Jóia Rara

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 31

    O Início do Fim

    Álcool, Hentai, Linguagem Imprópria, Sexo, Suicídio, Violência

    Hiashi

    As três batidas tímidas na porta foi o me despertou da tela do computador, após horas trancado em meu escritório. Estava exausto de tanto pensar e analisar uma negociação que submetesse de uma vez aquela menina insolente aos meus planos. Já havia um arroxeado incorrigível abaixo dos meus olhos e ardiam pelo excesso do uso das lentes de contato. Noites insones foi o que Hinata me dera como presente ao voltar daquela maldita excursão e é claro, uma apunhalada nas costas, por isso não havia nada a ser feito além de uma trégua, uma busca inteligente de um plano que a fizesse acreditar que eu estava a favor dela assim como ela havia feito comigo.

    De fato, eu provei do quanto ela é capaz de ser manipuladora quando quer. Uma característica que herdara definitivamente de mim. Daria uma boa Hyuuga de verdade, mas aquela maldita Akemi a contaminara com seus genes frágeis. E como se já não bastasse essa influência negativa, o lado podre da família havia decidido das às caras – e o bote também. Neji Hyuuga, o filho daquele que eu achei ter posto em seu lugar há muito tempo, meu meio-irmão idiota, quando assumi total controle da empresa herdada por Akemi. Ninguém imaginaria que nosso pai tinha uma amante, muito menos que esse fora o motivo da mudança da pequena família secundária para os Estados Unidos.

    A cara de surpresa de Hizashi quando conheceu seu irmão mais novo e bastardo fora impagável, mas o melhor era que nem ele e nem nenhum outro Hyuuga restante sequer sonhava que eu existia e que estava com a herdeira em minhas mãos, se não fosse, é claro, pelo nariz intrometido de Fugaku e a boca grande demais de Kushina. E agora, depois de tudo o que consegui conquistar, esse garoto surge das cinzas. Havia conseguido manter minha existência em segredo, esperando pela melhor brecha de me vingar daquele clã por ter usado minha mãe e me privado de ter a minha família, quando de repente apareceu a maior chance de alcançar todo os meus objetivos: Akemi.

    Com ela eu tinha os Hyuuga e todo o seu império. Era perfeito! Não havia sido nem um pouco difícil adotar o sobrenome de minha mãe e fingir ser outra pessoa completamente alheia, muito menos conquistar aquela inocente mulher, que caía fácil em qualquer papo romântico. Ela iria se casar comigo e logo tudo estaria dentro dos meus bolsos. As coisas só mudaram de parâmetro quando ela apareceu grávida, guiando mesmo sem querer, a minha vingança para outro nível.

    Ainda teve a audácia de mentir que havia me traído. Se não fosse por aquele idiota do Uchiha, ela teria caído como um patinho na nossa história de amor e jamais teria descoberto a verdade e feito aquela estupidez se vendendo para salvar a menina. Mas tudo bem, eu era paciente e permiti que ela acreditasse que havia vencido se livrado de mim para sempre. Mal tinha consciência dos inúmeros pactos que eu fazia para amaldiçoar aquela pobre garotinha, para torna-la tão imunda quanto eu.

    O mais irônico disso tudo era que, apesar de Hinata ser tão patética quanto a mãe, ela soube me enganar direitinho, adotando falsos comportamentos, falsas verdades e um caminho sorrateiro para encobrir suas ações, assim como eu fiz durante a minha vida inteira. Ela não podia negar que a fruta não caía longe do pé.

    A questão ali era descobrir como ela soube sobre Neji e se havia sido ela quem o contatara para armar essa emboscada de guarda legal. Com um longo suspiro, eu finalmente permiti a entrada de quem batia insistentemente na porta do escritório, esperando que alguém me fosse útil e me trouxesse a resposta para aquilo.

    — Papai. – disse a garotinha. Era Mayumi, minha bastarda imprestável. Apesar de estar cansado daquele jogo de casinha, Aiko e ela eram necessárias para manter meu disfarce, principalmente até que chegasse a hora do destino cobrar sua dívida com Akemi, deixando sua garota de ouro desprotegida. Eram aquelas duas insuportáveis quem mantinham as aparências por mim, tornando verdadeira a fraude de que o império Hyuuga havia sido vendido para um comprador novo: os Sasaki.

    Mesmo que ela possivelmente nunca tenha pensado nisso, fingir uma compra e assumir um novo nome para a empresa fez com que a fuga de Akemi tivesse um teor muito mais verdadeiro e ninguém contestou ou desconfiou do comprador de toda aquela fortuna. Principalmente, é claro, depois que eu dei um jeitinho de silenciosamente eliminar um por um.

    Bom, exceto pelo tal Neji, o garoto que eu nem sabia existir. Pelo visto, Hizashi e eu tínhamos algo em comum afinal, já que aparentemente ele também era muito bom em esconder coisas.

    — Mayumi, eu estou ocupado. – respondi, massageando as têmporas.

    — Eu só queria dizer algo que talvez o senhor precise saber. É sobre a Hinata.

    Minha atenção foi imediatamente sobre ela e precisei me segurar na cadeira para não avançar em sua direção. Toda aquela ansiedade por não poder agir e todo esse silêncio de Hinata, por não ter aparecido nem para buscar suas coisas e por aquele Hyuuga ter impedido qualquer interferência na mudança dela estava me matando.

    — Pois então fale de uma vez! – esbravejei.

    — Ela chegou na escola hoje junto com o Uzumaki, no carro dele. E quando digo juntos, é junto mesmo. Os dois estão namorando e assumiram publicamente.

    Assim que as palavras saíram da boca da caçula, algo estalou em minha mente e meu punho atingiu a mesa de mogno, causando um estrondo que ressoou por todo o escritório.

    — MALDITOS!

    É claro que haviam sido eles. Aqueles infelizes, bastardos, idiotas! Eu apostaria minha vida que havia sido aquela vadia da Kushina que armara toda aquela situação. A raiva se alastrou por meu corpo de um jeito venenoso e eu não podia acreditar em tamanha ousadia por parte deles. Permitir e incentivar aquele garoto a ficar perto de Hinata já era uma afronta que eu estava determinado a resolver muito facilmente, mas agora aquilo?!

    Como eu não havia pensando nisso? Quem mais saberia da história completa senão aquele bando de imbecis? Teria sido aquela viagem escolar o pretexto perfeito para desenterrar esse maldito Hyuuga para acabar com meus planos?

    — DROGA! DROGA! DROGA!

    E ela ainda assumia esse namorico idiota perante a todos. Inacreditável! Aquela vadiazinha era mais inteligente e atrevida do que eu imaginava ou ela estava sendo manipulada por aqueles idiotas para me fazer pagar por Akemi? Saber que durante todos esses dias ela estava lá, com eles, como uma estúpida família feliz, sendo invadida pela influência Uzumaki... isso me enojava.

    — Papai, por que o senhor odeia tanto eles?

    — Não interessa para você, Mayumi. Agora seja útil e me dê licença.

    — Espere! Olha papai... talvez seja melhor assim, não é? Hinata era um estorvo para nós. O senhor não precisa mais se incomodar com isso, deixe que ela fique com os Hyuuga. – ela disse aquilo com uma inocência cômica, despejando seu pequeno veneno. Eu lancei um olhar furioso em sua direção, estava sem paciência para seus ataques de ciúme.

    — Hinata é minha garotinha de ouro, Mayumi. Eu jamais vou permitir que ela fique com outra pessoa. – murmurei, esperando atiçar a ira dela. Sua expressão enciumada abriu um sorriso sádico em meu rosto cansado.

    — Pois o senhor vai ter que aceitar que aquela garota foi embora!

    Ela nem teve tempo de pensar, eu já havia levantado da cadeira e lhe estapeado o rosto. Sua ousadia e malcriação eram os últimos problemas com o qual eu precisava lidar agora.

    — Não me diga o que fazer, pirralha. Aliás, esse seu comportamento já está me cansando. Acho melhor me recompensar se não quiser que eu cancele sua mesada e suas saídas luxuosas por aí. Ou melhor: que faça sua querida mamãe pagar em seu lugar.

    — O que eu preciso fazer? – ela sussurrou com lágrimas escorrendo pelo rosto.

    Meu sorriso cresceu e de repente eu tive uma ideia de como tornar aquela criatura um pouco mais útil.

    — Você será meus olhos e ouvidos. Quero que descubra tudo sobre como Hinata está vivendo e que arranje um jeito de criar alguma intriga entre ela e o Uzumaki. Deve ter alguma garota naquele colégio que não está mais feliz que eu com essa união. Use-a para conseguir isso.

    — Isso é maldade, papai... eu digo, isso é ruim de verdade. – ela murmurou assustada.

    — Criança, eu ainda não te contei? – sussurrei próximo a ela, erguendo seu queixo para que visualizasse bem o que eu lhe mostraria. — Não é com nenhuma caridade que você sentará esse seu traseiro em minha cadeira atrás dessa mesa. Agora trate de fazer o que eu disse. É uma ordem.

    Assim que ela fechou a porta, permiti que minha verdadeira face viesse à tona. Lavei às mãos no lavabo e retirei aquelas malditas lentes. Estava na hora de agir com mais defesa do que eu planejava. Agora que a verdade foi esclarecida, era bom que estivessem preparados. Se Kushina e Hinata estavam dispostas a manipular as pessoas para acreditarem que estava tudo perfeitamente bem, eu estaria ainda mais para fingir que concordava com elas.

    — Você se acha muito esperta, não é Hinata? Mas tudo bem, eu sei comer pelas beiradas. E você nem imagina em quem vou dar minha primeira mordida.

    ***

    Hinata

    O apartamento ficava próximo à Universidade, o que era bom pra Neji. Mas era um pouco longe do colégio. Geralmente, nos colégios japoneses, os alunos não utilizavam condução, carros próprios ou eram levados até as instituições, pois estudavam nas de seu bairro. Mas o colégio Konohagakure era uma exceção, uma escola particular e com filiações tanto na Ásia quanto no Ocidente, feita para alunos de famílias específicas e tradicionais, mas também com abertura para qualquer um que quisesse um ensino mais abrangente. Por isso, algumas características eram parecidas com colégios ocidentais, uma vez que era filiada de diversos outros lugares de culturas diferentes daquelas vistas comumente no Japão.

    Dada essa condição, era normal que os alunos da escola morassem por toda a cidade, pois não se apegavam à localidade como um pré-requisito. Naruto, por exemplo, não morava perto de Konohagakure e dirigia até lá com seu Altima todos os dias. No meu caso, havia Hiashi ou seu motorista para levar tanto a mim quanto Mayumi, o que significava que eu tinha um novo pequeno problema para resolver: ir e vir da escola.

    Não tinha carteira de habilitação e muito menos um carro. Provavelmente passaria a depender de condução pública para me locomover e, como consequência, precisaria de um emprego para manter isso. Além de que não me sentia confortável morando de favor com Neji, sem ajuda-lo com nada. Ele parecia ter uma boa condição de vida, apesar de ser tão jovem. Talvez estivesse sendo ajudado por alguém da família. Havia um caminhão de uma linha de móveis descarregando algumas caixas e Neji e Kushina os ajudavam quando Naruto estacionara o carro. Ele tinha ficado feliz em me ver e agora estava abrindo caixas menores engatado em uma conversa com Naruto e sua mãe, enquanto eu observava o interior do apartamento.

    Era de um porte médio, tinha sala e cozinha conjugadas, com lavanderia e ofurô acessados por uma porta de correr numa parte da sala e ao lado um lavabo pequeno. Havia uma sacada na sala e as folhas da porta de vidro que davam acesso a ela tinham a altura do pé direito, permitindo muita entrada da luz do sol que banhava o piso laminado de um tom de madeira clara. Havia também dois quartos e as portas davam uma de frente para a outra, num corredor ligeiramente estreito.

    Para quem vivia numa mansão vazia, aquele apartamento acolhedor parecia um abraço quentinho no inverno. Eu tinha a sensação de que seria impossível me perder ali dentro e isso fazia ser cada vez mais real a minha nova capacidade de me encontrar dentro de mim. Ainda teria de voltar à casa dos Sasaki de mentira para buscar minhas coisas, mas ter a certeza de que poderia voltar para um lugar que era meu em igualdade não tinha preço e amenizava o pavor de qualquer reencontro.

    — Hinata, tomei a liberdade de pedir alguns móveis para seu quarto. Eles já estão montados. Espero que não se importe. – Neji disse com uma voz risonha, enquanto desempacotava um jogo de panelas. Kushina imediatamente tomou a dianteira e empurrou Naruto em minha direção, pedindo que ele fosse comigo ver meu novo aposento. A porta era simples e branca, mas quando aberta me deixou realmente surpresa. O quarto estava completamente mobiliado, com móveis brancos e paredes num tom de cinza claro. Alguns pequenos detalhes tinha a cor lilás, como o tapete felpudo e um abajur acima do criado-mudo. A roupa de cama também tinha alguns tons de roxo e uma estampa de lavandas. A cama de casal tinha uma cabeceira trabalhada, feita de metal pintado de branco em formato de flores que ornamentavam a peça de uma ponta à outra. Um guarda-roupa branco estava encostado numa parede, ao lado da porta, com uma estante de livros anexada e nela já continha alguns que eu nem sei de onde surgiram.

    Era tudo tão lindo, tão delicado e tão planejado. Como em tão pouco tempo eles conseguiram montar aquele espaço? Era menor do que o antigo quarto onde eu vivia na mansão de Hiashi, mas continha uma energia infinitamente melhor, nova, como se feita para mim. E bom, era o que significava aquilo, afinal. Eu senti lágrimas esquentarem meus olhos e um sorriso brotou no canto da boca.

    — Dona Kushina trabalhou o dia inteiro nisso. Ela me confidenciou antes de sairmos para o colégio. Você gostou? – Naruto murmurou. Ofeguei, sentindo o amor incrustrado naquelas palavras me tirar o chão. A senhora Uzumaki era uma pessoa surpreendente e eu não conseguia me acostumar com o tamanho de seu carinho por mim, ainda era estranho saber que ela e minha mãe eram como irmãs e que durante esse tempo todo ela se sentia responsável por mim. Era surreal que de repente tudo tomasse proporções tão íntimas, tão confidenciais. Olhar para aquela forte mulher de cabelos vermelhos vinha com uma profusão de sentimentos intensos que me faziam crer que ela não só era especial de verdade para Akemi, como era especial num todo apenas por existir.

    — Tá brincando? Eu... nem sei o que dizer. – balbuciei. Naruto passou os braços ao meu redor e eu encostei a bochecha em seu peito, suspirando enquanto as lágrimas escorriam quentes por meu rosto.

    — Você é muito importante, baixinha. Para muita gente. Queremos que esse seja o seu lar, que seja um lugar onde finalmente se sinta bem-vinda e acolhida. Um lugar onde você poderá cultivar suas lembranças sem aquela velha sombra de tristeza.

    Suas palavras acariciavam meus cabelos, sopradas mornas acima de mim. Ele tinha completa noção de como me desarmar, me decifrar e me fazer viver. Desde o primeiro momento em que nos encontramos, isso foi tudo o que ele sempre soube fazer de melhor. Agora, quando as coisas estavam sob um filtro da verdade, da maturidade que desenvolvi com tudo aquilo, eu podia ver como suas ações eram tão naturais. Em seus braços, com o sabor de sua boca fresco em minhas memórias, era perfeitamente involuntário do meu ser querer cuidar e amá-lo, através de cada singela coisinha de sua personalidade. Como se o manual de instruções que ele me entregara de coração aberto quando nos conhecemos pudesse finalmente ser lido.

    — Para isso – ele desfez o abraço e abriu uma das portas do guarda-roupas. — Eu pedi que minha querida mãe providenciasse uma coisa que nós dois vamos criar juntos.

    De dentro do compartimento, ele puxou algo largo, comprido e fino, que eu imediatamente identifiquei: era um mural. Era todo branco e minimalista, de metal, num formato retangular. As lágrimas rolaram fartas quando entendi o propósito do presente.

    — Um mural de fotos. – sussurrei com a voz embargada.

    Naruto caminhou até a parede onde havia uma escrivaninha e retirou a capa da fita dupla-face que contornava a borda do mural na parte de trás, já feito para ser autocolante. Um pouco acima da mesa, ele pressionou a chapa metálica contra a parede e depois deu dois passos para trás a fim de ver o resultado de seu trabalho. Depois voltou até o guarda-roupa e retirou um saquinho cheio de pequenas pérolas que descobri serem imãs, quando ele retirou do bolso da calça uma foto polaroid, umas das que tiramos juntos, deitados na grama com a câmera acima de nossas cabeças, e a colou no mural.

    — Começando agora com uma foto do dia em que eu te disse pela primeira vez o quanto eu te amo.

    Atravessei o quarto a passos ligeiros e me lancei contra seu corpo, abraçando-o num ímpeto que ameaçava me partir ao meio. Como isso era possível? Como a vida tinha dado um giro tão grande em poucos dias? Eu estava irreconhecível, amando desse jeito, alegre, entusiasmada... feliz. Era tão surreal que me roubava o ar e ao mesmo tempo em que me sentia adulta diante dos desafios que enfrentava, eu me sentia como uma criança deslumbrada. Era incontestável o modo como eu estava absorta com as consequências de ter as verdades ditas, sem ressalvas, porque tudo o que eu ousei imaginar para mim, tinha tomado uma proporção muito mais bonita. E apesar de todos os problemas, do medo, das ameaças, das sombras do passado, eu estava maravilhada, obcecada por cada segundo ao lado das pessoas que havia conhecido quando pousei os olhos sobre aquele garoto loiro que eu mantinha preso em meu abraço.

    Obcecada porque mesmo em singelas demonstrações, era possível gerar um sentimento arrebatador, muito mais forte do que qualquer outro negativo. A gratidão por ser amada, o calor de amar e a reciprocidade de todo aquele carinho explícito, nada podia ser mais forte que isso. E essa intensidade me deixava a mercê de uma nova faceta, que nascia sorrateiramente a cada dia, me revelando anseios e lados meus que eu nem sabia possuir. Me tornando uma pessoa... íntegra.

    Pela primeira vez em toda a minha vida, ali, na minha casa, com meu melhor amigo, meu namorado, minha família de verdade, eu sentia que finalmente eu possuía integridade para amar... e ser amada.

    — Obrigada, Naruto. Obrigada por me presentear com seu amor todos os dias, obrigada por me apresentar à vida, aos nossos amigos, à Tsunade, ao Jiraiya, aos seus pais tão devotos e carinhosos... Isso tudo que estão fazendo por mim, me dando apoio, me ajudando a me encontrar, cuidando de mim, preparando essa vida para que eu possa receber com todo o amor do mundo... isso é uma família de verdade. E eu achei que jamais poderia encontrar em outro lar quando perdi Akemi. Era uma ilusão minha, boba, nutrida pela escuridão do luto, apegada aos laços sanguíneos que nada querem dizer. – eu me afastei dele para olhar em seus olhos azuis cheio de lágrimas. — E agora olha ao nosso redor. Vocês fizeram isso por mim, vocês que me abrigaram nos braços como um bebê e agora seguram em minhas mãos para que eu dê meus primeiros passos. Você me deu um pai e uma mãe, amigos e agora um primo. Você me deu amor.

    — E continuaremos dando para sempre, minha querida. Você é da nossa família, eu sei que é estranho porque você só sabe disso agora, mas você é minha garotinha, uma afilhada, alguém que teria sido criada junto de nós, compartilhando nossos abraços e nossos lares, assim como Naruto teria sido com nossa Akemi. – Kushina disse com a voz emocionada, surgindo pela porta. Estávamos tão envoltos naquele momento que não havíamos percebido sua chegada.

    Eu sorri e estiquei o braço para estender aquele abraço para ela. Seu olhar azulado era caloroso e maternal, cheio de amor e de nostalgia, olhando-me literalmente como se estivesse voltando 18 anos atrás e houvesse tido a chance de me tomar no colo quando bebê. Naquele breve momento emocionado, em que eu fiquei abraçada àquelas duas pessoas especiais, eu senti a presença de Akemi comigo, seus olhos sobre nós e seu amor protegendo aquele laço. A certeza de que ela estava ali não era através da clarividência, mas do meu âmago, dos meus sentidos.

    E soube imediatamente que não precisava ter dom nenhum para entender que ela estava comigo, no mundo material. E que estar apegada à essa condição física não era mais tão importante. Porque minha mãe estava ali, dentro de mim, em cada gesto de amor, em todos os momentos em que eu estou vivendo, cumprindo minha palavra e finalmente descobrindo que o seu pedido não se referia à simplesmente ter um coração batendo, mas ter um propósito para isso.

    ***

    Após um final de tarde cheio de novas emoções, Naruto e Kushina estavam prontos para voltar para casa e me dar privacidade para me alocar em meu novo lar. Minhas coisas, que estavam no carro de Minato, já haviam sido entregues e estavam dispostas no chão de meu quarto para que eu pudesse ajeitar tudo. Mas, ainda que eu pensasse estar tudo devidamente ajeitado, havia uma questão que surpreendentemente não havia passado pela minha cabeça: o restante das minhas coisas, essas que jaziam esquecidas no meu antigo quarto, na mansão Sasaki.

    Fora Naruto, quem astutamente se lembrara disso, enquanto me fitava adicionar novas fotografias ao nosso mural. A pequena lembrança da minha infância, que eu havia levado comigo para o Canadá, foi o click mental para que ele e recordasse. A imagem de Akemi deveria ter sido o suficiente para que eu mesma sentisse falta da caixa escondida onde eu abrigava mais exemplares de sua existência, mas estava tão absorta na minha pequena felicidade que não havia mesmo percebido.

    Agora, porém, a felicidade dera lugar ao medo, pois nenhum de meus pertences voltariam para mim sem que alguém fosse busca-los e eu definitivamente não desejava ver o rosto daquele traidor tão cedo.

    — Você deveria ir com o Neji até lá. – disse Kushina, de repente menos preocupada. Todos estavam na sala, entre uma despedida, quando abordamos o assunto. Naruto levantou os olhos para a mãe com compreensão. Mas eu, na verdade queria a companhia dele até lá, se fosse mesmo para ir.

    — Isso, o Neji precisa impor a autoridade dele e ao mesmo tempo, estando com você, Hiashi não poderá fazer nada. Se um de nós fosse, seria só para alimentar suspeitas de que estivemos por trás da sua nova guarda. – concluiu Naruto.

    Suspirei. Eles estavam certos. Hiashi não podia desconfiar que Kushina estava armando uma para ele desde a promoção da viagem para o Ocidente. Se isso fosse do seu conhecimento, a margem do alvo dele cresceria para os Uzumaki além do que já cresceu desde que eu cheguei aqui. E eu definitivamente já odiava botar em risco a vida de um deles. Olhei para Neji, buscando sua opinião em seus olhos iguais aos meus. Ele estava pensativo, como se enfrentasse um monólogo interno, mas sentiu o peso do meu olhar e assentiu de leve.

    — É claro. Acho bom que Hiashi esteja ciente de que Hinata está bem protegida e que não tenho a intenção de ofendê-lo. Para todos os efeitos, eu estou apenas recuperando a família. E minha prima já é grandinha o suficiente para escolher onde quer ficar.  – ele explanou com um sorriso positivo e então voltou os olhos em minha direção. Eu sorri de volta, realmente agradecida do quão disposto ele estava para ajudar alguém que até poucos dias ele nem conhecia.

    — Como um caso de família normal. Sem porra nenhuma de maldição, seita e o diabo que for. – Naruto encerrou o plano. Eu ri de sua colocação e Kushina apenas suspirou ante o seu palavrão.

    E então, quando todos se foram, Neji e eu nos encaramos por um momento antes de enfim embarcar no carro e encarar a missão que nos foi dada. Tentei me convencer o caminho todo de que isso seria bom, que eu teria oportunidade de ver como a casa ficou sem mim, como Hiashi se comportaria e como eles reagiriam à Neji. Era uma boa estratégia para observar e antecipar os próximos passos de Hiashi. Eu seria o mais inocente possível, como apenas uma garota feliz em encontrar algum parente próximo de sua amada falecida mãe, quando estava vivendo na casa de seu suposto pai, cujo ela nem conhecia. 

    A inocência que eu tentei instalar em minha cara, porém, se esvaiu assim que estacionamos em frente à mansão. O medo instantaneamente começou a mordiscar meu estômago e precisei respirar fundo um par de vezes antes de conseguir sair do carro e enfrentar o que quer que aquilo fosse resultar. Encarei meu celular enquanto Neji tocava a campainha, procurando a mensagem que Naruto enviara assim que chegou em casa.

    “Seja cuidadosa e inteligente. Não tenha medo! Eu te amo.”

    As poucas palavras dele emitiam o eco de sua voz em minha mente, recheada de carinho, acompanhada daquele par de olhos azuis que tinham o poder de lavar a minha alma. Suspirei e guardei o telefone no bolso da calça. Tomei coragem a partir daquela mensagem de amor e boa sorte e assumi a expressão mais inocente que consegui.

    E então, o grande portão abriu e em seguida, a porta, por onde eu vi a imagem desconfiada daquele que eu acreditava ser o meu pai.

    — Boa noite, senhor Sasaki. – Neji se antecipou. Eu sentia que o ar ficava mais denso conforme ele se aproximava e eu o seguia. Hiashi olhou para ele brevemente e então prendeu sua atenção em mim. Com mais custo do que eu imaginava, sorri.

    — Oi, pai.

    Ele sondou meu rosto e suspirou, parecendo um pouco aborrecido.

    — Ora, veja só quem voltou para casa.

    Eu o imitei no suspiro, mas fingi lastimar aquela frase.

    — Podemos entrar, senhor Sasaki? Hinata me pediu para vir vê-lo, ela gostaria de se desculpar pela saída abrupta e recuperar seus pertences. – Neji falou num tom firme, mas casual. Eu olhei para ele e depois assenti, mantendo minha feição inocente.

    — Oh sim, eu tenho tanto o que dizer, pai! – murmurei e, surpresa, senti meus olhos lacrimejarem. Eu não sabia se havia entrado no personagem ou se estava chorando a mágoa que assolava meu coração quanto àquele homem.

    — Bem, é óbvio que minha filha pode entrar em sua casa. Venham. – Hiashi disse com a posse escorregando pelas palavras. Meu estômago se embrulhou, mas Neji simplesmente abriu um sorriso contido de alguém muito educado e o segui para dentro da casa.

    Na sala de entrada, Aiko e Mayumi esperavam com olhos espantados. Eu tentei não ser consumida pelos sentimentos ruins que aquelas pessoas me despertavam e me limitei a acenar tranquilamente. Neji, por outro lado, mudou sua postura e cumprimentou as duas com um sorriso gentil e até mesmo galanteador. Hiashi ficou parado encarando-o e eu decidi fazer alguma coisa para manter a atenção dele em mim.

    Com nojo interno, mas um sorriso montado no rosto, eu caminhei até ele e o abracei. Algo o fez congelar quando meus braços o contornaram, mas um segundo depois ele retribuiu. Aproveitando a onda de coragem, eu abracei sua mulher também e depois, recebendo um olhar asqueroso, repeti o ato com Mayumi.

    — Pessoal, eu quero apresentar a vocês o meu primo, Neji. Eu mal posso conter minha alegria por tê-lo encontrado. – e com isso, lágrimas rolaram em minhas bochechas. Neji sorriu para mim, incentivando. — Sei que foi tudo repentino, mas a verdade é que minha vida finalmente parece estar entrando nos eixos agora. E gostaria muito da aprovação de vocês, as pessoas que me acolheram quando eu não tinha mais ninguém.

    — Você nunca pareceu tão agradecida. O que mudou desde que você viajou para o Ocidente? – Mayumi jogou a frase no ar de um modo raivoso.

    — A viagem de Hinata mudou tudo, senhorita. Foi graças a ela que pude encontrá-la. – Neji a cortou com cordialidade, como se os modos dela não houvessem sido rudes.

    — Sim, sim. Eu vou querer saber direitinho sobre essa história, já que os dois não me deixaram escolha a não ser aceitar perante um juiz. Será que vão ficar para o jantar, há tempo para isso? Ou vocês ainda continuam apressados demais? – Hiashi perguntou, caminhando devagar até Neji e colocando uma mão em seu ombro. Meu estômago se apertou e meu coração acelerou. Raiva parecia querer me mover em sua direção e fiquei surpresa por tal sentimento tão forte. Ainda estava me acostumando a esse novo despertar emotivo e aquele encontro definitivamente estava me deixando em chamas.

    — Pai, por favor. Não fique assim, eu juro que temos boas justificativas. Aliás, é claro que ficaremos. Não é, Neji? – eu tentei distraí-lo. Odiava ter que ficar mais do que o necessário naquela casa, mas se fosse preciso, eu o faria. A mensagem de Naruto ecoava em meu cérebro, alimentando minha coragem.

    Seja inteligente, Hinata. Mantenha-se firme.

    — Claro, prima. – Neji respondeu simplesmente.

    Aceitar a oferta resultaria ter mais força de vontade do que eu realmente poderia demonstrar, mas era uma boa oportunidade para contornar a ira de Hiashi. Assim que servido o jantar, entretanto, não imaginamos que teríamos que contornar outras pessoas também.

    Mayumi, é claro, não parecia mais feliz do que eu mesma estando ali dentro. Eu deveria ter suspeitado de suas intenções, ter me preparado para enfrenta-la. Mas assim que a garota abriu a boca, já era tarde demais.

    — E então, Hinata, já que agora você parece tão aberta, por que não conta ao papai como anda o namoro?

    Neji trocou olhares comigo assim que ela proferiu a intriga. Acho que nem ele imaginou que a garota seria uma pedra no sapato. Suspirando, eu sondei a reação de Hiashi e é claro, ele já sabia. O olhar inquisitivo dele era desafiador, mas não surpreso. Certamente, assim que chegara em casa da escola, Mayumi fora correndo contar a ele o que viu.

    — Ah, sim. Conheci o namorado de Hinata no domingo. Um ótimo rapaz! Nos demos bem logo de cara. – Neji contou quando eu o cutuquei com o pé debaixo da mesa. A falsa casualidade de sua voz era muito convincente e isso irritou Mayumi.

    — No jantar ou no almoço você o conheceu? Ah, sim, porque a Hinata não janta, sabe? Ela repele as pessoas nesse horário, eu até cogitei que ela fosse um lobisomem ou sei lá. Ainda estou esperando ela mostrar alguma garra. – Mayumi continuou, num tom cínico e risonho. Eu fechei os olhos e inspirei fundo.

    — Mayumi, se for para encher a sua irmã de provocações, eu sugiro que vá para o quarto. Estou interessado em saber o motivo de sua partida. Fofocas ficarão para depois. – Hiashi a cortou friamente, parecendo cansado.

    Eu o fitei apreensiva. Aquela era uma reação estranha. Não parecia ser o mesmo homem que vivia me infernizando sobre minha proximidade com Naruto, como se estarmos bem longe um do outro fosse interesse de Estado. Por um momento, me dei conta de que ele poderia estar interpretando um papel assim como eu, a fim de mascarar suas intenções. De repente, meu estômago estava embrulhado demais para comer qualquer coisa.

    — Bom, vejo que os ânimos estão aflorados. Acho melhor irmos direto ao ponto, prima. – Neji comentou impaciente. Fiquei na dúvida se a impaciência era teatro ou não. Apenas assenti, desesperada por arrancar qualquer outro sinal de que Hiashi estava encenando.

    — Eu sinto muito que tenha deixado vocês magoados. Neji me encontrou num momento em que eu estava perdida, tentando me encaixar onde eu não cabia. Buscando desesperadamente me enxergar como uma de vocês. E de repente, quando eu descobri que tinha um primo, outro Hyuuga no mundo, eu finalmente percebi que estava tentando ser outra pessoa... – murmurei calmamente, surpresa do quão fácil as palavras fluíam. Neji prestava a atenção em mim, sorrindo de um jeito que julguei genuíno. Nada daquilo era, na realidade, mentira.  — Eu poderia ter esperado, ter o conhecido melhor, ter pedido a sua opinião, pai. Sim, eu podia. Mas eu sabia que me convenceria do contrário, porque eu sei o quanto o senhor queria que eu correspondesse às suas expectativas. Agimos rápido, mas não queríamos causar mágoa. Eu só queria viver sem mentiras, sem uma incógnita passando pela minha cabeça a toda vez que eu me perguntasse quem realmente sou.

    Ao final do discurso mais longo que fizera naquela casa, senti lágrimas molharem minhas bochechas. Neji passou uma mão pelos meus cabelos, me consolando e então assumiu a palavra.

    — Foi um amigo meu, que havia sido transferido para o Canadá, quem a viu durante um de seus passeios turísticos. Logo ele notou a semelhança incrível e me ligou no mesmo momento, tirou uma foto e enviou. A Hinata é muito parecida com a prima do meu pai, a Akemi. E eu descobri rapidamente que éramos parentes. Foi uma loucura, porque eu estava tentando contatar outras pessoas da família há anos e nunca encontrei ninguém. Meu amigo identificou com o monitor que acompanhava os alunos de qual escola ela era, então eu liguei para lá e descobri que seu nome era Hinata. Peguei um avião no dia seguinte e nos encontramos lá, com a autorização da diretoria do colégio dela e...

    — Você contou parcialmente essa história no tribunal. E já tinha um advogado representando Hinata lá. Mas isso aconteceu no mesmo dia em que ela chegou, e ninguém no colégio sabia onde ela estava. Onde é que você estava, Hinata? – Hiashi interrompeu. Fiquei surpresa por Neji já ter forjado aquela história antes. Enquanto ele falava, imagens naturalmente se pintaram em meu cérebro, fantasiando como teria sido se tudo isso tivesse acontecido. Naquele momento, percebi que eu não teria sido assim tão corajosa. Suspirando, eu o respondi:

    — Eu pedi ao Naruto que me abrigasse enquanto Neji estivesse ocupado. Eu fiquei receosa de vir até aqui, de fraquejar e desistir. Eu precisava ser firme, precisava arcar com minhas escolhas ou eu ficaria para sempre presa em outra versão de mim mesma.

    — Não bastando abandonar essa casa, você foi pedir abrigo no meu maior inimigo? Hinata, por acaso eu lhe faltei tanto assim com algo? – Hiashi perguntou acusativamente. Eu lhe lancei um olhar significativo, lembrando-me de suas ameaças veladas e do dia em que fui agredida física e verbalmente. Seu rosto ficou nostálgico e ele suspirou com enfado.

    — Escuta, pai... eu sou muito grata por ter sido acolhida, por ter sido posta em uma ótima escola e por ter tudo do melhor enquanto estive aqui. Mas essa não era a minha vida, o senhor entende? Eu não fui criada sob rixas comerciais, nem preparada para assumir um império. Eu era uma garota simples, do subúrbio, vivia num lugar pequeno e pacato, onde minha maior expectativa era ser tão adorável quanto minha mãe. E de repente tudo... tudo sumiu.

    O choro agora era genuinamente triste. Eu fiquei arrasada, devastada por precisar encenar e envolver a vida e morte de Akemi naquela situação, quando tudo aquilo só havia acontecido por conta daquele crápula sentado à mesa, fingindo ser um pai magoado, exercendo uma paternidade falsa e me exigindo uma explicação, ainda acusando e desconstruindo a moral de pessoas incríveis que compartilhavam comigo a dor de ter perdido Akemi para suas atrocidades. Era demais para mim. Era pior do que eu havia imaginado. Não conseguia mais aguentar um minuto daquele teatro.

    — Você era uma garota problemática e louca que não tinha um pingo de moral, Hinata. Pelo amor de Kami, por que você não pega essa sua falsidade e some de uma vez?! – Mayumi explodiu de repente, levantando-se da cadeira. Ela havia ficado calada por mais tempo do que eu achava possível.

    — Mayumi, vá para o quarto agora. – Hiashi murmurou, respirando com força pelo nariz.

    — Mas papai, isso é um absurdo, o senhor não pode estar falando sério sobre o que disse no escritório, é rid...

    — AGORA, MAYUMI! – ele a calou com um berro horrível que fez meu corpo inteiro estremecer.

    Neji levantou-se ao meu lado e pigarreou, seu rosto estava marcado num semblante duro que o fez parecer muito mais velho.

    — Hinata, vá buscar suas coisas. Não te trouxe aqui para criar problemas. É melhor que conversemos quando todos estiverem em melhor humor. Enquanto isso, senhor Sasaki, por favor, podemos falar em particular?

    Eu imediatamente fiquei nervosa. Neji pretendia conversar sozinho com ele? Não sabia dizer até que ponto ele estaria preparado para assumir meus problemas e de repente eu me perguntei se ele sabia onde estava se metendo. Mas decidi não intervir. Nossa segurança dependia do quão rápido estivéssemos longe dali, então era melhor eu me apressar. Pedi licença e me retirei, correndo escada acima assim que saí do campo de visão deles. Do modo mais rápido que consegui, abri uma mala e joguei tudo o que me pertencia ali, sem qualquer hierarquia.

    De qualquer forma, não havia nada realmente importante além de outras poucas roupas, sapatos e produtos de higiene. O que era precioso estava no fundo do armário, dentro de uma caixa. Agarrada a ela, eu me apressei em pegar o restante dos materiais escolares que haviam ficado para trás, enfiando os que couberam na mala antes de desajeitadamente fechá-la. Com a respiração pesada, empilhei os livros e cadernos que sobraram de fora e os equilibrei embaixo do braço, pronta para partir. Dei uma última olhada no quarto e puxei o celular do bolso com a mão livre, procurando o número de Neji e enviei um sinal.

    “Tudo pronto. Espero na entrada”

    Ansiosa, apoiei a caixa na mala de rodinhas e saí do quarto, aliviada de que finalmente estava me libertando de mais aquela corrente. Ao menos agora eu poderia crescer, evoluir e enfrentar o que viria com a consciência de que não havia mais nenhuma amarra, nenhuma mentira, nenhuma prisão. Agora, em caráter definitivo, eu iria pela primeira vez me tornar a Hyuuga pela qual eu nasci para ser.

    Eu só não imaginava, que ao sair do quarto apressada, deixaria cair para trás um vestígio que possivelmente nos levaria ao fim.


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