Os Cinco Selos

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    Capítulos:

    Capítulo 124

    Especial 05 - Os Cinquenta Anos de Pietra

    Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Yooo, chegamos ao último especial!

    Espero que tenham gostado de todos

    Boa leitura ^^

    Sessenta anos antes...

    Pietra, dentre os Selos, é a que mais tem noção da proporção de destruição causada aonde quer que eles vão. Levando isso em consideração, ela se limitava a ficar no máximo dez anos em cada lugar onde decidisse morar. Mas, como o esperado, as vezes ela tinha que ir embora antes. Ou ela batia nos homens que assobiavam para ela até a guardar se envolver – se fossem feios, claro –, ou quando estava bêbada demais e acabava incendiando metade da cidade – só aconteceu uma vez, pelo menos o que ela lembra.

    Desta vez, pelo menos essa, Pietra havia saído da cidade de Trost pacificamente, após dez longos anos. Estava orgulhosa de si por não ter gerado nenhum problema... bem, nenhum problema grande. Agora, ela ia em direção a cidade de Kalium.

    Ela caminhava calmante pela densa floresta. Como sempre, trajava botas de cano alto, short que desciam até o meio de suas coxas e uma blusa simples. Em suas costas, estava seu machado vermelho de haste longa.

    A cidade de Kalium, após Edward e Dante praticamente a destruir por completo na luta contra Belzebu e um demônio sem nome, passou por um bom tempo por reformas. Eles mantiveram a essência: a cidade parecia ser parte da floresta, construções grandes se estendiam e, agora, certas construções emitiam luzes. Pietra achou a cidade linda.

    Um grupo de três pessoas entraram em seu caminho. Ela parou. Os três portavam espadas e pistolas de manas, e, entre as árvores, ela percebeu que estava na mira de uma flecha.

    – Bom dia, Moça Ruiva – cumprimentou o homem do meio.

    Ele tinha um cabelo curto, tatuagens marcavam seu rosto e pescoço.

    Pietra lhe deu o seu sorriso mais doce.

    – Bom dia – ela disse.

    – Temo que você tenha chegado na cidade em um momento infortúnio.

    Ela fez uma expressão de surpresa.

    – Oh, é mesmo? Talvez volte outro dia, então.

    Quando Pietra virou, uma flecha zuniu e cravou no chão centímetros a sua frente.

    – Temo que não – decidiu o homem. – Se vire e entregue seu machado.

    – Eu acho que vocês não conseguiram carregá-lo – disse Pietra se virando.

    – Moça Ruiva, estamos sendo gentis com você até agora. Que tal cooperar também?

    Pietra suspirou. Pegou seu machado e jogou para eles. O mesmo que conversava com ela o segurou, mas o peso jogou-o para baixo, fazendo com que batesse de cara no chão. Os outros homens sacaram as espadas.

    – O que você fez, maldita?!

    – Nada, ué. Eu disse que não aguentariam.

    O homem se ergueu do chão. Estava com raiva –  mas ela tinha avisado.

    – Me siga.

    O homem tatuado foi a frente, e Pietra o seguiu. Os outros dois ficara tentando carregar seu pesado machado.

    "Por que eu sou atraída para confusões?! Eu juro que tento não causar tumulto, eu juro!", pensava Pietra.

    Quando entrou na cidade, Pietra pode ver a gravidade da situação. Os homens e algumas mulheres de vermelho amarravam os cidadãos. Soldados eram assassinados a sangue frio, os enforcados continuavam pendurados.

    "Ah, o doce sangue frio dos humanos. É irônico os demônios surgirem das almas corrompidas deles", pensou ela.

    – Então... o que está acontecendo aqui? – perguntou Pietra.

    – Nossa gangue tomou Kalium – respondeu secamente.

    Ela arqueou uma sobrancelha.

    – Se são capazes de tomar uma cidade, por que não utilizam essa força para fazerem algo inteligente e dentro das regras?

    – Cale a boca.

    Ela riu.

    Com algemas, prenderam seus pulsos e seus tornozelos. Ela foi deixada sentada ao lado de outras pessoas acorrentadas. Ela observou a situação ao seu redor. Um homem de cabelo comprido agredia uma criança. Uma mulher com cabelo curto chicoteava um homem. Uma mulher era estrangulada, mas o homem moreno que a estrangulava a mantinha viva, deleitando-se.

    – Que azar estar aqui também – disse um homem interrompendo a observação dela.

    Pietra olhou para ele. Tinha músculos medianos, bem definidos, porém; seu cabelo era levemente encaracolado e castanho escuro.  Pietra sorriu para ele quase que maliciosamente.

    – Pois é. Estava andando aos arredores e... – ergueu as algemas. – Acabei aqui.

    – Não muito diferente de mim. Mas aqui é a fila para quem vai ser assassinado, o que você fez para estar aqui?

    Pietra deu de ombros.

    – Nada demais. E você?

    O homem deu de ombros.

    – Nada demais – sorriu. – Me chamo Ron Strick.

    – Pietra.

    – É um prazer te conhecer antes de morrer.

    – Ah, o prazer é todo meu.

    Eles trocaram sorrisos.

    – Meu Deus, sério que vocês estão flertando enquanto estamos na fila para a morte?! – perguntou uma mulher ao lado de Ron.

    Ela tinha cabelo curto e negro. Sua pele era tão branca que parecia neve. O corpo dela era magro, levemente avantajado.

    Os dois deram de ombros.

    – E qual é o problema? – perguntaram a ela.

    – Sério mesmo? – suspirou. – Vocês se merecem.

    – E qual é o seu nome? –  perguntou Ron.

    – Jane Euctass.

    – É um prazer te...

    – Ah, vai se foder – disse Jane.

    Pietra gargalhou.

    Um dos gangsteres se aproximou de Pietra. Era gordo e fedia.

    – Posso saber por que está rindo? – perguntou o gordo.

    – A Jane achou ruim que eu e o bonitão aqui estarmos flertando em uma situação como esta – explicou ela.

    – Entendo – ele sorriu dando uma risadinha.

    Sua expressão ficou séria e colocou uma pistola apontada para a cabeça dela.

    – Está brincando comigo, porra?

    – Aham – Pietra sorriu.

    Jane ficou boquiaberta, Ron arregalou os olhos e o gordo ficou sem reação. Uma outra pessoa chamou o gordo – chamava-se Irik –, e ele foi embora. Ao se virar parta seus dois novos amigos, mantinham a mesma expressão.

    – O quê? – perguntou Pietra.

    – Você é doida?! – perguntou Jane.

    – Estou apaixonado – admitiu Ron.

    Pietra ignorou os dois.

    Ela apontou com a cabeça um homem alto. Ele estava envolto de um casaco de pele de lobo, e usava roupas vermelhas de tecidos muito superior do que o restando dos outros.

    – Aquele é o chefe?

    – Provavelmente – responderam Ron e Jane.

    – É a gangue Águia de Sangue – explicou Ron.

    O selo da Peste se ergueu, abriu um pouco suas pernas, então a corrente da algema do tornozelo rompeu-se. Ela começou a caminhar em direção ao suposto chefe da gangue.

    – Ei, ei, ei, ei, para aonde vai? – perguntou Ron.

    – Ter uma conversinha com o chefe.

    – É. Ela é doida – determinou Jane.

    Pietra caminhava calmamente enquanto assobiava. Um do gangster foi tirar satisfação do que ela estava fazendo. Pietra ergueu um pouco os braços demonstrando suas algemas, e depois abriu os braços, rompendo a corrente. Antes que o gangster pudesse fazer algo, o selo agarrou-o pelo pescoço e jogou-o em direção ao chefe. Ao ver seu subordinado passar voando em sua frente, voltou-se na direção que ele veio, e viu uma mulher de cabelo ruivo, olhos verdes e com um sorriso doce.

    – Você que é o chefe?

    – Sim, eu sou o che...

    Quando o chefe percebeu, punho fechado da Pietra estava em sua cara. Com o impacto, ele foi arremessado carregando casas consigo.

    – Bem, não é mais. – Ela olhou ao redor, percebendo os olhares sobre si. – Agora eu sou o chefe. Minha primeira ordem é que vocês libertem todos.

    Ninguém se mexeu.

    Um homem corpulento e maior que Pietra entrou em sua frente.

    – Não vou seguir ordens vindo de uma mu...

    Pietra agarrou o braço esquerdo do homem e torceu. O grandalhão se ajoelhou – ficando mais baixo que ela – e dava baixos grunhidos de dor.

    – Lembrando, não sou uma simples mulher. Sou sua chefe. Quem tiver problemas com isso, farei questão de escutá-los eu mesma. – Pietra ergueu o braço do homem, houve o estalar dos ossos se quebrando e grito de dor em seguida. – Algum problema? Ou vão libertar todos?

    Então começaram a libertar os civis.

    Pietra se aproximou de Jane e Ron, ambos ainda acorrentados. Ela revirou os olhos.

    – Podem parar de fingir.

    – Do que está falando? – disseram os dois.

    – Ron desgastou as correntes de suas algemas e Jane tem uma faca na bota.

    Ron forçou um pouco a corrente no pulso e no tornozelo, rompendo-as. Jane pegou uma faca de dentro da sua bota.

    – Mas ainda estou presa – disse Jane.

    Um membro da gangue ajudou Jane a se livrar das correntes.

    – Da onde você tirou tanta força, mulher? – perguntou Jane a Pietra.

    – Sei lá.

    Ela realmente não sabia.

    – E como você sabia que nós tínhamos meios de fugir? – perguntou Ron.

    – Bem, além de mim, vocês eram os únicos mais calmos.

    Eles olharam para as pessoas acorrentadas na fila da morte, todos tremiam de medo e choramingavam.

    – Vai realmente virar chefe? – Jane guardou sua faca na bota novamente.

    – Sim. Querem se juntar a mim?

    – Estou dentro – aceitou Ron.

    – Claro que está! – Jane apontou para o meio das pernas de Ron. – Até porque, está pensando com a cabeça de baixo!

    Ele deu de ombros.

    – É uma cabeça na qual me orgulho.

    – Ah, puta que pariu...

    – Pense com carinho, Jane. Tenho assuntos a resolver por enquanto, espere um momento – disse Pietra.

    Pietra começou a apontar para as pessoas da gangue. Ela apontou para uma mulher que antes agredia homem, depois para um agredia uma criança, para o cara que estrangulou uma mulher. O cara da tatuagem e o gordo que apontou a pistola na cabeça dela também, e mais alguns outros.

    – Vocês, fiquem aí no centro. E, para os que não apontei, não deixe eles fugirem, sim? – sorriu ela.

    Os gangsteres cercaram as pessoas que Pietra apontou. Ela caminhou até o local onde o antigo chefe caiu – ainda estava estatelado no chão desmaiado. Pietra o pegou e arremessou entre as pessoas que ela selecionou.

    – Pronto. Todos estes são os culpados. Os outros são meus membros infiltrados. Certo?

    Pietra havia observado. Todos as pessoas que selecionou fez algo de errado, enquanto o resto – cerda de dez – haviam feito nada. Uma pequena mentirinha, mas necessária.

    Com receio, os dez assentiram.

    Depois de muito tempo tentando explicar a situação com suas mentiras até o povo acreditar, Pietra foi dada com salvadora, assim como os outros “membros infiltrados”. Não foi só isso claro, teve que falar com soldados, mas mentir e dar um sorriso doce Pietra sabia fazer perfeitamente.

    As dez pessoas que Pietra poupou a levaram para a casa da gangue. Ron veio junto, e Jane também decidiu segui-la. Como Pietra previu, as pessoas que percebeu que faziam nada estavam na gangue por causa de não ter conseguido algo melhor, alguns tinhas que sustentar família, outros por si só.

    Exausta, ela foi para seu quarto – ou do antigo chefe. Ela se jogou de cara no travesseiro.

    "Mas que merda estou fazendo? Chefe de uma gangue? Que ideia genial, Pietra."

    Ela se virou para cima, deu um longo suspiro.

    "Não posso fazer coisas erradas, então não pode ser uma gangue! E seu pudesse fazê-la um guilda? Hmmm..."

    A porta do seu quarto rangeu, Ron adentrou.

    – Questionava-me quanto tempo você demoraria – disse Pietra.

    – Espero que não muito.

    – Não mesmo.

    Com o rangido, a porta se fechou.

    Com o passar do tempo, Pietra se virou. Conseguiu causar boa influência com a gangue com os seus atos. Começou a ser conhecida pelas cidades não mais como uma gangue, mas sim, como uma guilda. Ela não tinha dado um nome, mas ficaram conhecidos como “Esmeralda Flamejante”, por causa dos olhos verde dela e seu cabelo ruivo. Com a influência em alta e boa popularidade, não demorou para o número de membros crescerem. Basicamente, eles faziam qualquer coisa em que era colocado no quadro das missões.

    Junto com os anos, Pietra ficou muito apegada a Jane e Ron, assim como a guilda em si. Jane admitiu que era uma caçadora de recompensa –  muito astuta no oficio de matar em silêncio. Já Ron, era um gatuno –  em missões furtivas de recuperar certos itens ele era incrível. Pietra nunca revelou quem ela era para nenhum dos dois, e tentar descobrir o que ela era tornou-se motivo de recompensa em sua guilda.

    Em um certo dia, Jane havia chegado de sua missão. Entrou na guilda, retirou seus equipamentos e pegou um mapa de sua mochila.

    – Pietra! – chamou.

    No segundo andar, Pietra colocou a cabeça para fora. Com um salto, Jane subiu do hall de entrada para o segundo andar, pousando em cima da barra de madeira. Pietra estava sentada. Jane abriu o mapa em cima da mesa, e as duas se encararam.

    – Vai me dizer para que você abriu esse mapa ou...?

    Jane suspirou.

    – Não está vendo o x? – ela apontou no mapa.

    – E o que tem?

    – É um mapa de um tesouro, oras!

    – Desde quando um mapa que tem um x é de tesouro? – perguntou Ron sentando em uma cadeira.

    – Desde sempre!

    – E o que você planeja fazer se for? – perguntou Pietra analisando o mapa.

    – Iremos achar e ficar ricos pra caralho. Dã.

    Ainda estudando o mapa, Pietra viu um símbolo em sua ponta inferior direita – era um olho vermelho assemelhando-se a de um gato. Rapidamente, Pietra se tocou que era um mapa dos Mephistos, e que poderia ser onde está escondido um dos seus livros.

    – Você é incrível, Jane! – disse Pietra a puxando e dando-lhe um beijo na bochecha.

    – Sou? – ela fez uma careta. – É. Eu sou.

    Pietra saltou do segundo andar para o hall.

    – Para aonde vai? – perguntou ela.

    – Procurar o tesouro deste mapa.

    – Eu vou com você.

    – Não.

    Jane fez biquinho.

    – Deixa que eu vou, então – propôs Ron.

    – Não. Vou ir sozinha, preciso ir sozinha. Cuidem da guilda enquanto eu estiver fora.

    E ela foi embora.

    – Ela nem me deu um beijinho... – lamentou Ron.

    – Não é só porque vocês se pegam as vezes que quer dizer que ela esteja apaixonada por você como você é por ela, Ronzinho.

    Ele ergueu o dedo médio.

    – Vai se foder, Jane.

    – É. Estou pensando seriamente em faz isso mesmo – sorriu.

    Para sua nova jornada, Pietra utilizou um cavalo para se locomover – de acordo com o zelador, ele se chama Orik. Ela teria que passar por quatro cidades até enfim chegar em na maior e mais densa floresta, Berço da Vida.

    Pietra demorou duas semanas para chegar em Olindas, a última cidade antes da floresta. Por ter chegado anoite, aproveitou o tempo para reabastecer sua mochila com comidas. Não sabia por quanto tempo irei ficar naquela floresta, afinal. Alugou um quarto em uma estalagem e dormiu até a manhã seguinte.

    Ela deixou Orik em um estábulo, e partiu para a floresta Berço da Vida. Quando se aproximou da entrada da floresta, sentia que iria ser engolida por ela. Havia árvores e mais árvores de diferente tamanhos, cores e volumes. Pássaros-de-fogo sobrevoavam a floresta. Diferentes tipos de insetos se arrastavam no chão e voavam. Era um bioma incrível. Pietra pegou o mapa da mochila, estudou-o por um tempo, então adentrou na floresta...

    ... E era um inferno! Ela já havia sido picada por mais insetos do que já fora por um ano, por diversas vezes tinha que emitir sede de sangue para espantar animais selvagens – ela achava que não havia necessidade matá-los se não fosse para comer. Além do mais, ficou horas e horas caminhando sem achar o lugar no mapa. Estava completamente perdida, suja, estressada e cheio de picadas.

    Quando se deu conta, a noite já estava chegando. Acendeu uma fogueira com chamas verdes, sentou-se em cima de um tronco e começou a choramingar:

    – Por que eu tive a brilhante ideia de ir atrás desse livro?! Quer dizer, eu nem sei se tem o livro! – Deitou-se no chão e deu um longo suspiro. – Já tem três anos que estou na guilda, faltam sete para eu partir. Uma pena. Apeguei-me a todos eles, principalmente a Jane e Ron.

    Ela pegou alguns doces em sua mochila e começou a comer.

    – Hmmm, o que será que os cinco estão fazendo? – Bocejou. – Estou com saudades.

    Pela manhã, continuou tentando achar o livro. Apenas havia cochilado, não queria acordar com um animal feroz comendo sua perna ou algo do tipo.

    Depois de mais algumas horas perambulando pela floresta, deu-se de frente para uma fenda, cujo era tão funda que não conseguia enxergar o seu fim. Ela olhou para o mapa, para o abismo, para o mapa e, novamente, para o abismo.

    – É... deve ser aqui.

    Pietra saltou fenda adentro. Caiu durante um tempo considerável antes de ver a luz no fim. Preparando-se para o impacto, flexionou os joelhos, e o chão abaixou dela fragmentou-se ao contato. Ela alisou suas coxas.

    – Porra, era mais alto do que pensei.

    O lugar era as ruinas de que um dia já foi uma cidade, ou algo parecido, pelo menos. Não havia nenhuma construção que não estivesse destruída ou tomada por musgos. Uma pequena parte da floresta se mesclou com as ruinas, trazendo flores e árvores. Havia um fraco caminho de um rio passando ali dentro. Aberturas deixavam os raios do sol passar para iluminar.

    Pietra caminhava calmamente contemplando as ruinas. Achou muito lindo. Observava as estátuas que variavam entre figuras humanas e angelicais.

    Sobre os destroços do que, aparentemente, era um templo, um livro de capa negra com ornamentações roxas e com um olho vermelho de um gato na capa repousava. Estava caído ali como se fosse para Pietra encontrá-lo – bem, foi o que ela sentiu. Pegou-o com delicadeza, e olhou ao redor esperando algum mecanismo de defesa, mas nada veio. Ela tirou o pó do livro e guardou-o na mochila.

    "Mais tarde eu leio, quero sair desta floresta infernal."

    Pietra subiu por uma escadaria que encontrou. Ela jura de ter sido mais de uma hora de degraus até encontrar uma parte bloqueada por uma aglomeração de pedras. Com o seu machado, ela destruiu até chegar a superfície. O sol já começou a se pôr.

    Esperou até a manhã para ela e Orik partirem para a cidade de Kalium novamente.

    Ela demorou duas semanas para enfim chegar em Kalium. Neste meio tempo, Pietra, nas pausas, sempre lia um pouco do livro dos Mephistos. A que mais chamou sua atenção foi uma magia de criar uma pequena dimensão que alterava conforme seus desejos, mas a descrição para fazê-la era bem vaga. Na página, além da descrição, apenas continha:

    Feche os olhos;

    Sinta;

    Deseje;

    Imagine;

    Está feito.

    Ela fez isso passo a passo todas as vezes, mas nunca chegou a parte do “está feito”. Deixava-a irritada.

    Caminhando pela cidade, Pietra cumprimentou alguns conhecidos, mas achou estranho não achar ninguém de sua guilda perambulando ou destruindo algo por aí.

    "Será que sabem que estou aqui e vão fazer uma surpresa?", pensou.

    Com isso em mente, ela aumentou a velocidade na qual caminhava.

    De frente para a sede da guilda, ainda não foi capaz de escutar som algum. Animada pela sua surpresa, Pietra abriu as portas com ânimo e um sorriso.

    E o sorriso se desfez em seguida.

    Os membros da guilda estavam mortos. Alguns jogados ao chão, outros ainda sentados em suas respectivas mesas. Paredes sujas de sangue. O chão ensanguentado com corpos mortos e vísceras. Pendurados em cordas amarradas na ripa do segundo andar, estavam Jane e Ron enforcados com o corpo pendendo no ar.

    Ela caminhou pela guilda com os olhos arregalados e incrédula. Na parede, escrito com o sangue, estava a seguinte frase: “Uma vez gang sempre gang”.

    Para terem feito uma chacina deste nível e, com certeza, silenciosa, só a gangue dos Oradores teria destreza o suficiente para tal ato. E havia histórico de confronto com o líder anterior a Pietra.

    A julgar pelo cheiro fétido, fazia alguns dias que estavam mortos. Com isso, podia concluir que as famílias deles também foram exterminadas, levando em consideração que ninguém mais entrou lá.

    – Não foram demônios que fizeram isso, mas sim, humanos. Eu não posso matar humanos. – Ela levou sua direita até o rosto e apertou com força. – O que eu devo fazer?!

    Ela andou desamparada até a porta. Olhou para trás, observou os corpos mortos de Ron e Jane, depois para os outros membros da guilda. Mordeu seu lábio inferior até um filete de sangue escorrer, e suas chamas verdes se espalharam pela guilda, fazendo tudo arder em chamas.

    Em uma taverna, Pietra colou o dinheiro no balcão e pediu quatro garrafas de vinho. Na primeira, ela tirou a rolha e bebeu tudo em uma golada só. Pegou as outras três, saiu da taverna e foi em direção a floresta.

    Era madrugada, e Pietra continuava a andar pela mata. As três garrafas de vinho haviam sidos esvaziadas há tempos. Entre a floresta, ela encontrou uma casa de dois andares que era grande. Pode escutar vozes lá de dentro, assim como pode ver luzes.

    Seu cabelo ruivo cobria seu olhar frio e assassino.

    – Não posso matá-los. Mas uma dor psicológica é tão ruim quanto física. Irei fazê-los desejar nunca ter nascido. Despertar: Deusa da Peste.

    As chamas verdes romperam em meio a escuridão.

    Os membros da gangue saíram da sede assustados, e sentiram um vulto quente passar por eles. Escutaram um grito. Quando olharam, o líder da gangue estava nos braços de um ser de corpo quase pele e osso, vestido de trapos e com corrente quebradas em seus pulsos e tornozelos.

    Pietra segurava o líder da gangue com sua mão nas bochechas dele. O rosto do homem era envolvido por chamas verdes, mas não queimava – ele não podia morrer, afinal. As chamas sugavam sua energia vital. Deixando-o cada vez mais fraco, mais magro. Pietra o soltou, e ele caiu no chão aos espasmos e magro.

    Todos ali presente estavam assustados.

    – Demônio! – vociferou uma das mulheres indo ao ataque.

    Com o seu machado, Pietra decepou o braço no qual a mulher empunhava a adaga e usou suas chamas para drenar a energia vital dela, em seguida caindo aos espasmos ao chão também.

    Ao perceber que todos iam correr de medo, Pietra fechou os olhos.

    Sinta;

    Ela sentiu ódio.

    Deseje;

    Ela desejou que eles fossem torturados pelo maior medo de cada um.

    Imagine;

    Ela imaginou a escuridão.

    Está feito.

    Ao abrir os olhos, Pietra se viu tomada pela escuridão. Todos os membros estavam acorrentados e sendo torturados por seus respectivos medos: palhaços, eles mesmos, demônios, rostos desconhecidos, lobos e etc.

    Um nimbo verde brilhava do centro de suas costas até acima de sua cabeça – ela não percebeu.

    Um sorriso sádico estava estampado em seu rosto enquanto deleitava-se dos gritos em agonia. O sorriso foi desfeito junto com o breu, e ela saiu correndo para fora da sede floresta adentro.

    “Pestes são perigosas ao ponto de poder matar milhões antes mesmo de encontrar a cura. São mortais, podendo agir silenciosamente ou de forma caótica. A mais mortal tem um belo par de olhos verdes e um lindo cabelo ruivo, o primeiro selo... o selo da Peste.”

    Pietra – estava em sua forma Nephilim –  correu até chegar em uma caverna. Ela caiu de joelhos e vomitou. Sentou-se no chão. Estava ofegante, seu peito doía e parecia que sua cabeça iria explodir.

    "O que eu fiz? O que eu fiz? O que fiz?", pensava ela repentinas vezes.

    Uma expressão de agonia se fazia em seu rosto.

    – Seu não tivesse ido atrás do livro, teria como evitar a morte de Jane, Ron... a morte de todos.

    Vomitou novamente.

    Ainda estava ofegante, nada de alivio no peito ou na cabeça.

    – Eu receberia uma terrível repreensão pelo o que fiz com aqueles humanos, né, capitão? – Ela abraçou seus joelhos e encolheu-se. – E o que você acharia de mim neste estado, Kleist?

    Pietra continuou no escuro, tremendo e solitária, remoendo-se em seus próprios pecados.

    Quando amanheceu, ela saiu da caverna. Estava acabada. Seu cabelo estava completamente bagunçado, estava fedida e desarrumada.

    – Meus pecados não podem ser apagados. O que está feito, está feito. Apesar disto, consegui uma habilidade nova, e irei levá-la a maestria. A prova de meu pecado. Não esquecerei de ninguém. – Fechou os olhos, inspirou o ar puro e expirou. Abriu os olhos esbanjando determinação. – Não irei ficar para trás entre os quatro.

    Já havia passado cinquenta anos desde quando Pietra separou-se dos selos. Neste meio tempo, ela devolveu o livro dos Mephistos onde encontrou. Ela estava hospedada na cidade de Akarat, mas estava preparando-se para partir.

    Ao sair da estalagem e olhar para a floresta, viu as chamas vermelhas, prateadas e amarelas vindo em direção a cidade.

    – Estava com saudades – ela sorriu.

    Fim dos especiais, continua no próximo capítulo com o início da terceira parte <3 :p

    Curiosidades:

    Berço da Vida: chama-se assim por causa de sua vasta diversificação de tipo de animais, flores, insetos e etc. É a floresta com maior diversidade.

    Pássaro-de-fogo: são pássaros muito curiosos. São formados apenas de ossos e cérebro. Ao entrar em contato com os raios de sol, seus ossos entram em combustão, envolvendo-os pelas chamas, assim possibilitando-os a se locomover. Por causa da capacidade dos seus ossos de reservar os raios, eles podem passar noites em locais escuros até o sol voltar. Alimentam-se apenas dos raios solares.


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