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Há cerca de seis dias Seireitei esteve sob ataque. Monstros deformados invadiram as ruas destruindo, atacando e devorando. Esses monstros eram o experimento secreto de Kurotsuchi Taichou. Hollows de todos os tipos de Menos e Arancars reconstruídos em quimeras. O Comandante moveu toda a Brigada e conteve o ataque, apesar das baixas que houve.
Durante esses dias o 12º esquadrão teve seu capitão afastado até segunda ordem e o seu quartel quase destruído e congelado. Fato que espantou todos os shinigamis e atraíram curiosos. Prédios, ruas e torres. O complexo inteiro coberto por gelo e devastado. Claramente foi um campo de batalha e graças à Sociedade Feminina de Shinigamis, a cidade inteira soube o que aconteceu.
Pelo estado peculiar do quartel era óbvio que o Capitão Hitsugaya estava envolvido. A surpresa foi a shinigami que lutou ao seu lado. Ao seu lado, não de apoio. A irmã do Shinigami Daikou, Kurosaki Karin e Hitsugaya Taichou causaram o estrago no Centro de Desenvolvimento Tecnológico derrotando uma centena dos Hollows-Quimeras.
A manchete rendeu a primeira página do jornal (e dezenas de exemplares vendidos). Tanto pela batalha que ninguém percebeu como a imagem da noticia.
Parece que o Capitão do 10º bantai finalmente arranjou uma namorada.
HITSUGAYA POV
- SEU PIRRALHO DESGRAÇADO!!!
Pirralho desgraçado... Há um minuto não era velho?!
Saquei minha espada também e nossas zanpakutous se chocaram. O estrondo deslocando ar e levantando poeira.
Todos que estavam por perto gritaram assustados. Inclusive as três garotas que estavam atrás de mim. Mas minha atenção era focada em Kurosaki que me olhava de um jeito ainda lúcido. Isso me aliviou um pouco. Significava que não estava cego de raiva o bastante para querer me matar. (não que não fosse acontecer).
- O QUE VOCÊ FEZ COM ELA?!!
Berrou na minha cara forçando a zanpakutou. A poeira tinha baixado, mas nossas reiatsus não. O ar girava agitado a nossa volta levantando nossos quimonos e cabelos. Várias pessoas pararam para ver e logo se afastaram ao perceberem quem estava causando a confusão. Mesmo assim não ia adiantar. As lâminas tremiam, uma forçando a outra e o ar também estremeceu com meu poder espiritual reagindo à raiva, mas não vou ceder. Eu não vou perder as estribeiras mesmo que esteja possesso com Kurosaki. Como continuei calado ele pôs mais força na espada com os olhos vidrando de fúria.
- RESPONDE TOUSHIROU!!!
Estreitei os olhos. Babaca explosivo.
- Não é da sua conta.
- Nani?!
Com seu choque aproveitei a surpresa.
Forcei sua espada para baixo e larguei uma mão do punho, jogando a zanpakutou enorme para cima junto com seu dono. Kurosaki fechou os olhos, atordoado e sem reação quando saltei dando um chute na sua barriga. O substituto voou para trás gritando até se chocar no telhado de uma varanda, desabando-a. A poeira e o estrondo assustaram as pessoas por perto.
- Hitsugaya taichou!
Encarei de lado. Abarai me olhava agitado apesar da minha máscara fria de calma. Ele engoliu em seco mais nervoso. Pelo visto não consegui disfarçar bem meu estado de nervos.
- Controle o seu amigo.
- Mas senhor... É a irmã dele.
Agarrei o punho da zanpakutou, meus olhos estreitando.
- Pouco me importa.
O tenente pestanejou e então ouvimos um zunido vindo perigosamente rápido. Abarai encarou acima, vendo o relâmpago de reiraku descendo na nossa direção. Ele ofegou enquanto que eu, apenas voltei os olhos para o Getsuga Tenshou. A meia lua se expandindo, o zunido cortando o ar. Exatamente o golpe de Karin com as zanpakutous unidas. Apesar da raiva entendi o que estava sentindo nesses dias que não a vi. Saudade.
Quando estava a poucos metros de atingir os telhados balancei a zanpakutou e uma rajada branca e fria explodiu criando névoa. As pessoas gritaram desesperadas cobrindo os rostos e vi de relance Abarai se proteger com a manga do quimono cobrindo os olhos. Ouvi o estrondo junto da rua estremecendo sob meus pés, dissipando a rajada que criei. À minha frente, uma meia lua de gelo de uns três metros de altura estava cravada no chão. Atrás dela havia uma vala do caminho que abriu. As pessoas ofegaram impressionadas com a escultura de gelo que em seguida se despedaçou.
Senti um deslocamento de ar atrás de mim e girei balançando a espada. Um tinir metálico e faíscas surgiram enquanto Kurosaki e eu saltávamos para trás. Pelo seu olhar, agora ele realmente queria me matar.
- TOUSHIROU!!!!
Ele se inclinou em posição ataque e tomou um impulso se atirando com o braço jogado para trás, antes de me lançar novamente aquele relâmpago de reiraku. Apertei os dentes ao me posicionar de lado esperando enquanto me repetia.
É o irmão dela, tem todo o direito em me odiar. Mas não posso machucá-lo, senão Karin ficará brava comigo.
No entanto, meu lado sensato estava perdendo. Antes que ele me lance o relâmpago vou congelá-lo. Kurosaki é forte como um Capitão, mas eu também sou. Lançarei um dragão de gelo nele parando essa luta sem sentido. Quem sabe não esfria a cabeça.
Ele inclinou a cabeça estreitando os olhos ao dizer.
- Gets...
- Hoero, ZABIMARU!!!
Pestanejamos surpresos enquanto um chicote com lâminas atravessava nosso caminho mirando em Kurosaki. Ele estalou a língua bloqueando o ataque, jogando as lâminas para os lados e acima. Abarai puxou de volta sua Shikai juntando-a naquela katana enorme e pousou entre nós. Ele abaixou a espada encarando Kurosaki que devolvia o olhar espumando.
- SAI DA FRENTE, RENJI!!!
Abarai ficou calado e Kurosaki arquejou, sua reiatsu irradiando descontrolada. Ele sumiu aparecendo no alto e Abarai surgiu em sua frente junto com ele. Kurosaki arregalou os olhos supreso, sua espada levantada. Então Abarai o golpeou fazendo-o bloquear e saltar para trás recuando. Os dois ficaram à minha frente de novo e pela expressão de Kurosaki ele apenas ficou mais possesso.
- SAI DA FRENTE, DROGA!!!
- Não.
Pelo seu tom estava sério. Kurosaki segurou a espada com as duas mãos estremecendo de fúria.
- Renji, sai do caminho ou vou abrir a força.
Abarai suspirou e nesse instante percebi que a rua ficou deserta, apenas nós três estávamos aqui. Que escândalo. Quando isso acabar vou descobrir quem diabos colocou minha luta com Karin no jornal (e a imagem, seja lá qual for). Só complicou minha vida.
- Ichigo seja razoável e se acalme.
O olho do substituto tremeu.
- Me acalmar?! VOCÊ É SURDO, RENJI?!! – me encarou cheio de ira – ESSE PIRRALHO SEDUZIU A KARIN!!! E AINDA DISSE QUE NÃO ERA DA MINHA CONTA!!!!
Agarrei com mais força o punho da minha zanpakutou tentando me controlar.
- Escute Abarai, Kurosaki e então vamos conversar.
Ele me encarou debochado, apenas me irritando.
- Hã! Sobre o quê?
- Minha relação com sua irmã.
Kurosaki se entalou e vi que Abarai ficou mais tenso. Ficamos nos encarando uns segundos então seu rosto se assombreou.
- Não.
- Não o quê?
Agarrou mais firme o punho enrolado pela faixa branca.
- Não vai namorar com ela.
Engoli em seco, estremecendo. Isso estava ficando difícil. Manter a compostura enquanto sentia ganas de pular em Kurosaki. Ceder a raiva por esse sujeito querer me impedir de ficar com Karin não era correto. Apenas pioraria.
- Por que diz isso?
- Por vários motivos. Você é mais velho, mesmo que pareça um pirralho – então inclinou a cabeça – e não serve pra ela.
Kurosaki praticamente cuspiu as palavras.
Estreitei o olhar. A única coisa que alterou na minha expressão. Abarai olhou sobre o ombro, tentando entender porque eu estava quieto e claramente estranhando. Tive uma vaga noção enquanto encarava Kurosaki que o tenente era um dos únicos que sabiam que Karin tinha muita importância para mim. Portanto, é claro que não será um irmão explosivo e ciumento que irá me separar dela.
- Você entendeu errado, Kurosaki...
Levantei o braço com a zanpakutou devagar, encarando fundo nos olhos dele enquanto que devolvia o olhar, cheio de raiva. Abarai arregalou os olhos, entendendo. Em instantes o céu escureceu. Kurosaki estranhou um pouco e tombei o rosto apontando com o braço esticado para o lado a zanpakutou. Ele se espantou quando soltei minha reiatsu, deixando-a vazar a ponto dos meus olhos mudarem de cor num prata luminoso.
- ... Não estou pedindo sua permissão.
O tenente se virou para mim chocado.
- Hitsugaya taichou! O senhor...
- Saia do caminho, Abarai. – ele ficou mais chocado e invoquei as palavras que me segurei tanto para não dizer – Soten Ni Zase...
Abarai sumiu enquanto que Kurosaki arregalava os olhos. Uma corrente com uma meia lua de metal surgiu do punho da minha zanpakutou enquanto o ar esfriou em instantes. Levantei a espada com uma espiral de gelo explodindo e tomando a forma de um imenso dragão celeste.
- ... Hyourinmaru.
O dragão de gelo rugiu ao mesmo tempo que uma ventania soprou forte, girando ao meu redor. Pela visão periférica vi Abarai em cima de um telhado distante. Pelo visto ele entendeu que não devia mais se meter. Me firmei no lugar e joguei o braço em arco. O dragão serpenteante mergulhou escancarando a boca e rugindo.
Antes que o atingisse, Kurosaki sumiu no shunpo aparecendo acima. Apenas levantei a cabeça sentindo sua reiatsu aumentar ainda mais de repente. Ele esticou o braço para frente, empurrando o punho da zanpakutou contra o peito. Humpf. Sumi também o surpreendendo. Apareci ao seu lado puxando a corrente que joguei no seu braço com a zanpakutou.
Ele encarou surpreso enquanto o mesmo congelava instantaneamente. O vento soprava forte aqui também, tanto que sacudia meus cabelos e quimono. O substituto virou o rosto lentamente para mim chocado e enraivecido.
- Não vai liberar seu Bankai.
Puxei a corrente de uma vez soltando seu braço enquanto jogava o meu com a espada num arco. Kurosaki mal teve tempo de preparar um golpe. O dragão explodiu do punho da minha espada, serpenteante e o atingindo em cheio. Os dois caíram num estrondo na rua vazia com o gelo estilhaçando ao levantar uma névoa fria e branca.
Foi apenas nesse instante que notei.
Os ventos que tomavam as ruas, o lugar onde estávamos apareceram no instante que liberei a Shikai. Igual a Karin quando chamava You Ou.
HITSUGAYA POF
KARIN POV
Sakai ainda me encarava irritado, esfregando o nariz vermelho pela bola de jornal que atirei na sua cara quando senti.
De repente, enquanto fulminava esse nobre cheia de raiva e vergonha, algo dentro de mim se retorceu sugando. Meu fôlego sumiu por uns instantes e rápido pus uma mão no local, na altura onde ficava meu diafragma. Piscando confusa olhei para o nada.
O que foi isso? Mal respirei de novo e a sensação voltou repuxando. Arquejei de agonia franzindo a testa. Foi forte demais.
- Tem noção do que fez, plebeia?!
Levantei a cabeça. Não foi Sakai, ele ainda me encarava irritado e um pouco risonho (vai entender). Foi uma das amigas de Ruka, uma garota de cabelo castanho que também me detestava. Segurei a onda de ânsia e me endireitei. A nobre levantou o queixo, perdendo um pouco a coragem.
- E o que você tem haver com isso, idiota?
Ela se entalou e escutei um risinho. Encarei de lado Sakai e vi o quanto estava se divertindo. Estúpido. Enquanto ainda me olhava franziu as sobrancelhas.
- Algo errado, pirralha? Você tá pálida.
Engoli em seco. Ainda estava com a mão no abdômen e ele reparou. Seus olhos abaixaram para ela e depois pro meu rosto. Parou de sorrir, passando a me encarar curioso.
- Não é da sua conta. E não me chame de pirralha.
Me virei emburrada e sumi no shumpo. Ignorando todos meus conselhos para poupar energia. Eu só queria sair dali. Enquanto corria, saltando os telhados das casas e quartéis senti outra vez o repuxo, mas agora duradouro e aumentando. Comecei a me assustar e corri mais rápido. Quando fiquei a uma quadra de onde ficavam os portões do quartel minha barriga passou a doer. Arquejei quase parando na beirada de um terraço, mas saltei de novo aparecendo numa área verde do esquadrão.
Numa rápida olhada percebi que não tinha ninguém aqui. O que achei bom. Amorteci a queda com reiatsu pousando curvada e minha visão embasou. Pisquei com força e aquela dor me encheu de agonia. Caminhei trôpega e lentamente até uma arvore e me virei encostando nela, arquejando. Fechei os olhos com força, um suor frio brotando da minha testa.
O que é isso? Parecia que apertavam meus órgãos, puxando e retorcendo. Escorreguei no tronco caindo sentada na grama e soltei um gemido. Fiquei de lado e abracei a barriga me encolhendo, esperando com todas as forças isso parar. Enquanto arquejava, engolindo os gemidos procurei me acalmar. Não entrar em pânico enquanto me sussurrava.
- Calma Karin. Isso vai passar. Vai passar, vai passar...
Puxei meus pés dobrando debaixo de mim e escutei ao longe os outros shinigamis trabalhando. Ninguém percebeu que eu estava aqui e também não tive coragem de levantar e pedir ajuda. A impressão que tinha era que se fizesse isso, se me desfizesse da bola encolhida que me enrosquei, desmaiaria e isso era algo que não queria. Não mesmo.
Então fiquei quieta. Esperando essa dor e agonia passar. Desejando que Toushirou estivesse aqui comigo.
KARIN POF
HITSUGAYA POV
Encarei a rua congelada. Para o local onde Kurosaki caiu quando lhe atirei o dragão e estranhei. Já havia passado uns minutos e ele ainda não havia saído debaixo do gelo. Franzi a testa. Esse golpe não foi tão forte. Não o teria derrubado desse jeito.
De repente, senti um calafrio. Olhei pra trás, espantado. Mas não havia ninguém. Que esquisito. Parecia que alguém estava me chamando...
- GETSUGA .... TENSHOOUUU !!!!
Droga!
Encarei de lado e o relâmpago de reiatsu zunindo na minha direção, despedaçando o gelo. Sumi no shumpo aparecendo mais abaixo, o vento girando furioso ao meu redor. Isso me distraiu um pouco. Porque ventava? Minha Shikai controla o clima, mas não os ventos. De repente, Kurosaki apareceu na minha frente, gritando. Sua zanpakutou desceu e bloqueei o golpe, o peso deslocando o ar, quebrando o chão em pedaços.
Ele girou a espada para baixo, forçando a minha e levantou de uma vez. Saltei para trás com a lâmina zunindo, quase me cortando ao meio. Estreitei o olhar e joguei o braço em arco. Espiral de gelo celeste explodiu do punho da minha espada criando o dragão. Kurosaki apontou a zanpakutou na sua frente e bloqueou o golpe, o dragão despedaçando enquanto mergulhava nele.
Antes de triturá-lo por inteiro senti um deslocamento de ar atrás de mim. Sumi aparecendo perto de um prédio e Kurosaki novamente surgiu na frente. Dessa vez não notei. Senti sua perna me acertando nas costelas, me atirando pra longe. Arquejei de dor e agarrei o ar, freando. Meu corpo se curvou tentando parar e levantei a cabeça, com mechas nos olhos. Segundos depois uma lâmina enorme zunia acima de mim. Rebati e tomei um impulso, travando os dentes. Kurosaki me atacou de novo e antes que chegasse perto, sumi.
Ele estancou no lugar e se virou para trás, tarde demais. Com a zanpakutou apontada na sua direção estreitei o olhar.
- Sen Nem... Hyourou.
- Na..
De olhos arregalados, encarou os oito pilares de gelo que brotaram em instantes ao seu redor. Girei a zanpakutou e os pilares giraram se fechando de uma vez em seu torno, num estrondo.
- Hitsugaya taichou!!!
Encarei atravessado à esquerda. Abarai surgindo a vários metros parado no ar. O choque claro em seu rosto enquanto encarava os pilares de gelo.
- O que senhor fez?!
Abaixei a espada, o olhando com tédio. O vento agora era uma brisa se contorcendo a nossa volta, principalmente em meu redor. O tenente se virou para mim, se entalando com meu olhar despreocupado.
- Está me criticando, Abarai?
Se boca abriu e fechou, sem dizer nada. Então tentou outra vez.
- Mas Ichigo pode...
- Eu duvido muito.
O cortei entediado e isso o fez parar. Se há algo que percebi nesses cinco anos é que Kurosaki dificilmente se deixa derrotar. Nesse instante o circulo dos pilares estremeceu num estrondo. Olhamos para ele e outro baque o estremeceu, vindo de dentro. Suspirei irritado. Estou me cansando disso.
- Tsk. Sujeito teimoso.
Senti que Abarai me olhou surpreso. Pouco me importei.
- Taichou?
Outro baque no circulo de pilares. O gelo trincando e soltando pedaços. Levantei a espada num giro, o dragão azul celeste explodindo o punho. O vento se circulou com força novamente, reagindo à minha reiatsu que se condensava outra vez.
- Se ele tentar me retalhar de novo vou realmente congel...
Arquejei arregalando os olhos. Minha voz sumindo de choque.
- Hitsugaya taichou?
Girei para trás ignorando o tenente. Os baques no gelo. E senti outra vez o calafrio. Arquejei mais em choque. Não estou imaginando coisas. Esse medo que eu sentia me varrer a espinha não era meu. Uma explosão às minhas costas me avisou que Kurosaki conseguiu destruir a prisão de gelo, os pedaços voando por todos os lados e o ar deslocando, açoitando minhas roupas. Mas não me importei. Meus olhos tremiam espantados.
- Karin...
Sussurrei sem perceber. Tem alguma coisa acontecendo com ela. Algo muito errado acontecendo!
- TOUSHIROU, SEU DESGRAÇADO!!!!
Movi o braço com a zanpakutou para trás. Ainda encarando o vazio. O dragão rugiu e escutei um estrondo. O ar deslocando com o vácuo do golpe. Senti uma reiatsu descontrolada vindo à esquerda e saltei no shumpo, levantando a espada, chocando-a com outra lâmina. O tinir e as faíscas me deram a vaga noção de Kurosaki, mas não o encarava. Olhava para os lados atordoado, arquejando e procurando.
- OLHE NA MINHA CARA, TEME!!!
O ignorei. Kurosaki rosnou de fúria e me atacou. Tentando encontrar uma abertura e me retalhar inteiro, mas eu golpeava mecanicamente. Os tinires soando alto junto do ar que se deslocava, agitado pelas nossas reiatsus e outra vez o calafrio de medo varreu minha espinha. Cruzei espadas com Kurosaki, rebatendo enquanto saltamos para trás. Olhei para os lados. Agoniado. Onde? Onde ela está? Esse sufoco já estava me deixando em pânico. De repente, senti sua reiatsu, mesmo nessa distância. Encarei a direção e percebi que ficava aonde era meu esquadrão. Claro.
- AAAAAHHHHHH!!!
Virei o rosto para Kurosaki e a raiva me inundou. Ele pulava em mim novamente, sua zanpakutou levantada e segura em suas mãos. Balancei a espada em arco, uma rajada branca e fria o atingindo em cheio. Ele parou o ataque e se firmou no lugar. Esperando pelo dragão de gelo. Estreitei os olhos. Não dessa vez. Com a mão livre reta e brilhando movi em linha reta para esquerda, depois desci em transversal e subi outra vez, unindo as linhas de luz ao ponto onde comecei. Nos três cantos do kidou uma trava de luz surgiu enquanto me virei de lado, o braço com zanpakutou abaixado enquanto o outro dobrado e levantado. A nevoa branca da rajada se dissipou e ao me ver Kurosaki arregalou os olhos, se entalando.
- Bakudou nº 30, Shitotsu Sansen.
As travas dispararam. As duas do canto acertando seus braços e a ultima seu tronco. Ele foi jogado para trás se chocando num prédio. O kidou o prendendo. Sumi no shumpo aparecendo em sua frente. Ao meu lado, Abarai. Ele nos olhava nervoso, mas calado. Ótimo. Não quero perder tempo discutindo com ele também.
- Controle-se, Kurosaki.
Ele fez uma carranca de raiva, seus olhos cheios de ira. Enquanto arquejava tentando se soltar rosnou possesso.
- Eu vou te matar.
Estreitei os olhos. Babaca explosivo.
- Abarai.
- Hai?
O tenente se espantou quando o chamei.
- Quando ele se acalmar, solte-o e continuem a rota do shinigami de Rose taichou.
Me virei, inclinando pra tomar impulso e sumir dali.
- Toushirou!!! Matte! Tá fugindo, covarde?!
Minha veia saltou de raiva e o encarei de lado. Kurosaki esperneava espumando.
- Tenho mais o que fazer Kurosaki - então virei o rosto na sua direção – E vou namorar sua irmã. Quer você goste ou não.
Ele arregalou os olhos pelo o que eu disse e desapareci. Eu pretendia conversar civilizadamente, explicar que minhas intenções eram sérias e que faria o que estiver ao meu alcance para o bem-estar de Karin. Contudo, tudo o que Kurosaki queria era me retalhar inteiro, na mais pura vontade em me matar. Ridiculo. Corri mais rápido que podia pelos telhados de Seireitei. Procurando me acalmar. Aquele calafrio... A sensação ainda me perturbava apesar de ter passado. Quando prendi Kurosaki no kidou desfiz minha shikai e aquele medo sumiu junto com o clamor mudo de alguém me chamando.
Saltei de um terraço mais uma vez e apareci nos portões do esquadrão. Os guardas me cumprimentaram e acenei mecanicamente guardando a zanpakutou na bainha. Ainda bem que não estava ferido do confronto com Ichigo, isso levantaria perguntas. Segui pelo caminho de cimento mal percebendo meus homens se curvarem. Estava procurando a reiatsu de Karin e ficando mais preocupado. Irradiava fraca demais. Andei quase pelo quartel inteiro até que a encontrei. Dando a volta num prédio entrei numa área verde e a vi sentada na grama, encostada numa árvore. Ofeguei e sumi aparecendo a meros passos dela.
Fiquei quieto por um momento, apenas observando. Aqui soprava uma brisa leve que sacudia as folhas nos galhos num farfalhar relaxante, diferente de como estava meu coração. Disparado. Dei um passo me aproximando mais e me agachei perto dela. Tomando o cuidado de não acordá-la. Sentada de lado e abraçada em si mesma, Karin dormia. Vê-la desse jeito causava uma sensação estranha em mim. Me acalmava, mas perturbava. Respirava cansado como se estivesse com falta de ar, mas me sentia bem, porque finalmente posso vê-la. Quase me esqueci daquele calafrio de medo e saí daquele contentamento reparando no real estado dela.
Um nervoso me tomou. A reiatsu... Estava mesmo fraca. Estiquei a mão e tirei umas mechas do seu rosto me perturbando mais. Estava pálido e suado. Pus o dorso na sua testa e relaxei um pouco. Não tinha febre, que bom. Mas mesmo assim, será que estava doente?
Nesse instante, seus olhos tremeram e abriram. Afastei a mão me apoiando num joelho. Ela piscou confusa, tentando lembrar onde estava então prendeu o folego, os olhos arregalados. Se virou para mim e colou as costas na arvore. Um leve rosado subiu pelo seu pescoço, tomando seu rosto. Curvei os lábios, um sentimento leve ao vê-la assim.
- Tou.. Taichou!
Como pode uma simples palavra estilhaçar meu humor? Parei de sorrir a encarando sério.
- Toushirou, Karin. É tão difícil dizer meu nome?
E na minha frente, quis completar. Mas fiquei calado. Era a primeira vez que nos víamos em dias e uma discussão não é o melhor modo de começar as coisas. Ela se ajeitou na grama, sentando mais ereta e engolindo em seco. Pelo modo que me olhou estava um pouco brava. Suspirei me sentando também.
- Gomen, Capitão. Mas não posso chamar o senhor pelo nome, os outros iam estranhar.
Fechei os olhos por um momento e encarei o resto da área verde, olhando uma arvore sem ver.
- Não tem ninguém aqui e até porque isso não importa mais.
- O que?
A encarei de lado, vendo-a confusa e expliquei em duas palavras. Com certeza ela já viu.
- O jornal.
Ao ouvir seu rosto tingiu de vermelho e arregalou os olhos. Suas mãos agarraram o tecido da calça enquanto a encarava cheia de vergonha. Eu também sentia, mas a raiva era maior. Quando descobrir quem fez isso...
- Porque colocaram Toushirou? Alias quem fez isso? Nem pediram pra gente e agora a cidade inteira...
Parou indignada e suspirando. Sorri um pouco. Ela disse meu nome. Já é um bom começo, então aproveitei o momento para dizer.
- Estive há pouco com seu irmão.
Levantou a cabeça.
- Com o Ichi nii?
- Ele viu a manchete e reagiu da pior maneira.
Karin engoliu em seco, mais nervosa.
- Ele tentou te matar, não tentou?
Fiquei quieto, mas não sei porque a preocupação dela me fez querer rir. Como não disse nada, Karin entendeu.
- Ai não. Eu disse pra você.
Soltei o riso e ela se irritou, o que só me divertiu mais.
- Para. Isso não tem graça.
Tomei fôlego parando de rir e me inclinei para ela. De imediato sua raiva sumiu e um tom rosado tomou seu rosto.
- Tem razão. Não é engraçado.
- O..o..o que tá fazendo?
Quase ri e me inclinei mais fazendo Karin se encostar no tronco. Com nós dois sentados perto um do outro eu não resisti. Foram seis dias longe dela. Sem tê-la perto, sem vê-la e sem sentir. Com nossos rostos a centímetros encarei seus olhos e eles brilhavam. Karin começou a ofegar e o hálito morno me deixava tonto. Baixei o olhar, direto para sua boca entreaberta e minha ânsia aumentou. Curvei a cabeça quase fechando os olhos e ela deu pulo. Sua mão empurrando meu peito, tentando me afastar.
- Toush...
- Shss.
Segurei seu pulso, abaixando e tirando do caminho enquanto encaixei a boca na dela, suspirando de deleite ao prender seu lábio inferior entre os meus. Morna e macia. Como senti falta disso. Me inclinei mais, a beijando devagar e gemendo. Karin estremecia resistindo. Quase ri e comecei a mordiscar, tentando-a. A brisa que soprava balançou nossos kimonos e junto ao farfalhar das folhas aumentou a sensação deleite. Levantei a mão livre e segurei sua nuca, a puxando pra mim. Karin soltou um gemido fraco e minha ânsia aumentou. Arquejando deslizei a língua pra dentro da sua boca, abrindo mais lábios e aprofundei o beijo. Ela ofegou forte e agarrou na aba do meu haori, me puxando e me beijando de volta. Desde aquele dia sentia um desejo irracional de afundar os dedos em seus cabelos. Por isso, sutil mas rápido, puxei a ponta da fita do lado esquerdo. Ouvi um resmungo de protesto e ela tentou me empurrar outra vez com a mão livre. Sorri na sua boca e segurei o outro pulso, junto do direito. Me afastando um pouco puxei a outra fita também. Karin interrompeu o beijo me olhando com raiva.
- Porque fez isso?!
Ofeguei me divertindo. Os olhos grandes tão perto dos meus. O prazer que senti ao vê-la assim, brava, só me fez querer beijá-la mais e não parar.
- Não gosto dos seus cabelos presos.
Então colei a boca na sua, ofegando ao encaixá-la na minha e deslizando a língua outra vez. Sorvendo e provando. Ela arquejou surpresa com isso e gemi de prazer. Eu sei que mal começamos e namorar alguém devia ser aos poucos, não é? Não ir com tanto afoito, conhecer mais a pessoa até a confiança ser mutua. No entanto, parecia que eu esperei demais. Até me surpreendi a beijando assim. Acho que me segurei esses anos todos sem perceber até quando não aguentei mais. Me embriagar por sua causa e roubar um beijo seu foi o primeiro passo dessa loucura.
E não me arrependo disso.
Era tão bom, tão gostoso que demorei em perceber algo estranho. Parei de imediato, mas não me mexi. Karin ofegou confusa.
- O que?!
Estreitei o olhar ignorando-a. Sentindo os pelos em minha nuca se eriçarem. Levei uns segundos para entender então a encarei. Karin estranhou meu olhar chocado.
- O que foi?
Não respondi, sumi aparecendo no telhado de um prédio ali perto, minha mão quase sacando a zanpakutou.
- Dare ka?! ( ‘quem está aí?’)
Estreitei o olhar, mirando em volta, mas a minha frente e lados apenas as telhas de barro e o céu azul. Esperei mais um pouco e tudo o que tive foi o vento soprando no meu rosto. Não estava assim. Há uns segundos tinha alguém aqui. Guardei a espada ainda tenso... E detesto admitir, preocupado. Senti uma reiatsu fraca, agitada e suspirando apareci ao lado dela. Tentei me acalmar e guardei distraído suas fitas no bolso da calça. Karin me olhava nervosa.
- O que foi? Viu alguém?
- Não.
Pisquei pensativo e a encarei. A preocupação aumentou e por dois motivos.
1º - Quem ou o quê nos observava não era um soldado meu. Nunca senti tal reiatsu antes.
2º - Esse alguém tinha os olhos cravados em Karin.
A maneira como a olhava foi o que me perturbou. Era selvagem e cheio de cobiça.
HITSUGAYA POF
KARIN POV
- Ah... Toushirou. Qual o problema?
Ele não me respondeu. Apenas continuou me encarando. De olhos baixos e sério suspirou me deixando mais nervosa. O que foi que ele viu? Porque tenho certeza que viu alguma coisa e estava me escondendo. Abri a boca para insistir no assunto quando ouvi um tilintar. Olhamos para o lado e uma borboleta negra voava até Toushirou. Ele levantou a mão e a borboleta pousou nos seus dedos. Eu sei o que significa. Era uma mensagem vinda ou da Central 46 ou do 1º esquadrão. Eu ouviria também se ela estivesse pairando na sua frente, mas como pousou na mão dele, apenas Toushirou escutava. Ele piscou um pouco surpreso e depois a borboleta foi embora.
- Era importante?
Me encarou de lado, sem dizer nada e quis me chutar. Idiota, claro que era. Ele se virou e inclinou o corpo, pelo visto era urgente mesmo.
- Tenho que ir.
- Tá.
Baixei os ombros amuada. Foi muito pouco. Só nos vimos hoje e ele já iria embora, cumprir suas obrigações. Antes de sumir no shumpo seu rosto se virou um pouco, sem me olhar.
- Karin.
- Hai?
Esperei, mas Toushirou apenas olhou para frente de novo.
- Nada.
- Hei! As minhas...
Não me ouviu. Sumiu deslocando um pouco o ar me deixando irritada.
- As minhas fitas.
Suspirei fechando as mãos em punho. Depois de encarar uns segundos o lugar onde estava me virei na direção do caminho de cimento (ele se estendia e cruzava entre os prédios do esquadrão) Enquanto andava nele apertei os dentes, emburrando. Meus cabelos soltos balançando com meu andar duro e chamando atenção. Humpf. Toushirou agora ficou com a mania de roubar minhas fitas. Com essa foi a terceira vez. Contando com as que tinha em casa, só me sobravam agora mais um par. Suspirei de novo.
Porque ele fazia isso? Ele sabe que detesto e ainda por cima se divertia. Eu vi o quanto gostou quando me irritei. Que droga, vou ter que comprar mais amanhã. Pode não parecer, mas elas são meio dificieis de achar. Quase não encontrei da ultima vez. Enquanto andava minha raiva baixou um pouco e lembrei de agora pouco, quando acordei.
Aquela dor e agonia de repente haviam sumido. Isso tinha me deixado tão aliviada e exausta que acabei dormindo. Foi tão esquisito e quando senti mexerem no meu cabelo acordei. De primeiro me esqueci onde estava e depois percebi alguém perto de mim. Tamanha a minha surpresa quando reconheci o poder espiritual e me revirei. Toushirou sorria calmo para mim e me olhava de um jeito que desorientou minha mente. Era terno e quente. E estraguei quando o chamei de Taichou. Poxa, saiu sem querer. E pra piorar me esqueci de lhe perguntar sobre seus sentimentos.
Na verdade já sabia, mas faz tanta diferença em ouvir. E outra coisa. Ele disse que se encontrou com Ichi-nii. Franzi a testa mais pensativa e cruzando os braços. Dobrando mecanicamente uma esquina e os shinigamis que passavam por mim estranharam meus cabelos soltos. Não liguei, estava pensando no que me falou. Será que foi pedir permissão ao Ichi-nii? Um calor subiu no meu rosto. Acho que foi. Não, foi isso mesmo. Afinal ele me disse que falaria com meu irmão, sobre sermos um casal agora. Sorri um pouco, me sentindo boba e revigorada da fraqueza estranha.
Apesar do Ichigo ter tentado matá-lo (Só Kami sabe como foi seu ataque) Toushirou não desistiu de mim. Meu rosto ficou mais quente. Puxa vida, que beijo. Foi de um jeito tão ansioso que duvidei se era ele mesmo. Toushirou parecia faminto, me espantando e tirando meu ar. Pena que parou quando sentiu sabe lá o que e aquela borboleta apareceu. Agora sabe quando vamos nos ver outra vez.
De repente, bati em alguém. Tão forte que quase caí pra trás se a pessoa não tivesse me segurado.
- Itaiii!
- Ah, gomem. A culpa foi minha.
Levantei a cabeça e pestanejei. Sorrindo sem graça pra mim, um cara alto de cabelos azuis e olhos verdes me firmava no lugar. Pisquei, me sentindo um pouco nostálgica. Acho que já o vi em algum lugar...
- Daijoubu-ka?
- Hai.
Franzi as sobrancelhas. Eu conheço ele, mas de onde?
- Quem é você? Nunca te vi por aqui.
Se endireitando, o cara curvou os lábios num sorriso amistoso. Senti um arrepio incomodo na espinha.
- Pode me chamar de Shuren. Acabei de voltar de uma missão, talvez por isso não viu pelo quartel.
Então virou o rosto um pouco, estreitando o olhar.
- Falando nisso, você me parece com alguém.
Levantei a sobrancelhas, esquecendo o calafrio e Shuren estalou os dedos.
- Claro. É a namorada do Capitão.
Me entalei arregalando os olhos. Shuren riu disso e fechei a cara.
- Não tem graça.
- Mas você é a namorada dele, não é?
Encarei o vazio, prendendo umas mechas teimosas atrás da orelha.
- Pode-se dizer que sim.
Passei por ele pensativa e isso o fez estranhar. Shuren deu meia volta e me acompanhou. Percebi que ele me olhava confuso. Não o culpo, eu mesma me sentia assim.
- Algo errado?
Fiquei calada.
- Tudo bem se não quer falar.
- Não, não é isso.
Suspirei. Preciso falar pra alguém. Mesmo que seja esse estranho.
- O que você faria quando se apaixonasse por alguém?
- Como assim? Se eu tomaria iniciativa?
Estranhei seu jeito de falar. Mas não dei importância. Aqui em Soul Society várias almas vieram pra cá de diferentes épocas.
- É.
Shuren ficou quieto pensando e entramos na área do refeitório e os alojamentos. A grande passarela que ligava os prédios distante a poucos metros.
- Me confessaria para a garota. Acho. Depois perguntaria se quer compromisso comigo. Namorar...
Riu sozinho achando graça do que pensou e fiquei mais amuada. Shuren percebeu e me olhou preocupado.
- Disse algo errado?
- Não. Eu realmente tava curiosa. Valeu pela opinião.
Corri até a passarela enquanto ouvi seu “de nada” às minhas costas. Enquanto a atravessava, suspirei. Toushirou não fez nada disso e parece que nem se incomoda em fazer. Entrei no alojamento, ignorando os olhares curiosos e os cochichos. Só quero que ele me pergunte e responderia que sim. Eu sonhei tanto quando um cara me faria isso (secretamente e negando pra Yuzu), mas parece que o cara em questão nem pensa nisso.
Droga.
KARIN POF
Nas redes de água subterrâneas de Seireitei, Ichigo e Renji percorriam um túnel seguindo uma pista do que ataque do shinigami. Depois que Hitsugaya Taichou foi embora, demorou um longo período para o shinigami daikou se acalmar. Quando ele parou de espernear Renji quebrou o kidou com sua Shikai (e à um olho cauteloso no amigo) depois continuaram a rota de vigia. À um determinado lugar, quando dobraram uma esquina encontraram algo estranho. Num dos blocos do piso branco, as bordas estavam arranhadas e chamuscadas. Quase imperceptíveis, passariam por sujeira. Mas o tenente estranhou, então moveram o bloco e saltaram para a rede de esgotos.
Fazia uns dez minutos que estavam caminhando e volta e meia Ichigo resmungava.
- Aquele... pirralho. Ele vai me pagar por ter me prendido. É a segunda vez.
Abarai suspirou. Calado. Ichigo estava falando de quando todos do Gotei perderam as memórias sobre ele e Rukia. Hitsugaya Taichou o tinha enfrentado e prendido ele numa arvore com um bakudou. Só não foi esmagado pelo gelo do Capitão porque não deixou. Renji tinha bloqueado a cascata de gelo e quebrado o bakudou. Como fez hoje, só que dessa vez não se intrometeu na luta. Afinal de contas, o taichou do 10º bantai não estava sério quando resolveu intervir.
- Renji.
Se espantou com o tom calmo e o olhou.
- O que?
Ichigo estava encarando a frente e piscou antes de continuar.
- Há quanto tempo você sabia?
Franziu as sobrancelhas.
- Sobre o quê?
O encarando de lado, Ichigo continuou.
- Sobre essa história do Toushirou com a Karin.
O tenente engoliu em seco e encarou a frente. Ichigo ainda o olhava e percebeu que estava irritado.
- Sei tanto o que todos sabem.
- Há! Tá me achando com cara de idiota?
O encarou outra vez e amigo o fuzilava. Estalou a língua.
- É verdade. Dá pra se acalmar?
Ichigo suspirou de raiva e crispou as mãos, olhando o chão.
- Todo esse tempo, todo mundo me escondia. Eu pensei que ele gostava daquela garota. – parou pra pensar, momentaneamente calmo – Qual é mesmo o nome dela?
- Hinamori.
Ichigo o encarou atravessado outra vez e Renji suspirou.
- Devia ter me contato, seu traíra.
Renji se entalou arregalando os olhos.
- Matte iru! Em primeiro lugar eu nem sabia que eles estavam namorando e outra coisa, o que você tem contra o Hitsugaya taichou?
Ichigo virou o rosto.
- Ele é mais velho.
Renji revirou os olhos.
- Por favor. Sabe que isso não tem nada haver.
O outro o olhou de lado e Renji continuou. Parecia que estava explicando para uma criança.
- Apesar daquele jeito, se Hitsugaya Taichou fosse humano seria no máximo uns dois anos mais velho.
Ichigo abriu a boca e Renji o cortou.
- E outra, é o sujeito mais responsável que já vi. Devia agradecer que é ele o namorado dela e não um Baka qualquer. Outra dia o vi dando uma surra num babaca porque ofendeu sua irmã.
Ichigo arregalou os olhos.
- Nani?!
Renji que tinha parado pra lembrar virou o rosto para o amigo.
- Não importa. O Capitão gosta mesmo dela e você ficar brigando por motivo tão idiota não vale a pena.
Ichigo se estremeceu, quase espumando.
- Temera... Que tipo de amigo é você?
Renji o encarou cansado.
- Hum! Quem é você pra condená-lo?
Ichigo tremeu o olho.
- Do que tá falando, baka?
- Não se faça de burro, sabe muito bem.
O encarou nos olhos e Ichigo arregalou os dele. Um rubor subiu no seu pescoço e tingiu seu rosto de vermelho. Renji quase riu.
- Viu? No seu caso é mais complicado.
O substituto virou o rosto, mais vermelho de vergonha.
- Cala a boca.
Renji segurou um sorrisinho. Fazia uns três anos e meio que Ichigo confessou pra ele sem querer. Aliás quem o conhecesse saberia. Desde que perdeu os poderes de shinigami ele evitava em falar de Soul Society por um único e simples motivo. Uma tenente baixinha e temperamental de cabelo negro. Quando ela lhe devolveu os poderes com aquela katana que Urahara preparou, notou num instante a expressão alegre demais. Todo mundo achava que eles tinham alguma coisa, mas não era bem assim. Para começar, o cabeça de cenoura teria que se confessar e nesse meio tempo nem conseguiu.
- Renji.
Ichigo parou no lugar. Ele encarava a frente, seu rosto confuso. Seguiu o olhar dele e reparou também.
- O que é aquilo?
Os dois correram até uma parede recuada no túnel e viram o pedaço de tecido negro. Entraram no vão e este tinha um rastro chamuscado no chão em linha reta e em alguns pontos da parede. Renji se aproximou das marcas, enquanto Ichigo se agachou perto do tecido rasgado. Não ia ajudar muito. Podia ser qualquer coisa. Até do shihakushou do shinigami atacado.
- As marcas são iguais as que tinham no bloco por onde entramos.
O tenente cutucou a marca na parede e Ichigo se levantou do chão.
- Isso está ficando mais esquisito.
Os dois se encararam. Parece que o caso das quimeras não estava totalmente encerrado.
No dia seguinte
KARIN POV
Hoje surpreendentemente acordei bem. Não me senti mal como nos outros dias e até meu poder espiritual voltou ao normal. Aquele cansaço e desânimo havia sumido. Graças à Kami, já tava ficando preocupada. Ontem, quando passei mal pensei seriamente que estava doente. Porque mais sentiria aquela dor esquisita à ponto de quase desmaiar? Tive foi é muita sorte que consegui chegar ao esquadrão. Cair desacordada no meio da rua seria péssimo. Apareci no pátio gigantesco da Academia assustando uns caras por perto e comecei a andar direto para o prédio, entrando no campus. Reparei que a maioria dos alunos me encaravam e fingi que não notei.
O estrago já teve efeito e enquanto segui no corredor, no caminho que levava pra minha sala reprimi um esgar. Ontem Rangiku me confessou que foi a Sociedade Feminina de Shinigamis que publicou a luta. Alias ela estava louquinha nesses dias pra me contar. Só não o fez porque as tarefas de tenente a ocupavam. Bem, de todo modo fiquei com pena dela. Eu posso até perdoar pelo constrangimento, mas o Toushirou...
Ele não ia gostar. Nem um pouco. Entrei na sala e segui direto até minha fileira, subindo os degraus e sentei na minha cadeira. Segundo ela, Nanao fukutaichou tinha avisado que a Sociedade precisava de fundos e Rangiku teve a grande ideia de investigar o porque do quartel do 12º bantai ficou quase destruído e congelado.
Gemi internamente. Elas viram tudo. A luta com os hollows-quimeras do começo ao fim, filmada e gravada. Quem escolheu a imagem da manchete foi Rangiku, claro. Achou que combinaria muito bem com reportagem. Na minha opinião só causou mais vergonha. Caramba, ela devia ter me falado. Descobrir ontem daquele jeito foi constrangedor demais.
A sala aos poucos enchia de alunos, então tirei os textos da mochila. Ao meu lado, minha zanpakutou. Acho que hoje, apesar de tudo vai ser um dia bom.
Não poderia estar mais enganada.
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Na última aula, que seria para mim pois daria o intervalo, aquela sensação de repuxo voltou. Não tão aguda como ontem, mas lenta e dolorida. A tal ponto que comecei a suar frio. Que droga é essa? Será que estou realmente doente? E se for que tipo de doença era?
- Muito bem, dispensados!
- Hai!
Os alunos foram se levantando dos lugares, conversando e esticando o corpo. Muitos já seguiam para a porta, mas o eco de suas vozes, o movimento das pessoas ao meu redor parecia distante para mim. Pisquei encarando a mesa.
Calma.
Fique calma.
Devagar e respirando fundo me concentrei nisso enquanto pegava minhas coisas. Quando guardei tudo na mochila levantei da cadeira e passei a alça pelo pescoço junto da correia da minha bainha. Sagashi que já tinha levantado reparou no meu jeito. Se inclinou preocupado e me encarando.
- Kurosaki, tudo bem?
Pisquei e levantei a cabeça, forçando um sorriso.
- Claro.
Ele me olhou duvidoso e me irritei um pouco
- Tem certeza?
- Já falei Sagashi.
Passei por ele e desci os degraus da escada que ladeava a fileira. As pessoas pararam de conversar me observando. E percebi que também cochichavam. Isso me irritou mais, porem, a sensação de vazio que inundava me tirou a atenção. Fui andando cautelosa até a porta, encarando o chão. Nem havia chegado perto quando minha visão embasou. Parei ofegando. Fechando os punhos e os olhos.
Calma, Karin.
Calma. Você consegue.
Esperei um longo minuto controlando esse mal-estar. Pude sentir vários olhares cravados em mim, o que só me deixou desconfortável.
- Hei, Kurosaki.
A voz soou perto e logo depois uma mão segurou meu cotovelo, me sustentando. Nem percebi que estava balançando no lugar.
- O que ela tem?
Uma garota perguntou. Com essa abri os olhos devagar. A minha frente a barbie e Sagashi me encaravam preocupados. Atrás deles e aos meus lados os outros alunos tentavam ver de perto. Franzindo as sobrancelhas louras, ela se aproximou.
- O que você tem? Seu rosto tá pálido.
- Eu não...
- Ora o que isso, Yuuki? É bem claro o que ela tem.
A barbie se virou para o lado irritada junto de Sagashi. Encarei Sakai e seus amigos se riram de mim. Ele olhou para o meu estado e sorriu torto. Se aproximando ele negou com a cabeça estalando a língua.
- Tsk, Tsk, Tsk. Que coisa feia, plebeia. Achei que de onde veio as garotas sabiam se cuidar.
Arregalei os olhos e Sakai riu de mim. RIU. Esqueci da tontura, a ânsia e pulei em cima dele. Sentindo vagamente enrolarem o braço na minha cintura, me segurando.
- SEU CRETINO! EU VOU QUEBRAR ESSA SUA CARA!!!
- Pare, Kurosaki.
O cara que me segurava falou. Sagashi. Sakai enquanto isso se espantou com minha reação e riu mais. Argh! Esperneei tentando me soltar e a barbie pra minha surpresa ficou do meu lado.
- Kabuto, chega!
Olhando pra ela, esse babaca desdenhou.
- É melhor ficar quieta. Nós dois sabemos que é a última pessoa pra defender essa pirralha, Yuuki.
A barbie ofegou, empalidecendo. A confusão atraiu o resto dos alunos e Sagashi tentou recuar me puxando. Isso só me irritou.
- ME SOLTA, SAGASHI!!!
- Kurosaki chega. Não dê ouvidos pra ele!
Sakai me olhou debochado, adorando meu surto escandaloso
- Porque essa raiva, plebeia? Só disse uma verdade.
Então olhou para Sagashi me segurando.
- Hei, idiota! O namorado dela te deu permissão pra agarrá-la desse jeito? Porque se lembro bem ele não gosta que toquem nela...
Me encarou assumindo ar malicioso.
- ... o capitão é o único que pode tran....
Dei uma cotovelada em Sagashi, que afrouxou o aperto e sumi no shumpo. Sakai não terminou de dizer a frase nojenta. Antes de falar, minha bainha estava girando e acertei a ponta no seu queixo. Todo mundo ofegou de choque quando apareci na sua frente fazendo isso, então enquanto tropeçava tonto agarrei a bainha com as duas mãos e dei outro golpe nas suas costelas. Tão forte que ele gritou de dor tropeçando e caindo no chão. Os alunos arregalaram os olhos pra mim. Seus amigos se viraram indignados.
- Sua louca! Tem ideia do que fez?
O encarei tremendo de raiva e senti meus cabelos levantarem, meu kimono sacudir. Os olhos do cara (qual é mesmo o nome dele?) se arregalaram enquanto empalidecia. A sala foi tomada pelo vento que brotava do local onde eu pisava.
- Cala. Essa. Boca. Ou vai sobrar pra você!!!
Ele engoliu em seco, calado e me virei para Sakai. Tinha levantado e agarrava suas costelas. Pelo seu rosto estava apavorado e percebi vagamente que os outros estavam assim. Mas não liguei. Sakai com sua ultima besteira me deixou possessa. Apontei a zanpakutou embainhada bem no seu pescoço e várias pessoas gemeram de medo. Inclusive o cidadão que a encarou tremendo. Dei um passo, ofegando de raiva.
- Você... Eu devia cortar essa sua língua e jogar fora! Pra nunca mais me ofen...
Minha voz morreu. A tontura me engolfou e me estremeci inteira. O vento parou do mesmo jeito que começou. De repente. Ofeguei mais forte com falta de ar e senti alguém do meu lado, sua voz abafada pelo eco surdo nos meus ouvidos.
- Kurosaki! Kurosaki!
Não me virei para pessoa. Nem consegui responder. Minha língua parecia embolada enquanto a sala inteira entortou, embasando. Ainda pude ouvir Sakai quando minhas pernas amoleceram e revirei os olhos caindo pra trás.
- Meu Deus, achei que ela fosse me matar.
////////////////////////////////////////////////////////////////////
- Eu não sei.
- Mas deve ter alguém. Ela não pode ficar aqui.
Duas pessoas falavam. Duas vozes femininas. Aos poucos fui saindo daquele vazio que caí e meus olhos tremeram. A primeira coisa que percebi foi o tecido áspero debaixo de mim junto com o colchão duro. Parece que me levaram para algum lugar. Uma enfermaria. Agora me encontrava deitada numa maca tonta e fraca. Arquejei tentando respirar e isso chamou atenção das duas que estavam comigo.
Uma delas se aproximou e quase riu de alivio.
- Parece que ela acordou.
- Ótimo. Pergunte se tem uma pessoa que possa busca-la. Preciso cuidar do ambulatório.
A mulher, uma senhora pela voz e o tom severo se afastou. Seus passos sumiram no piso e fiquei sozinha com a outra garota. Quem era?
- Kurosaki? Pode me ouvir?
- Hum.
Ouvi suspiro então dedos afastaram minha franja, pousando a palma da mão na minha testa.
- Está com febre. Kurosaki? Se pode me ouvir abra os olhos.
Fiz o que me pediu. No entanto, só consegui um pouco. O branco das paredes doeu minha cabeça e o cômodo parecia embasado, girando. Na minha frente, vi vagamente a forma de garota e pelo cabelo curto e louro, lembrei quem era.
- Barbie.
Ela riu, mas continuou afagando afastando minha franja que insistia em cair na minha testa. Estava deitada de lado e um pouco dobrada. Enquanto acordava devagar notei também minha pele pegajosa de suor. No entanto, em vez de calor pela febre, eu sentia frio. De um jeito congelante. Que esquisito.
Fechei os olhos cansada e a nobre ficou mais nervosa.
- Hei, não durma.
- Onde estou?
Perguntei fraca, ofegando e percebi que ela ficou aliviada.
- Na enfermaria. Você desmaiou enquanto ameaçava Sakai e aquele seu amigo te trouxe aqui.
Franzi a testa e lembrei.
- Ah.
Sorri de leve e barbie riu de novo. Isso me fez pensar. Porque ela estava sendo legal comigo? Desde aquele dia que me contou que Toushirou deu uma surra em Sakai, ela parou de me ofender. A nobre suspirou e fez mais um carinho no meu cabelo.
- Tem alguém que possa te buscar?
- Hã?
Entreabri os olhos confusa e vendo, me explicou.
- A enfermeira daqui, Misaki-san, não conseguiu diagnosticar o que você tem. Então não pode te tratar. Você precisa ir o 4º esquadrão. Como shinigami do Gotei não tem problema.
Não disse nada. Mas fiquei preocupada. Se a enfermeira da Academia nem conseguiu entender o que eu tinha... Um movimento me chamou atenção. A barbie tinha se inclinado chegando perto do meu rosto e sussurrando.
- Posso chamar o Hitsugaya Taichou? Com certeza ele viria.
Fechei os olhos, amuada.
- Não. Está muito ocupado com... O ataque... À cidade. Ele... Não pode.
- Ah.
Ela se endireitou piscando confusa.
- Então quem?
Umedeci os lábios e comecei a tremer. Percebi que seu nervoso aumentou, mas tomei fôlego para dizer.
- Rukia.
Silêncio.
- A irmã de Kuchiki Byakuya?
- É. Ela é amiga... Do meu irmão.
- Tá bom. Vou chamar um guarda e dar o recado. Espere um pouco.
Acenei concordando e logo ouvi uma porta deslizando e batendo. Enquanto respirava ofegante e devagar, pensei no meu estado. Eu estremecia de calafrios e me sentia tão tonta, cansada. Era como se estivesse esgotada por algo que se quer fiz. Bom, liberar minha reiatsu sem querer lá na sala conta para essa fraqueza estranha, mas não totalmente responsável. O que mais me confundia era que não estava com medo, em pânico. Só o nervoso por essa doença sem motivo e os sintomas debilitantes. O vazio que me tomava o pé do estômago e o frio congelante. Quase como a Shikai do Toushirou.
Ri disso e dormi um pouco. Não sei quanto tempo passou, mas de repente senti uma reiatsu forte e muito conhecida. Entreabri os olhos ouvindo a porta abrir.
- Onde ela está?
- Por aqui.
Pisquei confusa. Essa voz. Quando a pessoa se aproximou da maca levantei os olhos para ela e realmente, não tinha me enganado.
- Renji?
O tenente sorriu de lado, mas preocupado.
- Yo. A Rukia não pode vir então vim no lugar dela.
- Porque?
Ele se virou para o lado, para a barbie que parecia aérea olhando para ele. Renji pelo visto não notou ou fingiu que não notou.
- As coisas dela?
A nobre piscou um pouco saindo do transe e foi até uma mesinha branca. Em cima dela estava minha mochila e minha zanpakutou embainhada. Ela as pegou e se virou para ele, estendendo.
- Aqui.
Esqueci do mal-estar. Reparando na cena que via. Enquanto Renji sem dizer nada pegou a bainha e pendurou nas suas costas e com a outra mão segurou a alça da mochila, a nobre ficou o observando abobalhada. Interessante. Renji lhe deu as costas indo até mim e ela continuou o olhando, atenta. Achei graça, mas não tiro sua razão. O tenente do 6º Bantai à primeira vista chama muito atenção. Alto, musculoso. De cabelos vermelhos vivo e tatuagens Renji era atraente e bonito do seu jeito. E pelo o que estou vendo. Agradou muito a nobre.
- Consegue sentar?
Olhei pra ele e estalou a língua, notando claramente que não. Segurando meus ombros, me ergueu devagar até que sentei na maca. Consegui baixar as pernas, mas pendi para frente, ofegando de cabeça baixa. Ele se virou de costas para mim e se curvou, abaixando. Entendi e afastei as pernas, passando os braços nos seus ombros e abraçando seu pescoço. Devagar ele se endireitou e passou os braços atrás, cruzando as mãos embaixo de mim.
- Vamos.
- Umhum.
Enterrei o rosto nas suas costas. Tonta, fraca e tremula. Renji saiu andando comigo até saída. Logo que entramos no corredor senti vários olhares em nós. Quis rir e Renji pelo visto não ligou. Quando saímos no campus ouvi os cochichos maiores.
- Tsk.
Instantes depois ele se curvou e o ar deslocou em nossa volta. Dei graças à Kami. Não suportava mais os olhares curiosos. Enquanto ele saltava pelos telhados das casas e terraços. Lembrei que não me respondeu.
- Renji?
- Oe.
Arquejei sem ar.
- Porque... a Rukia não pôde... vir?
Saltou de novo e mudou de direção. Esquerda?
- Ela foi ao Mundo dos Vivos com Ichigo. Falando nisso, ele mandou te avisar que conversaria depois com você.
Estranhei
- Sobre o que?
Renji hesitou e então o ar parou. Ele se curvou e depois se endireitou. Levantei a cabeça e vi um grande portão duplo de madeira aberto com o kanji de quatro acima dele.
- Seu namoro com Capitão Hitsugaya.
Baixei a cabeça e gemi. Droga. Renji riu de solidariedade. Adrentando no grande pátio do esquadrão.
- Relaxe. Ele não vai fazer um escândalo.
- Como você sabe?
Ouvi várias vozes ao meu redor. Acho que era a recepção, mas ele continuou andando. Acho que me levaria direto ao médico. Ou como os shinigamis chamam aqui.
- Digamos que Hitsugaya Taichou deixou claro as coisas e Ichigo entendeu.
Gemi de novo. “Deixou claro”? Isso me soava que eles brigaram e Toushirou venceu. O que será que ele disse pro Ichi-nii?! Não deve ter sido para pedir permissão.
KARIN POF
HITSUGAYA POV
O que será que está acontecendo?
Ontem quando a borboleta infernal apareceu fui convocado imediatamente ao 1º esquadrão. Uma reunião de emergência. Na ante-sala que ficava antes da sala de reuniões todos os capitães estavam reunidos. Nos seus rostos, cada um preocupado com o assunto. No momento que a reunião começou, todos se espantaram com o 3º oficial do 12º esquadrão que entrou depois que assumimos nossas posições.
O assunto não podia ser mais inquietante. As pesquisas de Kurotsuchi foram sabotadas. Alguns capitães ofegaram e o Soutaichou, que geralmente se mantém impassível, ficou ereto em sua cadeira. Segundo Akon, Kurotsuchi realmente fez quimeras com Menos, mas nunca fez com hollows Vastor Lordes. Segundo as anotações. Era perigoso demais. Akon encontrou entre as gravações das câmeras de vigilâncias um invasor nas instalações do Centro Tecnológico. Pela descrição claramente um hollow Vastor Lorde.
Nesse momento, foi que me espantei. A criatura era idêntica ao que feriu Karin. Hirako e eu trocamos um olhar, escutando outras informações importantes. O dispositivo da barreira de reiraku foi sabotado também. No mesmo dia da vistoria. Segundo Akon, gradualmente programado para se expandir ao ponto que no dia seguinte todas as quimeras fossem capazes de sair e invandir a cidade. Hirako inclinou a cabeça num mínimo aceno e olhou para Kyouraku. Ele também percebeu e concordou.
Esse ataque foi uma distração. Um chamafriz. A questão é: Para quê?
Estava no meu gabinete analisando e pensando em minha luta com Karin no quartel do 12º Bantai quando a porta foi aberta bruscamente. Olhei espantado para a pessoa e senti de imediato um mal-estar.
- Hinamori.
A garota me encarou estremecendo e lívida raiva. Atrás dela, Matsumoto. Pelo seu rosto, tentou a todo custo impedir a outra de entrar.
- Hinamori. Você...
- Não Rangiku-san! Eu tenho que falar com ele.
Matsumoto fechou os olhos por um momento e fechou a porta atrás de si. Ela foi para o outro lado do gabinete enquanto Hinamori se aproximou da minha mesa. Reprimi um suspiro. A reiatsu dela estava agitada e nervosa. Sem contar que seus olhos brilhavam rasos d’água. Levantei da cadeira dando a volta.
- O que queria falar comigo?
Ela parou no lugar, suspirando várias vezes numa tentativa vã de se controlar. No ultimo suspiro, seu nariz tremeu.
- É verdade?
- Poderia ser mais clara?
Estremecendo, Hinamori engoliu em seco.
- Essa manchete no jornal. – riu sem humor – Todos estão comentando que você e Karin-san... São namorados.
Riu outra vez, mas seu olhar implorava que eu negasse. Não disse nada. Simplesmente a encarei e Hinamori aos poucos foi passando da confusão para a descrença e por ultimo, histeria.
- SHIROU-CHAN, POR QUÊ?!!!
- Baixe o tom comigo, Hinamori. E é Hitsugaya Taichou.
Ela ofegou agoniada.
- Mas por quê?!! Você mal conhece essa garota!
- Não preciso ficar me explicando e porque está tão incomodada com isso?
Seus olhos se arregalaram, parando de imediato a histeria. Continuei a encarando sério então ela se controlou mais, segurando o choro iminente.
- Ela não te merece.
Suspirei estreitando o olhar. Isso estava me irritando, além de que o tom dela foi seguro demais. Como se soubesse de alguma coisa.
- Porque diz isso?
Engolindo em seco e levantando o queixo, seu olhar ficou mais firme.
- Ela não veio hoje ao esquadrão, não foi?
Pestanejei e Hinamori curvou os lábios, num sorriso maldoso.
- O que você sabe?
Matsumoto do outro lado do gabinete nos encarou. Seu olhar espantado me deixou mais desconfiado.
- Hinamori não!
Ela a ignorou.
- Eu estava agora pouco com Abarai-kun no 6º esquadrão. Um guarda de Shinourijutsuin apareceu dizendo para que ele fosse urgentemente até a Academia.
Suspirei sentindo uma raiva crescer. Hinamori e Matsumoto perceberam pois logo empalideceram. Seus olhos arregalando. Se aproximando de nós, Matsumoto tentou desconversar.
- Taichou, não é o que senhor está pensando. O guarda foi chamar Renji porque Karin-chan estava na enfermaria. Tinham que chamar alguém para leva-la ao 4º esquadrão.
A encarei atravessado respirando fundo. Karin então teve um mal estar. Isso significava que realmente estava doente. No entanto...
- Se fosse eu que tivesse passado mal eu chamaria você, Shirou-chan. Porque ela pediu que chamassem Abarai-kun?
A encarei outra vez com as mãos crispando. Matsumoto a olhou irritada.
- Hinamori!
- Quieta, Matsumoto.
Hinamori me olhou ansiosa. Esperando que eu dissesse alguma coisa. Mas eu não estava em condições de falar. Muito menos para ela. Passei pelas tenentes indo direto a porta. A abri com força as assustando.
- Taic...
Cruzei o beiral e bati a porta. Num baque claro e alto. Segui direto até o hall e depois a varanda. Quando saí do prédio procurei pensar com clareza. Tinha uma explicação. Sempre tem. Não posso cometer o mesmo erro outra vez. Da última, assustei Karin e a machuquei. Depois surrei o cretino que foi o motivo da minha ira.
No entanto, enquanto andava pelo caminho de cimento entre os prédios pensava em Abarai e como tratava Karin. Sempre me incomodou a intimidade como falava dela e com ela. O motivo que me dizia era porque se conheciam mais. Como ele e seu irmão são amigos era comum ele frequentar sua casa. Portanto, se conhecerem. Abarai vê Karin como uma irmã. E é a mesma coisa vindo dela.
No entanto...
Parei perto de uma passarela. Minhas mãos crispando enquanto essa fúria aumentava.
Karin chamou ele e não a mim. Ela preferiu ele e não a mim.
Fechei os punhos cerrados enquanto ofegava de raiva e insegurança.
PORQUE?!
- Hitsugaya taichou, o senhor...
Me virei para o sujeito. Ele se espantou com minha expressão.
- Gomem, capitão.
O ignorei. Me virei para frente e sumi. Saltando rápido pelos telhados até o 4º esquadrão. Dane-se as consequências. Vou descobrir o que realmente está acontecendo. E tentar a tudo custo não cometer uma loucura.
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Quando apareci no pátio do 4º esquadrão minha reiatsu deslocou o ar com força. Assustando os shinigamis que estavam ali perto. Pouco me importei. Fui andando até a porta de entrada do prédio principal. Percebi vagamente que o ar tremia sutil a minha volta, o que atraiu olhares espantados e os ignorei.
Eu sentia muita raiva. Beirando a fúria e minha reiatsu soltava sem eu perceber. Antes que chegasse aos degraus da varanda, alguém surgiu ao meu lado e agarrou meu ombro. Me parando. Não olhei a pessoa. Sabia bem quem era.
- O que está fazendo Hirako taichou?
Meu tom foi ameno, longe do transtorno que era minha mente. Meu peito.
- Eu que pergunto. Seu poder espiritual está forte e selvagem demais.
- Impressão sua.
Sacudi meu ombro, me soltando da sua mão e passei por ele. Estava encarando tão firmemente a entrada e os shinigamis que circulavam lá dentro que não percebi. Hirako apareceu outra vez e antes que me esquivasse, me agarrou pelo ombro com força. Estaquei no lugar. Meus punhos cerrando.
- Me solte.
- Precisamos conversar.
O encarei numa raiva gelada, mas o louro debochado não se intimidou.
- Não tenho nada pra conversar com você, Capitão.
Me sacudi da sua mão, quase me livrando, mas Hirako me agarrou mais forte. Suspirei ofegante, minha raiva aumentando.
- Me solte já, Hirako.
- Não. Você precisa me escutar.
Estremeci encarando a entrada. Podia sentir a reiatsu deles. Perto uma da outra.
- Escute você. – o olhei e ele pestanejou – Tire de uma vez sua mão de mim ou vou arrancá-la do seu braço.
Os shinigamis começaram a parar. Assistindo à provável confronto entre capitães. O louro debochado se inclinou irritado.
- Pelo amor de Deus Hitsugaya, controle-se. Assim vai acabar matando a garota.
No mesmo instante senti aquele calafrio de medo. Tão forte como ontem. Ofeguei assustado, olhando a entrada do prédio e quase pulando do lugar.
- Controle sua reiatsu.
Encarei Hirako. Seu olhar me instigando então suspirei, me acalmando. Em segundos o ar não tremia mais, o vento não girava com mais força. Olhamos para o prédio e aquele calafrio sumiu. Pude ver uma agitação incomum lá dentro e a reiatsu de Karin...
- Está fraca demais.
Hirako falou me assustando. Me fazendo arquejar.
- O que foi isso?
Me encarando de lado, ele finalmente me soltou.
- Como eu disse, precisamos conversar. Venha comigo.
Ele se virou para a saída. Hesitei um pouco, mas o segui. A fúria totalmente esquecida apenas restando um sentimento pior.
Medo.
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O Seikamon abriu naquela luz branca. As duas borboletas infernais voando a nossa frente e saindo primeiro que nós. Encarei lá embaixo. Parados no ar, Hirako e eu estavámos no terreno da loja de Urahara Kisuke. E isso só me angustiou mais. Sumimos no shumpo aparecendo diante da porta da frente. Era noite em Karakura, mas a porta estava aberta. Na frente dela, Tessai, um ex-shinigami nos recebeu.
- O chefe já está esperando. Podem entrar.
Cruzei o beiral sem dizer nada e atrás de mim Hirako. Tessai fechou a porta e nos guiou pela loja “simplória” até um corredor de piso em madeira e paredes verdes. Este seguia longo até que ele parou e puxou uma porta lateral branca.
- Tenchou. Hitsugaya Taichou e Hirako Taichou estão aqui.
- Deixe-os entrar.
Tessai deu passagem e cruzamos o beiral. Entramos numa sala que já era conhecida por mim. Pequena e comprida. Havia outra porta lateral a minha frente e se me virasse para a direita, tinha outra em madeira. Num canto perto dessa porta, um armário com cerâmicas e livros de anotações e diante de nós. Uma pequena e mesa baixa de madeira. Duas almofadas vermelhas estavam ao lado e Urahara na outra ponta. O louro de chapéu listrado abanava o leque diante do rosto. Observando bem os visitantes, principalmente a mim.
Batendo o leque numa mão e fechando, apontou para as almofadas.
- Vamos, sentem-se.
Hirako escolheu um lado enquanto a mim, sentei no outro. Estava curioso e agoniado pelo o aconteceu.
- Imagino que tem muitas perguntas, Hitsugaya taichou.
Pisquei encarando a mesa.
- Sim. Quero saber qual a razão dessa doença em Karin.
Urahara arregalou os olhos, se endireitando. Encarando o louro debochado ele abriu o leque.
- Ele chamou o primeiro nome dela?
Hirako sorriu.
- Surpreendente, não?
- É estranhíssimo.
Abanou o leque na frente do rosto. Os encarei com tédio. Só o que me faltava. Dois louros debochados.
- Então, Urahara. Hirako me disse que poderia me explicar.
- Claro.
Fechou o leque e nesse instante Tessai entrou com uma bandeja de madeira. Nela três canecas ferventes de chá. Ele as pousou na mesa e se retirou. Quando a porta bateu, encarei o líquido verde. Hirako já tomava o seu, mas não tive vontade. Encarei Urahara que havia fechado o leque outra vez.
- Bem, vejamos Hitsugaya. Karin-san e você fizeram uma barricada. Certo?
Acenei.
- Segundo Hirako tiveram que lutar sozinhos contra uma horda de cem daqueles monstros. Foi uma luta muito dura, presumo.
- Sim, mas o que isso tem haver?
Hirako pousou seu chá na mesa e me encarou.
- Vocês lutaram juntos e combinaram seus poderes. Se não me engano os mais básicos de suas zanpakutous.
Pestanejei.
- Tensoujurin.
Urahara acenou.
- Exato. O controle do clima. Quanto à Karin-san, o controle dos ventos.
Parei para pensar. Tinha achado estranho a combinação dos efeitos de nossas Shikais. A união. Então compreendi. De repente, havia entendido.
- Nossas reiatsus se ligaram.
- Gomentou. Para ser mais exato, suas almas se ligaram.
O encarei e vi que apesar do sorrisinho Urahara estava falando sério.
- Mas como?
- Imagine o seguinte. Num determinado momento, vocês exponenciaram seus poderes criando uma ressonância e por isso, um elo.
Urahara puxou um fio solto da sua manga do kimono. Ele o segurou com as duas mãos e o esticou em sua frente.
- Esse elo funciona como um cordão de reishi. Um cordão que uni almas extremamente poderoso. E funciona como um caminho entre vocês.
Franzi a testa, um mal-estar me tomando.
- Está dizendo que minha energia espiritual flui até a ela e o inverso acontece.
Urahara sorriu, jogando o fio fora.
- Hai. Contudo, como seus poderes não são iguais há uma certa diferença de troca.
Fechei os olhos abaixando a cabeça.
- Meu Deus.
Sussurrei abaixo demais, mas com certeza eles ouviram. Apoiei o cotovelo na perna e escondi o rosto na mão. Eu... eu quase a matei duas vezes. A primeira quando lutei com seu irmão e a segunda no surto de ciúmes a pouco. Por isso ela estava pálida, sua reiatsu fraca...
- Oe, oe, Urahara. Isso lá é jeito de explicar a conexão pra ele? Toushirou agora vai ficar se martirizando por causa da minha filha.
Arregalei os olhos. Prendendo o fôlego. Levantei o rosto me virando para a direita. A porta de correr estava aberta e dava passagem para um homem de meia idade. Uns quarenta anos. Meu choque aumentou. Ele vestia um shihakushou igual a mim e Hirako, sua zanpakutou pendurada solta na cintura. A única diferença era que o haori estava preso e enrolado no braço esquerdo. O homem quase riu debochado do meu choque, apoiado no batente.
- Omoe...
Minha voz saiu sem fôlego e ouvi um risinho. Deve ter sido Urahara. O shinigami sorriu ao reparar em mim.
- Já faz um tempo, Toushirou. Eu disse que você seria o próximo capitão.
- Shiba Taichou.
Ele soltou um risinho junto com Urahara. Mas não me importei. O pai de Karin era o meu ex-capitão.