus afazeres e ela descansava um pouco, indo depois acompanhar Matsumoto. Durante esses seis dias, nós não tivemos nada como do primeiro. Nenhuma intimidade além de beijos e abraços. Apesar de dormimos no mesmo quarto (e eu desconfiava que Matsumoto soubesse do que aconteceu) não a toquei nem nada. Mesmo querendo enquanto a via entrar no banheiro escutava ela se trocar e deitava ao meu lado no futon eu não insistia pra transarmos. Por quê? Por dois motivos.

    1º - Karin estava frágil. O desgaste físico com o treino só aumentaria se fizermos.

    2º - Ela podia engravidar.

    Eu não consigo me controlar no momento. Me perco em meu desejo por ela e talvez não tenha dado importância, mas nas duas vezes me derramei dentro dela. Mesmo que na segunda eu não a tenha tomado do jeito normal, eu ainda fiz isso. Para mim não havia problema. Na verdade, enquanto ela dormia profundamente, eu afagava de leve seu ventre, imaginando ele mais redondo, com uma vida crescendo dentro dela. Sempre que fazia isso me pegava vendo uma menininha, igual à mãe em seus cabelos negros e pele pálida, mas quando ela abria os olhos eram verdes como os meus.

    Claro, eu nunca mencionei nada do tipo. Karin podia se assustar. Quando se mudou pro meu quarto eu disse “companheiro” sem querer e ela estranhou. Imagine se eu conversar sobre casamento? Eu andei conversando um pouco com os magistrados de Seireitei, no meio das folgas entre o caso do portão que os Togabitos abriram e as atividades do esquadrão. As noticias não eram nem um pouco boas. Apesar do meu posto de Capitão eu era jovem e Karin adolescente. Teria que entrar com uma serie de documentos pra conseguir uma licença especial e então podíamos nos casar. Hirako um dia me flagrou saindo do escritório de um magistrado e desde então me atormenta. Mencionando Kurosaki e o Capitão Shiba, além de claro me perguntar se havia feito algo que não devia.

    Louro debochado.

    Minha relação com Karin não é da conta de ninguém.

    Segui para o Seikamon oficial. Acompanhado de Abarai, Madarame e Matsumoto. Mais cedo o Soutaichou me nomeou chefe de operação sobre uma perturbação de frequências espectrais em Karakura. Muitos espíritos estavam sumindo em ataques e os agressores não eram fáceis de detectar pelo Centro Tecnologico.

    Quando os portões se abriram, dando passagem para aquela luz branca e quatro borboletas infernais senti um incomodo. Um aperto leve no peito. Pisquei confuso enquanto andava e era marcado com o selo de restrição de reiatsu. Era como se eu não devesse estar saindo de Soul Society agora.

    /////////////////////////////////////////////////////////////////

    - Sei. Então o Comandante enviou uma equipe tática.

    Urahara tomou um pouco de chá. Sentados ao redor da mesa baixa e redonda estávamos eu, Matsumoto, Abarai e Urahara. Kuchiki que também estava aqui saiu há alguns minutos buscar Kurosaki com Madarame. Só espero que se mantenha calmo. Desde aquela luta, não o vi mais e sinceramente, tinha a péssima sensação que o encontro não vai ser amistoso. Baixei a caneca encarando Urahara.

    - O que conseguiu descobrir dos ataques?

    Suspirando ele também colocou a caneca na mesa.

    - Os espíritos foram atacados e devorados. Quanto aos shinigamis...

    - Também tiveram a mesma sorte.

    Ele me olhou atravessado, a aba do chapéu cobrindo um pouco seus olhos.

    - Exato.

    - Isso está parecendo com aquele caso de há cinco anos.

    Abarai comentou encarando a mesa. Matsumoto que estava até então quieta se virou para ele.

    - Fala de Shrieker?

    O tenente levantou os olhos, a expressão séria.

    - Sim. Rukia estava lutando com ele e recebemos um aviso do Centro Tecnologico de uma reiatsu estranha no Mundo dos Vivos.

    - O Togabito que fugiu do Inferno e devorava os shinigamis e os espíritos.

    Abarai me encarou assentindo. Pisquei mais confuso.

    - Esses incidentes de agora...

    - Não fazem sentido.

    Me virei pra Urahara. Ele também estava pensando longe.

    - O modus operandi é o mesmo, no entanto, toda vez que Kurosaki-san investigava com Kuchiki-san a reiatsu desaparecia.

    Franzi a testa encarando a mesa. A sensação de que havia algo errado com os ataques apenas aumentava com a conversa.

    - Então porque...

    Um coro de bipes soou. Todos ao mesmo tempo. Abarai pegou seu Soul Pager abrindo e verificando o sinal. Antes que falasse uma pressão espiritual perturbou o ar. Arregalei os olhos. É forte demais.

    Todos nos levantamos da mesa e corremos para a janela. Abarai saltou no shumpo com Matsumoto e antes que os seguisse me virei para Urahara. Ele já estava em pé, segurando sua bengala-espada.

    - Avise Soul Society. Diga que está acontecendo outro ataque.

    - Hai.

    Me virei sumindo no shumpo. Correndo pelos telhados das casas até o local onde a reiatsu estava. Isso é absurdo. O agressor tem a reiraku de um hollow, mas não é igual ao de um e muito menos de um Pecador. O que era então?! Saltei mais uma vez, aparecendo num parque no centro da cidade. Parado no ar encarei a clareira gramada. Estava anoitecendo e nenhum sinal de luta. Estreitei os olhos. Olhando ao redor.

    - Onde está?

    O vento soprou mais devagar. O silencio pesando surdo em meus ouvidos e aumentando o suspense. Me inclinei agarrando o punho da zanpakutou, os sentidos em alerta. Longos minutos se passaram e não senti a presença. Já iria procurar em outros lugares quando ouvi. O rasgado de som do sonido. Me virei sacando a zanpakutou, chocando contra uma corrente. Arregalei os olhos. Encarando o braço branco onde os elos estavam presos e as faíscas. A criatura soltou um riso estridente.

    - Shinigami....

    Seu outro punho tentou me socar e sumi no shumpo aparecendo ao seu lado. Numa fração de segundo vi o manto negro e as asas brancas de morcego, então dei um golpe. Uma rajada de gelo se chocou com o monstro o atirando pra baixo, caindo com um estrondo na clareira. Franzi a testa. Era um Togabito, mas então porque não senti sua presença?

    Antes que entendesse garras me golpearam nas costas. Gemi de dor, girei levantando a espada e então o sonido veio a minha esquerda, junto com uma perna branca se atirando.

    - Shibata.

    O joelho me acertou nas costelas, me atirando com força na direção das arvores. Apertei os dentes escutando as risadas, minha raiva aumentando. Agarrei o ar entrando no bosque e freando minha queda. Levantei a cabeça. Encarando o outro Pecador que saltava no ar. A cauda chicoteando de um lado pra outro enquanto cacarejava. Quando apareceu na minha frente, levantando as garras pra me rasgar sumi no shumpo. No céu nuvens apareceram girando enquanto surgi metros acima dele. A máscara se ergueu me encontrando tarde demais. Levantando a zanpakutou num giro, correntes de agua e gelo explodiram do punho, junto com a corrente e a lua metal.

    - Soten nin Zase... HYOURINMARU!!

    O dragão serpente de gelo caiu escancarando a boca, rugindo com os ventos soprando furiosos. O Pecador se esquivou sumindo e girei o pulso, mudando de direção. Quando ele apareceu o dragão o engoliu arrastando no bosque, abrindo uma vala congelada, derrubando arvores no caminho. Senti uma reiatsu conhecida caindo rápido e sumi surgindo agachado nos galhos de uma arvore. Saltei pra onde estava a pessoa, uma nuvem de poeira levantando metros a frente. Antes que chegasse um relâmpago negro veio zunindo até mim. Arquejei me jogando pro lado, me esquivando shumpo ao cair na terra preta e folhas secas.

    Apareci me arrastando enquanto me firmava. Agarrando o chão com a mão livre, meu corpo se virou um pouco com a velocidade da queda e encarei ao longe, em tempo da explosão estourar quando atingiu alguma coisa. Arfei confuso. Os ventos sacudindo os galhos e o ar congelando.

    - Mas o que foi isso?

    O Gestuga Tenshou negro...

    - ICHIGOOO!!!

    Virei o rosto para o grito. Era a voz de Kuchiki. Corri no shumpo e cheguei num córrego. Uma pequena ponte de madeira estava destruída e vários pedaços de gelo se espalharam por toda a grama, nas arvores ao redor. Escutei um choque e urro de dor. Olhei na direção e Madarame lutava com o Togabito que feriu minhas costas. O manto negro tinha partes congeladas do meu golpe. Mas mesmo assim... Como apareceu aqui em segundos? Me concentrei na ponte quebrada e escondi minha reiatsu, sumindo.

    Eu vi. Kuchiki tentava proteger um homem caído enquanto seu braço sangrava. A zanpakutou branca em posição de ataque, enquanto olhava agitada por todos os lados. A sombra que a cercava apareceu acima dela. Rindo e levantando os punhos fechados. Antes que a atingisse surgi entre eles, jogando o braço num arco. Uma rajada branca deu lugar ao dragão ao explodir da minha espada, serpenteando e rugindo ao se chocar com o Pecador. Olhei sobre o ombro e vendo de relance Kurosaki desmaiado sagrando e sumi outra vez. Kuchiki abriu a boca chocada quando um terceiro Pecador apareceu. A alabarda que segurava descendo num golpe. Foi tudo muito rápido. Apareci num borrão chutando seu braço que segurava a arma e dei um golpe na sua mascara. A lâmina quebrando-a.

    Ele gritou em pânico segurando o que restava evitando esfarelo e saltou pra longe, caindo agachado num monte de terra. Me virei de lado levantando a zanpakutou e Abarai surgiu a minha direita com sua shikai e Madarame a minha esquerda. Antes que perguntássemos os outros dois Pecadores apareceram. Lado a lado do que estava agachado. O vento sacudia forte aqui. Açoitando nossos kimonos e levantando um pouco o manto deles.

    Foi quando olhei para o braço descoberto de um e o choque me tomou.

    - Aquilo...

    Abarai ofegou e os dois Pecadores riram de nós. O morcego com as garras pulou num pé curvando a cabeça.

    - Entendeu agora, shinigami sênior?

    Encarei os três apertando o punho da espada.

    - São quimeras.

    - Nani?!

    Madarame chiou. O Pecador com cauda de chicote soltou um risinho.

    - Chega, Shrieker. Já cumprimos as ordens.

    Fiquei em alerta.

    - Ordens de quem?

    A mascara branca do morcego se virou pra mim.

    - De quem? Acha mesmo que vamos dizer?

    Soltou o riso irritante e então todos saltaram pra tras. Uma linha de fogo azul riscou a grama e se abriu na fenda avermelhada, o som de correntes tilintando. NÃO! Me atirei junto com Madarame e Abarai. O tenente gritando.

    - MATTE!!!

    Caímos os três, mas tarde demais. Um segundo antes a fenda se fechou, as chamas azuis sumindo. Suspirei com raiva, a frustração me tomando. Droga! Estavam tão perto.

    - Ichigo!

    Levantei a cabeça me virando pra trás. Abarai corria na direção da ponte quebrada junto com Madarame. Sumi no shumpo aparecendo perto de Kuchiki. Ela agarrava desesperada os ombros de Kurosaki. Sua zanpakutou perto dela nas tabuas quebradas.

    - Ichigo! Reaja, bakamono!

    Kurosaki continuou desacordado e ofegante. Havia um rastro de sangue em sua testa, mas afora isto nenhum ferimento grave a vista. Porem, sua reiatsu caía rápido demais.

    - O que aconteceu?

    Suspirando nervosa ela soltou o substituto. As mangas brancas da nobreza manchadas de sangue e rasgadas em seus braços.

    - Estávamos indo até a Loja de Urahara e os Pecadores apareceram. Lutamos contra eles, mas...

    - Nem com Bankai de Kurosaki tiveram êxito.

    Ela me encarou e notei o quanto estremecia por dentro. Isso me espantou um pouco, mas fiquei calado.

    - Não senhor. A velocidade e a força deles... Ichigo tentou usar sua forma-hollow quando um deles o atacou por tras. Ele não viu o Pecador e ele... – engoliu em seco - enterrou o punho em suas costas.

    Abarai e Madarame ofegaram de susto. Enquanto à mim, estreitei os olhos finalmente entendendo. Os ataques deliberados... E esse estado de Kurosaki... Tudo indicava que o alvo era ele o tempo inteiro. Então porque criaram essa situação toda?

    Encarei ao longe pensando em tempo de Matsumoto aparecer no meio do córrego. Ela estava um pouco ferida e ofegante, mas a expressão do seu rosto foi o que me alarmou. Era desesperada.

    - O que foi?

    Arfando, ela estremeceu estreitando os olhos. Me deixando mais desconfiado, aumentando meu alarme.

    - Capitão... A Karin...

    Esqueci de tudo quando disse o nome dela. Sentindo meu estomago sofrer uma queda. Algo. Terrível. Aconteceu.

    HITSUGAYA POF

    Uma hora atrás

    KARIN POV

    Eu sei que é meio infantil e poderia até ser estranho. Mas mesmo assim me escondi atrás de uma bancada de frutas enquanto esticava o pescoço. Espiando a tenente do 5º esquadrão conversando uma senhora de uma loja. Apertei os dentes. Essa... garota! Sumia em todos os lugares onde iria procura-la. Para quê? Pra tomar satisfação.

    A coisinha de fitas por algum motivo sabia da minha presença toda vez que ia procura-la no seu quartel, ou então em qualquer lugar onde seu Capitão me levava ela sumia. Hirako taichou sabia dos meus motivos, mesmo com minhas mentiras e ainda assim me ajudava. Isso me fazia pensar que queria a confusão se armar. E claro, não esqueceu da minha briga com sua tenente meses atrás.

    Ainda observando vi quando ela se despediu da senhora e continuou seu caminho. Estreitei os olhos. Pois bem. Continuei com a reiatsu escondida e me levantei do lugar, andando sorrateira atrás dela. Quando dobrou uma esquina aproveitei. Sumi no shumpo aparecendo ao seu lado e agarrei sua manga. Ignorando seu choque a levei para outro lugar. Às quadras daqui e numa ruela deserta.

    Quando aparecemos, ela se soltou de um safanão da minha pegada. Me encarando indignada. Curvei os lábios suspirando. Ah, garota... Agora você me paga.

    - O que você pensa que está fazendo, Karin-san?

    - Te pergunto o mesmo, tenente.

    Hinamori suspirou estremecendo. Apertando o olhar com meu sarcasmo.

    - Não entendi.

    Argh. Como é falsa! Dei um passo cerrando os punhos.

    - Vou te refrescar então. Semana passada, eu fiquei doente e você, Hinamori fukutaichou disse pro Toushirou que eu chamei o Renji pra me buscar na Academia.

    Ela piscou calma, levantou um pouco o rosto.

    - E o que tem de mais? Um guarda apareceu no 6º bantai e eu o vi dando o recado pra Abarai-kun.

    Me olhou inocente. Ignorando minha raiva

    - Você chamou ele, não chamou? Apenas contei a verdade pro Shirou-chan.

    Minha paciência explodiu. Pulei em cima dela gritando.

    - SUA VACA! PORQUE FEZ ISSO?!

    Hinamori ofegou se esquivando. Mas não desisti, sumi no shunpo aparecendo atrás dela e agarrei seus cabelos puxando e sacudindo.

    - Pare! Me solte, sua louca!

    Tentou me bater balançando os punhos e pernas pra trás, mas não conseguiu. Eu pulava me esquivando e puxando mais seus cabelos, destruindo o estupido coque!

    - Você.. Tem ideia da raiva que ele sentiu de mim?! Por sua culpa a gente quase terminou!

    Tomei impulso atirando-a contra uma parede. Hinamori agarrou meus braços e jogou as pernas pra frente, pisando e me impedindo de amassar sua cara. Então, chutou a parede e nos jogou pro chão. Bati as costas naquele piso duro, tirando meu ar e soltando seus cabelos. Então ela se virou e montou em mim, agarrando meus pulsos. Espantada senti quando me arrancou a bainha das costas e depois ouvi o baque, longe. Hinamori com os cabelos bagunçados e sorrindo maldosa ofegou.

    - E agora, Karin-san? Como se senti quando te tiram sua zanpakutou?

    Fiquei possessa.

    - Sua vaca!

    Começamos a gritar uma tentando bater e se soltar da outra. Quando consegui me soltar de suas mãos de repente ofegamos. Paralisadas e prendendo a respiração. De olhos arregalados uma pra outra, senti Hinamori estremecer junto comigo.

    - Sentiu isso?

    Assenti me assustando e então, a luz do poente foi bloqueada por uma sombra. Meu choque aumentou. Um punho gigante e branco descia pra nos esmagar.

    - Cuidado!

    Hinamori e eu rolamos pra longe, em tempo do piso se quebrar num estrondo ao nosso lado. Levantamos tremendo e antes que fizesse alguma coisa escutei um zunido familiar. Virei o rosto e duas caudas aneladas nos acertaram no estomago, jogando nos duas na cratera. Hinamori e eu gritamos em queda livre até mergulhar num rio escuro. Bolhas subiram ao redor e meu corpo inteiro doeu do choque com a água. Nadei indo a tona com Hinamori. Ela nadava pra longe do buraco muito acima de nós, indo até uma margem.

    Agarrei a pedra ofegante, subindo para calçada de tijolos avermelhados. Ao meu lado hinamori sumiu no shunpo e fui atrás sentindo minhas roupas pesadas. O pânico me tomava. De novo. Estava acontecendo de novo. Aparecemos num outro tunel com esse rio de água e então começamos a correr. Ofegantes por causa da queda e o nervoso.

    - O que eram aquelas coisas?

    - Eu não sei.

    Engoli em seco, tirando minha franja dos olhos. Os nossos passos ecoavam me fazendo olhar em volta. Senão fosse pelas luzes alaranjadas do teto aqui seria um breu total.

    - Que lugar é esse?

    Ofegando Hinamori dobrou uma esquina.

    - Um canal das redes de águas subterrâneas.

    Arregalei os olhos. Lembrando do documento que vi na mesa do Toushirou e o pânico que me tomava aumentou.

    - A gente precisa sair daqui!

    - Eu sei. Mas não conheço os caminhos aqui embaixo.

    A indignação me tomou.

    - Como não sa...

    Uma explosão destruiu a parede a nossa parede, os escombros nos jogando novamente para o rio. Parei no ar perto da superfície da agua freando a queda junto com ela. Encaramos o encapuzado e o arrepio me varreu. Era o gorila me atacou na floresta. Os braços gigantes e pesados. Antes que reagissimos um outro apareceu. Era gordo, quase redondo e fez um gesto me fazendo levantar a sobrancelha. Pondo a mão na mascara como se fosse jogar um beijo, balançou o braço e então um tiro de reiatsu disparou em nós.

    Sumi no shunpo e ouvi um estrondo. Quando apareci perto da esquina que entramos ouvi um zunido e esquivei pra desviar. Girei o corpo e dobrando o braço minhas palmas brilhando.

    - Hadou nº 32, OUKASEN!

    Estiquei os braços criando um arco flamejante e amarelo. Ele disparou contra o encapuzado o arrastando pra longe e aproveitei, juntei os pulsos e outro brilho os tomava girando.

    - Bakudou nº 4, HAINAWA!

    O atirei prendendo o encapuzado no raio e então joguei outro kidou o amarrando ainda mais. Sumi no shumpo juntando as mãos e apareci acima dele. A mascara branca me encarando enquanto raios azuis pipocavam das minhas mãos, ralos de reiatsu também azuis juntando nelas.

    - Hadou nº 73, SOUREN SOUKATSUI!

    Estiquei os braços e um canhão de reiatu o atingiu em cheio, atirando no rio que girou com sua queda. Ofeguei pra tomar ar. Mas não me sentia cansada. Pelo contrario, mesmo sem You Ou (graças à Hinamori) sentia que podia me defender. Ganhar tempo enquanto descobria uma forma de sair daqui.

    Parei pra pensar. Ganhar tempo... Pestanejei arregalando os olhos. É isso.

    Ouvi uma explosão e corri na direção no shumpo. Uma ideia se formando. Quando apareci no canal, Hinamori tentavam lutar com kidou e sua zanpakutou com os dois encapuzados. Estava ofegante e em desvantagem. Mas eles não me viram. Ótimo. Estiquei uma mão e criei outro kidou. Era um bakudou e servia pra camuflar. O estendi até eles tomando cuidado de não envolve-la. Quando consegui, juntei as mãos e uma bola de reiatsu avermelhada crescia. Ao ficar do tamanho que queria sussurrei.

    - Hadou nº 31, Shakkahou.

    A disparei acertando o gordo redondo que chiou indignado. Hinamori olhou pra mim espantada e se virou saltando no shumpo. Ao surgiu balançou sua shikai e aquela bola de fogo disparou acertando o gorila. Os dois voaram e ficaram presos na teia que criei. Ofeguei me concentrando, recitando o ultimo ataque. O mais complicado que já fiz.

    - ...Projetil de luz, oito pontos de corpo, nove condições, sutra dos céus. Tesouro doentio, grande anel, a torre de defesa cinza, a flecha lançada ao longe... brilhe e aparece...

    Estiquei as mãos a frente, ao mesmo pontos de luz rosados apareceram em frente. Vi que Hinamori arregalou os olhos espantada, mas ficou calada. Ótimo. Respirando fundo, terminei o kidou.

    - Hadou nº 91, Senjyu Kontei Taihou!!!

    Os projeteis de reiatsu dispararam chocando nos monstros presos que agitavam. A explosão estremeceu o canal, derrubando as pedras do teto, espalhando água. Ofeguei abaixando os olhos. Caramba. Agora sim, me sinto exausta.

    - Karin-san...

    Encarei de lado. Hinamori estava com sua shikai abaixada e o rosto chocado. Sorri um pouquinho.

    - O que foi?

    - Nada.

    Piscou virando o rosto contrariada. Ora, se ela não ia me elogiar não fazia mal. Só seu espanto valeu a pena. Encaramos as pedras caindo, a água parando de marolar.

    - Acha que conseguiu?

    Reprimi um esgar. Estremecendo de frio da roupa molhada.

    - Eu duvido. Na verdade, isso só foi pra atrasa-los. Hinamori, a gente precisa encontrar um jeito de sair daqui.

    Me virei pra ela e pisquei espantada. Estremecendo e o rosto pálido, a tenente me encarava chocada.

    - O que foi?

    Franziu o rosto agoniado e se inclinou agarrando a zanpakutou.

    - CUIDADO!!!

    Minha espinha se enregelou e girei sumindo no shumpo. No entanto, senti algo cravando no meu abdômen. Olhei espantada para a cauda branca, agarrando e cuspindo sangue. Só então a dor explodiu. Chicoteando e aumentando a ferida, o monstro encapuzado me jogou pra longe. Pisquei entorpecida na dor, vendo um vulto preto bater em hinamori, atirando-a na água. Ela tinha gritado meu nome em pânico, mas tarde demais. Bati na parede caindo na margem e logo quatro sombras me rodearam.

    KARIN POF

    Uma hora depois

    HITSUGAYA POV

    - Taichou! Matte!

    Ignorei Matsumoto enquanto andava apressado pelo caminho de cimento. A raiva me tomava junto com um sentimento estranho. Uma sensação de vazio e ardente no meu peito. Quando ela me deu aquela noticia abri um seikamon ali mesmo no córrego. Claro, Abarai e ela correram atrás de mim antes que o portal se fechasse. Percebi vagamente que Madarame havia ficado, mas não dei importância. Uma compulsão me impelia a ir até meu esquadrão. Até meu escritório.

    Cruzei o gramado logo entrando na varanda. Antes mesmo de chegar até minha sala ouvi as vozes. Nervosas e alteradas. Uma verdadeira cacofonia. Entrei no corredor e fui direto até a porta. Quando cruzei o beiral todos que estavam lá se viraram encerrando a conversa. Dei uma olhada rápida vendo Kyouraku e sua tenente. Um oficial de Unohana, creio que Hanatarou era seu nome e ainda Hirako e Hinamori estavam aqui. Foi ao olhar para ela que percebi o centro da conversa. Andei até o sofá onde estava sentada, vendo o quanto estremecia e estava pálida.

    Engolindo em seco, ela se levantou com dificuldade e percebi no movimento, que estava machucada.

    - O que aconteceu Hinamori?

    Meu tom foi monótono. Estreitando o olhar ele se encheu d’água enquanto ela estremecia mais.

    - Shirou-chan... G..go..gomem. Eu realmente... N.não pud..de fazer nada!

    Botou as mãos no rosto e chorou soluçando. O silencio nesta sala apenas ficou mais pesado. Suspirando senti essa raiva sem explicação aumentar, apertando os punhos.

    - Hitsugaya, você deve se manter calmo.

    Olhei atravessado para Hirako. Ele me encarava de um jeito sério, centrado. Só aumentou minha desconfiança

    - Pode ao menos me explicar o que houve? Matsumoto recebeu uma mensagem dizendo a respeito de Karin.

    Ouvi uns arquejos. Pouco me importei. Estava mantendo essa calma à ferro. Por dentro minha mente tentava virar um turbilhão desde que pisei em Soul Society. Sentia falta de algo que não deveria ter sumido. Observei ao redor, dando mais uma olhada e realmente, Karin não estava aqui.

    - Falando nisso, onde ela está?

    Hinamori engasgou aumentando o choro. Então a um aceno de Kyouraku, Nanao se aproximou dela sussurrando, convencendo-a à sair da sala.

    - Hitsugaya. A irmã de Ichigo e Hinamori sofreram um ataque hoje a tarde. Parece que uns Pecadores eram os responsáveis pelos desaparecimentos dos canais.

    Encarei Hirako suspirando forte. Ele deliberadamente adiava o assunto. Me irritando.

    - Ainda não me respondeu. Onde ela está?

    Estreitando o olhar condóido ele levantou a mão me entregando uma zanpakutou embainhada. A peguei mecanicamente, pelo punho azul cobalto e a correia entremeada a espada era You Ou. Franzi a testa confuso.

    - Sinto muito.

    Levantei o olhar. Sentindo o vazio ardente no meu peito incomodar. Doer.

    - Como assim?

    - Acharam restos de um shihakushou e sangue num canal das redes. Pelos resquícios de reiatsu e o relato de Hinamori...

    Me virei para Kyouraku, apertando a bainha em minha mão.

    - O que está tentando dizer, capitão?

    Ele então me olhou com pesar e ouvi um suspiro ao meu lado. Hirako.

    - Ela morreu.

    Morreu.

    Uma calma estranha encheu meus ouvidos. Ecoando a palavra. Encarei o chão sentindo os olhares de todos sobre mim.

    - Sei que é difícil. Mas...

    - Saiam.

    Hirako se calou. Mas ainda ninguém se mexeu.

    Encarei o chão esperando. Senti Hinamori se aproximar e minha raiva aumentou. Ela percebeu pela tensão nos meus ombros.

    - Claro, taichou.

    Matsumoto. Ouvi os passos se afastando devagar e vários hesitaram um pouco, mas Matsumoto instigou todos a saírem. Atendendo meu pedido. Quando a porta bateu não saí do lugar. Continuei encarando o chão sem ver. A raiva que me tomava começando a se revolver no meu peito. Que doía e doía, latejando a cada respiração e aumentando.

    Estreitei os olhos, apertando com força a bainha na minha mão. A ponto dos nós dos meus dedos ficarem brancos.

    Por quê?

    Era apenas o que me perguntava.

    Porque aconteceu?

    Porque ela estava lá?

    Porque esse ataque quando justamente eu não estava aqui?

    Porque eu não a ouvi?

    Estremeci apertando mais a bainha com a zanpakutou. Eu devia ter ouvido. Escutei sempre quando estava em perigo. Mas... dessa vez... Eu não ouvi.

    Arfei estremecendo mais. A dor no meu peito aumentando, ficando lacerante. Enquanto encarava o chão, aos poucos não conseguia mais enxergá-lo. Apenas via um borrão trêmulo, embasado e meus olhos ardiam tanto. Minha garganta e o céu da minha boca travando.

    Me fiz mais uma pergunta. Uma que não queria, mas mesmo assim acabou se formando.

    Porque a tiraram de mim?!

    Pisquei desnorteado e o borrão sumiu. Senti algo quente e molhado escorrer pelo meu rosto até parar no meu queixo, então se soltando. Uma pequena lufada fria e leve brotou dos meus pés quando ofeguei. Sacudindo meus cabelos e farfalhando minhas roupas. Escutei um tilintar rolando pelo soalho. Mas não olhei o que era. Meus olhos embasaram outra vez cheios d’água e a dor no meu peito ficou insuportável.

    Estremecendo, meu corpo sacudindo em espasmos, a espada guardada na bainha em minha mão começou a tinir. Outra vez algo quente e molhado desceu pelo meu rosto, escorregando e arquejei sem folego. A dor lacerando meu peito. Desabei caindo de joelhos arquejando e as mais lagrimas derramaram. Sacudindo em espasmos fechei os olhos cerrando os dentes, tentando e não conseguindo evitar. As lagrimas continuaram vindo, transbordando. Sentando sobre minhas pernas, inclinei para frente segurando as blusas do quimono, na altura onde meu peito rasgava por dentro. Minha outra mão ainda agarrando You Ou.

    Meus arquejos sufocados, cheios de desespero ecoavam pelo cômodo me dizendo uma coisa. A dor... Foi por que arrancaram meu coração.

    HITSUGAYA POF

    Distante dali, uma figura encapuzada e mascara branca pousava o pé num tablado de pedra flutuante no ar. Atrás dela mais três sombras atravessaram e a fenda horizontal de chamas azuis se fechava. Nos seus braços uma garota shinigami arquejava desmaiada. O sangue da ferida que fez em sua barriga empapando, mas ela não ia morrer. Ele cuidou apenas de imobilizá-la. As caudas dos seus braços a sustentaram, enquanto uma terceira afastava umas mechas negras do seu rosto pálido e suado. Sorriu por trás da máscara.

    - Bem-vinda ao Inferno, shinigamizinha.


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