Os Cinco Selos

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    Capítulos:

    Capítulo 151

    Dolorosas Memórias

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Yooo,

    Depois de revela??es no cap?tulo anterior, vamos para o passado esclarecer os acontecimentos

    Boa leitura ^^

    Miana e Deckard

    Alguns anos antes...

    Em um quarto onde a luz da manhã começou a iluminá-lo, estavam os pequenos gêmeos. Miana, que estava na cama do lado esquerdo, tinha seu cabelo curto com a franja tampando seu olho esquerdo, e dormia abraçada a uma pelúcia de um coelho. Na cama ao lado, estava Deckard abraçado com o travesseiro; seu cabelo era mais curto do que o de sua irmã e a franja não recaia em seus olhos. Ambos vestiam roupas brancas e finas para dormir.

    Quando enfim o sol chegou aos olhos de Deckard, despertou. Ele bocejou enquanto despreguiçava-se e deslizou da cama para o chão. Com passos vacilantes e coçando o olho semifechados, Deckard foi até Miana e chacoalhou.

    — Ei, Mia, acorde. — Ele bocejou. — Já é manhã.

    Parecendo um morto levantando de sua tumba, Miana sentou na cama. O cabelo branco e desgrenhado tampou boa parte de sua visão.

    — Já é manhã? — ela perguntou, sonolenta.

    — Sim. — Deck riu. — Você está feia.

    Miana levou seus olhos praticamente fechados e julgadores até Deckard.

    — Você tem o mesmo rosto que eu, idiota.

    Ele deu de ombros.

    — Só deixa as coisas mais triste ainda.

    Deckard saiu do quarto. Sentada na cadeira, recaída sobre a mesa de bruços e cheio de livros abertos envolta de si, estava sua mãe. Mikaela dormia pesadamente com roncos baixos. Ele deu leves puxões em seu vestido negro adornados com rosas.

    — Mãe, mamãe... acorda — Deck disse.

    Com um sobressalto, Mikaela saiu de cima da mesa. Seu cabelo negro estava desgrenhado sobre seus olhos.

    — Já é manhã? — ela perguntou, sonolenta.

    — Aham. — Deck riu. — Você está feia.

    Mikaela levou seus olhos praticamente fechados e julgadores até Deckard.

    — Meu rosto é um esboço do seu, idiota.

    Ele deu de ombros.

    — Só deixa as coisas mais triste ainda.

    Mikaela sorriu. Ela colocou as mãos nas bochechas dele e deu-lhe um beijo na testa.

    — Bom dia, filho. Cadê sua irmã?

    — No quarto. Não quer levantar.

    Despreguiçando-se, Mikaela se levantou e foi até o quarto. Gargalhadas começaram a romper o silêncio da manhã. Deckard entrou no quarto e viu sua mãe fazendo cocegas em sua irmã.

    — Eu levanto! Eu levanto! Pare! — Mia em meio as risadas.

    Mikaela parou e ficou a olhando com olhos semicerrados.

    — É bom mesmo. Rum. — Mika se inclinou e deu um beijo na testa da Mia. — Bom dia, Mih. Vocês dois vão se arrumar logo para podemos comer e ir para o lago!

    — Lago! — disseram os dois erguendo os braços e sorrindo.

    Como prometido, depois de trocarem-se e comer, saíram para ir ao lago. A pequena casa dos três ficava em meio ao campo florido cercado por uma floresta. O sol ardia forte em meio ao céu limpo e azul. Mikaela estava com uma mochila nas costas, Miana segurava a mão direta de sua mãe e Deckard e esquerda. Os dois ficavam a puxando de um lado e para o outro, e Mikaela ficava resmungando enquanto isso. Depois de adentrarem na floresta, eles enfim chegaram no lago cristalino que ali tinha. Deckard e Miana se despiram rapidamente, correram e jogaram-se no lago.

    Mikaela sentou na sombra feita por uma árvore. Da mochila, ela retirou um livro e começou a ler, dando olhadelas para as crianças de vez em quando para checar se estavam bem. Depois de alguns minutos lendo, ela fechou o livro e ficou refletindo por um tempo. De dentro de sua bota, retirou uma faca e começou a talhar diversas runas no tronco da árvore. Mikaela encostou sua mão nas runas, elas acenderam em um brilho branco, mas só. Nada aconteceu.

    — Falhei de novo... — Ela suspirou.

    Os gêmeos jogavam água um contra o outro. Irritado, Deckard avançou e começou a puxar o cabelo de sua irmã, e Miana começou a puxar o cabelo dele também. A cabeça dos dois iam e viam.

    — Mãããe! Olha o Deckard! — vociferou Mia.

    — Foi ela que começou!

    Os dois pararam de puxar o cabelo um do outro ao ver que sua mãe havia desaparecido. Não só ela, assim como a árvore em que estava, deixando apenas um buraco no chão. Desesperados, os gêmeos nadaram o mais rápido que puderam para sair do lago.

    — Mãe! Mãe! — chamavam.

    Saindo da água, eles foram em direção a cratera, até que, inesperadamente, Mikaela apareceu na frente deles. De imediato, os dois a abraçaram com força.

    — O que foi, crianças?! — ela questionou, assustada.

    — Você... tinha sumido — explicou Mia.

    — Sumido...? — Mikaela olhou para trás e viu que a árvores que ela repousava sumiu, deixando uma cratera. Mika se aproximou e esticou o braço lentamente em direção a cratera e, em um determinado ponto, sua mão sumiu. Sorrindo, ela arregalou os olhos e ergueu os braços. — Deu certo! Eu consegui!

    Os gêmeos se entreolharam.

    — Mamãe está ficando louca — sussurrou Deck.

    — Sim — concordou Mia.

    Mikaela lançou um olhar aborrecido para eles. Ela pegou Deckard pela cintura e ergueu-o até acima da cabeça.

    — Não fale assim de sua mãe!

    E ela o arremessou direto para o lago. Miana começou a correr, mas foi pega pelo braço, girada e arremessada. Os dois emergiram da água ao mesmo tempo, e viram o corpo de sua mãe caindo em sua direção, chocando-se contra eles e a água.

    ***

    Praticamente no final da tarde, os três faziam o trajeto para casa. Mikaela era a única ensopada, pois pulou com sua roupa. Eles voltavam em silêncio e, como de praxe, Deckard segurava a mão esquerda e Miana a direta de sua mãe. Deckard olhou para Mikaela e percebeu o olhar distante que tinha.

    — O que foi, mãe? — ele perguntou.

    Mikaela piscou — seu olhar voltou ao normal — e olhou para Deckard com um sorriso.

    — Nada, Deck.

    — Está pensando no papai? — perguntou Mia.

    Mikaela deu uma risadinha e um sorriso que fez suas bochechas corarem um pouco.

    — É. Por aí, Mia.

    — Queria conhecer ele... — comentou Deck, cabisbaixo.

    — Ele é bem ocupado, né? — Mika trouxe seus filhos mais para próximo de si, abraçando-os. — Tudo o que ele fez é visando o bem deste mundo. E também, porque ama vocês. Nunca se esqueçam destas duas coisas.

    Logo quando chegaram em casa, Mikaela pegou livros e começou a escrever rapidamente, sem dar pausa.

    Com o anoitecer, os gêmeos deitaram em suas camas. Mikaela abraçou e deu vários beijos na bochecha de Miana e depois fez o mesmo com Deckard. Ela foi até a porta e olhou para eles.

    — Boa noite, meus filhos. Amo vocês — ela disse, sorrindo.

    — Também te amo, mãe — responderam.

    Então a porta se fechou.

    ***

    Deckard acordou com o barulho de algo se quebrando. Depois de um curto silêncio, começou a escutar múrmuros. Aquilo despertou sua curiosidade.

    — Ei, Mia, está acordada?

    Sem resposta, ele deslizou para o chão e foi até a cama de sua irmã, acordando-a balançando.

    — O que foi, Deck?

    — Está escutando? Vozes.

    — Estou sim... mas é a sua voz me atrapalhando a dormir!

    — Estou falando sério, Miana! Escute!

    Miana ficou um tempo em silêncio.

    — Estou sim. Parece ser uma voz diferente da mãe também... — ela observou. — Ou talvez a mãe enlouqueceu de verdade agora.

    — Nós nunca tivemos visitas...

    — E se for o papai?!

    — Só temos um jeito para descobrir!

    Atiçados pelo desejo de ver o seu pai, os gêmeos foram em silêncio absoluto até a porta. Ansiosos, Deckard começou a abrir a porta lentamente para que não fizesse barulho. Mikaela estava de costas para eles, então viram uma lâmina azul transpassar em suas costas ─ o sangue gotejou pela ponta. Quando a lâmina foi retraída, viram o corpo de sua mãe cair no chão com um banque. Lentamente, seus olhares, agora arregalados e trêmulos, subiram até a figura de cabelo branco, olhos azuis e de foice. Os gêmeos, ao ver os olhos mortos daquele ser, sentiram horror. O pavor era tanto que eles não conseguiam gritar, nem chorar, apenas ficarem parados ali, fitando-o. Aqueles olhos azuis encontraram os deles.

    — Eu sou seu pai. Sentem ódio por eu ter matado sua mãe? — Morte pegou dois livros e um caderno de cima da mesa e jogou para perto de seus filhos. — Cresçam, fiquem fortes e clamem por sua vingança. Se tiverem coragem, é claro.

    Sem dizer mais nada, Morte deu as costas e saiu da casa.

    Mesmo com sua saída, os gêmeos continuaram parados sem esboçar reação. Seus olhares, ainda trêmulos e arregalados, voltaram para sua mãe. O sangue já havia empapado o seu vestido e a poça de sangue se formou sob ela. Deckard deu poucos passos, caiu de joelhos sobre o chão e engatinhou lentamente até sua mãe.

    — Ei, mãe... levante... — Ele começou a dar leves empurrões, mas o corpo só balançava como resposta. Os primeiros filetes de lágrimas se fizeram em seu rosto. — Mãe... mãe... — Inclinou-se até o peito dela, onde o corte foi feito e repousou a cabeça lá.

    Miana andou lentamente, seu corpo parecia querer vacilar a cada passo e também recaiu de joelhos perto de sua mãe.

    — Mamãe, fale algo... — Ela colocou suas mãos nas bochechas de Mika e fintou os olhos sem brilho. As lágrimas começaram a escorrer em abundância. — Fale algo, mamãe... por favor. — Mia repousou sua testa na dela.

    Os dois começaram a chorar e a berrar intensamente, e isso se arrastaria durante horas e horas.

    ***

    A luz da manhã começou a iluminar o campo florido. Esta manhã, os gêmeos não iriam receber o bom dia e o beijo de sua mãe, nem na manhã seguinte.

    Os dois estavam do lado de fora da casa, um pouco distantes. As roupas estavam manchadas pelo sangue de Mikaela, assim como suas mãos, pernas e rosto, apesar de terem limpado um pouco. Ambos traziam uma mochila em suas costas.

    Sem imitir expressão alguma e sem brilho nos olhos, Miana e Deckard não desviavam o olhar da casa e nem diziam nada. Do interior da casa, uma luz começou a emanar. Poucos instantes depois, o fogo começou a tomar conta da casa, progredindo até começar a queimar o campo florido também. Miana mordeu seu lábio com força até sangrar, virou-se e começou a ir em direção a floresta. Deckard continuou observando. Não esboçava nenhum tipo de emoção, nem mesmo fúria, dor, tristeza... nada. Simplesmente virou-se e seguiu sua irmã.

    Já era noite quando decidiram parar de andar — nunca haviam parado para pensar o quão longe da cidade estavam, pois Mikaela sempre os levavam de teletransporte. Após acenderem uma fogueira, Miana sentou de um lado enquanto Deckard ficou do outro. Miana observou seu irmão olhando fixamente para as chamas. Pela primeira vez, notou que os dois não haviam trocado nenhuma palavra até então.

    — Não imaginava que estaríamos tão longe de um reino ou vila, né? — Ela tentou puxar assuntou, mas não houve resposta. — Deck? Me escutou?

    Sem resposta novamente, Miana levantou, foi até seu irmão e sentou-se ao seu lado. Um pouco receosa, ela o acolheu em seus braços, repousando a cabeça dele em seu peito. Repentinamente, Mia sentiu o aperto forte de Deckard e escutou seus soluços. Ela sentiu seus olhos enxerem-se de lágrima, mas engoliu o choro. Só iria consolar seu irmão.

    Deckard acordou com o ruivo de lobos. Ele se levantou do chão, viu sua irmã de pé um pouco distante e vários lobos encrenqueiros ao redor — uma alcateia. Miana segurava uma faca com as duas mãos e não parava de tremer.

    — Deckard, fique perto de mim.

    Ele foi até ela imediatamente, encostando suas costas na dela. Agora, eram os dois que tremiam. Os lobos olhavam para suas presas sedentos e estudando-os.

    — Fiquem longe de meu irmão — advertiu Mia para os lobos.

    Um lobo encrenqueiro deu passo à frente, sua boca abriu dividindo-se em quatro partes e depois preparou-se para avançar.

    — Eu disse para ficarem longe! — vociferou.

    A expressão de medo em Miana transformou-se em de fúria. As escleras de seus olhos começaram a ficar negras gradativamente. As chamas azuis começaram a fluir em seu corpo, explodindo em seguida. A floresta começou a arder em chamas, os lobos encrenqueiros fugiram imediatamente, sendo que alguns foram queimados. Miana largou a faca, levou as mãos ao seu rosto e começou a gritar dor, e as chamas azuis continuaram a ser emanadas continuamente. Deckard não se queimava, apenas sentia o calor das chamas. Ele não sabia como reagir aquilo, mas, por fim, atirou-se em sua irmã e os dois caíram no chão.

    — Desculpa, Mia — ele disse vendo a expressão de agonia dela.

    Deckard lhe acertou uma cabeçada na testa, Miana desmaiou e as chamas cessaram no mesmo instante. Ele olhou para o lado e viu umas das mochilas pegando fogo. Desesperadamente, correu até elas e abriu a que não pegava fogo e, ao ver os livros e o caderno, suspirou aliviado. Apressadamente, Deckard colocou a mochila em suas cortas, pegou Miana em seus braços e seguiu caminho.

    — Irei te tirar daqui, irmã — ele prometeu, com um olhar de certeza.

    Deckard caminhou e caminhou, sem fazer pausa, nem mesmo quando amanheceu. Depois de tanto tempo caminhando, suas pernas doíam, já não sentia seus braços e sua visão oscilava. Seu corpo se movia sozinho. Contudo, finalmente, os dois saíram da floresta.

    Percorrendo com os olhos a estrada de chão, Deckard viu uma carroça coberta com um pequeno grupo em volta. Ele começou a andar mais rápido em direção ao grupo.

    — Aju...de.

    Então a consciência de Deckard vacilou. Ele sentiu alguém o segurando antes que chegasse ao chão. Erguendo seus olhos exaustos, Deckard deparou-se com a mulher de longos cabelos roxos o segurando.

    — Ei, ei, o que houve com vocês? — ela perguntou, assustada.

    Antes que houve alguma resposta, a mulher pegou a Miana com o braço esquerdo e repousou em seu ombro, fazendo o mesmo com o Deckard em seguida. Ela os levou até a carroça, um homem que acabava de entrar na meia-idade pegou deitou a Miana, enquanto a mulher deixou Deckard sentado. Ela limpou o rosto dele, parecendo não se importar com as manchas de sangue. Sorrindo, disse:

    — Eu me chamo Camille e aquele é o Boros. Qual é o nome de vocês dois?

    — Deckard... e Miana.

    — Certo, Deckard. Você pode me contar o que aconteceu?

    — Nosso pai matou nossa mãe. — Sua voz não tremeu e seu rosto não demonstrou nenhum sentimento.

    Camille ficou um tempo em silêncio, absorvendo aquelas palavras fortes vindo de uma criança de sete anos.

    — Irei levá-los para um lugar seguro — ela assegurou. Não conseguia pensar em mais nada para falar.

    Quando Camille ameaçou a afastar-se, Deckard a segurou pela mão.  De imediato, ela o pegou no colo novamente.

    — Barek, Lua, cuidem da Miana, sim? — pediu.

    Os dois eram um pouco mais velhos que os gêmeos. Barek e Lua assentiram e adentram na carroça. Boros montou no cavalo solitário e Camille sentou na frente da carroça, controlando os dois cavalos com Deckard sentado ao seu lado. De dentro do bolso de sua túnica, ela retirou um cigarro, acendeu com um fósforo e tragou.

    — O que é isso? — ele perguntou.

    — Um cigarro.

    Camille se virou para olhar para Deckard e encontrou o olhar sem brilho. Os olhos daquela criança expressavam dor, angústia. Uma sensação incomoda cresceu no peito da Camilla.

    — Ei, tia Camille, por que eu não sinto mais vontade de viver?

    Ah, aquela pergunta fragmentou o coração de Camille em mil pedaços, até mesmo um filete de lágrima escorreu pelo seu rosto sem que percebesse. Ela tirou o cigarro da boca e entregou-lhe para Deckard.

    — Aspire pela boca... devagar.

    E foi o que ele fez. Deckard tossiu e a fumaça fora exalada pela boca enquanto isso.

    — É horrível.

    — Sim. É. — Camille passou seu braço pelo ombro de Deckard e o acolheu para mais perto de si.

    Quando Deckard adormeceu, Camille pegou os livros e o caderno que estavam na mochila dele. O primeiro livro, verde e vermelho, estava escrito “Para Deckard” na contracapa, e contava sobre magias de conjuração e de sangue. Já o segundo, totalmente negro, dizia “Para Miana”, e falava sobre como utilizar a escuridão ao seu favor. Por outro lado, o caderno tinha escrito “Para um reino salvo de demônios, Arcádia”. No caderno, continha anotações de como criar uma ilusão forte o suficiente para ocultar totalmente um reino de demônios e qualquer outra coisa. Camille leu atentamente todas as anotações com os olhos arregalados e boquiaberta.

    Continua <3 :p


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