A paixão do capitão de gelo

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    Capítulos:

    Capítulo 5

    You ou - A navalha de vento

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Dentro de cada shinigami existe um lugar que somente ele conhece e igualmente pode visitar. Ele possui diferentes formas de paisagens, desde cidades com arranha-céus deitados até um imenso lago com pilares de pedra.

    Esse lugar é onde residem as entidades das zanpakutous.

    KARIN POV

    - Os kidou de ataques, Hadou, possuem vários níveis de escala que vão do número 1 até a dezena de 90. Dependendo da canção...

    O professor Yokomura falava. As aulas de kidou eram sempre monótonas pra mim. Afinal de contas, Kuukaku me ensinou tudo o que ele dizia para a turma. Portanto, nem prestei atenção. Estava mais interessada no sonho esquisito que tive ontem. Era tão... Como posso dizer? Surreal.

    Flashback on

    Lentamente abri os olhos pensando que era outro dia, mas na verdade levei um susto. Invés das paredes lisas e floridas do meu quarto, encontrei um nada gigantesco coberto por nuvens de tempestade. Aqui era o céu? Olhei para baixo. Não, eu estava na verdade era na beira de um penhasco. Me afastei cautelosa, ainda encarando as nuvens quando ouvi um barulho, como algo imenso se dobrando e girei, em tempo de uma rajada de vento me acertar em cheio! Meus cabelos e quimono balançaram como uma bandeira num estandarte.

    Protegi o rosto com os braços e novamente aquele som voltou aumentando a força do vento. Meus pés foram se arrastando para trás, mesmo me inclinando firme no lugar. O som ecoou outra vez, mais alto deixando a ventania ensandecida. Pulei girando para trás, lembrando tarde do penhasco, mas não caí. Havia pousado numa pedra. Olhei em volta e estava em cima de um pico da montanha, com apenas trinta centímetros de espaço ao meu redor. O resto era apenas nuvens.

    Foi quando eu ouvi. Um grito agudo e potente.

    Me agachei na pedra, agarrando nas falhas para não cair quando aquele vento me acertou de novo e ao levantar a cabeça finalmente vi.

    No penhasco onde estava, na parte mais alta empoleirava-se um imenso animal. Entendi assombrada que se tratava de um falcão, cinzento como essas nuvens. A ave de uns 5 metros jogou a cabeça para trás soltando aquele grito. Meus olhos se arregalaram com a visão. A ventania que me açoitava... Vinha do bater de suas asas.

    Flashback off

    Pestanejei voltando para aula. Que sonho será que foi esse? Minha mente travava tentando entender. Sinceramente, devo ter assistido sci-fi demais.

    - Portanto, quem aqui sabe me dizer com que tipo de Hadou pode se criar um tiro de raios? Ah, senhorita Kasumiooji.

    Olhei para aquela loura. Ela sentava à quatro fileiras de mim, bem perto do professor. Ela estufou o peito orgulhosa jogando a cabeleira de milho sobre o ombro.

    - Hyapporankan.

    Me espantei, quase me entalando com o riso que me subia pela garganta. Ruka e suas outras amigas a elogiaram, até uns caras, como Sakai que se inclinou às suas costas dizendo algo para ela. A loura ficou toda sorridente junto com suas seguidoras sem perceber a decepção do Professor. Não aguentei. Soltei a risada atraindo a atenção de todo mundo. Ela se virou levantando a sobrancelha.

    - Qual é a piada, plebeia?

    Tentei me controlar.

    - Hyapporankan? Sério?

    Ela suspirou lívida de raiva aumentando meu riso. O Professor a essa altura ficou irritado.

    - Controle-se, Kurosaki. Senão vou mandar que saia da sala!

    - Isso, sensei. Pelo visto, essa plebeia não tem um mínimo de modos.

    Empinou o nariz. Todos que a adoravam - verdade seja, era linda como uma boneca - me encararam esnobes com certo desprezo. Não liguei. Enxugando as lágrimas de riso, levantei a sobrancelha.

    - Hyapporankan é um Bakudou, barbie. A resposta certa é Raikouhou, canhão do trovão, sacou?

    Levantei o queixo, sorrindo convencida o que a irritou junto com suas colegas. Já iria reclamar quando o Professor a interrompeu, admirado.

    - Corretíssimo.

    Seu tom atraiu atenção da turma e depois para mim. Sakai pelo visto ainda não se convenceu, continuou voltado na minha direção estreitando os olhos.

    - Como sabe disso, plebeia?

    Suspirei entediada.

    - É simples. Um dispara 100 barras de selamento que prendem o alvo. O outro ataca como um canhão disparando raios, milorde.

    Ele se entalou com o milorde. Dei os ombros me virando para o Professor que covardemente escrevia algo no quadro. Sempre era assim. Quando acontecia comigo agia como o cargo, mas se fossem os nobres era como se esquecesse do que acontecia a sua volta, se fingindo de surdo.

    - Kurosaki.

    Me virei espantada. Sakai tinha mesmo me chamado pelo sobrenome?

    - Foi assim que conseguiu a vaga no Gotei 13? Achei que kidou era uma das quatro técnicas de combate e não a única.

    Suspirei de raiva. Ele estava me provocando. Se tem uma pessoa que detesto mais do que a barbie, era Sakai.

    - Não te interessa.

    Virei para o quadro, segurando um jorro de ofensas. Sujeitinho desprezível!

    Na hora do intervalo, arrumei meu material e levantei passando a alça da bolsa. Alguns que haviam ficado pararam para me ver. Com certeza se perguntando porque eu matava aula. Tinha terminado de descer a escada quando ao me virar, barraram meu caminho. Parei de repente levantando a cabeça. O cara de cabelo castanho repicado que me irritou mais cedo me olhava cínico. Suspirei. De novo.

    - Sakai.

    - Aonde pensa que vai, pirralha? É muito cedo para ir embora.

    - Não é da sua conta. E não me chama de "pirralha".

    Tentei passar por ele e me bloqueou dando um passo. Olhei pra cima, me perguntando por cargas d'água esse nobre metido 'tava fazendo isso.

    - Sabe Kurosaki, às vezes fico me perguntando o que você tem haver com aquele ryoka.

    Pisquei confusa.

    - Ryoka?

    - Estou falando daquele shinigami daikou. Há uns cinco anos ele apareceu com mais três e um quincy. Causaram uma verdadeira confusão aqui em Seireitei.

    Fiquei surpresa. Os outros alunos estavam quietos ouvindo a conversa. Já sabia que algum dia me associariam ao Ichi-nii, mas não pensei que demoraria um mês. Pondo a mão na cintura, tentei ser a adulta ali.

    - Ele é meu irmão. Algum problema?

    Alguém exclamou, mas continuei encarando Sakai que levantou as sobrancelhas fingindo surpresa. Estúpido.

    - Ah, então quer dizer que você morreu recentemente.

    Como uma lâmina gelada, a palavra "morreu" me atravessou me deixando estática. Vendo minha reação, ele deu um passo se curvando somente para eu ouvir.

    - Não fique se achando a gênia por conhecer todo tipo de kidou, plebeia. Pessoas como você jamais serão iguais a nós.

    Engoli em seco e o encarei enquanto se endireitava sorrindo vitorioso. Eu queria chutá-lo. Não... Esmurrar essa cara convencida e perfeitinha até quebrar seu nariz. No entanto, como estava rodeada por testemunhas e ficando atrasada, passei trombando no seu braço espumando de raiva.

    KARIN POF

    No décimo esquadrão, o Capitão transitava pelos corredores do escritório fazendo algo que não era do seu feitio: procurando por uma ruiva irresponsável. Seus nervos estavam à beira de um stress.

    - Matsumoto.

    Resmungou. Ela não havia aparecido a manhã inteira, onde estava sua tenente? De repente, ouviu risos femininos vindo de uma porta, parou desconfiado. Foi até lá e deslizou de uma vez, arregalando os olhos.

    - O que significa isso?!

    A ruiva se virou com o barulho, quase derrubando o copo.

    - Taichou!

    Na sala de reunião estava havendo de fato uma "reunião". Os sofás estavam ocupados pela maioria das tenentes e algumas shinigamis que o encaram impassíveis. Hitsugaya sentia várias veias saltarem. Sem graça e risonha, Matsumoto tentou se explicar.

    - Ah... É que as convidei para um chá. O senhor não quer também?

    - Não vou tomar chá.

    Disse entre os dentes. Agora entendia o que Kuchiki Byakuya passava com a Sociedade Feminina de Shinigamis. Ela se levantou, alheia à sua raiva.

    - Ah, que isso capitão, Isane trouxe até uns doces. O senhor não quer?

    Sua paciência trincou. O que as mulheres notaram de imediato.

    - Todas vocês... SUMAM JÁ DAQUI!!!

    O grito foi ouvido por todo esquadrão.

    HITSUGAYA POV

    - Taichou, não precisava ter feito aquilo.

    Matsumoto me olhava cheia de vergonha, piscando os olhos inocente. Como se isso fosse me convencer.

    - Não precisava? Aqui é um escritório! Se forem fazer suas reuniões, que seja em outro lugar!

    Ela se encolheu. Estávamos no meu gabinete depois que expulsei todas aquelas mulheres. Francamente, ainda por cima me olharam como se fosse um crápula!

    - Mas capitão... Só vieram fazer uma visitinha.

    Estreitei os olhos.

    - Todas ao mesmo tempo?

    - Bem...

    Ela olhou para alto disfarçando, girando os polegares. Apertei os punhos, enquanto a raiva explodia.

    - MATSUMOTOOOOO!!!

    HITSUGAYA POF

    KARIN POV

    Quando cheguei no esquadrão, a frase que aquele cara me disse ecoava nos meus ouvidos. E daí se morri faz pouco tempo? Por acaso é da conta dele? Sakai só estava se roendo de raiva porque o fiz passar vergonha junto com sua "amiguinha". Estava andando distraída pelo caminho de cimento quando ouvi um grito. Era... Era Rangiku? Corri na direção parando em frente à um prédio com varanda a tempo de ouvir.

    - Calma, taichou.

    - NÃO ME PEÇA PRA TER CALMA, MATSUMOTO!

    Me espantei. O que será que ela fez que deixou o Toushirou bravo? Atravessei o gramado subindo os degraus até entrar no escritório do capitão. Segui no corredor parando em frente a uma porta. Deslizei timidamente e me tremi de medo.

    Rangiku estava atrás do sofá, encolhida no chão enquanto do outro lado do escritório, Toushirou emanava uma pressão espiritual congelando o chão onde pisava. Pelo barulho da porta os dois se viraram. Antes que eu desse meia volta e fugisse, Rangiku se levantou e com o shunpo apareceu atrás de mim, me empurrando.

    - Karin-chan! Vamos, entre, não fique com vergonha.

    - Mas vocês...

    Dei uma olhada em Toushirou. Ele suspirava controlando sua reiatsu e o chão voltou ao normal. Caramba, nunca quero deixar ele bravo. Rangiku ao me sentar no sofá nem parecia que estava levando uma bronca.

    - Você não devia estar na Academia a essa hora?

    Pôs as mãos na cintura. Abri a boca pra explicar, mas Toushirou me interrompeu.

    - Ela foi dispensada, Matsumoto. Não lembra que falei sobre isso outro dia?

    - Ah, é mesmo. A partir de agora você vai ficar aqui todas as tardes, não é?

    - Sim.

    Ela sorriu e depois franziu a testa virando-se para Toushirou.

    - Taichou, será que não tem problema?

    O olho dele tremeu. Tinha que admitir. Ela tem coragem pra irritá-lo mesmo sem querer.

    - Não. Como parte do esquadrão as notas vão ser creditadas.

    - Creditadas...

    - Com o relatório que você irá fazer.

    Ela abriu a boca chocada.

    - Mas capitão!

    - Não discuta. Já basta o que você fez hoje.

    Com essa Rangiku fechou a boca. Toushirou então olhou para mim e seu olhar foi de cima abaixo me dando um frio na barriga e as bochechas coradas.

    - Além disso, precisa arranjar um uniforme para ela. Kurosaki?

    - Sim?

    Por que a voz dele ao falar comigo me deu um arrepio?

    - Vamos continuar com a aula de ontem.

    - Aula?

    Eu não chamaria aquilo de aula, tinha levado uma surra. Se aproximando, ele continuou alheio ao olhar surpreso da Rangiku.

    - Precisa melhorar muito em Zanjutsu pelo que notei ontem e a propósito, vou te treinar em Hohou também.

    - Nani?!

    Nós duas gritamos. Ele apenas me encarou impassível. Ah, droga! Estava mesmo falando sério. Piscando ainda sem acreditar, Rangiku me levantou, puxando para a porta.

    - Vamos Karin-chan. Vou te arranjar logo o uniforme.

    - Matsumoto.

    - Hai, taichou.

    Ela olhou sobre o ombro, nos fazendo parar.

    - Depois vão ao campo de treinamento. Estarei esperando lá.

    Meu queixo caiu. Já?

    Ela deu um risinho, mas ainda tão surpresa quanto eu.

    - Claro. Vem, Karin-chan.

    - Tá.

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    As aulas com Toushirou eram no mínimo maçantes. Ele me forçava a usar técnicas como ficar parada no ar usando reiraku, lutar com o shunpo e nas últimas aulas me deu uma zanpakutou comum, uma asauchi. Lembro da vergonha que senti quando ele me contou.

    "- Não sabia? Asauchis são entregues aos shinigamis quando entram na Academia. É um espanto que não tenha ganhado uma"

    O olhar incrédulo dele foi o que mais me mortificou. Bom, devido ao meu tamanho (que saco), decidi carregar minha zanpakutou nas costas. A correia que segurava a bainha era feita de uma corrente dourada,  entremeada de nós bem bonita que comprei numa loja em Seireitei.

    Depois de duas semanas treinando meu desempenho melhorou muito e bem, a barbie e Sakai pegaram mais no meu pé. Viviam especulando como foi que eu morri e em contrapartida, me controlava para não pular em cima deles e esganá-los. No fundo, eu ficava triste, mas não iria demonstrar. Um dia na sala de treinamento da Kuukaku, antes de ir para a Academia adormeci depois de treinar com a zanpakutou e novamente tive aquele sonho.

    Ao abrir os olhos me vi naquele mesmo penhasco, só que dessa vez estava claro, como se tivesse amanhecido. Ouvi o bater de asas e logo me protegi fechando os olhos, mas a ventania não estava me jogando. Ela me envolvia.

    Baixei os braços relaxando enquanto olhava em volta. Meu cabelo e quimono dançavam com a brisa forte, girando em volta de mim. Comecei a rir.

    - Acha então isso engraçado, garota?

    Uma voz potente de tenor me perguntou. Girei procurando em volta em posição de defesa.

    - Q.. quem falou?

    - Eu.

    Me voltei para voz e me espantei. Em cima de uma rocha à minha direita, o Falcão imenso estava empoleirado olhando para mim e de um jeito especulador.

    - Quem é você?

    Curvando a cabeça, sua voz ecoou sem mexer o bico.

    - Quem sou eu?! Que pergunta tola, garota! Sou eu.

    Franzi as sobrancelhas. Certo, já vi que essa conversa vai ser difícil. Dei uma olhada em volta. O céu estava num tom amanteigado com as nuvens soprando ora pra direita ora pra esquerda. Como se o vento fosse errante aqui. Me voltei para o falcão gigante.

    - Que lugar é esse?

    Ele se esticou girando a cabeça como fiz para observar ao redor. Agora que notei, a plumagem era de um azul cobalto até se acinzentar para o resto do corpo.

    - Aqui é como o topo do mundo, onde os ventos percorrem livres na imensidão dos céus.

    - Isso não responde à minha pergunta.

    O falcão me encarou.

    - Garota, estou dizendo como é o interior da sua alma.

    Arregalei os olhos.

    - Interior do quê?

    Se falcões pudessem revirar os olhos, aposto que esse faria. Ele cravou mais suas garras na pedra e se inclinou para frente, mais perto de mim.

    - Não seja ingênua. Ainda não notou que tenho falado com você?

    Com seu olhar interrogador me lembrei. Ultimamente ando escutando uma voz. Confiante e segura como uma autoridade.

    - Pelo visto entendeu.

    Voltou a se endireitar na pedra e bateu as asas, imensas e negras como os meus cabelos. Ao pousar diante de mim o vento girava a nossa volta, sacudindo minhas roupas e suas penas, então tive um estalo de compreensão. Dei um passo, pasmada.

    - Não me diga que você...

    O falcão estreitou os olhos. Parecia que estava sorrindo e estufou o peito.

    - Exatamente. Agora sim posso te dizer.

    Acordei.

    Alguém me balançava pelo ombro. Me virei para a pessoa e tomei um susto. Eram um daqueles gêmeos grandalhões.

    - Karin-dono!

    - Ahhhhh! Não faz mais isso.

    Puxa vida, meu coração quase pula pra fora do peito.

    - Karin-dono! Você está atrasada para aula. Kuukaku-san está muito irritada.

    Alguém me balançava pelo ombro. Me virei para a pessoa e tomei um susto. Eram um daqueles gêmeos grandalhões.

    - Karin-dono!

    - Ahhhhh! Não faz mais isso.

    Puxa vida, meu coração quase pula pra fora do peito.

    - Karin-dono! Você está atrasada para aula. Kuukaku-san está muito irritada.

    Arregalei os olhos. Kuukaku? Irritada comigo? Me levantei indo direto pro banheiro, tomando o banho mais rápido que fiz e me vesti apressada. Droga de roupa complicada. Tinha me enrolado com a blusa do quimono.

    - Karin!!!

    Parei olhando para a porta. Kuukaku estava me chamando e pelo seu tom eu iria ganhar minha primeira surra. Ajeitei rápido a roupa, peguei minha mochila e abri a porta. No instante, que pisei no corredor usei o shunpo sumindo antes que ela me flagrasse. Vê-la castigando o Ganju doía só em ver, imagina levar uma rajada de fogo dela. Seu punho tinha um bocado de força.

    Atravessei de Rukongai à Seireitei nuns poucos passos, mas quando cheguei na porta da Academia o guarda me barrou.

    - Mas como assim? São só uns 10 minutos!

    - Regras são regras. Lamento.

    Bateu a portinhola na minha cara. Fiquei com raiva e dei um chute no portão, fazendo os guardas o abrirem com aquela lança prateada esquisita nas mãos. Não esperei. Me xingando pela estupidez sumi com o shunpo aparecendo a três quadras dali. Bom, já que não tenho mais nada para fazer fui me trocar numa loja (depois de implorar pra uma senhora gentil) e saí de quimono negro até o 10º esquadrão. Estava andando tranquila quando de repente, levei um chute no estômago.

    Isso mesmo. Um cara do nada apareceu na minha frente e me chutou. Nem tive tempo de reagir, fui jogada direto para umas caixas. Tossindo sufocada fui me levantando e senti algo distender no abdômen. Chiei enquanto cinco sombras pararam na minha frente.

    - Yo, pirralha.

    Gelei. Olhei pra cima e vi o brutamontes barbudo que topei outro dia. Seus amigos também estavam ali. Ah, merda! Me levantei devagar tentando esconder a dor. O chute tinha me machucado e muito.

    - Ando te procurando faz duas semanas, sabia? Meu braço ainda doí.

    - O que você quer?

    Observei em volta disfarçadamente procurando uma rota de fuga. Se eles me atacarem, não daria conta sozinha. Estreitando os olhos ele deu passo, enquanto recuei outro.

    - O que eu quero? Me vingar pelo o que me fez e como não se pode fazer isso abertamente entre esquadrões, proponho uma coisa, pirralha.

    Engoli em seco. Pelo o que entendi ele não poderia me bater (apesar de já ter feito isso), mas mesmo assim, a outra escolha seria melhor pra mim?

    - E o que é?

    - Como é atrevida. Vamos fazer um duelo, assim resolve o problema.

    - Duelo? E de que tipo de problema você tá falando, idiota?

    O olho dele tremeu, irritado tentou me agarrar pela gola, mas pulei para longe. Antes que fugisse, porem, um dos seus colegas apareceu atrás de mim e me segurou pelos ombros. O barbudo andou espumando até onde eu estava.

    - De honra, moleca. Eu não aguento mais ser lembrado como aquele que apanhou de uma garota!

    Arregalei os olhos, não tinha outra escolha.

    KARIN POF

    Na arena que ficava entre o 9º e o 10º esquadrão vários shinigamis se juntavam para ver a luta que prometia ser no mínimo boa. Umesada Toshimori do nono bantai havia desafiado uma garota do décimo bantai. Ela devia chegar a altura do peito dele, mas corriam os boatos de que foi ela que quebrou o seu braço e de ter sido essa a razão do duelo. Alguns tenentes vieram também assistir e sem surpresa, Kyouraku taichou, Zaraki Kenpachi e aqueles dois inseparáveis Madarame Ikkaku e Ayasegawa Yumichika estavam ali. Eles tinham certa curiosidade. Afinal, a garota era irmã de Kurosaki Ichigo.

    Karin olhou em volta, sentindo um frio na espinha. Não temia multidões, mas não estava ali por vontade própria. Tomara que Toushirou não saiba disso. Mas no fundo ele ia saber, olha quanta gente tinha ali!

    - Hei, pirralha.

    Se virou para o sujeito que a enfiou nesse rolo.

    - O que é?

    - Que tal fazermos uma aposta?

    Estreitou os olhos, ele estava sorrindo cínico.

    - E o que seria?

    - Se eu ganhar, você me servirá como uma empregada por uma semana fazendo o que eu quiser.

    Se entalou enquanto esse sujeito ria divertido. Não mesmo!

    - E se eu ganhar, você andará por uma semana como uma gueixa pelas ruas de Seireitei, bigode.

    Ele parou de rir e sacou a zanpakutou.

    - Feito.

    Todos perceberam que ia começar e então logo de cara, ele gritou:

    - Queime!

    Não escutou o nome da sua Shikai. Uma labareda de fogo desferia contra ela.

    Enquanto isso, no escritório do décimo esquadrão, Toushirou escutava aquela algazarra. Como se não bastasse Matsumoto ter fugido para ver o bendito duelo, a maioria dos seus subordinados estavam agitados comentando a respeito. Nos corredores havia tanta movimentação que sequer conseguia se concentrar no trabalho. Largou os documentos e saiu do gabinete, calando meia dúzia de seus soldados que rápido voltaram aos afazeres. Bufou e foi andando até sair do prédio dando uma volta pelo esquadrão.

    Por onde passava, só os comentários do duelo, mas quando chegava perto rápido mudavam a conversa. De repente, escutou enquanto atravessava uma passarela.

    - Tem certeza disso?

    - É claro que sim. Kurosaki está brigando com aquele gorila do Umesada.

    - O que disseram?

    Se virou para os dois, que deram um pulo assustados

    - Hitsugaya taichou!

    - Repita o que disse.

    Engolindo em seco ele falou.

    - Kurosaki Karin está na arena entre os esquadrões nono e décimo senhor, duelando com Umesada.

    Não disse mais nada, mandou que os dois se retirassem e foi para arena. Ela era louca. Não, ele era louco de confiar que ela não se metia mais em confusão. Umesada era um idiota estúpido, mas um idiota com grande poder. O que Kurosaki poderia fazer se sequer pode liberar uma Shikai?

    Na arena, ela se desviava com dificuldade dos ataques. A zanpakutou daquele brutamontes atirava labaredas de fogo como chicotes. Se um deles a acertasse, queimaria sua carne em segundos.

    - Vamos, pirralha! Não ia me fazer vestir de gueixa?

    Ele debochou a irritando, então sumiu com o shunpo aparecendo na sua esquerda. Karin sacou a espada girando e rebateu para cima, fazendo ele recuar e ela também. Que força! A lâmina em brasa soltava suas fagulhas e tinham caído um pouco nas suas costas. Ardiam e doíam, aquele chute na barriga também machucou. Já estava em dificuldade de mexer mais rápido. Então, ele deu um golpe da zanpakutou, a corrente de fogo chicoteando na sua direção quando de repente, um calor infernal surgiu às suas costas. Olhou sobre o ombro e tinha outra labareda. O que?!

    Só teve tempo de saltar, girando em torno de si desviando e os chicotes explodiram. O estrondo animando a plateia e quase a queimando. No meio da fumaça escutou aquele imbecil dizer.

    - Ei, moleca! Mal posso esperar quando for me chamar de mestre!

    Soltou aquele riso nojento. Karin se inflou de raiva, ele ia engolir o que disse.

    Do outro lado na plateia, Toushirou apareceu perto de dois capitães fazendo Ikkaku, Yumichika e Abarai se espantarem. Ele era a última pessoa que pensariam que aparecesse, mas Kyouraku e Kenpachi nem se importaram. O capitão de chapéu de palha se curvou ao sorrir.

    - Oh, Hitsugaya taichou, veio assistir também?

    Toushirou só olhou sério.

    - Vim evitar o pior. Onde está Kurosaki?

    Kenpachi apontou com o queixo para a nuvem de fumaça.

    - A pirralha acabou de levar um golpe da zanpakutou daquele sujeito. Humpf! E achei que fosse tão boa quanto o irmão.

    Toushirou encarou a fumaça sem acreditar, o que ela tinha na cabeça? Já ia entrar na arena quando ouviu.

    - Bakudou nº4, HAUNAWA!

    Um raio de reiraku amarelo atravessou a fumaça na direção de Umesada, que desviou fácil e deu golpe da zanpakutou.

    - Acabou, pirralha!

    O chicote de fogo cortou a fumaça em dois, abrindo um sulco chamuscado. Mas ao se dissipar não havia nada. Ele ficou confuso. Toushirou estreitou os olhos e mirou para a esquerda, no mesmo instante em que Karin apareceu girando, dando um chute nas costas de Umesada. A surpresa dele foi ridícula quando voou para o outro lado da arena.

    - Oh!

    Kyouraku fez. Antes que acertasse a parede Umesada girou e disparou várias bolas vermelhas.

    - Shakkahou?

    Renji perguntou. Ikkaku estalou a língua.

    - Kidou numa luta de duelo. Qual é a graça nisso?

    Toushirou não disse nada. Observava Karin se desviar fácil simplesmente se esquivando. Pelo seu olhar, estava séria. A raiva e preocupação que sentia estava dando lugar para curiosidade e algo mais...

    Umesada tomou impulsou e usou novamente o chicote de fogo. Antes que atingisse ela girou e correu para o oponente. Segurando a zanpakutou com o braço esticado para o lado ela começou a girá-la entre os dedos e torceu punho, passando para a outra mão.

    - Bata suas asas...

    Arregalou os olhos. Ela estava fazendo o que achava que iria fazer?

    - YOU OU!!!

    Uma ventania começou a soprar. Forte e uivando como se uma tempestade chegasse. O vento girava para zanpakutou dela, que brilhou crescendo enquanto Karin não parava de girá-la. A ventania que sacudia e levantava poeira não a incomodava. Pelo contrario, ela saltou parando o giro e desferiu o golpe. Uma pressão de ar, criando uma lâmina de vento atravessou a arena. Todos cobriram os olhos com as mangas do quimono. Ao abaixarem, a exclamação foi geral.

    Umesada sangrava de um talho profundo no peito. Seu quimono rasgado pela metade.

    - Impossível.

    Alguém disse. Toushirou já sabia o que aconteceu. Karin não o tinha acertado, ele conseguiu se desviar. No piso da arena, os blocos de concretos estavam quebrados por uma rachadura de 3 metros comprimento.

    - Se tivesse sido em cheio ele viraria dois.

    Ikkaku comentou admirado e gostando. Todos olharam para garota parada no ar. Ela segurava uma espada cinzenta pelo meio, mas as lâminas das duas extremidades não era proporcionais. Uma era mais comprida que a outra. A zanpakutou era do tamanho da garota, que por acaso encarava com ódio o sujeito ensanguentado.

    - Quem vai te chamar de mestre, imbecil?

    Ela sumiu, surgindo diante de Umesada e desferiu um golpe que rápido o sujeito bloqueou. Sem dar tempo de reação, Karin passou a lutar manejando sua Shikai como se fosse um bastão, ora uma lança e se aproveitava do seu tamanho, entrando no espaço entre a espada do oponente, dando golpes.

    - Ela briga bem. Quem é o mestre da pirralha?

    - Eu.

    Todos olharam admirados, quase em choque para ele. Toushirou os encarou atravessado se irritando.

    - Algum problema?

    - Não, Hitsugaya taichou!

    Cruzou os braços prestando atenção na luta. Era tão absurdo ser o Mestre de Kurosaki? No entanto, não podia evitar sentir orgulho, ela realmente estava lutando bem. De repente, ela levou um golpe na região do estômago, fazendo-a voar para o outro lado da arena. Umesada ria já preparando o ataque de fogo. Ela apoiou a mão no ar freando e jogou a zanpakutou para o alto. Por que ela fez isso?

    - Ficou louca, garota?

    Umesada gritou e chicoteou a labareda. Iria acertá-la em cheio. Ainda de costas ela mexeu o braço em arco para trás e uma rajada de vento cortou a labareda. Toushirou estreitou os olhos, finalmente confirmando. Na mão esquerda dela havia uma wakisaki (katana pequena). A outra Katana ela pegou com a mão livre quando esta caiu. Dando um chute em Umesada, ela juntou as espadas pelos punhos e lá estava a zanpakutou que viram antes. Desaparecendo no shunpo ela surgiu do lado de Umesada, a lâmina pressionando o pescoço dele.

    O sujeito estremecia de medo. Dando um sorriso, Kurosaki falou.

    - Perdeu. Uma semana vestido como gueixa, idiota!

    Toushirou quase riu. Ela nem faz ideia... Que se tornou uma dos três únicos shinigamis... Que possuem suas zanpakutous em pares de toda Soul Society.


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