A paixão do capitão de gelo

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    Capítulos:

    Capítulo 11

    Laboratório do 12º Bantai

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    O Centro de Desenvolvimento Tecnológico foi fundado há cerca de 100 anos por seu último capitão e presidente, Urahara Kisuke. Apesar de ter ficado pouco tempo no cargo, seus experimentos revolucionaram Seireitei, contudo, devido à um grave ocorrido, Urahara saiu do cargo e Kurotsuchi Mayuri assumiu. O homem é no mínimo louco (já que estava preso), mas era tão brilhante quanto o primeiro presidente. O que Kurotsuchi tinha que Urahara não, era a falta de escrúpulos e isso incluía torturar espécimes de qualquer que forem seu interesse, para se obter conhecimento a seu respeito. Pode-se dizer que era um Eduards Wirths ou Josefh Mengele (médicos que faziam experimentos humanos no nazismo).

    Numa noite enquanto voltava de Hueco Mundo, o Taichou do 12º bantai seguia em frente pelo caminho azul celeste de partículas espiritais na “Garganta” enquanto sua tenente, Kurotsuchi Nemu puxava por uma trava um vagão de 6 rodas. Seu rosto estava impassível como sempre, enquanto encarava as costas do haori do seu capitão. Kurotsuchi estava se rindo satisfeito, de braços cruzados.

    - Finalmente... Finalmente consegui. Nemu!

    - Hai.

    - Cuidado com a carga. Esses espécimes foram muito difíceis de conseguir, quero analisa-los em todos os detalhes.

    - Sim, capitão.

    Kurotsuchi voltou a se rir e numa das poucas vezes, enquanto já podia ver o outro lado da passagem vazia e escura onde estavam, Nemu se perguntou se esse homem realmente sabia o que estava fazendo. Afinal de contas, coletar corpos de Espadas e fazer experimentos era no mínimo perigoso. Mas como sempre não disse nada. Seu “pai” a mataria se abrisse a boca.

    KARIN POV

    A aula continuava, mas ainda aquela frase sussurrada ecoava nos meus ouvidos.

    "O cara se enfureceu tanto que congelou o bar inteiro enquanto corria atrás de Sakai até pegá-lo."

    Soltei um suspiro. Só conhecia uma pessoa capaz de congelar um lugar, congelar qualquer coisa. Apoiei o queixo na mão, pensando. Por que Toushirou daria uma surra em Sakai? Ah, lembrei. A barbie me disse que o nobre me chamou de piranha. Apertei os dentes e o encarei lá embaixo, sentado de mal jeito na sua cadeira. Então era isso que esse cara achava e queria de mim? Apertei os olhos, suspirando de raiva. Cretino...

    Enquanto ainda o olhava, Sakai estendeu o braço para pegar o pincel e rápido se curvou, franzindo o rosto de dor ao segurar suas costelas. Levantei as sobrancelhas. Hum, parecia que elas estão doendo um bocado. Curvei os lábios, me divertindo ao vê-lo ofegar. Toushirou deve ter no mínimo lhe quebrado duas delas. Me peguei imaginando como foi a surra. Quando será que isso aconteceu? Voltei o olhar para o vazio, girando o pincel nos dedos da mão onde descansava meu queixo.

    Deve ter sido antes de ter aparecido na biblioteca.

    Agora faz sentido, ele estava um tanto ofegante e satisfeito... Além de bêbado, mas isso não vem ao caso. Abrindo um sorriso e encolhi os ombros, me sentindo de repente boba. Sakai me chamou de piranha e Toushirou me defendeu, dando uma lição no babaca. Pisquei pensando mais além. Toushirou era o cara mais interessante que conheci na vida ou... bem, na morte. Nunca achei que ele pudesse mexer comigo desse jeito. Enquanto me cercava ontem na biblioteca, mesmo fugindo dele (o que agora eu lamento pela burrice disso) experimentei algo novo. Pela primeira vez, me senti delicada e feminina como uma garota de verdade. Yuzu sempre me contava os elogios e galanteios que recebia. Quando um amigo seu foi lá em casa, aquele moleque de cabelo vermelho da loja que Ichi-nii sempre visita, eu espiava da janela, interessada e morrendo de vergonha por isso.

    Meu queixo caiu quando ao se virar para entrar em casa, Jinta agarrou seu pulso e a puxou. Yuzu tinha arregalado os olhos surpresa e o garoto se debruçou nela roubando um beijo seu. Entretida, observei quieta Yuzu fechar os olhos o beijando de volta. Lembro de ter suspirado fascinava e quando percebi, meus lábios estavam entreabertos, olhando com desejo o beijo.

    Eu queria que alguém me beijasse assim.

    Depois ao pararem, rápido me afastei da janela. Meu rosto pegava fogo e pensei em mim mesma ficando amuada. Tinha quase quatorze anos na época e ninguém, nenhum cara sequer disse que eu era bonita. Me recriminei pelo pensamento negativo. E daí se ninguém fez isso? Eu também nem fazia questão.

    Agora, lembrando da sensação de ser beijada pelo Toushirou, acho que estava esperando por ele. Que fosse ele que fizesse aquilo, me puxasse e me beijasse. Suspirei de novo, caramba, foi mais que isso. Toushirou roubou minhas fitas de cabelo, me atraindo para ele e quando dei por mim, seu braço me agarrava firme me apertando contra seu peito e colava a boca na minha, sedento. Estremeci, com a lembrança. Quando o ar faltou, ele... Ele disse...

    "Você é minha"

    Meu rosto pegou fogo.

    - Kurosaki.

    Alguém me cutucava. Olhei para o lado e Sagashi mexia os olhos, apontando. Me espantei e me virei para frente. O professor Igarashi me encarava irritado.

    - Hai?

    - Será que a senhorita pode agora me responder?

    Franzi as sobrancelhas confusa.

    - Eu...

    O Professor suspirou estreitando os olhos.

    - Nem ao menos escutou a pergunta. Eu questionei sobre uma técnica que aumenta a reiraku concentrando em braços, ombros e costas.

    Procurei me situar. À essa altura todos os alunos olhavam para mim. A maioria gostando da minha cara vermelha e perdida.

    - Responda, Kurosaki. Não é tão inteligente?

    Me virei para pessoa. Sakai me encarava divertido e sarcástico, dando o primeiro sorriso debochado desde que chegou. Então, levantou as sobrancelhas.

    - Ah, é mesmo. Hohou não é sua especialidade.

    Suspirei de raiva. Imbecil.

    - Kurosaki.

    O Igarashi sensei me chamou de novo e de repente me lembrei. Ichi nii tem uma amiga, uma garota morena esbelta de cabelos roxos. Eu sorri para o professor, que levantou a sobrancelha confuso.

    - Se chama Shunkou, sensei. Mas não é um Hohou, é uma combinação de Hakuda e Kidou.

    Todos os alunos que cochichavam exclamaram e se viraram para o Professor, que apertava os lábios e então estreitei os olhos devagar.

    - Foi a ex capitã do 2º Bantai, Shihōin Yoruichi que criou e a Capitã atual Soi Fong também usa, não é?

    O rosto do sujeito ficou arroxeado de raiva. Segurei o riso, me divertindo.

    - Correto como sempre, Kurosaki. Mas não fique devaneando nas minhas aulas. Aprecio atenção quando ensino.

    - Sem problemas.

    O homem suspirou de raiva de novo e escutei um risinho. Olhei impressionada para a pessoa, enquanto todos cochichavam de novo e me espantei ao ver que era a garota loura sentada de frente para Sakai. Ele estranhou como eu e fiquei mais surpresa quando olhando sobre o ombro, a barbie me deu um sorriso e gesticulou com os lábios. Muito bem. Levantei as sobrancelhas. Ela 'tava me elogiando?

    KARIN POF

    HITSUGAYA POV

    - A reunião está aberta. Kurotsuchi Taichou, se aproxime.

    A porta dupla de madeira lentamente se abriu com um rangido que doeu em meus ouvidos. Franzi a testa, tentando ignorar a dor latejante na minha cabeça e me manter impassível, mas estava difícil. Deus, eu nunca mais cometo a loucura de beber de novo. Minhas têmporas parecem que vão explodir.

    Impassível. Tenho que ficar assim até essa reunião fora de hora terminar. O comandante do Gotei havia convocado todos os capitães para reportar algo sério. Olhamos para o objeto da reunião, entrando na sala comprida e alta de paredes vermelhas. Ele observava com desdém para os capitães à esquerda com o kanji em par e depois para a direita, os que tinham em ímpar. Seu lugar ao meu lado estava vago e quando chegou até o meio do salão, parou de repente e estalou a língua. Franzi as sobrancelhas de novo. O barulho zunia aumentando minha dor de cabeça. Graças a Kami que parou de andar, os baques na madeira tiniam no meu cérebro.

    O Comandante Yamamoto se curvou na sua cadeira, sua mão se apoiando no cajado enquanto abria milimetricamente os olhos.

    - Kurotsuchi Taichou, faz ideia do porquê de estar aqui?

    O homem se esticou levantando a cabeça, a juba azulada sem balançar um fio. Por que raios esse cara usava o cabelo assim? Então o olhei atravessado, dando uma boa olhada no modo como se vestia. O rosto branco e preto parecendo uma caveira, ao redor do seu pescoço uma aba grande e roxa e sua zanpakutou pendurada entre as pernas por uma faixa branca. Mayuri é um sujeito doente de faculdades mentais defeituosas. Quem mais se cortaria inteiro para implantar mecanismos e injetar substâncias estranhas? O cara é maluco.

    - Eu estava muito ocupado no meu laboratório, Comandante. Não entendo o por que dessa reunião.

    Um capitão da direita deu um passo atraindo nossa atenção. Zaraki Kenpachi o olhou de cima, ignorando o olhar atravessado do outro.

    - Não se faça de idiota. Ontem a noite uma Garganta foi aberta perto do seu esquadrão.

    - E o que isso te interessa?

    Suspirei. De novo não, outra briga de velhos.

    - Foi aberta sem autorização, Kurotsuchi. Ainda por cima num horário bem avançado.

    Nos viramos para a esquerda agora. Kuchiki, que raramente participa dessas discursões, encarava frio o Taichou do 12º esquadrão, que fazia um esgar de incômodo. Apertando os olhos, continuou.

    - Suas visitas de exploração ao Hueco Mundo não tinham terminado?

    - Hum! Eu não preciso me explicar quanto às minhas pesquisas.

    - Muito estranho essas pesquisas serem feitas na calada da noite.

    Falei, atraindo sua atenção. Kurotsuchi girou no lugar e me encarou lívido de raiva. Seus olhos grandes e sorriso permanente de maníaco tremendo. Só o encarei de volta, sério.

    - O que está insinuando, Hitsugaya Taichou?

    - Você entendeu.

    Ele suspirou de raiva então o Comandante bateu o cajado no chão. O baque surdo na madeira ecoava latejando minha cabeça. Argh! Quase gemi de dor, odiando essa ressaca.

    - Vocês são deprimentes, bakamonomê!

    Então o Comandante abriu um olho totalmente depois que ficamos quietos.

    - No entanto, eles estão certos. O que está fazendo tanto em Hueco Mundo, Kurotsuchi Mayuri?

    Olhamos para ele. Curvando a cabeça para o lado, ele levantou um braço descartando com a mão.

    - Nada demais. Pesquisas de Campo são demoradas, Soutaichou. – então o encarou sério – O tempo que me deu para explorar as formas de vida daquele mundo foi insuficiente.

    - Pois eu acho que foi estendido até demais.

    Hirako deu um passo e encarou o olhar fulminante de Kurotsuchi. Suspirando de raiva, esse se aproximou estremendo de raiva.

    - Quem é você para questionar isso, Hirako taichou?

    O louro debochado apenas levantou a sobrancelha, em seguida estreitando os olhos risonho. Comecei a achar interessante, já que nem os outros e muito menos o Comandante interromperam.

    - Poderia ser mais claro?

    Kurotsuchi parou perto dele dando um sorriso maldoso. Imagine isso com o semblante cadavérico que ele tem.

    - Você não passa de um Vaizard. É uma existência tão hollow quanto esses dois.

    Se virou olhando para Rose e Kensei, que mantiveram a expressão vazia. Suspirei entediado.

    - E o que isso tem haver com suas pesquisas, Kurotsuchi?

    Ele se virou para mim, irritado. Não me importei, esse sujeito estava enrolando no assunto desde que chegou.

    - Não me questione, moleque!

    Franzi as sobrancelhas. Não pelo “moleque”, mas pelo seu grito. Essa enxaqueca já estava embrulhando meu estômago.

    - Então pare de fazer rodeios, Capitão.

    Ele se entalou. Achou que eu iria perder a compostura pelo o que me chamou? Já basta o que fiz ontem.

    - Hitsugaya Taichou tem razão. Diga de uma vez: O que faz tanto em Hueco Mundo, Kurotsuchi?

    O Comandante perguntou possesso, cansado como todos. Olhando em pânico ao redor, mas também irritado Kurotsuchi suspirou se virando para ele.

    - Estou coletando Adjuchas e Vastor Lordes derrotados para pesquisa, Soutaichou.

    Arregalei os olhos. Nani?!

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    - Você é louco?!

    Kensei deu um passo, os olhos arregalados. Seu rosto estava num assombro como todos nós, mas Kurotsuchi apenas o mirou com desdém.

    - A batalha contra Aizen cinco anos atrás não te mostrou nada, Mayuri?!

    Girando no lugar, o sujeito fechou os olhos descartando com a mão de novo. Maníaco!

    - Claro que sim, Mugurama Taichou – abriu os olhos o encarando sério – Mostrou que devemos ficar preparados. Aquela luta por pouco não virou um massacre, se bem que não participei dela.

    Sorriu e Kensei o olhou duvidoso, ofendido e espantado.

    - É um louco mesmo.

    - Humpf.

    Kurotsuchi deu os ombros e a volta olhando para cada um dos capitães, admirando nosso choque. Até o Comandante o olhava lívido de susto.

    - Os Taichous e fukutaichous quase morreram nessa batalha, admitam. E inclusive os Vaizards que participaram também.

    Se direcionou para os capitães do terceiro, quinto e nono esquadrão.

    - Aizen foi esperto usando o Hougyoku, criando aquelas formas de vida. Se não me engano apenas três dos seus dez Espadas eram Vastos Lordes e um deles foi derrotado pelo próprio criador.

    Se virou para mim, gostando do meu choque. Eu estava começando a me irritar com esse louco. Se aproximando de mim, sorriu debochado enquanto me tremia estreitando os olhos.

    - Era uma fêmea, não era Capitão? Lhe deu um bocado de trabalho e ainda por cima era a Espada mais fraca dos que foram para a réplica de Karakura.

    Suspirei de raiva. Minha cabeça latejando e senti minhas veias saltarem.

    - Como bem disse, não participou. Arancar Vastor Lordes são oponentes nada fáceis, seu demente.

    Kurotsuchi se entalou e tremeu os olhos me encarando com fúria. Ao meu lado, escutei um risinho abafado. Olhei de canto e Kyouraku nos observava menos chocado. Kurotsuchi se virou para ele, ensandecido. Então, Zaraki bufou, fazendo-o girar para trás.

    - Demente. Lhe cai bem, Mayuri.

    O olhou de cima, vendo seu choque ofendido e riu. Foi a deixa. Em seguida, todos os capitães ao lado de Kenpachi sorriram e riram dele. Kurotsuchi inflou de raiva, os olhos arregalados e ao meu lado Kyouraku cruzou os braços, tentando segurar o riso.

    - Kurotsuchi Taichou. Eu lutei com um Espada e te garanto, senão fosse pela ajuda dos caros Vaizards todos nós morreríamos naquele dia. Inclusive você.

    Mayuri girou no lugar e apertou os olhos descrente.

    - Eu? Estava preso em Hueco Mundo, seu devasso. Como morreria?

    - E para onde você acha que eles voltariam depois que forjassem a Chave Real e Aizen matasse o Rei Espirito?

    Soi Fong o olhou de canto, séria. Mayuri nem conseguia falar de tão irado e ofendido. Kuchiki suspirou de olhos fechados e se virou para o Comandante, que assistia tudo irritado. Ele deixou propositalmente que questionássemos Mayuri, observando sua reação e pelo seu semblante estava desgostoso por demais.

    - Soutaichou. Está claro que essas pesquisas são perigosas. Deve-se urgentemente fazer uma vistoria no laboratório do 12º esquadrão.

    Abriu os olhos e continuou frio como sempre.

    - As experiências desse demente estão além do questionável.

    Estreitei os olhos divertido e vários capitães tentaram engoliram o riso, mas foi inevitável. Soltaram a risada, fazendo Mayuri quase puxar a zanpakutou. Até Kuchiki o chamou de “demente”. O Comandante viu a mão do Taichou do 12º bantai perto do punho da espada e bateu o cajado de novo. Franzi a testa. Argh!!!

    - Não se atreva, Kurotsuchi!

    Todos calaram a boca e esse louco engoliu em seco estremecendo de ódio. Em seguida veio a ordem.

    - Aceita a sugestão de Kuchiki Taichou. Seu laboratório será interditado e será feito uma vistoria nos trabalhos que anda fazendo.

    O queixo do capitão caiu.

    - Nani?!

    Ignorando, o Comandante olhou ao redor para o resto dos Capitães, bem escolhendo quem ficará ao cargo dessa ordem. Fechei os olhos por um momento, sentindo a cabeça e nuca pulsarem. Minhas temporas se antes pareciam que explodiriam, agora inundaram essa parte do meu crânio de dor. Abri os olhos, encarando o piso de madeira, desejando ir de uma vez ao esquadrão e tomar algum remédio.

    - Hirako Taichou, Kenpachi Taichou, Kuchiki e Hitsugaya Taichou...

    Levantei o olhar um pouco surpreso.

    - Escalem uma pequena equipe para fazer essa vistoria. E Hirako Taichou.

    Olhei para o louro, que deu um passo.

    - Vá ao Mundo dos Vivos e chame Urahara Kisuke. Ele deve analisar o que for encontrado pela equipe.

    Hirako sorriu, divertido do horror que Kurotsuchi expressou com a ideia.

    - Sim, senhor.

    - Reunião encerrada. Dispensados.

    - Hai!

    Em seguida, um a um dos capitães foi andando para a saída. Olhei para Kenpachi andando até Kurotsuchi que parecia engasgado de choque, pregado no chão.

    - Respire, Kurotsuchi. Teve foi é sorte que o Velho não o tirou do posto.

    O encarando ensandecido e chocado, Mayuri o fulminava e Kenpachi vendo, sorriu da sua expressão seguindo seu caminho. Suspirei, ele tem razão. Foi muito leve na minha opinião, mas acho que ainda não foi tomada uma decisão mais drástica pela falta de provas. (apesar de termos motivos suficientes para temer o que esse sujeito fazia).

    Na passarela, Hirako se aproximou de mim junto de Kyouraku e Ukitake. Surpreendentemente, ele não disse nada. Eu já achava um milagre que compareceu a essa reunião devido ao seu estado debilitado de saúde.

    - Hitsugaya Taichou, você foi cruel ainda pouco.

    Não me virei. Meu crânio latejava demais.

    - Por que? Só disse uma verdade.

    Kyouraku suspirou pensativo (e risonho).

    - “Demente”. Desde que assumiu o posto de Capitão ninguém o chamou mais assim, não é Ukitake?

    O Taichou de cabelos brancos sorriu fazendo os outros dois sorrirem também.

    - Claro, mas todos pensavam.

    Bufei. O sujeito tinha me tirado do sério. Quase não dormi direito, ao acordar estava sentindo os piores efeitos da bebedeira de ontem e aquele louco me ofende me chamando praticamente de fracote?

    - Demente é pouco. Kurotsuchi é um sádico maluco.

    Sussurrei e ao escutarem os três riram. Estreitei os olhos, que enxaqueca. Meus olhos pareciam inchar de tanta dor.

    HITSUGAYA POF

    KARIN POV

    Na hora do intervalo, levantei da carteira pegando minha mochila. Com mais de dois meses desde que fui aceita na Brigada, ninguém mais reparava quando saía nesse horário. Então, desci as escadas da minha fileira e fui andando, seguindo para a porta, porem quando estava quase chegando uma pessoa me barrou. Tive um dejavu da cena e sem surpresa, levantei a cabeça. Sakai me olhava de um jeito entre convencido e irritado. Olhei para o seu queixo, roxo com o hematoma escurecendo e o lábio inchado. Ele reparou, pois sussurrou ao se curvar, franzindo o rosto de dor.

    - Admirando meu machucado, plebeia?

    Tentei ficar séria e olhei para ele. Estava claramente se irritando.

    - É... Não se deixa de notar. Isso aí foi um soco?

    Sakai estreitou os olhos, suspirando e engolindo o gemido. Com isso, não pude deixar de sorrir. Meus lábios se curvaram de leve.

    - Sim, foi um soco.

    - O que você fez pra merecer?

    Minha voz estava inocente demais e Sakai percebeu. Quase riu do meu jeito debochado e curvou um pouco a cabeça.

    - Acho que você sabe. Yuuki te contou, não foi?

    Franzi as sobrancelhas e Sakai esclareceu.

    - A barbie.

    - Ah. É, ela me contou.

    Então dei um passo, o espantando e estreitei os olhos sentindo me irritar também.

    - E sabe do que mais? Eu achei bem feito. Você me enganou com aquela história de precisar de nota e tentou me seduzir.

    Sakai arregalou os olhos, mais espantado. As pessoas passavam por nós tentando ouvir, mas me calei e então sussurrei de novo.

    - Eu não sou uma piranha, nobre cretino. E te garanto, se tentasse algo comigo eu te cortaria com minha zanpakutou.

    Sakai piscou surpreso e para minha confusão, riu de leve embora suas costelas protestarem de dor, o parando.

    - Você e ele são iguaizinhos.

    Seu sussurro diminuiu.

    - Fique tranquila, nunca mais vou te incomodar. Seu namorado fez questão de me deixar claro enquanto me esganava.

    Me endireitei surpresa e sorrindo, Sakai passou por mim, indo para sua cadeira. Ao ficar do meu lado, sussurrou mais uma coisa.

    - Ele é bem violento quando quer. Principalmente de ciúmes por você.

    Fiquei pregada no chão. Piscando atordoada e depois disparei porta fora. Atravessei o corredor saindo do prédio ofegante e detesto admitir, um pouco assustada. Foram duas vezes. Primeiro a barbie e depois esse nobre. Ambos disseram que Toushirou era meu namorado.

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    Atravessei as ruas de Seireitei aérea e confusa. Enquanto saltava os telhados, parando apenas para correr um pouco e sumir no shunpo outra vez, pensei em tudo desde a invasão de Sakai no esquadrão. Toushirou tinha quase decepado seu braço e no dia seguinte, quando falei sobre meu trabalho com o nobre, ele havia ficado com uma raiva que me arrepiou de medo. Eu achava (e uma parte de mim ainda quer achar) que era somente porque Sakai o chamou de pirralho. Toushirou tem complexo de altura e aparência. Eu sei porque sempre detestou quando o chamava de garoto, aluno do primário, mas... Sentir ciúme? De mim?

    Saltei de novo por um telhado e apareci em cima de um terraço a uma quadra do esquadrão. Corri até chegar na beirada e saltar de novo. Já controlava bem minha reiraku para diminuir a velocidade da queda ao aterrissar de frente ao portão duplo de madeira. Os guardas me cumprimentaram com um sorriso e cruzei os portões andando até o alojamento, perdida em pensamentos.

    Toushirou com ciúmes de mim. Ciúmes de mim... Um calor no meu peito cresceu enquanto me repetia isso e repassei todas as cenas, ao entrar no alojamento e procurar um quarto. Logo achei um e comecei me trocar. Realmente, a raiva dele começou quando Sakai veio até aqui. Sorri boba. E ainda por cima ele me beijou. Me chamou até pelo nome, coisa que é muito rara. Depois de pronta, invés de seguir até a biblioteca fui ao escritório do capitão.

    Vou conversar com ele.

    Segui o caminho de cimento, me sentindo tão estranha. Insegura e alegre. Ao dobrar uma esquina, o prédio de varanda com pilares verdes apareceu na minha frente. Ofeguei um pouco ao cruzar o gramado, subir os degraus e ao entrar no hall, seguindo para o corredor minhas mãos tremiam. Encarei as palmas e as apertei sacudindo, parem de tremer. Antes de chegar a porta, senti a reiatsu dele e novamente um calor subiu no rosto disparando meu pulso. Engoli em seco e rápido encarei meu reflexo numa placa de metal presa na parede. Apesar da imagem distorcida, consegui ajeitar meus cabelos, puxando as partes para os ombros e afofei minha franja. Olhei para meus olhos e eles brilhavam, junto com o rosado no meu rosto e me voltei para a porta.

    Ao segurar a trava, engoli em seco, nervosa apesar de não querer. Ah, quem eu quero enganar. Estou tão alterada desse jeito porque... No final das contas, aquela Hinamori estava certa. Eu gosto mesmo do Toushirou e pelo o que aconteceu ontem (sorri boba) ele também gosta de mim. Escondi o sorriso, para o caso de Rangiku estar com ele e deslizei a porta.

    - Oi, Taic...

    Minha voz morreu surpresa.

    Rangiku se virou para mim, segurando um riso e um Capitão louro, junto com aquele que me chamou de mocinha, depois que ganhei o duelo estavam aqui também. Os dois sorriam divertidos e me encaravam surpresos quando entrei no gabinete.

    - Oh, é a irmã de Ichigo. Como vai?

    Hirako taichou se aproximou de mim estreitando os olhos, me deixando desconfiada e sem graça. Esse homem parece que tem o dom de ver as coisas que a gente quer esconder.

    - Desculpa, eu não sabia que estavam tendo uma reunião.

    O Taichou de chapéu de palha e capa florida sorriu bondoso.

    - Ah, não mocinha. Não é uma reunião de fato.

    Olhei para a mesa do capitão e arregalei os olhos. Rangiku ao ver isso soltou um riso. Eu não tiro sua razão. Toushirou estava inclinado na cadeira, o encosto apoiado na parede e gemia de dor com o cachecol dobrado e cobrindo seus olhos. Suspirando, ele falou.

    - Calada, Matsumoto.

    Rangiku respirou fundo e tentou engolir o riso. Tentei não rir também e me aproximei da sua mesa. Toushirou percebeu isso e colocou os quatro pés da cadeira no chão, tirando o cachecol dos olhos. Prendi a riso. Eles estavam injetados e cansados encarando com raiva o capitão louro.

    - Essa porcaria de comprimido que me deu Hirako, não está funcionando.

    Apertei os lábios. Ele estava muito hilário nessa ressaca! Hirako taichou deu os ombros, sorrindo travesso. O que irritou profundamente meu capitão.

    - Não posso fazer nada. Culpe a si mesmo pelo exagero.

    - Foi muito saquê para alguém que nunca bebeu na vida, Hitsugaya taichou.

    O outro capitão falou e Rangiku escutando do outro lado do gabinete se engasgou de riso.

    - Eu sei. Não precisam me lembrar disso

    Toushirou fechou os olhos com força e apoiou os cotovelos na mesa, as mãos agarrando os cabelos e abaixando a cabeça. Fiquei com pena, mas achei engraçado também. Soltei um risinho e logo tampei com a mão, a um olhar atravessado do meu capitão. A primeira vez que olhava para mim desde que entrei e estava muito irritado.

    - O que faz aqui Kurosaki?

    Seu tom foi normal, ameno, acabando com meu divertimento. Kurosaki... Dei uma olhada ao redor e flagrei os dois capitães me observando curiosos. Principalmente, o Taichou da Hinamori, ele parecia se divertir. Meu rosto esquentou ao me lembrar do porquê  vim, então rápido pensei em outro motivo. Dei um pigarro, minha garganta estava seca de nervosismo.

    - Ah... Eu vim agradecer o senhor.

    Toushirou estreitou os olhos confuso, ainda agarrando os cabelos.

    - Pelo o que?

    Olhei para baixo, sentindo a vergonha aumentar. Isso também era constrangedor, mas já que comecei...

    - Por ter me defendido ontem. – o fitei para tomar coragem – Soube que Sakai falou algo ruim ao meu respeito e o senhor... E o senhor... Enfim, o senhor me defendeu, capitão.

    Toushirou levantou as sobrancelhas.

    - Ah.

    “Ah”. Que decepcionante. Meus ombros cederam e mal percebi que minha expressão ansiosa desmoronou.

    - Bem, acho que depois conversamos, Hitsugaya-kun. Enquanto isso, falarei com Kenpachi e Kuchiki.

    De cabeça baixa, ele concordou acenando e os dois capitães saíram. Continuei parada no lugar, o encarando sentindo uma súbita irritação. Por que me respondeu daquele jeito tão vago? Então me toquei que Rangiku ainda estava aqui. Olhei para trás e pisquei surpresa. Dei meia volta e observei o gabinete por inteiro. Ela também tinha saído.

    - Kurosaki.

    Meu fôlego faltou, só com sua voz me chamando.

    - Hai?

    Girei no lugar e ainda estava de cabeça baixa. Os dedos agarrando os cabelos. Puxa, a ressaca deve estar pesada. Suspirando, Toushirou continuou.

    - Sabe que não defendi você exatamente, não é?

    Pisquei confusa.

    - Como assim?

    Levantando a cabeça, ele largou as mechas brancas e se recostou de novo na cadeira. Mas invés de sentar, empurrou com o corpo e se levantou. Ao dar a volta pela mesa, engoli em seco. Lembrei de ontem, do que aconteceu na biblioteca.

    - Quem lhe disse isso?

    Quis saber curioso ao ficar parado diante de mim. Era a segunda vez que o via sem o cachecol e com os cabelos bagunçados, o ar relaxado (mesmo de dor de cabeça) o deixava atraente. Engoli em seco.

    - Foi uma colega.

    Toushirou estreitou os olhos, quase rindo.

    - Ah. Sei quem é. Enfim, Kurosaki. Eu surrei o seu colega.

    Me encarou debochado. Parecia igual quando estava bêbado e segurei o impulso de recuar um passo. Como continuei muda, me olhou no fundo dos olhos.

    - E sabe por que fiz isso?

    Neguei a cabeça. Não conseguia falar, perdida no verde que me observava divertido. Levantando as sobrancelhas, continuou calmamente.

    - Aquele moleque disse com todas as letras que havia se deitado comigo, por isso a escalei no meu esquadrão e ainda... Te chamou de piranha.

    Seus olhos se apertaram de irritação. Ai, caramba. Ele estava lembrando e então piscou, de repente sereno.

    - Não parece chocada.

    Pisquei, caindo em mim e me afastei para perto do sofá. Toushirou observou esse gesto meu sem dizer nada.

    - Agora não. Quando a barbie me contou insinuou alguma coisa e...

    - Adivinhou o resto?

    Ele quase riu fechando os olhos. Balançando a cabeça se encostou no sofá cruzando os braços pensativo.

    - É bem esperta.

    - Não foi preciso adivinhar se tratando daquele babaca.

    Toushirou quase riu, ainda olhando para baixo e não disse mais nada.

    O observei quieto ao meu lado. Ele estava bem calmo, normal, mas tinha algo diferente. Me encostei no sofá também, cruzando as mãos no colo ainda o olhando. Puxa, observando para seu jeito, de olhos baixos pensando longe, suspirei sem querer. Toushirou tinha um ar tão atraente... Meu pulso acelerou de novo, junto com um calor já familiar para mim. Agora é uma boa hora para falar sobre o beijo. Eu queria muito saber porque fez isso. Porque me beijou.

    Umedeci os lábios, olhando para baixo como ele.

    - Né, Capi...

    - Perdão.

    Pisquei confusa.

    - O que?

    Ele não podia 'tá se desculpando por me beijar, não é? Por favor, não seja isso. Por favor.

    - Eu... – seus olhos se estreitaram – lamento muito mesmo por ter te machucado ontem.

    Fiquei mais confusa.

    - Machucado...

    - Seu pulso.

    - Ah.

    Olhei para ele, tinha me esquecido disso. Voltei a encará-lo sorrindo.

    - Não precisa, eu nem mais me lembrava.

    - Mesmo assim, perdão.

    Ele parecia muito arrependido.

    - Tudo bem.

    - Que bom.

    Virou o rosto para mim, curvando os lábios e meu fôlego faltou. De repente, se endireitou pestanejando.

    - Quase me esqueci. O que acha de uma missão?

    - Missão?

    Eu achei que iríamos falar de outra coisa. Fechando os olhos e esfregando os dedos numa tempora, Toushirou continuou.

    - Teve uma reunião hoje cedo. Parece que Kurotsuchi taichou andou fazendo umas experiências ilegais.

    Abriu os olhos, parecia bem cansado. Por que não tocava no assunto de quando ficamos sozinhos na biblioteca ontem? Essa esquiva estava me magoando.

    - Por sugestão de Kuchiki, capitão do 6º Bantai, o Comandante o escalou junto de Kenpachi, Hirako e eu. Vamos formar uma equipe para vistoriar o laboratório desse demen... Digo, do Capitão Kurotsuchi.

    - E está me falando isso porque...?

    Toushirou deu os ombros enquanto se virou indo até sua mesa. Ao pegar seu cachecol, continuou.

    - Achei que seria uma boa oportunidade para você. O que me diz? É apenas uma missão de reconhecimento e é aqui em Seireitei.

    Se virou enrolando o cachecol no pescoço. Tentei disfarçar minha mágoa e sorri desencostando do sofá.

    - 'Tá. Acho que seria bom.

    Toushirou anuiu, sério.

    - Ótimo. Vou falar com Hirako que já escolhi alguém.

    - Claro, capitão.

    Fui andando até a porta, mas antes de puxar o ouvi.

    - Kurosaki.

    - Hai.

    Me virei ansiosa, ele vai tocar no assunto!

    - Está dispensada do castigo, pode ficar com Matsumoto. Hoje infelizmente não vou conseguir te treinar.

    Fechei a cara irritada.

    - Arigatou, Taichou.

    Me virei para a porta abrindo-a e fechando com força. Pouco me importava que se espantou e que também seria um desrespeito. Já estava no caminho de cimento, tamanha a raiva que sentia quando saí do seu escritório, que levei uns segundos para me tocar. Parei no lugar chocada.

    Toushirou se desculpou por me machucar. Acabou de fazer isso. Mas ele tinha feito isso ontem. Encarei o concreto, o vento sacudindo meus cabelos e quimono quando percebi.

    Como eu sou idiota. Ele não estava evitando o assunto. Suspirei amuada. Toushirou não tocou no beijo roubado... Porque não lembrava que fez isso.

    KARIN POF

    HITSUGAYA POV

    Ela bateu a porta na minha cara.

    Quase ri surpreso e depois suspirei. Bem, eu merecia. Sentei em minha mesa. Não havia ninguém para estranhar essa atitude e piscando pensativo, afundei a mão no bolso da calça. Trazendo o punho, olhei para as fitas brancas enroladas.

    - Karin...

    Dizer o nome dela em voz alta me causava um espasmo de prazer. Quase ri de novo. Eu a chamei de “minha” quando o beijo tirou todo nosso ar. Não lembro muito do que houve ontem. Só que o moleque apareceu no bar onde eu estava e me tirou do sério chamando Karin de “piranha”. Depois eu estava na biblioteca e tinha fragmentos do que aconteceu. Seu rosto corado, seus cabelos soltos e o beijo que quase me enlouqueceu.

    Suspirei de novo. Só não contei nada, nem insinuei porque simplesmente estava bêbado. Eu percebi que queria muito falar sobre isso, mas esperava que eu entrasse no assunto. Levantei a cabeça, esfregando as fitas nos dedos. Ela não era de namorar e... (Maldito saquê e esses lapsos de memória) ... Karin parecia muito nervosa, trêmula nos meus braços. Por que?

    Pensei mais um pouco e tive um estalo. Sorri abaixando a cabeça de novo. Claro... Foi a primeira vez que foi beijada. Encarei o vazio ao lembrar da melhor parte da noite de ontem e meu sorriso aumentou. O sentimento de posse que senti quando a beijei aumentou agora e estreitei os olhos.

    - Ela é minha.

    Que coisa errada de se dizer, mas mesmo assim gostei. Levantei o punho com as fitas enroladas. Ao fechar os olhos senti seu cheiro gostoso de Chocolate e os abri de novo, guardando no bolso da calça. Eu tratava essas fitas com um espolio e me decidi. Da próxima que beijá-la, vou roubar suas fitas de novo.

    HITSUGAYA POF

    KARIN POV

    O Centro de Desenvolvimento Tecnológico era um complexo prédios altos e telhas de barro como o resto da cidade, porém também tinha umas espécies de usinas, galpões e sem sombra de dúvida tomava o espaço de cinco quarteirões. Me encontrava em frente aos portões duplos vermelhos, esperando o resto da equipe. Toushirou me avisou outro dia que a vistoria seria feita à noite. A fim de não atrapalhar os shinigamis e cientistas do esquadrão. Mas eu acho que o Taichou do 12ª bantai ficou no mínimo possesso.

    Eu escutei uma conversa atrás da porta (ok, foi sem querer) e os Capitães escalados pelo Comandante conversavam a respeito da reunião de ontem. Tentei esconder minha reiatsu, era a primeira vez que fazia isso e quase consegui senão fosse a voz do Toushirou reclamando.

    - Já chega, Hirako. Quem vai escolher do seu esquadrão?

    - Minha tenente. O que acha, Hitsugaya-kun?

    A voz desse homem tinha um tom debochado que me irritei e liberei minha reiatsu sem querer. A conversa tinha parado e percebi que encaravam a porta. Droga! Sumi com o shunpo para longe até aparecer fora do escritório do Capitão. Também foi a primeira vez que conseguir saltar tão longe.

    Enfim, fiquei esperando até que um dos meus colegas apareceu. Olhei para baixo, encarando o cabelo vermelho vivo. Sorri.

    - Renji.

    Ele levantou a cabeça ao subir os degraus da escadaria. Seu olhar ao dirigir pra mim foi divertido.

    - Achei que seria Matsumoto.

    Levantei a sobrancelha e pus as mãos no quadril um pouco debochada. De brincadeira, claro.

    - Pois é, meu capitão disse que seria bom eu ter uma missão.

    Os olhos de Renji estreitaram risonhos e estranhei essa atitude.

    - O que foi?

    - Nada.

    Mas continuava me olhando com esse ar risonho. Como se soubesse de alguma coisa. Iria insistir quando sentimos mais duas reiatsus. Um segundo depois, dois caras apareceram no pátio da entrada e foram seguindo até a escadaria. Olhei bem para eles e pestanejei. Conheço esses dois. Eram o careca sem as mangas do quimono e o cara das penas.

    - Eu não acredito nisso, Ikkaku. Por que nós?

    - Como vou saber?

    Eles terminaram de subir as escadas e viram Renji. Só o Renji. Fiquei incomodada. Poxa, eu estava nem meio metro deles.

    - Yo, Renji. Também te arrastaram, não foi?

    O ruivo cruzou os braços e estalou a língua, irritado.

    - O que você acha? Kuchiki Taichou simplesmente entrou no meu gabinete e disse que eu devia vir até aqui.

    O careca bufou. Ele carregava sua zanpakutou apoiada no ombro.

    - Pelo ao menos estava trabalhando. Eu tirava um cochilo!

    - Não reclame, Ikkaku.

    O cara bonito falou sorriu fazendo o careca se irritar.

    - Cale a boca, Yumichika.

    Apertei os dentes. Esses caras realmente não me viram? Pigarrei alto e até que fim me notaram. Eles arregalaram os olhos.

    - Oi, rapazes.

    O careca levantou a sobrancelha, duvidoso e me irritando ainda mais.

    - Você? O que faz aqui?

    Meu olho tremeu.

    - Fui convocada também. E sim, é a primeira missão que faço, idiota. Vai me perguntar mais uma coisa?

    O tal Yumichika levantou as sobrancelhas impressionado, enquanto Renji segurava um sorriso. Olhei para eles estreitando o olhar. Idiotas.

    - Sua língua é ferina que nem do seu irmão.

    Me virei para o careca e me espantei. Ele sorria divertido. Que esquisito, acabei de chama-lo de idiota. Ele deu um passo.

    - Sou Madarame Ikkaku, 3º oficial do 11º bantai – apontou com o queixo sobre ombro, na direção do amigo – E esse é Ayasegawa Yumichika.

    O cara das penas se aproximou.

    - Yo, sou o 5º oficial do esquadrão. – então seus olhos se estreitaram – É a irmã de Ichigo, não é?

    Tirei as mãos dos quadris. Até que não são tão babacas.

    - Sou. Kurosaki Karin.

    Quando falei meu primeiro nome, Renji fez um som. Como se estivesse engolindo o riso e voltei a encarar o tal Ikkaku. Ele me olhava risonho. Ah, peraí! O que tá acontecendo?

    Ouvi um deslocamento de ar e uma reiatsu do nível desses três apareceu.

    - Que bom, todos já estão aqui. Vamos?

    Espiei de canto, para a tenente baixinha de fitas e ela se espantou ao me ver. Seus olhos se arregalaram de choque enquanto Renji e Ikkaku empurravam a porta dupla, abrindo. Curvei os lábios sentindo uma súbita irritação.

    - Hinamori Fukutaichou, como vai?

    Ela se aproximou também se irritando e mantendo o controle no máximo. Ficando ao meu lado, me encarou friamente.

    - O que faz aqui?

    - Vim fazer a vistoria como você.

    Seus olhos se estreitaram, desconfiada.

    - Não acha que é muita petulância, Karin-chan? Essa missão é muito importante para uma recruta participar.

    Suspirei entediada. Não vou brigar. Não vou brigar.

    - O que quer dizer?

    Fomos andando lado a lado, entrando no corredor comprido que se iluminou com nossa entrada. As altas paredes brancas, o piso longiquo verde menta. Se aproximando de mim, sussurrou para os outros não nos escutarem.

    - Escutar uma reunião de capitães atrás de porta é muita falta de educação. E pedir para participar depois de saber, é pior ainda

    A encarei de lado, me irritando, mas também estreitei os olhos risonha. Isso a confundiu.

    - Tem razão, é mal educado escutar conversa alheia. Mas Toushirou já tinha me escalado.

    Olhei para cima pensativa, adorando seu choque.

    - Acho que eu fui a primeira escolhida da equipe.

    A nossa frente, Ikkaku parou se virando.

    - Hei! Andem mais rápido. Quero acabar com isso ainda hoje.

    Sorri divertida para ela e corri até os três. O espanto no rosto dessa pirralha foi impagável.

    ////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////

    Depois que cruzamos o longo corredor (tive a impressão que andamos quilômetros), Renji notou uma porta estranha. Se aproximou dela franzindo a testa, atraindo nossa atenção.

    - O que foi Abarai-kun?

    Hinamori perguntou ao seu lado. A voz doce dela gritava nos meus ouvidos, mas repeti meu mantra. Não vou brigar. Não vou brigar. Curvando a cabeça ele espalmou a mão direita na porta.

    - Essa sala... Não acham estranho? Ao longo do corredor principal vimos várias salas de pesquisas. Mas essa sequer tem identificação.

    Ikkaku deu um passo, olhando para cima.

    - Tem razão e parece que tem um tipo de bloqueio.

    - Bloqueio?

    Hinamori franziu a testa e nos afastamos da porta de aço. Ikkaku analisou bem, dando atenção para os veios gravados nela. Então deu um passo.

    - O que é isso?

    Estiquei o pescoço e vi. Era uma espiral no centro da porta. Seu design diferente das outras gravações. Ele tirou a zanpakutou do ombro e cutucou com a ponta da bainha. Nada.

    - Tsk. Deve ser...

    Ouvi um estalo e olhei pro chão sem acreditar. O chão se mexeu de novo e antes que pulássemos uma placa invisível se recolheu num segundo, nos engolindo. Depois que caímos a placa se moveu de novo e ficou um breu. Eu não parava de gritar.

    - QUE DROGA É ESSA?!!!

    Alguém gritou ao meu lado e a esquerda alguém respondeu.

    - COMO VOU SABER?!

    Nosso grito era apavorado. O vento açoitava meus cabelos, minhas roupas e agarrei com força a correia da minha bainha, que balançava nas minhas costas. No meio daquele caos consegui ouvir.

    - HADOU Nº 31, SHAKKAHOU !!!

    Uma luz avermelhada iluminou e pude olhar para os lados. Ikkaku e Yumichika estavam gritando e Renji estava abaixo de mim. Olhei para cima e Hinamori esticava o braço a frente, sustentando a bola de reiraku. Pelo seu rosto estava tão apavorada como eu.

    - MINNA, O FUNDO!!!

    Todos o encaramos e o sangue fugiu do meu rosto. Um hollow gigante, de máscara cheia de chifres arreganhava a boca. Seus dois pares de dentes prontos para nos engolir. De que tamanho era essa coisa? Faltava metros até nos alcançar. De repente vi uma coisa pela visão periférica. Arregalei os olhos, era uma passagem. Larguei a correia e joguei as pernas trás ficando deitada. Puxando o braço, empurrei rápido com a palma esticada.

    - BAKUDOU Nº 37, TSURIBOSHI !!

    Uma luz disparou e brilhou, crescendo e expandindo. Numa explosão, ligas de reiraku azul se prenderam nas paredes, sustentando a massa que bloqueou nossa queda.

    - PULEM!

    Renji foi primeiro depois Ikkaku, Yumichika e eu. O kidou afundou como uma borracha esticando e o hollow estendeu o braço para nos pegar. Antes que roçasse os dedos no bakudou fomos jogados para cima e no caminho, Renji agarrou o pulso de Hinamori puxando. Olhei para esquerda, desesperada e vi acima a passagem que vi.

    - Ikkaku!

    Ele viu também então se curvou torto pra mim, oferecendo sua perna. Eu era a mais leve (levando em conta que Hinamori era segurada por Renji).

    - Vai!

    Pisei na sua coxa e tomei um impulso, voando para a parede a direita onde girei batendo um pé e tomei um impulso de novo me virando para a esquerda. Me atirei para passagem e estiquei os braços. Bati na borda a agarrando, meu quadril latejou com o choque e me içei ofegante. Seguidos de mim veio Renji (com Hinamori presa na sua cintura, o braço enrolado nela), Yumichika e Ikkaku. Eles caíram agachados e ofegantes. Se levantando do piso liso, Renji desceu a garota e nos aproximamos da borda. Meu kidou estava sendo esticado e arrancado das paredes quando o hollow saltou a agarrando.

    - Um fosso. Aquele demente colocou um fosso com um hollow bem na entrada da sala.

    Ikkaku fez um esgar se irritando. Eu estava nervosa e detesto admitir, apavorada. Respirei fundo de novo saindo da beirada.

    - Ainda bem que ninguém se machucou.

    Os três homens se viraram para mim, me confundindo. Então percebi que Renji e Ikkaku estavam sorrindo.

    - Pensamento rápido, pirralha.

    Fechei a cara para o careca. Que elogio ofensivo.

    - Não tem de quê.

    - Então vamos? Parece que esse túnel da passagem para a sala que entramos.

    Olhei para Hinamori que sorria de um jeito doce. Falsa. Yumichika deu os ombros e foi seguindo na frente junto do amigo, enquanto essa tenente foi atrás deixando Renji e eu por último. Ofeguei de novo, irritada com essa garota e segui também. Enquanto andávamos, luzes foram acessas no teto, uma seguida da outra até uma porta no final do corredor.

    - Deve ser a sala.

    Comecei a correr até lá. De passagem ouvi um suspiro enfadado e fingi que não escutei. Os dois caras do 11º esquadrão me acompaharam na corrida, o que fez os outros correrem também. Ao chegarmos, paramos derrapando. Pisquei impressionada, a porta era igual ao que havia no corredor principal.

    - Sai da frente.

    Renji se aproximou e sacou a zanpakutou. Recuei arregalando os olhos pra ele.

    - Hei! O que você...

    Me ignorou. Esticou o braço, atravessando a espada na sua frente e sua outra mão tocou a lâmina perto do punho.

    - Hoero ... – Levantei as sobrancelhas – ZABIMARU!!!

    Deslizou os dedos de uma vez e a zanpakutou tremulou se transformando. Uma espada gigante, com dentes e lâminas tomou forma. Renji sorriu torto e apoiou a espada no ombro.

    Hinamori abriu a boca, chocada.

    - Abarai-kun, não está pensando em arrebentar a porta, está?

    A olhando sobre o ombro ele a apenas encarou entediado.

    - Claro que sim. – se virando para porta, inclinou a cabeça – Depois dessa, quero terminar esse trabalho e dar um fora daqui.

    Todos nos concordamos e saímos de perto. A cara da Hinamori foi hilária. Ela tremia o olho enquanto, com Ikkaku e seu amigo assistindo e sorrindo, Renji levantou a zanpakutou e deu um golpe. O estrondo doeu nos seus ouvidos e estalando a língua Renji golpeou de novo. Cruzando.

    A porta não aguentou e caiu num baque para trás. Entramos na sala pisando na placa grossa de aço olhando em volta. Renji apoiou de novo sua Shikai no ombro e seguimos pelo o que me parecia um laboratório enorme. Olhei por todos os lados, para os mostruários enormes e pequenos, de todos os tamanhos com espécimes flutuando no líquido azulado. A visão embrulhou meu estômago e lembrei dos seriados de sci-fi que assistia.

    Santo Deus, era mais nojento do que eu pensava.

    De repente, Ikkaku parou nos fazendo parar também e olhamos para o que via. Meus olhos se arregalaram e rápido cobri a boca.

    - Argh!!! Isso é tão...

    Renji estremecia de nojo. O olhei e estava pálido. Yumichika fez um som como se quisesse vomitar.

    - Não fale.

    Ikkaku ofegava de repulsa, seus olhos deslizando na coisa e se curvou suando pálido.

    - Mas é tão...

    - Eu disse pra não falar, Ikkaku!

    O cara das penas se virou irritado para ele, mas quase que imediatamente se dobrou com uma mão no estômago e outra na boca. De olhos arregalados, Yumichika saiu correndo até o outro lado de um mostruário. Segundos depois ouvimos o som repulsivo do seu vômito alto pelo laboratório silencioso. Engoli a ânsia. Ignorando o barulho olhei mais uma vez para a “coisa” no vidro gigante.

    - Eu queria não ter lanchado.

    - Não seja fraca, Karin-san. Viemos aqui para explorar o laboratório. Não é hora para sentir repulsa.

    Me virei pra essa garota, mas estava suando pálida que nem nós. Seu rosto se acinzentava estremecendo e a olhei convencida.

    - Então você não acha essa quimera nem um pouco nojenta?

    Hinamori encarou mais o vidro e pôs a mão na boca. Ikkaku e Renji se arrepiaram de mais nojo, dizendo juntos.

    - Argh!!!

    Do outro lado, os barulhos de vômito cessaram um pouquinho.

    - Eu disse para não falar que era nojento!!

    Mal havia terminado de falar e ouvimos de novo Yumichika vomitar. Não o culpo, diante de nós uma criatura flutuava num líquido viscoso esverdeado. Parecia uma minhoca musculosa com várias pernas. Nas duas pontas, suas cabeças se inclinavam para nós, os cabelos como algas em volta delas. Olhei para seus rostos e meu estômago se embrulhou outra vez. Estavam em carne viva. As duas bocas (ou já que é duas cabeças, quatro bocas) abertas, como se estivesse engolindo a gosma nojenta que estava mergulhado.

    - Karin?

    Renji me chamou. Sua voz fraca de repulsa.

    - Você chamou de quimera. – ofegou – por que?

    Me virei para ele enxugando o suor frio na testa com a mão. Yumichika vomitando não ajudava em nada.

    - Fiz ciências biológicas. Nessa matéria, o professor explicou uma vez a manipulação artificial de duas ou mais espécies diferentes criando outra.

    Olhei para o vidro de 8 metros segurando o nojo.

    - É claro que essa coisa foi criada e morreu. – ofeguei, de olhos baixos – Por que o Taichou do 12º bantai guarda isso?

    - Talvez porque ele é maluco.

    Nos viramos e Yumichika caminhava até nós . Seu rosto suado e melhor. Hinamori engoliu algo engasgada e abaixou a mão suspirando fundo.

    - Bem, já temos as provas das experiências de Kurotsuchi Taichou. Vamos...

    Um barulho ecoou a calando. Nos viramos para trás e depois o barulho ecoou de novo, à nossa esquerda. Ikkaku franziu o rosto.

    - O que é isso?

    Comecei a ficar nervosa, me sentindo em mais um dos episódios dos seriados. Ficou um silêncio, então ouvimos o tinir de uma coisa caindo estrondosa. A nossa frente, uma lata de lixo em alumínio voou até bater no pedestal de um mostruário. Seguida de uma labareda atravessou a porta que arrombamos. Arregalei os olhos e segurei o punho da minha zanpakutou. Um chiado quebrado ecoou no laboratório, seguido de passadas ritmadas, rápidas.

    Num pulo, a criatura pousou no corredor de frente para nós e um calafrio subiu pela minha espinha, me sacudindo inteira. Todos nós sacamos nossas espadas, quase tirando-as da bainha e Renji arquejou. Recuamos um passo, quando hollow se abaixou nas patas dianteiras, pronto para o bote.

    - Mas que... Droga!


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