Oi, meus queridos!!!!
Pessoal, desculpa a demora pra postar, eu sei que estava programada para postar a cada 2 semanas. Eu viajei para a casa dos meus pais para passar o Natal e ano novo e não tive tempo algum de sentar e escrever. Poréeeeem, cá estou. aushauhsauhs
Como foram de festas, tudo bem por ai?
O capítulo hoje veio pra trazer a nova fase de JR, então eu espero que vocês gostem e que estejam animados pra conferir como nossa querida personagem vai se reconstruir.
Feliz ano novo para todos, pessoal, que esse ano de 2018 seja maravilhoso e que nós consigamos conquistar nossos objetivos e crescer cada dia mais, superando nossas falhas e nossas perdas, a fim de acreditar que apesar de tudo, o futuro brilhante não necessariamente está lá na frente, mas sim em cada um de nossos dias presentes.
Naruto
Acordei assustado na manhã seguinte, sendo empurrado por Sasuke no ombro e sua voz parecia subitamente mais alta. Quase saltei do sofá, lembrando de imediato de todas as coisas que aconteceram no dia anterior. De repente, ter Sasuke ali parecia muito estranho. A recordação das horas em que passei abraçado à Hinata no jardim e de tê-la visto adormecer era como um sonho em minha mente, como se não tivesse sido real. E para falar a verdade, era tão absurdo que até poderia não ser.
Meus pais aparentemente tiraram o restante daquele dia para resolver nossas vidas e eu caíra exausto no sofá após levar Hinata para meu quarto sem nem ter tido sinal deles. Mas ao despertar, notei que outra vez a casa estava cheia de pessoas. Era possível ouvir minha mãe conversando com a televisão na cozinha e Sasuke ainda permanecia impassível acima de mim, com aquela cara vazia de sempre.
Suspirei, esticando minhas costas dura demais. Analisei o rosto de meu amigo outra vez, incerto sobre a normalidade da situação. Um alerta há pouco emitido em meu cérebro buscava sinais de ansiedade em sua expressão corporal, de medo ou qualquer coisa relacionada à uma possível novidade. Porém, nada. Era como se eu tivesse imaginado tudo e o mundo corresse em sua rota normal como todos os dias antes de toda aquela sandice. Eu teria acreditado nessa teoria se não fosse o fato de eu estar dormindo no sofá da sala.
— Já parou de ser estranho? O que ta fazendo aqui, idiota? – ele perguntou, estressado de manhã como sempre. Eu me sentei, rindo de sua reação, no fundo sentindo falta de como a vida era sem tantos desastres.
— Eu não estou estranho. Hinata está aqui. – respondi, pigarreando para que minha voz soasse audível. Sasuke arqueou as sobrancelhas e sentou no sofá de frente para mim.
— A Hinata dormiu aqui? Uou, tá indo bem... rápido. – respondeu num murmúrio incerto. Eu ri e involuntariamente cocei a cabeça. Era constrangedor falar sobre isso, até porque para olhos saudáveis e alheios, isso deveria soar bem íntimo mesmo. Sem contar nas atitudes inesperadas de uma certa baixinha...
— Não é isso, ela só não tinha lugar para ficar. Por isso eu estou dormindo aqui na sala.
Sasuke pareceu absorver a resposta, mas logo franziu a testa.
— Ok, plausível, então não é tão rápido assim. Mas... espera, por que ela não tinha onde ficar?
Eu encarei meu amigo, curioso. Sasuke não era de fazer muitas perguntas, tinha uma personalidade introspectiva, mais independente do que os meus outros amigos. Ele não costumava ter necessidade de saber tudo sobre todo mundo, ficava bem com o básico e não demonstrava muito entusiasmo em conhecer melhor sobre alguém. Pelo menos, isso havia mudado quando conhecera Sakura, afinal, eles eram namorados agora. Talvez a convivência com ela o tenha transformado ainda mais e eu, absorto em minha paixão por Hinata, tenha perdido esse grande detalhe.
— Você está se tornando um belo de um fofoqueiro, hein, Sasuke. – provoquei. Ele fez uma careta e se levantou, bufando.
— Não enche. Vai, levanta logo daí. Eu vim treinar um pouco contigo antes do almoço. Sua mãe convidou geral, deveria estar acordado há um século. Não sei nem como ela não te arrancou daqui pelos cabelos. – ele deixou a frase morrendo no ar enquanto ia para o dojo sem nem me esperar. Revirei os olhos. Depois de uma noite mal dormida, não seria má ideia alongar um pouquinho.
Mas a resposta dele me deixou inquieto. Por que dona Kushina havia convidado todo mundo para almoçar com a gente, se estávamos no meio de uma confusão catastrófica? Me levantei do sofá e fui procura-la na cozinha. Ela estava a todo vapor correndo para lá e para cá, com o canal de culinária sintonizado e a bancada cheia de vasilhas contendo massas. Me encostei no batente da porta e pigarreei para chamar sua atenção.
— Posso saber o que é tudo isso, mãe? – perguntei. Ela parou com sua agitação e levantou os olhos para me encarar.
— Querido! Que bom que acordou. – disse, hesitando. — Não se preocupe, é só um almoço.
Eu caminhei até ela e apoiei minhas mãos na bancada. Suspirei, me sentia cansado de tanto suspense e planos malucos.
— O que aconteceu ontem? Por que demoraram tanto?
Kushina me fitou por alguns segundos e então sorriu, de verdade, até um pouco corada.
— Ah, deu certo. Acredite, deu muito certo. Por isso estou fazendo esse almoço... ele virá, Hinata irá conhece-lo hoje. Aliás, como vocês ficaram ontem, hein? – ela mudou o humor subitamente e começou a me encarar de forma maliciosa. Eu revirei os olhos e pensei sobre o que ela disse. Convidar o cara para um almoço... ok, mas por que Sasuke estava aqui? Por que ele disse que ela havia convidado “geral”? Além disso, o que ela queria dizer com “dar muito certo”?
— Ficamos bem. – respondi, fingindo não lembrar de tudo o que havia acontecido. Tinha a sensação de que Hinata não se sentia bem em compartilhar isso com minha mãe por enquanto. — Mas quem me deve respostas é a senhora. Por que convidou todo mundo? O que significa dar muito certo?
Ela suspirou e largou o que estava fazendo.
— Naruto, eu gostaria de poder ter essa conversa com vocês dois. Me poupe de contar duas vezes. Agora, por que não acredita na sua linda mãe e vai relaxar com Sasuke? Por enquanto está tudo sob controle, está bem? – ela praticamente me enxotou da cozinha, voltando a ficar irritada. Kushina e seu ilustre temperamento.
Eu estava prestes a fazer o que ela mandou, quando suas mãos me puxaram de volta e me obrigaram a comer alguma coisa. Sasuke já berrava lá fora e minha mãe berrava em meus ouvidos pedindo que ele sossegasse e eu mal havia começado minha manhã e já estava no meio do furacão. Eu sorri, pensando sobre a garota dormindo acima de nossas cabeças. É, Hinata Hyuuga, espero que você sobreviva à família.
***
Hinata
O sol batia na janela e iluminou meu rosto, me despertando de um sonho. Suspirei, sendo imediatamente envolvida pelo cheiro gostoso de Naruto impregnado em sua roupa de cama. Eu me espreguicei, sorrindo, e abracei o travesseiro apertando meu nariz contra ele. Naruto devia ter me colocado ali para dormir, embora eu só me lembrasse de ter adormecido ao seu lado no jardim. Me sentei na cama, olhando em volta, analisando cada característica tão dele ao redor do cômodo e me lembrei da última vez que acordara ali. No passado havia sido tão estranho e agora parecia tão... certo.
Eu não me lembrava de quando havia acordado feliz pela última vez. Leve, como se fosse começar algo novo. Aquela ansiedade quase infantil mordiscando as bochechas e me causando sorrisos involuntários. O dia anterior fora muito significativo para mim, eu julgaria o mais importante de toda a minha vida, pois poder levantar sabendo que todas as lacunas estavam devidamente preenchidas e que a minha visão não estava mais deturpada era uma experiência nova, em todos os sentidos. Além disso, eu estava pronta para começar a minha mudança. Para lutar contra Hiashi e conquistar minha vida, honrando o que Akemi e Kushina fizeram por mim.
Levantei da cama e busquei por minha mala, estava precisando de um banho. Enquanto eu me limpava, divaguei sobre o plano dos pais de Naruto. Em partes eu me sentia com medo por morar com um desconhecido e por enfrentar Hiashi dessa forma, mas ao mesmo tempo o alívio me preenchia, num jorro, como se isso fosse esperado por um lado meu inconsciente. E por falar em alívio, havia um sentimento crescente em mim, que necessitava ver Naruto e o seu sorriso de bom dia me dando esperança e coragem para assumir essa decisão.
Saí do banho e me fitei no espelho, lembrando do sonho inusitado. Nunca havia pensando sobre precisar me defender de alguma coisa, até porque antes mesmo de acontecer qualquer tipo de agressão, eu já havia desistido de enfrentar. Mas no sonho eu estava em apuros, com Hiashi atrás de mim, numa corrida interminável e eu sabia que em algum momento eu seria pega e nada poderia fazer para impedir aquilo. Ele me roubaria dessa vida, em algum momento eu sabia que ele o faria – ou pelo menos tentaria.
Suspirei e desci para o andar de baixo. Ao menos eu deveria organizar meus pensamentos primeiro. E embora meus sonhos tenham me mantido alerta quanto à Hiashi, agora era hora de enfrentar outras coisas. A casa já me era familiar e eu alcancei a cozinha sem nem mesmo estar pensando sobre o caminho. Sorri quando vislumbrei Kushina cozinhando, ouvindo a televisão e cantarolando baixinho. Em nada parecia que o dia de ontem havia sido tão tenso que quase partira a todos nós ao meio. Talvez isso fosse um bom sinal.
— Bom dia, Kushina-san. – murmurei. Ela parou imediatamente o que fazia e deu a volta nas bancadas, correndo até mim. Seus olhos azuis brilhavam junto com seu sorriso amplo.
— Hinata, meu bem! Você parece tão descansada, está se sentido melhor? – perguntou com carinho revestindo a voz. Eu me senti acalantada com seu gesto maternal e a abracei, surpreendendo-a.
— Estou melhor, obrigada. Vocês conseguiram? – sussurrei perto de seu ouvido. Ela se afastou para me olhar, mas manteve nossas mãos unidas.
— Conseguimos. Ele virá para o almoço, o Neji. Está ansiosa? – confidenciou, rindo sapeca. Eu fiquei surpresa e corei. Não imaginava que enfrentaria essa questão tão cedo. E era impossível imaginar o que Kushina havia feito para conseguir tudo o que planejava.
— C-Claro... mas como conseguiu isso? – perguntei. Ela apertou os lábios e negou com a cabeça, prendendo o sorriso.
— Negativo! O Naruto já veio aqui me incomodar querendo saber. Eu já falei que vou contar para todos juntos, tenha paciência. – respondeu. Sua expressão alegre e convencida me fez relaxar, mas sua menção ao filho fez meu corpo ficar alerta e eu corei outra vez. Não podia negar o quanto eu queria vê-lo.
— Naruto? Onde ele está?
A denúncia dos meus sentimentos em minha voz era tão clara que Kushina começou a rir, me deixando envergonhada. Entretanto, seu rosto parecia suave, como se estivesse em paz. Ao menos por enquanto.
— Ele está no dojo com Sasuke. Pode ir com os meninos, não quero ninguém xeretando minha cozinha, hein! – declarou, apontando para mim com uma colher de madeira que havia pegado em uma das vasilhas de plástico cheia de uma massa branca ao voltar para suas bancadas. Eu sorri, assentindo e corri para atravessar a casa. Meu coração saltava no peito, estranhamente ansiosa, mas a cena que meus olhos visualizaram me fez paralisar na porta do dojo, notando os dois amigos entretidos num treino. A imagem fez algo estalar em minha mente e de repente eu pensei no plano ideal para solucionar – ainda que a longo prazo – o dilema do sonho.
Naruto estava com as pernas penduradas em uma barra de ferro revestida com couro preto, de ponta cabeça e fazia abdominais, com o tronco nu e o rosto vermelho, mas ainda mantinha uma conversa entrecortada com Sasuke, que distribuía chutes num saco de boxe de couro sintético vermelho. Eu me escorei na caixaria da porta e cruzei os braços, tentando aprender algo com o que eles faziam, mas meus olhos não conseguiam desgrudar do loiro de olhos azuis e do esforço que fazia, ainda falando, elevando seu tronco com a cabeça para baixo. Parecia atordoante para mim. Seu corpo bronzeado, entretanto, parecia adaptado àquele exercício e ele não hesitava, erguendo e baixando num ritmo desconcertante.
Eu corei e balancei a cabeça, tentando manter o foco no meu objetivo. Se fosse para aprender de verdade, eu teria mesmo é que arriscar um pedido.
— Você podia me ensinar isso. – falei, minha voz saindo algumas oitavas mais alto do que planejava, mas eu estava nervosa e envergonhada. Minha intromissão chamou a atenção dos dois garotos e eu recebi um sorriso enorme, de ponta cabeça, de um esforçado e suado Naruto.
— Fugiu de casa, Hinata? – perguntou Sasuke com um sorriso presunçoso no rosto. Seu amigo bufou e ergueu o tronco de novo, dessa vez apoiando as mãos na barra e virando o corpo para pousar de pé em frente ao aparelho.
— Eu a sequestrei. – respondeu, brincando. Eu ri, com as bochechas estupidamente coradas. Era engraçado o quanto eu podia sentir falta dele mesmo numa mínima distância. Quem sabe era isso o poder de um novo amor, não em sentido sequencial, mas em novidade. Entrei no dojo e fui até ele para me esticar na ponta dos pés e lhe roubar um breve beijo.
A surpresa em seu rosto enrubescido pelo esforço físico foi adorável.
— Caramba! Acho que você sequestrou mesmo, quem é essa Hinata que está no lugar dela? – disse Sasuke, provocando. Eu ousadamente revirei os olhos para ele.
— Uma nova Hinata. – eu disse. Naruto suspirou ao meu lado e passou o braço por minha cintura, me apertando num abraço lateral. Eu podia ver sua expressão de orgulho e isso me motivou a continuar permitindo que esses novos sentimentos aflorassem, ainda que a vergonha por estar sob o olhar de Sasuke me deixasse insegura.
— Muito bem, então. Acho que estava na hora mesmo de alguém curar essa cara de idiota do Naruto. – ele respondeu, rindo. Eu notei o olhar satisfeito de Sasuke, apesar da brincadeira e me senti lisonjeada. O amor que havia entre os dois era grande demais e eu podia notar que se magoasse Naruto, o estrago nunca se limitaria apenas a ele. Eu inspirei o ar, decidida, e me afastei de Naruto para tocar um dos aparelhos que havia no dojo.
— Então... acho que a nova Hinata está precisando de umas aulas de defesa pessoal. Quem se voluntaria?
***
— Você precisa se concentrar, amor! – Naruto exclamou, após eu errar um chute e quase quebrar os dedos do pé. A dor fazia lacrimejar os meus olhos, mas eu ainda sentia o riso me fazer cócegas. A sua cara de pavor fora impagável.
— Tudo bem, vamos de novo. – eu disse, tentando me levantar, mas ele me segurou no chão, os olhos atentos em mim como se me vasculhassem.
— Não, você se machucou. Deixa eu dar uma olhada...
— Naruto! Eu estou bem, sério. É só que... – deixei a frase no ar, olhando para o saco de boxe pendurado e corei. Eu daria um prato cheio para zombar de mim, mas a verdade era que tinha sido engraçado o fato de ele ainda não ter percebido esse detalhe.
— O que foi? – ele se adiantou, preocupado.
— É que essa coisa está... pendurada muito alto para mim. – murmurei, envergonhada.
Como esperado, ele explodiu numa gargalhada gostosa. Puxou-me com uma mão para ficar de pé e ainda rindo, segurou meu rosto, grudando nossos lábios.
— Que menina – um beijo — Mais baixinha – outro beijo — E linda que eu tenho – a sequência ficou maior e ele parou de falar, entrecortando seus toques com o riso. Eu enrubesci como um tomate e abracei sua nuca com meus braços, sentindo a felicidade insana sob os meus olhos de um jeito insuportável, como se ela fosse brilhante demais. E quente, muito quente.
Ele se afastou para me olhar, sorrindo satisfeito, com os olhos extremamente azuis iluminados. Suas mãos soltaram meu rosto para abraçar minha cintura e eu fui colada ao seu tronco desnudo.
— Eu vou abaixar isso aí para você se... – ele provocou, sorrindo torto.
— Se...? – eu murmurei, arqueando uma sobrancelha. Ele sorriu, balançando a cabeça, ainda não parecia acostumado com tanta mudança. No fundo, eu também não estava, mas nada do que acontecia desde ontem saía de mim de uma forma forçada. Finalmente eu podia fluir. E descobrir que certas coisas eu sempre havia desejado.
Como beijar-lhe os lábios. E eu o fiz outra vez, num roubo descarado. Eram reais as lembranças que eu tinha, agora vistas com outros olhos, de sua beleza radiante e de como ele sempre me convencia de tudo, sempre conseguia me alcançar. E agora eu lembrava perfeitamente do dia em que eu acordei em sua casa e ele me dissera que talvez um dia me daria uma coisa, se eu quisesse. Essa coisa era o beijo que, em seu lugar, eu tomava para mim com a ganância que jamais pensara possuir.
A ironia do destino me fez rir e eu me afastei minimamente para fitar seu rosto apaixonado, os olhos cálidos e os lábios avermelhados, sorrindo também. Lindo como ninguém, cheio de qualidades que eu não podia contar e repleto de amor para doar ao mundo.
— Não vai me dizer sua condição, mestre? – eu murmurei em tom de brincadeira. Ele abriu um sorriso largo, que fez rugas em seus olhos.
— A condição é você me contar por que quer aprender defesa pessoal. – respondeu. Eu assenti e me desprendi de seu abraço, fitando o saco vermelho cheio de areia. Pensei em como começar a explicar e decidi não enrolar muito. Antes eu ponderava demais, hesitava sobre tudo. Tinha a mania de não conseguir encontrar palavras para expor meus pensamentos. Mas estava aprendendo a separar a oralidade do intelectual e que, nem sempre, as duas coisas precisam compactuar em complexidade.
— Bom, acho que declaramos guerra contra Hiashi agora. E se ele eventualmente for se vingar, o que sabemos que sim, eu não quero estar despreparada. Indefesa e frágil. Além disso, acho que preparar o meu corpo vai ajudar a preparar a minha mente também. – respondi, satisfeita com a explicativa pontual. Naruto pareceu pensar, franzindo a testa.
— Não gosto de pensar que você precisará se defender dele. Porque eu sei que seria um risco real. Eu... – ele suspirou e fez uma cara envergonhada.
— Você o quê? – estimulei. Naruto mordeu o lábio inferior e soltou um breve riso. Seus olhos claros derreteram sobre os meus.
— Eu tenho a mania de querer proteger você de tudo, te roubar só para mim, sabe? – murmurou como se fosse um segredo. A parte final foi pronunciada em tom de malícia. Eu sorri, corando, mas pude compreender. Podia identificar a mesma sensação dentro de mim, mesmo antes disso tudo, quando não podia suportar vê-lo sofrer por qualquer coisa.
— Mas você ainda vai me ensinar, não vai? – arrisquei.
Naruto riu e acariciou meu cabelo. De repente, seu riso murchou e ele fez uma cara preocupada. Eu fiquei tensa, surpresa pela mudança abrupta.
— Tem um problema. – ele sussurrou, quase bravo. — Um sério problema. – continuou, dando um passo em minha direção. Eu franzi a testa e comecei a ficar realmente assustada.
— D-Do que está falando? – gaguejei. Ele ficou próximo e me empurrou devagar contra o saco de boxe, como se fosse um leão prestes a atacar. Suas mãos foram para o cós de meu short jeans e seguraram firmes os passantes para cinto. Minha garganta ficou seca.
— Como é que eu vou aguentar ver você toda marrentinha, treinando, linda desse jeito? – murmurou em meu rosto, o dele exibindo uma expressão de preocupação real. E então eu finalmente entendi que era tudo uma brincadeira. Relaxei e sorri, socando seu peito antes de abraça-lo.
— Idiota! Eu fiquei assustada! – acusei, enterrando meu rosto em sua pele, incomodada por sempre ficar tão envergonhada. Ele riu, daquele jeito gostoso e eu me senti contagiada. Ergui os olhos para lhe encarar, agarrada ao seu tronco como uma criança, já acostumada com o toque quente de sua pele nua. Naruto ainda ria, me adorando com seus olhos amorosos.
— Não importa mesmo, eu nunca vou me acostumar com a sua beleza, senhorita Hyuuga.
Seu galanteio me fez rir outra vez e de repente nosso momento furtivo no meio do caos que enfrentávamos foi interrompido por uma voz doce que eu reconhecia muito bem:
— Vocês são a coisa mais linda que eu já vi!
Os cabelos rosados saltitavam em sua cabeça conforme ela entrava no dojo aos pulos. O sorriso caloroso de Sakura fez meu riso se alargar e eu me separei de Naruto para cumprimenta-la num abraço. Da mesma forma como seu namorado, ela se surpreendeu por minha atitude e eu reparei que talvez isso fosse demorar um pouco para mudar, até todos compreenderem que as coisas agora haviam mudado. É claro que tudo seria diferente, se eu ao menos houvesse tido o esforço de fazer parte do grupo, de puxar assunto com alguém como Sai ou Chouji, a minha nova personalidade não impressionasse tanto assim todas as partes da turma.
Sakura sorria à minha frente, apesar disso, com uma satisfação parecida com a de Sasuke. Ele havia partido quando Naruto decidiu me ensinar defesa pessoal porque devia buscar a Haruno para o almoço. Mas até aquele momento eu ainda não tinha entendido que o almoço seria na casa dos Uzumaki. Me senti ligeiramente incomodada, não exatamente por saber que o tal Neji estaria vindo para o evento também, mas porque eu sentia a necessidade de proteger aqueles dois de possíveis assuntos. Especialmente Sakura. Ainda que seu parceiro estivesse igualmente envolvido, eu invejava e pretendia cuidar dessa inocência.
— Então, temos novidades hoje ou é só comemoração pós viagem? – ela antecipou, olhando para trás quando Sasuke apareceu no dojo.
— Tia Kushina disse que vai ter visita. Sabe quem é, Naruto? – ele perguntou com o cenho franzido, mas não parecia muito chateado. Talvez Sasuke só não gostasse de conhecer pessoas novas.
Naruto olhou para mim e coçou a parte de trás da cabeça. Eu suspirei, capaz de notar a pergunta muda em seus olhos e resolvi tomar as rédeas do assunto.
— É só um... parente meu.
Sakura e Sasuke se entreolharam, mas a garota deu de ombros.
— Reunião de família, então. Mas e aí, como vão as coisas? Você parece tão mais jovial hoje, Hinata, o que aconteceu? - ela provocou, correndo para agarrar meu braço como se fôssemos amigas inseparáveis. Eu enrubesci e olhei para Naruto atrás de mim. Seus olhos azuis confidenciavam com os meus, envoltos no carinho insistente que ele me doava.
— Eu decidi mudar. – comecei. Sakura teve sua atenção voltada para mim, os olhos verdes cresceram de forma ansiosa. — Mudar meu jeito, melhorar. E entender finalmente que eu sempre amei esse loiro maluco, então está na hora de recuperar o tempo perdido.
Meu discurso surpreendeu Sakura e ela abriu um sorriso enorme, com um sentimento crescente nos olhos que o fizeram brilhar feito esmeraldas e então imediatamente ela me apertou num abraço.
— Aaaaaaah, Hinata! Se você não fosse tão fofa eu juro que eu te daria uns cascudos, porque ô demora, viu, garota?! Estou tão feliz agora! Já posso dormir sossegada, todos os meus meninos estão seguros. – ela tagarelou emocionada, os braços colados em mim e o riso escapando entre meus cabelos. Naruto explodiu numa gargalhada orgulhosa e Sasuke emitiu um som gutural de desdém.
— Ela sempre fala como se fosse nossa mãe. – ele murmurou, seguido de um “hmpf”.
Eu sorri, com um sentimento agradecido florescendo em mim e crescendo saudável como um touro. Estava diante da minha família, aquela que o destino escolheu para mim e agora eu só precisava mesmo era descobrir onde faria a minha casa.
***
Quando Kushina abriu a porta, achei que meu coração fosse saltar. Teatralmente e com muito de seu próprio estilo, ela insistira que ficássemos todos postos à mesa esperando a visita, o que para mim era um alarde terrível. Pois além dos olhares confusos do casal de amigos ao meu lado, eu ainda tinha de lidar com a ansiedade pulsante em meu corpo. Mas a ruiva parecia tão ansiosa como uma criança prestes a ganhar presentes e eu não pude protestar, quando tão encarecidamente veio me pedir para organizar todos em seus lugares e aguardar.
Tinha a sensação de que minhas pernas não se seguravam no lugar, prontas para levantar e sair correndo, se para ver a visita ou fugir dela, ainda não sabia. A consciência de que a pessoa estranha do outro lado da porta mudaria minha vida era surreal e eu podia sentir isso percorrendo meu corpo e instigando-o a possuir sensações diversas, como o frio insistente em minha barriga. Naruto segurou minha mão quando ouvimos os passos se aproximando. Mas isso não segurou meu corpo, quando enfim o misterioso Neji apareceu e eu abruptamente eu me levantei.
Olhos idênticos aos meus me encaravam de volta. E o silêncio no cômodo se fez tenso diante do olhar surpreso que trocávamos.
Neji era alto e ligeiramente magro, esbelto. E tinha definitivamente o rosto de um Hyuuga. Era impressionante a semelhança gritante, como se as características da família fossem imutáveis e passadas de geração para geração de forma impecável. Porque poderíamos facilmente ser irmãos, se não fosse a evidente idade além da minha, até gêmeos. Apenas seus cabelos castanhos o diferiam minimamente.
Eu me perguntei se Hanabi seria assim, uma cópia minha, ou de Akemi. Ou de Neji. Eu nunca havia me encontrado com outro Hyuuga além de minha mãe e agora sentia-me muito confusa com a aparência próxima demais. Era atordoante e eu fiquei um pouco tonta, inclusive. Eu podia ver como era igualmente analisada e talvez ele também estivesse surpreso, o que comprovei de imediato com suas primeiras palavras, enchendo a sala de jantar com uma voz grave e elegante:
— Você é igualzinha à sua mãe.
Kushina irrompeu numa risada cálida, quebrando um pouco o gelo do momento e tomou a frente, puxando Neji para mais perto. Ela possuía olhos de criança sapeca disparados entre nós dois. Eu pensei em me aproximar, apesar de me sentir paralisada demais. Porém, de um jeito inusitado, Naruto tomou a dianteira e, protetoramente, se inclinou para um aperto de mãos com meu primo, o cenho um pouco franzido e uma feição de homem que era adorável.
— Neji, é um prazer recebe-lo. – ele disse com um tom firme, quase patriarcal. O Hyuuga lhe encarou com um sorriso breve e retribuiu o aperto. Seus olhos, porém, logo voltaram-se para mim de maneira analítica.
— Esse é meu filho, Naruto. Lembra-se dele, Neji? – disse Kushina, apoiando uma mão no ombro de Naruto. — Ele, mais que ninguém, é a melhor pessoa que poderia cuidar da nossa pequena Hinata, mas estamos felizes em dividi-la com você.
O jeito materno e brincalhão dela fez um vinco de curiosidade brotar na testa de Sakura e eu notei isso quando passeei os olhos em busca da reação das outras pessoas, alheias ao momento de encontro. Neji, entretanto, voltou-se para Naruto e o encarou com outros olhos, mais atentos e nitidamente respeitosos.
— Então você é o Naruto! Ouvi muito de você, que bom que finalmente se encontraram. Pelo o que dizia o meu velho pai, esse encontro era crucial para recuperarmos a família. – respondeu calorosamente. E eu fiquei pasma, incerta sobre a receptiva tão amigável, como se enfim ele estivesse se localizando.
— Bom, recentemente eu descobri isso também. – respondeu Naruto, coçando a cabeça e dando um sorriso envergonhado. Seus olhos azuis me encararam e ele esticou uma mão para mim. Despertei de meu transe, com as bochechas em tom escarlate e me aproximei dos dois, encarando o homem que me faria conhecer o que era ser uma Hyuuga de verdade.
Eu ergui meus olhos ansiosos para fitar os dele e com um sorriso genuinamente feliz, ele me tomou num abraço, apoiando seu queixo em minha cabeça como se fosse meu pai. Senti meus braços dormentes retribuírem-no, mas meus olhos ardiam com lágrimas quentes de uma felicidade desconhecida.
— É uma honra conhecer você, prima. Finalmente vamos corrigir os erros do passado, não é? – ele sussurrou para mim.
E naquele momento, quando me afastei para encará-lo, fitando-me através de seus olhos iguais aos meus eu senti, tal como um tsunami me invadindo, que aquele era o primeiro dia da minha vida.