Bad girl ? Fuckin? Perfect

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    Capítulos:

    Capítulo 1

    Cap I - Bem-vindo ao meu inferno.

    Álcool, Drogas, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Violência

    I: Bem-vindo ao meu inferno

    Abri a janela do meu quarto com calma, deixando a fraca luz do sol adentrar e aquecer o cômodo. Estava me preparando para voltar às aulas após ficar alguns dias afastada da escola por causa de uma crise asmática. Eu conseguiria repor e fazer a matéria perdida facilmente, a escola não era das melhores, mas também não poderia exigir muito de uma escola do subúrbio.

    Afastei-me da janela e fui em direção à penteadeira, apoiei uma das mãos na madeira velha e me fitei no espelho. O cabelo castanho escorrido ia ate o meio das minhas costas, eu era branca demais, magra demais, sem cursas e nem um pouco atraente aos olhos dos garotos, não que eu quisesse... Mas... Continuei a me fitar no espelho, definitivamente não havia nada atraente a ser admirado, nem os meus olhos... Eram verdes, opacos e sem expressão, completamente vazios. Eu não me achava definitivamente feia, e não queria usufruir cremes e maquiagens para reverter essa situação. Havia parado de me importar com isso há tempos... Na verdade, nunca me importei.

    Puxei uma das mechas do cabelo para trás da orelha. Não usava brincos. Eu era desprovida de qualquer tipo de vaidade, e não me importava com isso, afinal, que diferença faria? Sentei-me na cama ao lado da penteadeira, por alguns instantes olhei tudo a minha volta. O meu quarto era definitivamente pequeno: uma cama, penteadeira e um guarda-roupa eram toda a mobília que tinha. Eram até bonitos de madeira boa, mas velhos, assim como o assoalho e o restante da casa. Eu morava em uma casa velha e pequena, em um bairro medíocre do interior de Mississipi. Não era um lugar tão ruim, a não ser pelas pessoas que ali viviam.

    Levantei e fui na direção do guarda-roupa e peguei um dos poucos casacos que tinha, calcei os tênis, pequei a mochila e sai do quarto. Desci as escadas sem presa, tinha muito tempo ainda para chegar à escola. Direcionei-me ate a cozinha, a casa estava vazia como de costume. Meus pais saiam cedo para trabalhar. Larguei a mochila em cima da mesa e abri a geladeira. Estava vazia. Senti meu estomago se retorcer e implorar por comida, tentei ignorar o seu apelo mais era inútil. Lembrei-me então que minha mãe sempre deixava alguns trocados dentro de um pote, aonde deveriam ser colocados os biscoitos. Olhei para o armário, o pote estava em cima, eu não era muito alta tive que pular para alcançar. Dentro do pote de plástico encontrei seis dólares, pequei um punhado do dinheiro e enfiei no bolso, coloquei ? aos pulos ? o pote de volta em seu devido lugar. Com aquele dinheiro daria para comprar alguma coisa para comer. Peguei a mochila, fui ate a sala e peguei a toca e o par de luvas que havia deixado ali.

    Saí de casa a passos lentos, colocando as luvas e a toca. As ruas estavam praticamente vazias, era final de outono e as calçadas ainda eram invadidas por folhas secas que caiam das copas das árvores. Eu preferia muito mais o frio ao calor, sob o sol ardente do verão minha pele ficava vermelha e exposta demais, e não havia nada para se expor.

    Parei frente a uma padaria, eu tinha tempo o suficiente para comer. Coloquei a mão sobre o estomago ao ouvir ele reclamar novamente. Entrei na pequena loja, pedi um pão e comi ali mesmo, seco e em pé frente ao balcão. Sai da padaria as presas, havia demorado demais. Não cheguei a correr, mas acelerei o passo.

    Faltando uma quadra para chegar à escola, diminui o ritmo, não estava cansada... Tinha um motivo maior... A poucos metros de distancia de mim iam, a risos e amassos, um grupinho de pessoas detestáveis, que faziam com que a minha vida daquele colégio fosse ainda pior. Provavelmente, da escola toda, eles foram os únicos que sentiram a minha falta quando fui para o hospital, afinal, eles tiveram que arranjar outra pessoa para atormentar.

    Dei um passo de cada vez, apenas olhando e rezando para que não olhassem para trás. Os cinco riam entre si.... Eu não me lembrava da ultima vez que havia rido, fazia tempo demais... O líder do grupo era Matt, um loiro alto, forte e repetente. O que Matt dizia era lei, e todos os outros obedeciam sem questionar. Os outros três garotos eram Timmy e Jimmy, irmãos gêmeos, o dobro de gordura e o mínimo de cérebro. Os dois ruivos gorduchos e sardentos eram os mais idiotas e os mais submissos a Matt. O ultimo era Gary... De todos os outros era o que me dava menos medo, ou odiava menos. Tinha a pele mais morena e a cabeça sempre protegida por um boné, era o mais magricela de todos, e o único que parecia não gostar das atitudes que tinham, mas mesmo assim fazia. Os quatro garotos eram detestáveis, mas não eram piores que a vadia. Lucy era a única garota do grupo, o tipo de garota que atrai todos os olhares masculinos sobre si: alta, com seios e bunda volumosos, magra e cheia de cursas, com lábios sempre cobertos por um batom vermelho barato, e o cabelo loiro esvoaçante... Uma vadia perfeita. Era a namorada de Matt, ou quase isso, porque um tipo de garota como ela provavelmente havia passado pelas mãos de boa parte dos garotos da escola.

    Estava tão concentrada os fitando com todo o desdém que podia, que nem havia notado que estava praticamente parada. Desviei o olhar do grupo e olhei para os lados. Não vi nenhum dos meus adoráveis colegas de turma. Voltei a olhar para frente, mais não avistei mais nenhum dos cinco, o barulho estridente do sinal da escola penetrou em meus ouvidos, lembrando-me de forma brusca que estava atrasada. Apresei o passo e consegui adentrar por entre os portões de ferro antes que se fechassem. Corri ate o meu armário, numero 104, assim como todos os outros, era pintado de azul e a combinação do cadeado não funcionava. Dei um fraco muro na porta e ela se abriu, peguei meus livros e corri para a sala. Para minha sorte a aula do primeiro período era literatura, o professor sempre se atrasava... Eu apenas torcia para que ele não fosse pontual naquele dia.

    A porta da sala estava aberta e a mesa do professor vazia. Suspirei aliviada e entrei na sala, cabisbaixa direcionei-me ate a ultima carteira da fileira do canto ao lado da parede. Sentei-me e coloquei os livros sobre a mesa, continuei de cabeça baixa como de costume, não me atreveria a olhar para o lado e ver Matt e Lucy sentados duas carteiras de distancia da minha.

    O barulho da sala era insistente. Gritos, baderna, e pequenas aglomerações. Eu permanecia calada, praticamente não falava durante as aulas e nem fora da sala, era excluída assim como alguns outros. De repente a sala se calou... Levantei a cabeça e vi o professor entrando. Antony Berlusconi era o professor de literatura. Baixinho, gorducho de meia idade e careca, era alvo de muita gozação por boa parte dos alunos.

    - Bom dia ? nos cumprimentou com seu estridente timbre de voz, Antony era italiano e costumava gritar muito, apesar de tudo, era um dos poucos professores decentes da escola.

    O gorducho sentou-se e tirou uma pasta de dentro de sua clássica maleta preta. Enfiou a mão dentro do bolso da camisa listrada e começou a chamar os nomes, marcando assim a lista de presença.

    Ele falava nome por nome em alto e bom som, como de costume, marcando a cada ?presente? respondido algo na folha.

    - Emily Taylor? ? ele ergueu a cabeça procurando por entre os alunos alguma resposta.

    Ergui minha mão direita ao ouvir meu nome, os lábios finos de Antony se curvaram em um pequeno sorriso.

    - Decidiu voltar à escola, Srta Taylor? ? o tom zombeteiro em sua voz era visível, mas para mim não se tratava de ironia. O professor de literatura parecia uma das poucas pessoas que se importavam comigo.

    - Eu... estava doente... ? respondi simplesmente, sem dar qualquer outro tipo de explicação detalhada, não era necessário.

    - Entendo ? seus lábios se curvaram novamente, ele marcou algo em sua folha e voltou a chamar os nomes.

    Abaixei a cabeça e esperei a aula começar. Ele continuou a falar por um bom tempo, logo após veio o silencio... Eu apenas ouvi o barulho da porta sendo trancada, e a falação do professor começar. Antony era animado, explicava a matéria com fervor e prazer. Era admirável sua devoção por ensinar, pena que boa parte dos alunos nem se davam ao trabalho de ouvi-lo.

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    As aulas passaram lentas e demoradamente. Quando o sinal para o almoço soou, o arrastar de cadeiras e a correria começaram. Eu não estava nem um pouco disposta a ir almoçar.

    Esperei todos saírem da sala, peguei minha mochila e caminhei sem presa para a saída. Assim que cruzei a porta encontrei o professor de literatura.

    - Você perdeu minha matéria durante essas duas semanas, Emily ? ele me disse simpático.

    - Eu... Eu sei... ? ele me fitou, esperando por algo a mais ? Prometo que vou repor a matéria.

    Vi novamente a face arredonda do professor ganhar um ar mais leve e sorrir, ele balançou a cabeça positivamente e voltou a percorrer o seu caminho. Eu o vi se distanciar ao poucos, quando o perdi de vista voltei a caminhar.

    Eu detestava solenemente a hora do almoço, era pior que qualquer outra coisa. Fui na direção do meu armário para guardar meus livros, ainda tinha alguns trocados no bolso daria para comprar algo para comer, mas eu não estava preocupada com a comida... Eu apenas não queria voltar a minha antiga rotina.

    O corredor estava vazio, e por um minuto senti-me aliviada... Por um minuto apenas... Ouvi um estrondo e senti uma forte dor nas costas, agarrei-me aos livros em uma forma desesperada para não cair. Fechei os olhos, quem sabe se eu os apertasse com bastante força tudo desaparecesse. Mas foi inútil... Senti meu rosto ser apertado com força, lutei ao máximo para não abrir os olhos, ignorando as vozes, mas não consegui. Abri os olhos devagar, vendo a minha frente o rosto de formas firmes e os olhos negros odiosos de Matt me encarando.

    - Há quanto tempo coisinha ? Matt disse com deboche, apertando com sua mão fria meu rosto com mais força.

    - Eu cheguei a pensar que a ultima sura que demos em você tinha surgido efeito ? a voz enjoada de Lucy vez meu estomago revirar, eu poderia retrucá-la... Mas do que adiantaria?

    A gangue toda estava ali, Matt apertando meu rosto, Lucy ao seu lado, Jimmy e Timmy rindo feito retardados e Gary calado um pouco mais longe dos outros.

    - Seja bem-vinda de volta, idiota - Matt soltou o meu rosto e Lucy terminou o trabalho me empurrando.

    Cai de costas no chão frio, ouvindo os risos escandalosos dos gêmeos. Aos poucos o silencio voltou ao corredor, eles já haviam partido. Levantei-me aos poucos, sentindo as costas arderem de dor... Eu havia voltado à escola e a minha antiga rotina... Ao meu inferno...


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