O Principado de Órion

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    Capítulos:

    Capítulo 20

    Kurogane no Gajeel

    Álcool, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    A água caía forte sobre sua cabeça e os ombros, fria e perfeita para sossegar. Sim, sossegar essa libido maldita. Droga. Fechou os olhos encostando a testa na parede fria de pedra. Procurando se acalmar. Foi por pouco, muito pouco se deixou dominar. Não queria que tivesse acontecido. Não, para ser sincero queria sim, mas não daquele jeito. Ainda dizer que a viu nua...

    - Natsu. Vai demorar muito?

    Pestanejou com o chamado. Do outro lado da porta de madeira, Happy o esperava.

    - Não.

    - Ah... Sabe, ela não se lembra.

    Prendeu a respiração. Aquela sensação entorpecente sumiu abruptamente dando lugar para a insegurança.

    - Tem certeza?

    As batidas das asas ficaram mais altas e olhou para a esquerda. O gato pairava acima da parede de pedra. Tinha uma expressão inocente, serena. Quem dera se sentisse assim.

    - Aye. Quando acordou ela quase não tocou no seu nome, apesar de ter ficado vermelha quando contei que a carregou.

    Ele segurou o riso, colocando as patinhas no focinho. Sorriu de lado, mas por dentro queria apenas... pensar. Entender. Abaixando a cabeça fechou o registro, logo se virando ao pegar a toalha presa no gancho, esfregando os cabelos. As cegas abriu a porta e caminhou até o balcão de madeira. Em cima dele havia sabonetes, frascos com águas de banho e toalhas. Enquanto se enxugava percebeu que Happy o observava, quieto. Pelo visto, não era tão bobo como parecia. E descobriu isso da pior maneira.

    Na câmara das passarelas, quando ofegava depois de roubar um beijo da loirinha, de repente, percebeu que não estavam mais sozinhos. Espantado levantou o rosto e encontrou o gato pairando no ar, com os olhos arregalados e o queixo caído. Seu estômago sofreu uma queda com a surpresa.

    Flashback on

    - H-há quanto tempo está aí?

    Tudo o que teve de resposta foi a inspiração sufocada do gato alado. Merda! Um segundo depois o bichano esticou um braço, apontando um dedo acusatório nele.

    - Você beijou ela!

    - Shss.!

    Riscou um dedo na frente da boca entrando em pânico. O grito ecoou com a acústica alta da câmara. Alguém deve ter ouvido!

    - Mas você beijou ela! A Lucy tá desmai...

    - Eu sei. Quer parar de gritar?

    Arfando, observou nervoso a garota desmaiada sobre seu colo e prendeu a respiração. Os lábios e toda área ao redor deles estavam avermelhados, inchados. O nervosismo aumentou e os tocou de leve com as pontas dos dedos. Caramba... Ele praticamente...

    - Nossa! Com certeza, a Lucy sentiu você engolindo a boca dela.

    Se encolheu com afirmação. Nem precisou olhar, o gato estava ao lado dele. Quanto mais observava e sentia no toque as marcas o remorso apareceu, aumentando e rivalizando com o pânico.

    - Não vai desaparecer tão cedo.

    Constatou o óbvio. O que diria para ela? Não, o que diria para as mulheres quando pedisse que cuidassem dos machucados dela? Nenhuma desculpa fajuta ia adiantar e olhe que ele era ótimo nelas.

    - Ei! Porque a blusa dela tá rasgada?

    Baixou o olhar e arquejou. A blusa azul claro ficou transparente pela agua e pior, tinha uma fenda descendo deste o decote até a barriga. Os seios arfavam quase livres subindo e descendo, para quem quisesse ver. Invés de luxúria, apenas ficou mais nervoso. Na pressa de tirar o corpete acabou rasgando a blusa. Quase a deixou nua!

    - Você fez isso?!

    - Fiz, mas porque ela não conseguia respirar. Kuso.

    Deitou-a nas suas pernas e retorceu os braços para trás, tirando o colete rasgado. Estava sujo e molhado, mas iria servir. Ignorando o toque da pele macia, com cuidado enrolou a roupa nela. A peça grande o suficiente para que cobrisse até suas coxas. Ajeitando-a nos braços e antes que se erguesse, pegou as argolas com as chaves. As três dela e as outras nove guardando no bolso.  Virando na direção que sentia uma brisa soprar, fitou o gato.

    - Qual o seu nome?

    O bichano que o olhava curioso pestanejou.

    - Happy.

    Sorriu envergonhado e preocupado. O cheiro de sangue fresco aumentava vindo de Lucy.

    - Pode soltar as pessoas e tira-las desse lugar? – acenou para o arco no alto, onde havia o resto da passarela principal – Tem varias celas com gente presa naquele corredor. Depois eu volto pra te ajudar mas... Não posso deixar ela sozinha agora.

    Happy o fitou impressionado. Seu olhar vagou dele para a loirinha nos seus braços e de novo para ele.

    - Você se importa muito com a Lucy né?

    Prendeu o fôlego e virou o rosto para o lado, sentindo-o esquentar.

    - Cl-claro que sim.  El-ela é minha amiga.

    Ouviu um engasgo e fitou o gato. Ele o olhava risonho com as patinhas no focinho.

    - Você gosssssssta dela.

    Antes que dissesse qualquer coisa, o gato voou para o alto.

    Flashback off

    Depois disso, encontrou um corredor úmido e saiu daquelas ruínas. Ainda chovia e chegou o mais rápido que pôde na vila. Dizer que ficaram espantados com o estado deles quando arrombou as portas da estalagem foi pouco. Quase o agrediram e entrou em chamas mantendo-os longe. Estava nervoso e preocupado demais com Lucy para brigar. E só quando foi dormir ao seu lado na cama (alguém espalhou a mentira que eram casados, por isso o quarto de casal) é que pensou nesse fato.

    Tudo o que suas chamas tocam queima, incinera até não restar mais nada.

    Lucy estava nos seus braços quando pegou fogo de tanta raiva ao invadir a estalagem e ela... saiu ilesa. Sem qualquer queimadura ou chamuscado. Só podia significar uma coisa e isso já deixava seu coração atordoado mais pesado com o sentimento crescendo dentro dele. Não de remorso, era... bom, quase eufórico.

    - Natsu.

    - Hum?

    Jogou a toalha embolada no balcão, logo pegando a roupa intima e a calça escura vestindo-as.

    - Como a Lucy reagiu quando te viu na cama?

    Quase riu ao lembrar. Pela respiração ofegante, nervosa foi... digamos que pouco. Ainda estava um pouco grogue de sono quando o colchão se mexeu. O chiado dela quase o fez rir, senão fosse pelo cheiro de gardênia tão mais perto dele. Simplesmente não se refreou. Ao senti-la se afastar esticou o braço puxando-a bem para junto dele. Queria sentir seu calor, a respiração se chocando contra a dele enquanto suas peles se tocavam, as pernas entrelaçando.

    Ele não queria mais nada que isso. Somente dormir abraçado nela e parecia que ela queria também. O corpo relaxando quase de imediato contra o seu demonstrou isso, mas... inferno, ela tinha que se esfregar nele?! Certo que ela queria se soltar, mas porque não podia simplesmente continuar quieta, tão molinha junto dele e dormirem mais um pouco? Nunca teria de novo uma oportunidade dessas. E depois do que aconteceu com toda a certeza que não.

    A lembrança do sonho explodiu em sua mente enquanto despertava mais e sentia o corpo dos seus sonhos roçar no seu. Foi impossível seus hormônios não reagirem. Quando deu por si estava pressionando seu membro excitado entre as nádegas dela. O pouco tecido evitando o contato total lhe atiçava a rasgar a calcinha dela, tirar a própria calça e se esfregar nela até estar tão excitada quanto ele. Pôde sentir, apesar dos protestos que a loirinha estava tão envolvida quanto ele. O cheiro que exalava não deixava duvidas. Mas que droga! Ela era virgem! E a pior parte do sonho ia se tornar realidade.

    Totalmente embriagado de luxuria, a penetraria de qualquer jeito machucando-a até se saciar. E demoraria horas. Ele costumava se trancar com duas, três cortesãs num quarto e somente saía de lá ao amanhecer. Tudo porque ele não tinha uma namorada. Uma garota que pudesse gostar dele tanto quanto dele a ela e sempre que a desejasse, não se refrearia. Ao contrario, a amaria com toda calma, do jeito que ela merece. Não é qualquer mulher que pode ser amante de um Dragon Slayer. Primeiro, a força anormal que esse mago tem pode machuca-la sem querer. Segundo, a libido aumentada significa uma mulher com resistência e isso era raro. Porem, o mais raro ainda era um póg an dragon. Somente pode ser feito uma vez e tem que ser a escolha certa. A mulher seria única, sua parceira tanto de batalha como na vida. Em outras palavras, sua companheira.

    Ele nunca notou possibilidades disso vindo da ancestral da loirinha. Lucy nunca demonstrou que o amava também, nunca lhe deu brechas que queria algo mais que amizade. Por isso ele se reprimia demais, por isso cometia a burrice de quase enlouquecer com os hormônios e fazer a extravagância de possuir mais de uma mulher numa noite, nunca uma era o bastante. E ele não queria isso pra loirinha.

    Contudo, ao ajeitar o casaco vermelho sobre a camisa cinzenta, o beijo que roubou... alias viciante, não lhe atiçou mais. Ao contrario, o acalmou. Mesmo enxergando tudo tão intenso, sua mente clareou mais. Até ao acaricia-la ele soube ter cuidado. Simplesmente, curtiu o momento. E o cheiro de excitação dela aumentou o fazendo parar.

    De repente, arregalou os olhos.

    - Inferno!

    - O que foi?

    Pegou a toalha e as roupas usadas correndo até a porta. Happy o seguia totalmente confuso. Já no corredor disparou até o lance de escadas que via ao longe.

    - Natsu, o que foi?

    Mordeu o lábio. Ela vai me odiar. Não, ela já me odeia.

    - Lucy acha que a usei.

    - O que?!

    Encarou atravessado o gato que voava ao seu lado. O queixo dele estava caído. Arquejou contrariado.

    - Não desse jeito. Quer dizer, quase.

    - O que foi que você fez?

    Baixou o olhar. Agarrando o corrimão simplesmente içou jogando o corpo dobrando e caindo no lance de degraus. Happy nem se espantou ao fazer isso sem olhar. Reflexos, só isso.

    - Não foi o que fiz, foi o que eu disse.

    - Não entendi.

    Suspirou terminando de subir e voltou a correr.

    - Não precisa.

    O salão de banhos que usou ficava no segundo andar. Tomara que ela ainda esteja no quarto. Senão... a viagem de volta seria bem longa.

    ////////////////////////////////////////////////////////////////////

    Idiota, idiota, idiota!

    Enxugou outra lágrima teimosa correndo pela bochecha. Estava terminando de arrumar a mochila e praticamente soca as roupas com toda a raiva que sentia. Depois da sua crise de choro, tentou se levantar da cama e caiu achatando o rosto no soalho. Dor e ardência dispararam de todos seus machucados e seu nariz sangrou. Gemendo tentou se levantar e uma dor lancinante a atordoou, vindo da ferida na perna direita. Olhou o machucado encontrando a atadura com uma mancha úmida e vermelha. Podia além do que aconteceu piorar? Chamou por Natsu inutilmente e quis chorar de mais raiva. Teve que praticamente se arrastar até a sala de banhos e passar uma dolorida hora de higiene.

    Ainda não soube como conseguiu ter forças pra chegar até o quarto e se arrumar. Vestia uma saia drapeada azul marinho, chegava um pouco acima dos joelhos e camisa rosa claro de botões combinava com o suéter branco sem mangas que colocou por cima. Somente não daria para usar as botas. Com esses arranhões o couro iria irritar.

    Estava enxugando outra lágrima teimosa quando a porta abriu de rompante. Pulou de susto, encarando a pessoa e a irritação borbulhou. Natsu ofegava segurando a maçaneta. Happy estava atrás dele voando e numa olhava para ela rápido escapuliu dali. Pensou ter ouvido “Lucy estranha”. Humpf. Ela todo o direito de estar.

    - O que foi?

    Seu tom emburrado não o assustou. Na verdade, suspirando ele fechou a porta se aproximando dela. Ignorou com todas as formas o efeito que isso lhe causou. As pernas de repente, ficarem moles. A dificuldade de respiração com calma e ainda a aceleração do coração. De todos esse era o pior. Encarou raivosa esse mago debochado, esperando uma piadinha, um sorrisinho irônico.

    - Você... – piscou espantado – se machucou de novo?

    Isso só a irritou.

    - O que você acha? Eu tive que ir sozinha até a sala de banhos e voltar sozinha até aqui. É normal algumas feridas abrirem depois de lavar não acha?

    Ele estreitou os olhos respirando fundo. Isso aumentou sua pulsação e reparou como estava vestido. Calça negra, um casaco longo vermelho. Tinha o comprimento daquele colete, só que as mangas estavam enroladas até os cotovelos e pela abertura na gola usava por debaixo uma camisa cinzenta. O casaco era desbotado e tinha uns desenhos simétricos, brancos. Esse tipo de roupa... combina tanto com ele. Piscou confusa e voltou a se emburrar. Tinha que parar de admirar. Ele não merecia.

    Dando um passo, Natsu se aproximou amoleceu seus joelhos e o movimento veio acompanhado daquele cheiro. De imediato, sentiu-se tonta, ou será que foi por fraqueza? Preferia a segunda opção.

    - Perguntei porque não é normal alguém cheirar a sangue, loirinha e você sangrou muito ontem.

    O tom serio dela a desarmou. Natsu parecia... preocupado com ela. Isso a espantou. Segurando seu cotovelo a fez sentar no colchão afastando com a outra sua mochila pra longe, dando-lhe espaço para sentar. Muda o viu o analisa-la até olhar para baixo. Segurando as pregas de sua saia ele a subiu e se espantou. Agarrou o tecido puxando para baixo, nervosa.

    - Para! O que você...

    - A ferida na sua coxa. Uns pontos abriram.

    Parou de puxar a saia e baixou o olhar. Realmente... a ferida estava sangrando e doía tanto. Somente agora percebeu. O colchão se mexeu e viu Natsu pegar um pote, parecia um creme. Sem aviso ele pegou o lençol e rasgou uma parte da barra.

    - Ei! Esse lençol...

    - É meu. Não tem problema em rasgar um pouco.

    Pela terceira vez ficou muda. Assistiu ele terminar de rasgar a tira e então analisar com cuidado sua ferida costura. Se curvando um pouco para ela, levantou o olhar, serio.

    - Vou ter que tirar os pontos que arrebentaram.

    Empalideceu.

    - Tá.

    Ele sorriu para ela e seu coração se agitou, junto com o estômago vazio revoando. Que sensações eram essas?

    - É corajosa, loirinha. Vou ser rápido, tudo bem? Segure meu braço.

    Piscou com confusa.

    - Como assi...

    Um puxão a fez soltar um berro. Parecia que passaram uma lamina quente em cima da ferida, abrindo mais. Rápido, agarrou o braço livre dele estremecendo e sentiu algo cremoso cobrindo a ferida, acalmando a dor. Olhou de relance. Uma pasta rosada estancava o sangue e ainda podia jurar que formigava, dando uma sensação de dormência. Natsu então passou a tira de pano por debaixo da sua coxa enrolando rápido e apertando até amarrar no lugar.

    Largando o braço dele, ofegou encarou o curativo improvisado.

    - O que você colocou? Não sinto nada.

    - Papoula. Vai tirar a dor enquanto voltamos pra casa. Falando nisso, você devia tomar um pouco desse chá também.

    Sem esperar sentiu os braços dele se enfiarem atrás dos seus joelhos e derem a volta pelas suas costas. Tirando da cama, Natsu se voltou para a porta a carregando nos braços como se não pesasse nada. Seu rosto queimou de embaraço. Nem mais lembrava da raiva que sentia dele.

    - E-ei! Ainda não terminei de arrumar minha mochila.

    Segurando a maçaneta ele abriu a porta sem problemas.

    - Depois eu faço isso. Agora vamos tomar café. Estou morrendo de fome.

    Fechando a porta a chave ele caminhou pelo corredor enquanto o encarava muda. Percebendo, a encarou de soslaio curvando os lábios.

    - O que foi loirinha?

    Virou o rosto, estava mais quente que antes.

    - Na-nada. Só não entendo porque tá fazendo isso.

    - Isso o que?

    A voz soou risonha. Droga!

    - Sendo legal comigo.

    Suspirando ele entrou nos lances de escadas, descendo e entrando no outro corredor do segundo andar.

    - Duas coisas. 1º – fui um tremendo idiota mais cedo. 2º- você é minha apaziguadora. Eu tenho cuidar daquilo que me acalma.

    Ofegou arregalando os olhos.

    - Como foi que disse?

    Pasma o viu inclinar um pouco o rosto para baixo, um tom avermelhado fortemente.

    - Outro dia te explico.

    Dito isso, ele ficou calado. Lucy sentiu que havia um significado maior sobre isso.

    ///////////////////////////////////////////////////////////////////////

    Mais tarde nesse dia um trem cruzava a cadeia de montanhosa. Sinal que estavam chegando perto de Eramar. Natsu havia comprado três passagens para uma cabine. Com Lucy machucada e ele com sua doença de movimento correriam o risco de serem assaltados. Então seguiram a maior parte da viagem trancados dentro da cabine. Happy estava voltando com eles. Simplesmente não puderam deixa-lo naquela vila. Ele tinha ideia de conversar com o Master para efetivar o gato como membro da guilda. Apesar de todos os contratempos nessa missão, Happy ajudou bastante. Mais que certo ele voltar com eles. Deitado num banco de couro, a cabeça apoiada na mochila como travesseiro virou o rosto para o lado, observando Lucy dormir. Estava toda encolhida. A perna machucada erguida e apoiada no braço do banco. Havia dado mais de uma vez o chá da mesma erva que usou em sua perna. Era um narcótico, servia tanto para causar um sono induzido como anestesiar a dor.

    Quando se vive anos sozinho aprende se arranjar. E ela precisava. Sem isso as horas na carruagem e agora de trem seriam simplesmente insuportáveis. No meio da noite, o vagão esfriou e então tirou o casaco e cobriu-a. Happy estava deitado em cima do colo dela, Lucy o abraçando dormindo. Passariam somente por mais três paradas e então chegariam. Durante todo esse tempo, ficou pensando em como as coisas mudaram em questão dias. O dia que viajaram para a missão parecia tão distante. Quase riu lembrando, a loirinha brigando com ele por brincar com suas chamas, o embaraço dela e... aquela pergunta.

    “- Natsu, o que é ghrá?”

    Todo seu humor desapareceu num instante. Antes que percebesse já trincava os dentes, seu punho apertando, cerrando com a raiva que lhe subia. Agora que lembrava, ela não lhe respondeu sua pergunta e durante toda essa confusão não insistiu mais. Quem é essa pessoa que a chamou assim? Ela não podia esconder para sempre, alguma hora iria dizer e ele estaria bem atento para ouvir o nome do cretino. Sim, nem conhecia o cara, mas o detestava com todas as forças. A loirinha era dele. Não deixaria ninguém tira-la de si e quanto mais chama-la desse jeito. Certo que apaziguadoras não são exatamente as mulheres de Dragon Slayers, mas nenhum, em sã consciência deixaria um sujeito sem noção de perigo tratar tão pessoalmente alguém que é um bem preciso para esse tipo de mago.

    Proteção, territorialismo ou possessividade. Tanto faz. Ele acabaria com a raça do cretino. Mal podia esperar.

    Enquanto planejava e imaginava diversas formas de resolver esse ‘problema’ de repente, todo o vagão estremeceu. Chocalhando violentamente. As luzes piscaram.

    - O que foi isso?!

    Happy acordou de uma vez. E tanto um rangido metálico ecoou alto em meio aos gritos. Ao mesmo tempo o vagão se tombava para o lado. A velocidade os jogando contra as paredes. Lucy dormindo sob efeito do chá jogada contra o banco. Rapido se esticou e agarrou seu pulso, a puxando para ele enquanto todo o trem descarrilhava.

    Só havia um jeito, segurando-a firme pela cintura, puxou o braço livre e explodiu em chamas.

    - Happy!

    O gato entendeu. Rapido pegou as mochilas deles, enquanto que ele socou a parede. Explodindo.

    ////////////////////////////////////////////////////////////////

    Na noite anterior

    Perto de Philai, um povoado não muito distante de Eramar existia um santuário natural onde bem em seu centro um monumento se erguia. O santuário era feito por diversos tipos de árvores. Oliveiras, salgueiros, carvalhos e nogueiras. Um caminho feito de pedras de calcário serpenteava por todo esse arvoredo, que ninguém sabe como explicar, sempre se mantinha com o mesmo estado da primavera. As folhas verdes, a grama úmida e as flores se abrindo prontas pra darem frutos. Alguns magos diziam que era porque o lugar era espiritual. Outros por que guardava um segredo que mantinha essa vitalidade e apenas havia uma explicação. Magia.

    O monumento era a única coisa no santuário fora de lugar. E com toda certeza, não harmonizava com a paisagem. Negro, de faces irregulares, medindo cerca de três metros de altura e cinco de largura, não passava de um grande pedaço de rocha. No entanto, nessa noite em especial, o monumento começou a pulsar. Uma vibração leve que se expandia feito ondas, estremecendo as arvores, o solo coberto de grama. O vento uivava forte. O barulho dos galhos se sacudindo e as folhagens aumentando. As vibrações vindas da pedra ficaram mais fortes, ao ponto que levantava poeira com as ondas de choque. De repente, a pedra começou a brilhar. De dentro para fora e mais intenso a cada vibração. Quem estivesse no santuário ficaria mudo de espanto, atordoado com as ondas de magia que emanavam da rocha, sobretudo, por que quanto mais a mesma pulsava, mais o brilho se intensificava e mais nítido se podia ver. O tom metálico da pedra.

    De repente, uma rachadura se abriu no centro da rocha. Outra vibração e mais rachaduras abriram, os riscos crescendo e descendo. Rachando para os lados e do centro. O brilho ficou mais forte e então aumentou. Num clarão esverdeado, a pedra de metal estremecendo e explodiu. As ondas de impacto quebrando todas as arvores por perto, varrendo grama, folhas e terra para todos os lados. Uma figura caiu atordoada de dentro da rocha. Ela amorteceu a queda curvada no chão, quase de joelhos. Um braço se esticou buscando apoio enquanto a figura tossia. Sufocada em busca de ar. As botas negras estavam rachadas e estragadas. A calça cinzenta tinha manchas amareladas e secas enquanto que o colete negro estava todo rasgado. Só havia trapos. O homem que aparentemente ‘saiu’ do monumento ergueu o olhar vago ao ofegar. Cansado e confuso ao redor, os olhos vermelhos estreitaram desconfiados. Aqui... era um bosque?

    - Mas que por...

    Uma pontada nas costelas o atravessou de dor. Merda! Estavam quebradas. Tonto se levantou agarrando um lado do tronco. O cabelo negro e rebelde o irritando um pouco. Sempre detestava quando se feria nas costas. O sangue grudava nos cabelos colando nelas e ao secar... era um inferno pra tirar. Não era a toa que estava cheio de cicatrizes. De súbito, um pensamento o divertiu.

    - Gehe.

    As mulheres adoravam isso. Mas... olhou mais atento ao redor. Que diabos de lugar era esse?! O cheiro era relativamente igual, mas mesmo assim... Então ele lembrou. Seus olhos arregalavam de choque enquanto fitava o vazio, as imagens ficavam mais claras.

    Flashback on

    - Mas o que tá fazendo?

    A fera o ignorou. Jogando sem nenhum cuidado no chão, sentiu suas costelas quebrarem. Rangeu os dentes de dor. O solo estremeceu com o impacto da fera ao pousar. Ergueu os olhos, encarando um dragão azul metálico. A cor tão escura que se confundia com o negro da noite. Por isso não o viu e olhe que reconheceria o cheiro dele em qualquer lugar.

    - Metalicana!

    - Quieto! Não há tempo e preciso que me escute!

    Se levantou irritado e a dor explodiu. Quase gritou. Maldição, a maioria das costelas direitas estavam quebradas.

    - Eu preciso voltar! A emboscada...

    - Irá morrer Gajeel!

    Quase riu.

    - Preocupação de pai? Não combina com você.

    A fera estreitou os olhos verdes. Estremecendo. A única coisa que era visível no dragão.

    - Moleque arrogante!

    Uma pata dianteira o acertou, jogando metros ao longe. O baque do chão em suas costas quase o sufocou. Tossiu atordoado, mas nesse gesto, percebeu o quanto seu pai estava nervoso e serio. Se quisesse machuca-lo teria lhe rasgado com as garras, não acerta-lo com a palma da pata. Mesmo assim, foi um golpe pesado. Ainda tudo ao redor girava. Se avultando sobre ele, sentiu a respiração quente junto de um calor... parecia... viscoso, o cheiro ferroso. Espere, viscoso?! Ergueu a mão e a viu toda coberta do liquido vermelho.

    - Você...!

    - Com meu sangue, irá sobreviver. Sua magia... se fortalecer. O Rei dos dragões do fogo conseguiu passar isso para seu filho. E ainda pouco... Karren o selou.

    - O que?!

    Levantou o rosto e estremeceu. Uma ferida se abria no peito do dragão. As escamas foram quebradas... arrancadas. Metalicana havia se colocado acima dele, o melando com seu sangue. Se erguendo nas patas dianteiras, ele abriu as asas, arfando com um esforço enquanto o encarava.

    - Daqui a 400 anos, encontre-o. E diga para ele...

    As palavras seguintes do dragão o chocou. Seus olhos aumentaram enquanto prendia a respiração. Antes que perguntasse, Metalicana respirou fundo e então soltou o rugido de ferro nele. Um clarão verde o ofuscou em meio a dor. Seus gritos aumentavam ao sentir algo se fechando em seu redor, negro... metálico. Seu ultimo pensamento foi...

    Kuso!!!!

    Flashback off

    - Salamander... – abriu um sorriso – o destino é cruel mesmo.


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