Os Cinco Selos

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    Capítulos:

    Capítulo 165

    Melancolia

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Yoo,

    Perdão pelo leve atraso da postagem do capítulo. Eu não tinha intenção de postar hoje, tanto que nos outros sites postei ontem, mas Oa ficou fora do ar

    Enfim,

    Boa leitura ^^

    Doze anos antes...

    Novamente os anos passaram-se mais rápido do que Edward gostaria. Nenhum ataque fora direcionado a Bahamut, apenas ele que os fazia. De pouco a pouco, conforme o acordo, a humanidade perdia seus reinos e cidades. A todo momento Edward perguntava-se o que havia acontecido com os anjos, que até agora não o atacaram, mesmo sabendo que os Selos foram supostamente mortos. Vash, o Vingança, disse que ele simplesmente deveria deixar acontecer e garantir que a humanidade não seja destruída completamente repentinamente, e era isso que estava tentando fazer ao longo dos anos. Mas a sede de destruição do Rei dos Demônios era excessiva, Edward não sabia se iria conseguir.

    Desde que fizera aquilo com seus subordinados, Edward sentia-se tão sujo como jamais sentiu. Geralmente, quando em grupo, Lizzie não fala muito, mas, quando estava só os dois, sempre falava. Entretanto, depois daquele dia, ela só ficava quieta. Passava a maior parte dos dias em silêncio e só dialogava quando Edward que puxava assunto, mesmo assim respondia com poucas palavras. Sentia-se suja, assim como ele.

    E as preocupações de Edward não se limitavam apenas isso. Tinha Mikaela e seus dois filhos, Deckard e Miana. Faziam anos que não via ela e nunca havia visto seus filhos, e não tinha a mínima ideia da onde eles estavam. Talvez seja melhor assim, para ele não ter recaídas ou algo do tipo. Sempre quando pensava nisso seu peito misteriosamente doía. Não sabia e não entendia o porquê. Simplesmente doía de uma forma diferente das outras dores. Seu corpo imortal não era capaz de ignorar e nem amenizar esta dor.

    Como sempre era feito, o demônio Kalai que transmitiu que Bahamut queria a presença do Edward na sala do trono. O Selo já imaginava que isso aconteceria, porque, assim como antes, o tempo chegou e o Rei dos demônios nada fez para matá-lo.

    Na gigantesca sala do trono, encontravam-se os Apóstolos em locais aleatórios — todos esperavam o Morte — e, como sempre, Bahamut estava em seu trono alavancado. Desta vez, porém, além do cálice cheio de vinho, haviam duas demônios nos degraus a seus pés e uma sentada em seu colo e acariciando-o, sendo que todas estavam completamente nuas. Não tinha muito tempo desde que Bahamut descobriu os prazeres carnais. Desde então, ele mesmo cria demônios fêmeas, no qual são denominadas de súcubos, para satisfazê-lo. A chances de ter um primogênito eram nulas, pois todas as súcubos no qual ele desposava morriam no fim do ato. Não era Bahamut que matava elas, bem, pelo menos não com as mãos; elas simplesmente não aguentavam a semente divina plantada dentro de si e morriam. Edward tinha certeza que o doentio do Bahamut não gostava tanto do ato em si, mas sentia prazer de verdade ao vê-las gemendo mais de dor do que prazer até a morte em seu leito. E isto não era nada ruim. Graças a isto, Bahamut tinha uma distração além de sair devastando tudo pela sua frente e criar os monstros chamados dragões. Eram só demônios que morriam com isso, então era muito vantajoso para a causa de Edward.

    — Irei ser direito com você, Morte. — Bastou uma rápida olhadela do Bahamut para a demônio descer de seu colo, e ele inclinou-se para frente. — Gosto da maestria que você treina meus Apóstolos, já lhe disse isso outrora. Portanto, irei conceder a você mais quatro anos. Isto, se aceitar minha proposta, naturalmente.

    Edward não repassava tudo para aqueles demônios, apenas o suficiente para Bahamut aprovar. Haviam erros que ele percebia e deixava passar propositalmente. Elliant confiava muito em seu poder, assim como Chodan confiava demasiado em seus múltiplos olhos. Monmog e Manmog, quando pequenos, não tinham falhas críticas, mas, quando um deles tornava-se gigante, também se tornava burro. Morgus era o mais equilibrado, porém enrolava e tagarelava demais em suas lutas. Qualquer um que fosse enfrentá-los poderiam explorar essas fraquezas. Contudo, quanto mais os Apóstolos aprendiam, mais eles repassavam para outros demônios. Os mais espertos aprendiam e repassam para outros, já os mais burros continuavam fracos.

    — Fale logo o que você quer, Bahamut — indagou Edward.

    — Está muito apressado! Deixe eu lhe contar uma história primeiro, Edward. — Após dar ênfase no nome, Bahamut fintou Edward intensamente. — Era uma vez um ser poderoso e impetuoso. Um certo dia, ele fora obrigado a ir para um mundo no qual ele não conhecia muito sobre. Lá, ele encontrou uma fêmea, que sabia muito sobre este mundo. Esta fêmea ajudou-o a desbravar este lugar desconhecido para ele. Não por ironia do destino, este ser e esta fêmea eram inimigos naturais. Aquilo que os mortais chamam de amor pairou sobre os dois, porém, e eles não ligaram para o detalhe de serem inimigos. E... deste proibido amor, foram gerados dois lindos frutos...

    Neste momento, a aura assassina de Morte espalhou-se intensamente. Os demônios inferiores, inclusive as súcubos, recaíram imediatamente no chão. Cada um deles sentiam algo agarrando sua garganta, sufocando-os, e a sensação de horror dominava-os. Por outro lado, os Apóstolos, demônios superiores, agarraram-se em algum lugar para não cair no chão, sentiam apenas a terrível pressão e horror sobre eles. Já Bahamut continuava indiferente aquilo, bebericando de seu vinho.

    — Ora, você conhece esta história? — Bahamut sorriu.

    — Pense bem no que irá falar, Bahamut — devolveu Edward com um olhar sombrio, e sua foice estava em punhos.

    — Se não, o que, Morte?! Você irá matar-me? — O rei dos demônios ficou furioso. — Não pense em proferir esta asneira! Você só está vivo porque eu quero. Lilith e seus filhos são estão vivos porque eu deixo!

    Silêncio.

    Os dois continuaram a encarar-se intensamente. Os demônios inferiores continuavam no chão e os Apóstolos lutavam para continuar de pé.

    — Você terá que escolher. Mikaela ou seus filhos — ordenou Bahamut. — Então, qual irá escolher? Seus deveres como Morte para manter o equilíbrio, ou como Edward para proteger aqueles que ama? — Um sorriso doentio abriu-se em sua face. — Gostou da falsa sensação de escolha? Se escolher não matar nenhum dos três, eu mesmo os matarei e, inclusive, você.

    Sem dizer mais nada, Edward virou as costas e foi embora, escutando as altas gargalhadas doentias de Bahamut.

    ***

    Então, voando o mais rápido que sua forma atual conseguia, Edward chegou ao topo da mesma montanha de quatro anos atrás. Desesperado, chamou e chamou por Vingança, mas o Selo não veio. Com o silêncio, Edward entendeu que ele teria que escolher de qualquer forma. Vingança o havia avisado que decisões difíceis iriam ter que ser tomadas, e ele aceitou o plano mesmo sabendo disso, então não o culpava.

    Tudo era culpa de sua fraqueza.

    Lá ele continuou, inerte em seus pensamentos enquanto fintava o nada. Procurando algo que pudesse fazer, e, novamente, descobriu que não tinha escolha. "Liz... o que faremos?", pensou.

    “Eu... eu não sei, Ed. Desculpe-me”, sussurrou Liz em sua mente.

    Com isto, Edward fechou os olhos. Ao longe, sentiu duas presenças similar a sua, porém pequenas e fracas. Seus filhos. Sem pressa alguma, ele voou lentamente na direção da onde emanavam as presenças.

    Quando chegou no local onde estavam, Edward ficou pairando no ar distante o suficiente para que eles não o vissem. De cima, ele observou Mikaela sentar sob a árvore, com livro em mãos. O coração de Edward bateu mais forte ao vê-la. Sua aparência continuava a mesma de oito anos antes, mas algo nela havia mudado, e ele não sabia o quê, porém deixou-a mais atraente. Seus olhos foram dela para seus filhos. Neste momento, seu coração bateu ainda mais forte, entretanto um forte aperto veio junto. As duas crianças brincavam no lago. Eram lindos. Cabelos brancos e lisos, olhos vermelhos e a pele branca, quase pálida. Em Deckard, era possível sentir muito de Mikaela. Já em Miana, ele sentia muito de si. Era incrível como dois seres que só sabiam tirar vidas haviam criado duas novas vidas tão puras.

    “Eles são... lindos”, sussurrou Liz, “Eu sinto uma sensação estranha, porém boa, ao olhá-los”.

    — Sim, Lizzie. Eu também sinto.

    Quando viu a expressão de desespero em seus filhos ao ver que Mikaela havia desaparecido, Edward resistiu ao forte impulso de descer até lá. Acontece que a Mikaela havia ficado invisível por causa de uma magia, pelo menos fora isso que conclui de longe. A cena seguir, de Mikaela, Deckard e Miana estarem divertindo-se juntos no lago, fez um sorriso verdadeiro e involuntário abrir-se no rosto de Edward — provavelmente, o primeiro sorriso depois de quatro anos ou mais.

    Ainda sorrateiramente no ar, Edward seguiu-os até a casa. Quando os três adentraram, ele desceu até uma árvore e lá sentou-se. Sua mente voltou a pensar no terrível ato que ele teria que fazer. Pensamentos sombrios começaram a vir à tona novamente. Edward ficou na mesma posição e inerte em seus pensamentos até a noite chegar, e esperou pacientemente até a madrugada, julgando que seria o horário que Deckard e Miana estariam dormindo.

    Ele desceu da árvore e aproximou-se da porta, e hesitou. Ficou um tempo parado criando coragem. Inspirando profundamente, girou a maçaneta e empurrou a porta. Mikaela encontrava-se escorada no balcão da cozinha de frente para ele, com o olhar fixo nele.  Os dois ficaram por um tempo encarando-se em silêncio. Por fim, Mikaela abriu um sorriso.

    — Perguntava-me até quando você iria ficar lá fora — ela disse.

    Edward deu passo para dentro e depois outro. Sua foice escapou da mão, indo ao chão. Ele se jogou para cima de Mikaela e abraçou-a bem forte, e ela devolveu o abraço com a mesma intensidade.

    — Eu não queria que as coisas fossem assim. Eu juro — ele disse aos sussurros. — Só queria ganhar tempo para vocês, mas... deu tudo errado, Mika.

    Mikaela afagou os cabelos dele e manteve seu abraço bem firme.

    — Eu sei, meu amor. Eu sempre soube. — Ela ficou em silêncio, reunindo suas próximas palavras. — Se você está aqui, acredito que ele mandou me matar.

    — Ou você, ou seus filhos. — Edward sentiu as mãos dela apertarem-se em seu corpo.

    — Nossos filhos, Edward. — Mika afastou o abraço e levou suas mãos no rosto de Ed, olhando diretamente nos olhos. — Eles precisam viver a qualquer custo. Você tem que me matar.

    Edward desviou o olhar e negou com a cabeça.

    — Não... — murmurou.

    Imediatamente, Mikaela recuou a mão, criou um círculo vermelho na palma e redirecionou para a própria cabeça.

    — Então eu mesma farei.

    Edward agarrou o pulso dela com força e abaixou-o. Travando, afastou-se de Mikaela e pegou sua foice do chão.

    — Ali — Mika apontou com a cabeça para alguns livros —, Miana e Deckard precisam deles. E você... — Do seio, retirou um papel e esticou para Ed. — Você precisará disso.

    Ele pegou o papel e guardou no bolso — não tinha curiosidade de ler o que tinha neste momento. Mikaela retirou o colar de cristal cintilante que ele havia dado para ela, aproximou-se novamente e colocou o colar no pescoço dele.

    — Não se preocupe comigo, meu amor. Comparada minha dor que acabará logo, a sua era persistir durante tempo indeterminado. Você é Morte, o capitão dos Selos, aquele que é responsável por manter o equilíbrio. Não se corrompa. Nunca. — Neste momento, as lágrimas que Mikaela há muito segurava fluíram, e, ao ver isso, em Edward também fluíram. — Entristece-me saber que não poderei viver junto a você, que não poderei te beijar mais e nem ter mais filhos com você. Porém alegra-me saber que nossos filhos viverão mais um dia.

    Edward, sem conseguir proferir palavra alguma, aproximou seus lábios dos dela. Os dois beijaram-se de maneira lenta e calorosa. Ele sentiu a mão de Mikaela tocar a sua, atiçando-o a mover a foice. Junto a ela, Edward reuniu coragem e força o suficiente para penetrar a lâmina da foice no peito dela. Mikaela ficou até o último segundo beijando-o, até quando seu corpo perdeu as forças e caiu no chão com um baque. Edward sentiu uma grande parte de si morrendo com ela. Ele olhou além e viu Deckard e Miana estáticos e com os olhos arregalados e tremendo na porta do quarto.

    Ah, ver aqueles rostinhos cheio de horror o fez despedaçar por completo. Até ele aparecer, estavam felizes. Agora, por sua culpa, viram sua mãe morrer. Por sua culpa, teriam um trauma e viveriam sozinhos e com aquela cena em suas memórias para sempre. Temendo que eles não teriam ânimo o suficiente para viver, Edward teve que colocá-los em um caminho sujo, porém motivador: vingança.

    Seus olhos azuis, agora sem vida, fintou os olhos vermelhos e cheio de pavor deles.

    — Eu sou seu pai. Sentem ódio por eu ter matado sua mãe? — Morte pegou dois livros e um caderno de cima da mesa e jogou para perto de seus filhos. — Cresçam, fiquem fortes e clamem por sua vingança. Se tiverem coragem, é claro.

    Sem dizer mais nada, Morte deus as costas e saiu da casa.

    ***

    Morte voou para longe da casa o mais rápido que pode. Queria fugir daquele horror. Contudo a dor não diminuiu e a cena continuava a repetir-se em sua cabeça. Estranhamente, sentiu-se fraco, assim perdendo o controle sobre seu voo. Ele caiu e saiu rolando pelo chão, caindo de bruços. Sentia-se sendo sufocado, dor latejando por todo o corpo — como se sua alma tivesse sido envenenada e agora estava morrendo. Ele olhou para sua foice, estava pouco longe, parada... em silêncio. "Não, não, não, não", pensou.

    — Lizzie! — chamou, mas não obteve resposta. — Não, Lizzie, por favor... não me deixe sozinho...

    E o silêncio persistiu.

    O que Morte mais temia aconteceu: Lizzie havia tornando-se apenas uma foice. Agora era apenas uma arma criada para matar, sem nenhum sentimento, sem nenhuma vontade própria. Apenas um material.

    Em uma só noite, havia perdido quem mais amava e a metade sua alma. Havia perdido Lizzie, a única que o compreendia perfeitamente, a quem mantinha ele na linha quando preciso. Não ouviria mais seus conselhos, suas brincadeiras e nem a sensação de proteção que sentia quando estava perto dela.

    Morte levou as mãos à cabeça, encolheu-se e gritou o mais alto que pode, amaldiçoando a si próprio por ser tão impotente e inútil.

    Naquela mesma noite melancólica, Morte retornou ao castelo do Rei dos demônios, ajoelhou-se perante a ele e suplicou para que não fizesse nenhum mal aos seus filhos, em troca de tempo de serviço indeterminado, seja treinando demônios ou matando humanos e anjos. Bahamut, não sendo tolo, aceitou, e comemorou internamente. Agora a arma mais poderosa do arsenal de seu Pai pertencia a ele, com uma coleira no pescoço e pronto para obedecer suas ordens. Por outro lado, Morte assegurou que o plano continuaria.

    O capitão dos Selos, Morte, trocou respeito por desprezo; amor por ódio; felicidade por desgraça; e perdeu metade de sua alma, tudo em prol do equilíbrio. Havia perdido tudo isso porque era fraco.

    Continua <3 :p


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