Jóia Rara

Tempo estimado de leitura: 16 horas

    18
    Capítulos:

    Capítulo 25

    A Verdade Cristalina

    Álcool, Hentai, Linguagem Imprópria, Sexo, Suicídio, Violência

    Oláá, pessoal, tudo bem com vocês?

    Como prometido, aqui está o capítulo 25! Uhuuuuul uhasuhasuhasuausha

    Gente, sério, LEIAM ISSO QUE VOU DIZER AGORA, kkkkk porque eu acho que é importante. Eu não sei se alguns de vocês ainda se lembram ou se conseguiram sentir o pequeno teor sobrenatural que existe na história. O foco dela não é demonstrar esse conteúdo tão explicitamente e nem tê-lo como protagonista dentre os outros temas. Até porque a narrativa conta a evolução, o crescimento da Hinata ao longo dos dias desde que ela conheceu o Naruto. E eventualmente, esse lado sobrenatural dela foi amenizando, sumindo...

    Bom, o caso é que hoje vocês vão entender o porquê disso tudo. Porque isso estava sumindo. Porque existe coisas sobrenaturais nessa história e o que é tudo isso. Hoje vocês vão descobrir QUASE tudo aushaushasuhauh, mas eu espero de coração que vocês gostem e que sejam surpreendidos também, afinal é sempre bom ver quando isso acontece.

    Uma boa leitura pra todos vocês e até mais!!!

    Hinata

    A frase de Kushina ricocheteou pelo cômodo de muitas formas ambíguas e eu esperei por muitas explicações para cada uma delas. Sentia-a me zonza e fraca pela quantidade absurda de lágrimas que desciam por meu rosto. Ela prometera explicar tudo, mas a partir daquele fato concreto, eu não sabia mais se aguentaria ouvir até o final. Entretanto, notar que aquela verdade tocava até mesmo Minato de uma forma tão intensa me deixou muito preocupada. O quanto eles estavam inseridos em minha vida sem que eu jamais tivesse esse conhecimento?

    As próximas palavras de Kushina respondiam minha pergunta:

    — Ela era sua madrinha, Naruto. – começou. Eu arfei, completamente atordoada. Naruto empalideceu, perdido em pensamentos, como se ele também estivesse vendo um filme de sua própria vida. Kushina tinha um sorriso nostálgico em meio às lágrimas, carinho escorrendo por seus olhos. — Você era tão pequeno quando ela engravidou de Hinata! E você a adorava, meu filho. Ela sempre estava conosco para me ajudar, éramos tão novos, tanto quanto vocês. Eu não tinha ideia do que estava fazendo, ninguém tinha proporção das consequências. Apenas seguíamos a tradição, acreditando que era necessário, que era nosso legado irrevogável. Akemi amava passar o tempo com você, Naruto, ela já tinha um instinto tão maternal desde aquela época, eu sabia que seria uma excelente mãe desde que lera aquela maldita carta. E depois... – ela pausou a memória, fungando o choro que rasgava sua voz — Depois quando descobriu que estava grávida era tarde demais. Nós já sabíamos de toda a verdade, já sabíamos que ela não podia ficar com o crápula do Hiashi. Ele nos enganou tão bem... com todo aquele papo de Sasaki. Sinto nojo só de lembrar! Por Kami, nada... nada no mundo cura a visão de ver minha amiga amarrada àquela maca, sendo submetida à testes e mais testes. O cretino descobrira tudo e não conseguia acreditar que tinha sido traído. Ela mal teve tempo de fugir...

    Kushina fechou os olhos, deixando lágrimas escaparem. Eu não conseguia dizer nada, não conseguia sentir nada. Parecia que minha alma havia abandonado o meu corpo e uma sensação de vazio me impedia de mover um músculo sequer. Eu estava em choque.

    Mas ela continuou:

    — Ela mal teve tempo de se recuperar, de se curar por ter perdido tanto sangue nas mãos dele. Ele estava obcecado! Fizera a todos nós assistir o seu terrível show, usando-a como se fosse uma cobaia, tentando deduzir se seu plano daria certo, afirmando o quanto o DNA dela era o mais importante naquele momento, que o bebê seria o herdeiro da ligação proibida, que ele venceria a todos nós e que jamais conseguiríamos o sucesso que o pacto prometia. Seu pai quase morreu nesse dia, Naruto... Minato conseguira derrubá-lo e os dois se prenderam num combate físico, com Hiashi enlouquecido e as mãos sujas pelo sangue de Akemi. Ela estava tão fraca, presa à maca como se estivesse morta e naquele momento eu tenho certeza de que queria estar. Eu e Tsunade tivemos tempo de soltá-la e fugir quando Minato o venceu e Fugaku nos soltou. Nós a levamos para o hospital, apavoradas que ela tivesse perdido o bebê. Mas você estava lá, Hinata, quentinha e protegida. Era tão forte desde então!

    — Espera aí. Tsunade, o tio Fugaku? Que porra está acontecendo, mãe? – Naruto a interrompeu, muito nervoso. Uma veia estava superdilatada em sua testa e ele tinha os olhos vermelhos, cheios de lágrimas dolorosas. — Hinata achou essa carta. Foi assim que nos conhecemos. Nós encontramos aquela sala... Mãe, o que vocês têm a ver com tudo isso? Por Kami, que pesadelo é esse?! – ele escondeu o rosto nas mãos e agarrou os cabelos. Eu não chorava mais, meu corpo havia parado por completo, tudo o que eu esperava era a dor da verdade, preparada para enfim desvendar tudo o que eu precisava. O carma estava fazendo suas cobranças e em algum momento eu sabia, pelo rumo que a conversa tomava, que eventualmente eu teria que dizer as minhas verdades também.

    Kushina olhou para seu filho com tanta dor que eu achei que ela não aguentaria. Seu suspiro foi derrotado, rendido ao que precisaria fazer e claramente era algo que ela não se orgulhava.

    — Existe uma tradição, algo que virou quase uma maldição, sobre algumas famílias tradicionais japonesas. As nossas famílias. Há muitas gerações, desde os primeiros da linhagem, nós seguimos o legado da progenitora original, seu nome era Kaguya. Ela era como uma lenda para todos nós. Ela havia fundado uma máfia, segundo a lenda e feito um pacto com um poderoso shinigami em troca de seu sucesso. Ela... vendeu sua alma. Seu plano dera certo e com o tempo, ela conquistou todo o vilarejo, tornou-se como uma Imperadora para seu povo, fundou uma cidade inteira, reinventou o sentido de castas. Em seu apogeu, Kaguya se casou com um senhor feudal muito importante e teve dois filhos: Hagoromo e Hamura. Ela os encarregou de passar seu legado para as próximas gerações e então cada um deles deu a origem à uma família primária e secundária. Hagoromo originou a família primária, os Senju e a família secundária, os Uzumaki. Enquanto Hamura originou sua primeira linhagem, os Uchiha e sua segunda linhagem, os Hyuuga.

    Cada geração dessas quatro famílias convocou o shinigami que se alimentara da alma de Kaguya, por todos esses anos. No início esse legado era uma honra, que fez parte da vida de todos nós, consumando as quatro linhagens como as mais poderosas do Japão. Todos os Imperadores, todos os mafiosos, todos os donos de multinacionais, todos eles tinham alguém da linhagem amaldiçoada. E nenhum deles tinha mais alma. Mas quando chegou nossa vez, quando nós quatro nos encontramos pela primeira vez, na infância, sabíamos que havia algo diferente.

    Fugaku, Tsunade, Akemi e eu. Mas nenhum de nós tinha a ambição de seguir com o legado. Durante toda a infância nós abominamos aqueles encontros sádicos de nossos pais, nunca compreendíamos o porquê de tudo aquilo. Até que, prematuramente, como sempre acontece, todos eles morreram, é claro. E nós nos vimos com o veneno da maldição crescendo em nossos íntimos, diante da perda. Foi muito natural, na época, montar nossa sociedade. Ainda estávamos no colégio e Tsunade era herdeira, tinha a chave de todas as salas e descobrira uma sala perfeita para nossas reuniões.

    Mas com o tempo, as coisas foram ficando estranhas. Nossos encontros inicialmente eram para pesquisar sobre tudo isso, para entender uma forma de vingar a morte de todos da nossa família. Mas aí as responsabilidades cresceram, as empresas precisavam de líderes e não podíamos mais deixar os vice-presidentes no comando. Estávamos sendo saqueados, estava tudo um caos. E no meio disso tudo, Akemi conheceu Hiashi e começaram a namorar ao mesmo tempo em que finalmente o seu pai tomou coragem para me pedir em namoro. Fugaku já namorava a filha de seu vice, Mikoto, e Tsunade era a única que ainda não havia encontrado ninguém. Até ela conhecer o melhor amigo de Minato, que estava se tornando faixa preta na academia, Jiraiya. No fim, todos nós crescemos rápido demais, como se a maldição ansiasse que atingíssemos a idade adulta.

    Mas com o relacionamento ficando sério demais, Hiashi acabou tendo interesse demasiado nos assuntos da sociedade e convenceu a todos nós de que nossos parceiros deveriam participar também. Fugaku não concordava, porque ele era homem e queria proteger sua namorada. Mas nós três precisávamos de apoio e ingenuamente concordamos. Com o tempo, Hiashi passara a ter tanta influência quando Akemi nos assuntos da sociedade e Fugaku notou que isso estava estranho demais. Na época, nós ainda não havíamos convocado o shinigami, tínhamos medo de participar disso, de... vender nossas almas.

    E então eu engravidei de Minato. E um tempo depois, com a próxima geração vindo, Hiashi disse que era hora de iniciarmos o ritual. Que não podíamos mais adiar. Mas eu simplesmente não podia! Por Kami, eu estava esperando um bebê! Mas ele estava absolutamente certo de que isso era necessário, de que não podíamos impedir que o legado continuasse. Fugaku ficou furioso e começou a pesquisar sobre o passado de Hiashi. Nada lhe tirava da cabeça de que ele estava tentando usar Akemi e não podíamos permitir isso. Mas o desgraçado era bom demais e demorou muito para que Fugaku descobrisse, para que todos nós soubéssemos da terrível verdade...

    — Que verdade? – eu interrompi, ansiosa. Meus olhos estavam esbugalhados em cima de Kushina. Ela havia ficado imersa em memórias enquanto narrava aquele absurdo. Eu nunca havia escutado um discurso tão longo vindo de sua boca. Ela me encarou, pesarosa, mas manteve sua promessa e continuou a contar:

    — Há um bônus proibido na maldição. Algo que o shinigami ofereceu aos primeiros filhos de Hagoromo e Hamura quando estes se tornaram adultos. A alma de Kaguya era poderosa demais e seus filhos não faziam muito jus à mãe que tinham. Os filhos dela eram bons demais, almas puras e doces. Nada mudara esse fato ao longo dos anos, mas fora a rivalidade entre os filhos de Hagoromo, Indra e Ashura, que influenciou a proposta do shinigami. Ele havia percebido uma maneira de contagiar as próximas gerações com sua maldade e propôs o elemento chave para o ápice dos efeitos do legado. Aquele que gerasse um fruto herdeiro da linguagem consanguínea e o sacrificasse em seu nome despertaria esse legado, em todos os aspectos, e teria sucesso eterno acima de qualquer outra família, o sucesso de Kaguya. – ela suspirou, balançando a cabeça pelas memórias ruins.

    Mas suas palavras despertaram lembranças em mim também. Eu me lembrei do conteúdo da carta, algo que tinha a ver com isso. Algo sobre “despertar o legado”. Segurei a respiração, ciente de talvez Kushina fosse revelar o maior segredo existente. Ela me olhou seriamente e então despejou:

    — Acontece que isso se concretizou. Porque Hiashi engravidou sua mãe.

    Eu empalideci e o sangue pareceu coagular em minhas veias. Naruto saltou da poltrona, ofegante. Eu me assustei com sua reação e Kushina fechou os olhos, chorando outra vez.

    — AQUELE SAFADO, CRETINO. EU NÃO ACREDITO NISSO! – ele berrou. A fúria em seu rosto realmente me apavorou e eu finalmente pude entender o que ele dizia. O que ele percebera tão rapidamente. O que eu no fundo sempre tinha entendido, mas jamais conseguira aceitar.

    — Hiashi é um Hyuuga. – Minato respondeu, confirmando toda a teoria. Naruto expirou o ar pelo nariz como um touro e agarrou os cabelos, balançando a cabeça com violência e incredulidade. Eu me senti tonta, a verdade caindo sobre meus ombros como se fosse uma âncora. Agora tudo fazia sentido, a história toda: seu interesse repentino, a sua fúria quando Mayumi havia insultado os Hyuuga, o modo como queria que eu o espelhasse nos negócios, o porquê de ter ido atrás de mim quando Akemi morrera e toda sua obsessão por tudo isso, motivo que fizera minha mãe se sacrificar e fugir.

    — Oh... – eu consegui emitir. Kushina proferiu um som angustiado.

    — Não é só isso, crianças. – ela murmurou. Naruto abriu os olhos ardentes, esperando, mas se recusou a sentar. Estava visivelmente à beira de um ataque. — Fugaku conseguiu descobrir a verdade antes de Akemi saber que estava grávida. Por isso quando soube já era tarde demais. E o cretino nos obrigou a assistir todos os testes que ele a submeteu desde que fora desmascarado. Ele tirou aquelas lentes de contato ridículas, revelando os olhos de um Hyuuga. Os olhos de Akemi, os seus olhos, Hinata. Eu sempre soube que havia algo por trás daquele castanho fajuto, era duro demais, sem emoção. Eu não sei o que ele fez para conseguir o coração de minha amiga, mas ele conseguiu tudo o que queria. No dia em que ela tentou fugir, ele finalmente atingiu o clímax de sua loucura e nos forçou a se juntar à ele para que pudesse invocar o shinigami e vender a própria alma e...

    — Vocês deram a ele o que queria?! – Naruto perguntou, tentando controlar a raiva em sua voz. Kushina suspirou pesadamente.

    — Ele tinha uma arma apontada para a cabeça de Akemi, meu filho. Se não o fizéssemos, ele a mataria! – defendeu-se. Eu ofeguei. Era impossível imaginar, inconcebível. As lembranças dos olhos de Hiashi vinham como uma enxurrada e eu notei como sempre achara igualmente estranho a tonalidade sólida demais do castanho presente neles. Assim como Kushina dizia.

    — Então vocês invocaram a droga desse demônio e depois o que aconteceu? – Naruto tornou a perguntar. Ela se encolheu com suas palavras.

    — Ele vendeu sua alma e vendeu a de Hinata em seu nome. Prometeu que se não conseguisse fazê-la vender depois por si só, perderia tudo e apodreceria no inferno, usando exatamente essas palavras, que até então não tinham o efeito real para nenhum de nós. E então... Akemi fez o que ela sempre soube fazer de melhor: salvou a todos nós.

    — Salvou? Como assim? – eu inquiri num fio de voz. Naruto estava completamente exaurido, os olhos opacos perdidos diante de tudo aquilo. Kushina me olhou quase incrédula. Eu sabia que deveria ter me importado com o fato de que meu próprio pai tinha jurado vender minha alma para um demônio, mas que se foda!  Tudo o que importava era o que tinha acontecido com Akemi. Nada mudaria o fato de que eu já estava perdida, mas eu precisava saber, precisava entender por que tudo aconteceu.

    — Ela jurou o contrário. Ela vendeu a própria alma em troca de sua vida, pura e sem ligação nenhuma com essa maldição. Um sacrifício interessou o shinigami tanto quando a ousadia de Hiashi. – Kushina murmurou.

    E meu coração simplesmente morreu nesse momento. Todo o conteúdo da carta era claro agora. Mas a minha vida tinha perdido o sentido. Era tudo pior do que eu sonhava. Eu estava mais perdida do que podia imaginar. Não havia esperança nenhuma. Não havia nada que eu pudesse fazer. Mesmo antes de nascer, Akemi parecia sempre saber que um dia sua vida seria trocada pela minha.

    Mas além disso, outras coisas fizeram sentido. As vozes. O meu estranho dom. O fato de que eu sempre sentia que caminhava entre dois mundos. O porquê de essas vozes me convidarem para a morte e me forçarem a querer morrer. E o porquê de minha mãe sempre afastar tudo isso, representar tudo o que havia de bom, representar o amor, a vida. Hiashi era minha morte e Akemi era minha salvação.

    Agora eu não tinha nenhum dos dois.

    Eu não tinha nem mesmo eu.

    — É por isso que eu sou assim, não é? – sussurrei, encarando Naruto com um movimento quase mecânico. Ele mordeu o lábio inferior e chorou silenciosamente. Seus olhos tinham um teor quase insuportável de compaixão e lástima. Seu rosto torturado e seu choro surpreendeu seus pais e eles notaram não ser os únicos que tinham segredos por ali.

    — Assim como? – perguntou Kushina.

    — Eu sou clarividente. – revelei. E então lhe contei toda a história, desde que vi e ouvi esses seres de outra dimensão pela primeira vez.

    ***

    Quando eu acabei, Kushina desmoronou. Ela tinha um misto de tristeza profunda e enorme admiração que pareciam demais para que administrasse. Minato precisou buscar um pouco de água com açúcar para ela se recompor e conseguir continuar a contar sua história. Enquanto isso Naruto estava destroçado, ainda de pé, desajeitadamente muito alto e frágil. Após revelar todas as desgraças do meu passado, eu me senti pronta para revelar a pior delas. Mas sabendo do estado de Kushina, eu sabia que jamais conseguiria lhe contar essa parte. E percebi que pior do que tê-la sabendo, era contar para Naruto.

    Porém, ela não deixou que eu continuasse.

    — Há uma coisa importante que vocês precisam saber, queridos. – ela iniciou e seu filho fraquejou. Eu o olhei preocupada, sentindo meu peito arder por vê-lo tão exausto e coberto por rastros de lágrimas. Eu sempre soube que sua alma era boa demais para se envolver nesse mundo pútrido. — Quando Akemi fez o sacrifício, ela salvou nossas almas. Não havia mais sentido que os outros membros compactuassem por livre e espontânea vontade ou mesmo forçados, quando o legado maior havia sido despertado. O DNA Hyuuga prevaleceria sobre todos os outros, afinal. Mas ela sabia que ninguém de nós estava interessado nisso e arrumou seu próprio jeitinho de fazer com que não precisássemos. Mas fazendo isso ela não só salvou à nós, como salvou vocês dois também. E Sasuke e o nosso pequeno Dan.

    E todos nós juramos nunca revelar nada disso para vocês. Todos nós juramos levar o legado para o túmulo e enterrá-lo conosco. Mas vejo que o impasse entre Akemi e Hiashi gerou essa perturbação em você, Hinata. Ainda assim... agora que você cresceu, que se tornou quem é e sabe toda a verdade, eu já não temo mais por sua alma. Não temo porque eu sei que estávamos certas desde que soubemos que Akemi estava grávida.

    — O que vocês sabiam? – eu pedi, exausta.

    — Quando ela engravidou, nós juramos que as vidas de vocês estariam entrelaçadas. Que nossos pequenos anjinhos teriam outro tipo de legado, um que não fosse repleto de horrores e maldições. Mas um que fosse lindo e próspero: a nossa amizade e o nosso amor. E eu soube que estávamos certas desde que você entrara nessa casa pela primeira vez, Hinata. Desde que Naruto chegara em casa contando que havia feito uma nova amiga. Desde lá, eu sempre soube. E continuei sabendo mesmo quando Tsunade me contou sobre sua confissão, que Akemia havia falecido. Nada disso mudou. E minha tristeza pôde ser confortada pela verdade de que vocês dois sempre teriam um ao outro. Que no fim, nós conseguimos.

    Eu olhei para Naruto, através do turbilhão de sentimentos. Seus olhos encontraram os meus e eu enxerguei o mesmo sentimento ali. A mesma certeza, só que por razões diferentes. E eu finalmente me permiti chorar outra vez, silenciosa e incessantemente.

    Kushina soltou um suspiro, como se estivesse aliviada por ter cumprido seu papel ali. Mas Minato pigarreou, mostrando-lhe a hora através do celular e ela arriou os ombros outra vez.

    — Mais uma coisa. – ela disse. Naruto fez cara feia.

    — Por Kami-sama, isso nunca vai acabar?! – explodiu. Ela sorriu maternalmente para ele.

    — Agora é uma coisa que vocês vão gostar. – prometeu e virou-se para mim. — A viagem para o Canadá não foi inventada para fins acadêmicos. Fui eu quem dei a ideia para Tsunade. Nós temos um tipo de código morse, um email secreto para assuntos ligados à sociedade. Assim que descobri que você estava sob a guarda de Hiashi, eu precisava fazer alguma coisa. Precisava arquitetar algum plano que nos desse tempo para livrar você dele. Tirar vocês do país pareceu a melhor alternativa. A princípio foi complicado, mas Fugaku sempre foi muito bom em encontrar coisas. Além disso, depois que Hiashi começou a se envolver nos assuntos da sociedade, outras pessoas foram envolvidas. Tsunade achou que precisávamos de alicerces e então escolhemos um amigo para nos apoiar e herdar nossos negócios caso algo desse errado. Algo como um golpe de Hiashi. Ele miraria em nossos nomes, mas não saberia que as empresas estariam em outros. Tsunade escolheu Gai, eu escolhi Kakashi e Fugaku escolheu Nara Shikaku. Gai e Kakashi se encarregaram de ajudar com a viagem e dar apoio ao plano, ficando de olho em vocês, enquanto eu e Tsunade arrumaríamos um lugar pra Hinata e Fugaku e Shikaku encontrariam nossa salvação.

    — Que salvação? – perguntou Naruto. A irritação em sua voz só aumentava, enquanto ele notava que todos ao nosso redor pareciam saber tudo sobre nossas vidas enquanto deixavam que vivêssemos às escuras.

    — Akemi tinha um parente. Um primo chamado Hizashi que mudou para os Estados Unidos quando ela tinha apenas 14 anos. Mas era o único parente que fazia parte da família secundária dos Hyuuga, que poderia herdar o legado se a primária não o fizesse. Quando Hiashi tomou sua guarda, Hinata, ele o fez como sendo a única pessoa que possuía ligação com Akemi e não como seu pai biológico. O cretino sentia-se tão autoconfiante que nem sequer se deu o trabalho de fazer um teste de DNA e ainda colocou você no colégio de Tsundade, só para que nós soubéssemos que ele tinha ganhado. Fugaku acha que ele precisava sentir o gosto da verdade, quando você demonstrasse o legado sozinha, por si só, que honrasse as próprias crenças doentias que ele nutre tão violentamente. Mas ele não contava que você não era aquilo que estava esperando, muito menos que viria para o nosso lado. E melhor, ele não imaginava que tínhamos cartas na manga. O caso é que Hizashi teve um filho e esse seu primo, Hinata, pela falha de Hiashi em tomar sua guarda quando você ainda não era maior de idade, vai poder reivindicar seu parentesco e perante a lei, você pode escolher ficar com ele.

    Eu fiquei absolutamente lívida.

    — Não morar mais com Hiashi? – minha voz saíra algumas oitavas mais alto, demonstrando o limite do stress que sentia. Kushina sorriu esperançosamente.

    — Eu liguei para Naruto e pedi para que ele fizesse você contornar Hiashi, a fim de que ninguém fosse te buscar. Porque nesse exato momento, o seu primo está convocando o filho da mãe para uma audiência.  E nós precisamos encontrar os outros agora, nós vamos assegurar que Hiashi não se desvie do caminho. Portanto, fiquem os dois muito bem trancados aqui dentro enquanto isso e, por favor, não contem nada para ninguém ainda. Quando for a hora, se for do desejo de todos, nós diremos toda a verdade para Sasuke também, ok?

    Com isso ela se levantou e Minato a imitou. Uma profusão de sentimentos veio à tona, feito um tsunami. De repente, além de todas as coisas que eu sabia sobre mim mesma ser uma mentira, eu não tinha nem mesmo uma casa para onde voltar. Minha única aparente salvação era morar com um estranho. E milagrosamente, esse bote salva-vidas soava melhor que um navio inteiro.

    — Quem... quem é ele? – eu murmurei. Kushina atravessou o pequeno espaço entre nós e se ajoelhou para me abraçar. Em meu ouvido, ela respondeu:

    — Seu nome é Hyuuga Neji.

    ***

    A casa ficou estranhamente vazia quando eu segui o casal até a porta e a tranquei em seguida. Naruto parecia não conseguir se mexer do lugar e seus pais não podiam mais esperar. Do lado de fora, eu notei o carro de Kakashi parado na rua e Minato assegurou de que estaríamos protegidos. Eu voltei para a sala, sentindo-me entorpecida, caminhando como se meus pés estivessem atolados em lama. Encontrei Naruto ainda em pé, onde havia lhe deixado e suspirei. Ele parecia em choque daquele jeito, alheio ao mundo enquanto visivelmente perdia-se nas informações que recebera. De fato, depois de ouvir tudo aquilo, ali sozinha com ele, finalmente me senti livre para desabar. O mundo pareceu pesar novamente e eu senti uma necessidade latente de sumir dali, com ele.

    A imagem de seu rosto bronzeado, os olhos azuis inundados por um choro cheio de pavor, mas ainda tão claros e gentis que faziam meu coração se agitar calorosamente. E como um estalo, eu senti uma onda de emoção me desestabilizar, como se a gravidade estivesse mudando de direção. A história de Kushina voltou em flashes e imagens de um Naruto bebê, nos braços de minha mãe, tiveram quadros nítidos no interior de minha mente. E então, claro, outra peça se encaixou, de um jeito forte e arrebatador que eu não estava preparada para aguentar. Não sozinha.

    Atravessei a sala num passo ligeiro e o abracei com força, na ponta dos pés. O baque de nossos corpos o despertou e aos poucos ele cambaleou comigo, retribuindo o abraço e enterrando o rosto em meu ombro, erguendo-me do chão. Aquele toque pareceu dissolver meus ossos em pó e eu amoleci, despejando o choro para fora e perdendo o equilíbrio. A confissão de Kushina voltava em tópicos que me reviravam do avesso, todas as verdades que se encaixavam e principalmente, as minhas memórias com Akemi e todas as vezes em que ela dissera que um dia eu encontraria alguém com olhos feito águas cristalinas, que me olharia do mesmo modo, como um cristal.

    E eu finalmente soube de quem ela estava falando.

    Por diversas vezes eu pensei em Naruto dessa forma, querendo que ele se encaixasse nessa metáfora, sem de fato considerar que ele pudesse ser o que eu procurava. Minha mãe fora sua madrinha, o segurara no colo quando era um bebê, aquele pequenino que eu vira nas fotos há o que parecia tanto tempo atrás. A sensação de que tudo aquilo fazia parte de mim nunca fez um sentido tão genuíno. Ela sempre soube que eu o encontraria. Akemi sempre soube que eu era dele, de um modo ou de outro. E Kushina também.

    Kushina... o motivo de eu sempre ter a sensação de que já a conhecia, de que ela se parecia com Akemi e como Naruto refletia isso, tão idêntico às duas. Eu havia pensado recentemente se ele não havia sido criado sob os mesmo princípios e a resposta agora era sim. Ele havia. A verdade incendiou meu coração e eu abri os olhos, finalmente enxergando tudo, abraçada à ele daquela forma, à pessoa que não era apenas o meu melhor amigo, agora meu namorado. Ele era o nosso Naruto. Meu e dela. Nosso menino, nosso homem, nosso oceano cristalino cujo eu sabia agora ter sido amado sem limites por ela também.

    Por ela também. Porque não havia mais dúvida depois dessa compreensão, quando eu finalmente me livrara da cegueira. Quando meu corpo, absolutamente repleto de terminações nervosas desencapadas, o sentia em cada mísero ponto, o clamava, o necessitava como o último sopro de ar. A pessoa que Akemi queria que eu conhecesse, a pessoa que ela tentou me mostrar desde o primeiro dia de aula, quando sorria para ele ou quando aparecia do nada, encarando-nos como se estivesse tentando me dizer que eu havia conseguido encontra-lo.

    A pessoa que elas, as velhas melhores amigas, criaram para mim.

    A pessoa que eu...

    A pessoa que eu amava.

    Era como se eu precisasse desse estalo, desse empurrão, dessa... confirmação, de que era realmente ele, que nada feito por minha imaginação tentando encaixá-lo em minha vida e nas teorias de Akemi fosse injusto e irreal. Agora eu podia responder à pergunta de Sakura. Eu podia enxergar que mesmo quando nem o conhecia, eu já o amava. E que o amara desde que nossos olhos se cruzaram naquela sala de aula.

    Todas as memórias que compartilhamos vieram feito uma enxurrada, principalmente as últimas. Os sentimentos irracionais que me tomavam, a necessidade cada dia mais crescente de entender o que fazer e o que sentir por ele. Ainda que eu não tivesse a mínima ideia e de que ele provavelmente me odiaria quando eu lhe contasse então a minha verdade, a dura e cruel verdade sobre minha mãe, sua madrinha. Mesmo assim, eu podia dizer, eu sabia ao menos que eu estava completa e irrevogavelmente destinada a me apaixonar por ele. Talvez a descoberta da verdade, de todas elas, não só haviam me feito enxergar tudo o que estava ali para ser visto, como me fez sentir infinitamente mais forte, com a vontade e a sensação esmagadora de que eu precisava enfrentar a minha vida.

    Dessa vez era a minha vez, agora era eu quem lhe entregava o melhor de mim. Quem lhe daria a verdade dolorosa e esmagadora do amor. Eu lhe soltei e me afastei para olha-lo, sentindo o sofrimento me margeando, ciente do quão difícil era me entregar ao sentimento que tão insistentemente eu tentava reprimir. Mas era a última coisa certa que eu podia fazer. A última coisa que talvez diminuísse a sua repulsa por mim quando tudo estivesse esclarecido. Não que eu merecesse, mas porque ele precisava saber, ele tinha que saber que eu, apesar de tudo, o correspondi com toda a minha alma.

    Olhando em seus olhos, nas águas cristalinas que um dia me foram uma incógnita, eu finalmente assumi, como se de cada palavra jorrasse parte de mim:

    — Eu te amo, Naruto.

    E tive tempo de ver seus olhos quase saltarem das órbitas antes de me lançar contra si e lhe beijar impetuosamente, com todo meu coração, tal como ele fizera um dia. A sensação de admitir isso era sufocante e agora eu entendia a urgência daquele dia, do quão sôfrego ele estava quando fez exatamente a mesma coisa. Seus lábios endurecidos pela surpresa demoraram uns segundos para me corresponder. Eu me senti um pouco zonza e tola por tomar as rédeas só para mim, insegura, porém imergida pelo sentimento do amor louco que enfim saíra das sombras em meu âmago. Naruto fechou os dedos em meu cabelo, suspirando com força, delirando junto comigo. Eu forcei seu corpo para trás, tentando alcançar sua altura, tentando erguer meus pés o máximo que conseguia. E inusitadamente ele caíra em sua poltrona, puxando-me junto. Eu passei automaticamente as pernas para os lados de seu tronco e mantive o meu colado em si, feliz que agora tínhamos o mesmo tamanho.

    E apesar da intensidade do beijo, não havia um único teor de luxúria. Muito pelo contrário, eu simplesmente não conseguia enrubescer ou me sentir envergonhada, pois nada gritava mais naquele toque do que o amor sincero e puro que sentia. E nós precisávamos disso. Precisávamos um do outro. Eu mais do que ele, porque sabia que talvez nunca mais teria seus lábios nos meus outra vez. Que jamais poderia contemplar o seu gosto e a sensação que seu beijo me proporcionava desde que ele me presenteara com isso no primeiro momento.

    Ele soltou meus cabelos para apertar minhas costas com os braços fortes, num aperto inescapável. O som de nossas respirações produzia um murmurinho abafado, quebrando o silêncio do cômodo junto dos estalos que nossas bocas faziam. Eu precisei tomar o ar, tonta e frágil em seus braços, mas ele não se abalou pela interrupção e passou os lábios para meu maxilar, descendo pelo pescoço lentamente, com um carinho gigantesco. Eu o puxei contra mim, imersa na sensação do calafrio que me percorria e na vontade irracional e latente de ter tudo o que eu repudiava anteriormente.

    — Você me ama – ele sussurrou entre os beijos que distribuía. Eu me inclinei contra ele, suspirando contra sua pele, na verdade nítida, concreta até demais.

    — Eu te amo, é claro que eu te amo. Eu sempre amei. Eu só não conseguia, não entendia como isso podia ser... real para mim. – sussurrei. Ele segurou meu rosto e o levou a uma distância confortável para olhar em meus olhos. Os dele tinham lágrimas. O sorriso em seus lábios nasceu com uma euforia linda. Estavam vermelhos, inchados e esticados contra os dentes brancos.

    — Você é minha vida, Hinata. A parte mais linda, mais complicada, mais difícil, mais sincera, mais concreta, mais real, mais doce, mais salgada também, mas definitivamente a mais viva. Eu não posso ficar sem você, entende? Eu... você não sabe o quanto eu quero superar essa loucura do seu lado e um dia poder afirmar que tudo isso é passado. E ver o seu sorriso brilhando pra mim. Brilhando de amor, minha baixinha, brilhando porque eu te amo mais que qualquer coisa nessa droga de mundo. – ele declarou, rouco e ansioso, me lavando como se tivesse o dom de espantar toda e qualquer escuridão.

    E nesse momento, apesar de tudo, eu acreditei profundamente nisso.


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