Yooo, eu avisei que ia ser menor, mesmo que um pouco e.e
O próximo vai ser o do Dante
Então...
Boa leitura ^^
Sessenta anos antes...
Havia se passado apenas um dia desde que Edward e Lizzie separaram-se do restante dos selos. Edward quase não abria a boca para falar, e quando Lizzie puxava assunto, ele apenas respondia com palavras curtas e secas. Estranho, mas ela sabia o porquê.
Depois de horas de caminhada sem descanso, ao anoitecer, finalmente eles puderam ver um vilarejo a sua frente. A maior parte das casas eram feitas de pedra, outras de madeira. O vilarejo era cercado por árvores altas com formato cônico. Entretanto, Edward não parou, continuou seguido para o fim.
Um pouco a sua frente, surgiu um homem bêbado e uma mulher. Este homem segurava os braços da mulher enquanto ela se debatia para se livrar dele. Ao ver Edward, a mulher pediu ajuda, mas ele a ignorou. Enfurecido, o homem acertou um soco no rosto da mulher, fazendo ela cair no chão. Agora, o homem a batia intensamente.
– Ei, Ed, a moça pediu ajuda – disse Lizzie olhando para trás.
– E eu com isso? Não é problema meu.
– Ed... – O homem continua a desferir socos, e o grito dela diminuía aos poucos. – Edward! – vociferou Liz.
Edward agarrou e apertou o braço da Lizzie, transformou-a em foice e jogou em direção ao homem. A foice foi girando no ar até acertar a cabeça dele com a parte cega da lâmina azul. O homem desmaiou com a cabeça sangrando, Lizzie caiu no chão já na sua forma Nephilim, e a mulher correu o mais rápido que pode. Lizzie andou em direção ao Edward com passos furiosos e com uma expressão descontente.
– Satisfeita? – perguntou ele.
Lizzie entrelaçou seus dedos na gravata do Edward, puxou-a até ele se envergar o suficiente para encará-la perto de seus olhos.
– Eu sei que você está arrasado pela morte da Mikaela, mas você é Morte, o capitão dos selos. Você é um dos responsáveis por preservar o equilíbrio. Não há tempo para sentimentalismos. Recomponha-se – disse Liz rigidamente sem desviar o olhar.
Ao afrouxar os dedos da gravata, Edward se ergueu imediatamente. Lizzie passou por ele empurrando-o e tomou a frente.
– Não quer que eu te carregue? – perguntou a ela.
– Não preciso. Tenho minhas próprias pernas.
Ele suspirou.
Saindo do vilarejo, eles adentraram na floresta com as árvores de formato cônico, com Lizzie sempre a frente. Quando o sol começou a adentrar na floresta também, Edward escutou o crocitar de um corvo. Ele olhou para o lado, e pode ver um corvo crocitar ferozmente como se dissesse para Edward manter distância, e, ao seu lado, estava um outro corvo, porém caído em uma poça de sangue. Ao se aproximar, ele pode ver que o corvo que crocitava estava com a asa ferida e algumas partes despenadas. Provavelmente haviam sido atacados nesta noite por algum outro animal.
Edward se agachou perto deles. Ao piscar os olhos, sua esclera ficou negra e o brilho azul de sua íris mais intenso. Pairando sobre o corpo morto do corvo, ele pode enxergar a alma que ainda ali estava.
– Enquanto você estiver aqui, ele não será capaz de deixar você – disse para a alma. Ed olhou para o corvo que já havia parado de crocitar. – Enquanto você estiver aqui, assim, ela não será capaz de te deixar.
Edward envolveu a alma com suas mãos, suas chamas azuis arderam em suas palmas. A alma pareceu mais cintilante. Ele ergueu suas mãos até acima de sua cabeça, então a alma subiu aos céus deixando o rastro azul.
– Vai estar em lugar bem melhor agora – reconfortou Ed.
O corvo crocitou tristemente. Edward se ergueu dando um suspiro.
– Eu e você somos iguais, pequeno corvo. Também perdi minha amada recentemente. Você tem duas opções. – Uma pausa. – A primeira, ficar se lamentando para sempre. Segunda, apenas... seguir em frente. Eu escolhi a segunda.
Edward se virou e voltou a andar. Escutou o crocitar do corvo e o viu passar mancando por ele.
– Oh, então escolheu seguir em frente comigo?
O corvo crocitou em resposta. Edward o pegou e colocou em sua cabeça.
– Sendo assim, fique aí por enquanto, você está machucado. Se cagar na minha cabeça, você vira um corvo assado. E... – Edward esticou os braços. – Bem-vindo ao nosso grupo, Os Cinco Selos, Corvo.
Houve um crocitar cheio de determinação.
Lizzie apareceu na frente do Edward e abriu um sorriso ao vê-lo.
– Ed! Onde estava?
– Estava com o Corvo, o mais novo integrante do grupo – apontou para a ave.
– E qual o nome dele?
– Corvo.
– Você deu o nome de Corvo para um corvo?
– Sim.
– Não achar melhor dar outro nome...?
– Não. Ele gostou, certo, Corvo?
O Corvo crocitou.
– Viu?
Lizzie suspirou. Virou-se para seguir o caminho, mas sentiu as mãos do Edward em sua cintura e seus pés pendendo no ar. Ele a colocou nas costas.
– Sem você, sinto-me desprotegido.
Ela sorriu e o apertou. Edward seguiu pela floresta com Lizzie em suas costas acariciando as costas do Corvo.
Ao entrar em uma área aberta da floresta, uma montanha alta que chegava as nuvens emergiu em sua frente. Semicerrando os olhos, Edward pode ver que havia alguma construção lá em cima.
– Ed, sinto demônios e humanos lá em cima – apontou Liz.
– Demônios? Pelo jeito será um saco erradicar todos existentes mesmo após a morte de seu rei – lamentou Ed.
Edward pegou Lizzie pelo braço e a transformou na foice de lâmina azul e haste negra. Após sua íris ficar com um azul cintilante, suas chamas azuis fluíram pelo corpo e suas asas de energia negra se formaram. Segurou o Corvo com sua mão, flexionou os joelhos e voou. Quando finalmente pode ver a montanha de cima, Edward observou que a construção tomava toda a extensão da superfície da montanha. Áreas eram construídas por pedras e outras pela madeira. Observou vários homens carecas trajados com mantos amarelo, vermelho ou laranja lutando contra demônios de andar quadrupede, com garras afiadas assim como os dentes, pele grotesca e um olho. Estes homens carecas detinham punhos que brilhavam e movimentação fluida, fora que alguns faziam círculos mágicos. Interessante.
Edward pousou no centro de uma área aberta em cima de um dragão estampado no chão, chamando a atenção para si. Repousou a haste de sua foice em seu ombro e segurava o Corvo com sua mão perto de sua cintura. Dois dos demônios avançaram, mas, com um movimento suave da lâmina, ambos foram cortados ao meio sem nem mesmo dar tempo de reação. Edward esticou o braço com o corvo até próximo ao homem careca caído no chão a sua frente, esse era jovem.
– Segure-o para mim. Está machucado, sabe? – pediu Ed amistosamente.
Com as mãos tremendo de medo, o jovem pegou a ave negra.
– Obrigado – agradeceu. – Corvo, comporte-se.
Corvo crocitou assentindo.
Edward balançou sua foice, disparando chamas azuis em forma de corte, obliterando alguns demônios a sua frente. Ele se jogou em meio a horda, incinerando os demônios com suas chamas e dilacerando-os com sua foice. Muitos dos homens pararam de lutar para observar o homem de cabelo branco, alguns assustados, outros aliviados e poucos animados. Edward coloria o chão do lugar com o sangue carmesim dos demônios e suas entranhas. Ao chegar nos gigantes portões de madeira, ele observou uma grande quantidade de demônios nas escadarias perigosas da montanha.
Abriu um sorriso sádico e saltou novamente em meio a horda.
Ao ver dos homens, Edward dançava em meio aos demônios. Manejava sua foice girando em seu próprio eixo em uma velocidade absurda, sem vacilar nem mesmo por um instante. Com o termino de sua dança, mais de cem demônios foram mortos. Edward não tinha nem um mísero pingo de sangue em sua roupa, nenhum arranhão em sua pele, mas a lâmina azul estava banhada pelo sangue carmesim.
“Por ora, rápida e indolor, outra, devagar e dolorosa. Ao se tornar o seu alvo, é impossível escapar de suas garras. Brinca com sua vítima, dando-lhe medo, horror e desespero. A semelhança entre o selo da Morte e a própria morte não acabam por ai.”
O aglomerado de homens carecas se formou na entrada do lugar. Abriram espaço para um velho de manto laranja passar por eles. Detinha muitas rugas, e seus olhos eram tão apertados que pareciam estar fechados. O velho se mantinha calmo, enquanto Edward podia sentir o receio dos outros.
– Você é nosso inimigo? – perguntou o velho.
– Ah, isso depende. – Edward balançou sua foice fazendo o sangue se desprender da lâmina azul. – Vocês são demônios?
– Não, senhor.
Lizzie voltou para sua forma Nephilim e voltou para as costas do Edward.
– O que são vocês então? Não é muito comum ver tanta gente careca de manto em cima de uma montanha que corta as nuvens, imagino.
– Somos monges, senhor. Obrigado por ajudar a defender nosso monastério – inclinou-se para uma reverência, e todos os outros fizeram o mesmo. – Eu sou o mentor, Iketsuo.
– Edward. E Lizzie. Não precisa me chamar de senhor.
– Nosso monastério está uma bagunça, como pode ver, mas convidamos-lhe humildemente para passar uma noite conosco, Edward e Lizzie.
A barriga dos dois roncaram intensamente.
– Com certeza – disseram.
Podiam sentir o olhar de tantos acólitos sobre os eles. Enquanto passavam pelo monastério, observavam os monges jogar os corpos de demônio montanha abaixo e carregar os dos outros monges para outro lugar. Edward perguntou sobre monges, e o velho Iketsuo respondia calmante tudo o que ele perguntava. Na área aberta onde Edward havia entrado, viu Corvo voar e pousar em sua cabeça.
– Você não estava machucado, Corvo?
Corvo crocitou. O jovem careca no qual ele havia entregado o corvo apareceu em sua frente dizendo:
– Eu o curei. – Fez uma reverência. – Obrigado por me salvar. Eu me chamo Tantor.
– Como o curou? – perguntou Liz.
Tantor, com um pedaço de pedra, abriu um rasgo superficial em sua pele no antebraço esquerdo. Fechou o punho direito e seus olhos. Depois de alguns segundos, seu punho começou a emanar uma energia verde clara que se alternava com o laranja. Repousou sobre o corte, e a ferida se cicatrizou.
– Utilizando meu chi – explicou ele.
– Você poderia me ensinar? – pediu Liz.
Edward sorriu com a ideia. Tantor olhou para seu mentor, que assentiu em seguida.
– Claro que sim – aceitou Tantor com ânimo. – Precisará meditar para isso.
Depois de reunir todos os corpos mortos dos monges, eles fizeram uma oração e atearam fogo. O cheiro não era muito agradável.
Edward e Lizzie comeram o suficiente para ser considerado um banquete, enquanto Corvo se alimentou a alguns grãos e frutas, apesar de ter comido carne de demônio. Acharam nojento, mas Corvo amou.
De noite, o velho mentor Iketsuo e Edward sentaram na beira da montanha. O monge havia o chamado, e Edward esteve curioso desde então. Iketsuo repousou a mão suavemente no ombro do selo e perguntou amistosamente:
– Quem é você realmente?
– É então óbvio que não sou humano, monge? – perguntou Ed admirando as estrelas da noite.
– Monges são especialistas em sentir chi, meu jovem – ele fez que sim concordando com si.
– Este meu, chi... a energia vital, é tão diferente assim dos humanos?
Iketsuo deu uma risada seca, Edward ficou com dúvida se ele estava morrendo engasgado ou não.
– Edward, se o chi dos humanos fosse tão intenso como o seu, esse mundo já teria acabado.
Edward teve que concordar, era verdade, afinal.
– Com certeza você já ouviu falar sobre mim, velhote. – Ele parou de contemplar as estrelas e olhou para o monge. – Sou um dos Cinco Selos, o quarto selo e capitão deles, Morte.
Edward se perguntou se alguma vez o Iketsuo havia arregalado tanto seus olhos fechadinhos quanto a agora. Teve-se um longo silêncio, como se o monge tentasse absorver a verdade.
– Qual religião está certa? – perguntou, por fim.
Edward sorriu com a pergunta.
– Nenhuma, oras. Como pretende estar certo sobre algo que nunca viu? – respondeu. – A visão de Deus é tão distorcida que criam vários deuses com diferentes pontos de vistas, mas se trata apenas de um único e verdadeiro Deus.
– Então... todas os deuses que veneramos e as orações que fazemos são inúteis? – o monge estava perplexo.
– Não é bem assim, velhote. Como eu disse, visões diferentes de um único e verdadeiro Deus. – Edward se levantou limpando a poeira de seu sobretudo. – Vou usar um ditado humano que aprendi recentemente e que descreve bem a situação: “O que vale é a intenção”. E o seu verdadeiro eu dentro de si. – Deu de ombros, e começou a se distanciar a passos lentos. – O resto é baboseira. Boa noite, Iketsuo.
De manhã bem cedo, junto ao nascer do sol, Edward e Lizzie já estavam com Tantor no pátio principal. Haviam centenas de carecas brilhantes sentados meditando. Por saberem nada sobre meditar, Tantor levou os dois para uma parte mais alta e solitária do monastério. Ambos se sentaram com pernas cruzadas, juntaram as palmas das mãos e fecharam os olhos.
– Concentre-se. Inspire e expire lentamente. Relaxe. Deixe sua mente mais branca que puder. Escutem minha voz cada vez mais distante – sussurrava Tantor suavemente e repentinamente.
Por horas tentaram, mas sem sucesso. Porém, na última tentativa, Lizzie começou a emanar uma energia branca, que logo transforam-se em chamas azuis. Havia sido a primeira vez em que ela conseguiu invocar as chamas. Já Edward, não havia conseguido. Toda vez que fechava seus olhos, a cena dele perfurando Mikaela bloqueava sua mente.
Dias se passaram, Lizzie dominou a cura perfeitamente, e Edward não podia estar mais orgulhoso. Apesar disto, ele não conseguiu nenhum progresso. Edward não queria aprender a curar, mas queria conhecer mais o seu chi interior. Neste dia, ele estava determinado. Fez todos os procedimentos, relaxou, e Mikaela não veio a sua mente. Mas, ao invés de sua mente esbranquiçar, ele encontrou a escuridão dentro de si.
A energia negra tomou o corpo de Edward, rompendo as nuvens. Seu rosto fora coberto por ela. Exalava uma sensação horrenda que aterrorizou os monges e deixou-os em alerta. Rapidamente, o grupo dos melhores monges colocaram Edward dentro de dez camadas de paredes mágicas.
Lizzie olhou aquilo e não soube o que fazer. Parada como estátua, manteve-se calma analisando tudo o que ela poderia fazer ou não.
Com apenas o balançar de seu braço direito, Edward quebrou as dez camadas como se fossem nada, fazendo a energia negra se espalhar entre os monges em meio ao vento forte do impacto.
Lizzie abriu um sorriso sádico e disparou em direção ao Edward. Ao ver sua aproximação, Edward concentrou energia negra em seu braço direito e desferiu contra Lizzie, mas parou o ataque centímetros da garganta dela. Aproveitando-se da hesitação, Lizzie transformou seu braço direito na lâmina azul da foice e perfurou o peito da criatura.
– Eu não sei o que você é, mas é esperto – disse Liz mantendo o sorriso sádico. – Sabia que, ao me matar, Edward também morreria. Pelo jeito, você também. – O sorriso sádico se desfez e se transformou em uma expressão séria. – Devolva o controle do corpo dele. Agora.
A energia negra desapareceu imediatamente. Lizzie retirou a lâmina cravado no peito do Edward, e ele caiu de cara no chão. Ela suspirou de alivio.
Lizzie tinha tudo sobre o controle: não havia como a criatura matá-la, pois a runa que anula a imortalidade fica gravada nela. Se a criatura recusasse devolver o corpo do Edward, ela rasgaria o peito dele até o coração. De qualquer jeito, a criatura não sairia do monastério. Tudo sobre o controle.
Lizzie virou o corpo do Edward para cima e curou sua ferida no peito. Quando acordou, ele quis imediatamente ir embora do monastério. E foi o que fizeram. Junto com a noite, despediram-se de Tantor, Iketsuo e de alguns outros monges com que fizera amizade e que não ficaram com medo dele.
Edward voou em direção ao vilarejo perto do monastério. Lizzie estavam em suas costas e Corvo voava junto a ele ao seu lado. Perto do vilarejo, pousou e continuou o caminho andando. Corvo pousou em sua cabeça e aninhou-se.
– Corvo, você não está mais machucado, fique no meu ombro!
Corvo crocitou com raiva, e Lizzie riu.
O vilarejo estava muito movimentado, ainda fazia pouco tempo que anoiteceu, afinal. Quando viram um mercadinho, Lizzie desceu das costas e foi até o estabelecimento. Corvo voou da cabeça do Edward até o ombro da Lizzie, deixando-o com raiva. Edward seguiu com o nariz da onde vinha um cheiro estranho, e viu uma mulher morena de cabelos castanhos cacheados com um cigarro entre os dedos.
– O que é isso? – perguntou Ed.
A mulher tragou e expeliu a fumaça analisando o Edward de cima a baixo.
– Cigarro – ela disse seguido por um sorriso.
– E o que ele faz?
– Você não sabe o que é um cigarro? – ela arqueou uma sobrancelha.
Edward fez que não.
– Estranho. Bem... depende da pessoa – ela tragou novamente. – No meu caso, serve para acalmar. Esquecer problemas, más lembranças.
– Más lembranças...? – ele refletiu. – Pode me dar um?
– Só se me dizer seu nome – ela esticou a mão com um cigarro.
– Edward – ele pegou.
– Olá, Edward. Me chamo Lara – sorriu.
Quando Lara iria dar o isqueiro, Edward acendeu o cigarro com suas chamas azuis no polegar.
– Prático – observou.
Edward tragou, tossiu em seguida. Ele sentiu a sua garganta queimar, o gosto da fumaça se empertigar em sua boca e, estranhamente, no seu nariz.
– Isso é horrível pra caralho – ele praguejou.
– No início é assim mesmo – Lara riu. – Apenas... continue.
Depois de quatro cigarros, ele passou a gostar. Estranho, mas bom.
– Até que acalma mesmo – admitiu Ed.
– Posso te dar algo que vai acalmar mais ainda – Lara sorriu maliciosamente. – Mas está na minha casa...
– Não, só isso está bom. – Ele se virou. – Obrigado, Lara.
Ela suspirou e abaixou a cabeça.
– Investi quatro cigarros nele à toa – lamentou-se.
Lizzie saiu do estabelecido com sacolas fartas de comida, mais do que ela poderia aguentar. Edward pegou o que sobrou do dinheiro e comprou alguns maços.
– Isso tem cheiro ruim – reclamou Liz do cigarro. – Mas descobri um jeito de conseguirmos dinheiro! – ela deu um cartaz de procurado para Ed.
– Caçaremos humanos? – ele fumava enquanto lia.
– Não. Alguns destes casos parece-me ser feito por demônios, mas são catalogados como humanos. Então vamos caçar demônios – sorriu.
– Gostei da ideia.
Assim, Edward, Lizzie e Corvo seguiram durante anos. Caçavam demônios e eram recompensados por isso. Com os monges, ele aprendeu a mascarar bem sua presença. Com isso, pode ver como os selos estavam quando tinham um trabalho nas cidades onde estavam. Ele nunca se mostrava, apenas observava. Viu Kleist com uma mulher e uma criança. Dante em um bar. Pietra tomando conta de uma gangue. E Aiken velejando com Teach e sua tripulação. Em uma das caças aos demônios, Corvo quase fora comido por um. Saiu gravemente ferido, praticamente morto. Graças a cura da Lizzie, conseguiram o salvar, deixando nenhuma sequela na ave.
Quarenta e dois anos passaram-se desde então. Edward, Lizzie e Corvo estavam uma selva com arvores gigantes, cheias de cipó. Viram animais com pelagens normais, brilhantes e com carapaças. Pássaros que eram feitos de fogo. Os mais esquisitos foram macacos feito de fogo, que, quando seguravam o cipó, queimava-o e eles caiam no chão, causando um pequeno incêndio na selva.
Realmente não fazia sentindo macacos serem de fogo. Muito bizarro.
Só estavam na selva pois Lizzie havia teimado que sentiu uma energia diferente vindo dela. Escutaram barulho de um rio. Quando enfim acharam, era o termino de uma cascata bem alta. O cenário do céu azul, com árvores bastante verdes e a cascata com um arco-íris dava uma bela visão. Lizzie apontou para a catarata.
– Ali está.
– Certeza que é um livro dos Mephistos, Liz?
– Sim – afirmou com certeza. – É a mesma energia que senti vindo do livro que estava com Mikaela.
Edward tirou um cigarro de seu sobretudo e o acendeu com seu polegar em chamas. Este era preto, o seu preferido.
– O cheiro me incomoda! – reclamou ela.
– Foi mal, Liz. Mas eu realmente preciso.
Era incrível como uma simples menção a Mikaela poderia causar tanto impacto após tantos anos, Lizzie se chateava com isso, mas havia dito para ele que não há tempo para sentimentalismos. Felizmente ou não, foi a forma que ele encontrou para aliviar.
Ela sentiu a presença de dois humanos, logo cutucou Edward e avisou-o. De longe, observaram um homem e uma mulher parar em frente a cascata. A mulher ergueu um cajado e, segundos depois, a cascata dividiu a água que caia em duas, criando uma abertura em seu centro. Os dois adentraram, e a água parou de se dividir.
Edward e Lizzie se entreolharam. Ele queimou o restante do cigarro.
– Corvo, voe ao redor e avise-nos se sentir outras presenças.
Corvo crocitou para Edward e levantou voo. Desde quando Lizzie o salvou da morte, Corvo consegue sentir presenças e exalar maior energia quando quer, estranhamente.
– Será que eram da ordem dos Mephistos, Ed? – perguntou Liz enquanto iam em direção a cascata.
– Talvez sim. Acho bem provável, para te falar a verdade.
Com Edward voando, encararam a cascata diante deles.
– Será que é uma daquelas palavras aleatórias sem sentido? – sugeriu Liz.
Edward refletiu. Esticou a palma da mão em esquerda em direção a cascata, e ficou um tempo em silêncio.
– Eu esqueci o que ia falar – disse.
– Seu idiota! – Liz de um tapa na cabeça dele.
– Não sou idiota! – ele puxou o cabelo dela.
Os dois começaram a puxar o cabelo um do outro.
– Lembrei! Lembrei! – Pararam. Ele voltou a redirecionar sua palma em direção a cascata. – Oblix... meics... micritos.
A cascata se dividiu novamente, e eles adentraram. A gruta era bastante espaçosa. Cristais azuis deixavam todo ambiente ali bem iluminado. As paredes eram verdes tomadas pelo musgo. Estas paredes detinham algumas fissuras, onde as águas escorriam. Borboletas brilhantes e vagalumes sobrevoavam na gruta, deixando o lugar ainda mais belo. Perto dos humanos, haviam estátuas de pedra com formato de guerreiros com cerca de dez metros de altura, onde as alabardas de pedra que ambos seguravam cruzavam-se. Com a aproximação dos dois, os gigantes de pedra ruíram. Os olhos das estátuas brilham em verde, assim como a runa escrita no centro de seu peito. Ao mesmo tempo, eles atacaram o homem com as alabardas. Ele saltou desviando, e a mulher usou uma magia explosiva, mas sem efeito algum. O homem corria dos gigantes.
Edward teve de intervir. Com sua perna envolto em chamas azuis, desferiu um chute na cabeça do primeiro gigante a sua frente, fazendo com que tombasse pesadamente no chão.
– Afastem-se. Eu cuido deles – disse Ed olhando para os dois.
O golem ainda em pé desferiu um golpe com sua alabarda em Edward, que defendeu-se utilizando a foice. O choque do impacto empurrou os dois humanos para longe. Golpes seguidos foram desferidos por parte de ambos, mas o ser de pedra era lento demais. Em um dos golpes, Edward desviou, girou com sua foice rente a seu corpo envolto em chamas azuis e cortou a cabeça do golem. O corpo de pedra caiu pesadamente no chão e a cabeça também. A runa parou de brilhar, assim como os olhos.
Menos um.
O segundo golem acertou Edward com um tapa, obrigando-o a ir para o chão. Mas Edward impediu o contato direto da palma utilizando sua foice. Pressionado contra o chão que se rachava, o selo empurrou a mão para cima. Seguidamente, veio o ataque da alabarda. Edward jogou seu corpo para o lado esquerdo, fazendo com que a falsa lâmina atingisse o chão, quebrando-o. Ele ergueu a foice, e o braço foi cortado. Imediatamente, o gigante de pedra pegou a alabarda com a mão esquerda, e desferiu outro golpe. Edward desviou girando seu corpo e sua foice, e as duas pernas do golem foram cortadas junto ao movimento. Com a escultura de pedra caída no chão, Edward andou sobre ele e cravou a ponta da foice na runa, apagando-o.
Menos dois.
Edward jogou seu cabelo branco para trás, acendeu um cigarro e tragou-o. Ele olhou para os dois humanos boquiabertos. Soltou a fumaça.
– Vocês são Mephistos? – perguntou a eles.
Ambos fizeram que sim com a cabeça.
– Ah, ótimo. – Sorriu. – Sou o capitão dos cinco selos, Morte. Podem me chamar de Edward. E está é Lizzie – apontou quando ela voltou a forma Nephilim. – Vocês são...?
Ficaram ainda mais boquiabertos.
A mulher que trajava uma vestimenta roxa de mago, chamava-se Anne, a última da ordem dos Mephistos. O homem quase careca que trajava uma armadura de couro, chamava-se Eric, o marido de Anne, não tinha nenhum vínculo direto com a ordem, mas tornou-se um membro por causa de sua esposa. Enquanto Anne cuspia perguntas na cara do Edward e da Lizzie, Eric se aproximou do livro. Edward sentiu um calafrio em sua espinha. Olhou para trás e viu o chão onde Eric pisou se afundar levemente. Edward esticou o braço em direção ao homem.
Houve o barulho de engrenagens.
Edward empurrou Anne para longe.
Um barulho de uma lâmina saltando.
Edward, que estava razoavelmente distante, teve seu braço direto decepado pela extensa lâmina. Já Eric, teve sua cabeça degolada na altura dos ombros. Ao ver a cena, Anne não gritou, apenas desmaiou imediatamente.
– Lizzie! – exclamou Ed.
– Impossível. Está morto.
Edward se manteve imóvel com os olhos arregalados.
– Mas o que acabou de acontecer aqui? – disse, perplexo.
Anne acordou fora da gruda, sendo carrega por Edward. Ela se debateu até ficar de pé sozinha. Olhou para Edward, e ele apenas abaixou o olhar.
– Desculpe – disse.
Ela caiu de joelhos no chão e chorou. Edward se ajoelhou e abraçou-a, e Lizzie fez o mesmo.
Após chorar durante um bom tempo, foram para casa dela que ficava em um vilarejo situado perto de Caluna. Edward ficou ainda mais em choque quando viu o bebê de seis meses da Anne e Eric, o Alfonso. Culpado por isto, decidiu ajudar Anne no que fosse preciso.
Perguntou-se quando se tornou tão sentimentalista.
Edward ajudava pegando livros dos Mephistos para ela, e Lizzie ajudava cuidado do Al. Com o passar dos anos, ambos ficaram muitos próximos, e Anne superava cada vez mais o trauma de sua vida.
Edward havia levado Lizzie para meditar em cima de uma montanha, então uma ideia veio em sua cabeça.
– Ed, você sentia nossa ressonância aumentar enquanto meditávamos? – perguntou a ele.
– Sim. Por quê?
– E se fizéssemos isso no Despertar?
– Está pensando que talvez podemos ficar mais fortes?
– Sim.
Edward fez uma careta.
– Não acho uma boa ideia eu meditar novamente...
– Fique tranquilo, Ed. – Ela sorriu olhando para ele. – Enquanto estiver nessa forma, o ser que te possuiu não vai ser o problema.
Edward se arrepiou, e aposto que o ser dentro dele também sentiu o mesmo.
Depois de fumar um cigarro, Edward sentou de pernas cruzadas de frente para Lizzie, e ambos começaram a meditar. As chamas azuis fluíram pelos seus corpos depois de alguns segundos. As chamas irromperam exageradamente. Edward ficou maior, com seu corpo envolto do manto azul escuro, suas mãos estavam esqueléticas, assim como as asas. Lizzie agora detinha um corpo de uma jovem, com seu cabelo, agora branco, se estendendo até o meio de suas costas.
Continuaram a meditar por mais por algumas horas sem descansar. Novamente, as chamas azuis romperam exuberantemente, mais intensas. Com a extinção das chamas, Edward estava equipado com uma armadura de ossos. Seu rosto era coberto pelo elmo de crânio humano, onde havia uma abertura em cima para seu cabelo branco recair. Suas asas tornaram-se penosas e negras. Um nimbo azul com o centro vazio se formou em suas costas. Ele abriu e fechou as mãos. Ao olhar para frente, viu duas Lizzies. Ambas tinham corpo de criança, com a única diferença de que, enquanto uma tinha cabelo longo e negro, a outra era longo e branco.
– Que pecado eu cometi para merecer duas de você? – reclamou Ed.
– Idiota! – disseram as duas ao mesmo tempo.
Uma olhou para a outra. As duas levantaram a mão esquerda e depois mostraram a língua ao mesmo tempo.
– Ok... isso é estranho – disseram as duas.
– Transformem-se em foice – sugeriu Ed.
As duas brilharam e os braços do Edward também. Transforam-se em duas foices com lâmina azul de tamanho mediano, com hastes curtas e negras que se intercalavam com as correntes no braço do Edward. Ele as puxou e manejou no ar.
– Interessante – concluiu.
Quando Edward julgou que Anne e Alfonso estavam bem o suficiente, decidiu deixá-los.
– Serei eternamente grata a vocês, Edward e Lizzie – Anne beijou a bochecha deles.
– Prometemos visitar vocês novamente – disseram.
– Até mais, tio Ed e tia Liz – despediu o pequeno Alfonso.
Edward bagunçou o cabelo dele.
– Cuide da sua mãe, certo, Al?
– Sim – confirmou.
Passaram-se mais três anos. Edward estava sentado na beira de uma montanha alta com Lizzie em suas costas. Corvo lhe trouxe um jornal. Ele ficou desconfiado da notícia que dizia que todos os habitantes da cidade de Turnt havia desaparecido misteriosamente. Decidiu dar uma olhada.
Mal sabiam que os indícios da guerra iriam começar por essa cidade...
Continua no próximo especial <3 :p
Curiosidades:
Monges: eles usufruem da sua energia vital (ou pode ser chamada de chi) para lutar, diferente dos humanos que utilizam mana. Usar a energia vital é arriscado, pois, se usar mais do que deve, pode levá-lo a morte. Entretanto, os monges são treinados para controlar o chi desde o início, assim, tornando o risco da morte quase nulo. O uso do chi, diferente da mana, traz ao corpo movimentos mais fluidos, suaves, precisos e mortais. Fora que, dependendo da magia, pode trazer melhorias a elas.