A paixão do capitão de gelo

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 14

    Sabotagem

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Em algum lugar distante do Soul Society

    A caverna era escura, enorme. De todo modo grande o suficiente para se montar uma sala de audiência. Com as estalagmites e estalagtides despontando do teto e do chão a caverna estava movimentada. Indivíduos se amontoavam numa grande área onde dois guardas se mantinham em prontidão postados diante do tablado. Em cima dele, colunas de estalagmites erguiam nos quatros cantos da pedra e o trono, também de pedra, estava ocupado por um homem que roupas nenhum pouco pomposas. Uma capa longa esverdeada, calça preta em rasgos e tiras de pano enroladas no torso o cobrindo. O que fazia realmente notar a razão de estar sentado nesse local era o seu poder. Tanto físico quanto de influência.

    Um vulto saltou de repente de uma abertura que ficava acima na parede entre tantas que havia. Muitos dos que estavam por lá se viraram, gente de todos os tipos com roupas de várias épocas puídas e surradas. O visitante foi entrando na “sala” abrindo caminho. Os auditores o encararam de cima abaixo, resmungando e fazendo carrancas, mas ele não se importou. Alias, um Arancar Vastor Lorde não se importaria. Com o corpo negro alongado e peludo, os cabelos lisos e ralos descendo nas costas, chegou perto do tablado de pedra onde ao ficar diante do primeiro degrau se curvou. O homem que estava sentado no trono não moveu um músculo. Continuou observando com ar de tédio enquanto o Arancar quebrou a máscara falsa, deixando apenas uma parte que cobria seu olho direito.

    - E então?

    Perguntou depois do silêncio. Sorrindo, o Arancar estendeu a mão e ao abrir a palma, uma chama amarela brotou nos veios esverdeados junto uma imagem aparecendo. Os olhos do homem no trono cintilaram de interesse e sua mão, onde apoiava o queixo se abaixou ao se inclinar para frente querendo ver melhor.

    - É mais do que esperado. Mesmo que não tenha a mesma reiatsu, conseguiu destruir vários Menos, meu senhor.

    - É mesmo surpreendente.

    O homem falou sem interesse no que disse, os olhos grudados nas cenas que via. O Arancar entendeu aquele tipo de olhar. Ele mesmo se sentiu assim, principalmente quando ficou diante da garota. Num gesto ousado, subiu no tablado atraindo a atenção dos auditores que resmungaram indignados. Ele ofereceu a chama para o seu senhor que estendeu a mão a recolhendo. O Arancar recuou curvado e já ia dar meia volta quando ouviu.

    - Mais uma coisa, Crevar.

    O homem levantou os olhos da chama, os estreitando.

    - Como era o cheiro dela?

    Crevar suspirou ao lembrar.

    - Delicioso.

    O homem voltou a olhar a chama sorrindo. Numa cena que passava nos veios a shinigami encarava apavorada Crevar. Ele tinha quebrado sua perna quase esmagando e ela estremecia de pavor, se arrastando com a katana cravada ao seu lado no concreto. Curvou a cabeça, pensativo.

    - Kurosaki Karin.

    Soul Society

    HITSUGAYA POV

    - Taichou! O senhor já acordou?

    Prendi a respiração paralisado de choque. Levei uns segundos para voltar a mim e me afastei um pouco de Karin. Ela ofegava me encarando de volta, assustada. Matsumoto bateu na porta outra vez e com o susto ela pulou no meu colo.

    - Taichou?

    Olhei para a porta, encarando-a e finalmente o susto sumiu cedendo para outra coisa. Senti as pernas envolta da minha cintura se soltarem e o quadril onde minhas mãos seguravam estremecer. Espiei de lado vendo Karin colocar os pés no chão e seu rosto estava rubro de vergonha enquanto encarava nervosa a porta. Suspirei e entendi o que estava sentindo. Raiva. Todo aquele fogo (estranho eu dizer isso), o desejo e bem-estar evaporados junto com a excitação. E pelo pânico que eu via no rosto de Karin também perdeu isso.

    Meu momento com ela foi estragado e tudo por causa de Matsumoto.

    Eu vou esganar essa ruiva!

    - Capitão, tudo bem?

    Karin me encarou apavorada e notei outra coisa também. Suas mãos em minha nuca não estavam mais lá. Ela as tinha tirado no instante que Matsumoto me chamou.

    Definitivamente VOU MATAR essa ruiva!!!

    - Toush...

    Estiquei um dedo, o colocando na frente dos lábios.

    - Shsss.

    Karin fechou a boca e engoliu em seco. Ela olhou para baixo, para suas blusas soltas e abertas e seu rubor aumentou. Rápido puxou as abas fechando e suspirei ao por a mão em sua cintura junto da outra, olhando para a porta.

    - Estou. O que foi, Matsumoto?

    - Ah, o Comandante quer falar com o senhor.

    Suspirei de novo. Era importante.

    - Já estou indo.

    - Claro Capitão.

    Senti sua reiatsu se afastando da porta indo embora. Ainda bem, não queria me explicar quando saísse e Matsumoto encontrasse Karin aqui. Relanciei os olhos para ela e fiquei um pouco decepcionado. Ela fitava o chão segurando firme as abas de suas blusas. Pelo rubor em seu rosto, o dobro agora que reparei bem, Karin sentia muita vergonha. Tirei as mãos da sua cintura e me afastei indo até a estante pegando meu haori. O coloquei de costas para ela de propósito e em seguida ouvi um farfalhar de roupas. Sorri um pouco ao pegar Hyourinmaru e passei a correia pelo meu pescoço pendurando-a nas costas. Esperei mais um pouco e me virei. Suas blusas estavam dentro da calça e Karin olhava para todos os lados exceto para mim. Vendo-a desse jeito a decepção aumentou, mas tentei entender. Era a primeira vez que tinha esse tipo de intimidade com alguém.

    Me aproximei dela.

    - Tenho que ir.

    - Unhum

    Assentiu ainda desviando o olhar e a insegurança surgiu. Ela... Não estava arrependida, estava? Levantei uma mão, para segurar seu queixo e virá-lo para mim quando olhei meu punho. As fitas brancas. Tinha me esquecido delas... Olhei para ela outra vez dando atenção em seus cabelos soltos.

    Longos, sedosos. As mechas negras brilhavam de um jeito que quis afundar os dedos nelas, saber mesmo se eram macias como pareciam. No entanto, ao mirar para seu rosto desisti da ideia. Ela estava envergonhada demais. Baixei a mão e suspirei de novo.

    - Karin?

    Ela engoliu em seco retorcendo as mãos.

    - Hum?

    Uma impaciência se mostrou junto com a insegurança aumentando. Se toda vez que a tocasse como fiz agisse assim... Suspirei de novo. Calma.

    - Por que não me olha?

    Calada engoliu em seco outra vez. A impaciência aumentou e apertei o punho com as fitas ouvindo a seda estalar no silêncio do quarto. Ela olhou para baixo, para minha mão e voltou a encarar a parede. Esperei teimoso. Ela tem que falar alguma coisa, qualquer coisa! Eu não vou sair daqui até que pelo ao menos olhe na minha cara!

    Minutos se arrastaram e ainda o silêncio surdo. Estava perdendo a paciência. Já ia segurar seu rosto e virá-lo quando ela suspirou.

    - Ah... O senhor não tinha uma reunião, Taichou?

    Arregalei os olhos.

    Nani?!

    Olhei bem seu rosto e vi o esforço que fazia tentando parecer natural e fracassando. Estreitei os olhos. Entendi o que queria nessa pergunta e de jeito nenhum vou deixar. Não mesmo.

    Dei um passo e quando ia recuar outro, segurei seu pulso a puxando para mim. Ela tropeçou ofegando ao quase bater no meu peito. Respirei fundo encarando o topo de sua cabeça e sua franja balançou com meu fôlego. Pela minha mão senti que estremeceu e segurei um sorriso. Tombei a cabeça, sussurrando.

    - Acho que falei para você me chamar de Toushirou e não de Taichou.

    Estremeceu de novo e minha raiva começou a ceder. Essas reações dela estavam inflando meu ego.

    - M..ma... mas Taichou, isso...

    - Quieta.

    No entanto, a insistência em me chamar de “Capitão” estava me dando nos nervos.

    Karin calou a boca engolindo em seco. Havia horas que eu gostava da timidez dela, mas agora isso estava me irritando demais, apesar de que no fundo significava uma verdade. Ela gostava de mim, muito. E lembrei de várias coisas. Seus rubores, seus olhares (quando achava que eu não notava) e principalmente a briga com Hinamori. Por que mais ela sairia no tapa com a garota se não fosse por ter sentimentos por mim? Com isso em mente me debrucei nela, ignorando quando ofegou de susto e rocei o rosto no seu até minha boca chegar perto da sua orelha. Vi que se arrepiou e minha raiva cedeu mais.

    - Não finja que nada aconteceu porque eu não vou fingir.

    - Taich...

    - Falei para ficar quieta, Karin.

    Ela estremeceu de novo e fechei os olhos sentindo seu cheiro. Como é gostoso. Inclinando mais o rosto, roçando sua pele ouvi quando segurou um gemido e quase sorri.

    - Pode ser teimosa, mas eu também sou.

    - N..n..não sei do que 'tá falando.

    Encostei a boca na sua orelha e ela segurou o fôlego com a sensação.

    - Sabe sim.

    Karin gemeu com meu sussurro e quase a acompanhei. Abrindo os olhos tomei uma decisão. Era uma loucura, mas pouco me importava agora.

    - Você é minha e eu sou seu. Nem que tenha que falar com seu irmão, vou te fazer entender que somos um casal agora.

    Ela ofegou de susto e me endireitei. Finalmente consegui que me encarasse. Ela tinha os olhos arregalados, mal acreditando no que acabei de dizer.

    - Toushirou... – quase ri quando disse meu nome – Você... Você não pode 'tá falando sério. Falar com o Ichi-nii... Ele vai querer te matar!

    Soltei seu pulso tentando reprimir o sorriso e fracassando. Ela disse meu nome, na minha frente. E daí que Kurosaki sentiria ganas de pular em meu pescoço? Depois de hoje, de lutarmos e as caricias que trocamos simplesmente não vou deixar que escape de mim. Ela é minha e eu sou dela. Ponto final. Dane-se se Kurosaki não gostar quando souber disso.

    Karin percebeu que não estava brincando e ofegou. A encarei convencido enquanto ia para a porta. Ela girou no lugar ainda incrédula

    - Não vou mudar de ideia. E não me olhe com essa cara, Karin.

    Ela se emburrou e sorri mais. A raiva dela me divertia, principalmente quando a deixava sem graça.

    - Para de dizer meu nome assim! – abaixou a cabeça, ainda me encarando e ficando mais vermelha – É estranho.

    Levantei a sobrancelha ao destrancar a porta.

    - Por que? Eu gosto.

    Ela suspirou irritada e embaraçada. Me divertir com isso.

    - Quero minhas fitas de volta.

    A encarei com a mão quase puxando a porta. Mudando de assunto? Então estreitei o olhar, assumindo um ar que raramente fazia, debochado.

    - Esqueça elas.

    Sua boca se abriu surpresa por isso e puxei a porta abrindo. Antes de cruzar o beiral olhei sobre ombro. Karin me fuzilava de raiva. Nem sei porque ou bem sei. Não importa.

    - Vou ficar com essas fitas.

    - Por que?

    Ao piscar confusa, ficou claro que não entendia essa minha atitude. Fingi pensar ao responde-la.

    - As odeio. – a encarei sério cruzando o beiral – Não gosto dos cabelos da minha namorada presos.

    Karin ofegou de choque e fechei a porta. Enquanto andava no corredor guardei as fitas no bolso da calça segurando um sorriso. Estou começando a gostar disso, roubar as fitas dela. Acho que um bom namorado devia providenciar uma calça nova, afinal a sua estava rasgada.

    HITSUGAYA POF

    KARIN POV

    Namorada... Ele, ele acabou de me chamar...

    Ofeguei desabando no futon. Ao olhar para minhas mãos no colo vi que estremecia. Não fosse por menos, foi uma reviravolta chocante. Toushirou acabou de sair daqui declarando aquilo. Afinal ele me chamou de namorada!!! Arregalei mais os olhos, repetindo a palavra varias vezes e quando lembrei do seu olhar convencido antes de fechar a porta soltei um suspiro. Eu realmente não imaginei isso. Me ajeitei no futon, sentando com as pernas dobradas de lado. Devagar toquei os lábios com as pontas dos dedos, lembrando...

    Puxa vida, o que aconteceu? Não! O que QUASE aconteceu?

    Sorrindo encolhi os ombros me sentindo bobamente feliz. Nunca fui romântica. Yuzu sempre foi a irmã mais feminina de nós duas e mesmo assim, me sentia como aquelas garotas da minha turma. Elas viviam dizendo como eram seus encontros, como seus namorados as tratavam e... Meu rosto ficou quente, como eram bons de cama. Tapei o rosto com as duas mãos, morrendo de vergonha. Toushirou e eu... Meu rosto pegou fogo com o coração disparado. A gente quase...

    Soltei um gritinho, abafado.

    Passado meu momento de histeria, suspirei abaixando as mãos ao fitar o vazio. Quando Rangiku bateu na porta chamando Toushirou eu entrei em pânico. Simplesmente em pânico. De repente, me lembrei que estava num quarto do alojamento, agarrada e dando uns amassos com meu Capitão. Coisa que nunca pensei que faria na vida ou na morte. Ah, tanto faz. O que importa foi que percebi que tinha perdido totalmente a cabeça.

    Mas não estou reclamando, de jeito nenhum. Antes de todo aquele fogo explodir Toushirou deixou claro uma coisa que me deixou feliz, muito feliz. Ele gosta de mim!

     Estreitei os olhos. Não, não é isso.

    Curvando a cabeça, sentindo meus cabelos escorregando para trás pensei melhor até encontrar a verdadeira resposta. Ele estava... Apaixonado. Como eu por ele. Vi nos seus olhos tudo o que sentia. Insegurança, carinho, desejo e ... Amor. Um completo espelho de mim. Antes de me beijar eles brilhavam e com certeza os meus estavam assim. Mesmo que não percebesse agora, não importa. Foi o momento mais romântico que tive!

    Mas uma coisa me preocupava. Ele era um Capitão e por isso tinha muitas obrigações. Lembrei uma vez do que um colega da Academia me disse. Toushirou ganhou esse posto não tem nem vinte anos... Eu sei que ele é mais velho. Tipo, uns quarenta ou cinquenta anos (caramba!). Mas Kuukaku me explicou que a idade aqui em Soul Society é diferente. Isso quer dizer que Toushirou é adolescente. Pus um dedo na bochecha, pensando. Quantos anos será que tem? Em termos humanos?

    Não deve ser dezesseis, não parece que tem. Acho que deve ser dezessete. A aparência dele condiz exatamente assim e sorri um pouco. Ele ficou irresistível nesses cinco anos. 1,60m poucos (com certeza por que nem tenho 1,50m de altura direito), atlético e aquele ar que sempre teve. Distante, adulto e atraente. Deve ser por isso que aquela coisinha de fitas se apaixonou por ele.

    Pensar nela me fez apertar os dentes num surto de raiva. Hinamori... Ela com certeza não vai gostar do meu namoro com Toushirou.

    Espera.

    Namoro? Mas eu nem disse que sim. E o que é que estou pensando?! É claro que quero namorar com ele. Só que...

    - Kurosaki?

    Dei um pulo. Quem estava me chamando? Como não respondi bateram na porta, insistindo.

    - Kurosaki? Está acordada?

    Continuei muda. Alguns minutos se passaram, então escutei um suspiro e um farfalhar. Como se a pessoa tivesse deixado algo no chão. Senti a reiatsu se afastando da porta e quando desapareceu me levantei do futon. Foi mal educado, eu sei. Mas de jeito nenhum apareceria para alguém com a calça rasgada desse jeito e até porque... Mordi o lábio. Tenho certeza que meu pescoço, o lado direito, tinha marcas vermelhas. De dentes e... Bom, Toushirou tinha praticamente sugado minha pele.

    Com o rosto queimando das lembranças, deslizei a porta devagar olhando os lados. Deserto. Suspirei de alivio e então olhei para baixo. Pisquei confusa. Era um embrulho. Peguei do chão e entrei no quarto puxando a porta atrás de mim. Rasguei o papel pardo e um pano negro se estendeu em minhas mãos. Surpresa, estiquei os braços em minha frente e vi que era uma calça. Um hakama do meu tamanho. Abaixei os braços, procurando um bilhete no chão (quem sabe não vi?), mas não encontrei nada. Só o papel pardo rasgado. Voltei o olhar para a calça.

    Me sentia um pouco boba e triste agora.

    Ele deve ter mandado trazerem para mim. Um gesto muito cavalheiro, mas pratico também. Toushirou é um cara que toda garota se mataria pra ter como namorado.

    Mas será que ele sabe o que é isso? Namorar alguém?

    Eu sei que não estou em posição de exigir nada. Afinal meu histórico nesse assunto é zero. No entanto, Toushirou sequer disse que gosta de mim e isso me fazia duvidar. Quanto se daria certo namorar uma pessoa que mal fala sobre seus sentimentos.

    KARIN POF

    HITSUGAYA POV

    - Entre Hitsugaya Taichou.

    As portas duplas e pesadas de madeira se abriram diante de mim com um rangido ecoando, enquanto lentamente me davam passagem para o salão de reuniões do 1º esquadrão. Nunca pensei que entraria assim novamente aqui. Com todos os capitães do Gotei, a esquerda os com Kanji em par e a direita em ímpar, a ultima vez que estive numa situação parecida foi quando me nomearam Capitão do 10º Bantai.

    Fui entrando impassível até ficar no meio entre as fileiras paralelas dos shinigamis mais fortes da Brigada. Me curvei em respeito e voltei a encarar o Comandante que me olhava de modo estreitado, analítico. Percebi que os outros mal me encaravam. Exceto o louro debochado que mantinha o sorrisinho. Pela visão periférica vi que reparou que eu estava no mesmo estado quando nos encontramos no 4º esquadrão. Surrado, desgrenhado e sem meu cachecol. Perdi no meio da luta com as quimeras. Se curvando um pouco para frente, o Comandante continuou.

    - Segundo a mensagem que nos enviou, Kurotsuchi Taichou realmente manteve em segredo um segundo laboratório.

    O relatório, claro. Eu tinha me esquecido completamente.

    - Sim, senhor. Ao chegar ao Centro Tecnológico eu e a shinigami que deleguei para a vistoria encontramos as instalações de acordo com as informações de Urahara Kisuke.

    Um capitão a minha direita deu um passo.

    - E os Hollows-Quimeras? Os monstros despertaram?

    Olhei de relance para a pessoa. Komamura Taichou parecia preocupado, mas seu tom foi profissional. Era um bom capitão, mas isso me fez estranhar. Hirako e Unohana não contaram nada para os outros?

    - Sim. O local estava destruído. Contudo, as quimeras que invadiram Seireitei vieram das celas subterrâneas.

    O ambiente na sala mudou. A tensão que causei com aquela informação deixou uma atmosfera pesada sobre eles. Kensei deu um passo, seus olhos um pouco arregalados.

    - Está dizendo que celas foram feitas para as cobaias vivas?

    Sem encará-lo, inclinei a cabeça.

    - Sim.

    Kensei ofegou, o que foi a deixa para os outros discutirem. Soi Fong reclamou sobre a gravidade da situação e Komamura e ele a encararam incomodados.

    - Controle-se, Capitã.

    Komamura sugeriu e reprimi um esgar.

    - Me controlar?! Será que não entende o que estamos passando aqui? Essas criaturas quase destruíram a cidade e agora descobrimos que existem mais! Vagando quem sabe pelos esgotos de Seireitei!

    Olhei de relance para a direita e vi que todos os capitães, sem exceção a observavam entre irritados e com tédio. Suspirei voltando meu olhar para o Comandante. Ele assistia impassível, calmo o bate boca dos seus subordinados, mas pestanejei no meu lugar. O Soutaichou me encarava dando atenção para minhas roupas, principalmente em meu haori ensanguentado. Isso me fez estranhar. Foi somente pelo relatório da missão que convocou essa reunião?

    - Capitã Soi Fong, acho que seria prudente deixarmos Hitsugaya Taichou continuar com seu relatório.

    A cacofonia se encerrou de imediato. Todos agora me encararam e antes que desse prosseguimento Hirako cruzou os braços por dentro das mangas do haori.

    - Nos conte sobre a barricada que fez com a irmã de Ichigo, capitão.

    Dei uma olhada para esse sujeito, suspirando irritado e sem surpresa estava sorrindo. Louro debochado...

    - Barricada?

    Kyouraku perguntou meio espantado, meio confuso. O encarei de lado, ignorando os olhares do Taichou de Hinamori.

    - Sim. Ao encontrarmos o laboratório destruído, Kurosaki e eu íamos deixar o quartel quando várias quimeras fugiram das celas. Tentei atrasá-las o suficiente para me juntar à linha frente, mas havia uma barreira envolvendo o 12º esquadrão.

    Kyouraku arregalou os olhos e me voltei ao Comandante. Sentia algo que era se semelhava à confiança, mas havia também o ego cheio de si.

    - A barreira era um dispositivo que Kurotsuchi criou como forma de proteger seus soldados e prender suas cobaias, mas por algum motivo se descontrolou e envolveu o quartel inteiro.

    Vi um movimento a esquerda. Kuchiki me olhava frio e distante como sempre.

    - Como obteve essa informação?

    - Uma quimera me forneceu depois que persuadi-la.

    Ele sequer se espantou. Me voltei para o Comandante e continuei meu relato.

    - Havia uma pequena falha na barreira, mas o suficiente para permitir que vários hollows-quimeras fugissem do complexo – então suspirei – Dado a situação Comandante, tomei a decisão de formar uma barricada com minha subordinada.

    O silêncio reinou surdo e pesado. Então Yukitake se voltou para mim.

    - Quantas criaturas haviam nas celas?

    - Uma centena.

    Dessa vez, alguns ofegaram. Pela visão periférica vi que Kenpachi deu um passo a frente. Ele sorria animado.

    - Uma centena desses monstros... Imagino que você e a irmã de Ichigo destruíram todas.

    Reprimi um sorriso. O que foi muito difícil. Afinal de contas é uma reunião dos líderes de Brigada e não algo informal. Não podia demonstrar o quanto me sentia convencido e orgulhoso pela façanha. À minha direita, Soi Fong engasgou. Ela raramente perdia a compostura e percebi outra coisa. Desde que entrei me encarava com ar de reprovação.

    - Impossível!

    Kenpachi se voltou para ela, estalando a língua.

    - Por que capitã?

    - Essas criaturas são difíceis de matar. Não há como Hitsugaya Taichou ter derrotado essa horda inteira!

    A olhei de lado seriamente.

    - Não estava lutando sozinho, capitã. Kurosaki me forneceu apoio na batalha enquanto ficávamos de prontidão no portão.

    Soi Fong me encarou entre raiva e descrença, mas não importei.

    - Com as zanpakutous supremas de Gelo e Vento conseguimos destruir as quimeras. Estava presente quando Urahara nos contou, não é mesmo?

    Com essa pergunta sua raiva amainou, calando-a e percebi que os outros também se contentaram. Quando uma zanpakutou apresenta poderes surpreendentes e únicos logo se faz um estudo à respeito. Sobre precedentes em toda a história de Soul Society. Pelo o que sei existiam apenas duas zanpakutous elementais supremas.

    Ryuujin Jakka – pertencente à Yamamoto Genryuusai e

    Hyourinmaru – minha zanpakutou.

    Por causa do duelo onde Karin liberou pela primeira vez a Shikai, várias especulações surgiram quanto aos efeitos que causavam quando a liberava. Eu mesmo ficava surpreso quando a treinava. Por isso, quando Urahara nos contou o que encontrou no 12º esquadrão, ele aproveitou para nos informar à respeito de uma nova zanpakutou elemental suprema. You Ou. Segundo ele, literalmente as espadas produzem, comandam e usam como golpes os ventos. Criando no local onde seu dono estiver uma tempestade.

    Portanto, é claro que Karin e eu conseguimos sustentar a barricada.

    De repente, o Comandante bateu o cajado no piso de madeira. Nos voltamos para ele aguardando suas ordens.

    - Com o ataque sofrido pelas cobaias de Kurotsuchi e segundo o relatório do Capitão Hitsugaya declaro encerrado o caso dos Hollows-Quimeras. Kurotsuchi será afastado do cargo até segunda ordem e o 12º esquadrão ficará a comando de sua tenente, Kurotsuchi Nemu. Dispensados.

    - Hai.

    Os capitães deram meia volta em direção à saída. Seguia meu caminho quando três capitães me abordaram. Kenpachi a minha frente, Kyouraku e Hirako aos meus lados.

    - O que os taichous desejam?

    Kyouraku levantou as sobrancelhas, se curvando um pouco ao me olhar. Pouco me importava, ainda não estava de todo bom humor pelo o que Matsumoto fez.

    - Que modos são esses?

    - Ora vamos, só me diga como foi a barricada com a pirralha.

    Encarei Kenpachi. Ele sorria animado de um jeito ansioso que quase me fez sorrir também, mas segurei o impulso.

    - Uma batalha dura, capitão. Arancar de Menos Grandes e Adjuchas apareciam a cada vez que derrotávamos uma onda das criaturas.

    - Arancar?

    Kyouraku perguntou apenas curioso.

    - Sim. De qualquer modo eram fortes o suficiente de acordo com o relatório da vistoria.

    Ele abaixou a cabeça, sua expressão pensativa.

    - As quimeras que atacaram a cidade também eram assim. Havia alguns Arancar na parte sul de Seireitei, não havia Hirako?

    Olhei o louro debochado. Ele estava sério.

    - Claro. As reiatsus fracas demais para rastrear.

    - Humpf.

    Olhamos para Kenpachi, que inclinou a cabeça desdenhoso. Era obvio que o ataque só aumentou sua gana insaciável de lutar.

    - Sentir pressão espiritual para combater o inimigo é uma chatice. Só nos deixa dependente.

    Hirako sorriu junto de Kyouraku. Simplesmente fiquei quieto.

    - Diz isso por que não tem essa habilidade, capitão?

    Kenpachi sorriu para Hirako, dando meia volta.

    - Nunca precisei.

    Enquanto seguia para as portas, bufei entediado.

    - Todo “Kenpachi” é assim, não é?

    Kyouraku se endireitou também encarando o haori com o kanji de 11 que se distanciava.

    - Zaraki tem uma sede incontrolável por lutar. É uma pena que não saiba a arte da espada direito.

    Olhei para o taichou de chapéu de palha, junto de Hirako. O que disse me soou um pouco estranho. Como éramos os únicos aqui saímos desta sala seguindo direto para a grande passarela. Enquanto a cruzávamos um vento soprou pelos lados, circulando. Isso me fez lembrar da luta. Nunca lutei ao lado de alguém como fiz com Karin. Afinal de contas, Hyourinmaru causava bastante estrago mesmo sem extrair todo o seu poder. Com a liberação de You Ou, enquanto esperávamos no portão observei o efeito que causava junto com minha Shikai.

    Ventos erradicos e fortes. Nuvens negras e pedaços de gelo caindo. De imediato as palavras me vieram e sussurrei.

    - Tempestade de gelo.

     - O que disse, Hitsugaya-kun?

    Pestanejei, voltando a mim.

    - Nada.

    - Ah.

    Encarei Hirako e ele devolvia de olhos estreitados nada convencido. Isso me irritou. Ainda o encarando ele se aproximou mais de mim.

    - Agora que estou vendo está sem aquele cachecol.

    Louro debochado... Quando foi mais cedo ao 4º esquadrão ele me viu sem.

    - Perdi na luta com as quimeras.

    - Seria bom arranjar outro.

    Estreitei o olhar duvidoso. Desde quando Hirako me dá conselhos sobre como me vestir?

    - E por que acha isso?

    Dando um sorrisinho que me irritou, ele me olhou de lado, risonho.

    - É só precaução.

    Levantei a sobrancelha e Kyouraku cruzou os braços ao meu lado, chamando minha atenção. Ele também me espiava de lado, curvando os lábios.

    - Também acho. Essas marcas vermelhas em sua nuca causariam muitas perguntas.

    Me entalei arregalando os olhos. Eles seguiram caminho sorrindo enquanto fiquei pregado no lugar.

    - Ah, mais uma coisa Hitsugaya-kun...

    O louro debochado olhou sobre o ombro com Kyouraku o esperando.

    - ... Ichigo vai passar alguns dias por aqui. – então sorriu – para matar saudade da irmã.

    Ele se virou e foi embora junto de Kyouraku. O vento soprou um pouco mais forte, esfriando meu rosto quente. Nervoso e envergonhado. Pela primeira vez me senti como um adolescente que era, graças às marcas de unhas de Karin.

    Suspirei voltando a andar.

    Que droga.

    HITSUGAYA POF

    Dias depois

    KARIN POV

    Com o ataque das quimeras a cidade ficou um caos. Prédios destruídos, pessoas feridas (principalmente soldados) e todos os shinigamis se mobilizando para a reconstrução de Seireitei. Enquanto ia para a Academia lembrei uma vez do que Sakai me falou. De quando meu irmão e seus amigos invadiram a cidade. Ao seguir o caminho vi vários soldados atarefados, correndo de um lado para outro.

    Depois de um tempo, uns três anos, Ichi-nii me contou tudo sobre sua vida como Shinigami Daikou desde o começo. Como ganhou o cargo na primeira vez que veio em Soul Society para resgatar a Rukia até a batalha de inverno, contra o ex-capitão Aizen Sousuke. Nessa parte eu tinha me impressionado porque foi a época que conheci Toushirou. Nem tinha perguntado direito pra ele naquele dia e nem tive vontade de saber.

    Enquanto a Brigada se preparava para a batalha que aconteceria em Karakura, um grupo ficaria na cidade para liquidar os hollows e arancars que apareceriam. Esse grupo seria liderado pelo Capitão Hitsugaya. Suspirei aparecendo no grande pátio de entrada, mal reparava que vários alunos se viraram ao me ver e segui direto para o prédio. Ao encontrar minha sala e entrar, subi mecanicamente as escadas da minha fileira até minha cadeira, onde joguei minha mochila no chão ao lado da minha zanpakutou (a carregava pra todo lado depois que liberei a Shikai).

    Toushirou...

    Eu não o tinha visto desde aquele dia e não sei se foi bom ou ruim.

    Acho que foi bom. Isso me deu tempo para pensar.

    No dia seguinte, tinha ido para o esquadrão e fiquei surpresa quando encontrei Rangiku dando ordens para uns shinigamis. Ao me ver, ela me dei um recado.

    - Ah, Karin-chan. O capitão mandou te avisar que não vai poder te treinar hoje.

    Fiquei amuada, mas disfarcei isso.

    - Por que?

    Se virando para mim, ela pôs as mãos na cintura pensativa, franzindo o rosto.

    - Está em reunião com Kuchiki taichou, Kyouraku e Ukitake taichou. Parece que algumas quimeras escaparam pela rede de esgotos.

    - Ah.

    Depois disso, fui me trocar e fiquei junto de Rangiku a tarde toda. Ela comandava os shinigamis fazendo jus ao seu posto de tenente enquanto o capitão não estava. No entanto, no outro dia foi a mesma coisa. E no outro e outro até que a semana estava acabando. É... namorar um Capitão é mesmo difícil. Toushirou tinha muitas obrigações que tomavam a maior parte do seu tempo, mas não estou reclamando. Eu entendo de verdade. Os taichous estavam ocupados com os danos que a cidade recebeu com o ataque e os fukutaichous ficaram responsáveis aos esquadrões.

    Suspirei de novo ao lembrar da última vez que o vi.

    Toushirou tinha deixado bem claro o que eu era para ele agora. Sua namorada. Sem me perguntar, sem pedir permissão. Simplesmente decidiu e pronto.

    Poxa, podia ter sido mais romântico. Não estou pedindo muito. Só bastava me olhar do mesmo jeito antes de me beijar (porque tenho certeza que era capaz disso) e fazer a pergunta “Quer namorar comigo?” Não custa nada.

    Então me lembrei da frase que sussurrou no meu ouvido.

    ”Você é minha e eu sou seu. Nem que tenha que falar com seu irmão, vou te fazer entender que somos um casal agora”.

    Eu tinha me arrepiado de choque. Estremecendo das palavras e a maneira como disse aquilo. Agora pensando bem, apertei os dentes de raiva. Sagashi se espantou ao se sentar do meu lado, mas não liguei.

    Toushirou sequer disse o que sente por mim! A não ser que pertenço à ele, como uma coisa. Suspirei (ultimamente ando soltando muitos suspiros). Se ele não falar nada sobre seus sentimentos... Não. Ele tem que falar. Não precisa ser muito. Mas tive a péssima sensação que esperaria um longo tempo e ainda não ouviria.

    “Eu gosto de você”

    A voz baixa e rouca dele ao me dizer isso... Sonho meu.

    KARIN POF

    Num prédio do 12º esquadrão, o 3º posto, Akon recebia os relatórios trazidos pelos grupos à respeito da situação do quartel. Kurotsuchi taichou realmente exagerou. Sempre soube que seu capitão passava dos limites quanto suas pesquisas particulares, mas criar quimeras com gillians, adjuchas e Santo Deus! Vasto Lordes, ultrapassou a linha das loucuras.

    Agora a tenente estava a cargo do esquadrão. Não que fizesse muita coisa. Era fiel e impassível ao seu criador, seu “pai” por falta de determinação melhor. Ela havia ficado responsável para a reconstrução dos prédios destruídos enquanto que ele, as atividades do Centro Tecnológico. Os outros oficiais ficariam a cargo das demais tarefas do esquadrão, o que facilitava muito.

    Akon estava estressado. Pegou uma caneca de café no refeitório e seguia direto para a sala de observação, lembrando do que a Sociedade Feminina de Shinigamis o obrigou a fazer. Repuxou o lábio. Matsumoto fukutaichou e Nanao fukutaichou praticamente mandaram nele com total permissão da sua tenente. Quantas vezes viu e reviu aquelas gravações que as câmeras externas capturaram? Quantas imagens congelou a cada grito que a tenente Matsumoto soltava? Foi terrível.

    Bebericou seu café. Elas o perturbaram essa semana até conseguirem o que queriam. E o jornal que circulava em Seireitei já teve sua tiragem distribuída desde ontem. Muita gente compraria. Mas agora estava mais interessado nos dados da pesquisa do capitão que passavam na tela. Trabalho de verdade. Simplesmente havia algo que não estava batendo com os relatórios dos outros esquadrões.

    KARIN POV

    Tinha alguma coisa errada, eu sinto isso. Desde que o dia começou volta e meia esses nobres se viraram para trás, olhando sobre o ombro. Demorei duas aulas para perceber que era para mim que olhavam. Eles me observavam risonhos, curiosos e até impressionados. Credo, parecia igualzinho ao primeiro dia. Quando souberam que eu vinha de Rukongai não pararam de me encarar com desprezo. Mas dessa vez era diferente.

    Quando o intervalo chegou, levantei da cadeira pegando minha mochila e zanpakutou e desci as escadas da fileira praticamente correndo. Passei reto até a porta enquanto pendurava as correias nas minhas costas. Mal respirei de alivio e no corredor também os alunos me olhavam. Eles cochichavam com outros, me encarando sem esconder. Isso é esquisito demais. Incomodo demais. Cara, o que foi que eu fiz?!

    Mas ao chegar no campus, eu realmente entrei em pânico. Por onde passava as pessoas se calavam e me olhavam. Eu segurei o impulso de sumir dali com o shunpo, o que gostaria muito, mas evitava isso. Desde o ataque ando me sentindo cansada. Conversei com Rangiku e ela me disse que devia ser pelas duas espadas. Liberar o Jin no Saiga me esgotou além do que pensei. Tinha desmaiado feito pedra, mas mesmo com o trauma da perna quebrada o sono devia ter me recuperado. E mesmo assim, me sentia cansada como se estivesse doente.

    - Hei, olhe ela ali.

    - Agora faz sentido porque essa pirralha entrou no Gotei.

    Me entalei parando ao escutar os risinhos. Me virei com raiva na direção e encontrei aquela garota de cabelo preto e óculos. Ao seu lado, suas amiguinhas escondiam o riso. Nojentas. Fui andando até elas, apertando os olhos de raiva e rapidinho perderam a pose debochada.

    - Como foi que disse?

    Ruka engoliu em seco assustada. Parei diante delas e relanciei o olhar para as outras. Estavam pálidas e nervosas. Encarei Ruka de novo e percebi que segurava algo. Era um jornal?

    - E então garota? O que quis com “faz sentido porque essa pirralha entrou no Gotei” ?

    Ficaram caladas. Covardes.

    - Calma, calma. Nada de escândalo. Não queremos que nossa celebridade perca as estribeiras.

    Era só o que me faltava. Suspirei de raiva me virando pra Sakai que sorria divertido para mim.

    - O namorado dela não vai gostar.

    Me entalei me irritando ainda mais.

    - O que disse nobre metido?

    Ele levantou as sobrancelhas fingindo confusão. Imbecil.

    - Ainda não sabe?

    - Saber do quê?

    Sorrindo torto, Sakai tirou o jornal das mãos de Ruka e virou para mim. Minha raiva sumiu e meus olhos se arregalaram. Um calor tomava meu rosto enquanto meu queixo caiu.

    Gritando para mim em letras enormes a manchete dizia.

    TEMPESTADE DE GELO

    No ataque que Seireitei sofreu esta semana, um fato raríssimo e empolgante aconteceu. O Capitão Hitsugaya e a shinigami do seu bantai, Kurosaki Karin, fizeram uma barricada destruindo todas as quimeras remanescentes no 12º esquadrão. Segundo fontes confiáveis, os dois foram ao quartel durante o ataque para investigar e durante isso, as celas que prendiam as criaturas foram destruídas e seguiram direto para cidade. Antes que saíssem do complexo para avisar o resto da Brigada os dois ficaram presos graças à uma barreira envolta do quartel que repelia shinigamis, mas não os monstros. Hitsugaya taichou que raramente entra em campo de batalha com sua tenente lutou ao lado da shinigami exterminando uma horda de cem quimeras!

    Abaixo uma imagem antes do combo que destruiu o complexo dos prédios e congelou todo o quartel.

    Encarei a foto e meu rubor aumentou. Não foi a toa que todo mundo me olhava daquele jeito. Era de quando Toushirou fugiu do tiro dos três ceros aparecendo comigo no pátio da entrada completamente congelado. Nós dois ofegávamos encarando com determinação à frente em posição de ataque. Virados de lado, nossas pernas presas no kidou esticadas, (o que me agonizava de dor), as outras estavam um pouco dobradas, enquanto segurávamos nossas zanpakutous em posição. Eu com a wakisaki reta ao lado do corpo. Ele com sua espada levantada apontando para frente e meu outro braço com a katana estava ao lado do seu. O vento sacudia furioso nossos quimonos e cabelos junto com as correntes de gelo e neve ao nosso redor, mas não parecia nos incomodar. O sincronismo. Uma tática do Toushirou que nos salvou, mas... Era constrangedor também. O braço livre coberto de gelo estava enrolado na minha cintura. Sem necessidade porque tinha uma corrente nos prendendo firme um no outro.

    Com o Bankai congelante de Daiguren Hyourinmaru e os ventos furiosos com a liberação de Jin no Saiga, criou-se um fenômeno que humildemente este redator batizou. “Tempestade de Gelo”. Nunca um casal de shinigamis foi tão perfeito e destrutivo numa batalha.

    Levantei os olhos para Sakai. Ele se deliciava com o vermelhão que tomava meu rosto e pescoço.

    - Nada mal plebeia.

    Inflei de raiva. Arranquei o jornal das suas mãos amassando e depois atirei na sua cara.

    KARIN POF

    HITSUGAYA POV

    - Hein, Toushirou. Por que temos que passar por aqui?

    Encarei Kurosaki que olhava com tédio para as lojas ao redor, suspirando. Não tiro sua razão, eu mesmo me sentia entediado.

    - É Hitsugaya Taichou – suspirei, quantas vezes será que repeti isso hoje? – Segundo Capitão Rose, o shinigami que sofreu o ataque durante a vigia foi encontrado por aqui.

    - Mas por que temos que ir andando?

    Abarai que estava ao seu lado o encarou.

    - Baka, não podemos levantar suspeitas – o encarou de lado, ante ao olhar confuso – cidadãos correndo desesperados apenas atrapalharia.

    - Ah, claro.

    Ficaram calados andando pela rua movimentada. Enquanto seguia um pouco atrás deles encarei a zanpakutou enorme e enrolada nas costas de Kurosaki. Lembrando da decisão que tomei dias atrás. Desde o ataque eu não havia tido uma oportunidade de ficar à sós com ele. Era um costume humano conversar com o parente homem da garota que iria namorar. E tudo o que não queria era um desastre, simplesmente um desastre. Eu sei que ele é protetor com sua família, sobretudo com certeza com suas irmãs. Como eu não conheço o pai de Karin e não tenho tempo de ir ao Mundo dos Vivos (sem levantar comentários), aproveitaria para conversar com ele.

    Contudo, não tive a chance de fazer isso e também não tinha visto Karin desde aquele dia. Isso me deixava um pouco amuado. Mas procurei esquecer enquanto me concentrava na reconstrução da cidade. O que estávamos fazendo era extraoficial, nenhuma ordem foi dada à respeito.

    Quando Abarai foi ao Centro de Desenvolvimento Tecnológico entreouviu comentários à respeito de um corpo encontrado nas ruas do comercio de Seireitei. Um shinigami do 3º esquadrão. Kurosaki estava no meu gabinete conversando com Matsumoto sobre sua irmã quando Abarai apareceu contando a noticia. De imediato quis investigar e os acompanhei porque era muito suspeito. Conversei com Rose para saber mais detalhes e ele me contou aonde acharam o corpo e qual era a rota do shinigami.

    Estávamos refazendo essa rota passando pela rua principal à paisana. Não seria estranho, afinal era comum nós três andarmos juntos. Contudo, enquanto observava Kurosaki tudo o que me vinha era sua irmã. Antes de irmos embora para o esquadrão vou falar com ele. Teria que ser razoável, escolher bem as palavras para que aceite minha intenção.

    De repente, Kurosaki olhou para o lado. Uma folha de jornal estava presa num poste da placa da loja.

    - O que é isso?

    Ele pegou o papel e vendo, Abarai arregalou os olhos. Que estranho.

    - Ichigo, me dê aqui!

    Estreitando o olhar desconfiado ele esticou o braço, longe do alcance do ruivo tatuado. Abarai parecia em pânico.

    - Por que?

    O outro ficou mais nervoso tentando em vão se acalmar.

    - Bom, é que...

    Kurosaki apertou mais os olhos.

    - Tem alguma coisa que você não quer que eu veja?

    Dessa vez Abarai se entalou e Kurosaki ficou realmente desconfiado junto de mim. Sacudindo o papel ele o encarou, então seus olhos se arregalaram. Principalmente quando se fixaram numa imagem na folha. Franzi as sobrancelhas, o que tinha de tão chocante ali?

    - Você viu?

    - É ele!

    - Kyaahh!

    Me virei para trás e três garotas de quimonos me olhavam risonhas, suas bochechas rosadas. Vi de relance que tinha um jornal nas mãos de uma e apertei os olhos. Quando li a manchete entendi o choque de Kurosaki, o pânico de Abarai.

    - Toushirou...

    O substituto me chamou. Sua voz num tom perigosamente calmo. Fechei os olhos xingando e me virei. Kurosaki ainda encarava a folha rasgada, mas sua mão apertava um lado, quase perfurando.

    Que droga!!!

    - Me contou que Karin e você ficaram presos no quartel daquele shinigami louco.

    - Sim.

    Também mantive o tom neutro. Ele estava com raiva, dava para notar nos nós de seus punhos brancos de tão cerrados.

    - Não me disse que ela ficou ferida desse jeito.

    Uma irritação começou a brotar em mim, mas suspirei. Calma.

    - Achei que não era necessário.

    Kurosaki quase riu e vi pela visão periférica que Abarai estranhava essa atitude tranquila do substituto. Eu não. Sabia que ele estava se segurando, sondando o terreno.

    - Ichigo...

    - Quieto, Renji.

    Abarai se calou então o Kurosaki finalmente olhou para mim. Lembrei daquele dia que Karin me convidou para passar uns dias na sua casa em uma folga. O olhar mortal que ele me lançou quando sua outra irmã achou que nós dois namorávamos. Daquela vez foi brincadeira. Mas agora ele realmente queria me matar.

    - Esse repórter acha que Karin e você ... – quase riu, seu punho tremendo e fechando mais - ... São namorados.

    Fiquei calado, encarando uma vitrine sem ver. Isso realmente estava me irritando, esses rodeios.

    - Só porque estão amarrados numa droga de kidou...

    - Ichigo...

    Abarai o chamou nervoso, mas Kurosaki ignorou.

    - Seu braço apertando a cintura dela...

    As pessoas começaram a parar, prestando atenção. A reiatsu dele estava se condensando, se preparando. Mas não me assustou, pelo contrário. Eu também estava ficando possesso.

    - Ichigo, esquece.

    - Cala a boca, Renji!

    Apertei os dentes ao fechar os punhos. Ele vai dizer... Esse cara esquentado vai dizer.

    - Hã! É uma completa besteira.

    Suspirei de raiva e o encarei de lado.

    - Por que?

    Ele inclinou a cabeça, amassando o jornal.

    - Você é muito mais velho que ela. Nunca se interessaria.

    Não respondi. Simplesmente o encarei e ele viu no meu rosto o quanto estava enganado. Estremecendo, lívido de descrença e raiva Ichigo se entalou enquanto me encarava. Ouvi Abarai ofegar. Pelo visto ele entendeu. E pelo o olho tremendo de Kurosaki ele também percebeu que o jornal não era de todo mentiroso.

    Dando um passo, ofegando, a reiatsu dele se condensou mais.

    - Toushirou... Você não...

    Estreitei os olhos com um músculo saltando na minha bochecha de tanta raiva. Kurosaki então fez uma carranca. Agarrando o punho da zanpakutou ele a sacou de uma vez junto das tiras da faixa branca se soltando ao pular em mim.

    - SEU PIRRALHO DESGRAÇADO!!!

    Pirralho desgraçado... Há um minuto não era velho?!

    Saquei minha espada também e nossas zanpakutous se chocaram com o estrondo deslocando ar e levantando poeira.

    HITSUGAYA POF

    No Centro de Desenvolvimento Tecnológico, Akon arregalava os olhos, pasmo com o que acabou de descobrir. Chamou um subordinado, que de imediato se curvou ao seu lado.

    - Hai?

    - Envie uma borboleta infernal imediatamente ao 1º esquadrão. Diga que Kurotsuchi Taichou é inocente sobre o ataque das quimeras!

    Todos da sala de observação pararam de trabalhar, chocados com o que acabou de dizer. O shinigami hesitou um pouco, nervoso.

    - Mas senhor...

    - Faça o que eu disse.

    - Hai!

    O shinigami sumiu e Akon voltou a olhar a tela. A imagem dividida em duas janelas. Uma de dados, outra mostrando uma imagem confirmando suas remotas suspeitas.

    - Por que fez isso?

    Um técnico de corpo redondo e olhos salientes estava embasbacado. Akon não se importou, levou a semana inteira para descobrir.

    - O capitão nunca fez quimeras com Vastor Lordes. – Encarou a imagem, mostrando um vulto negro mexendo no computador. – Alguém sabotou a pesquisa.

    Todos os técnicos ofegaram de choque.


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