Os Cinco Selos

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    Capítulos:

    Capítulo 160

    Elliant

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Yoo,

    Antes de tudo, queria parabenizar uma leitora do Nyah, vulgo braga, que citou uma das maiores referência dessa joça aqui, que até então ninguém havia citado. A referência é sobre o arcanjo Tyrael em relação a franquia Diablo, onde há esse anjo no jogo e também tem maior contato com os humanos em relação aos outros anjos.

    Ai ai, vocês deviam ser como ela, que entendem todas minhas referências, e não que ficam criando umas ai que tem nada a ver. Carapuças irão servir agora

    Boa leitura ^^

    De prontidão, de dentro do muro, estavam Boros e Mary na única grande entrada de Arcádia. Para compensar sua falta de visão, o velho Boros era extremamente sensitivo. Assim que sentiu a aproximação de quatro demônios poderosos, rapidamente avisou a Mary que ficasse atenta, e a pequenina ficou com a espada um punho, começando a ficar tensa. O cego sentiu quatro presenças irem em direções diferentes pelo reino, enquanto um dos demônios aproximava-se deles.

    Por entre o arco dos portões aberto do muro, o Apóstolo adentrou. A demônio, Elliant, tinha uma silhueta esguia. O tom avermelhado de sua pele era um pouco mais escuro do que o habitual. Da cintura para baixo, sua pele era revestida por uma, aparentemente, fina carapaça marrom, assim como seus antebraços, mãos e laterais de sua cabeça. Seu torso era completamente nu, deixando seus fartos seios à mostra. Sobre seus cabelos negros e cacheados, os chifres eram curvados apontado para cima. Com seus olhos negros, ela fintou os humanos, e sua cauda entrelaçava em volta de sua barriga.

    Mary fintou Elliant com desdém.

    — Nojenta e depravada — ela disse.

    — Por que depravada? — perguntou Boros, curioso.

    — Como assim? Não vê?

    — Na verdade, não.

    Mary deu um tapinha na cabeça ao lembrar que seu mestre é cego.

     — É porque ela está com os peitos para fora — explicou.

    — Um desperdício eu não poder enxergar, então — lamentou Boros.

    — Sim, é um desperdício — concordou Elliant. — Humanos machos sempre se distraem com estes dois pedaços de carne. Para um cego e uma criança são completamente inúteis.

    Dando um passo à frente, o olhar de desdém em Mary intensificou-se.

    — Criatura imunda, eu não sou uma criança. — A voz dela saiu rígida.

    — Não? — A entonação em Elliant pareceu de sincera surpresa. — Pensava que humanos de sua estatura eram consideradas crianças. Interessante.

    — Não tire conclusões precipitadas. — O vento ao redor de Mary se intensificou, seu cabelo começou a ondular e a poeira ao redor esvoaçar. — Meus atos dirão ao contrário.

    Mary apertou ainda mais o cabo da espada, o vento ao redor dela ficou ainda mais violento, então avançou voando rente ao chão. Elliant postou seu corpo de lado — o corte revestido pelo vento passou a centímetros de seu corpo, rasgando o chão — e acertou uma joelha no estômago da Guerreira Sagrada, que cuspiu sangue. Em seguida, a demônio acertou-a com um potente soco no rosto, arremessando-a direto para as casas, e os escombros recaíram sobre ela.

    Boros, ainda parado, lamentou-se negando com a cabeça e suspirou.

    — Mary, quantas vezes preciso repetir para manter a calma antes de ir atacar seu inimigo que nem uma estúpida?

    Os escombros da casa voaram e Mary se colocou de pé com uma expressão furiosa. Seu estômago latejava de dor, sangue escorria pelos seus lábios e pelo nariz — provavelmente estava quebrado.

    — Me poupe de suas repreensões pelo menos agora, velho!

    Subitamente, Boros desembainhou sua espada da falsa bengala e brandiu contra os punhos do demônio, que havia investido contra ele. O confronto de poderes ocasionou em uma forte ventania e um leve tremor. Elliant tentou um soco de esquerda, mas o velho demonstrou ser bastante ágil para sua idade: agachou para desviar e subiu puxando um gancho de esquerda no queixo dela. Porém o soco doeu mais na mão de Boros do que em Elliant.

    Um corte disparado por Mary talhou a lateral do corpo de Elliant.

    Aproveitando-se, Boros empurrou a demônio para trás e começou uma sequência de golpes e estocadas. Elliant conseguia desviar de muitos dos ataques, todavia não de todos. Cortes rasos começaram a se abrir em sua pele nua no torso, porém não penetrava em sua carapaça.

    Deixando o vento dominar sua lâmina, Mary cortou o ar, fazendo uma rajada de vento ser direcionada para o demônio.

    Elliant, sentindo o perigo, deu um longo salto para trás, desviando do ataque de vento. Demonstrando uma grande maestria, Boros também lançou um corte revestido pelo vento, que se misturou com o ataque errôneo de Mary e voltou para a direção do demônio, ainda mais poderoso. Pega de surpresa, Elliant não teve nada a fazer a não ser cruzar os braços e tomar o ataque diretamente, torcendo para que suas carapaças fossem duras o suficiente para aparar boa parte do dano. A rajada de vento atirou ela violentamente para fora dos muros, resultando em alguns cortes onde a carapaça não a protegia e com que saísse rolando chão a fora.

    Todos os três sabiam que a desvantagem estava com Elliant.

    Boros, não querendo perder a vantagem, avançou para fora de Arcádia e começou uma sequência de cortes e estocadas de longo alcance. Elliant desviava saltando e ziguezagueando, mas alguns cortes acertavam seu corpo, abrindo feridas.

    Passando voando por cima do alto muro, Mary fez o vento ao seu redor envolver sua espada, deixando-a parecendo um pequeno tornado. Com destreza, ela manejou a espada e o golpe fora desferido em direção a demônio. Elliant, não deixando de notar a mudança repentina do vento acima de si, previu e evitou o ataque saltando para trás — o solo fragmentou e afundou ao ser atingido pelo vento. Apesar disso, o Apóstolo de Bahamut não evitou o ataque de Boros, fazendo com que um largo rasgo abrisse em seu peito.  Elliant sentiu-se fraca, um de seus joelhos tocou o chão. O sangue jorrava da nova ferida — era bem profunda — e escorria levemente pelas outras.

    Percebendo a fraqueza do inimigo, Mary começou a descer em direção a demônio para subjugá-la com um golpe direto e certeiro.

    As feridas pelo corpo de Elliant começaram a fechar.

    Boros sentiu a força do demônio emanar mais forte. Temendo que Mary não percebesse isso, ele não hesitou em atirar-se em direção a ela. O corpo do velho chocou-se contra o dela, atirando-a para longe.

    Ao mesmo tempo que isso aconteceu, Elliant se ergueu e, com o braço direito, acertou um golpe em cheio em Boros. O soco fora tão poderoso que, em um amplo raio, o chão aprofundou e fragmentou; o cego deslocou-se violentamente e rapidamente contra o muro, causando um alto e seco banque.

    Mary rolou pelo chão. Ao erguer-se, observou seu mestre encrustando profundamente no muro de Arcádia. O corpo de Boros estava imóvel, maculado pelo sangue e sua cabeça pendia para baixo, com o queixo tocando o peito. Naquela distância não era visível para ela, mas a barriga do velho estava aprofundada com a marca do punho da demônio.

    — Boros! — vociferou ela, com uma voz aguda.

    O poder de Elliant era bem simples: cada impacto absorvido pelo seu corpo era convertido em energia, aumentando sua força quando ela quisesse. Boros não podia enxergar as feridas dela se curando rapidamente para chegar a essa conclusão. E os olhos inexperientes e turvos pela fúria de Mary não iriam reparar nisso para chegar a essa conclusão.

    A expressão de Mary fechou-se em fúria, com seus olhos rosas bem abertos. Respondendo a esta repentina alteração de humor, o vento ao redor dela tornou-se ainda mais forte e turbulento. Com sua espada, ela começou a cortar o ar diversas vezes.

    Elliant cruzou os braços para se defender dos ataques revestidos pelos ventos. A cada golpe, ela era empurrada cada vez mais para trás e os rasgos começaram a abrirem-se novamente em sua pele avermelhada. Os ataques de vento continuaram seguidamente e incessantemente, quando finalmente sua carapaça nos braços e pernas começaram a ser penetradas e causar mais ferimentos, a raiva do Apóstolo despertou.

    Convertendo parte dos impactos em energia para suas pernas, Elliant repentinamente saltou em direção a Guerreira Sagrada. No ar, ela converteu o restante dos impactos em energia para seu braço. De cima para baixo, acertou a humana com toda a força que havia reunido. Impotente, Mary afundou no chão e por lá ficou. Sentia dores terríveis por todo seu corpo. Alguns de seus ossos haviam se quebrado. Com sua visão embaçada, ela observou Elliant se afastar e ir em direção ao seu mestre. Mary esticou sua mão trêmula em direção a demônio.a

    — Não... — Sua voz saiu trêmula em um sussurro.

    Elliant caminhou calmamente até o velho encrustado no muro. Percebendo que ele ainda estava vivo, sua sobrancelha arqueou. Sua cauda negra entrelaçou em seu corpo, roçando em sua própria barriga.

    — É realmente incrível que você esteja vivo. — Elliant passou os dedos nos próprios lábios. — Geralmente humanos morrem por bem menos. Chega a ser tedioso.

    A cabeça de Boros ergueu. Seus olhos brancos e cegos se abriram para fintar o demônio com bastante intensidade.

    — Você não sairá de Arcádia com vida, demônio — profetizou Boros. Apesar de sua situação ser completamente grave, sua voz não vacilou, continuou grossa. O sangue escorreu pela sua boca quando engasgou ao tentar recuperar o fôlego.  — Seu rei será reduzido a pó.

    Elliant fez uma expressão de pena. Sua cauda desenrolou-se de sua cintura e acariciou a bochecha de Boros.

    — Coitadinho... sente-se tão próximo da morte que começou a delirar. — A cauda deslizou da bochecha do Boros para o peito. — Não se preocupe. Irei lhe livrar deste sofrimento, humano medíocre.

    Com a precisão de um curandeiro e a brutalidade de um açougueiro, Elliant perfurou o peito de Boros com a mão direita e retirou o coração. A cabeça de Boros pendeu para baixo, morto, enquanto o coração ainda pulsava na mão da demônio. Ela ergueu o órgão acima da cabeça, deu um leve aperto e deixou o sangue respingar para dentro de sua boca, lambuzando seu corpo com o líquido carmesim quando respingava fora de seus lábios. Completamente sedenta, Elliant começou a devorar o coração até sobrar nada dele, dando um alto suspiro de prazer no final.

    — Coração de um humano velho é tão duro. Em compensação, fica com muito mais sabor em comparação que a de um jovem.

    Ao tocar no assunto sobre jovem, Elliant lembrou que havia aquela criança humana ainda, e voltou seu olhar para ela.

    Mary estava de pé. O sangue escorria pelo seu corpo, que tremia. Mal conseguindo ficar de pé, seu corpo ficava pendendo de um lado para o outro. Quando quase caiu para trás, seu corpo finalmente firmou. Sob a franja branca, os olhos frios dela fintavam os olhos negros do demônio. "Eu irei matá-la", pensou Mary. O vento começou a rodear seu corpo. "Mesmo que minha mana seja toda consumida". A ventania ao redor dela começou a ficar mais intensa. "Mesmo que meu corpo desmonte". O acúmulo excessivo repentino de ar fez com que o solo afundasse mais um pouco.

    — Mesmo que eu morra! — Mary ergueu a espada acima da cabeça. A ventania se intensificou ainda mais, fazendo com que pedras, terra e grama voassem ao redor dela. — Eu irei matá-la!

    — Finalmente compreendi o que você me disse no início da luta. Seus atos realmente não são os mesmos de que uma criança humana. Você é forte, apesar de ser pequena.

    — Foda-se o que você acha!

    O pé direito de Mary deslizou para frente e ela abaixou a espada. Todo aquele vento ao redor dela fora compactado em um fino corte, que saiu rasgado o chão em uma profundidade considerável. Elliant nada fez a não ser abrir os braços. O ataque a atingiu diretamente, abrindo um rasgo profundo de sua cabeça até a cintura. Todavia, com a mesma destreza e rapidez que o corte se abriu, ele fechou, sem deixar nenhuma marca no corpo de Elliant.

    — Um bom golpe, devo admitir — elogiou o Apóstolo. — Mas não é forte o suficiente para me matar. Você não é forte o suficiente.

    Mary sentiu seu corpo fraquejar. Ela cravou a espada no chão para não cair de bruços, fazendo apenas seu joelho esquerdo tocar no chão. Já não tinha forças e mana, o que lhe mantinha consciente era apenas a sensação de culpa e raiva pela morte de Boros.

    — Pobrezinha, está em uma situação deplorável. Não se preocupe, acabarei com este seu sofrimento antes que você comece a delirar como aquele velho. — Elliant suspirou, pensativa. — O coração dele já me saciou por ora. Não preciso do seu.

    Elliant avançou em direção a Mary, levou seu braço direito para trás convertendo a energia e golpeou. O impacto causou uma forte pressão, fragmentando ainda mais o solo em um grande raio e erguendo uma cortina de poeira. Mary abriu os olhos e viu a gigante costas em sua frente.

    Dante havia segurado o potente soco da demônio com apenas sua mão esquerda. Elliant encarou com olhar sério o Selo. Ela tentou se livrar da mão dele, mas não conseguia. Por fim, Dante afrouxou o aperto, e imediatamente Elliant afastou-se muito metros dele.

    — Ora, se não é um Se-

    — Calada — interrompeu Dante com a voz tão fria quanto sua expressão. Erguendo seu dedo indicador esquerdo, continuou: — Eu não lhe dei nenhuma permissão para falar.

    Pela primeira vez desde que começara a lutar, Elliant tomou uma posição defensiva. Estava hesitante, sentindo a opressão com apenas o falar de seu inimigo.

    Ignorando-a por completo, Dante deu as costas e olhou para Mary com sua expressão agora branda. Ao ver o pequeno sorriso do Selo, o copo dela começou a relaxar e a expressão de angústia tomou seu rosto.

    — Dante... o Boros... por minha causa...

    — Acalme-se, pequenina. — Dante se agachou e enxugou com o polegar uma lágrima que escorreu pela bochecha de Mary. Com o máximo de delicadeza que conseguia, ele deixou-a em uma possível confortável no chão. — Eu estou aqui agora.

    Dante afastou-se alguns passos. Mary observou uma fissura incandescente se abrir nas costas do grandalhão, e ele ergueu se musculoso braço direito.

    — Mary, fique quieta aí. Não vai passar de um soco.

    Elliant ergueu uma sobrancelha.

    — Você está me subs-

    — Eu disse para você ficar calada. — A expressão de Dante voltou a ficar fria. — Seres como você são os que mais irritam-me. Não conseguem enxergar a diferença de uma fagulha para um vulcão.

    Elliant sentia-se estranha. A pressão que sentia sobre ela, a sensação quente percorrendo pelo seu corpo, era a mesmo que sentia quando encarava seu rei e Morte. Sabia que não deveria economizar forçar para lutar contra aquele corpulento Selo. "Vou absorver todo o impacto e acabar com isso o mais rápido possível", pensou ela. Então avançou impetuosamente.

    Mary observou cada vez mais sulcos rasgarem-se nas costas de Dante e irem em direção ao braço direito. Sua visão começou a ondular, não por estar fraca, mas sim por causa do calor. Ela sentia a massa pesada de vapor quente pairando, fazendo-a transpirar. Relacionando todos estes fatos, Mary chegou a uma conclusão: Dante estava enfurecido.

    Dante moveu seu braço para trás de maneira lenta.

    Elliant se aproximou do Selo.

    Com um movimento de baixo para cima, o braço de Dante se moveu tão rápido que os olhos de Mary não conseguiram acompanhar. Ao encontrar seu alvo, um pilar espesso de chamas vermelhas emergiu em direção aos céus junto com o soco. O céu azul tingiu-se de vermelho pela explosão das chamas. Estranhamente, a pressão do impacto não ocasionou a destruição do solo sob Dante, apenas em uma forte ventania.

    Boquiaberta e com os olhos arregalados, Mary constatou a onipotência que Dante ostentava em seus braços — que ainda continuava a exalar vapor quente mesmo após desferir o golpe.

    Dante pegou Mary em seus braços. Os dois se aproximaram em silêncio onde Boros jazia. Ao vê-lo, lágrimas descontroladas começaram a escorrer pelos olhos Mary. Ela escondeu seu rosto no peito de Dante. Ele a observou com pesar. "Talvez se eu tivesse chegado um pouco antes ela não estaria passando por isso", Dante pensou.

    — Esta dor que você está sentindo é inevitável, pequenina — ele disse, com uma voz acolhedora. — Mas sofrer é opcional. Logo você entenderá isso, e ira aprender com dor.

    E aquelas foram as palavras mais humanas que Dante encontrou em seu coração confuso e não-humano.

    Continua <3 :p


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