Jóia Rara

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    18
    Capítulos:

    Capítulo 26

    Quando As Estrelas Se Apagam

    Álcool, Hentai, Linguagem Imprópria, Sexo, Suicídio, Violência

    Gente... esse capítulo é tenso. É finalmente a primeira parte da confissão de Hinata e antes de tudo eu quero que vocês saibam que: ela realmente passava o inferno, ela realmente tinha a consciência MUITO conturbada, corrompida, por situações que agora vocês sabem, devido ao capítulo anterior, mas que foram curadas desde o começo da narração, quando ela conheceu Naruto. Talvez muito de vocês não tenham tido essa percepção, essa noção andando junto da evolução da Hinata, porque não era tão nítido assim e ela teve momentos bons, teve momentos ruins, teve dias e mais dias ao lado dos seus novos amigos como uma pessoa que enfim se torna uma pessoa normal. O cotidiano dela foi narrado justamente, assim, sem tanta quebra de tempo, pra poder contar esse crescimento interno e pessoal. Uma das razões também pela narrativa ser em primeira pessoa e com muito mais parágrafos em pensamento do que em diálogo. Enfim, antes disso tudo ser possível, a Hinata não era essa menina... de pensamentos livres. Um dia, ela era prisioneira de uma realidade paralela que definitivamente lhe açoitara a razão.

    Espero que vocês compreendam agora a dor dela e o porquê de todo esse ódio por si mesma. No próximo capítulo ela contará tudinho de um jeito melhor.

    PS.: A parte em itálico é um flashback de uns capítulos anteriores, vocês lembram? Quando o Naruzinho pediu nossa Hinatinha em namoro. Acontece que esse flashback era o easter egg, era o começo das memórias que levaram ao destino que narrarei hoje.

    PS.2: Tem uma música para vocês ouvirem, a citação dela está no final do capítulo. Podem ouvir no final, se quiserem refletir sobre como era a aura de sensação do dia em que tudo aconteceu ou podem dar o play assim que começar o flashback. Ok? Se vocês quiserem, claro. O nome da música é Danger Keep Away, da banda Slipknot.

    Boa leitura e espero que gostem! Um beijo

    Naruto

    O sentimento que me tomava era quase mortal. Sentia que meu coração explodiria em breve e eu nem poderia aproveitar o momento. Não havia muitas coisas para sorrir naquele dia, mas alguns detalhes me fizeram conhecer a grandiosidade dos laços que envolviam nossas vidas. Eu ainda não conseguia administrar toda a parte sinistra e sobrenatural disso, simplesmente não conseguia imaginar. Mas no meu coração, parecia certo demais saber que Akemi fazia parte da minha vida. Que nossas mães eram quase irmãs. O jeito como Hinata falava dela, como minha mãe agia quando o assunto era minha pequena melhor amiga, a foto de Akemi e a sensação de já tê-la conhecido e o fato de eu ser extraordinariamente ligado à Hinata.

    Tudo parecia começar a se encaixar como num quebra-cabeças. E eu percebi que todo aquele horror fazia parte da minha vida também, que Hinata não carregava nada disso sozinha. Fazia parte até da vida do meu melhor amigo, Sasuke, que provavelmente agora estaria descansando em sua casa alheio ao mundo maluco que pertencíamos. Me dava um alívio gigantesco por saber que ela não teria como usar essa realidade paralela como um abismo entre nós, porque isso me envolvia tanto quanto ela. Tanto eu como nossos amigos.

    E agora ela ainda havia dito que me amava.

    Tinha idealizado esse momento por tanto tempo e no final das contas, havia sido pego completamente de surpresa. Dava para ver como havia um estalo em sua mente, um motivo que lhe revelara isso como se ela finalmente soubesse enxergar. Me perguntava qual havia sido, mas independente de que fosse, meu peito se enchia com suas palavras, pelo reconhecimento e pela verdade escorrendo de seus olhos, fazendo-a ser indubitável.

    E agora ela também me beijava. Sozinha, por própria iniciativa.

    Era informação demais para absorver. Isso vinha rondando meus pensamentos desde antes disso tudo, quando eu a beijara inocentemente e ela, para meu total espanto, quisera mais. Talvez ela já soubesse que se sentia assim, talvez ela estivesse prevendo essa desconstrução iminente de nossas vidas. Pensando sobre isso, era compreensível, afinal, era tudo novo para ela. Se para mim nossa relação já fosse novidade, causando sensações desconhecidas, quão forte isso seria para Hinata?

    Ela vinha provando que o sentimento lhe açoitava com força. E eu a admirei profundamente por isso. Nunca havia conhecido alguém tão forte, tão cheia de vida como ela. Como conseguira ouvir tudo aquilo, aguentar todos esses anos e ainda conseguir levantar a cabeça, olhar para mim e se declarar?! De todas as certezas que Hinata poderia ter nutrido durante o discurso de meus pais, essa era a última que eu esperava.

    Caramba... ela havia descoberto que seu pai era parente de sua mãe. Que usara o parentesco para enganar a todos, que ousara vender a alma da própria filha em troca de sucesso. Que torturara sua mulher grávida só para tentar alcançar seus objetivos. E ainda por cima, estava morando com esse lunático!

    E pensando sobre isso, algo me incomodava de verdade. Hinata não havia demonstrado nenhuma reação quanto a ter sua alma vendida por Hiashi. Por fazer parte de uma família de mentira, por ter sido culpa dele o transtorno que passara toda sua vida. Só o que parecia ser de sua preocupação era Akemi, o que acontecera com ela, quais foram seus planos, quem ela fora. Mas tudo isso agora soava tão confuso, porque se ter todos os fatos revelados a fizessem detestar ainda mais a si mesma, a ponto de ignorar tudo isso, por que ela havia admitido seus sentimentos? Por que havia se permitido senti-los?

    Eu suspirei em seu cabelo, apertando meus braços ao seu redor. Ela não falava nada, apenas repousava em meu colo como uma criança, com a bochecha pressionada contra meu peito. Seus pequenos dedos faziam desenhos em meu ombro, volta e meia causando arrepios em minha nuca. Eu não sabia por quanto tempo teríamos que esperar ali e como seria o dia seguinte. O cara que tomaria a guarda dela e se Hiashi a deixaria partir. Eu sabia que não e a incerteza de sua segurança me feria como diabo. Queria poder fugir dali, começar de novo em algum outro lugar pelo mundo, no Canadá talvez. Poderíamos transferir a escola, sumir, ficar juntos e seguros até que alguém desse um jeito de controlar aquele canalha.

    Eu sentiria falta de tudo. Dos meus amigos, dos meus pais, do Japão. Tudo. Mas se isso fosse necessário para proteger Hinata, eu largaria qualquer coisa sem pestanejar. Depois de um tempo o shinigami cobraria as dívidas com Hiashi e ele não teria como cumprir sua promessa. Nada estaria aqui para nos impedir de voltar e tomar de volta tudo o que ele nos tirou. Quem sabe Hinata finalmente conseguisse encontrar um caminho para seguir e eu nunca mais precisaria ver aquele olhar triste e perdido a cada palestra motivacional que terminávamos. Era o plano perfeito.

    — Vamos fugir. – eu verbalizei. Ela levantou a cabeça e se ajeitou em meu colo para me fitar inquisitória.  — Podemos começar em algum lugar. Outro país. E depois, quando o nojento do Hiashi pagar seu preço, sem você como álibi, poderemos finalmente voltar e viver perto de todos aqueles que amamos.

    Ela pensou por uns segundos e então tocou meu rosto suavemente. Balançou a cabeça e comprimiu os lábios.

    — Não, Naruto. Não é certo fazer isso.

    — Por que não? – eu insisti, chateado. Hinata fechou os olhos e encostou sua testa na minha.

    — Porque eu preciso enfrentar tudo isso. É o meu destino, é a verdade que ronda minha vida. Mesmo que eu fugisse, todos os nossos amigos estariam aqui, seus pais estariam aqui, vulneráveis a qualquer loucura que Hiashi tentasse fazer a fim de me persuadir a voltar e dar o que ele quer. Eu jamais vou colocar outra pessoa em perigo. – respondeu. Eu relaxei, vendo que talvez ela tivesse razão. O canalha não se daria por derrotado tão fácil, e sendo ele quem é, não se importaria em usar dos piores métodos para sair desse status.

    — Certo... vamos conseguir então. Vamos passar por isso juntos, Hinata. – murmurei. Ela soltou um suspiro, com um tom triste e melancólico. Abri meus olhos para encará-la, sentindo o nervosismo percorrer meu corpo. Eu conhecia essa linguagem corporal e definitivamente não era bom sinal.  — Por que estou sentindo que você vai me afastar?

    — A vida se encarregará de fazer isso sozinha, ou melhor, você mesmo. Acredite, eu não vou precisar mover um músculo. – seu enigma me deixou tenso e eu endireitei as costas, fazendo-a sentar-se ereta em meu colo. Segurei seu rosto com as mãos e forcei meus olhos contra os dela.

    — Do que está falando? Já não tivemos provas o suficiente hoje de que somos destinados a ficar juntos? – sussurrei. Os olhos dela liquefizeram, chorosos, mas ela assentiu.

    — Entretanto, hoje não foram ditas todas as verdades... ainda. – respondeu por um fio de voz. Eu soltei seu rosto, quase em câmera lenta. O tom sério da frase me pegou de guarda baixa e de repente meu coração se tornou quase audível, saltando pela garganta.

    — Duvido que seja pior do que tudo isso... – resmunguei, quase mais baixo que um sussurro. Hinata acariciou minha bochecha e seu olhar misterioso e amável me empertigou. Era como se ela soubesse exatamente o que iria acontecer e ainda assim não podia fazer nada para mudar. A ponto de não mais se importar.

    — É muito pior... meu amor. – ela disse como um sussurro. Meu peito inflou e inflamou pelo jeito como ela me chamou e ao mesmo tempo senti meus lábios tremerem. O pavor dançava livre em minha mente desde que tudo começara a se esclarecer e eu não sabia por quanto mais aguentaria passar sem ter uma crise nervosa. O rosto dela tinha uma melancolia de despedida, com um sorriso admirado e triste, os olhos brilhantes sobre mim como se eu fosse a melhor coisa que poderia ver. E o sentimento de que estávamos dizendo adeus foi gritante em sua linguagem corporal. Eu engasguei e minhas mãos vacilaram em suas costas. O choro irrompeu por minha garganta num soluço rouco, inevitável, como o início de uma avalanche.

    Eu podia aguentar qualquer coisa, se ficássemos juntos. Mas se Hinata me deixasse... eu não conseguia imaginar como me adaptar nessa nova vida, sem tê-la comigo para preencher todas as lacunas. A dor de não poder mais vê-la me deixou tonto.

    — Hina... não vá, fique aqui... me beije. – eu só consegui proferir com incoerência. Ansioso para me fundir nela, travar meus braços ao seu redor e nunca permitir que saísse. Era um pensamento possessivo e irracional que a mim não pertencia, mas o colapso nervoso enevoava minha mente como uma névoa venenosa.

    Hinata se aproximou devagar e mergulhou a boca na minha, com suavidade. Seus lábios incrivelmente doces e macios, mesmo tão pouco experientes, moldaram-se aos meus numa preliminar de uma entrega sôfrega e apaixonada. E logo estávamos envoltos num beijo cheio de poder, persuasivo e enlouquecedor, com a urgência de um adeus. Ela me reivindicava, puxando meu rosto contra si, agarrando os fios em minha nuca, fazendo eu me inclinar contra ela e nos desequilibrando dentro do espaço pequeno da poltrona. Eu levantei com ela nos braços e cambaleei até o sofá, deitando-a sem desgrudar o rosto um do outro. Me abaixei sobre ela, apoiando o peso do corpo pelos braços e ela envolveu minhas pernas com as suas, me encaixando em seu meio enquanto suas mãos fizeram uma bela bagunça em meus cabelos. A aceitação de Hinata me deixava desnorteado, despreparado para me permitir sentir coisas que emergiam em minha consciência, em pontos específicos do meu corpo, revelando vontades íntimas que implicavam um passo grande demais. E na verdade, eu não sabia se queria isso agora, se queria consumar meu amor em meio às lagrimas de uma despedida.

    Eu queria lhe fazer um jantar, assistir um filme ao seu lado e perder os créditos embolados no sofá, aos beijos, como agora, mas felizes e sorridentes. Como um casal normal. Queria fazê-la feliz, sentir-se segura comigo e pronta para se despir completamente de todas as peças de roupa, bem como todas as amarras que nos embaraçavam nessa vida confusa e conturbada. Porém, a luxúria que se via presente no que compartilhávamos naquele momento, diferente do beijo anterior, quando ela se declarara, era quase inocente, exausta demais. Não tínhamos força alguma para sair dos braços um do outro e tampouco para decidir nada.

    Eu só precisava beijá-la e ela parecia sentir o mesmo. Numa tentativa tola de esquecer o que a iminência da verdade que revelaria poderia nos causar. Por isso eu aprofundei minha língua no interior de sua boca, bem como meus dedos em seus cabelos. Meu corpo reagia ao dela de forma esperada e normal para alguém estupidamente entregue, mas meu coração parecia queimar de adoração, de amor, muito acima de qualquer desejo carnal que ousasse possuí-lo. Hinata sugou meu lábio inferior, preso entre seus dentes e o som gutural de prazer acumulou como um nó na garganta. Soltei o ar num sopro quente entre sua boca, ofegante, mas ela tornou a me beijar com a mesma ansiedade, agora molhando-nos com suas lágrimas. E de repente, o beijo acabou.

    Os olhos chorosos dela me fitaram com um paradoxo estampado. Como se tentasse decidir alguma coisa e então eu pude imaginar o quê. Suspirei e me sentei no sofá, puxando-a comigo para ajeitá-la entre minhas pernas. Ela colocou o cabelo atrás da orelha e olhou para baixo, corando. Era uma visão graciosa, seria romântica, se ao mesmo tempo a tristeza não estivesse nos rondando pronta para dar o bote.

    Ergui seu queixo com uma mão e segurei a dela com a minha livre. Hinata deixou as lágrimas teimosas caírem quando piscou para afugentá-las e eu captei uma delas em sua bochecha com um breve beijo. O toque proporcionou o familiar gostinho de água salgada em meus lábios e me fez divagar como ela sempre esteve achando que eu era o único mar de sensações ali. Ela não se via com muita clareza, não se reconhecia direito. Porque sua vida, seu ser, tudo em si, era tão grande e repleto de coisas a serem desvendadas que eu podia muito bem usar de sua metáfora e compará-la com um oceano.

    E meu pequeno mar transbordou um pouco mais antes de abrir a boca, querendo dizer, mas nada proferindo. Eu aguardei, mas ela não prosseguiu e corou de novo. Sorri, acariciando sua mão, numa tentativa de lhe incentivar e assegurar que nada esteja em julgamento ali. Mas de repente seu rosto ficou obscuro e eu me lembrei da sensação esmagadora da perda que ameaçava me destroçar.

    — Hina... não precisamos fazer nada disso hoje, você sabe. – murmurei, rouco. Tentei ignorar a ardência nos olhos e pigarreei em seguida. Hinata olhou para mim com os olhos cheios de dúvidas, mas sorriu com o canto dos lábios. Um sorriso triste.

    — Eu notei que estou errada, você tem razão. – respondeu. Franzi o cenho.

    — Errada sobre o quê?

    Ela soltou um suspiro relativamente longo, os olhos tremendo indecisos sobre onde fitar. Até que voltou a me encarar e apertou os lábios.

    — Sobre ter todas as experiências dessa vida antes de ter que dizer adeus. – sussurrou. Meu coração aumentou as batidas e eu notei o quão decidia ela parecia estar sobre minhas respostas. Em parte, eu sentia um fundo de esperança, porque sabia que seja lá qual for a tão misteriosa verdade, eu jamais a deixaria. Jamais. Estava absolutamente fora de cogitação. E por isso ainda havia a minha parte, que não concordaria com esse absurdo. Porém, e se ela decidisse não querer ficar? Eu não poderia impedi-la.

    — Eu não vou abandonar você, meu amor. Não importa o que você me diga. É passado, entendeu? Eu estou com você agora. No nosso presente. – insisti. Minha voz tremeu e ela percebeu. Hinata me encarou por um longo minuto, pensativa, e enfim assentiu. Eu fiquei pasmo.

    — Eu acredito no seu amor e por isso eu sei que tem certeza sobre o que está dizendo. Mas você só tem essa certeza agora. Não ouvia nada ainda.

    — Posso te pedir uma coisa, então? – soltei o ar dos pulmões, tenso. Mas Hinata concordou. Sua resposta evasiva me causou um arrepio contínuo. — Não fique criando expectativas, tentando anteceder as coisas. Está bem? Por favor, querida.

    Seus olhos claros ficaram cálidos e ela sorriu um pouco. Eu relaxei os ombros, parecia que estava sustentando um tanque de guerra.

    — Parece justo. Desculpe – murmurou. Eu abri um sorriso para ela e me preparei para o que precisava ser dito.

    — Muito bem. Então antes de você começar a me dizer as atrocidades do seu passado, me responda uma coisa. – Ela esperou, mas franziu o cenho em objeção ao meu conjunto de palavras. — Quando disse estar errada sobre ter todas as experiências, o que exatamente queria dizer?

    Hinata ponderou e corou outra vez. Ela reagia de um jeito tão gracioso quando o assunto em pauta era “contato físico”, não apenas sexo, mas qualquer um em geral. Ela não era acostumada a admitir tais necessidades.

    — Não seria justo, se depois de provar o... ápice físico desse amor... na minha pele, bom, não seria justo porque se disséssemos adeus, eu estaria te magoando e finalizando o processo da minha condenação. – contou, toda sem jeito. Eu soltei um riso abafado, contra seu cabelo. O modo com ela pensava ser responsável por mim era absurdo. Eu não era nenhum garoto frágil e indefeso, tampouco tinha vontades de garoto quando o assunto era ela. Minhas intenções não eram efêmeras, ansiosas e imprudentes, como um primeiro amor na infância. Eu era um homem que a queria fazer minha mulher. Em todos os aspectos. Queria cuidá-la, cultivá-la, amá-la e estar sempre ali do seu lado, vivenciando cada pequeno avanço, cada singelo sorriso que brotasse. Até que enfim estivéssemos prontos para sermos um do outro até a morte separar nossos corpos. Mas não nossas almas.

    Era poético, eu sei. Na teoria. Mas a prática não se distanciava disso, o sentimento evolutivo que em mim crescia desde o momento que a conhecia era prova real. Eu não era mais a mesma pessoa, eu era uma pessoa melhor. Portanto, certo de que não havia dúvida alguma de que esse futuro nos aguardava, eu segurei seu rosto e olhei profundamente em seus olhos antes de dizer:

    — Hinata, me responda uma coisa: você quer que a gente diga adeus?

    A resposta não veio imediatamente de seus lábios, mas veio em seus olhos. O olhar brilhante por lágrimas, os lábios tremeram e o desespero evidente através do par de pérolas. Ela não queria, eu sentia. Eu precisava disso.

    Mas então ela respondeu e acalantou todo o meu ser: — Não.

    Eu sorri, amplamente, até doer o maxilar e devolvi-lhe essa mesma certeza que como fogo me consumia.

    — Então essa é a única verdade definitiva entre nós.

    ***

    Hinata

    Estávamos sentados no jardim havia alguns minutos. A tarde seguia o curso do fim e eu tentava encontrar uma maneira de começar. De todas as formas que imaginei ter a verdade exposta algum dia, jamais pensei que ela viria à tona assim, nesse contexto maluco em que minha vida de repente se inseriu. De repente, minha mãe pertencia à um conto de horror, junto com seus amigos. Amigos esses, que eram pais dos meus amigos hoje. De repente, a mãe de Naruto é essa amiga. A melhor delas. A que ensinou para Akemi aquilo que um dia ela me contou, naquele parque. De repente, Akemi era madrinha de Naruto. De repente, Naruto era meu namorado.

    Era como se minha vida estivesse presa num nó cego, sem consciência da trama de fios tecidos antes disso. Cada pequeno detalhe dos dias que seguiram, cada pessoa que ia e vinha, parecia que todo mundo tinha um caminho trilhado que cruzava com o meu, em situações esporádicas ou contínuas. Não era mais eu e apenas eu, a vida finalmente parecia um conjunto de peças e sentidos. Direções que me respondiam e nomeavam, datavam cada incógnita. Eu podia me recordar de cada rosto, cada acontecimento que me fez chegar mais perto do hoje. Mesmo a morte de Akemi, mesmo isso agora parecia fazer sentido.

    Havia algo na confissão de Kushina que me incomodava profundamente. O sacrifício de Akemi. O conteúdo da carta, o sofrimento que ela insistia em aceitar sem medo a fim de me dar uma chance nesse mundo. Era como se... como se a partir desse decreto, nada que eu pudesse fazer a impediria de partir. Não podíamos viver no mesmo plano, porque ela renunciara sua vida por mim. Inúmeras, incontáveis vezes.

    Agora olhando para Naruto e me lembrando de tudo, eu me perguntava se um dia eu seria mãe. E se um dia seria capaz de entender esse amor, essa coragem absurda, essa determinação infalível. Perfeita. Era difícil visualizar, era doloroso e ainda tinha aquela sensação de injustiça se alimentando de minha saúde mental. Como eu podia existir nessas condições? Por que era necessário que ela se fosse para que eu continuasse?

    Era tudo culpa dele, de Hiashi. A culpa plena e primordial era dele. E a outra parcela era minha, porque a partir disso fazia parte de mim a escuridão que ela tentava afugentar. Mas não tinha conserto, não tinha como eu ser salva disso. Eu era um precipício, um muro, um elemento que separava dois mundos, dois lados. E cada um desses lados exercia sua influência. Seja para uma tendência maior ou menor. Apesar de tudo, eu sabia que eu tendia para o bem, para o amor de Akemi, para a sua vontade divina em recuperar e reconstruir a história dos Hyuuga, não como uma família amaldiçoada, mas uma puramente feliz. Abençoada. Cheia de oportunidades que não precisavam ter a ver com negócios ou liderança.

    Ela queria que eu fosse líder de mim mesma. De minhas vontades e sonhos. Ela e Kushina queriam que nós tivéssemos a chance de nunca mais precisar ser o que o destino mandava. E sim, escrevermos o nosso próprio. E os das próximas gerações. Sem mais mortes prematuras, sem mais desgraças e competições. Sem mais medo ou desconfiança, sem mais nenhuma predestinação injusta e infundada.

    Porque éramos pessoas únicas e diferentes. Que não possuíam o mesmo pensamento ou a mesma sina. E eu via agora o quanto elas acreditaram nisso e almejaram esse sonho para nós. Ser livre para ir e vir, e em plena segurança de que jamais haveria cobrança alguma em cima disso, além daquelas que nós mesmos provocaríamos.

    Contudo, agora as coisas tinham fugido do controle de todos. Hiashi ainda pretendia cumprir seu objetivo, Akemi se fora, a verdade foi exposta e eu estava colocando todo mundo que eu amava em perigo. Mas eu havia conseguido ao menos realizar um dos sonhos dela, minha grande mãe. Eu encontrara Naruto. Eu finalmente o conheci e o segui, para todo o lugar, em busca de coisas que jamais pensei estar procurando. E encontrando todas elas, como se fosse tudo o que eu mais precisava.

    E dessa forma, agora que nada mais estava dentro das expectativas de ninguém, agora que todos os panos foram tirados de cima das verdades e principalmente, agora que eu havia permitido que Naruto se infiltrasse em minha vida como sangue em minhas veias, eu percebi que era hora de me desprender dos segredos também.

    Eu estava entre muitos paradoxos. Como sempre. Entre odiar a verdade e amar o alívio que me percorria por finalmente entender. Entre amar viver e odiar a minha vida. Entre amar alguém e odiar a mim. Eu podia me permitir conhecer o mundo, agora que eu sabia que era sobre isso que ela dizia em seu leito de morte.  Mas eu devia ter consciência de que as pessoas não podiam ser iludidas, não podiam deixar de saber como tudo aconteceu. E mais do que isso, Naruto precisava conhecer que em mim, por maior que tenha sido a vontade divina de Akemi em prosperar sua bondade sobre minha alma, ainda havia e sempre haveria a parcela obscura na qual Hiashi me acorrentara.

    Assim, eu ergui o rosto para encará-lo e decidi lhe contar a real história de como Hyuuga Akemi deixara esse mundo.

    — Preciso lhe mostrar uma coisa. – murmurei. Naruto estava encostado no tronco de uma árvore e dedilhava o violão. Ele decidira pegar o instrumento, acho que para me acalmar. Ou ambos. E tocava para mim melodias suaves, que embalavam. Não cantava, não exprimia nada que me pressionasse, apenas mantinha seus dedos longos produzindo as canções que pouco a pouco me faziam escorregar para mais perto da coragem. Com sua ajuda eu pude entender a verdade, a realidade e a minha vida inteira. Ele me montara feito lego, consertara partes quebradas que eu jurava não poderem ser submetidas à nenhum outro trabalho, me ensinara sentimentos, sensações, vontades... sonhos. Esperança. Amor. E acima de tudo, crença. Acreditar que é possível, acreditar que é válido, que é real.

    Seu rosto virou em minha direção, olhando-me com calma, com um pequeno sorriso de canto, mas os olhos cheios de perguntas mudas. Eu segurei o braço do violão e ele parou de tocar, deixando-o de lado na grama. Puxei seus dedos para o interior de minha mão e apertei, desejando sugar sua força minimamente que seja, ansiando que nada me desviasse do que estava prestes a fazer. Era necessário. Era importante e era a única coisa que agora nos impedia de enfim decidirmos nossos caminhos.

    Eu pendera para o meu egoísmo manco, cheio de manchas de altruísmo aqui e ali, querendo protege-lo, querendo livrá-lo de mim e ao mesmo tempo almejando seu contato infinito e eterno em minha pele, minha vida, em tudo o que podia. Aos poucos crescera ao seu lado, preenchendo buracos e vazios, aprendendo a sorrir, a ficar nervosa, a ficar envergonhada, a ter amigos, a ter uma família, a me lembrar do passado apenas como uma memória, exprimindo-a para fora de mim e sempre ouvindo dele que aquilo ia passar e que isso aconteceria por suas próprias mãos.

    Tão lindo e tão cheio de pureza, de graça, de uma amizade inesquecível ele era. Contagiara todo o meu horizonte como se fosse uma praga boa e desenfreada. Ninguém podia sobreviver à Uzumaki Naruto. Nenhuma maldade, nenhuma teimosia, ninguém que ousasse ser qualquer coisa além de feliz. Incluindo a mim. E agora eu me sentia absolutamente diferente do que um dia havia sido. Eu me sentia uma pessoa que tinha ápices e decaídas, que tinha um humor passível de mudança, que tinha vontades e que se irritava, que adorava e fingia, que planejava e demonstrava, que construía, que permitia, amava. Eu me sentia como Sakura, como Ino. Eu me sentia uma garota.

    Eu me sentia... viva.

    Pela primeira vez em toda a minha existência, eu de fato não me sentia mais envolva na sensação fúnebre de que eu não estava aqui por alguma razão. Que minha vida era pura e exclusivamente um castigo para ser cumprido dolorosamente até o fim, por tê-la deixado partir. Agora essa sensação, esse velório de mim mesma, era um sentimento autoexplicativo, intermediário que me rondava enquanto eu me desviava do caminho. Era claro como a água cristalina, que agora eu não tinha mais um túmulo onde padecer.

    Eu tinha um sentido de lar.

    Uma casa. Um lugar para ficar.

    E em nada isso se comparava à um ponto no mapa. Não... era apenas o colo de alguém, singelo e incansavelmente disponível, feito sob medida. A medida do amor incondicional que um dia duas “pequenas-grandes” mulheres abdicaram de muito para fazer ser.

    Porém, além disso, eu tinha uma missão: consertar tudo. Honrar Akemi, honrar seu sacrifício e não deixar que o mau prospere sobre nenhum de nós. Permanecer em seu caminho de luz, de amor e de esperança. E eu não falharia, mesmo que trilhasse isso sozinha. Eu jamais desistiria, porque ela não o fez. Ela aceitou toda a dor e encarou todo o medo, o pavor de sentenciar sua própria morte, apenas acreditando que eu seria capaz de salvar a todos, como ela conseguiu. Assim eu o faria também. Provaria que Hiashi está errado, o faria pagar suas dívidas, desmascararia seus segredos e absurdos, salvaria as quatro famílias, daria um futuro melhor para essas pessoas. Faria alguma coisa com a vida que me fora dada. Começando por enfrentar o pior de mim e aceitaria, sob qualquer hipótese, fazê-lo sozinha, se assim fosse como seguiria a partir dali.

    — Ei – Naruto chamou. Eu lhe encarei — Pode me dizer qualquer coisa, querida. Eu estou aqui para te ouvir.

    E logo as memórias tomaram conta dos meus olhos.

    Flashback

    “Doía. Era a única coisa que conseguia pensar enquanto me encolhia, frágil e fria. Era tão pequena, tão maleável e inocente, perdida em uma imensidão que não condizia com meu tamanho. Meu âmago estendia-se vasto em mim, queimando todas as barreiras de proteção enquanto aquela percepção me inundava. Tinha tantas vozes, tantas faces e tantas coisas nas entrelinhas da realidade… era atordoante. Me apavorava, porque eu não era capaz de compreender ou carregar esse saber. Mais uma vez eu olhava para o céu, sentada no gramado ligeiramente congelado, sentindo o mundo me engolir, sentindo meu próprio eu consumido por esse emaranhado, essa constelação ininterrupta… sequências desastrosas. Abracei minhas pernas e me segurei, perguntando-me por que eu ouvia tantas coisas, por que minha mente apenas não descansava? De quem era a voz pesada em meus sonhos à noite, clamando minha presença, imperativo sobre mim? E por que essa voz me deixava tão tonta, como se cada letra solta consumisse um pedaço da minha alma? Seria isso o que o mundo faz? Seríamos a refeição da natureza, em devolutiva carne, e também seria nossa alma o alimento, a moeda de troca do carma?

        Mas qual era o meu preço? E a que preço eu pagaria? Eu era tão pequena... Não havia vivido nada, nem conhecido todas as possibilidades que poderia arquitetar para minha existência nesse planeta. Uma carreira, uma filosofia, um propósito. Nada. E no entanto, sentia como se todos os erros de reencarnações passadas estivessem nos meus ombros, pressionando-me contra o solo frio, enterrando-me viva no meu próprio eu. Era cruel… porque eu era só. Parecia não haver uma sequer pessoa que também fosse ouvinte como eu. Era como estar em outra sintonia, que só correspondia ao sinal do meu rádio e de mais ninguém. Imaginava se cada um tinha uma forma de pagar, se talvez uns pagariam mais tarde. Mas eu vinha sendo cobrada desde tão cedo, sem sequer poder escolher. A fraqueza que me margeava era inquebrável, um obstáculo que impedia aproximação, que isolava. Porque cada vez que eu me sentia feliz, cada vez que eu tentava dar um passo para longe dessa barreira, quando eu me tornava menos perceptiva, menos ouvinte e expectadora de coisas que só os meus sentidos reconheciam, eu tinha a impressão de que estava orbitando. Que todas as órbitas estavam realinhando. E esses momentos eram tão ilusórios, porque tudo no final voltava. Era o que eu mais sabia: a cada 360, um novo 360. E esse ciclo era interminável. O desespero da solidão, em meio a tantas pessoas, tantas vozes… uma única garota em duas realidades. O alívio do esquecimento, as vias obscuras de obtenção, a sensação de poeira sobre a pele, de sujeira na consciência. A surpresa pelo silêncio, a alegria pela paz adquirida, a esperança agarrada à beira do penhasco. A respiração normalizada. Oito horas de sono. Sem sonhos. E então… 360. O desespero. A solidão consumidora. Era interminável, irrevogável e eu era fraca.

                     Era por isso que eu precisava acabar com cada um desses quadrantes, destas etapas, destes dados e números. Porque eu não estaria nunca em órbita, não enquanto eu continuasse espiralando em direção a esse limbo. Eu sabia que seria um fardo ainda maior, porque faltavam três meses para que Hanabi chegasse e ela não merecia um buraco negro sugando toda a energia positiva do seu lar. Era um bebê, uma luz que vinha para salvar Akemi. Eu sentia. Hanabi era a compensação. O equilíbrio na balança, uma tranquilização, uma válvula de escape, um propósito. Era o que eu podia fazer por ela, talvez fosse isso o que as vozes queriam. Não havia nada para orbitar ali, porque eu tinha apagado todas as estrelas no céu.

         E agora eu precisava me unir a essa escuridão.”

    A casa estava silenciosa, vazia. Mas dentro de mim a noite gritava a quatro cantos, devastando tudo ao redor. Eu me pergunatava se deveria deixar uma carta ou algo do tipo, mas talvez fosse melhor apenas apagar minha vida das memórias de Akemi, torna-la livre do peso que eu era. Afinal, nada do que eu fazia arrancava aquelas vozes, aquelas visões que me acorrentavam no inferno, longe da realidade que diziam me pertencer, mas que eu nunca, jamais conseguia compartilhar. A cada superfície refletiva, eu via o riso de escárnio se formando na imagem do outro lado, o olhar cheio de nada e o vazio ecoando, rachando todos os espelhos, todas as janelas, tudo o que me permitia ver o monstro sem rumo que eu me tornava, dia após dia.

    Meus passos soavam secos no piso de madeira, como se eu fosse feita de material oco. E talvez não restasse de fato mais nada ali para contar. Meus olhos turvos por um choro irracional, frágil e derrotado não conseguiam ver para onde meus pés me levavam. Havia um torpor que me petrificava, me mecanizava, como se eu fosse uma marionete. E algo dentro de mim tinha a certeza de que era exatamente isso. Contudo, a dor era terrível. Era ensurdecedora e ao mesmo tempo silenciosa. O resto do mundo parecia não saber o quão alto o silêncio poderia ser. Mas ele era tão poderoso que explodia meus tímpados e eu conseguia sentir, como se fosse real, o sangue escorrer por meus ouvidos, quente, me deixando tonta, me deixando pesada e desengonçada.

    Arrastada até qualquer lugar que fizesse isso sumir. Toda a dor, todo o desespero engasgado, toda a exaustão por ouvir cada voz em cada maldito dia me mandando embora, me enxotando de minha própria consciência. Cada maldito rosto que zombava de mim. Eu queria que tudo fosse para longe, que eu pudesse entorpecer de verdade, desaparecer, como um sinal de fumaça. De mim, te todos, de tudo, dela. Da vida de minha mãe e sua devoção por mim.

    E quando eu pude sentir o frio metálico da lâmina entre meus dedos, eu a apertei com o ímpeto de quem encontrou uma boia no meio do mar agitado numa tempestade. Quem avistou o helicóptero no céu, perdido numa ilha deserta. O alívio de quem estava finalmente... partindo. Aos prantos, eu senti o peso dos tubos de antidepressivos e remédios fortíssimos através do vidro do armário da cozinha, como se me alertassem, me julgassem por jogá-los fora. E em contrapartida eu podia ver meu reflexo através da superfície envidraçada, a face do caos, do furacão que sugava a vida ao redor de si.

    O sangue escorrendo dos meus dedos cortados fazia a textura da lâmida da faca parecer cremosa, como se fosse fácil, como se fosse bom. E quando eu enxerguei à minha frente o rosto de um deles, das almas solitárias que vagavam em busca do tormento, eu tive certeza de que essa era a minha salvação. O fim, mas o começo da paz.

    Fechei meus olhos, abracei o escuro íntimo do fim e apertei meu bote salva-vidas, segurando-o contra mim, numa distância perfeita para ser precisa e eficientemente fatal. E nesse instante, enquanto eu era preenchida pelas vozes em minha mente, eu ouvi distintamente o ofegar vindo de uma garganta que jamais proferira uma só letra para me amaldiçoar.

    Akemi estava lá.

    Num primeiro momento, eu petrifiquei, pendurada entre a realidade dela e a minha. Mas estar sob seu olhar me incomodava profundamente, me julgava, parecia que todo o podre em mim se tornava muito mais nítido. O cheio impregnado de cigarro, o gosto amargo do álcool, o rastro de lágrimas, o sabor férreo do sangue. E num desespero de que ela presenciasse aquele fim, eu corri. Tentando afugentar a visão de seus olhos arregalados e assustados. Mas ela me seguia, correndo sem jeito segurando a barriga enorme e gritando por meu nome. Eu conseguia alcançar a sala e desparecer pela porta? Eu tinha tempo? Eu tinha força? Não... eu não tinha nada, eu só tinha a necessidade gritante de conseguir. Sua voz ecoava pela casa, os gritos sufocantes de súplica, o desespero pintando minha visão com um negror insuportável, sugando minha consciência para longe.

    Não... mamãe. Não faça isso.

    — ME DEIXE IR! EU PRECISO IR!

    A súplica era uma via de mão dupla, sabe. Quando implorar torna-se tão impossível de suportar que você já não entende mais se precisa encontrar uma forma de conseguir o que quer ou finalmente entender o que precisa.

    Mas no infortúnio da vida, no momento em que eu alcaçara a maçaneta, os dedos finos de minha mãe alçaram meu braço e impetuosamente puxaram meu corpo contra si. Além de inesperadamente decretarem o rasgar impiedoso e certeiro de minha válvula de escape contra o peito daquela que um dia me jurara o mundo.

    E de repente, tudo o que tinha era o definitivo e cruel vazio da morte em minhas mãos.

    “Me cortei por toda a minha vida

    Cortei a única coisa que estava certa

    E se eu nunca te visse novamente?

    Eu morreria próximo a você no final”


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