Necromante - Os Deuses da Morte

Tempo estimado de leitura: 3 horas

    14
    Capítulos:

    Capítulo 9

    Aflição

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Violência

    Yooo,

    Acredito que Necromante chegou em sua metade

    Então, se vocês são minimamente bons em matemática e sagazes, da para meio que saber que terá por volta de 20 capítulos

    Boa leitura ^^

    O exército de mortos seguia rumo ao reino de Condar. Por onde passavam, o rastro de destruição era deixado. Não importava se eram animais ou pessoas, qualquer coisa que se moviam na frente deles eram atacados e mortos imediatamente. Assim sendo, qualquer vila que tivesse o azar de estar no caminho, era completamente dizimada, e, por não estarem esperando algo deste tipo, os moradores pareciam facilmente. Morrigan aproveitava-se disso para aumentar ainda mais seu exército com os homens que julgava ser mais forte, porém ele sentia que não aguentaria reviver muitos mais, pois seus poderes de comandar os mortos estavam chegando ao seu limite.

    No centro deste vasto exército, encontravam-se os Deuses da Morte e a refém. Todos eles estavam montados em diferentes cavalos de ossos. Os únicos que não se encontravam presentes eram Hades — provavelmente ela estava esgueirando-se nas trevas ao redor — e Desordem, que a mando de Morrigan havia voltado para sua terra desolada para esconder-se e esperar até o momento que fosse conveniente. Molly estava com uma expressão de desagrado, como sempre. Thanatos e Hela estavam em silêncio, enquanto Aisa havia começado a reclamar de que sua bunda estava doendo depois de dois dias de viajem.

    — Certo, Aisa, na próxima vila que encontrarmos, nós paramos por uma noite para descansarmos — assegurou Morrigan, já não aguentando mais ela reclamando.

    Satisfeita, Aisa parou de reclamar, mas não de falar.

    Perto do cair dá noite, o exército de mortos encontrou uma vila em seu caminho. Ordenados a matar qualquer coisa que se mexia, os esqueletos e mortos-vivos adentraram na vila e começaram a chacinar as pessoas que ali viviam. Crianças foram abatidas sem nenhuma dificuldade, assim como homens e mulheres sem experiência em luta. Haviam, porém, poucas pessoas que demonstraram resistência a investida impetuosa dos esqueletos, conseguindo até mesmo derrotar alguns. Para confrontá-los, os esqueletos começaram a reunirem-se aos montes e atacá-los ao mesmo tempo, e os humanos restantes começaram a sucumbir gradativamente ao mar infinito de esqueletos.

    Antes mesmo que os Deuses da Morte adentrassem na vila, o massacre já havia terminado. Havia destruição e focos de incêndio acolá, contundo não havia corpos espalhados no chão, apenas seu sangue. Os esqueletos, onde em suma maioria estava agora ao redor da vila, haviam levado os corpos para a longe dali. Apesar de particularmente não se importar, Morrigan ordenou que os mortos ao seu comando levassem os corpos para longe, pois Hela e Aisa eventualmente começariam a reclamar do mau cheiro.

    Ansiando uma cama para dormir, Aisa invadiu uma bela e relativamente grande casa. Subiu as escadas e dirigiu-se até duas portas de um quarto. Ao abri-las, deparou-se com Morrigan deitado na cama com Hela sobre ele, e ambos estavam com o torso nu.

    — Desculpa incomodar os dois — disse Aisa.

    — Se quiser, pode se juntar a nós, Aisa — propôs Hela, com voz aveludada.

    — Não, não... Eu passo.

    — Aisa, não precisa ter vergonha de seu corpo — assegurou Morrigan, com a voz tão firme quanto seu olhar. — A cicatrizes em seu corpo só dizem que, além de bela, é forte.

    — Fico feliz que meu Rei achei isso de mim.

    Esboçando um sincero sorriso, Aisa fez uma reverência e saiu fechando as portas.

    Ela desceu a escada e saiu da casa. Do lado de fora, encontrou Molly, a refém, sentada perto de uma fogueira, aquecendo-se do frio. Não muito distante dela, escorado em muro, estava Thanatos com sua espada repousada sobre o peito; aparentemente estava cochilando. Alguns esqueletos e mortos-vivos circulavam a área, mas a grande maioria estava fora da vila.  Aisa sentou no toco perto da fogueira, sendo que Molly ficava do outro lado das chamas. Molly, que estava inerte em seus pensamentos enquanto fintava o fogo, subiu seu olhar e encontrou Aisa esboçando um gracioso sorriso para ela.

    — Você... parece ser diferente — indagou Molly. — Por que está com eles?

    — E por que você acha que sou diferente? — retrucou Aisa parecendo estar interessada.

    — Seu jeito. Você é... radiante.

    Isso fez Aisa rir.

    — E é apenas isso que me diferencia desse bando de sem graça. — Aisa ergueu os braços. — Minhas mãos são tão sujas de sangue quanto a deles. Sou vista como aberração tanto quanto eles. — Ela aproximou as mãos para perto das chamas. — Todos nós temos histórias até chegarmos aqui, neste momento de certa calmaria.

    — E qual é sua história, feiticeira? — Molly também aproximou as mãos das chamas.

    — Tudo começa do início, no exato momento que nasci feiticeira. Mas admito que tudo piorou depois que matei meus pais. — Aisa deu de ombros, e apontou com a cabeça para Thanatos. — Ele era um honesto e bom comandante. Hades, ela era...

    — Prefiro que não conte sobre mim, Aisa — interrompeu Hades. Ela emergiu das sombras ao lado de Thanatos, deixando apenas sua máscara branca para diferenciá-la da escuridão.

    — Certo, certo. Me desculpa, domadora das sombras.

    — E você também não pediu permissão a mim — indagou Thanatos.

    — Ora, me desculpa, exímio espadachim. — Aisa deslizou a mão pelo corpo e olhou maliciosamente para ele. — Devo receber punição por isto?

    — Humpf. Depravada.

    Junto com a risada de Aisa, veio o riso de Hades abafado pela máscara e o curto sorriso de Thanatos. Ao perceber que também sorria, Molly rapidamente o desfez. "O que estou fazendo?", pensava ela, "eles dizimaram o reino de Talles e mataram todos dessa vila. Por que eles parecem... tão normais?"

    — E você, Molly? Qual é sua história? — perguntou Aisa, com seus olhos castanho-claros penetrantes.

    — Eu... — Molly hesitou. Ela não precisa falar, mas era estranho a vontade que sentia de querer falar. — Meus pais foram mortos por gatunos quando eu tinha apenas oito anos.  — Deu de ombro em um sorriso triste. — Tento sobrevier até então, agora em meio a cinco assassinos e um grande exército de mortos.

    — Não muito diferente de um de nós — observou a feiticeira em um sussurro.

    Com o clima estranhamente pesado, nada mais fora dito entre eles naquela noite estrelada e fria.

    ***

    Konn, o rei de Condar, estava angustiado em seu trono. Já iria completar dois dias que seus comandantes, Cletus e Lance, enviados a Talles para recuperar o reino não mandavam mensageiros, sendo que o combinado era um por dia.

    Extremamente preocupado, o rei apertou dois de seus dedos contra a têmpora direita.

    Se seu exército e seus dois comandantes realmente haviam perecido diante o tal Rei Morto, o necromante, a situação era mais crítica do imaginava que seria. Konn havia notado agora no que acabara de fazer: enviou muitos possíveis soldados para o necromante. O grupo que o seguia, que até então só sabia que era composto por uma bruxa e dois prisioneiros nível SS, dos níveis mais perigosos; fora capaz de subjugar um dos maiores reis que já existiu, Oros. Konn sabia que seu antigo amigo estava enfraquecido, assim como seu reinado em si, talvez tenha sido esse o motivo que levou o necromante a escolher aquele reino como primeiro alvo.

    Puxado de seus devaneios, ele escutou passos aproximando-se deles. Seu servente entregou-lhe uma taça de vinho com uma bandeja de frutas, e o rei agradeceu. Konn pediu ao servente para que seu conselheiro de guerra comparece a sala do trono.

    Bebericando de seu vinho e beliscando as frutas frescas, o rei Konn aguardou calmamente até a chegada de seu conselheiro. Passaram-se alguns minutos, mas enfim Nalaf, o conselheiro de guerra do reino de Condar, adentrou na sala. Era um velhote bem esguio, com uma barba volumosa e branca que descia até o peito, e os cachos de seu cabelo branco recaiam sobre os ombros. Em seu manto acinzentado, havia um broche pontiagudo com as cores do reino de Condar, o que lhe provava o status de Conselheiro de Guerra.

    — Nalaf, preciso que você seja sincero. — Konn fintou seu súdito. — Acredita que Cletus e Lance falharam na tentativa de matar o necromante e seu grupo?

    — Meu Senhor, as chances são altas que eles tenham falhado, temo eu — afirmou o conselheiro. — Perdoe-me minha audácia, mas, para antecipar o máximo nossas conclusões, enviei alguns soldados para Talles, e, caso eles não voltem até amanhã, a certeza da derrota é adquirida.

    — Fez bem, Nalaf — assegurou o rei.

    — Além disso, meu rei, nosso adversário é um necromante poderoso. Há anos que não temos notícias referentes a esta raça podre. E, bem... se nosso exército foi exterminado por ele...

    — Também será revivido por ele, sim, eu sei. — Estressado, Konn fechou os olhos e apertou os dedos contra a têmpora novamente. — A situação não está nem um pouco ao nosso favor.

    — Contudo, podemos ganhar ainda, com toda certeza. Nossos soldados são bons, assim como nossos comandantes e... aliados. — Nalaf pigarreou antes de prosseguir: — Com sua permissão, posso solicitar reforços de nossos aliados. De fato, nossos soldados que ficaram aqui para defender o Reino com certeza seriam capazes de o fazê-lo contra ataques de outros reis, mas não neste caso.

    — E você acha que eles enviarão forças o suficiente com apenas minhas palavras? Sem nenhum contado visual até mesmo meu?

    — Terá que bastar, senhor. A lógica é bem simples: se a ameaça for real e nosso reino for dizimado, os deles serão os próximos.

    — Faça isso então, Nalaf. Dou-lhe minha permissão.

    O Conselheiro de Guerra fez uma reverência e saiu o mais rápido que suas pernas velhas deixavam.

    Enfim o amanhã chegou, porém os soldados enviados por Nalaf não. Com a certeza que seu exército sob o comando de seus comandantes havia perecido, ficou entristecido com tanta morte de seu povo. A morte do comandante Cletus foi a que ele mais sentiu, pois conhecia ele desde jovem, vendo-o evoluir até chegar a sua atual patente. Isso fez o desejo de vingança em Konn aumentar ainda mais. Além disso, seu orgulho agora estava em jogo também.

    De imediato, os muros que cercavam Condar começaram a ser fortificados. Soldados foram dispersados por todo o perímetro que cerca o reino para vigiá-lo. Em cima dos muros, arqueiros ficaram a postos dia e noite em caso de invasão. E os soldados por de dentro do muro sempre deveriam estar prontos para entrar em guerra, com suas armas afiadas e armaduras incólume.

    Graças a estes procedimentos, a população de Condar começou a ficar aflita. Era óbvio que a guerra aconteceria. Eles não poderiam deixar o reino sem a permissão do rei, porém, salvo mulheres e crianças.

    Cerca de uma semana depois, reforços aliados começaram a chegar ao reino. Soldados de Turnn, Orin e Malinear começaram a familiarizar-se com os de Condar, diminuindo a tensão de cada um. Com isto, o número de soldados em Condar poderia facilmente chegar a dez mil, podendo até mesmo ultrapassar a isto.

    O Rei Konn, experiente por travar diversos embates, sabia que nem só de números, estratégias e competência se ganhava uma guerra. Se ela se estendesse por dias, ele também deveria contar com alimento e na forma de como tratar os feridos. Por causa disto, ele temia em muito o exército de seu inimigo. O Rei Morto comandava uma companhia inteira de seres que não precisavam comer e curar feridas. Não se preocupavam em morrer, não tinham medo. E, o pior de tudo, eles respondiam a apenas uma mente. Konn tinha muitos motivos para temer a mente perversa do necromante. Talvez aquele seja o embate mais difícil de sua vida. "Talvez seja o último", pensou sombriamente, mas logo manejou a cabeça para afastar estes pensamentos negativos.

    Já havia passado dez dias desde que fora confirmado a derrota de seus comandantes em Talles. Como de praxe, Konn, depois de tomar seu café, dirigiu-se para a varando que ficava na sala do trono. De cima, viu o mar de soldados que ocupavam a ruas da cidade. Sobre ele, estava o sol em meio a céu azul. Vendo além, para lá do seu reino, notou que o céu azul estava sendo maculado pelo cinza nublado. Ao ver a cena, os pelos de seu ouriçaram-se. "Tão... sombrio", pensou. Ele cerrou os punhos com força.

    — Pode vir com tudo, necromante filha da puta.

     Como em resposta a fala do Rei, flechas flamejantes foram atiradas de dentro da floresta em direção ao céu, e o som das trombetas pareceu ressoar por todo o Reino de Condar.

    Continua...


    Somente usuários cadastrados podem comentar! Clique aqui para cadastrar-se agora mesmo!