Yooo,
Perdão pelo leve atraso, mas estive ocupado até então
Boa leitura ^^
Na manhã seguinte...
Em um dos quartos do castelo, Mikaela repousava na espaçosa cama. Aquele quarto era tão grande que ela tinha quase certeza que caberia a casa da Anne ali dentro, e talvez sobrasse um pouco de espaço. Ela deslizou a mão para a barriga e acariciou.
Batidas na porta ressoaram.
— Pode entrar. — Ela se sentou na cama.
A porta se abriu e Deckard e Miana adentraram no quarto. Os dois não conseguiam manter seus olhares por muito tempo em sua mãe. Percebendo esse desconforto neles, Mikaela incitou:
— O que vocês querem saber, crianças?
— Você... — Deck ergueu a cabeça e a fintou. — Quantos humanos você matou?
— Incontáveis.
— Sentia prazer fazendo isso? — perguntou Mia.
— Muito. Seus gritos, suas suplicias, o sangue, o gosto de sua carne, a sensação de poder a cada evolução, o domínio... me faziam delirar. — Ela olhou para os dois. — Eu percebia que os humanos eram criaturas facilmente enganadas, por isso acabei ficando conhecida entre os demônios como Lilith, a falsa.
O silêncio agoniante se criou, então Mikaela continuou:
— Quando cheguei naquela forma que vocês viram, meu ápice, comecei a não ver mais sentindo em tanta carnificina. Comecei a ter curiosidade sobre os humanos... não entendia porque eles eram tão apegados a vida. Passei a tentar viver como eles para entender. Aprendi a viver conforme, mas mesmo assim não entendia. Então, depois de muitos anos, seu pai apareceu. O que eu tinha que fazer era bem simples: matá-lo. Só que a curiosidade me atiçou novamente. Senti emanando nele o mesmo em mim... sangue e alguém que não sabia o que era viver de fato. E eu acho que ele sentiu isso em mim também, pois ele não me matou quando recuperou as memórias. Os Selos me aceitaram, e eu aprendi o que era amizade. Com Edward, o amor. — Mika sorriu e acariciou a barriga. — Agora iremos aprender o que é criar uma vida... duas. Juntos. Nós pensamos que não seria possível, pois achávamos que éramos estéreis. Estamos ansiosos.
Agora, os gêmeos a fintava com olhares serenos e esboçando um pequeno sorriso.
— Você não tem medo de que ele possa te trair como aconteceu aqui? — perguntou Mia.
Mikaela negou com a cabeça.
— Não. E mesmo se traísse, não me importaria. Não deveria viver essa vida boa. Todos meus pecados, todas as vidas inocentes tiradas... não é justo. Viver com todos esses pecados me assombrando e dar meu sangue para manter o Equilíbrio, esta é minha punição. Morrer pela sua lâmina é a melhor morte que posso imaginar para alcançar minha redenção.
— Não diga isso! — os dois vociferaram.
Mikaela levantou, foi até eles e abraçou-os. "Tão jovens, tão... inocentes", ela pensou.
***
Os gêmeos foram para o mesmo local que treinaram ontem. No campo aberto e rochoso, Edward estava em seu centro. Ele estava sem seu sobretudo, olhando fixamente para seus filhos se aproximando enquanto o vento ondulava os cabelos brancos dos três.
— O que difere vocês dos demônios? — perguntou Ed, com um olhar sério.
— Nada — responderam.
— Então por que lutam contra eles?
— Porque sabemos o que é viver. Sabemos o que é amar, o que é ser feliz, o que é ser triste. Sabemos o quanto esse mundo pode ser belo, apesar de tanta imundice — começou Deck.
— Bahamut é ser doentio que pretende acabar com tudo isso. E nós estamos disposto a proteger tudo isso a qualquer custo, simplesmente porque gostamos disso, simplesmente porque é assim que o mundo tem que ser — terminou Mia.
— Muito bem, crianças. Lembrem-se sempre disso: ninguém pode acabar com uma vida, nem mesmo algum deus... apenas o tempo detém esse direito. — Ed sorriu. — Treinamento concluído.
Os dois fizeram expressões surpresas enquanto Edward passava por eles.
— O quê? Você não vai treinar a gente?! — perguntou Mia.
— Já treinei. Agora vocês sabem que não são iguais aos outros — retrucou Ed.
— Mas e as lutas? Queremos ser fortes como você! — disse Deck.
— Não! — vociferou Ed.
Com o súbito aumento no tom da voz, os gêmeos se assustaram. Edward fechou os olhos, respirou fundo e prosseguiu recuperando a calma:
— Não sigam os meus passos, não há nada além de sangue lá. Só iria ensinar o básico, e isso vocês já sabem.
— Mas...
— Basta, Miana. — Ele olhou para seus filhos. Sua expressão esboçava cansaço e tristeza, de certa forma. — Vocês sabem a sensação de alguém lhe irritar e a primeira coisa que vier em sua mente é matá-lo? De como seria fácil sua lâmina silenciá-lo trespassando sua garganta? Pois eu sei! Meus instintos sempre clamam por sangue! Porra, como EU clamo por sangue! — Edward negou com a cabeça. — Vocês têm que ser melhor do isso, vocês SÃO melhor do que isso. Não sigam os meus passos. Nem o da usa mãe, nem dos seus tios, nem o da sua tia.
Sem dizer mais nada, Edward foi embora a passos largos.
Naquelas duras e pesadas palavras de seu pai, Deckard e Miana descobriram uma importante verdade: os Selos não eram os heróis que todos esperam, mas eram os monstros que este mundo precisa. Seres que não se importam de sujar-se de sangue, que fazem o que é necessário para que este mundo sobreviva.
***
Perto do final da tarde, com o sol se pondo, todos os moradores de Arcádia se reuniam no lado de fora dos muros. Lá, havia um alto palanque, onde encontravam-se a Rainha Camille e seus Guerreiros Sagrados — todos trajavam roupas brancas. Ao lado direito do palanque, estavam fileiras de corpos de todos aqueles humanos que morreram neste confronto cobertos por um pano branco.
Apesar de tanta gente reunida, apenas era possível escutar o sussurro do vento.
Lindamente trajada de um longo vestido branco com adornos dourados e demostrando sua coroa dourada com uma esmeralda encrustada em seu centro, Camille tomou a frente no palanque. Com uma voz forte e ecoante, começou a dizer:
— Pela primeira vez, a humanidade teve seu primeiro confronto vitorioso contra os demônios, graças a ajuda dos Selos. Mas, mesmo assim, o preço fora alto demais. Perdemos centenas de companheiros, dentre eles, um Guerreiro Sagrado.
Camille abaixou a cabeça, e todos fizeram o mesmo. Ela ficou em silêncio por um tempo, ergueu a cabeça, olhou para cima e lágrimas escorreram de seus olhos quando foram abertos.
— Barek, como minha última ordem... Não... eu lhe peço. Por favor, guie estes homens para seu tão querido descanso. — Com o punho fechado, ela bateu duas vezes contra o peito. — Suas almas queimaram no campo de batalha para defenderem seu reino, assim como irão queimando até chegarem ao paraíso e encontrarem seus entes queridos e seu merecido descanso.
Deckard caminhou até a lateral do palanque. O arco verde transparente se fez em sua mão esquerda, ele puxou a corda, a flecha vermelha que se formou fora atirada nos corpos, que logo começaram a ser tomados pelas chamas laranjas.
Naquele momento, muitos começaram a chorar. Camille olhou seus homens pegando fogo. Lagrimas escorriam pelo seu rosto, mas sua expressão forte e inabalável continuava.
Edward se juntou a despedida em seu fim, estando na última fileira. Não havia encontrado ninguém. Nem mesmo Lizzie.
— Isso é bem triste, né?
Ele seguiu o som da voz e viu que era Gabi, a mulher que ficou presa junto com ele.
— Todos iremos encontrar o mesmo fim um dia — disse Ed.
Houve um silêncio entre os dois.
— Seu nome é mesmo Destruidor Sadista ou...?
Ele riu.
— Chamo-me Edward. Havia perdido minhas memórias.
— Um nome sútil para um ser de tamanho peso, deve admitir. — Gabi fez uma careta.
— Eu sou Morte, capitão dos Selos. — Ed a fintou com um olhar sério, assim como o tom da voz. — Nós iremos acabar com qualquer um em nosso caminho. Então, Gabi, se tiver com algum problema, pode contar comigo.
— Obrigada — agradeceu com um sorriso, mas logo se desfez e desviou o olhar. — Tenho que ir agora. Nós vemos por aí, Edward.
Edward ficou olhando-a mesmo após ter distanciado bastante dele.
***
Já havia anoitecido quando todos voltaram a seus afazeres normais e voltaram para dentro dos muros. Edward se encaminhou em direção ao precipício, e lá viu seu filho sentado na beirada. Deckard ainda continuava trajado com a roupas brancas e estava com um cigarro entre os lábios enquanto olhava para a lua.
— Quero um — disse Ed, estendendo a mão.
— Não sabia que fumava. — Deck retirou um cigarro do bolso e entregou.
— Parei. — Edward se sentou ao lado de Deckard, acendeu o cigarro com a ponta do dedão envolto em chamas azuis e tragou. — Fazia cerca de um ano que não colocava um em minha boca.
— Algum motivo em especial por ter parado?
— Sim. O motivo simplesmente resolveu ir embora. Por qual motivo que você fuma?
— Nem todos temos um motivo.
— Mas você tem. — Ed virou seu olhar para Deckard.
O olhar dos dois se encontram, mas Deckard logo desviou o olhar. Ele ficou olhando para a escuridão profunda do abismo.
— Às vezes, a cena da morte da mãe vem em minha cabeça. Com a morte do Barek, essa memória veio novamente. E a única coisa que me acalma é essa porcaria. — Fechando olhos, Deckard ergueu a cabeça e tragou fundo. A medida que abria os olhos, a fumaça exalava. — Pai, você sabe a sensação de ter um vazio por dentro?
— Sei. Você quer a verdade dolorosa ou a mentira acolhedora? — perguntou Ed.
— Verdade dolorosa. — Deck deu de ombros.
— Você ainda vai conviver com este vazio por muito tempo. Mas... acredito que, algum dia, alguém irá te abraçar tão forte que todos os seus pedaços irão juntar-se novamente. Entretanto, algo que foi quebrado nunca volta a ser o que era antes ao ser juntado novamente. — Houve uma pausa para ele tragar e exalar. — O vazio sempre volta. Todos temos uma guerra individual a ser travada. — Ed tocou no peito de seu filho. — Nunca deixe este vazio te consumir. Muitos deixam, e a que lugar eles chegam? Sempre ouça essa voz em sua cabeça que diz que você é especial.
Deckard refletiu por um tempo em silêncio.
— Obrigado — ele agradeceu, sinceramente.
— Que nada.
Edward jogou fora o cigarro penhasco abaixo, ergueu-se e começou a ir embora, mas parou em uma certa distância. ÂÂ Ele coçou o cabelo, inspirou fundo para tomar coragem e virou-se:
— Deckard?
— Sim?
Deckard se virou e deparou-se com seu pai com um olhar tão sereno e um sorriso tão radiante que fez seu coração bater mais rápido.
— Te amo, meu filho.
Edward rapidamente voltou a sua caminhada.
Enquanto o sorriso se abria em seu rosto, as lágrimas escorreram pelas bochechas de Deckard.
— Meu pai... me ama? — Ele se virou para o penhasco, ainda sorrindo e chorando, e aperto seu peito na região do coração. — Porra, meu pai me ama!
***
Mikaela caminhava em direção ao castelo. Hoje, o reino estava mais quieto, pois todos estavam de luto. Nem era tão tarde da noite, mas haviam tão poucas pessoas do lado de fora de suas casas. "Desde manhã não vejo Edward... Deve estar incomodado com tudo isso", Mika pensou.
Aproximando-se do castelo, ela viu que Miana estava em cima dos telhados, sentada e abraçada com os joelhos. Sem muito esforço, Mikaela saltou do chão para o telhado, sentou-se do lado de sua filha e abraçou os joelhos como ela. Ambas continuaram em silêncio por um tempo.
— Quando éramos menores, subíamos aqui para conversar. Eu, Deckard, Will, Mary, Lua... e Barek. — Mia soltou os joelhos. — Fico triste pensando que isso nunca mais irá acontecer. Não com todos nós juntos.
— Perdas em mundo como este são inevitáveis, Mih. Mas acho que você já saiba disso.
— É.
O silêncio voltou. Mikaela queria dizer mais coisas para ela, mas realmente não sabia o quê. Aquela era uma das situações que nunca passaram pela cabeça da Mikaela que um dia iria ter.
— Mãe? — chamou Mia.
— Sim?
— Como foi sua primeira vez com o papai?
— Hein? — Mikaela olhou para Miana.
— Digo... ele foi fofo?
— Eu não tenho muito experiência como mãe, mas eu acho que esse é um dos assuntos que não são falados, certo? — Mika disse de maneira rápida, começando a ficar corada.
Miana deu de ombros.
— Só fiquei curiosa.
Houve mais um silêncio, dessa vez desconfortável. Mikaela coçou o cabelo, depois parou e suspirou.
— Ele tentou ser o mais fofo que conseguia — ela admitiu, olhando para frente e ficando vermelha.
— Nossa! — Mia fez uma expressão de surpresa. — Para alguém chamado de Morte, isso realmente é surpreendente!
— É.
— Sua primeira vez foi com ele?
— Mas é claro! Ou você acha que eu teria algum tipo de relacionamento tão carnal com seres humanos tão nojentos e medíocr... — Ela se auto interrompeu e pigarreou. — Digo... sim, Mih... Foi com o seu pai.
Miana fez uma careta, mas Mikaela não olhou para ela.
— Que bela visão você tem dos humanos, mãe.
— Acho eles criaturas incríveis — falou rapidamente. Disfarçando, Mika prosseguiu: —ÂÂ E o fetiche do seu pai é...
— Ou, ou, ou, ou, certo! — Miana interrompeu balançando os braços. — DISSO... eu realmente não preciso saber.
As duas olharam uma para a outra e começaram a rir. Miana se aproximou e escorou-se em sua mãe, encostando sua cabeça na dela. As duas ficaram assim em silêncio por mais um tempo.
— Mãe? — chamou Mia.
— Sim?
— ... Há momentos que eu não sinto mais vontade de viver, que não tenho forças. Meu irmão é o único motivo que eu tenho para continuar seguindo em frente. Caso eu perca ele, eu... ÂÂ não sei.
Mikaela a abraçou, repousando a cabeça de Mia em seus seios e afagando os cabelos dela.
— Se o único motivo de você querer viver é o Deckard, já é grande coisa. Não tenha vergonha disto. E, se você tem medo de perdê-lo, proteja-o. Você consegue, é minha filha, afinal.
Mikaela sentiu os braços de Miana apertarem-se nela e começou a escutar abafados soluços.
***
Já era tarde da noite quando Edward voltou para o castelo. Ele abriu a porta com maior delicadeza o possível para não fazer barulho e, ao adentrar, viu Mikaela sentada de perna cruzadas em cima da cama, concentrada em costurar o sobretudo. Só quando a porta se fechou que ela percebeu que ele estava ali.
— Ei — Mika disse.
— Oi.
— Como está Deckard?
— Destruído, mas com forças o suficiente para seguir em frente. E Miana?
— Destruída, mas com um bom motivo para seguir em frente.
Ainda encostado contra a porta, Edward abaixou a cabeça. Mikaela colocou o sobretudo de lado e levantou-se.
— Você não tem culpa.
— Eu sei, mas...
Ele sentiu as mãos de Mika entrarem em contato com a suas e, em solavanco, fora atirado na cama. Mikaela ficou por cima — seus cabelos recaídos fizeram cócegas no rosto de Edward. Ele abriu os olhos e encontrou os olhos vermelhos sérios e serenos sobre os seus.
— Você. Não. Tem. Culpa.
Impedindo-o de respondeu algo, Mikaela o beijou delicadamente. Ela sentiu o súbito toque em sua barriga, afastaram-se os lábios e ambos sorriram.
— Sua barriga logo fica grande, né? — ele perguntou.
— O que você está insinuando com isso, Edward? — Ela semicerrou os olhos.
— Nada demais...
— Sei.
Mikaela mordiscou o pescoço de Edward.
Continua <3 :p
Curiosidades:
Deckard: filho de Edward e Mikaela, sendo o irmão gêmeo mais novo de Miana e um Guerreiro Sagrado.
Armas: utiliza de duas pistolas de mana (Bela e Alice), um revólver (Afrodite) e um arco conjurado.
Chamas: nenhuma. Ele não herdou as chamas azuis de Edward como Miana.
Magias: ele é capaz de usar conjurações, como por exemplo seu arco e as flechas, e também é capaz de utilizar magia de sangue — o que, de certa forma, é perigoso se usado sem limitações.
Idade: 16 anos.
Altura: 1,75 metros.
Aparência: seu cabelo branco é liso, sendo que ele sempre deixa sua franja jogada para trás. Olhos vermelhos e pele branca. Seu rosto é levemente arredondado. Seu físico é mediano e músculos bem definidos com ombros largos.
Características: completamente discreto com seus sentimentos, não gosta de demonstrar muito de si para os outros. Pode até parecer sério à primeira vista, mas na segunda torna-se bem-humorado e idiota. Sendo ele de natureza calma e meticulosa, seu estilo de combate é de média a longa distância.
Gosta: de dar passeios além de Arcádia.
Odeia: fazer coisas apressadas e de qualquer jeito.