Carmesim

Tempo estimado de leitura: 5 horas

    18
    Capítulos:

    Capítulo 17

    Amálgama

    Álcool, Estupro, Hentai, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Sexo, Violência

    BOTAN POV

    Eu não acreditava no que estava vendo.

    Amortecida, assisti depois de o primeiro golpe Hiei girar o punho da katana, o espigão dessa vez apontado para frente e moveu o braço de cima para baixo. A lâmina desceu e virei o rosto. O berro em agonia me desesperou por dentro. Seguido de outro e outro até que tampei os ouvidos, arfando ao fechar os olhos. Aquele demônio não parava de gritar, o xingando revoltado apenas deixando Hiei mais violento. Eu... Eu não aguentava presenciar isso. Era muito cruel.

    Arquejando me apoiei com as mãos no piso e levantei do chão, segurando o que restava desse vestido ao correr pra longe. Do outro lado desse hall, havia um arco de pedra e segui para ele entrando em outra ala. Incrivelmente, não tinha ninguém aqui. As mesas e assentos revirados e quebrados, cortinas rasgadas queimando, além de vasos e adornos estilhaçados eram tudo que se encontrava. Enquanto corria atravessando o cômodo, demorei em notar que não me seguiam. Também o fato de aquelas chamas se extinguirem ao fugir da única pessoa que iria me proteger nesse pandemônio.

    Será?

    Apertando os olhos, entrei num corredor à direita quase me chocando com a parede. Virei a esquina sentindo as narinas arderem com um nó se formando apertado na garganta. Estava assustada. Ao ver os olhos dele tão rubros e opacos, um frio enregelou minhas entranhas. Uma parte de mim sempre pensou em como seria se ele tivesse me salvado. Se tivesse me ouvido e me tirado daquele lugar. Aquele horror me mostrou o quanto era inocente. Já vi muitas coisas ruins, mas nunca sofri na própria pele. Koenma ficou arrasado e tentou o melhor que pôde em me ajudar. Kurama e Yusuke - principalmente o ultimo -, já tinham refeito suas vidas e eu não queria causar problemas pra ninguém.

    Mas nunca... vi Hiei assim. Nem quando ele apareceu naquela mansão onde Yukina estava presa. Como ele sabia do que aquele monstro me disse antes de começar a me violentar?! Ainda mais como sabia de toda a agressão que me fizeram? Ele parecia... Tão enfurecido. Eu sabia muito bem que podia ter dado um fim àquele demônio. Mas estava tão focado em fazê-lo sofrer que sequer me notou lá. Lagrimando, meus pensamentos eram uma só confusão.

    De repente, passos me tiraram desse devaneio e me escondi no vão entre uma pilastra e um vaso. Agachada, tentei controlar a respiração me apertando o máximo que podia quando os sons chegaram mais perto. A marca ardeu latejante e mordi o lábio.

    - Por aqui!

    - Tem certeza? Se estiver mentindo, seu verme...

    - É verdade, senhor. Aquele ladrão levou a fêmea de cabelos azuis para cá.

    Cobri a boca com a mão, prendendo o fôlego ao piscar apavorada. Estavam perto, muito perto. Se uma brisa vir por aqui, vão sentir meu cheiro. Um baque na parede me assustou. Apertei os olhos, ouvindo o grunhido de frustração se propagar.

    - Quem diabos é aquele cretino?

    - Parece ser alguém poderoso. Pelo youki dele...

    Esse demônio engasgou de repente. Pela sombra projetada na parede, vi um youkai atarracado levantar pelo pescoço um menor e raquítico. Esse sufocava esperneando ao tentar afrouxar o aperto.

    - Está dizendo que seu mestre é fraco, Haru?

    - N..n..não senhor.

    O monstro estalou a língua em desgosto, segundos antes de largar o pescoço do outro. O youkai menor caiu sentado, tossindo sufocado ao recuperar o fôlego.

    - Vamos logo. Eu sinto a presença dela por perto.

    - S..será que resolveram se esconder?

    Rindo, o demônio maior levantou sua arma até então abaixada e a apoiou no ombro. Pela forma era um kanabo, enorme e cheio de espinhos de aço.

    - Idiota. Aqui é um bordel. É mais provável que esteja...

    As vozes sumiram enquanto se afastavam. Quando tive certeza que estavam longe, saí do meu esconderijo e voltei por onde vim. Achei mais sensato, se apareceram aqueles dois, mais poderiam também. Estava quase chegando ao final quando um tropel de passos veio bem diante de mim. Recuei trôpega até ouvi o mesmo barulho às minhas costas. Com o coração martelando olhei para trás, vendo sombras surgirem nas paredes acompanhadas de gritos.

    Essa não. Onde é que vou me esconder? Em pânico me encostei na parede, tropeçando ao sentir uma pedra sob meus pés ceder. Olhei para baixo, confusa e um ruído abafado soou atrás mim, junto a parede que de repente sumiu. Perdi o equilibro, caindo nesse vão justo no instante que irromperam no corredor. Ouvi segundos as vozes, depois a parede retornou ao local deixando tudo em sombras nesse túnel. Era inclinado, lodoso e amplo. Gritei enquanto caía de costas, sentindo um frio no estômago e tontura até sair na desembocadura rolando no que me parecia uma calçada.

    Dolorida, me levantei arquejando observando em volta. Margeando um córrego estreito e pavimentado, se tratava de um canal. Os ruídos das lutas ecoavam até aqui e me permiti um suspiro de alivio. As margens de pedra seguiam até um ponto onde não pude ver. O cheiro fétido vindo da água me incomodou e olhando ao redor entendi que esse local servia de escoamento dos prédios abobados. Não que me importasse, significava que havia de fato uma saída e corri por ela evitando escorregar no lodo e cair nessa água imunda.

    BOTAN POF

    HIEI POV

    Um golpe lateral, na caixa torácica e quase perfurei um pulmão. Kiri engolfou quase sem ar com a dor, gritando em seguida. Coberto de sangue e poeira estremecia a cada talho que abria no seu corpo imundo. Quando cortei seu tendão da perna direita, ele berrou se debatendo nas correntes sem conseguir se soltar.

    - Maldito! Eu vou...

    Cravei a katana no seu abdômen, empurrando até sentir suas vertebras. Mesmo que seja difícil com esse tipo de espada, quis fazer isso. O berro foi mais lacerante e estremeci arfando transtornado. Foi bem assim. Ela gritava desse jeito. A memória vívida na minha mente ia e voltava. Mesclando com a imagem desse porco ensanguentado, mas não diminuía o prazer que sentia em vê-lo agonizando. Inclinando o rosto, observei-o se retorcer com a tortura.

    - Insuportável, não é? 

    Kiri ofegando me encarou com ódio. Com o braço quebrado e outro decepado não pôde fazer nada além de rosnar.

    - Me mate logo. Não vai mudar o fato que estuprei sua amiguinha – enregelei enquanto ele ria de ironia – A cada vez que te chamava eu...

    O berro repentino e desumano ecoou tanto quanto retirei a espada, girando ao abrir sua barriga outra vez. Mergulhei num torpor. Meu pulso latejando e ensurdecendo a cada pedaço que cortava desse cretino. Os gritos estridentes dele soavam mais alto do que o caos que reinava fora do prédio. Tinham um peso agora. Uma grande importância enquanto me via perder mais o controle. Desgraçado. Só tinha permissão de gritar e não dizer merdas me deixando mais possesso.

    A visão da carne lacerada e cortada, ossos expostos e o sangue respingando em mim, ao redor e cobrindo o chão... Tudo isso devia diminuir esse maldito buraco que sentia em meu peito, mas era o contrário. O sentia vazado, mais e mais ainda que o cortasse inteiro. Uma parte sã do meu consciente entendeu a razão. Ao que parecia, não era mais o suficiente.

    Provocar tanto ferimentos nele não me mostrava ser o suficiente. Havia me prometido que faria esse desgraçado sentir tanta dor e agonia, berrando em desespero ao ponto de desmaiar. Depois que acordasse faria outra vez e outra até me livrar do corpo. Era assim que iria me vingar. O problema desse maldito era comigo, não devia ter envolvido a garota. Ele estava fugindo havia dias, que quando vi a oportunidade aproveitei. Esse ódio me consumia. A ardência do talho em minhas costas me fazia lembrar quando caí naquela fonte. Mal me recobrava e vários vieram me atacar. Me atrasando. A confusão na água durou tempo suficiente para que me livrasse deles. Abrindo caminho até aonde a levaram.

    Ao sentir as duas energias num local especifico desse prédio, me confundiu e depois enfureceu. Maldição! Estava acontecendo de novo! Quando percebi já havia arrebentado as paredes, me deparando por uns segundos com aquela cena repugnante. Ela nua, ele sobre seu corpo e o cheiro do sangue dela. O furor me deixou num frenesi sedento. O arranquei de cima dela, levando a briga para longe. Abrindo mais rombos nas paredes enquanto ele resistia, até chegarmos ao térreo. Por um motivo insondável, não queria que a mulher visse. Ela não teria estômago pra isso. Porem, mesmo concentrado nesse canalha eu percebi vagamente a presença dela aqui. No calor da luta eu não me importei, no estado que fiquei era um mero detalhe.

    Foi então que dei por falta de alguma coisa. Algo que via pela visão periférica e agora fora de lugar – ainda que tudo naquele momento esteja em desordem. Voltando o olhar para o lado, sustive o fôlego freando mais um golpe.

    Ela não estava aqui.

    Observei ao redor, com a raiva abrandando ao ficar mais lúcido e arfando mais ao confirmar. Não sentia a reiki dela por perto.

    Merda, a mulher não estava em parte alguma!

    HIEI POF

    BOTAN POV

    Depois de correr nesse canal subterrâneo por um tempo, percebi que era inútil seguir por aqui. Eu não tinha como me guiar, estava praticamente escuro e se me encurralassem seria pior. Não teria como fugir por aqui. Ofegando, virei uma esquina avistando ao longe dessa margem uma nesga de luz. Nela uma escada de ferro subia até uma saída. Corri até lá, ouvindo o vento soprando junto com um trovejar. Ao segurar nas laterais, meu cotovelo pulsou de dor e sibilei estremecendo. Verifiquei os trapos que vestia e decidi ser pratica. Peguei as tiras que restavam da parte superior e amarrei o melhor que pude na cintura. O decoro me tocou forte ao puxar meus cabelos por sobre os ombros. Eram compridos é melhor que nada ao cobrir meus seios. Mesmo assim me sentia mal em estar assim.

    Pronta, com o braço bom me segurei na barra de ferro pisando em outra mais embaixo e fui subindo. Com cuidado evitando escorregar até a abertura no alto. O vento soprava frio e forte e ao subir mais, um fraco chuvisco molhava meu rosto. Com um pouco mais de esforço cheguei a abertura e saí, praticamente me arrastando. Ao olhar em volta, notei que estava em um pátio. Ele ligava direto ao muro frontal e estava cheio de youkais lutando brutalmente.

    A minha sorte que não me viram. Os guardas concentrados em manter os que vieram e estes revidando se amontoavam perto do portão. Aproveitando disso, corri desajeitada até o prédio mais próximo, tomando cuidado em me esconder nas sombras. Mais perto e chegaria ao muro leste, a fenda dimensional ficava em algum lugar por ali. Estava quase chegando perto, quando um urro estremeceu meus ossos. Me joguei contra a parede, perto de um alicerce de uma sacada e levantei os olhos vendo um animal pairando no ar. As asas batendo provocavam rajadas de vento enquanto seu outro urro foi encoberto pelos trovões. A chuva engrossou e em questão de segundos fiquei encharcada. Os arranhões e outros machucados ardiam, além de que tremia de frio.

    O corte por dentro da minha boca latejou e engoli em seco, procurando ignorar. Vozes alteradas me alertaram e girei no lugar, ainda agachada ao inclinar um pouco contra essa parede e espiei a fonte. Um grupo de vultos caminhava nessa direção, os olhos vermelhos fulgurando me arrepiaram inteira. A bruma que levantava pela chuva me camuflava um pouco, mas não o suficiente. Se ficar aqui, vão me achar.

    Um barulho soou atrás de mim. Prendi o fôlego, gelada ao olhar sobre o ombro um vulto cair do alto bem na minha frente. As luzes vermelhas de seus olhos me apavoraram. Ele avançou sobre mim e puxei o fôlego ao ponto de gritar. Antes que conseguisse, uma mão cobriu minha boca abafando e me empurrando contra a parede.

    - Shssss.

    Estremeci inteira com o sibilo. Um relâmpago riscou o ar e vi por instantes a feição da pessoa. Por um momento não reconheci até fitar os olhos vermelhos, me acostumando com eles e pude distinguir sua forma, o matiz carmesim. Arfei surpresa, Hiei... Não foi por menos que não o reconheci. Como eu, estava encharcado pela chuva e seu cabelo havia abaixado. Em volta do seu rosto, as mechas escondiam-no um pouco mal chegando ao pescoço. Eu achei que seriam mais compridos, mas apenas tinham volume. Curioso. Ele estreitou o olhar, enrugando a testa incomodado.

    Ele me ouviu?

    - Tsk.

    Acho que sim. Desviando o olhar para a direita, endureceu compenetrado. Analisando o comprimento do pátio que levava ao muro, vi que se retesou. Sem me avisar, sua mão livre escorregou na minha cintura, puxando para ele e me enlaçou segurando firme contra seu corpo. Mal tomei ar e ele saltou para cima, rápido demais pelo impulso. Quase gritei e olhei sobre seu ombro para baixo enquanto subíamos. Aqueles demônios por pouco não nos acharam. Ao cairmos me agarrei nele, sentindo-o escorregar o braço atrás das minhas pernas, me segurando melhor.

    Ao pousar no terraço, o impacto vibrou em mim e Hiei prendeu o ar, se esquivando para baixo. Um vulto voou acima de nós e depois rosnados avançaram próximos. Espiei em tempo de ver um demônio correr até nós brandindo suas garras. Pareciam torqueses de tão compridas. No primeiro ataque, Hiei se inclinou para trás, depois recuando e em seguida girando para o lado fazendo esse demônio rir. Sem parar de desferir golpes, os zunidos quase nos atingindo ele sorriu debochado.

    - Qual o problema? Tem receio de soltá-la?

    Como resposta senti o aperto em minhas costas e pernas aumentar... Para então ser jogada no alto. Puxei o ar, surpresa demais para gritar e vi por um momento Hiei se jogar naquele demônio, decepando sua cabeça. Mal o vi sacando e embainhando a katana em suas costas. Ele me pegou quando caí, aproveitando o movimento para saltar do prédio. E isso atraiu atenção. Inclinando-se para frente, ele mudou de velocidade ao correr. Golpes de vento me açoitaram. Não vi mais nada, exceto o sentir escorregar, saltar, mudando de direção ao nos afastarmos mais e mais.

    De repente, ele mudou de caminho e de modo abrupto, os golpes de vento desapareceram igualmente a chuva. Levantei o rosto de onde enterrei no seu pescoço olhando em volta para as paredes rusticas de um cômodo pequeno. Deduzi isso, pela luz momentânea dos relâmpagos e caminhando por ele, Hiei me pôs no chão. Cauteloso e quieto. Nesse momento, foi que senti. O cheiro ferroso e ácido vindo dele. Meu coração martelou forte, assim que ele me soltou e sem surpresa minhas pernas cederam. Caí sentada, olhando para sua figura voltada pra mim.

    As luzes vermelhas dos seus olhos não ajudaram nada em me acalmar. Pelo contrario.  Aceleraram meu pulso enquanto me lembrava do que ele fez. Mas principalmente do que aquele demônio disse. Sem me conter balbuciei.

    - É verdade?

    Ele me encarou por um momento e depois se afastou. Seu silêncio apenas aumentou meu nervosismo.

    - Hi..Hiei, o que aquele youkai disse é verdade?

    Parado de costas, um pouco afastado de mim o ouvi sacar a espada. O ruído metálico me gelou por dentro.

    - Isso não importa. Temos pouco tempo até nos acharem.

    Foi quando me dei conta. O ar pesado ainda era difícil de respirar e pelo trovejar lá fora, confirmou minhas suspeitas. Ele não atravessou a fenda dimensional que havia na fortaleza. Engolindo em seco, procurei me controlar.

    - Onde estamos?

    - Uma vila fantasma na colina decapitada. A floresta dessa região se mescla com à daquele vale. Logo chegaram aqui.

    Estremeci assustada. Ouvindo seus passos, vi sua sombra ir até entrada. A porta havia sido despedaçada há algum tempo, mas mesmo assim o pânico lentamente tomava conta de mim. Por que ele não nos levou direto para Ningenkai? O que pretendia nos escondendo aqui?

    Antes que percebesse prendi um soluço, atraindo sua atenção. Ele voltou o rosto para mim, as luzes vermelhas apenas me apavoraram. Ficamos uns instantes nos encarando até ele se aproximar e arregalei os olhos. Ele arquejou, suspirando em seguida irritado.

    - Eu não sou uma ameaça, onna.

    As palavras foram pontuadas, inflexíveis, mas apenas olhei para a katana em sua mão. Lembrei de uma conversa nossa e arfei mais apavorada. Hiei suspirou alto.

    - Não vou te matar.

    Levantei os olhos.

    - Então o que vai fazer?

    Silencio. Sei que não devia pensar isso dele. Hiei veio até aqui, se arriscando em me tirar daquele lugar horrível, mas... Não consigo parar de tremer. As imagens do que fez àquele monstro, o modo como estava seus olhos... Me lembravam de um louco homicida. Se o que disse naquele dia for verdade, não importava se estivéssemos escondidos, iam nos achar.

    Assistindo meu debate interno, ele soltou outro suspiro soando resignado e levantou a espada. Meu coração enlouqueceu ao me arrastar para trás.

    - Hiei o que vai fazer?

    Me ignorando, o vi fazer um movimento repentino. Pela sua silhueta contra a luz dos relâmpagos parecia... Que tinha cortado o próprio pulso da outra mão. Confusa, vi levar o pulso à boca por um momento e então ele sumiu de repente. O tinir da espada caindo no chão me distraiu quando uma mão envolveu minha nuca, me puxando para frente. Lábios cobriram os meus, me chocando. Arquejei surpresa e aproveitando ele os abriu mais, unindo nossas bocas enquanto me jogava no chão. A mão que segurava minha cabeça protegeu do choque, enquanto a outra segurou meu pulso, prendendo no piso.

    Com seu peso, comprimia meus seios contra seu peito que arfava igual a mim. Porem, mal registrei o fato que estava me beijando. Sufocava com um líquido ferroso e acre descendo na minha garganta. Um filete escapou dos nossos lábios, melando minha bochecha enquanto eu engolia aquilo. Nesse “beijo” sentia tudo. A respiração arfante chocando com a minha, os lábios mornos unidos aos meus e mesmo que sentisse frio, o calor do seu corpo me aquecia. Igual ao seu sangue descendo no meu organismo.

    Ao terminar de bebê-lo um espasmo me percorreu, forte fazendo os músculos protestarem enquanto a marca na minha perna começou a latejar. Hiei se afastou um pouco, ofegando e senti sua respiração direcionar a minha garganta quando inclinou minha cabeça a expondo para ele. Sabia o que ia acontecer, mas não acreditava. Aninhando o rosto na curva do meu pescoço, antes de mordê-lo, arquejou por um instante e então abaixou a cabeça cravando os dentes na minha pele. A dor lancinante me fez gritar e rápido, um braço seu enlaçou minha cintura, enquanto a mão que segurava minha nuca cobriu minha boca.

    Com a mão livre, já que a outra estava presa entre nós, agarrei seu tabard pelas costas. Lagrimava sentindo-o afundar mais as presas, de um jeito menos dolor apesar do meu corpo tenso. Não lutava pra me soltar dele, estava simplesmente tremendo da dor ao ser mordida. Me queimava,  se espalhando da ferida pelo resto do meu corpo. Arquejando apertava os olhos, retorcendo dos dedos na sua roupa onde o agarrava, enquanto o sentia me estreitar entre seus braços. Ao sangrar, filetes escapavam e arfando ele parou, retirando as presas aliviando a pressão ao fechar os lábios na ferida. Por um breve momento, não entendi até senti-lo sugar e beber meu sangue.

    Prendi o folego, mesmo com um tremor me percorrer inteira e lentamente a mão na minha boca escorregou, descendo até minha nuca outra vez. A sensação me deixou desconexa. Ainda doía de maneira aguda, mas escutava praticamente no meu ouvido sua respiração arfante a cada gole. A tensão que me tomava foi esvaindo, me deixando lânguida... Desnorteada. Aumentado pelo fato dele me abraçar mais apertado, segurando firme meu corpo contra o seu. Deve ter sido porque relaxei tanto que até soltei de onde o agarrava. Estranho, o estigma na minha perna não latejava mais, aquela sensação queimando desapareceu. Por que será?

    Entreabri os olhos enxergando turvo, até meus ouvidos pareciam abafados enquanto ficava mais dormente. Embora minha pele estivesse fria pela chuva, por dentro algo me abrasava. Tão liquefeito e consistente. Por que será? Hiei devia saber? Ele sentia também? Não sei. Antes que perguntasse seus lábios se afastaram, depois de um deslizar suave e morno. Um beijo? Talvez... Fraca, rolei os olhos finalmente desmaiando.

    BOTAN POF

    Por todo o Mundo dos Demônios, apenas seres de categoria superior de repente pararam suas atividades, concentrados ao sentirem o surgimento de duas assinaturas diferentes de energias. Alguns arregalaram os olhos de choque, outros suspiraram resignados. Apenas significava algo. Dois seres diferentes se ligaram, profunda e irreversivelmente.


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