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Seireitei estava sendo atacada e por nada menos que as abominações de Kurotsuchi.
Os hollows-quimeras.
Como os capitães elegidos para a investigação temiam (exceto Zaraki Kenpachi), os monstros conseguiram de algum jeito escapar do laboratório soterrado. A cidade estava um caos. Gritos e explosões por toda parte e o Comandante movendo a Brigada para conter e eliminar as quimeras. À uma sugestão de Urahara, o Soutaichou tomou uma decisão de última hora. Enviou o capitão do 10º esquadrão ao Centro de Desenvolvimento Tecnológico para que encontrasse um provável segundo laboratório.
As ordens de Hitsugaya eram: Invadir as estalações do 12º quartel, encontrar o lugar e o destruir antes que aumentasse mais a horda.
No entanto, o laboratório já estava destruído e a shinigami que delegou para a missão de vistoria, Kurosaki Karin, não sabia onde se encontravam as celas com as cobaias vivas. Já iriam sair do prédio quando um estrondo ecoou. Eles arregalaram os olhos um para o outro e correram em direção ao pátio. Dezenas de quimeras corriam em debandada para o portão.
Hitsugaya mandou que Karin fugisse enquanto atrasaria os monstros, o suficiente para que depois se juntasse aos outros capitães. Karin já iria atravessar o limite do muro quando uma barreira bloqueou seu salto. A reiraku eletrizada a agarrou pelos pulsos e tornozelos e depois a atirou para longe.
Seu capitão a amparou em tempo freando sua queda e então desconfiado foi até o limite do muro com Karin o seguindo. Hitsugaya esticou a mão a frente e a mesma massa opaca e elétrica de reiraku apareceu repelindo sua mão. Abaixou a cabeça xingando pela enrascada em que se encontravam.
- Eu não acredito! Por que essa... Barreira elétrica prendeu a gente e não eles?! Alias, por que essa coisa 'tá aqui?
Observando os hollows-quimeras correrem pelas ruas, ele suspirou.
- Não faço ideia. Mas parece que só repele shinigamis.
Os dois se encararam e sem uma palavra Karin entendeu.
Estavam presos, sozinhos, dentro de um lugar que provavelmente virou um inferno com essas quimeras.
KARIN POV
Ofeguei tentando respirar apesar do pânico.
- O que vamos fazer?
Toushirou piscou e desviou o olhar pensativo.
- Realmente não sei.
Ele respirou fundo, estreitando os olhos e tentei ficar calma. A situação era no mínimo desastrosa, mas mesmo assim eu não posso ficar com medo. Se tem uma coisa que aprendi naquele dia que fui atacada na floresta pelos adjuchas e ontem no laboratório é que não posso ficar com medo. Com esse pensamento, parei de tremer e não entrei em pânico. Observei Toushirou, ainda pensativo e depois um longo minuto ele me encarou de volta com um ar sério.
- Venha comigo.
- Sim, senhor.
Dando meia volta, ele tomou impulso e saltou para o alto. Franzindo a testa o segui. A cada vez que parava ele tomava impulso e subia mais, metros acima até que finalmente parou. Fiquei ao seu lado e arfei, nunca fiquei tão alto assim no céu. Toushirou olhava para baixo, sua mão ainda agarrada na zanpakutou e pelos céus com nuvens negras e a corrente do cabo, mantinha a Shikai. Tive um péssimo pressentimento quanto isso.
- Estranho.
Olhei para ele e franzia as sobrancelhas confuso. O vento onde estávamos soprava fraco, lento e me senti estranha com isso também. Era como se estivesse entediado, infeliz.
- Olhe a frente.
A voz de Toushirou me tirou do devaneio. Fiz o que me pediu e pisquei confusa. Apontando com o queixo, ele me mostrava a fila de monstros que corriam em debandada do prédio destruído. Eles seguiam como uma manada, soltando aquele urro que me assombrou a vida inteira, mas somente numa direção.
- Por que estão indo para o portão?
- Será que tem alguma coisa haver com a barreira que prendeu a gente aqui?
Olhei para Toushirou e ele encarava lá embaixo. Com minha pergunta seus olhos se estreitaram. Já ia sugerir para darmos uma olhada quando de repente, ele levantou a cabeça com os olhos arregalados. Toushirou agarrou meu pulso e sumiu no shunpo aparecendo metros abaixo de onde estávamos. Me colocando atrás dele, se inclinou para frente agarrando o punho da zanpakutou com as duas mãos.
- Taich..
- Fique aqui!
Toushirou tomou impulso e sumiu. Arfei jogando o pescoço para trás, encarando onde estávamos em tempo de vê-lo aparecer. Batendo o pé no ar, ele pulou para trás girando e levantou o braço com a espada. Uma espiral de gelo celeste explodiu do punho criando o dragão. Jogando a espada num arco, Toushirou atirou o dragão de gelo serpenteante no céu. Mirei para seu alvo e vi um hollow de pelo negro e vermelho com máscara de chifres de bode.
Urrando o dragão escancarou a boca o engolindo inteiro, despedaçando-o. Mal respirei de alivio e um outro hollow apareceu atrás do Toushirou, girando e chicoteando a cauda. Ela o golpeou nas suas costas o atirando para longe. Entrei em pânico.
- TOUSHIROU!!!
Tomei impulso. Ia saltar e ouvi aquele barulho, um rasgado no som atrás de mim. Me joguei longe para o lado e firmei um pé no ar girando. Curvando a mão livre no peito, uma luz azul brilhando na minha palma, sussurrei.
- Hadou nº 33 Soukatsui.
Estiquei o braço acertando o hollow que tinha saltado até mim bem na cara. Ele voou longe até se chocar num prédio abrindo um buraco. Escutei um estrondo e virei na direção. Colado na parede do prédio principal Toushirou ofegava. Arregalei os olhos, o pânico explodindo e sumi no shunpo saltando até ele.
Apareci a uns 2 metros, ofegando agoniada.
- Toushirou!!!
Pulei de novo parando em sua frente. O impacto do seu choque rachou o concreto. Seus olhos tremiam fechados e puxou os braços da parede, apoiando a mão livre no concreto quebrado se empurrando.
- Que droga.
Arquejou com raiva. De cabeça baixa, as mechas caindo nos olhos ele levantou o olhar me encarando sem ver de um jeito irritado.
- Kurosaki...
- Sim?
Agarrei seu pulso com a espada puxando para ajuda-lo.
- Você... CUIDADO!!!
Senti um empurrão no ombro e um vulto passou a centímetros de mim. Me virei de olhos arregalados, vendo a poeira levantar junto com o estrondo. Corri para dentro da entrada e parei arquejando. Um hollow igual à que ia esmagar o Renji e o Ikkaku empurrava Toushirou, chocando e arrebentando as paredes. Uma seguida da outra. Já iria correr para ajudar quando os dois pararam de voar. Com os pés no chão derrapando as costas do hollow estremeciam forçando peso, mas não saía do lugar. Levantei a sobrancelha, incrédula.
Toushirou media força bruta com esse monstro?!
Um vento gelado soprou no meu rosto, balançando meus cabelos levemente. Me entalei. Ai, caramba! Pulei para direita em tempo de ouvir meu capitão gritar e uma rajada furiosa de gelo atravessar o “corredor” entre as paredes atirando a quimera para longe e congelando. Me virei para trás tremendo e andei devagar até os rombos nas paredes. Tudo congelado, coberto por uma camada fria e nevoenta. No fim do “corredor” Toushirou ofegava fundo curvado para frente. Fui até ele usando o shunpo e ao ficar na sua frente me espantei mais.
Seu quimono e haori estavam surrados, cobertos de pedaços e poeira de reboco e sua testa tinha um corte acima da sobrancelha sangrando. Só. Ele ofegou mais um pouco e se endireitou me encarando de lado divertido do meu choque.
- O que foi?
- Nada.
Mas eu não conseguia deixar de encarar. Seus olhos se estreitaram e então ele se virou para sala onde uma das paredes ficou destruída por causa da luta.
- Vamos, Kurosaki.
Saltou o buraco e fui atrás. Enquanto corríamos olhei em volta. Parece que estávamos numa espécie de sala de máquinas. Pelo ao menos foi o que pareceu para mim com os chiados, as luzes piscando e os tubos azuis e vermelhos atravessando o teto. As paredes se conectavam com os computadores gigantes separados em alas. Toushirou e eu corríamos por um corredor largo de lajotas brancas com nossas zanpakutous abaixadas.
Encarei suas costas, o haori com uns rasgos e a bainha atravessada. Do que são feitos os Capitães? Eu jurava que tinha se quebrado inteiro quando aquela quimera pulou em cima dele arrebentando as paredes. Ver aquilo me sossegou um pouco (apesar estarmos ferrados presos nesse quartel). Parece que não vou morrer hoje.
De repente, meu capitão parou de correr. Seus pés derraparam um pouco e quase bati nele derrapando também. Pisquei confusa.
- Taich...
- Shsss.
Sua cabeça se virou para direita. Fiquei quieta. Segundos depois escutei um barulho quase imperceptível pelos chiados nessa sala. Engoli em seco, eram... Eram pisadas... Desajeitadas. Esperamos um pouco e então no corredor a nossa frente uma quimera parecida feito um sapo se arrastou cruzando o corredor onde estávamos. De repente parou e a máscara branca se virou para nós. As luzes se arregalaram de susto e escancarou a bocas.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
- Tsk.
Pisquei com força para Toushirou. Ele olhava a quimera com tédio. Apertando os olhos, tomou impulso e sumiu espantando o monstro. De repente, Toushirou apareceu atrás dele girando o corpo e deu um chute nas suas costas. O golpe atirou a quimera para o alto, que urrava surpresa e enquanto isso ele fazia um gesto com o braço livre. O antebraço e mão retos o abaixando com uma corrente de elos surgindo e girando.
- Bakudou nº 63, Sajousabaku!
O kidou pulou do seu braço quando o balançou num arco para o lado e se atirou na quimera que voava, prendendo-a num dos tubos azuis que iam do chão até o teto. Toushirou sumiu e apareceu diante do hollow enquanto que simplesmente saltei até os dois. Ao ficar do seu lado, o sapo esperneava tentando se soltar sacudindo a cabeça.
- É inútil.
Toushirou avisou e o hollow parou de mexer. O encarava com uma raiva e arfando.
- Shinigami...
Me arrepiei com o tom sibilante e esse gesto chamou atenção do hollow. Ele estreitou as luzes e sibilou de novo.
- Deliciosa.
Arquejei recuando um passo e vi um movimento na visão periférica. Um segundo depois a quimera-sapo chiava de dor e abaixei o olhar, o arregalando. Toushirou cravou a espada na barriga magra e encarava de olhos baixos a quimera. Me arrepiei de novo. Era um olhar frio de gelar a alma e a quimera se assustou também, pois começou a tremer.
- Nem pense nisso, monstro maldito. – então apertou os olhos – Quero que me responda umas coisas.
O hollow-quimera chiou.
- O q... que q... quer s... saber?
- Que barreira é essa envolta do quartel?
As luzes na máscara branca brilharam confusas.
- E.. e. eu. AAAHHH!
Arregalei os olhos. Toushirou tinha perdido a paciência e torceu a espada. O sangue preto escorria da ferida pingando.
- Taichou!
- Quieta, Kurosaki.
Cravou mais espada devagar e o hollow ofegou. Meu estômago se embrulhava com a tortura.
- É um muro!
Levantei as sobrancelhas. E não é que estava dando certo? Meu capitão afundou mais a espada.
- Um muro para quê?
A quimera ofegou e o encarou irritada.
- Para proteção. – então soltou um risinho – Parece que o shinigami louco não queria que descobrissem a gente.
Pisquei mal acreditando no que me passou pela cabeça.
- Espere aí. 'Tá dizendo que aquilo lá fora é um escudo para o quartel inteiro? Ele nem conseguiria sair!
- Sim... Mas não era para tomar o quartel. Somente as celas nos subsolos que prendiam a gente.
Toushirou piscou ao ouvir isso e puxou a zanpakutou. O hollow-quimera cuspiu sangue preto e nos viramos de lado. Toushirou para pensar e eu de repulsa. Ver aquilo foi simplesmente nojento. Olhei para ele.
- O que acha?
- Se disse a verdade, então Kurotsuchi criou um dispositivo que dispara a reiraku criando a barreira. Isso impede que shinigamis entrem na sua área isolada, mas também prende o que está dentro.
Parei para pensar e franzi as sobrancelhas.
- Mas tem uma coisa errada. Por que os hollows estão saindo?
Toushirou piscou e vi um brilho em seus olhos. Um lampejo de ideia. Olhou sobre o ombro para o monstro preso no tubo pelo kidou.
- Quantos vocês são?
A quimera cuspiu um pouco de sangue e levantou a cabeça.
- Pra que quer saber?
Repuxei o lábio. Toushirou apontou a zanpakutou na cabeça do monstro e a coisa chiou apavorada.
- Uma centena.
Me entalei.
- C... ce... cem?!
Olhei para meu capitão e ele apertava os olhos, preocupado. Suspirando me encarou de lado. Havia um quê meio duvidoso nos seus olhos que me ofendeu e confundiu. No entanto, em menos de um segundo seu olhar mudou. Ficou determinado.
- Hei. Eu já disse tudo. Me solta!
Toushirou olhou para o monstro e sem dizer nada deu um golpe da zanpakutou, congelando-o por inteiro sem dó.
Se virando para mim, me encarou determinado de novo me deixando curiosa.
- Vamos.
- Hai.
Sumimos no shunpo correndo pela sala. Assim que viu algo acima saltou para os tubos, subindo. O segui e então ao pairar quase tocando no teto, parou e tomou impulso se atirando para frente. Levantei as sobrancelhas. Toushirou seguia direto para umas janelas enormes e gradeadas. Abri a boca para perguntar se íamos mesmo pulá-las quando vi um brilho na sua mão livre. Uma bola de reiraku vermelha crescia e segundos antes a disparou. O estrondo arrebentou as janelas e suas grades e junto com a poeira atravessamos e sumimos de novo.
Não entendi para onde Toushirou seguia até que de repente parou. Abaixo de nós estava o portão do esquadrão. O encarei confusa e ele olhava para baixo, na direção da horda de quimeras que passava enfileirada pelo portão. Quando faltavam meros metros para os primeiros chegarem, Toushirou sumiu e fui junto. Afinal, ele não disse para me afastar.
Aparecemos de costas para o portão principal, diante da horda de quimeras. Meu coração pulou disparado e não sei se foi medo ou se pela admiração. Acho que foi os dois. Toushirou se virou de lado, o braço com a katana levantada e sem pestanejar, encarando impassível a onda de monstros que escancaravam as bocas para nos devorar, se firmou no lugar e jogou o braço para frente num arco enorme.
Embasbacada vi o dragão de gelo explodindo do punho da zanpakutou em segundos, urrando com a bocarra arreganhada, seu corpo enorme serpenteando ao se chocar num estrondo de estremecer o pátio com os hollows. Gelo cobriu toda onda que entrava levantando uma rajada branca e fria. Quando se dissipou o piso numa linha reta congelou e as criaturas presas no gelo despedaçaram com ele. Levei uns segundos para levantar meu queixo.
E era só sua Shikai... Incrível.
Enquanto as pedras de gelo rolaram se desintegrando, Toushirou se virou para mim. Ele nem parecia cansado pelo golpe e reparei em sua expressão determinada.
- Kurosaki.
- Sim?
Hesitou por um segundo, então suspirou e inclinou a cabeça se aproximando de mim.
- Entende que não tem como descobrirmos um jeito de sair agora, não entende?
Olhei nos seus olhos e engoli em seco.
- Hai.
- Segundo aquele hollow essa barreira era para servir como uma prisão para as cobaias e evitar que shinigamis entrem nas celas caso os monstros fujam.
Observou em volta para o alto e olhei ao redor do complexo de prédios. Tudo abandonado. Os prédios a direita de onde vinham as quimeras, devastados e destruídos.
- Mas parece que o troço deu errado e a barreira se expandiu para o quartel inteiro.
- Deve ser por isso que o 12º bantai estava deserto quando Urahara veio mais cedo. O dispositivo se descontrolou.
Encarei Toushirou e ele me olhava de volta. Ele quer me dizer alguma coisa, estava escrito no seu rosto.
- Pelo movimento das quimeras há uma falha na barreira, bem aqui.
Relanceou os olhos para o portão atrás de mim. Bem, eu já estava desconfiada.
- Kurosaki – seus olhos me encararam de novo e a determinação tomou conta deles – Vamos fazer uma barricada.
Levantei as sobrancelhas e demorei uns longos segundos para processar.
- Como?
Toushirou ignorou meu espanto.
- Não podemos sair. E definitivamente essas quimeras não devem sair daqui.
Suspirou fundo e vi porque ele se tornou um Capitão tão jovem. Esqueci meu pânico e confiei na sua expressão enquanto me encarava.
- Mesmo só nós dois podemos – então vi a sugestão de um sorriso convencido – You Ou e Hyourinmaru são zanpakutous elementais supremas e os inimigos virão diretos até nós.
Abri e fechei a boca e percebi que quase sorria também.
- Espere um pouco, você 'tá dizendo...
Se virando de lado, Toushirou me olhou risonho.
- Exatamente. A zanpakutou mais poderosa de Vento é You Ou. Urahara me contou hoje antes de vir te buscar no esquadrão - então ficou de costas para mim - Mas eu já sabia disso.
Sorri de um jeito bobo.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Encaramos a direita os hollows-quimeras que corriam para a entrada e aquele momento alegre sumiu. Agarrei com mais força o punho da minha espada e pela linha corporal dele, também estava se preparando para a batalha.
- Fique acima de mim e cubra minha retaguarda. Não hesite em matar, entendeu?
Me olhou sobre o ombro e acenei concordando. Toushirou então me encarou de um jeito... Seu olhar cheio de alguma coisa, mas virou o rosto e agarrou o punho da sua zanpakutou. Tomei um impulso e saltei alto girando para trás ao cair em cima da parte do muro que ficava acima dos portões principais. Estava bem uns sete metros acima do chão.
De repente, senti uma reiatsu crescer se concentrando. Olhei para baixo e vi um deslocamento de ar girando ao redor de Toushirou, lento e levantava de leve suas roupas e cabelos. Ele levantou o braço com a zanpakutou e a espiral de gelo explodiu do punho libertando o dragão azul celeste de olhos vermelhos. Hyourinmaru girou em torno do seu senhor em grandes anéis de gelo e rugiu. Que pressão espiritual...
Parei de admirar e me concentrei também. Sem o medo me travando, sem o pânico de morrer. Senti um deslocamento de ar girando em torno de mim reagindo à reiatsu que crescia. Firmando os pés, girei o tronco para trás esticando o braço e respirei fundo. O deslocamento de ar aumentou e senti o Rei Falcão abrindo os olhos, acordando. Encarei os hollows-quimeras que entravam no pátio e me concentrei mais.
- Bata suas asas...
Girei o punho da espada entre os dedos e me endireitei, torcendo o punho e levantando a zanpakutou.
- YOU OU!!!
O vento soprou com mais força, repentinamente e se retorceu na minha espada que brilhava e crescia enquanto a girava. Em segundos eu segurava minhas zanpakutous e as firmei no muro ao meu lado, esperando. Eu entendi o que o Toushirou quis dizer. Podíamos ser os únicos aqui, mas não iríamos morrer. Se não podemos nos juntar na batalha, vamos ao menos impedir que vire um massacre. Sustentaremos essa barricada até não restar nenhuma quimera.
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As nuvens negras no céu cobriam agitadas e a ventania soprava forte levantando e varrendo os pedaços de gelo no pátio, (resquícios do golpe de Toushirou). Com meus cabelos e quimonos sacudindo pelo vento forte comecei a sentir um frio congelante. Relanciei o olhar para cima e me surpreendi. Vários pontos brilhantes caíam do céu com o vento os sacudindo e soprando erradicos. Pedaços de gelo.
Sei que é besteira, mas não pude deixar de pensar.
É o efeito das Shikais de Hyourinmaru e You Ou. Como uma tempestade de gelo se aproximando.
Sacudi a cabeça. Para de fantasiar, Karin!
Agarrei com mais força os punhos de You Ou e encarei a frente. Mais hollows corriam até nós invadindo o pátio. Enquanto se aproximavam percebi uma coisa estranha nesses. As máscaras... Estavam quebradas. Senti a reiatsu de Toushirou se condensar mais e olhei em sua direção. Segurando o punho da zanpakutou com as duas mãos, ele sumiu no shunpo aparecendo no alto. O dragão de gelo rugiu e ele se jogou para trás. Num balanço de espada, o dragão se ergueu ao lado do seu senhor e mergulhou nas quimeras. O vento deslocou veloz com seu mergulho fazendo as quimeras levantarem as cabeças.
Todas as que estavam no centro da horda foram engolidas pelo dragão que caiu como uma cascata gigante de gelo. Os hollows que pularam desviando do ataque saltaram indo direto para Toushirou. Respirei fundo quieta no meu lugar. Meu capitão nem virou o rosto. Balançou a zanpakutou criando outro dragão e torceu o punho, o jogando nas quimeras. A fera de gelo serpenteou veloz pelo céu, escancarando a boca e num giro de seu mergulho acertou mais hollows.
Os outros tentaram se aproveitar, mas Toushirou sumiu. Surgindo atrás deles, ele se virou de lado saltando no ar com sua mão livre segurando a corrente com a meia lua. Chicoteando, ele a enroscou nos pescoços de duas quimeras. Uma camada de gelo as cobriu em segundos e as atirou para longe chocando-as num prédio.
Mesmo me concentrando arregalei meus olhos um pouco. Nunca o tinha visto lutar assim... De repente, uma quimera apareceu nas suas costas, tinha a máscara quebrada. Tomei impulso e sumi. Ela ia agarrá-lo quando apareci acima dela. Como no duelo, as correntes de vento giraram com força em meio redor junto com as zanpakutous. Parei o giro e dei um golpe. A quimera jogou o pescoço para trás em tempo de ver a lâmina de vento cortar sua cabeça. A força do golpe foi tão forte que zuniu a partindo ao meio.
Encarei Toushirou, mas ele não estava ali. Senti sua reiatsu e me virei. Mais hollows iam para cima dele e Toushirou mergulhava até eles. Inclinando-se para frente sua mão livre brilhou num tom azul, pipocando. Uma quimera sumiu de repente, parando bem diante dele. Seu punho desceu para esmagá-lo e Toushirou bloqueou com a zanpakutou com mais três hollows o cercando. Já iria ajudar quando a quimera que estava na sua frente voou para trás. Em seguida, uma corrente se enrolou num braço de uma das outras. Girando e puxando, Toushirou jogou essa nas duas restantes as atirando para longe. Ao se virar para a horda que urrava, aquela luz voltou a estalar na sua mão que largou a corrente da zanpakutou. Ele recuou o braço e sumiu. Olhei para cima, sabendo que apareceria lá e o vi surgindo, empurrando o braço. Uma rajada de luz azul explodiu acertando as quimeras inteiras.
- Souren Soukatsui.
Sussurrei pasma. Ele sequer disse a canção...
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Olhei para baixo e o pátio voltava a se encher. Agarrei You Ou e sumi, aparecendo ao lado do muro. Tomei impulso me atirando para o meio do pátio gigante. Antes que mais quimeras chegassem perto do portão, atravessei seu caminho e bati o pé o ar, derrapando. Quando cheguei diante do portão, girei no lugar e torci o punho balançando num arco enorme as espadas.
A lâmina de vento juntamente com a pressão de ar disparou zunindo e cortando todas as quimeras que estavam perto. Ofeguei firmando os pés e encarei os hollows que entravam. Tive uma ideia. Sumi no shunpo quase cruzando o pátio inteiro. Quando apareci dei um golpe com as espadas gritando. Os monstros arregalaram as luzes que eram seus olhos num choque mudo.
As cinco fileiras de quimeras foram cortadas pela cintura. Tomei impulso e pulei girando as espadas de novo, disparando mais uma lâmina de ar. O golpe zunindo em transversal destruiu o restante das quimeras que entraram. Ofeguei forte, mas não estava cansada, pelo contrario. Sentia meu corpo agitado, aquecido apesar do frio congelante que tomava conta de todo o lugar. O vento também soprava agitado, as correntes de ar fortes da tempestade. Estreitei os olhos e segui com minha ideia. Saltei no shunpo correndo pelos telhados dos prédios.
Sei que o Toushirou mandou que a gente ficasse perto do portão, mas por que esperar as feras chegarem até nós?
Apareci num lugar que me fez jogar o pescoço para trás. Era uma imensa rua. Uma avenida com um muro de uns sete metros de altura lado a lado. Eu não tinha notado quando vim aqui ontem... De qualquer modo, quando cheguei o vento deslocou com mais força. Sorri um pouco. É como You Ou me disse, aonde eu estiver as correntes do vento girarão em minha volta.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Dei meia volta. Umas quimeras de uns três metros corriam saltando para cá. Apertei os olhos reparando no jeito delas e me espantei. Elas vinham na minha direção para me devorar. Agarrei os punhos das zanpakutous e inclinei a cabeça. Podem vir. Quando a horda de uma dezena de quimeras chegou perto resolvi imitar Toushirou. Respirei fundo e me inclinei para tomar impulso. Três quimeras apareceram de repente diante de mim, escancarando as bocas e levantando os braços com as garras. Saltei sumindo e seus punhos acertaram o concreto, quebrando-o.
Apareci acima deles e estiquei a mão livre. Eles olharam para mim seguindo minha reiatsu e dei um golpe com as zanpakutou, recitando.
- Espalhados pelos ossos de uma besta...
Ouvi um rasgado de som, atrás de mim. Girei o corpo arregalando os olhos e bloqueie a mão que ia me agarrar. Olhando para cima vi uma quimera humanóide. Como o lagarto que quase quebrou o braço de Yumichika. Respirei fundo e apoiei o pé no ar o empurrando de uma vez. Sua máscara ficou num choque quando sumi aparecendo no alto, me dobrando e dando um golpe com as espadas. Enquanto a lâmina de vento zunia, torci o punho para o lado e seguiu a direção mudando de rumo. Acertando a parede do muro, abriu um buraco e ofeguei continuando.
- .... Torre aguda, cristal vermelho, roda de aço...
Saltei para baixo, vendo mais quimeras chegarem e separei as pernas segurando as espadas de lado, virando um pouco o corpo. Levantei a mão livre, sentindo o chão sob meus pés tremerem.
- .... Move-se e crie vento. Pare e crie tranquilidade...
Recuei a mão, com raios amarelos estourando na minha palma. Estreitei os olhos respirando fundo. Os hollows estavam a poucos metros de mim. Então aumentei minha reiatsu deslocando mais o vento.
- .... O som de lanças ecoa pelo castelo vazio. Hadou nº 63, RAIKOUHOU!!!!
Empurrei o braço de uma vez com um canhão de raios explodindo da minha mão. O coice do kidou me arrastou um pouco para trás levantando meus cabelos, mas atingiu em cheio a horda de quimeras. As luzes das máscaras se arregalaram de espanto, seus urros surpresos. Os raios as cobriram abafando seus urros com o estrondo. Abaixei o braço, sorrindo. Sempre quis fazer esse kidou. Era o preferido da Kuukaku e agora entendi porquê.
Ofeguei admirando o efeito do meu golpe. Num faixa de 10 metros, o piso branco da rua ficou torrado. Escutei um estrondo e me virei na direção. Vinha do pátio e mordi o lábio. Droga! Toushirou vai brigar comigo porque saí de lá. Já iria tomar impulso quando senti um deslocamento de ar atrás de mim, a pressão de reiatsu tremendo o ar. Me virei de olhos arregalados, pálida e tremendo. Um hollow parecendo um morcego sorria para mim. Atrás dele, vários apareciam do nada. A máscara branca abriu a boca e lambeu, se deliciando. Recuei devagar, minhas espadas tinindo e as quimeras cacarejaram rindo. O que estava na minha frente avançou andando, o chão sacudindo com seus passos.
- Shinigaminizinha.... – lambeu de novo a boca me arrepiando – Deliciosa...
Arfei de pânico e saltei para longe com o shunpo, aparecendo no alto do muro à uns dez metros dali, então escutei aquele som de novo. O rasgado e um riso maníaco. Girei You Ou me virando para trás, mas não consegui parar o golpe. A quimera deu um chute que só não me quebrou porque o bolsão de ar amorteceu. Fui jogada para trás, atordoada pela força do golpe e a pressão espiritual do monstro. Freei a queda ofegante em tempo de escutar um riso ensandecido e levantei a cabeça. A quimera-morcego saltava para mim deliciada com meu pânico, sua perna girando para me chutar e num instante puxou o braço fechando o punho. Perdi o equilibro no ar e fechei os olhos esperando o golpe me esmagar.
No último segundo, uma reiatsu diferente surgiu e uma rajada gelada me banhou. O ar tremia mais forte e escutei alguém dizer.
- Ban - Kai
Arregalei os olhos. O vento gelado ficou congelante e furioso, seguida de um estrondo após o outro. Levantei a cabeça sentindo a temperatura baixar drasticamente e um vapor saía da minha boca. Na minha frente, uma parede de gelo celeste me protegia. Dei um passo para trás e bati no peito de alguém, que de imediato enrolou o braço na minha cintura. Arregalei mais os olhos. A parede de gelo se afastou de uma vez, abrindo enquanto Toushirou gritava.
- DAIGUREN HYOURINMARU !!!
O ar congelante explodiu numa rajada branca e encarei as quimeras-morcegos. Elas olhavam chocadas para o Bankai do Toushirou. Escutei um som parecido com um estilhaçar de gelo e seu braço me agarrou com mais força. Ele tomou impulso se atirando e seu braço livre se levantou. Olhei para ele e me espantei. Estava coberto de gelo!
Desferindo o golpe, ele gritou.
- HYOURYUU SENBI!
Uma rajada de gelo girando veloz acertou as quimeras que urraram de dor. Toushirou me soltou e ouvi o bater de asas. Levantei a cabeça e meu queixo caiu. Gritando ele deu mais um golpe com a zanpakutou e outra rajada de gelo cobriu o restante das quimeras prendendo-as no gelo, despedaçando...
Não foi à toa que a quimera-morcego ficou chocada. Com asas imensas de gelo nas costas e uma cauda se estendendo logo abaixo delas, o Bankai dele parecia uma fusão do dragão de gelo no seu corpo. Olhei mais para cima e vi três flores gigantes de lótus azuis. Engoli em seco sentindo a reiatsu esmagadora emanar dele. Nem precisei mirar em volta, sabia que a rua inteira congelou.
Ofeguei de novo. Caramba!
De repente, ele levantou a cabeça em alerta. Ouvi aquele som de novo, os rasgados e me virei para trás em tempo de ver uma mão gigante tentar me pegar. Sumi no shunpo, aparecendo mais longe na rua congelada.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Olhei em volta e vi mais pernas brancas ao meu redor, andando e correndo até mim. Quando mais mãos mergulharam na minha direção corri no shunpo, desviando.
- KUROSAKI!!!
Saltei no ar virando a cabeça para trás. Não consegui ver o Toushirou. Tudo o que tinha às minhas costas eram os Menos Grandes de máscaras quebradas. Eles fechavam totalmente o caminho e esticavam os braços brancos, os passos sacudindo o chão. Respirei fundo, empurrando o pânico que quase me matou minutos atrás e fechei os olhos ainda subindo no ar. Agarrei com mais força os punhos das zanpakutous e lembrei daquele dia na arena. Uma onda de energia me tomou e abri os olhos. O vento explodiu feroz ao meu redor, junto com minha reiatsu e joguei o braço para trás me dobrando e gritando.
- JIN NO SAIGA!!!
Atirei as zanpakutous para o alto e uma espiral de vento me girou. As correntes subiam do chão para o alto enquanto um brilho explodiu. Bati o pé numa corrente me firmando e estiquei a mão para trás e uma frente. Fechei os punhos no instante que as zanpakutous voaram para eles. Com a wakisaki na mão direita balancei o braço num arco cortando as correntes que se dispersaram. A rajada de vento atravessou a cabeça do hollow. Ele caiu para trás desaparecendo e torci o punho, girando o corpo. A rajada se contorceu e cortou os hollows abaixo da cintura. Suas bocas estavam escancaradas, o brilho vermelho se juntando nelas e saltei no ar. Balancei a mão esquerda com a katana e outra rajada atravessou as máscaras quebradas.
Os Menos Gandes urraram desaparecendo, o cero sumindo. Ofeguei e senti o que You Ou me falou. Minha reiatsu me banhava, inundava e pelas minhas mãos senti as espadas as sugando. O vento agora eram rajadas furiosas que açoitavam meus cabelos e quimonos. Levantei a cabeça para o céu, as nuvens negras estremeciam esvoaçantes.
- Kurosaki...
Olhei na direção. Toushirou estava parado na minha frente e novamente fiquei impressionada com seu Bankai. Demorei uns segundos para notar que ele também estava impressionado. Seu queixo caído e as sobrancelhas levantadas. Me incomodei com esse olhar incrédulo e abaixei as espadas o encarando de lado.
- O que?
Ele piscou forte e fechou a boca. Poxa, dava para parar de me olhar como se fosse um E.T?
- Suas espadas...
As encarei e ofeguei um pouco. Elas luziam afiadas igual ao bico e as garras do Rei Falcão.
- Ah. É habilidade das minhas zanpakutous.
O encarei e o seu choque tinha sumido. Ele me encarava de volta com um quê no olhar que subiu um calor no meu rosto, apesar do frio congelante. Era fascinação e orgulho. Engoli em seco sem querer.
- You Ou te ensinou com o Jinzen?
- Foi.
Toushirou quase riu e me encarou nos olhos. Me espantei. Era um brilho empolgado que eu via no verde deles?!
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Nos viramos para trás e mais quimeras chegavam. Menos Grandes, adjuchas de todas as formas corriam, andavam e saltavam na nossa direção. Isso me confundiu. O portão ficava na direção contrária, por que vinham até nós? Então me lembrei do que escutei quando as quimeras-morcegos apareceram.
Shinigamizinha deliciosa.
Me arrepiei sentindo um mal estar.
Toushirou me encarou de lado percebendo.
- Pelo visto entendeu.
Continuei olhando a frente, com arrepios varrendo meus braços.
- É.... Eles desistiram de fugir para nos caçar.
Soltei um riso nervoso e ele quase riu. Olhei para ele levantando a sobrancelha duvidosa. Touhsirou curvava os lábios, sem um pingo de medo.
- Por que está sorrindo?
Me olhando de lado, seu rosto assumiu um ar convencido. O que aconteceu com o cara sério de minutos atrás?
- É uma vantagem, Kurosaki. – seus olhos miraram a frente – Esses são últimos. Percebi que o número deles caiu drasticamente quando não apareceu nenhum no portão.
Toushirou então sumiu no shunpo aparecendo abaixo de mim. Não entendia o porquê até sentir uma coisa gelada se enroscando na minha cintura. Olhei para baixo e quase dei um grito. A cauda de gelo do seu Bankai tinha me prendido firme. Me segurei nela com uma mão enquanto ele me puxava para baixo, ainda acima dele.
- O que você 'tá fazendo?!
Escutei um riso e me irritei. Isso não tem graça!
- Calma, só quero tentar uma coisa.
Pisquei confusa e as quimeras urraram de novo correndo em debandada até nós. Engoli a raiva. Se ele tinha um plano, podia aturar me prender com sua cauda de gelo.
- O que é?
- Suas espadas disparam rajadas, certo?
- Sim.
Toushirou suspirou.
- Pelo golpe de ainda pouco elas aumentam quando você gira o corpo e a força também.
-OOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Senti a cauda me apertar mais e uma ideia me veio. Não! Ele ia mesmo fazer isso?
- Toushirou – ofeguei, me assustando – você não está pensando...
- Isso mesmo.
Louco!
Me olhando sobre o ombro, ele achou graça do meu pânico. Bem, eu não achei.
- Não vai dar certo!
- Claro que vai e não faça essa cara, Kurosaki – sorriu – eu te pego.
Louco convencido! Mas bufei controlando meu pânico.
- É bom mesmo.
Toushirou então encarou as quimeras e senti a cauda se curvar me deitando. Olhei o céu com as nuvens negras, respirando fundo e rezando para que esse plano maluco dê certo.
- Quando parar subir, desfira os golpes das zanpakutous para os lados.
Pisquei.
- Cruzando-as?
- Sim.
- Ok.
Agarrei com mais força e senti a cauda me segurar mais firme. A cauda de gelo me abaixou, tomando impulso e olhei relance para Toushirou. Ele também havia se inclinado para o lado. Respirou fundo e fechei os olhos. Tomara que dê certo.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
De repente, a cauda me puxou de uma vez girando e me atirou para o alto. De braços abertos, senti o ar se retorcer enquanto meu corpo girava junto das correntes expandindo conforme eu subia veloz. Quando parou abri os olhos me espantando. Podia ver todo o complexo do quartel e ao longe um brilho me chamou atenção. Cruzei as espadas, as correntes furiosas açoitando meu quimono e respirei fundo sentindo minha reiatsu aumentar.
- HÁ!!!
Abri os braços. Duas rajadas desceram zunindo num “V” invertido. Enquanto caía elas acertaram os dois lados das ruas com os muros, caindo num estrondo e bloqueando qualquer saída. Toushirou se atirou para os hollows com as asas batendo e a zanpakutou apontava à frente. Não consegui ouvir o golpe, só percebi que o deu quando pilares de gelo brotaram do chão ao redor de um monte de quimeras e giraram em torno delas fechando. Respirei fundo ofegante e minha visão falhou. Estranhando olhei as espadas.
“Minhas navalhas consomem muita energia espiritual para criar as rajadas e enfurecer a tempestade.”
Fechei os olhos enquanto ainda caía. Droga! Ofeguei de novo e juntei os punhos das zanpakutous. Minha reiatsu voltou um pouco ao normal e respirei aliviada. Falando nisso, cadê o Toushirou que não aparece?
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Arregalei os olhos e virei o rosto. Uma quimera-morcego voava até mim! Levantei uma mão, pronta para disparar um kidou quando não senti nada. Nenhuma energia se concentrava e a encarei me espantando. As espadas...
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Levantei a cabeça em pânico. Quando o hollow já iria me agarrar, seu braço esticado, uma rajada de gelo se chocou nele o atirando para longe. Olhei para baixo e arregalei mais os olhos. Iria me chocar com uma torre!
- AAAAAAHHHHHHH!
Fechei os olhos, nem parei para pensar em usar o shunpo. Estar em queda livre causava uma pressão de ar tão forte que me sufocava. De repente, ouvi som de gelo. Senti uma rajada de ar congelante nas minhas costas e então bati em algo deslizante perigosamente rápido. Abri os olhos e ofeguei. Eu estava descendo por uma camada de gelo celeste como uma rampa. Ela se curvou para cima, a queda me levantando enquanto escorregava e então o gelo acabou. Comecei a cair de novo e uma mão agarrou meu pulso. Olhei para cima. Toushirou...
Quase ri de alívio, mas também queria xingar meu capitão. Ele voava rápido, olhando firme para frente e segui seu olhar. Uma torre de metal ao longe emitia um pulso azulado para cima. Levantei a cabeça e vi esse pulso parar no alto, expandindo ondas azuis que desapareciam.
- A barreira!
Uma quimera apareceu de repente na nossa frente e Toushirou então me balançou para trás. Pisando no ar derrapando, ele me atirou para baixo enquanto cruzou golpes com a quimera. Usei reiatsu para amortecer a queda e caí em cima de um terraço rolando. Me levantei no movimento e comecei a correr direto para torre de aço.
Podia usar o shunpo, mas estava poupando energia. Gastei muito ao liberar o Jin no Saiga. Quando chegava na beirada um Menos Grande apareceu se erguendo lentamente e urrando. Respirei com raiva e joguei o braço para trás com You Ou.
Bati o pé no piso, saltando.
- SAI DO CAMINHO!
Dei um golpe, acertando em cheio sua cabeça e pousei em cima dela tomando impulso de novo. Enquanto voava, vi um brilho vermelho pela visão periférica. Um outro hollow quimera em cima de um terraço do prédio ao lado abria a boca para disparar um Cero. Arregalei os olhos e senti algo gelado se enroscar rápido na minha cintura. Fui puxada para trás enquanto o brilho disparava e novamente me atiraram de novo. Girei no ar e parei em cima de um muro, com uma passarela de poucos metros. Meus pés derraparam, tentando parar e dobrei os joelhos me firmando. Depois que me arrastei uns três metros parei e voltei a correr. A torre de aço estava mais perto agora.
Entendi o que Toushirou queria. Ele abriria caminho enquanto eu iria direto para a torre que emitia o pulso de reiraku, destruindo a barreira.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Mãos brancas agarraram a borda dos muros, erguendo o corpo dos Menos Grandes. Estalei a língua, vou ter que fazer isso. Quimeras apareceram na minha frente, lagartos humanóides, esqueletos e aqueles bodes de pelo vermelho e preto. Saltei no ar e segurei You Ou com as duas mãos. De imediato minha reiatsu aumentou, os ventos enfureceram e puxei os punhos soltando-os. Gritando dei um golpe com a wakisaki e a rajada de vento varreu as quimeras decepando-as. Os Menos-Grandes se ergueram e tomei um impulso no ar. Saltando para o topo da cabeça de um bati o pé e pulei para outro e outro até o muro acabar girando para trás ao cruzar as espadas. Eles abriram as bocas, preparando os ceros e separei os braços disparando duas rajadas de vento que atravessaram hollow por hollow. O estrondo destruiu toda a passarela levantando poeira.
Só lamento.
Me voltei e procurei pela a torre. Ali à minha direita. Usei o shunpo saltando no ar, faltava pouco agora. Quando já podia ver o prédio onde ficava a torre, senti um deslocamento de ar perto demais. Girei a katana criando um bolsão de ar em tempo de evitar um soco gigante. Eu voava para trás saindo do caminho e para longe da nossa chance de saída. Droga!
Freei com pés, me virando um pouco com a força e levantei as espadas. A katana acima, a wakisaki abaixo, ofegando e encarando o hollow que saltava. Seus punhos era gigantes. Parecia com aquele hollow que me atacou quando ainda era criança naquele jogo de futebol e Toushirou me salvou. Já iria dar um golpe quando uma mão segurou meu pulso de novo. Olhei surpresa para o lado e Toushirou me puxou de um jeito que nossos braços se enrolaram. Bati no seu peito surpresa e senti sua mão me apertar. Entendi. Encarando o hollow a frente, Toushirou esticou o braço de uma vez me desenrolando e girou em torno de si me atirando para longe de novo na direção da torre de aço. Não olhei para trás, sabia que derrotaria a quimera. A força com que me jogou foi tão grande, os ventos se abrindo me dando passagem que em minutos a construção de aço estava bem na minha frente. Agarrei os punhos e parei o pé no ar, freando. Num arco grande, numa meia lua balancei as zanpakutous e as rajadas voaram zunindo acertando a torre. O estrondo metálico ecoou alto com o aço pendendo, o próprio peso o puxando para baixo.
A torre caiu destruindo um prédio ao lado explodindo num fogo azul. Parei no ar, ofegante e sorrindo. Consegui! Eu... Eu consegui! Me virei para trás explodindo de euforia.
- TOUSHI...
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
O urro medonho me avisou tarde demais, bem à minha direita. Me esquivei para o lado girando a You Ou, mas o bolsão de ar não parou totalmente o golpe. Uma pancada pesada acertou meu lado direito e fui jogada para longe. Quando tentei frear no ar, uma dor absurda e gritante disparou da minha perna. Arregalei os olhos de choque.
De olhos tremendo abaixei a cabeça. Minha perna pendia mole, torta e minha calça e meia empapavam num líquido quente. Ofeguei forte sem parar. A agonia me tomava junto do choque que crescia.
O Hollow a tinha quebrado inteira.
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- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Levantei a cabeça e senti mais quatro reiatsu distorcidas em minha volta. Morrendo de medo, cheia de dor e agonia, sumi no shunpo aparecendo em cima de um prédio. Ofegando pisei sem querer com a perna quebrada e uma dor quase me cegou enquanto pendi para esquerda. Rápido cravei a katana do chão, me firmando.
Meu Deus. Meu Deus. Meu Deus.
Eu entrava em pânico. Todo meu corpo tremia e um hollow apareceu na minha frente. Era mais humano de todos que vi hoje. Com o corpo todo peludo e preto, a máscara branca só tinha uma fenda como os olhos. Ele me encarou por um momento, quieto e abriu um sorriso. Me arrepiei inteira e me arrastei para trás. Minha perna direita se mexeu mole e fechei os olhos segurando com mais força os punhos das espadas.
- Doí, não é?
Abri os olhos assustada. Ele... Ele falou comigo? Andando devagar, sua cabeça inclinou para minha perna quebrada e ouvi um riso satisfeito, cheio de prazer.
- Todos os ossos quebrados, a carne esmagada...
Ofeguei assustada, tremendo.
- Para!
- O joelho com certeza...
Senti uma rajada congelante. Um instante depois uma cascata de gelo cobria o hollow o paralisando. Espantada, senti um braço se enrolar na minha cintura e o ar se deslocou em minha volta. Fechei os olhos com um pouco de alívio, mas mesmo assim...
- Kurosaki?
Ofeguei gemendo.
- Kurosaki!
Abri os olhos encarando uma rua deserta. Estava suando frio, eu sei disso e meu corpo inteiro estremecia.
- Minha perna.
Sussurrei entrando em mais agonia. Senti sua cabeça inclinar para baixo e então Toushirou ofegou. Como se todo ar tivesse se arrancado dele. Fechei os olhos de novo e duas lágrimas grossas escorregaram pelas minhas bochechas. Eu não aguento mais, 'tá doendo muito.
- Calma.
- Mas... A minha perna...
Ofeguei mais forte chorando com força. Já tinha quebrado a perna uma vez e nem por isso chorei. No entanto, aquele hollow, ele não quebrou. Ele a esmagou.
- Se encoste em mim.
Escutei no meio daquela dor e quase caí em cima dele. Ainda com o braço na minha cintura senti ele devagar me erguer e sua perna direita se esticar debaixo da minha. Ofeguei quando o peso dela mexeu os ossos quebrados. Ouvi um estilhaçar bem perto do meu ouvido.
- Apoie a cabeça no meu ombro.
Fiz e entendi o que foi o estilhaçar. No Bankai dele havia uma camada de gelo envolta do seu pescoço indo até a metade do ombro. Toushirou o quebrou para me segurar melhor. Senti seu peito ondular com mais força nas minhas costas e o braço com a espada me segurar, soltando o outro. Seus dedos encostaram na minha coxa enquanto sua cabeça se inclinou perto do meu rosto. Com sua respiração em meu ouvido escutei.
- Sinto muito.
O tom era arrependido. Por que?
- Sajousabaku.
Uma corrente de reiraku se enrolou de repente na minha perna e senti meu joelho ser empurrado e apertado. Soltei um berro agarrando seu braço na minha cintura. Eu gritei tanto que minha garganta ardeu. Meu rosto a essa altura ficou lavado de lágrimas. Quando a dor diminuiu um pouco, ofeguei para respirar.
- Agora fique quieta.
- 'Tá.
Me espantei. Minha voz saiu tão sem fôlego, fraca. Em segundos senti a dor aliviando e espiei para baixo. Toushirou curava minha perna. Ainda encarando vi o sangue melando seu pé também coberto de gelo. A visão me embrulhou e fechei os olhos.
- Sua reiraku está fraca.
Suspirei. Ele quer conversar para me distrair. Não fazia mal, queria mesmo esquecer essa dor que me inundava.
- São as duas espadas.
- O que?
Umedeci os lábios e ofeguei mais pouco.
- You Ou me disse que usar as zanpakutous separadas consome muita energia.
- Ah.
A dor diminuiu mais. Sentia meus ossos se juntando. Os músculos ao redor deles, os profundos começarem a restaurar.
- Né, capi...
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Arregalei os olhos e Toushirou levantou a cabeça. Esperamos quietos e então escutamos, muito perto.
- Shinigamizinha....
Me arrepiei enquanto o braço na minha cintura me apertou.
- Inferno.
Olhei para o lado, esquecendo por um momento do que hollow me chamou. Toushirou acabou de dizer Inferno ?!
Escutei um barulho e Toushirou sumiu comigo aparecendo em outra rua.
- Ele usa shunpo?
-Não é shunpo. Se chama Sonido.
- A barreira?
Ofeguei desesperada e senti ele suspirar de novo.
- Ainda não se dispersou.
- Não.
Fechei os olhos. Sentindo uma tontura me tomar, junto com a dor. Toushirou olhou para mim e ofegou agoniado.
- Kurosaki, acorde.
Meus olhos tremeram e escutei o tal Sonido de novo junto com um riso. Toushirou sumiu outra vez aparecendo em outro canto. Eu estremecia por inteiro. A dor do meu joelho ser colocado no lugar tinha arrancado quase todas as minhas forças. Tudo o que sentia agora era dor, pavor, agonia e tontura.
Ofeguei trêmula. De olhos fechados escutei um suspiro profundo no meu ouvido e depois a mão livre dele encostou na minha barriga.
- Sajousabaku.
Ofeguei surpresa. Uma corrente de reiraku se enrolou na minha cintura, me prendendo firme no peito de Toushirou. Ele se inclinou para frente, dobrando a perna esquerda debaixo da minha me fazendo dobrar também. Quase pendi para frente.
- Não desmaie.
Arregalei os olhos com o tom firme da sua voz me acordando. Ofeguei sem ar e Toushirou esticou a perna direita para trás. Arquejei de dor, mas colei as costas nele, me mantendo ereta.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Encarei a frente. O hollow que tinha quebrado minha perna direita apareceu na esquina. Toushirou apenas enfiou os braços debaixo dos meus, segurando a zanpakutou abaixada. Com o rosto ao lado do meu e o queixo apoiado no meu ombro senti quando inclinou a cabeça. Seus olhos se estreitaram sérios.
- Apoie o peso em mim e se concentre no que eu fizer.
Arquejei agonizando, estremecendo, mas assenti concordando. Coloquei meu pé esquerdo em cima do seu me endireitando, conseguindo ficar inclinada como ele estava. Ao fazer isso, porem, uma dor gritante disparou da minha outra perna.
- Calma.
Encaramos o Hollow. Ele corria saltando com o Sonido, em minutos nos alcançaria. Escutei um estilhaçar atrás de mim e olhei para cima. Uma das flores de gelo do Bankai dele sumiu. Ofeguei assustada.
- Toushirou.
- Eu sei. Apenas faça o que eu disse.
Virei o rosto para frente. Ainda segurava minhas zanpakutous separadas e as abaixei como a dele. Eu entendi sua ideia. É loucura, mas não tinha outro jeito. Nós estávamos sozinhos, presos ainda na barreira que se dispersava e só nós dois segurávamos os hollows impedindo que se espalhassem. Não tinha como ele me deixar aos cuidados de alguém, muito menos descansando. Ferida daquele jeito era um alvo fácil ali.
- Karin.
Me espantei. Ele disse meu primeiro nome!
- Eu não posso deixar de mover a perna direita, você entende?
Engoli em seco. O hollow estava a poucos metros agora.
- Sim.
Não disse mais nada. Santo Deus, eu estava a beira de um desmaio, agonizando de dor com a perna quebrada e presa na dele, mas de uma coisa sabia. Eu não ia morrer.
O hollow sumiu de novo e apareceu acima de nós. Olhamos para cima e juntei os punhos das katanas explodindo minha reiatsu ao deslocar mais o vento. Girei as zanpakutous para direita e Toushirou segurou a sua com a esquerda, sussurrando.
- Vamos.
O punho do hollow desceu para nos esmagar e Toushirou usou o shunpo aparecendo metros acima. Encarei lá embaixo arquejando e me concentrando. “Faça o que eu fizer”. Seu braço coberto de gelo se ergueu, a zanpakutou levantada e antes que desse um golpe, escutamos um barulho atrás de nós. Foi rápido, apenas uns segundos. Seu braço livre enrolou na minha cintura, agarrando meu quimono e o segurei com o direito agarrando o seu. Toushirou nos girou de uma vez (jogando nossas pernas presas no kidou pro lado) e deu um golpe de espada. Gelo em cascata voou o cobrindo o hollow por inteiro. Seu pé esquerdo pisou no ar e tomou um impulso se jogando para frente. Agarrei os punhos de You Ou e joguei o braço para trás.
- Humpf.
Escutei em meu ouvido e não pude deixar de sorrir (mesmo morrendo de dor). O hollow libertou a cabeça e o tronco do gelo, abrindo a boca com um brilho vermelho crescendo. Cero. Toushirou jogou o lado esquerdo do corpo junto comigo, (do jeito eu que fazia) e girei as zanpakutous num arco aberto estendendo o braço. Uma pressão de ar disparou zunindo, a lâmina crescendo e acertando o hollow pelo meio. O Cero sumiu enquanto a coisa caía se despedaçando e desaparecendo.
Arquejei de alívio. Estava dando certo, lutar presa nele estava dando certo! De repente, uma cauda chicoteou do nada. Ia nos esmagar! Fechei os olhos esperando o choque e senti um estrondo. Num segundo voamos para trás, o ar pesando em nosso redor e abri os olhos. Toushirou tinha nos envolvido com suas asas de gelo. Apertava os dentes tentando frear, mas não iria conseguir. O peso do golpe era demais. Arquejei e segurei minhas zanpakutous com as duas mãos, em pé na minha frente.
- Abra.
Nem questionou. As asas de dragão se estenderam e nos inclinamos para frente. Soltei os punhos das espadas e cruzei as lâminas, abrindo os braços de uma vez. O vento deslocou a nossa volta, descendo pelos lados e subindo por debaixo de suas asas. Quebrou o ar pesado onde éramos jogados amortecendo e diminuindo. Os pés dele freando finalmente conseguiam nos parar. Quase que nos chocamos numa torre. Eu ofegava, de braços abertos segurando as espadas estendidas para os lados e Toushirou encarava o hollow de longe, estreitando os olhos. Pela sua respiração estava tão exausto quanto eu. Seu braço esquerdo enroscou na minha cintura, apertando e a zanpakutou na outra mão abaixada.
- Que... Monstro é esse? A cauda dele...
- É um Vasto Lorde.
Arregalei os olhos.
- 'Tá brincando comigo!
O hollow olhou sobre o ombro, direto para nós e soltou um riso. O peito onde eu me apoiava ondulou mais forte, ofegante.
- Consegue manter as duas espadas?
Pensei uns segundos e lembrei do que You Ou me disse. As duas lâminas juntas eram suas asas, separadas eram a navalha de seu bico e garras. A reiatsu que emanava de mim expandia quando segurava as zanpakutous em cada mão, fazendo o Vento me envolver e criando correntes de ar que circulavam quando liberava minha Shikai girando com mais força onde eu estava... Ao meu redor. Era uma habilidade que me exauria muito rápido.
Suspirei fundo.
- Consigo
Enxerguei uma coisa pelo canto dos olhos, um sorriso. Pisquei surpresa.
- Yosh.
A pressão espiritual dele aumentou e então explodiu. Uma camada de gelo cobriu o prédio atrás inteiro com nuvens negras se juntando ainda mais no céu e vi pedaços de gelo caindo como em uma chuva. Abri a boca mais assombrada, ignorando a reiatsu monstruosa que pulsava de Toushirou. Os pedaços de gelo e pontos brancos (flocos de neve) se chocaram com as correntes de ar que criei, se misturando. Quando ofeguei de novo vapor branco saía da minha boca. Agora meu nariz ardia do frio congelante, a pele do meu rosto queimando.
Eu estava tão surpresa que nem notei que nossas reiatsu brilhavam. O halo de transbordamento aumentava se expandindo cada vez mais que as correntes de ar e gelo nos rodeavam. Soltando o braço de mim, Toushirou girou o punho passando a zanpakutou para outra mão, sua direita, enquanto estendeu o braço para baixo. Dobrou mais a perna onde eu apoiava a minha boa e nos inclinamos mais para frente. Meus braços abertos para os lados, sua mão com a zanpakutou levantada a frente. Encarando o Hollow que saltava no ar se rindo de nós, escutei.
- Pronta?
- Vamos.
O hollow desapareceu no Sonido e tomamos impulso desaparecendo também. Quando surgimos, ele golpeou com braço nesse instante. Nos esquivamos para o lado e jogamos nossas pernas presas no kidou, o pé dele chutando o hollow no estômago. O hollow voou para trás, surpreso e sufocado. Girando nossos corpos com as asas de gelo batendo mergulhamos na queda do monstro. Abaixei o braço com a wakisaki junto do seu e trouxe o outro para frente do lado do seu braço direito. Toushirou se virou um pouco de lado, puxando o braço com a zanpakutou para trás e apoiou no seu quadril. Me mexi com ele e quando o hollow abria boca para um Cero, ele gritou.
- RYUUSENKA!!!
O choque estremeceu o ar com o gelo explodindo em forma de cruz. As zanpakutous se cravaram no monstro e mexemos o braço para lado despedaçando aquela pedra congelante. O Vento sacudia nossos quimonos e cabelos, açoitando. Arquejei sem ar, minha perna direita latejante de dor pelo chute. Fechei os olhos por um momento, enquanto Toushirou dava meia volta olhando para os lados e abaixo. Ainda que bem que não conseguia ver meu rosto.
- Quantos havia quando destruiu a torre?
A pergunta me tirou da dor e respirei fundo.
- Cinco.
- São os últimos. Tsk. Onde estão os outros três?
Estremeci num espasmo de agonia chamando sua atenção. Seu fôlego prendeu ao ver meu rosto pálido e suado.
- Karin?
Não respondi. Continuei arquejando de olhos fechados, tentando com todas as forças não desmaiar. Ele suspirou pesado.
- Droga.
Seu tom foi carregado de preocupação e agoniado. De repente três reiatsu distorcidas nos cercaram e abri os olhos de espanto. Os hollow-quimeras abriam as bocas, o brilho vermelho crescendo. Toushirou não pestanejou, enrolou o braço livre na minha cintura e sumiu. O combo de ceros dispararam segundos depois como um canhão. Toushirou apareceu no chão do pátio, freando com o pé esquerdo quando derrapamos no gelo e nossas pernas presas, dobradas enquanto se firmava.
- Argh!
Arquejei. Que dor! Senti sua cabeça virar para mim. Ele estava ficando mais preocupado e agoniado. Antes que se desesperasse (porque eu senti que falta pouco) respirou fundo e se controlou. Sua reiatsu se concentrou de novo e se curvou em posição de ataque com seu braço na minha cintura me apertando mais forte.
- Não desmaie.
Engoli em seco e abri os olhos, assentindo. Respirei fundo e me concentrei. O vento girou com força ao nosso redor, açoitando nas roupas e cabelos. As correntes de ar subiam e desciam enquanto percebia que o quarteirão inteiro onde estávamos era tomado por essa ventania de neve e gelo. As paredes e tetos destelhavam, até as ruas congelavam.
Me endireitei apoiando em sua perna esquerda de novo, as costas no seu peito e me virei de lado. Toushirou se mexeu junto comigo e puxei o braço para trás segurando a wakisaki rente ao meu tronco. A chave era o sincronismo, eu sei disso. Eu e ele tínhamos que nos mover exatamente ao mesmo tempo. Nem um segundo a mais ou menos. Nessa batalha, ferida como eu estava e ainda por cima sem o apoio do resto da Brigada, Toushirou e eu teríamos que sustentar essa barricada. Até pelo ao menos, o resto do pessoal chegar.
Eu não posso desmaiar!
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Dois dos hollows aparecem com o Sonido no pátio onde estávamos e correram para cima de nós. Toushirou tomou impulso e se atirou. Quando um deles tentaram nos pegar, esquivamos e esticamos os braços com as zanpakutous. Sumimos no shunpo aparecendo a sua esquerda. Gritando, nos dobramos para direita e desferimos um golpe com nossas zanpakutous. Arcos de gelo e ar acertaram todo o lado esquerdo da criatura que foi atirada para parede de um prédio, arrebentando. Um deslocamento de ar veio à nossa direita e Toushirou fechou uma asa bloqueando o golpe. Fomos arrastados para trás no ar e freando com reiraku, ele abriu a asa e levantei o braço esquerdo. Golpeie com a wakisaki, a rajada cortante acertando em cheio o hollow pelo meio. Respirei ofegante sentindo minha reiatsu se esgotando e para completar escutei outro estilhaço acima de nós. Outra flor de gelo despedaçou. O Bankai do Toushirou só tinha mais uma flor.
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Me espantei e Toushirou pulou para longe, em tempo de evitar sermos esmagados. Então girando para trás, bateu o pé no ar tomando impulso e nos atirou de novo. Os três hollows se recuperaram dos nossos golpes e senti sua cabeça inclinar. Estreitou os olhos e aumentamos nossa reiatsu ao máximo. Isso assustou os monstros. Jogando nossos braços com as espadas para trás, o escutei dizer.
- Hyouryuu Senbi...
Puxei o ar e segurei mais firme a wakisaki.
- Fuujin...
- OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
O hollow que golpeei apareceu acima de nós, esticando o braço e Toushirou pisou de repente no ar, derrapando. Jogando os braços com as espadas em arco, giramos em nosso torno gritando.
- ZEKKU!!!
Uma rajada de vento e gelo celeste explodiu das nossas zanpakutos. Onde as lâminas tocavam o ar, com a rotação que fazíamos as correntes subiam e se expandiam furiosas criando um tufão. O estrondo do golpe sacudia o quarteirão. Eu forçava minhas espadas expelirem uma lâmina de vento tão cortante que despedaçava a cascata de gelo que saía do gume de Hyourinmaru, fazendo com que os pedaços voassem para todos os lados. O tufão de gelo e vento se expandiu até acabar nosso giro, se dispersando enquanto Toushirou se apoiava na perna esquerda ofegante como eu.
A última flor de gelo se estilhaçou, junto com seu Bankai. Abaixei os braços e juntei os punhos das katanas. Minha reiatsu estava praticamente esgotada, mal conseguia respirar. Descendo devagar ao flutuar até o chão, olhamos em volta para o estrago que fizemos e me espantei. Tudo num raio de meio km tinha desmoronado e estava coberto por gelo. Caramba!
Ouvi um quase riso e olhei de canto. Toushirou admirava risonho o que fizemos. Revirei os olhos.
- Não revire os olhos para mim, Kurosaki.
Me entalei e o olhei de novo. Seus olhos se estreitavam debochados. Seus pés tocaram no piso derrapante do pátio e guardou sua espada na bainha. Ele voltou a me chamar de “Kurosaki”.
- Desculpa, Capitão.
Ele quebrou o bakudou que me prendia no seu torso e se debruçou para me ver. Sua sobrancelha estava levantada de um jeito convencido. Idiota.
- Me pede “desculpas” com esse sarcasmo?
Suspirei e girei minhas zanpakutos voltando-as ao normal. Quando ergui o braço para guardar na bainha, mal consegui mexer. Isso me assustou e também minha visão começou a escurecer, embasando. Abaixei a cabeça ofegando, mas ele não reparou. Estava ocupado enquanto quebrava o outro kidou de nossas pernas. Pendi para frente e seu braço esquerdo me sustentou pela cintura.
- Taichou... O senhor já deu uma olhada em volta?
- Já e posso dizer que nosso último ataque exterminou todos os experimentos de Mayuri.
- E destruiu quase o quartel inteiro.
Toushirou riu de mim enquanto dobrava minha perna direita com cuidado. De repente, senti a dor diminuir e espiei de canto. Curvado e me sustentando, ele aplicava um kidou na minha perna direita. O brilho fraco aliviava a dor curando. Depois de uns longos minutos se endireitou.
- Pronto, colei todos os ossos. Quanto ao seu joelho e sua coxa vai ficar doendo mais um pouco. Lamento.
Fechei os olhos ofegante. A tontura que segurei desde que minha perna foi quebrada me engolfava. Todas as minhas forças eram sugadas pela exaustão e o trauma que controlei na batalha causava um adormecimento nos meus nervos. Não sentia mais meus dedos, meu corpo amolecia...
- Oie.
Não consegui responder.
- Kuros...
Antes que terminasse, a espada escorregou da minha mão enquanto tudo ficou preto, apagando.
KARIN POF
HITSUGAYA POV
- Droga.
Resmunguei por debaixo do fôlego. Pisei na borda de um telhado e saltei de novo. Enquanto pairava no ar escutei mais uma explosão. Virei a cabeça e vi o Bankai de Komamura Taichou. O samurai negro gigante levantando a katana. Enquanto ainda olhava vi um relâmpago negro de halos vermelhos e estreitei o olhar, Kurosaki Ichigo também estava aqui pelo visto. Não era uma surpresa, contudo, eu estava mais preocupado com a garota nas minhas costas. Pousei de novo num terraço e sumi no shunpo correndo o mais rápido possível até o 4º esquadrão. Que droga! Karin tinha desmaiado depois que destruímos os hollows de Kurotsuchi. Aquele doente, como ele pôde criar quimeras com Vastor Lordes?! Haviam apenas cinco deles e um, depois que Karin destruiu a torre que emitia a barreira quase esmaga sua perna direita.
Uma agonia começava a tomar conta de mim me sufocando. Escutei em meu ouvido um arquejo cheio de dor e saltei mais rápido. Eu não quis contar a ela, mas quando vi o golpe de relance apareci rápido ao seu lado e a tirei de lá para um canto mais afastado. Ao ver o estado de sua perna parecia que algo tinha se arrancado de mim. Como ela não gritou?! Fiz o que achei melhor no momento, usei minha perna como apoio para sua e as amarrei num kidou. O berro que soltou quando coloquei seu joelho no lugar tinha me rasgado por dentro. Inferno... Mal consegui tratar direito de sua perna e fomos cercados de novo.
Saindo desse devaneio, apareci em frente a um pátio enorme assustando vários shinigamis do 4º esquadrão. Me endireitando devagar respirei fundo controlando minha reiatsu e segui andando calmamente até a porta de entrada, abrindo caminho.
- Hitsugaya Taichou!
Alguém me chamou. Me virei para direita e um homem louro andava até mim. Ele me encarava assustado pelas sobrancelhas levantadas.
- Onde o senhor esteve? Todos os Capitães e tenentes estão na batalha!
Nesse instante, me olhou de cima abaixo ficando mais assombrado. Suspirei me irritando. Meu quimono e haori estavam surrados. Tinha uns cortes na testa e no rosto e a garota que eu carregava nas costas se encontrava no mesmo estado que eu, exceto pela perna que sangrava manchando meu sobretudo branco de vermelho. Tentava a todo custo não entrar em pânico. Arranjando calma sabe-se lá de onde.
- O que aconteceu com o senhor e essa garota?
Me virei o olhando de lado.
- Não é importante.
Continuei andando enquanto o sujeito me seguia. Estreitei os olhos entrando no prédio atraindo mais olhares espantados. Ignorei e continuei andando, saindo da recepção onde as enfermeiras corriam apressadas com uma prancheta nas mãos e entrava em outro corredor.
- Hitsugaya Taichou, os seus ferimentos...
- Qual é a situação da batalha?
O cortei cansado. Não estava a fim de conversa, mas eu precisava saber. Afinal, depois que deixasse Karin aos cuidados de Unohana me juntaria aos outros.
- Ah... Claro. Hisagi, Madarame, Yumichika e Zaraki Taichou estão cuidando do lado oeste de Seireitei em busca de uns hollows fugitivos. Kuchiki Taichou está exterminando os que estão tentando invadir a Central 46.
- E quanto ao Comandante e os outros?
- Estão cuidando dos Menos Grandes e Arancar Adjuchas, senhor. Felizmente o número inimigo parou de crescer.
Bufei, com certeza.
Entrei no pronto-socorro olhando em volta. Os leitos estavam todos ocupados com vários soldados feridos e outros já sendo tratados. Estalei a língua alheio ao olhar surpreso do 3º oficial e voltei ao corredor. Unohana também não estava aqui. Tentei seguir sua reiatsu, era mais fácil.
- Hitsugaya taichou...
Apertei os dentes. Louro insistente!
- O que foi, Iemura?
Ele se entalou. Só não entendi se foi porque disse o seu nome ou porque eu disse seu nome com raiva. Com certeza a segunda opção.
- Ah... Aconteceu alguma coisa quando o senhor foi o quartel do 12º bantai?
Suspirei ao parar fechando os olhos. Calma... Não posso dar um soco nele pelas perguntas idiotas.
- Sim, aconteceu. Eu e Kurosaki ficamos presos numa espécie de barreira elétrica e somente agora conseguimos sair.
Abri os olhos e me virei de lado. O cansaço começava a vir a tona.
- Mande uma mensagem para o Comandante e os Capitães. Diga que Kurotsuchi Taichou tinha realmente outro laboratório com mais cobaias. Desta vez de quimeras de Arancar e adjuchas.
Continuei a andar deixando o homem chocado. Já respirava de alívio quando Iemura voltou a me seguir.
- Capitão, mas isso é gravíssimo! E se eles...
- Não irão. – silêncio, então disse logo para que me deixasse em paz – Kurosaki e eu derrotamos todos antes de vir para cá.
Dessa vez, o 3º oficial de Unohana emudeceu de espanto.
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- Com licença.
Assim que anunciei Unohana se virou para mim piscando surpresa. Dei uma olhada em volta e estava atendendo um paciente. A vergonha teria me feito voltar senão fosse minha urgência.
- Hitsugaya Taichou! O que houve com o senhor?
Seu olhar pousou na garota em minhas costas, enquanto eu entrava no quarto. Seus olhos se arregalaram um pouco e fiquei mais sufocado com a agonia pelo estado de Karin me perturbando.
- Sei que é pedir muito, mas pode dar uma olhada em Kurosaki? Ela... A perna dela...
Engoli em seco. Por que eu não conseguia dizer? Acho que a visão que tive antes me embrulhava o estômago.
- Claro, coloque ela aqui.
- Arigatou.
Fui andando até o leito ao lado do ocupado. Unohana abriu espaço enquanto que ao chegar nele, me virei de costas e levantei um pouco Karin apertando sem querer sua perna. Ela arquejou e a sentei devagar. Tomando o cuidado de soltá-la aos poucos.
- Pronto. Pode larga-la.
Hesitei um pouco e o fiz. Me virei para a cama e Unohana a segurava pelos ombros inclinando-a lentamente no colchão. Peguei suas pernas e as levantei devagar a virando e as pondo no leito. Ao estica-las ouvi um estalo. Karin soltou um grito sufocado se agitando e a segurei no lugar. Encarando seu rosto, arregalei os olhos. Meu Deus... Estava cinzento, sem cor alguma e suando. Quando parou de se mexer a soltei e me afastei num passo olhando para minha mão vermelha de sangue e tremendo.
Um movimento me chamou atenção e levantei a cabeça. Unohana rasgava a perna da calça de Karin até o final da coxa. Arquejei com a visão. Os músculos estavam em vermelho e roxo, o sangue pisado por debaixo da pele e deslizando os olhos, encarei seu joelho onde em torno dele e na dobra escurecia ficando verde. O resto da sua perna estava igual a sua coxa, a carne quase esmagada e os ossos... Seus ossos...
Ofeguei mais forte tentando não sufocar. Mal reparei que Unohana levantou os olhos para o gesto, então voltou a encarar a perna de sua paciente.
- Parece que se envolveu na batalha, Capitão. Ela estava com você?
Levantei a cabeça saindo um pouco daquele caos. A mulher de tranças me olhava impassível, mas eu sei que estava claramente abalado. Eu tremia, arquejava e no meu rosto o pânico de ver a garota no leito naquele estado.
- Sim – engoli em seco, tentando manter compostura – Estávamos sozinhos e havia muitos inimigos.
Ela voltou a olhar para Karin, tocando de leve em sua testa e sondando.
- Essa menina está muito esgotada, quase não sinto sua reiatsu. Por falar nisso Hitsugaya taichou, os demais capitães também não sentiram a sua desde que foi investigar o laboratório de Kurotsuchi.
Já iria explicar quando a porta foi aberta. Por um segundo achei que era Kurosaki, mas quando vi um haori e cabelos louros de franja torta, suspirei.
- Hirako.
Ele se aproximou do leito onde estávamos e se espantou com o estado de Karin. Se virando em minha direção cruzou os braços, sério.
- Recebi sua mensagem. É verdade que ficou preso no quartel do 12º esquadrão?
- Sim. Havia uma torre emitindo um pulso de reiraku com eletricidade. Eu e Kurosaki não percebemos até que tentamos sair e a barreira nos repeliu.
Inclinou a cabeça para baixo, pensando.
- Faz sentido. O pulso bloqueava sua pressão espiritual. Me diga uma coisa, Hitsugaya-kun.
Voltou a me encarar sorrindo de canto. Estreitei os olhos. Louro debochado.
- Na mensagem dizia que Kurotsuchi realmente escondeu a informação de outro laboratório com mais cobaias. Elas despertaram como as outras?
O que esse sujeito queria? Não dava para adivinhar pelo meu estado surrado e desgrenhado, além de Karin daquele jeito que eu e ela enfrentamos um inferno?!
Quase que disse isso na cara dele.
- Sim, Capitão. Parece que ele não revelou também que fez quimeras com Vastor Lorde.
Hirako arregalou os olhos surpreso e Unohana parou seu exame em Karin. Eles me olhavam chocados.
- Tem certeza?
Ele franziu o rosto, descrente. Suspirando olhei para o vazio, lembrando.
- Tenho, eram cinco. Kurosaki e eu não percebemos enquanto segurávamos as quimeras até eles aparecerem.
Engoli em seco e encarei Unohana, ainda espantada.
- Foi um deles que – hesitei, me sufocando de novo – quebrou a perna dela, capitã.
Ela olhou para o membro machucado e virei o rosto encarando Hirako sem querer. Ele me observava pensativo, atento pela primeira vez que entrou ao meu comportamento. Quando curvou os lábios, irônico, o encarei com raiva. Diga alguma coisa, idiota e não respondo por mim.
- Hitsugaya-kun. Pelo que me parece você e a irmã de Ichigo derrotaram a horda inteira antes que saíssem da barreira, não foi?
Pestanejei surpreso. A pergunta prática me desarmou da raiva.
- Foi. O pulso somente prendia shinigamis.
- Mas não os hollows.
Então virou o rosto, estalando a língua.
- Kurotsuchi, seu louco demente.
Vi um brilho pela visão periférica e olhei para Karin. Unohana pousava os dedos no joelho dela e emitia ondas de kidou suaves e profundas. Em minutos, o vermelho arroxeado desaparecia junto com os rasgos na carne e os hematomas negros. Suspirei de alívio quando a pele voltou ao tom saudável de antes. Eu pensei que nunca mais voltaria a andar.
Se endireitando, Unohana me olhou confusa e ao seu lado, Hirako que tinha observado o processo de cura me encarava risonho.
- A perna dela estava menos esmagada do que pensei – piscou mais confusa – Hitsugaya Taichou, o senhor...
- Colou os ossos e restaurou os músculos internos, não foi?
Hirako a interrompeu, adorando o rubor que subia pelo meu pescoço. Então olhou para Karin.
- O joelho dela também foi deslocado, mas o pôs no lugar. Excelente primeiros socorros.
Sorriu para mim e apertei os punhos. Louro debochado! No entanto, suspirei controlando a raiva.
- Só fiz o que era certo.
- E muito bem. Agora tudo o que ela precisa é de descanso.
Unohana comentou de um jeito bondoso me relaxando.
- Certo, então agora eu vou...
- Hitsugaya-kun, um instante.
Parei no lugar e me virei para Hirako. Já estava me afastando do leito quando me chamou.
- Não precisa se juntar na linha de frente. Os outros Capitães estão com a situação sob controle.
A irritação me inundou.
- Mesmo assim eu não posso me afastar mais da batalha, sua sugestão...
- Não é uma sugestão minha, Capitão. O próprio Comandante deu essa ordem.
Me espantei. Então Unohana se virou para mim.
- Se não for muito incômodo, será que o senhor não poderia levar Kurosaki com você?
A encarei mais surpreso e ante a isso, ela sorriu sem graça.
- É que precisamos de leitos. Já que a menina só necessita de descanso ela pode fazer isso no seu esquadrão.
Pisquei confuso. Unohana nunca nega leito para seus pacientes. Que sugestão absurda era essa?
- Mas capitã, eu...
Seus olhos se estreitaram com um sorriso frio.
- Por favor, Hitsugaya Taichou.
Minha nossa! Um calafrio de medo varreu minha espinha quando ela me olhou desse jeito!
- Claro.
Me aproximei da cama e enfiei os braços debaixo de Karin. Um nas suas costas, outro na dobra dos seus joelhos. A puxei para mim com cuidado e devagar a aninhei no peito tirando-a da cama. Sua zanpakutou estava pendurada nas minhas costas junto de Hyourinmaru e então saí do quarto ignorando os olhares de Hirako. Soltei um suspiro, esse sujeito me irritava demais.
HITSUGAYA POF
Enquanto o capitão do 10º bantai saía do 4º esquadrão, Hirako e Unohana ainda estavam olhando a porta, pensativos.
- Hirako Taichou, o Comandante não deu aquela ordem, não foi?
Hirako sorriu.
- Não, mas ele dará quando souber que sozinhos Hitsugaya e a irmã de Ichigo formaram uma barricada e destruíram as quimeras restantes no 12º esquadrão.
Estreitou os olhos deixando o divertimento de lado.
- Percebeu?
Unohana suspirou ao seu lado.
- Sim. Os outros não iriam, mas uma mente treinada como a minha e a sua notaria.
Então se encararam.
- As reiraku daqueles dois se ligaram. Viu o halo que os envolvia?
Unohana piscou calma e Hirako olhou para a janela.
- Vi. – então sorriu – Sabia que tinha alguma coisa diferente naquele tufão de minutos atrás. Um golpe daquele deve ter destruído o quartel inteiro.
- Ou não.
Os dois voltaram a se encarar e sorriram.
HITSUGAYA POV
Saltei com mais calma para meu quartel. Agora que Karin estava fora de perigo aquele sufoco despareceu. Nunca fiquei tão agoniado assim, tão em pânico. A única vez que senti algo parecido foi quando Matsumoto e Hinamori foram atacadas por aquele monstro. Uma ironia? O hollow se chamava “Quimera Parca”. Suspirei pensativo. Esses monstros criados só causam desgraça.
Olhei para o rosto dela e estava relaxado, voltando a corar e sorri um pouco. Apesar da pele branca Karin tinha um leve rosado, que eu não teria notado se não observasse com tanta atenção. Saltei de novo e apareci diante dos portões. Os guardas se espantaram ao me verem, mas não disseram nada. Perceberam pelo estado das minhas roupas e semblante que não queria conversa.
Enquanto andava pelo quartel, caminhando entre os prédios pelo caminho de cimento, vários homens meus me cumprimentaram e como os guardas não fizeram perguntas. Olhei em volta enquanto entrava na passarela que ligava o refeitório aos alojamentos. Aqui estava bem tranquilo, tirando o fato que os shinigamis corriam de lá para cá, repassando os relatórios da batalha para os oficiais. Onde será que estava Matsumoto? Pisquei pensativo. Deve estar na linha de frente. Entrei nos alojamentos, vazio por causa da confusão na cidade e procurei no corredor por um quarto vago. Dobrei entrando em outra ala e finalmente encontrei. Cruzei o beiral e fui até uma estante de madeira. Descendo devagar as pernas dela, sustentei com o braço esquerdo seu peso e puxei o futon. Teria estado no chão, mas como ninguém dormia aqui... Enfim, sacudi o estendendo e o soltei recuando enquanto caía num baque. Peguei uns lençóis e tentei forrar do jeito que dava.
Ao ficar bom o bastante para mim, me abaixei mais e enfiei o braço de novo atrás dos joelhos dela deitando-a devagar no futon. Ajeitei seu corpo, esticando suas pernas (e ignorando uma desnuda os meus olhos), braços e tronco. Quanto cheguei ao seu pescoço, me demorei nessa parte. Meus dedos roçavam hesitantes, de leve. Observei meu gesto subindo por seu rosto e soltei um suspiro ao afastar com o dorso umas mechas soltas das fitas. Quase ri recolhendo a mão. Ela me pregou um bruto de um susto, me deixando em pânico ferida daquele jeito, mas agora... (Curvei a cabeça, estreitando o olhar observando-a dormir) Estava bem. Ainda a admirando (porque era isso que eu fazia) lembrei do que Matsumoto me perguntou uma vez. Parecia há muito tempo, mas ainda me lembrava.
“Não acha que Karin-chan ficou linda?”
Sim.... Karin realmente ficou linda. Já era bonita quando criança, mas ao crescer ficou simplesmente bela.
Suspirei de novo e mirei para sua boca entreaberta de sono sentindo uma ânsia. Antes que me arrependesse, apoiei o braço no futon e me inclinei. Ao ficar a centímetros do seu rosto fechei os olhos e a beijei devagar. Agradecendo internamente que não tinha ninguém aqui para me flagrar, que sua boca estava entreaberta e podia não apenas colar meus lábios, mas também encaixar nos seus.
Que coisa errada...
... E tão boa.
Suspirei de novo, dessa vez com desejo e a beijei mais uma vez quase abrindo mais seus lábios e agarrei o lençol me segurando e fiquei quieto por uns segundos. Parei o beijo ofegando ainda de olhos fechados. O que eu estou fazendo? Mais um pouco e a acabo acordando! Me afastei devagar e larguei o lençol me endireitando para longe dela. Estava apoiado num joelho no futon. Fiquei surpreso, Karin devia ter acordado. A tinha beijado com força e... (fiz um esgar) Deixei uma marca vermelha. Tomara que suma quando despertasse. Bem, é melhor eu ir para meu gabinete. Aposto que está uma bagunça.
Assim que levantei do futon o quarto inteiro girou. Me virei tonto para o lado e agarrei uma prateleira da estante. Arquejei e esperei até que passasse. Estou tão exausto da luta, mas não fazia ideia de que era tanto assim e ainda meu corpo inteiro doía. Não me sinto assim desde a luta com aquela Espada. Acho que é porque lutei hoje com cinco dos seu tipo e mais umas dezenas de adjuchas transformados. Soltei a prateleira e andei pelo quarto, mas ao chegar na saída outra vez o cômodo girou. Droga! Estou quase desmaiando. Me apoiei no batente da porta até a tontura sumir novamente e abri os olhos.
Pensei um pouco e tive uma ideia. Por que não?
Fechei a porta e passei a tranca. Não quero que ninguém me incomode pelas próximas horas. Dando meia volta, segurei as correias das zanpakutos nas minhas costas e as tirei colocando-as na estante. Olhei para o meu haori ensanguentado numa aba e o tirei também, o dobrando e pondo numa prateleira. Me virei para Karin e observei o espaço que sobrou no futon, era o suficiente. Então me abaixei deitando ao seu lado, encarando o teto enquanto me estendia. O macio nas minhas costas me relaxou inteiro. Fechei os olhos e dobrei um braço (que não estava ao seu lado) na barriga e dormi. A última coisa que pensei era quem de nós dois acordaria primeiro, acho que seria ela.
HITSUGAYA POF
KARIN POV
OOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
O urro medonho me avisou tarde demais, bem à minha direita. Me esquivei para o lado girando a You Ou, mas o bolsão de ar não parou totalmente o golpe. Uma pancada pesada acertou meu lado direito e fui jogada para longe. Quando tentei frear no ar, uma dor absurda e gritante disparou da minha perna. Arregalei os olhos de choque. O Hollow a tinha quebrado inteira.
Abri os olhos. Ofegante de susto e pisquei para me situar enquanto eles se acostumavam. Relaxei quando senti o futon macio e lençóis, além de minha perna não doer mais. Fechei os olhos de alívio. Toushirou deve ter me levado para o 4º esquadrão e agora eu descansava num leito.
Espere.
Futon? Abri os olhos de novo e percebi uma coisa que me fugiu quando acordei. Um som. Não, dois sons. Um de uma respiração profunda, tranquila e o outro das batidas de um coração bem debaixo do meu ouvido. Olhei para o tecido negro na minha frente e minha cabeça levantava e abaixava... No ritmo da respiração. Arregalei os olhos, ciente que estava deitada de lado e abraçada com alguém. Ai caramba.
Inclinei o pescoço, levantando só um pouco a cabeça e vi mechas brancas. Abaixei rápido, com as bochechas esquentando e o pulso disparado.
Toushirou...
Eu estava dormindo com Toushirou!
Engoli em seco, quieta e mexi meu braço sem querer, minha mão tocando outra mão. Olhei para baixo e vi que não só usei seu peito como travesseiro como me agarrei nele. Ai, que vergonha!
Tentei ficar calma, me situar e quando meu pulso voltou a correr menos acelerado reparei onde estávamos. Era um quarto do alojamento. Acho que depois que trataram da minha perna Toushirou me levou para o esquadrão. Ele respirou de novo, o som me distraindo junto com o ondular do seu peito. Fiquei concentrada nisso, na respiração profunda dele e as batidas calmas de seu coração. Curvei os lábios um pouco. Ele tem um sono pesado e não ronca. Segurei um risinho e depois uns minutos suspirei.
Por que ele estava aqui? Deveria ter ido para seu próprio quarto, não é? Mas o que estou pensando?! E daí se ele ficou? Quando vou ter de novo uma oportunidade dessas de dormir agarradinha nele? Nunca.
Fechei os olhos de novo e suspirei. Toushirou tem um cheiro tão gostoso... Era gelado e lembrava hortelã ou será que era menta? Ah! Tanto faz. Era de alguma coisa que aumentava essa impressão de frio e frescor. De repente, o braço debaixo de mim se mexeu (só agora percebi que estava aí) e escutei um gemido. Arregalei os olhos e me afastei de uma vez. Isso foi um erro. A cabeça dele virada para o outro lado rolou para mim e suas pestanas tremeram piscando.
Fiquei pregada no lugar quando os olhos verdes se abriram e se focaram em mim, sonolentos. Esqueci do nervosismo, abobalhada pelo jeito dele acordar. Era tão... Tão... Eu não sei, só sei que me amoleceu inteira e quis sempre levantar de manhã vendo ele assim.
Toushirou piscou de novo e seu braço debaixo de mim se mexeu outra vez. Me sentei afobada enquanto ele se apoiou no futon se sentando também ao esfregar os olhos com a outra mão
- Kurosaki... – abriu a boca bocejando – pelo visto acordou. Como se sente?
Se virou me encarando sonolento. Já disse que Toushirou estava tão kawaii nesse estado? Ah, não. Eu não consegui dizer antes.
- O que?
- Sua perna. Ainda doí?
- Ah.
Olhei para ela e um calor subiu pelo meu rosto. Uma perna da minha calça, a direita, estava aberta num rasgo que ia até minha coxa. Ela estava nua exceto pela meia. Encarei Toushirou e ele olhava direto para ela parecendo... Engoli em seco, interessado? Rápido juntei os panos e a dobrei debaixo da outra a cobrindo. Seu olhar ficou decepcionado, mas ao me encarar estava risonho. Meu rosto acalarou vermelho de vergonha.
- Parece bem melhor para mim.
Comecei a me irritar e apertei os olhos.
- Por que minha calça ficou desse jeito?
Se virando para mim ao levantar uma perna e apoiando um cotovelo no joelho, Toushirou achou mais graça.
- Rasgada?
- É.
Senti mais calor, como eu posso ficar vermelha desse jeito? Me encarando de lado, ele explicou.
- Foi Unohana quem fez isso. Ela precisava ver o estado da sua perna. – então seu rosto se assombreou um pouco, olhando para baixo – Estava pior do que pensei.
Um frio gelou minha barriga.
- Pior? Como parecia?
- Nem queira saber.
Engoli em seco, encarando meu colo. Então o hollow quase esmagou mesmo minha perna.
- Kurosaki.
- Hum?
Levantei a cabeça e pisquei confusa. Toushirou agora me olhava curioso.
- “Fuujin Zekku”. Que golpe é esse?
Pestanejei.
- Você lembra? Achei que nem tinha prestado atenção.
- Numa batalha sempre fico atento. É uma habilidade nova das suas zanpakutos?
Ri sem graça, olhando para o lado.
- Ah, não. Os nomes meio que me vieram na hora.
- Lâminas de Vento, Corte no ar. Faz sentido. Acho que You Ou lhe disse inconsciente.
O olhei de novo e estava pensando ao mirar o vazio.
- Nenhuma habilidade de zanpakutou é nomeada à toa. – Então sorriu de canto, se virando para mim – Por isso nosso combo final saiu daquele jeito.
Fiquei muda, olhando seu sorriso e estranhando, Toushirou ficou sério.
- Saber o nome do ataque o potencializa várias vezes mais. Principalmente quando o chama.
- Ah.
Olhei para meu colo. Não sentia mais vergonha, era outra coisa. Aquilo que fizemos, lutar presos um no outro foi incrível e surreal agora que pensei. Se mover em sincronia com alguém é o mesmo que dançar com um parceiro. Exige meses de treino, anos. Pensei mais além lembrando desde o início da batalha. Ao liberar seu Bankai para me proteger Toushirou deixou de me considerar um apoio. Sorri um pouco. Quantas vezes ele me jogou no ar e nos encontramos após exterminar quimera por quimera? Realmente, aquilo foi uma loucura.
- Kurosaki.
Saí do devaneio e engoli em seco. Toushirou estava inclinado para mim, perto o suficiente para sentir sua respiração no meu rosto. Meu fôlego faltou.
- O que?
Me observando de um jeito preguiçoso, seus olhos subiam e desciam por meu rosto, meus cabelos... Isso me deixava mole.
- No que estava pensando? Ficou quieta por um tempo.
Sorri um pouco, encolhendo os ombros e ele se atentou para meu gesto, gostando.
- Estava lembrando de quando lutamos juntos.
- Ah.
Encarei seus olhos, me sentindo leve e boba com seu olhar.
- Como sabia que daria certo?
- Daria certo o quê?
Sorri de novo, sentindo um calor diferente de vergonha subir por meu peito, pescoço até tomar meu rosto.
- Nos prender no kidou e continuar lutando. Foi uma sorte que...
- Não foi sorte.
Seu braço que se apoiava na perna se levantou e Toushirou aproximou sua mão até meu rosto. Afastando devagar umas mechas soltas, roçava de leve o dorso na minha bochecha. Eu fiquei parada simplesmente quieta sentindo seu toque enquanto, invés de olhar para mim, Toushirou olhava para o próprio gesto descendo os dedos no meu cabelo até que senti um leve puxão. Pisquei confusa e olhei para sua mão quando afastou e vi enrolada no seu punho minha fita.
Arregalei os olhos, as mechas soltas se espalhando no meu ombro com Toushirou me fitar risonho, divertido no meu choque.
- Eu sei como luta, sou seu Mestre e você me conhece também, Karin.
Me entalei de raiva. A arrogância carregada na voz nele (mesmo que dissesse meu nome)
- Por que fez isso?
Estiquei o braço e Toushirou levou o seu para trás longe do meu alcance.
- Seus cabelos ficam melhor soltos.
- Não, não fica. Me devolve!
Tentei pegar minha fita do outro lado e Toushirou se virou, barrando a brecha que vi. Gemi de raiva e ele riu de mim. RIU. Idiota! Fiquei de joelhos, o espantando um pouco e quando me inclinei para cima dele, quase alcançando sua mão, Toushirou sumiu. Caí de cara no futon e ouvi outro risinho. Dei um soco de raiva e me levantei. Ele estava no fundo do quarto, de olhos baixos e sorrindo de canto.
- Para, isso não tem graça nenhuma!
- Tem sim.
Então sua cabeça tombou e seu punho começou a girar. Olhei para ele. Toushirou balançava as pontas das fitas me provocando. Inflei de raiva e o encarei apertando os olhos. Ele riu de mim divertido.
- Desista, Karin. Não vai roubar de mim – ficou sério por um momento, alheio ao meu choque quando disse meu primeiro nome de novo – E vou ficar com essa outra também.
Pisquei confusa.
- O que?!
Me ignorando ele sumiu e senti um deslocamento de ar atrás de mim. Arregalei os olhos e me afastei de um pulo, mas a outra parte do meu cabelo se soltou no meu ombro. Me encarando de lado, Toushirou me observava divertido e satisfeito.
- Pronto. Bem melhor sem dúvida.
Eu estremecia de raiva e nervosismo.
- Por que 'tá fazendo isso? É a segunda vez...
Me calei e estreitando o olhar Toushirou se aproximou.
- É a segunda vez o quê?
- Nada.
Quase disse que ele me beijou. Ficando diante de mim, me encarou fundo nos olhos. Minha raiva sumiu e o nervosismo aumentou junto com a sensação de amolecimento. Por que Toushirou me encarava desse jeito penetrante, quente...?
- Responda, Karin.
- Por que 'tá dizendo meu nome?
Perguntei sem pensar e sorrindo um pouco vi seus olhos se escurecerem.
- Porque é o seu nome. Não gosta?
Um arrepio me perpassou. A voz dele ficou mais baixa, envolvente igual naquele dia.
- É estranho, Capitão.
Dando um passo recuei outro ainda hipnotizada por seu olhar. Parecia cheio de alguma coisa. O que era?
- Não é estranho e não me chame de Capitão. Quando estivermos sozinhos pode dizer “Toushirou”. – então me olhou risonho – Não é assim que me chama pelas minhas costas?
Arregalei os olhos.
- Como você sabe?
- Não importa. Então Karin, o que quis com é a segunda vez...?
Engoli em seco.
- É a segunda vez que rouba minhas fitas.
- Mais nada?
Ele arfou dando mais um passo e recuei outro encontrando às minhas costas a parede. Toushirou não me prendeu apoiando as mãos nos meus lados como achei. Ele continuou me fitando e entendi do que estava cheio o seu olhar. O verde brilhava de desejo. Ele esperou mais um pouco e como continuei muda, seu olhar abaixou até minha boca. Ofeguei também e vendo, quase riu.
- Não vai mesmo me dizer que te beijei embriagado, não é?
Me estremeci inteira.
- M... m... mas como? Você...
Voltando a me olhar nos olhos vi algo diferente neles. Era carinho. Fiquei mais mole.
- Eu lembro. Aliás é uma das poucas coisas que lembro daquela noite.
- Por que não me disse?
Estávamos praticamente sussurrando e tombando a cabeça, Toushirou suspirou.
- Por que você merece coisa melhor...
Se aproximando mais ele apoiou uma mão na parede. Sua respiração estava ofegante no meu rosto como a minha no seu.
- ... Do que ter seu primeiro beijo roubado por um bêbado.
Estremeci de novo e gemendo, se debruçou em mim. Fechei os olhos e abri os lábios levantando o rosto. Ao fechá-los, minha boca se encaixou na dele. Eu senti um choque me percorrer e continuei a beijá-lo. Era uma sensação gostosa. Os lábios mornos se mexendo calmos e sem pressa nos meus. Toushirou chegou mais perto, quase colando em mim e se debruçou mais, devagar, sem interromper nosso beijo tímido e um pouco inocente dado o que o outro foi. Levantei as mãos, tremendo e as coloquei no seu pescoço. Queria sentir o seu cabelo e escorregando hesitante os dedos os afundei em sua nuca e segurei as mechas, gemendo.
Isso teve um efeito.
De repente, Toushirou ofegou e seu braço livre se enroscou na minha cintura puxando ao me apertar contra seu peito. Sua língua deslizou para dentro da minha boca, abrindo mais e aprofundou o beijo. Estremeci com o toque úmido e o puxei pela nuca para mim o beijando de volta com abandono. Meus dedos no seu cabelo se apertaram e ofeguei forte, sem ar junto com ele. Mas não parávamos, não queríamos. Era tão bom, tão gostoso. Ele provava minha boca como fez da primeira vez, só que com mais ânsia e sede igual ao mim. Gemi de novo e dessa vez, Toushirou perdeu a cabeça.
Gemendo de um jeito, do fundo da garganta, seu braço me apertou e me suspendeu. Minhas costas bateram na parede e senti sua mão com as fitas deslizar na minha coxa nua pela calça rasgada, a agarrando e puxando para ele. O beijei mais sôfrega e abri as pernas o deixando se afundar entre elas. O calor que me tomava parecia que se alastrou por meu corpo todo e tonta com estava, para mim foi muito normal enroscar as pernas na sua cintura o apertando contra mim. Toushirou parou o beijo, soltando um risinho e sua boca escorregou lentamente pela minha bochecha, queixo até enfiar o rosto no meu pescoço onde fez uma coisa que me arrepiou inteira. Senti algo macio, quente e molhado passear devagar pela extensão do meu pescoço. Ofeguei surpresa e ouvi outro risinho seguido de um roçar de dentes, mordicando. Estremeci de novo e o calor aumentou. Escorregando a mão que se apoiava na parede pela minha cintura, ela chegou até o meu quadril e o apertou, junto com sua mão com as fitas enroladas, afundando no rasgo da calça até espalmar minha nadega, a apertando.
Arquejei surpresa e sua boca passou a minha beijar no pescoço, quase chupando. Estremeci de novo, agora eu não parava de tremer. Com esses toques ousados (eu não imaginaria que ele fosse assim) comecei a sentir uma coisa diferente. Um calor anormal entre minhas pernas, latejante e se concentrava num lugar que me inundou de vergonha, mas me deixou mais entregue desse jeito. Apertei os olhos, sentindo outra onda de estremecimento com a mão que me espalmava e tocava dentro da calça. Ela brincava com a renda da minha calcinha, com os dedos agarrando e soltando o tecido ao mesmo tempo que massageavam me arrepiando de prazer.
Caramba! Eu 'tava ficando excitada, muito excitada. Sentia meu sexo latejar mais, esquentar mais e umidecer. Gemi mais profundo e Toushirou me soltou um pouquinho. Escorreguei na parede e ele me segurou de novo. Ofeguei alto quando senti o que ele queria. Literalmente eu senti, apertado dentro da calça dele e prensando entre minhas pernas.
Toushirou escorregou a boca pelo meu pescoço, o deixando babado e encontrou outra coisa para brincar de morder e lamber além de beijar. Minha orelha. Quando beijou o lóbulo seu quadril se moveu e soltei um gemido lânguido estremecendo ainda mais. Gostando disso, ele fez de novo e novo, sem parar e devagar, roçando através das nossas calças nossos sexos completamente excitados.
Entreabri os olhos. Eu não acredito nisso. Eu realmente não acredito que isso 'tá acontecendo. Como pode um dia tão desastroso terminar desse jeito? De uma luta entre a vida e a morte para uns amassos quentes e ousados. Gemi de novo com mais um roçar pensando em como meu Capitão estava tão fogoso agora. Pouco me importava que era a primeira vez que um cara fazia isso comigo. Desde que seja ele tudo bem. Senti uma lambida na minha orelha e ofeguei pensando.
Será que vai doer? Rolei os olhos. Idiota, claro que vai doer, mas com essa sensação gostosa que me deixava tão molinha e mais úmida, a ideia que doeria quando Toushirou e eu transarmos (porque é isso que iria acontecer daqui pouco) parecia improvável. De repente, fiquei preocupada e olhei de relance para a porta.
- Toushirou... E se alguém...
Ele entendeu e enfiou os dedos na minha calcinha, tocando direto na minha nadega. Gemi com o toque, mas ainda encarava a porta preocupada.
- Eu tranquei. Relaxe.
Não era isso que eu ia dizer, mas não importava. Ele parou de se roçar em mim e se afastou um pouco ainda me segurando na parede. Suas mãos subiram para minha cintura e não entendi o que queria, até sentir minhas blusas serem puxadas para fora da calça. Me espantei um pouco, me sentindo com vergonha ao vê-lo (mesmo apoiando a testa na minha) olhar com cobiça para minha pele, meu sutiã. Aqui em Soul Society, como se vive praticamente na era do Edo não existem peças íntimas como calcinhas e sutiãs. O que eu usava era uma das peças feitas por encomenda que pedi para moça de uma loja de quimonos fazer para mim. Era mais como um top de renda, algodão e pedaços de cetim fechado com cordões nas costas. Pelo verde escurecido de desejo parecia que eu usava lingerie.
Levantando o olhar, Toushirou ofegou.
- Como se tira isso?
Sorri para ele correndo os dedos por seus cabelos.
- Vai ter que descobrir.
Ele estreitou os olhos com minha provocação e me beijou. Sôfrego e ávido como se quisesse me punir por isso. Ri na sua boca e suas mãos me apertaram de novo. Quando íamos nos roçar outra vez, uma batida na porta me gelou inteira, mas não Toushirou, ele não ouviu. Estava ocupado beijando meu pescoço de novo. As batidas voltaram mais rápidas e fortes junto com uma voz.
- Taichou! O senhor já acordou?
Toushirou congelou paralisado como eu.
Quem estava do outro lado da porta era sua tenente!