A dor da fraqueza

“Aquele lugar era mesmo o inferno. Não se passaram nem 30 minutos e já tínhamos sido atacados por vários animais que pareciam enfurecidos com algo. Bem, eu não pensava que poderia ser tão difícil. Mas por algum motivo, eu me sentia viva, eu sentia que eu queria mesmo sobreviver.”

- Sabe, você não é bem o tipo de pessoa que eu pensei, Chronos. –Disse Bolt, enquanto limpava os dentes com a ponta da adaga- Pelas noticias e pelo resultado no Battle Royale, eu pensei que você fosse o tipo de gênio que só queria aparecer pra ganhar fama e dinheiro... Sei lá, faz só uns minutos, mas em momento algum deixou de se preocupar. Além de ter esse corpão... –Ele começava a babar, não queria pensar no que estava imaginando-

- Aquilo no trem foi um acidente. Eu meio que perdi o controle sabe? Eu sempre quis ser uma heroína de verdade, mas na hora... Eu vi aquela criança chorando... Eu precisava fazer alguma coisa.

- Muito nobre. Você até que faz o meu tipo... –Murmurou, enquanto olhava para os lados- Tem gente aqui.

- Como assim? –Falei, puxando a adaga instintivamente-

“E realmente havia, uma adaga passou rente ao meu rosto, deixando um corte em minha bochecha. Eu não havia visto de onde vinha, mas quando notei, Bolt já havia sumido. Senti do nada um arrepio na espinha e me joguei no chão, no momento certo em que uma carga elétrica explodiu perto de mim. Sabia quem era e o que queriam. Provavelmente outros alunos haviam feito uma aliança com os mais fortes da sala. Quando levantei, vi Ray e Uzu paradas na minha frente, rindo alto”

- Então o seu “aliado” fugiu? É bom mesmo, assim eu posso te matar! –Disse Uzu enquanto gargalhava-

- Você é uma mancha na história da UA, Nyanru. Talvez se eu te der uma boa lição, você se coloque no seu lugar.

“Eu estava meio sem reação, eram duas das alunas mais fortes da sala e eu estava sozinha. Pensei em fugir, mas elas poderiam simplesmente me paralisar. Minha única opção era entregar o cristal e rezar para que me deixassem em paz. Mas eu não podia fazer isso! Heróis devem proteger seus objetivos acima de si mesmo, espirito de auto sacrifício, certo? Pensei no que o Deku faria...  Então, decidi. Eu tinha que lutar!”

- Está com tanto medo que não vem? Então nós vamos até você! Stasis! –Disse Uzu, paralisando a minha adaga. Por mais que eu forçasse, ela não se mexia, então a soltei e me concentrei o máximo que pude, avançando no tempo. Quando avanço no tempo, tudo fica parado e eu me movo livremente, ao contrário de quando eu volto. Quando volto, tudo faz um movimento retrógrado e eu fico parada. Avancei os dois segundos, que me deu tempo suficiente pra chegar perto de Uzu e a agarra-la pelo braço, a arremessando de costas no chão-

- O que?! –Gritou Ray, carregando as mãos com eletricidade estática- Vai se arrepender! –No momento que ela me tocou senti a mesma sensação de antes. Meu corpo não me obedecia como eu queria, ele se movia aleatoriamente. Em uma reação rápida, voltei no tempo os dois segundos a ponto de desviar no ultimo instante da mão dela, contra-atacando com um chute no estomago-

- Essa foi pelo soco de ontem! –Disse eu. Mas aquilo foi um erro, fiquei confiante demais por tempo o bastante pra não perceber meu erro. A adaga que Uzu havia prendido com o Stasis havia sido liberada e como eu a havia forçado, a energia se acumulou nela, a fazendo voar nas minhas costas. Ela perfurou o manto e acertou meu ombro. Senti uma dor extremamente forte naquele momento, o que me deixou em estado de choque. Uzu então se levantou e retirou a adaga de mim, me dando uma cotovelada no meio das costelas, me fazendo cair. Ray então foi por cima de mim e me tocou, fazendo meu corpo se paralisar por completo. Eu já não sabia o que fazer, a dor fazia minha vista ficar tremula. A garota então começou a me socar com toda a força que tinha-

- Você é a vergonha da UA, Nyanru! –Gritou enquanto me socava-

- E-ei, você não está indo longe demais? –Indagou Uzu-

- Cala a boca. –Ela pegou a própria adaga e mirou no meu peito- Adeus.

- Air Smash! –Disse uma voz familiar e do nada uma corrente de extremamente forte passou por todos nós, fazendo com que voássemos e senti algo me agarrando. Depois disso, não me lembro de muita coisa...-

“Quando acordei, estava do lado do Rajia, encostada em uma arvore. Ele tratava meus ferimentos com ervas da floresta, olhei em volta, ele estava com os dedos roxos e abaixei o rosto, começando a chorar.”

- Nunca pensei que doesse tanto...

- A ferida? Eu usei um anestésico natural, logo deve passar...

- Não, não é a ferida... –Coloquei a mão no peito- Nunca pensei que doesse tanto ser tão fraca... Eu não pude fazer nada! De novo eu não pude fazer nada! Você que me salvou... Esses ferimentos... Você acelerou seus músculos a ponto de criar um impacto de ar, não é? Por que tinha que me salvar?! Dói muito...

- Eu vou me arrepender disso, mas... –Disse ele, me dando um tapa bem forte no rosto- Coloque logo pra fora todos esses pensamentos. Absorva pra si a imensidão do céu e da terra. Esse lugar precisa de heróis e NÓS SOMOS HERÓIS! Com certeza você vai se tornar mais forte. Então levante a cabeça. Ainda da pra ver o céu. Ainda da pra ver essas arvores. Esse lugar e nenhum outro é o inferno. Agora levanta, temos que sobreviver mais 11 horas!

- T-ta... Sim!!!

“Me levantei com dor e dei um sorriso leve, enxugando novamente minhas lágrimas. Ele estava certo... Ainda faltam 11 horas. Depois disso, eu posso chorar o quanto eu quiser, mas enquanto estiver sendo uma heroína, eu tenho que ser forte e manter o sorriso! Hahahaha!!!”