A paixão do capitão de gelo

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 9

    Licor de Menta

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    O castigo de arrumar uma biblioteca de 70 x 30 m era penoso. Recolher os livros derrubados, buscar nos registros onde estavam catalogados. Por estantes no lugar, (o que era mais penoso, pois havia três empurradas para um canto) e pegar todas as folhas, uma por uma que estavam jogadas no chão. O capitão Hitsugaya havia interditado o prédio deixando-o no mesmo estado desde a briga. Portanto Karin se encontrava sozinha naquele lugar enorme, andando entre os vãos das estantes com um bloquinho na mão. No dia anterior depois da invasão de Sakai no esquadrão havia ido direto para lá quando pôs o quimono negro. E como a própria imaginava, seu progresso não foi lá essas coisas.

    KARIN POV.

    - De 01 à 10, ok. Agora a próxima fileira.

    Saltei no ar enquanto ticava no bloco. Ao pousar em cima da estante da fileira ao lado pensei em ontem. O que será que deu na cabeça de Sakai para me seguir? Com certeza não aceitou meu "não" lá no pátio da Academia e até porque é bom que se vire um pouco essa semana. Mas... Que atitude foi aquela do Toushirou? Conversei com Rangiku quando ela veio aqui ontem escondida e ela também ficou surpresa.

    Cortar a manga do quimono do cara espantou todo mundo, porque se eu percebi bem Toushirou tinha a intenção era de decepar o braço de Sakai. E tudo que o nobre irritante fez foi só o chamar de pirralho. Rangiku me disse que nunca viu nosso capitão daquele jeito. Afinal de contas, ele me escutou conversando com Sakai, não escutou? Então o Toushirou sabia que não era um inimigo, era só um invasor inofensivo.

    - Por que ele sacou a zanpakutou?

    - Falando sozinha, Kurosaki?

    Dei um pulo quase perdendo o equilíbrio. Girei na direção e vi Toushirou perto do balcão de informações. Ele me encarava confuso, com certeza porque eu estava em pé em cima de uma estante com um bloco e grafite nas mãos. Dei graças a Kami que não estava pensando alto.

    - Não é nada, capitão.

    Voltei a encarar meu bloco. Tentava me concentrar no mapa das fileiras que fiz e não em Toushirou me observando. Ele continuava parado na entrada olhando para mim? Esse silêncio estava me deixando nervosa. Espiei de canto para ver se ele ainda estava me olhando e não vi ninguém. Pestanejei confusa. Ué? Pra onde ele foi?

    Senti uma brisa a minha esquerda e uma voz rouca disse sobre meu ombro.

    - Ah, então era um inventário que está fazendo.

    - AAAHHH!

    Soltei um grito e meu pé direito escorregou. Meu corpo inclinou para o lado caindo e rápido Toushirou agarrou meu pulso (eu não tinha soltado o grafite) me puxando de volta. Coloquei meu pé na madeira ofegando enquanto o encarava. Parecia que queria rir, eu não achei nada engraçado.

    - Tudo bem?

    - Não me assuste assim, senhor.

    Ele me soltou, mas não pediu desculpas. Humpf! O ignorei me concentrando no que estava fazendo, no castigo. Ainda estava zangada com ele por isso.

    - Como vai indo na organização da biblioteca?

    Entalei quase furando a folha com o grafite. Ele... Ele 'tava curtindo com a minha cara? O olhei de lado e me irritei ainda mais. Seus olhos tinham um ar risonho e piorava porque Toushirou fazia esforço para não rir. Imbecil! E pior que me encontrava nessa furada por causa dele! Isso me deixou mais de mau humor. Suspirei voltando o olhar para o bloco e devolvi o sarcasmo.

    - Muito bem, Capitão. Acabei de verificar a primeira fileira das 50 estantes e olha só, está tudo lugar!

    Saltei para a próxima em minha frente e escutei um riso atrás de mim. Um instante depois ele apareceu ao meu lado com o shunpo.

    - Não seja sarcástica, Kurosaki. Perguntei porque achei que precisaria de ajuda.

    Pisquei surpresa e me virei. Ele parecia bem humorado. Franzi as sobrancelhas confusa.

    - Mas o castigo não era para "arrumar" a biblioteca sozinha?

    Toushirou apenas olhou em volta enquanto respondeu.

    - Eu disse para arrumar a bagunça, não que faria sozinha. Então, quer ajuda?

    Me olhou esperando. O que será que deu nele? Até ontem parecia carregado de stress a ponto de despejar sua raiva em qualquer um que o irritasse. Agora estava calmo.

    - O senhor com certeza tem outras coisas pra fazer.

    - Esqueceu que transferi todos meus afazeres de manhã para que te treine a tarde?

    Parei para pensar.

    - É, mas...

    - É melhor aceitar minha ajuda, Kurosaki, senão vai passar meses até que termine.

    O encarei. Toushirou tem uma mania de cortar as pessoas com essas frases que mais parecem ordens. Ainda por cima me olhava convencido. Suspirei irritada e também agradecida. Estou mesmo precisando de ajuda.

    - Arigatou, Taichou.

    Dei meia volta andando e observando os vãos embaixo.

    - De nada.

    Revirei os olhos e pulei mais algumas estantes. Parece que essa fileira também estava ok. Eu não o chamei, sabia que viria atrás de mim. Toushirou continuou então calado, saltando as estantes como eu até que vi uma coisa no chão atravessada debaixo de uma estante. Pulei para perto e me abaixei. Antes que a pegasse notei o que era. Uma bainha e não estava vazia. Ai, caramba!

    - O que é isso?

    Ele apareceu na minha frente e pegou antes que a chutasse para longe. Me endireitei nervosa com as bochechas queimando. Toushirou piscou surpreso enquanto segurava a zanpakutou estendida em suas mãos. Ele me encarou levantando a sobrancelha.

    - Essa... É a zanpakutou da Hinamori?

    Engoli em seco.

    - Sim, senhor.

    - E o que ela faz aqui?

    Estreitou os olhos e para minha vergonha eles estavam divertidos. Minhas bochechas ficaram mais quentes. Droga! Por que ele me obrigava a dizer se já fazia ideia da razão? Apertei o bloco, olhando para o lado.

    - Eu – engoli em seco de novo – arranquei dela enquanto brigávamos.

    - Por que?

    O encarei e claramente estava se divertindo com isso. Não sabia se me irritava ou morria de vergonha, a segunda opção era mais provável. Lembrei de quando segurei Hinamori e tirei sua zanpakutou da cintura e depois quando a chutei para longe.

    - Queria evitar que liberasse a Shikai, senhor.

    Toushirou segurou a espada abaixada numa mão e quase sorria. Ai, que vergonha.

    - E por isso a desarmou?

    Balançou a cabeça e foi andando ao passar por mim até outro vão. O segui querendo acabar com a conversa.

    - Saiba que Hinamori é excelente em Kidou. Ela te atacaria com poder total mesmo sem a zanpakutou.

    Bufei sussurrando.

    - Eu sei. Por isso não a deixava completar a magia.

    - Foi esperta.

    Encarei suas costas. Ele escutou o que eu disse? Cara, que ouvido!

    - Hein, Taichou.

    Ele me olhou sobre o ombro.

    - O senhor vai devolver a zanpakutou para ela, não vai?

    Eu tinha uma vaga esperança, não queria de jeito nenhum ver aquela garota. Mas meu Capitão percebeu isso já que sua expressão ficou maliciosa.

    - Claro que não.

    - O que?

    - Você irá hoje depois que acabar seu turno e não, não pode ser outra pessoa.

    Abri a boca chocada. Por que?

    Toushirou deu um risinho e entrou em outra fileira. Nessa minha nova vida estava descobrindo o lado perverso dele. Com risinhos, arrogância e sadismo. Ok. Toushirou não é sádico e essa parte de sua personagem até que deixa ele mais atraente. Quando percebi estava suspirando, me lembrando daquele dia no riacho. Sacudi a cabeça antes que ele percebesse. Que burrice, desse jeito parece que estou comparando com o velho clichê. A donzela caída e indefesa salva na hora certa pelo herói lindo e poderoso. No meu caso, um Capitão do Gotei.

    Sacudi a cabeça de novo. Pare com isso, Karin!

    KARIN POF

    HITSUGAYA POV

    Não era para eu estar aqui.

    Me repetia enquanto andava pela biblioteca com Kurosaki anotando sabe lá o que naquele bloco. Dei uma olhada furtiva para ela, lembrando o real motivo do porque vim até aqui. O amigo invasor de ontem. Uma raiva súbita ao me lembrar do sujeito me fez apertar os punhos. Qualquer outra demonstração chamaria sua atenção. Na verdade, eu tinha vindo à biblioteca por dois motivos:

    1º - me desculpar por quase deixar o tal Sakai sem o braço. (o que eu queria muito porque foi onde ela o segurava quando apareceu naquela área)

    2º - saber exatamente quem é esse nobre.

    Ao chegar na última fileira, encontramos três estantes empurradas para um canto. Me espantei. Como elas conseguiram isso se nem usaram as espadas? Olhei para Kurosaki novamente e encarava desanimada as estantes.

    - Você e Hinamori...

    Ela me olhou confusa.

    - Sim?

    - Deixe para lá.

    Melhor não perguntar. A espiei e suas bochechas estavam rosadas. Vergonha, era o que gritava sua expressão e lembrei o porque das duas brigarem. Sorri ao saltar parando no ar bem acima dos móveis, de costas para ela ao analisar como íamos por no lugar.

    - Taichou, será que pode me liberar semana que vem do castigo?

    A olhei levantando a sobrancelha.

    - Liberar?

    Ela arregalou os olhos e sacudiu as mãos.

    - Não foi isso que eu quis dizer. É só por uns dias, depois eu volto.

    - Por que?

    Estava estranhando esse pedido. Kurosaki suspirou encolhendo os ombros e escreveu algo no bloco.

    - Eu tenho um trabalho da Academia e preciso treinar meu parceiro.

    Ao dizer "parceiro" revirou os olhos.

    - E quem seria essa pessoa?

    Torcendo os lábios ela me olhou constrangida.

    - Sakai.

    A raiva me inundou. Igual quando o vi ontem, quando quebrei os pinceis num acesso de ira (graças aos comentários da minha tenente). Algo no meu rosto a fez perder a cor, mas não pude evitar. Com todo o controle que tinha desci pousando em sua frente. Ela engoliu em seco me deixando desconfiado. Por que agia assim?

    - Sakai é o seu colega que veio aqui ontem?

    Perguntei para tentar disfarçar, mas pela sua expressão nervosa não funcionou.

    - Sim, senhor.

    - E por que precisa treiná-lo? Se bem me lembro apenas você está dispensada das aulas a tarde.

    Ela recuou um passo e foi para o outro lado. A segui com olhos. Impressão ou estava fugindo de mim?

    - Sakai não sabe kidou direito e temos algumas aulas vagas para treinar. O Professor Yokomura sabe que a turma é meio fraca.

    - Isso me parece uma desculpa para o trabalho não sair um fracasso.

    Kurosaki me encarou espantada. O que estou fazendo? Estou agindo como ontem, impulsivo. Mas também como ontem não me importei. Me aproximei dela ignorando seus olhos arregalados com a minha expressão gelada de raiva.

    - Não.

    Ela piscou pestanejando.

    - O quê?

    - Não vou te dispensar do castigo.

    Parei a dois passos dela que ofegou mais surpresa.

    - Mas capitão, eu preciso...

    - Não é não, Kurosaki. Não adianta insistir.

    Ela suspirou de raiva. Aposto que querendo me xingar ou me agredir. De qualquer modo, eu não cederia.

    - E se eu me prejudicar por isso?

    Estreitei os olhos.

    - Não vai. Eu conheço seu Professor e sempre avalia individualmente. Quanto ao seu colega, é bom que aprenda sozinho.

    Tombei o rosto, olhando bem dentro dos seus olhos.

    - Ele que te chamou para formar dupla, não foi?

    Kurosaki abriu a boca chocada.

    - E com certeza espera que você o treine numa semana senão se dará mal.

    Curvei os lábios convencido quando seu choque aumentou. Para aumentar minha satisfação quis confirmar uma coisa.

    - Qual é o nível da magia?

    - Vamos ter que fazer um bakudou de nível 60.

    Quase abri o sorriso. Um kidou acima da escala mediana? Nunca que aquele nobre arrogante aprenderia em sete dias.

    - Diga para o seu amigo que é impossível.

    Ela apertou o bloco de raiva. Por que? Eu só disse uma verdade.

    - Não se eu ensinar.

    - Milagres não existem, Kurosaki. É melhor desistir.

    Seus olhos estreitaram e o brilho deles me distraiu um pouco. As íris eram tão negras assim? E os cilios longos criando sombras nas maçãs do rosto... Aumentavam essa sensação de desnorteio. Ela me disse uma coisa, acho que retrucando meu conselho e minha atenção foi atraída para sua boca rosada e pequena. Seus lábios eram cheios desse jeito?

    Quando percebi tinha segurado a respiração, hipnotizado.

    - Muito bem, taichou. Se o senhor acha assim quem sou eu pra discutir?

    Kurosaki virou o rosto saindo de perto de mim. Pisquei segurando uma prateleira ao soltar o fôlego. Ainda bem que ela não notou, ou será que notou? A espiei de lado e estava de costas para mim escrevendo de novo no bloco. Suspirei aliviado, eu tenho que sair daqui.

    - Kurosaki, você continua com o resto. Eu - engoli em seco - tenho que verificar umas coisas.

    - O que?

    Não esperei. Sumi no shunpo aparecendo do lado de fora da biblioteca. Com a brisa soprando no meu rosto, suspirei fundo ao fechar os olhos. O que foi aquilo? Não. O que eu quase fiz? Os abri devagar encarando a grama. Por um momento minha mente ficou vazia, exceto pela boca dela. Um desejo cresceu em segundos e tudo o que eu quis... Foi beijá-la.

    HITSUGAYA POF

    KARIN POV

    Toushirou tinha sumido desde aquele dia. Quando eu cheguei da Academia no dia seguinte encontrei Rangiku perto do refeitório e aproveitando ela me deu o recado de que o Capitão não ia me ajudar por uns dias. Eu me irritei e agradeci o recado, mal prestando atenção no sorriso estranho da Rangiku. Fui pisando duro até ao alojamento me trocar e peguei o maldito bloquinho e grafite, praticamente marchando até a biblioteca. Como eu tinha percebido ontem, a bagunça só ficou pior nos lugares onde eu e Hinamori tivemos nossa luta livre. Ao chegar na fileira das três estantes atravessadas, porém, arregalei os olhos.

    Elas estavam todas no lugar. Me aproximei com o shunpo e até os livros estavam organizados nas prateleiras. Só me vinha uma ideia, que Toushirou fez isso ontem quando fui embora. A minha raiva sumiu e não soube se foi de surpresa ou agradecida. Acho que a surpresa foi maior. Afinal de contas, ele praticamente debochou da minha cara quando pedi para treinar Sakai. E desde então não o vi mais nessa semana.

    Nesses dias consegui organizar tudo naquele canto e só faltava agora colocar os papéis jogados nas pastas. Eu tinha juntado tudo numa pilha quando senti minha nuca arder. Me virei para trás encarando as mesas de estudos ao longe, mas não consegui ver ninguém e também, não senti nenhuma reiatsu. Revirei os olhos com essa paranoia, estou ficando maluca.

    Quando acabou meu turno troquei de roupa e fui para casa. Depois de cruzar as cidades tive uma ideia. Toushirou disse que não me liberaria do castigo, mas não que treinasse Sakai na escola. Posso fazer isso no intervalo. Me atrasaria só uma hora e alegaria que tinha muitos exercícios se me perguntasse. Pensei nessa possibilidade no jantar até quando fui dormir. Não sei porque, mas parece que Toushirou tinha deixado bem claro para que não treinasse Sakai. O que estava planejando seria como desobedecer ele, não é?

    Ah, que se dane. Eu não quero me prejudicar só porque aquele esquentado não foi com a cara de Sakai.

    /////////////////////////////////////////////////////////////////

    Como o esperado, Sakai e eu estávamos na área de treinamento de kidou que ficava num prédio com espaço gramado do tamanho de um campinho de futebol. Perfeito. Havia uns alvos sustentados por hastes de madeira numa extremidade da varanda do prédio, mas eram para treinar hadou. Sakai me encarava estreitando os olhos.

    - Por que me trouxe aqui, Karin? Queria ficar sozinha comigo?

    Arregalei os olhos. Ele quis dizer o que eu achei que quis? Pondo a mão na cintura levantei a sobrancelha.

    - Não fique se achando, Sakai. E não me chame de Karin, não te dei permissão pra isso.

    Ele sorriu preguiçoso me entediando. Sério? Esse charme barato não cola em mim, idiota.

    - Você é muito brava, sabia? E ainda não me respondeu, por que me trouxe aqui?

    - Não disse que queria aprender a executar um bakudou? Aqui é o melhor lugar para fazer isso.

    Estreitando os olhos, Sakai se aproximou um passo.

    - E o seu Capitão? Achei que tinha de ir ao esquadrão agora.

    - Ele me deu permissão para me atrasar uma hora. Expliquei que tinha um trabalho chato de dupla e ele entendeu.

    Que mentira. E pelas sobrancelhas levantadas de Sakai não acreditou nem um pouco.

    - Ah, sei.

    Me irritei.

    - Que aprender ou não?

    - Tudo bem. Você é quem manda, mestra.

    Revirei os olhos, como é debochado.

    - Que seja. Já que a gente tem pouco tempo, vamos treinar um tipo de bakudou. Um que dê para você pegar até a aula.

    Sakai se animou.

    - Posso escolher?

    Sorri maliciosa.

    - Claro que não, a mestra aqui sou eu.

    Esse nobre bufou cruzando os braços e gostei disso, estar no comando. Treinamos uma hora completa um bakudou que achei fácil. Servia para perder o alvo numa corrente de elos grossos de reiraku. E até que Sakai decorou a canção toda (depois de ser acertado pelos meus chutes e tapas). Senti que me daria bem nesse trabalho. Cheguei ofegante ao esquadrão logo me trocando e enquanto ia para a biblioteca Rangiku me parou no caminho.

    Ela literalmente agarrou meu braço, me puxando para um canto perto do refeitorio. Estranhei essa atitude.

    - Hei, Rangiku!

    Olhei para o seu rosto e estava agoniado.

    - O que foi?

    - Onde você estava? O taichou está muito bravo.

    Caramba, ela não estava mentindo. Olhei para os lados, checando se não havia ninguém e decidi confiar nela.

    - 'Tava na Academia treinando Sakai.

    Ela piscou confusa, se endireitando.

    - Sakai? Ah! É o....

    - Shsss. Toushirou não pode saber disso.

    - Por que? - então estreitou os olhos desconfiada - Ele te proibiu, não foi?

    Não gostei do jeito como me encarava. Parecia que eu estava fazendo algo errado.

    - Não. Que isso, Rangiku. É que eu preciso treinar esse nobre senão vou me prejudicar na matéria e não quero isso, entende?

    Ela ainda me olhava desconfiada.

    - Mas o Capitão te proibiu?

    Revirei os olhos. Rangiku é bem insistente quando quer.

    - Ele não disse com todas as letras, praticamente debochou que eu conseguiria ensinar alguém. Vai, não conta pra ele! Toushirou ia ter um ataque.

    A olhei implorando e felizmente, ela suspirou sorrindo para mim.

    - Tudo bem. Agora vai, eu aviso que você chegou e pode ficar tranquila.

    Sorri também e guardamos nosso segredinho. Só seriam uns dias, não é? Que mal faria?

    KARIN POF

    HITSUGAYA POV

    Tinha algo errado, eu sabia disso. Desde que a semana começou Kurosaki anda estranha e Matsumoto parecia mais suspeita que o normal nas desculpas. O que me incomodava era que as desculpas tinham haver com os atrasos de Kurosaki. Ela agora chegava atrasada sempre uma hora e quando perguntei ontem notei seu cansaço. Como se estivesse fazendo algum exercício físico. A desculpa que me deu foi que a aula se estendeu mais que o normal e vendo seu sorriso nervoso fingi que acreditei. Os atrasos tinham haver com a Academia realmente e claro, o motivo que me veio foi aquele rapaz.

    Hoje eu vou descobrir.

    Quando passava das 10:00hs da manhã abri a janela do gabinete e saltei com o shunpo. Escondendo minha reiatsu segui até Shinourijutsuin. Corria pelos telhados, saltando mais rápido que podia até aparecer em cima de um terraço da Academia. Havia um seikamon na outra extremidade para técnicas de demi-holows das turmas avançadas. Procurei a reiatsu de Kurosaki e encontrei atrás do grande prédio. Usei o shunpo e apareci nos galhos de uma árvore, perto do campo de treinamento de kidou. A turma estava lá e ninguém me percebeu, inclusive o professor. Observei por um momento, vendo os alunos executando vários tipos de bakudou e me deu estalo. Era o trabalho que tinha me falado.

    Quase ri do que estava pensando e me encostei no tronco observando sua vez. Ao vê-la se aproximar, um rapaz de cabelo repicado andou ao seu lado e aquela irritação me tomou. Moleque arrogante. Ela saltou para o alto e para minha surpresa jogou o braço para trás, pulando a canção.

    - Bakudou nº 62, Hyapporankan!

    Atirou o braço para frente e várias barras de energia apareceram cravando no solo. Uma delas sem querer acertou uma garota loura, que caiu de frente na grama. Ela reclamava agoniada enquanto suas colegas tentavam ajudar. Kurosaki foi acudi-la liberando o kidou e ofereceu a mão para levantá-la, mas a garota ergueu o queixo e ignorou. Uma nobre. Mas a cena foi cômica, me tremia de riso do meu esconderijo. O tal Sakai foi a frente cortando meu humor. Ele fez um gesto, esticando o antebraço e a mão deixando os retos enquanto abaixava o braço.

    - Sajousabaka.

    Sussurrei, afinal conhecia esse kidou. Mas ele repentinamente mudou a posição do braço. Sumiu no shunpo e apareceu perto de Kurosaki. Ela o encarou tão surpresa quanto eu, enquanto ele sorria dizendo calmamente.

    - Bakudou nº 61 Rikojou kourou.

    As seis travas de energia prendeu os dois, um de frente para o outro. O professor começou a reclamar e esse rapaz deu os ombros rindo. RINDO! Kurosaki empurrava seu peito furiosa e Sakai segurou seu pulso a puxando mais para perto dele, ignorando o choque da turma.

    JÁ CHEGA!!!

    Explodindo de ira sumi de onde estava e apareci perto dos dois. A minha reiatsu deslocava o ar assustando todos. Pouco me importei. Agarrei uma trava daquelas de reiraku e quebrei, desfazendo o kidou. Kurosaki e o moleque me encararam espantados e ouvi várias exclamações de choque, mas não me virei. Olhava para Kurosaki travando os dentes, porque se eu me virasse para o lado esganaria o nobre atrevido.

    - Hits.. Hitsugaya Taichou!

    O Professor ofegava. Ainda encarava Kurosaki que empalidecia numa velocidade assustadora e suspirei para arranjar um pouco de calma.

    - Posso tomar emprestada sua aluna, Yokomura? É de suma urgência.

    Sussurros ecoaram. Para completar, o sujeito que no momento eu queria matar, reclamou.

    - Mas o que isso? Agora os Capitães do Gotei vão invadir essa Academia quando bem entenderem?

    Um silêncio pesou e Kurosaki lhe deu uma olhada preocupada aumentando minha ira. Olhei para ele e engoliu em seco.

    - Não se meta, garoto. Sou o Capitão dela e se digo que preciso da sua presença é porque preciso, entendeu?

    Fiz um esforço tremendo ao dizer "garoto". Ninguém disse mais nada. Agarrei o pulso de Kurosaki ainda o encarando e sumi levando-a comigo. Só depois quando aparecemos num terraço à quadras da Academia é que percebi que nem esperei a permissão.

    - Taichou!!!

    A encarei e seu rosto se retorcia agoniado. Mirei para baixo e entendi. Ela tentava a todo custo se soltar da minha mão. Agarrava meu punho tentando afrouxar o aperto, mas não conseguiu. A força com que a segurava era ferrenha e também não pretendia soltá-la.

    - O que foi aquilo, Kurosaki?

    Ela me olhou confusa.

    - O que?

    - Você disse que aquele fedelho não sabia de kidou.

    Sua confusão aumentou e ofegava nervosa. Pela minha mão senti que estava tremendo.

    - Ele me enganou também. Taichou, por favor, está me machucando.

    Puxou o pulso, mas só me fez segurá-lo com mais força. Kurosaki sibilou me encarando apavorada.

    - Por que está fazendo isso?

    É mesmo. Por que cedi ao impulso de arrancá-la da Academia daquele jeito? Mas tudo o que me vinha era o moleque atrevido, os dois presos no kidou, o riso irritante dele.

    - Eu é que faço as perguntas. Onde esteve quando se atrasava por esses dias? E não me venha com a desculpa das aulas.

    Ela arquejou várias vezes finalmente parando de se mexer. Tentava a todo custo controlar essa fúria esperando a resposta. Quando ela encolheu os ombros me olhando com medo suspirei.

    - Estava com o moleque.

    Kurosaki arregalou os olhos. O vento que soprava sacudia nossas roupas e cabelos e como sempre, os dela estavam presos pelas fitas. Por que ela sempre os amarrava assim? Comecei a detestar as fitas também.

    - Eu precisava ensinar Sakai senão me prejudicaria.

    - Mas Sakai não precisava de ajuda.

    Devolvi seco.

    - Eu sei!!!

    Kurosaki gritou fechando os olhos enquanto via uma coisa que me gelou por dentro. Duas lágrimas brotaram e escorreram por seu rosto. Não...

    - Eu não tenho culpa, 'tá bom! Aquele cretino me enganou e eu nem sei porque! Talvez quisesse me humilhar ou brincar comigo, mas eu... Não tive culpa!!!

    Fiquei chocado, eu nunca a tinha visto chorar. Ela estava uma pilha de nervos e a culpa ser minha me mortificou. De repente, percebi que ainda agarrava seu pulso. O soltei e rápido o segurou com a outra mão apertando contra o peito. Por que?

    - Kurosaki...

    - Fica longe de mim!!!

    Parei no lugar e ela se afastou. Encarei seu pulso de novo. Será... Será que apertei tanto assim? Antes que perguntasse ela desapareceu com shunpo. Senti sua reiatsu e notei que ia para o esquadrão me deixando aliviado, mas só por um momento. Deus, o que foi que eu fiz?

    HITSUGAYA POF

    Ao chegar no esquadrão, Karin praticamente correu pelo caminho de cimento até a passarela que dava acesso ao alojamento. Os shinigamis se espantaram com o estado da garota, parecia que ela estava chorando. Matsumoto a viu passar e sorriu.

    - Karin-chan.

    A menina ignorou e a expressão animada da ruiva sumiu quando sentiu a reiatsu dela. Estava nervosa, abalada. Para aumentar a confusão, o capitão Hitsugaya apareceu na passarela. Ele andava apressado atrás de Karin e ignorou os cumprimentos dos subordinados. Alguma coisa aconteceu. Seguiu os dois a uma certa distância. Queria primeiro observar e entender o que houve.

    No corredor dos alojamentos Karin percebeu a reiatsu dele e rápido apressou o passo, praticamente correndo. Toushirou estava quase a alcançando quando encontrou um quarto e usando o shunpo entrou batendo a porta. Havia uma trava e puxou no instante que Toushirou iria abrir. Se afastou dela enquanto ouvia os baques na madeira.

    - Kurosaki, abra essa porta.

    Apertou os olhos se irritando e sentou no chão. Encarava seu pulso que arroxeava ignorando as batidas na porta. Ele que insistisse o quanto quisesse, não o deixaria entrar depois do que fez.

    - Abra. Eu quero falar com você.

    Suspirou de raiva enquanto lágrimas caíam grossas na sua calça vermelha. Pra quê? Para fazê-la chorar ainda mais? Toushirou deu outro soco na madeira mais forte que a fez pular. Esperou um grito ou então que arrombasse a porta. (Ele poderia muito bem fazer isso) No entanto, ouviu um pesado suspiro.

    - Perdão. Eu... Eu não queria abrir seu pulso outra vez.

    Pestanejou surpresa, como ele percebeu? Desde aquele dia no riacho seu pulso esquerdo doía de vez em quando. Então assim que Toushirou o agarrou, apertando-o com tanta força não conseguiu evitar o choro. Esperou ele dizer mais alguma coisa, no entanto ouviu outro suspiro.

    - Vou chamar Matsumoto para que dê uma olhada em você.

    Silêncio. Energia espiritual que emanava dele se afastou a deixando confusa e triste. Fungando, olhou para as mãos no colo, lembrando irônica do que pensou semana passada. Toushirou nem de longe parecia um príncipe encantado.

    KARIN POV

    Mais tarde quando finalmente tive coragem de sair do quarto, troquei o uniforme pelo quimono negro e fui até a biblioteca com Rangiku me observando preocupada. Ela foi ao quarto como Toushirou prometeu e quando mostrei meu machucado, seus olhos se arregalaram de espanto. Rangiku até me perguntou como consegui aquilo e não quem me fez. (Eram claro as marcas de dedos). Eu só dei os ombros e fingi que não escutei. No fundo eu sabia que o Toushirou iria me explicar porque ficou irado daquele jeito. Ele tinha que me explicar, me devia isso. Mas enquanto caminhávamos para o prédio, entreouvi os outros do esquadrão comentando que ele tinha saído sem se explicar para ninguém.

    Arrumávamos a pilha de papeis, separando nas devidas pastas quando tomei coragem.

    - Rangiku?

    - Hum?

    Ela estava concentrada, debruçada na mesa de trabalho. Abaixei os olhos e continuei.

    - Você sabe para onde o Toushirou foi? Todo mundo do esquadrão estranhou essa saída dele.

    A espiei e estava me encarando maliciosa. Ah, não. Vai insinuar que gosto dele de novo? Curvando os lábios, pôs um papel numa pilha olhando a mesa.

    - Não, mas...

    Seu tom me chamou atenção.

    - Mas...?

    - Renji e Ikkaku estavam aqui enquanto você descansava no quarto. Quem sabe os três não saíram juntos?

    Levantou o rosto erguendo a sobrancelha. Ah, entendi. Com certeza os dois o arrastaram para algum lugar. Sorri pegando uma pasta.

    - Toushirou é um cara certinho, não é?

    Rangiku riu e pôs a mão na cintura revirando os olhos.

    - A verdade? Eu nunca o vi beber sequer uma gota de saquê. Nem nos festivais, quanto mais tendo reuniões com os outros capitães. Kyouraku taichou até tentou fazer o capitão brindar na festa onde os capitães Hirako, Kensei e Rose assumiram os cargos. São os taichous do 5º, 9º e 3º esquadrão.

    - E claro que ele não bebeu.

    Rangiku segurou o riso.

    - Ficou tomando chá enquanto os outros se embriagavam.

    Podia até imaginar a cena. Os cinco sentados em almofadas no chão, com Toushirou os encarando atravessado tentando se manter alheio a conversa. Sabe lá o assunto que rolava entre eles, ainda por cima bêbados.

    - Bem. Acho que terminei por aqui. Karin-chan, você se importa se eu te deixar sozinha? É que preciso cuidar de uns documentos no gabinete.

    A encarei surpresa, que milagre. Sorrindo, neguei com a cabeça.

    - Tudo bem. Eu só irei guardar uns livros e já vou. Afinal, passou da hora de eu ir pra casa.

    Rangiku sorriu.

    - Arigatou, só não demore.

    - 'Tá.

    Terminei de ajeitar os papeis nas pastas - o que demorou um pouco - e fui até a terceira fileira de estantes, carregando uns cinco livros pesados. Pareciam tomos. Os coloquei numa mesinha que havia posto no vão e olhava as lombadas quando minha nuca ardeu. Girei assustada para trás e suspirei de alivio.

    - Taichou, não me assuste assim.

    Toushirou piscou com um ar mais calmo, ignorando minha reclamação.

    - O que ainda faz aqui? Seu turno já acabou.

    Com essa pergunta percebi que tinha relaxado. Eu estava preocupada com o que houve mais cedo e me tranquilizei que não tinha ficado um clima estranho. Pegando um livro o pus na sua prateleira.

    - Resolvi terminar de arrumar essa parte da biblioteca, então amanhã talvez eu termine o castigo.

    Ri sozinha e me virei dando de cara com Toushirou perto demais de mim. Pisquei muda e ele estreitou os olhos, risonho, me estendendo algo. Olhei para sua mão e segurava dois dos livros que estavam na mesinha.

    - Arigatou.

    - De nada.

    Me arrepiei com seu tom. Saí de perto andando até a outra extremidade da estante procurando a prateleira. Eu, eu ouvi bem? A voz dele estava mais baixa que o normal e parecia que queria me envolver inteira. Comecei a ficar nervosa, ciente que estava sozinha com Toushirou aqui.

    - Kurosaki.

    Chiei dando um pulo. Girando para trás o vi perto de mim outra vez e me espantei com o jeito que estavam seus olhos. Eles brilhavam travessos e o verde mais escuro que já vi. Engoli em seco.

    - Sim?

    - Desculpa por mais cedo. Não sei o que havia comigo.

    Se estava se desculpando por que o ar malicioso? Estava ficando cada vez mais nervosa.

    - Tudo bem. Não vai acontecer de novo, não é?

    - Com certeza.

    Se aproximou um passo e entrei em pânico. Sumi com o shunpo aparecendo na entrada. O que será deu nele? Ouvi um riso divertido da fileira de onde sumi, então o ar deslocou ao meu lado e pulei me afastando. Toushirou estreitava os olhos divertido com meu pânico.

    - Algum problema, Kurosaki? Parece nervosa.

    Recuei uns passos esbarrando nas mesas com ele avançando. Cada vez que chegava perto eu andava para trás.

    - Não, por que?

    Sorri nervosa, o divertindo.

    - Está dando mostras que quer fugir de mim.

    Bati o quadril no balcão e rápido ele apoiou a mão na madeira bloqueando o caminho para saída. Por que agia assim? Parecia um adolescente encurralando uma garota. Minhas bochechas pegaram fogo com a ideia.

    - Agora está vermelha. Você cora muito fácil, não é?

    - Um hum.

    O que eu faço? O que eu faço? O QUE EU FAÇO?

    - Posso fazer uma pergunta?

    Pisquei confusa notando que havia outras coisas estranhas nele. Seus cabelos estavam desalinhados, o cachecol quase caindo do pescoço e havia um cheiro diferente que não reconheci.

    - Por que sempre prende o cabelo?

    Pergunta estranha.

    - Por nada. Ele é comprido e acho melhor assim.

    - Devia soltá-lo.

    - Por que?

    Essa conversa cada vez ficava estranha.

    - Você deixava os cabelos soltos antes.

    O tom da voz ficou daquele jeito de novo, envolvente. Eu, que tinha relaxado um pouco, voltei a ficar nervosa e gaguejei.

    - É é é dif-f-ferente. Mal chegavam no meu queixo.

    - Verdade.

    Seu olhar vidrado abaixou e ofeguei, estava fixo na minha boca! Fugi para o lado que não tinha bloqueado com braço e senti mexerem de leve em meus cabelos. Parei sem acreditar quando eles caíram soltos nas minhas costas e envolta do rosto. Girei para trás e Toushirou admirava o que fez com fitas brancas enroladas no seu punho fechado.

    - Agora sim, bem melhor.

    - Por que fez isso?

    Levantando a sobrancelha, seu rosto tinha um ar debochado.

    - Porque odeio essas fitas.

    - Que motivo idiota, me devolve.

    Andei até ele e levantou o braço para o alto longe do meu alcance. Pulei para agarrar as pontas e rindo, Toushirou levou a mão às costas, andando para trás.

    - Para com isso. Não tem graça.

    - Claro que tem. E esqueça elas porque não vai tirá-las de mim.

    Suspirei de raiva.

    - É o que vamos ver.

    Usei o shunpo aparecendo nas suas costas, mas Toushirou girou o corpo e acabei batendo no peito ao me esticar para pegar as fitas. Seu braço livre enrolou na minha cintura me sustentando. Empurrei seu peito para me soltar e seu braço me apertou mais. Levantei a cabeça, a brincadeira esquecida ao ver o jeito como me olhava. O verde dos seus olhos ficaram mais escuros e os estreitava baixando o olhar devagar. Meu rosto a essa altura pegava fogo.

    - Realmente, seu cabelo é lindo.

    - O que?

    Toushirou me ignorou e se debruçou em mim. Num instante, tudo o que eu vi era sua bochecha a centímetros do meu rosto e depois senti seus lábios encaixarem nos meus, abafando seu gemido. Fechei os olhos com força com o coração disparado igual ao dele e sua língua passou entre meus lábios preguiçosa, invadindo e buscando pela minha. Abri mais os lábios estremecendo surpresa e Toushirou gemeu de novo junto de mim. O toque úmido e aveludado me arrepiou inteira. Seu braço na minha cintura me segurou mais firme e senti o ar deslocando a nossa volta. Um instante depois minhas costas se apoiaram na parede com seu corpo me prendendo. Ele estava totalmente colado em mim e me beijava devagar, como se estiver provando e gostando. Eu nem conseguia pensar, completamente dominada pela posse dele. Fazia questão que eu soubesse. Pela força que me agarrava, pelo jeito que tomava meus lábios nos dele conduzindo esse beijo e a língua que não parava de brincar minha.

    Quando ao ar faltou, Toushirou parou e inclinou a cabeça para o outro lado roçando os lábios nos meus, sem fôlego.

    - Você é minha.

    Acordei daquela névoa que tomava minha cabeça e o empurrei o pegando de surpresa, mas não sem antes segurar meu pulso. Não apertava, mas não largava. Foi quando notei o gosto estranho na minha boca. Arregalei os olhos tremendo.

    - V..v-você 'tá bêbado!

    - E qual é o problema? Não se incomodava ainda pouco.

    Me encarou sarcástico, tive vontade de me chutar. Puxei o pulso e como esperei segurava firme.

    - Me larga!

    - Não.

    Puxei com mais força, tentando afrouxar seus dedos com a outra mão. Ele ria de mim.

    - Me larga, Toushirou!

    - É Hitsugaya Taichou.

    Sua expressão era debochada e divertida. O ego dele inflado pelo o que acabou de acontecer. Com vergonha e irritada larguei seus dedos puxando o braço para trás, a palma reta e empurrei disparando uma bola de reiraku vermelha nele. Toushirou arregalou os olhos saltando para longe e o Shakkahou acertou a janela do outro lado. Se virou encarando surpreso o vidro queimado e depois à mim.

    - Você...?

    Suspirei tremendo de raiva e vergonha.

    - Se falar desacato ao Capitão, disparo outro e dessa vez acerto.

    Toushirou quase riu e inclinou a cabeça.

    - Não vai fazer isso, Karin.

    Ofeguei. Ele, ele disse meu nome. Toushirou esperou e antes que perdesse a oportunidade sumi dali. Corria para longe da biblioteca até o quarto onde estava meu uniforme e catei do cesto onde estava dobrado, saindo o mais depressa possível do esquadrão. Nem percebi que usei tanto o shunpo que tinha cruzado as cidades e estava no campo perto de casa. Parei, passando a andar abraçando meu uniforme. Meus cabelos esvoaçavam com o vento e escondi parte do rosto no tecido. Toushirou me beijou. Ele tava bêbado, mas me beijou e de uma maneira que tirou meu fôlego me deixando tonta. Provei os lábios e lembrei daquele sonho ridículo que tive com ele. Sorri boba. Meu primeiro beijo tinha o gosto de licor de menta.

    KARIN POF

    Hitsugaya estava sentado de cabeça baixa no balcão de informações. Lembrava da briga que se envolveu antes de vir ao esquadrão e olhou para as fitas enroladas na sua mão. Levantou a perna apoiando o cotovelo no joelho e trouxe as fitas para o rosto. Fechou os olhos sentindo o cheiro nelas e os abriu abaixando a mão. Piscou pensativo.

    - Chocolate.


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