A paixão do capitão de gelo

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    Capítulos:

    Capítulo 10

    Saquê

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Hitsugaya Toushirou estava com um problema. Sentado no balcão de informações da biblioteca do seu esquadrão, pensava nele e quanto mais divagava mais ficava confuso, exceto por uma coisa. O beijo que roubou valeu muito a pena. Enquanto apoiava a cabeça na parede (estava sentado no canto onde o balcão se encostava) deixou um riso leve escapar, o que não era comum para ele. Esta noite estava muito dado à sorrisos e risos, como também a ceder impulsos. Suspirou desgostoso, o humor sumindo e lembrou de novo do que fez mais cedo.

    Horas atrás

    HITSUGAYA POV

    - Abarai, por que me trouxe aqui?

    O tenente ruivo se virou para mim, um tanto alegre demais.

    - Para o senhor se distrair, Hitsugaya Taichou.

    - Renji tem razão, depois do que aconteceu precisa mesmo disso.

    Encarei Madarame ao meu lado. Ele sorria animado e então piscou confuso.

    - Nunca sai do escritório.

    Quase revirei os olhos e me voltei para o lugar onde estávamos. Um bar restaurante, muito frequentado por tenentes e capitães como outros shinigamis. Ouvi um pigarro e Abarai estava olhando para todos os lados em vez de mim.

    - Bom, vamos entrar. Quem sabe o capitão não esquece aquilo e se diverte?

    Suspirei e fui andando na frente.

    - Eu duvido muito.

    Por que diabos confessei aos dois que cometi a loucura de arrancar Kurosaki da Academia de manhã?

    Mais cedo, tinha ido ao meu gabinete para chamar Matsumoto ir dá uma olhada nela, quando ao entrar no cômodo me deparei com os três.

    Flashback

    Matsumoto ofegava como se tivesse acabado de entrar no escritório antes de mim (o que era verdade, porque percebi sua reiatsu no alojamento) e me olhava ansiosa.

    - Taichou, o senhor...

    - Vá ao alojamento. Kurosaki precisa... – não olhei para ela, chateado – Ela precisa de você.

    - O que aconteceu, capitão?

    Me sentei na minha mesa e suspirei, encarando a madeira.

    - Quando chegar até o quarto vai saber. Agora vá.

    - Hai.

    Ouvi a porta deslizar se abrindo e depois se fechando. Pude sentir os olhares dos dois shinigamis que estavam em pé perto dos sofás, mas não me importei. Eu sentia tanta culpa. A fiz chorar, eu fiz Kurosaki chorar. Lembrei dela derramando lágrimas, esfriando minha ira num instante e me arrependi tanto. Por que fiz aquilo? É claro que ela não tem culpa. O culpado é aquele moleque maldito! Meu punho se fechou de raiva, mas lembrei novamente de Kurosaki chorando e gritando para que ficasse longe dela.

    - Hitsugaya taichou, algum problema?

    Abarai me perguntou e apertei os olhos, encarando a madeira. Se tenho algum problema?

    - Claro que sim.

    O ambiente no gabinete mudou. Percebi que Madarame e o Abarai me encaravam espantados. Então, o 3º oficial me perguntou.

    - Foi o que aconteceu com a irmã de Ichigo?

    Olhei para o outro lado do gabinete, para longe deles e senti a culpa me inundando.

    - Ela é a razão do problema.

    Os dois ofegaram de susto e um silêncio reinou no gabinete. Os encarei de lado e sem surpresa eles me olhavam chocados. Todo tipo de coisa passava pela mente deles, era claro pelos seus rostos.

    - Não vão dizer nada?

    Desafiei.

    Abarai piscou e abriu a boca, mas se arrependeu. Madarame estava me olhando meio duvidoso e impressionado.

    - Nunca achei que teria problemas com mulher, Hitsugaya Taichou.

    Abarai arregalou os olhos para ele.

    - Ikkaku!

    O outro só deu os ombros.

    - O que foi? Ele mesmo disse.

    Então se viraram para mim esperando. Apenas os olhei de volta, cansado e irritado.

    - Digam logo o que estão pensando.

    Madarame se aproximou um pouco sorrindo com malicia.

    - O senhor e a irmã de Ichigo, hein? Ele sabe que estão...

    Suspirei de raiva e levantei da cadeira.

    - Mais respeito, Madarame. Eu não insinuei nada do tipo.

    Ele parou de sorrir e Abarai franziu as sobrancelhas confuso.

    - Se não é isso, então o que é?

    O encarei sentindo mais raiva, mas me controlei. Olhei para o lado e me apoiei com as mãos na mesa.

    - Eu... Cometi uma insensatez e agora está irritada comigo.

    A curiosidade quase inflou de tão palpável dos dois.

    - E o que o senhor fez?

    Abarai me instigou e contra vontade, senti o rosto ficar quente e estreitei mais olhos.

    - Invadi a Academia e a arranquei de uma aula – suspirei, ficando com mais vergonha – E cometi outra burrice.

    Virei o rosto e pisquei surpreso. Eles me encaravam chocados. Madarame tinha o queixo caído.

    - Por que o senhor fez isso?

    Quase cedi a vontade manda-lo calar a boca e voltei a olhar o vazio, sério.

    - Não é da sua conta.

    Fechei os punhos na mesa com aquela ira voltando. É tudo culpa daquele nobre. Se não fosse por ele, se não tivesse se atrevido a se prender com Kurosaki naquele kidou, ela agora não estaria com raiva de mim e eu não teria aberto seu pulso, me arrependendo a ponto de me abrir com esses dois.

    Flashback off

    Então eles tiveram a ideia que eu precisava relaxar e me levaram até aqui. Eu estava agradecido porque não fizeram mais perguntas. Principalmente pelo fato que são próximos do irmão de Kurosaki. Eu nem posso imaginar o que ele faria se soubesse que machuquei sua irmã. Enquanto andávamos, procurando uma mesa, vários shinigamis se viraram ao me verem. Uns se curvavam cochichando, outros simplesmente encaravam abertamente. Suspirei de novo. Estou começando a me arrepender de ter vindo.

    - Oe, oe. Hitsugaya Taichou?

    Me virei e atrás vinham Hirako e Kyouraku. Eles sorriam surpresos se aproximando de nós.

    - O que faz aqui? Pensei que não fosse dado a bebida.

    O capitão de Hinamori me deu um sorriso mais enigmático, me irritando. Antes que abrisse a boca e lhe dar uma boa resposta, Abarai interveio.

    - Hirako taichou, o senhor e o Kyouraku taichou não querem se juntar a nós?

    Encarei esse ruivo tatuado. O que ele pensa que está fazendo? Para minha surpresa, Kyouraku se virou para o outro capitão.

    - O que acha?

    - Por mim, não tem problema. Vamos, Hitsugaya-kun.

    Apoiou a mão no meu ombro me empurrando e guiando até um canto reservado. Hitsugaya-kun... Desde que assumiu o posto, esse sujeito me atormenta com esses tratamentos por causa da minha idade. Em termos humanos, eu devia ter cerca de dezessete anos. Por isso, quando Kurosaki me chamava de criança me irritava, afinal na época tinha a idade do seu irmão. Parei para pensar, enquanto nos sentávamos nas almofadas. Nunca tinha me ocorrido. Shinigamis envelhecem e amadurecem mais devagar. Então significaria que agora Karin e eu temos idades próximas.

    Espere.

    Karin? Desde quando a chamo assim? A garçonete de quimono pousou uma garrafa de saquê diante de cada um com um pires, servindo e depois se curvando.

    - Os senhores querem mais alguma coisa?

    Hirako e Kyouraku sorriam olhando o decote da mulher. Espiei Abarai e seu rosto estava vermelho. Revirei os olhos e encarei meu pires. Relaxar... Então me veio a imagem de Kurosaki chorando e gritando.

    - Por enquanto, não.

    Olhei Kyouraku, ele sorria de um modo sedutor para mulher a enrubescendo. Interessante. Segurei o pires e antes que me arrependesse, emborquei. O líquido desceu queimando, mas consegui não tossir.

    - Argh!

    - Eu vi mesmo isso?

    Encarei Hirako a minha frente. Seus olhos estavam arregalados e risonhos. Louro debochado.

    - O que?

    Levantei a sobrancelha.

    - É a primeira vez que bebe, não é?

    - Verdade. O que faz aqui, Hitsugaya?

    Estreitei os olhos para Kyouraku e enchi o pires de novo.

    - Não é de interesse de vocês.

    Peguei o pires e emborquei outra vez, fechando os olhos enquanto minha garganta queimava. Hirako me observou de braços cruzados e deu um sorrisinho.

    - Mulher.

    Abarai tossiu violentamente e Madarame tentou ficar sério. Os dois capitães os encararam e depois a mim. Kyouraku se curvou sorrindo com o pires na mão.

    - Ah... Quem é a garota?

    - Ninguém.

    - Hitsugaya-kun. Nenhum homem bebe desse jeito se não for por dívida ou mulher. No seu caso, com certeza é a segunda opção.

    Encarei esse louro, me irritando e enchi o pires pela terceira vez.

    - E por acha isso, Hirako taichou?

    Perguntei sarcástico, fazendo os outros três me olharem estranhando.

    - Ultimamente você anda um pouco estranho. Acho que tem haver com uma garota de cabelos negros compridos... Baixinha.

    Suspirei de raiva, o detestando ainda mais. Abarai, Madarame e Kyouraku assistiam entretidos a conversa.

    - Como eu disse, não é de interesse seu.

    Ele sorriu divertido.

    - Ah, então é verdade. – se curvou segurando o próprio pires – Ichigo sabe? Por que senão...

    - Cale essa boca.

    Sibilei, tremendo a mão e derramei um pouco da bebida na manga. O capitão se espantou com minha raiva. Se endireitou assistindo enquanto virei o pires de novo. Agora não queimava tanto.

    - Vai com calma.

    - Eu bebo como quero, Hirako.

    Emborquei outra dose.

    - Argh!

    Kyouraku pegou minha garrafa e sacudiu. Estava quase vazia. Os quatros me encararam espantados e suspirei virando o rosto. Devolvendo a garrafa, o taichou do 8º esquadrão sorriu meio divertido, meio impressionado.

    - Quer mais saquê?

    Lembrei de novo. Lágrimas e Culpa.

    - Peça.

    Se virando para trás, chamou a garota que passava entre as mesas servindo.

    - Sim, capitão?

    - Parece que precisamos de mais saquê. Pode trazer mais?

    Observei isso. Ele flertava de um jeito tão aberto e a mulher se deslumbrava. É certo que Kyouraku tem fama de ser devasso, mas às vezes ele galanteava as mulheres e elas gostavam.

    - Claro. Só um instante.

    Ela foi buscar com o rosto corado. Interessante. Se voltando para mim, o capitão deu pequeno gole.

    - Então, qual o problema?

    Fechei o rosto e peguei a garrafa de Abarai, ignorando sua expressão espantada. Enchi o pires de novo e bebi de uma vez.

    - Que problema?

    Sorrindo, ele se debruçou.

    - O que aconteceu com a irmã de Kurosaki. Karin, não é?

    Travei os dentes.

    - Por que quer saber?

    Não neguei mais, era inútil. Mas também eu não iria contar o que fiz. Hirako se virou para Abarai, divertido.

    - Você sabe, não é Abarai-kun?

    O tenente tossiu engasgado.

    - Eu? Não, senhor.

    - Então por que trouxe arrastado Hitsugaya-kun aqui?

    Abarai arregalou os olhos e Hirako estreitou os dele.

    - Responda, Abarai-kun. É uma ordem.

    - Eu...

    - Não responda.

    Falei encarando esse louro debochado. Hirako olhou para mim e pegou seu pires.

    - Então nos conte, Hitsugaya-kun. Não deve ter sido tão horrível.

    Deu gole me olhando sobre o pires e os três se curvaram na mesa, curiosos. Eu nem tinha contado realmente para Madarame e Abarai. Então, ouvi uma comoção na entrada. Olhamos na direção e agarrei a garrafa de saquê quando trouxeram outra. Um rapaz de quimono azul real e capa branca entrava junto com uma moça loura, bem vestida na yutaka. Segui os dois com o olhar ao sentarem perto de nós atraindo mais olhares dos clientes. Abarai se curvou sussurrando.

    - O que nobres fazem aqui?

    Madarame o encarou surpreso.

    - Nobres? Eu jurava que eram cidadãos comuns de Seireitei.

    Abarai estreitou olhos para o casal.

    - Essas roupas são da nobreza. Ela é da casa de Kasumiooji e ele é...

    - Sakai.

    Disse com raiva. Eles me olharam e percebi que se espantaram, mas não me importei. Observava o motivo de Kurosaki estar brava comigo e me lembrei quando a seguiu até o esquadrão. Tinha me arrependido por apontar a zanpakutou para ele, agindo inconsequente, mas agora, o vendo flertar com essa garota a ideia não me pareceu tão má. Só tinha uma dúvida. Por que dava avanços com Kurosaki se tinha essa garota?

    - Hitsugaya-kun.

    Olhei para Hirako, ele me encarava meio desconfiado.

    - Conhece esse rapaz?

    - Vagamente.

    Emborquei outra dose e olhei de novo para o casal. Queria agora muito saber, depois contaria para Kurosaki (claro, me desculparia primeiro). Ela disse que ele talvez quisesse humilhar ou brincar com seus sentimentos.  Tomei outra dose de saquê e comecei a torcer que fosse a segunda opção, assim teria motivos para, quem sabe, lhe ensinar maneiras de como se deve tratar as mulheres. E minha espada entraria no processo.

    Curvei os lábios maldoso. Moleque maldito... Faça alguma coisa, qualquer coisa. Para que eu termine o que comecei quando invadiu meu esquadrão.

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    Fazia uma hora que eles haviam chegado e não notaram a nossa presença. Também estavam entretidos demais na conversa sussurrada que mantinham ao pé do ouvido e as carícias por debaixo da mesa. Kyouraku, Madarame e Abarai conversavam a respeito de Taichou de 12º esquadrão. Parecia que ele estava fazendo muitas visitas à Hueco Mundo e andava misterioso quanto os seus recentes experimentos.

    Isso era meio inquietante. Desde aquele incidente no seu laboratório e todos perdemos as lembranças de Kurosaki Ichigo, eu tinha minhas dúvidas sobre a sanidade desse sujeito, que apesar de brilhante, era um maníaco que tinha saído da prisão. Contudo, não participei da conversa. Estava mais interessado no casal da nobreza. De onde estava tinha uma boa visão dos toques que o moleque fazia nas pernas da garota, principalmente quando enfiou a mão na abertura da yutaka.

    Levantei a sobrancelha dando um gole de saquê, enquanto Hirako arregalava os olhos.

    - Esse garoto...

    - Um hum.

    O louro debochado também assistia comigo. Olhei para o rosto dela, que enrubescia em segundos fazendo-o sorrir. Sakai sussurrou outra coisa no ouvido dela e afundou mais a mão. A garota deu um pulo, ofegante e soltando um risinho.

    Dei outro gole.

    - Aqui é um local público.

    Hirako comentou divertido e descrente.

    - Justamente por isso vieram aqui. Assim não levantaria suspeitas.

    Apertei os olhos para o casal e mirei na garota. Os humanos tinham um nome para isso, não é? Mas a palavra que me veio foi “ingênua”. Dei um sorriso maldoso.

    - Aposto que as famílias não aprovam.

    Isso atraiu a atenção de Abarai e dos outros. Eles olharam exatamente na direção que eu e Hirako e Abarai ofegou, Kyouraku arregalou os olhos sorrindo e Madarame chiou. Do meu canto, soltei um risinho. O moleque não só era atrevido, como um completo canalha.

    - Meu salário como esse fedelho já a possuiu.

    Sussurrei estreitando os olhos, vendo a loura ofegar.

    - Hitsugaya taichou... – olhei para pessoa, Hirako segurava o riso – Que maldoso. Aceito a aposta.

    Abarai ofegou de novo e o encarei de canto.

    - Algum problema, Abarai? Parece sufocado.

    - Não, senhor.

    Encarou seu pires. Madarame se curvou na mesa, se apoiando no cotovelo.

    - Eu também acho. Há quanto tempo será?

    Kyouraku deu um gole.

    - Um mês.

    Hirako se curvou, com a mão no joelho.

    - Uma semana.

    Observei bem o comportamento dela, com a mão dele a acariciando por dentro da yutaka.

    - Ontem.

    Eles olharam para mim espantados, mas não me importei. A nobre ofegou de novo e franziu o rosto, incomodada. Todos nós nos curvamos. A mesa ficava a direita da nossa, em frente a que ficava do nosso lado.

    - Kabuto, não. Eu ainda sinto um pouco...

    O moleque sorriu, mas frustrado retirou a mão.

    - Tudo bem. Como quiser, Yuuki.

    Todos levantaram as sobrancelhas surpresos, menos eu. Enchi o pires de novo, dividido entre a raiva e divertimento. Raiva porque esse sujeito se aproximou de Kurosaki, divertimento porque a garota nem fazia ideia do quão mau caráter era seu amante.

    - Pobre garota.

    Kyouraku suspirou e olhei para ele. Observava a nobre com pena, pelo visto percebeu a mesma coisa que eu. Se virando para mim, Hirako estreitou os olhos. Ele me observou por um momento e o encarei de volta.

    - Algum problema?

    - Hitsugaya-kun, não invadiram seu esquadrão semana passada?

    Meu olho tremeu. Louro debochado. Estava sondando com certeza, mas agora meio alto com a bebida como estava entrei no jogo.

    - Sim, por que?

    - Ouvi falar que havia sido um aluno da Academia... Um nobre.

    Ele deu um gole enquanto suspirei me irritando. Os outros três, de novo, prestaram atenção na conversa.

    - É bem informado.

    Peguei a garrafa de novo e franzi a testa. Humpf, vazia. Sem pedir licença, peguei o saquê de Abarai de novo e percebi que suspirou. Enchia o pires, enquanto ouvia Hirako.

    - Por acaso esse nobre seria o rapaz a nossa direita?

    Nem levantei os olhos. Pousei a garrafa na mesa e emborquei o pires, franzindo o rosto com ardência na garganta e o encarei. Impressão ou Hirako estava meio torto? Pisquei e a visão se endireitou. Então levantei a sobrancelha.

    - Acertou, Capitão. Ele seguiu Kurosaki sabe Deus o motivo e quase decepei o braço do moleque.

    Hirako arregalou os olhos, esquecido do seu saquê e dei um sorriso torto. Estou me sentindo meio alegre e irritado, que esquisito. Olhei para o lado e Kyouraku me observava risonho, pensei que estaria chocado como Abarai e Madarame, que saía do espanto e tentava engolir o riso.

    - Decepar o braço... É meio radical, não acha capitão? Para um castigo de invadir um esquadrão.

    Esse homem me provocava. Mas invés de ficar calado, tomei a garrafa de Abarai que a essa altura desistiu de tirar do meu alcance e coloquei mais um pouco.

    - Pode ser, mas estava com muito raiva. O nobre me chamou de pirralho.

    Franzi o rosto confuso e dei uns goles. Nesse momento, foi que Hirako acordou e riu junto com Madarame que não aguentava mais segurar o riso. Eu já estava tão cheio de álcool que nem me importei.

    - Você fez mesmo isso?

    Encarei esse louro e o sorrisinho divertido. Foi quando percebi. O casal que estávamos espiando se viraram para nós, atraídos pelos risos. Olhei para o moleque, tonto da bebida e ele me encarou de volta. Estava sorrindo cínico. Se virando na almofada, apoiou a mão na perna, bem atento ao pires na minha mão e as garrafas vazias.

    - Que surpresa, capitão. Se divertindo?

    Estreitei os olhos e encarei minha bebida, antes de engolir de uma vez sussurrando.

    - Nem faz ideia.

    - Sabe, capitão. Estou curioso com uma coisa.

    Olhei para ele. Não estava gritando, falava num tom bem normal. Então por que de repente a atenção do bar foi atraída para nossa conversa? Suspirei, abaixando o pires na mesa.

    - Diga.

    Sorrindo debochado ele ignorou os olhos arregalados da sua "amiga" e se inclinou, quase sussurrando.

    - O que tinha de tão urgente hoje de manhã?

    A loura entrou em pânico e puxou sua manga. Sem olhá-la, ele tirou seus dedos, me encarando de olhos estreitados.

    - O senhor sabe, na aula de kidou.

    Moleque... A raiva que estava sentindo desde essa aula aumentava a cada minuto que essa conversa fiada prosseguia.

    - Acho que não lhe diz respeito.

    Sakai sorriu e percebi que as pessoas sentadas na mesa comigo estavam ficando indignadas.

    - Capitão, devia ser muito urgente. O senhor literalmente arrancou Karin na minha vez do trabalho e a levou sem se explicar.

    - Kabuto!

    - Calma, Yuuki. E então, o que tinha tão urgente?

    O pires que eu segurava estourou, trincando tanto com a força com que o apertava. O estalo ecoou no bar restaurante inteiro, tamanho o silêncio que havia. Eu encarava esse moleque, lívido e tremendo de raiva, enquanto ele se divertia com isso. Os shinigamis foram saindo assustados, deixando o dinheiro nas mesas, mas não prestei atenção. Olhava para o sorriso confiante desse cretino pensando se saco ou não minha espada.

    Nesse momento, Kyouraku e Hirako se levantaram das mesas atraindo minha atenção. Abarai e Madarame se levantaram também, o que me fez segui-los. Dando um sorriso amistoso (longe de ser verdade) Hirako se virou para o nobre.

    - Bem, meu jovem, acho que basta por hoje. Outro dia você continua sua conversa - se virando para nós - Vamos.

    Seguimos andando, passando por eles, mas quando havíamos chegado ao meio do bar, escutei.

    - Ah, mais uma coisa Hitsugaya taichou. Por que escalou Karin no seu bantai?

    Parei me virando com seu tom. Os outros pararam também e notei que os dois taichou e Madarame estavam ficando irritados. Ao contrario de Abarai, sua reiatsu parecia preocupada. Sakai estava de pé e estreitava os olhos, cínico.

    - Como sabe disso? Se é que devia saber.

    Questionei num tom normal então o nobre se aproximou, deixando a garota sentada na mesa onde estavam. Ao ficar próximo de mim, esticou a coluna mostrando sua altura. Como eu detesto esse cara.

    - Acho que não é do seu interesse, capitão. Mas ainda sim estou curioso, por que escalou aquela plebeia para o 10º bantai se ela nem tem um ano de graduação?

    Madarame deu um passo segurando sua zanpakutou apoiada no ombro.

    - Mais respeito, fedelho.

    Sakai apenas o olhou de cima, superior.

    - Não se meta, plebeu.

    Madarame arregalou os olhos indignado.

    - Seu moleque, eu devia...

    Estendi o braço para o lado. Parando-o antes que avançasse em Sakai, o que o fez sorrir convencido.

    - Calma, Madarame. Respondendo a sua pergunta, a escalei porque o proprio Comandante tomou a decisão de admita-la no Gotei.

    O nobre sorriu torto, me irritando profundamente. Junto com os outros quatro que estavam comigo.

    - Hitsugaya taichou, isso não responde minha pergunta. Por que fez o pedido para o seu esquadrão?

    Suspirei para controlar a raiva.

    - Kurosaki tem habilidades incríveis, garoto. Que eu mesmo testemunhei. Por isso a coloquei no meu esquadrão.

    Sakai então riu debochado.

    - Ah, com certeza. O senhor deve ter aproveitado muito.

    Algo dentro de mim trincou e notei que Abarai arregalou os olhos.

    - O que está dizendo, fedelho?

    Olhando com ar de tédio para Abarai, Sakai assumiu um ar mais cínico e arrogante.

    - Exatamente o que entendeu. Aquela garota com certeza se deitou com esse pirralho para entrar no esquadrão. Afinal, se conhecem desde quando estava viva, não era?

    Me encarou risonho, alheio a minha fúria. Apertava os punhos, me segurando. Nesse momento, a garota que o acompanhava se aproximou de nós em pânico, segurando seu ombro.

    - Para com isso, Kabuto!

    Ele sacudiu os ombros, se soltando dela e continuou dando passo e sussurrando.

    - Você foi pra cama com aquela piranha, não foi Capitão? Eu te entendo, enérgica daquele jeito deve ser uma loucura com...

    Não disse mais nada. Estava voando até se chocar com a parede do outro lado do salão. Meu punho doía, mas gostei do choque.

    - Hitsugaya taichou?

    Ignorei Abarai. Só tive um momento de lucidez e foi quando tirei a bainha pendurada nas minhas costas e lhe entreguei.

    - Segure.

    No instante que agarrou a zanpakutou, saltei com o shunpo e apareci em cima do moleque. Antes que pisasse no seu estômago, ele arregalou os olhos e sumiu aparecendo a minha esquerda, com várias mesas entre nós. Eu fulminava de ira.

    - Retire o que disse, moleque!

    Apavorado ele se estremecia, limpando o sangue que escorria por seu queixo.

    - Você é louco? Não pode me atacar assim! Eu sou um...

    - Grrrr....

    Saltei para as mesas e corri pulando de novo em cima dele. Sakai pulou para longe enquanto meu pé afundava nas tábuas quebrando, exatamente onde estava. Me virei para ele e ofegava pálido. Minha reiatsu irradiou descontrolada e senti o chão onde eu estava congelar.

    - Hirako, uma barreira!

    Escutei no meio daquela fúria. Não sei bem quem falou, deve ter sido Kyouraku. De qualquer modo, senti as paredes de reiraku envolta do estabelecimento e me levantei devagar. As mechas dos meus cabelos cobrindo um pouco meus olhos.

    - Vou arrancar sua cabeça, desgraçado.

    Tomei um impulso e sumi, correndo atrás do moleque que fugia com o shunpo e inferno, era muito bom. Parei um instante perto de onde estávamos sentados, ofegante de raiva e mirei para esquerda. Chutei para cima um lado de uma mesa e girei jogando com perna. O móvel voou acertando o moleque que apareceu no instante que imaginei. Ele caiu gritando e ouvi uma mulher berrar. Dane-se.

    Corri para cima dele, que nem tinha se levantado direito agarrei sua manga, o jogando para o outro lado no chão. Ele caiu com um baque que gostei. Onde eu tinha agarrado congelou, quebrou em pedaços. Sakai arregalou os olhos se arrastando, levantando do chão enquanto eu andava devagar até ele ofegante de ira.

    - O que está fazendo é loucura!!!

    Gritou em pânico e estreitei os olhos. Sumi de novo e ele também. Sakai apareceu em cima do balcão, perto da entrada e vi de relance Hirako, Kyouraku e Madarame. Os dois ultimos tinham os olhos arregalados e Hirako tremia olho sem acreditar. Apareci no chão e agarrei o nobre pelo tornozelo. Ele gritou de susto quando o puxei atirando até umas mesas. Se arrastou batendo nelas até parar, tossindo engasgado.

    - Faz ele parar!

    A garota gritou e sumi aparecendo em cima dele de novo, só que dessa vez consegui acertar o joelho no seu estômago. Sakai se dobrou sufocado e agarrei seu pescoço, apertando.

    - Retire o que disse, moleque.

    Sibilei. Ele esperneava tentando sair debaixo de mim e dei outra joelhada no seu estômago, tirando seu fôlego. Cravei mais meus dedos no seu pescoço e afrouxei, para deixar respirar. Piscando para mim assustado agarrou meu pulso, tossindo.

    - O que?

    - Não vou repetir.

    - Eu não...

    Minha ira aumentou e bati sua cabeça do chão, num baque alto na madeira.

    - RETIRE, MOLEQUE !!! VOCÊ CHAMOU KARIN DE PIRANHA !!!

    O sacudi pelo pescoço e a garota berrou.

    - PARA ! ASSIM VAI MATAR ELE!

    - Garota, se ele quisesse matá-lo teria sacado a zanpakutou.

    Hirako comentou. Tinha razão, eu entreguei Hyourinmaru para Abarai justamente para evitar um desastre. Não que destruir o estabelecimento não fosse um desastre em si. Na minha perseguição do moleque, tinha quebrado e revirado todos os móveis do salão. Me inclinei para ele, apertando de novo seu pescoço. Ele tossia desesperado, tentando se livrar de mim.

    - Vamos, moleque. Ainda não ouvi seu pedido de desculpas.

    Sibilei e ele me encarou, apavorado. Começou a gaguejar alguma coisa e afrouxei tanto o aperto dos meus dedos quanto a pressão do joelho que fazia na sua barriga.

    - Des... Des...

    - O que?!

    Fingi que não escutei e ele arquejou fechando os olhos.

    - Desculpa!

    Apertei os olhos.

    - E...

    Me encarou confuso e levantei seu tronco do chão pelo pescoço, jogando com toda força no piso de madeira. Sakai gritou sufocado.

    - Karin não é uma piranha!

    Sorri maldoso e ele me olhou de um jeito, como se eu fosse um demônio. Acertei de novo o joelho no seu estômago, rápido e com força sem dar brecha para que me acertasse. Ele chiou e inclinei seu queixo para frente, sufocando ainda mais. Me curvando somente para ele me ouvir, sussurrei.

    - Nunca mais diga tal coisa na minha frente, moleque. Nunca mais se aproxime dela de novo e Por Deus, se você tentar em Karin algo do tipo com o que fez naquela nobre debaixo da mesa, eu mato você. Entendeu?

    Me levantei o encarando no fundo dos olhos. O moleque tremia, pálido, me deixando satisfeito. Me ergui o largando com nojo e fui andando até onde me esperavam. Madarame me olhava com um sorriso gigante impressionado. Kyouraku estava numa máscara de calma e Abarai segurava a nobre pelo braço. Parei ao lado dela, que me olhava assombrada.

    - Devia escolher melhor seus amigos, garota. Ele é um canalha.

    Ela corou violentamente e se sacudiu da mão de Abarai, que a encarou franzindo as sobrancelhas.

    - Não vai ficar assim. Vai contar pro Patriarca de Sakai e da minha família.

    Entediado, peguei a bainha que Abarai me estendeu com a outra mão e pendurei nas costas.

    - Conte. E terei prazer em dizer que a herdeira de Kasumiooji foi deflorada noite passada. Você tem um noivo, não tem?

    Ela ofegou e quase me deu um tapa, mas segurei seu pulso. Abarai a tinha largado e se afastado. Pela minha mão senti que estava tremendo e lembrei de Kurosaki. Abaixei seu pulso, suspirando com a fúria esquecida.

    - Escute, menina, faça um favor a si mesma. Se afaste desse sujeito enquanto ainda não manchou o nome da sua família.

    A larguei e fui andando. Percebi que ao dizer aquilo ela tinha me encarado impressionada, esquecida da revolta por surrar seu "amigo". Ao chegar na porta, Hirako me olhava risonho e me virei a cara.

    - Aplacou a raiva?

    - Cale-se, Hirako.

    - Tudo bem.

    Olhando para as pessoas que restavam no bar, ele cruzou os dedos em várias posições. Antes de desfazer a barreira, falou.

    - O que aconteceu aqui, fica aqui. Certo, mocinha?

    Olhei para ela e assentiu timidamente. A barreira se dispersou e Kyouraku tirou um maço de dinheiro do quimono, colocando-o em cima do balcão. Levantei a sobrancelha e vendo, deu um sorrisinho.

    - Para as despesas.

    Virei o rosto de novo, agradecido. Nos despedimos na rua e cada um foi para seu canto. Eu segui para o esquadrão e tamanha foi a minha surpresa quando senti a reiatsu de Kurosaki. Na área  verde onde apareci, percebi que estava na biblioteca. Estranhei, já era de noite, mas não importava. Eu podia me desculpar por mais cedo. Enquanto ia para biblioteca, lembrei do flerte de Kyouraku com a servente no bar. Me imaginei fazendo aquilo, deixando Kurosaki corada que nem uma rosa. Quando percebi, estava sorrindo de um jeito travesso ao entrar no prédio.

    HITSUGAYA POF

    Agora, lembrando de tudo o que houve até quando ela escapuliu da biblioteca, Hitsugaya ficou pensando no amanhã, principalmente em como a encararia. Isto é, se a ressaca deixar que ao menos trabalhasse.

    No dia seguinte, Karin foi a Academia num estado aero. Mal notou que surgiu no pátio enorme e nem prestou atenção nos alunos que transitavam e chegavam. Foi seguindo para o campus e entrou no prédio, andando no corredor até encontrar sua sala. Ainda meio cedo embora muita gente já tinha chegado. Subindo os degraus da sua fileira se sentou no seu lugar. Quando jogou a mochila no chão, lembrou de ontem suspirando. Que beijo. Toushirou beijava tão bem assim? Ela não tinha muita experiência, mas percebeu que como primeiro beijo, foi muito bom com alguém que a fascinava. De repente, ouviu uma comoção e olhou para baixo. Levantou da carteira espantada. Sakai entrava torto e tinha o queixo roxo.

    - Ele levou uma surra?

    Sagashi perguntou à ela, tão impressionado como os outros. Os amigos de Sakai foram até ele para sondar e Karin estava tão distraída que não notou alguém chegar perto dela.

    - Foi uma surra, sim.

    Se virou e a barbie estava em pé sorrindo divertida. Levantou a sobrancelha cruzando os braços.

    - E o que você faz aqui?

    A barbie estreitou os olhos mais divertida, a irritando. Apoiando a mão na sua mesa, ela se inclinou e sussurrou no em seu ouvido.

    - Aquele babaca irritou um cara ontem, chamando a namorada dele de piranha. O cara se enfureceu tanto que congelou o bar inteiro, enquanto corria atrás de Sakai até pegá-lo.

    Karin arregalou os olhos e a barbie se endireitou, piscando. Ela foi voltando até seu lugar ignorando as reclamações de Sakai.

    - Hein, Kurosaki. O que ela te disse?

    - N... nada demais.

    Piscou surpresa. Ainda sem acreditar no que ouviu.

    Toushirou deu uma surra no nobre irritante?!


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