Os Trinta Colares de Pedra

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 6

    Arrombamento

    Homossexualidade, Violência

    A pessoa que vinha em sua direção era apenas um garoto e corria como se estivesse condenado, atrás dele vinha outro, um pouco maior e muito parecido com o primeiro. Mitsuyoshi os reconheceu como sendo os irmãos Taki Sousuke e Taki Yoshihiko, do Kidokawa Seishuu, que também tinham jogado e perdido contra a Raimon.

    Quando passou por ele, o mais novo se escondeu atrás de Mitsuyoshi enquanto o irmão mais velho os alcançava.

    - Me devolve - o mais velho, Sousuke, ordenou enquanto dava voltas em torno de Mitsuyoshi, tentando alcançar o baixinho do seu irmão.

    - Não, é meu - Yoshihiko rebateu.

    Yozakura ficou no meio dos dois, olhando de um para outro, sem saber o que fazer.

    - É a última vez que peço, me devolva.

    - Não - disse novamente o menor. - Eu peguei primeiro.

    - Mas você pegou mais que eu.

    - Problema seu.

    O irmão mais novo, Yoshihiko, escondia um bolinho entre suas mãos. O motivo da briga era por causa de apenas um bolinho? Só um bolinho? Continuaram a discutir e de vez em quando corriam em círculo novamente, às vezes para um lado, às vezes para outro. Mitsuyoshi se sentiu uma árvore, e era tão chato ser uma árvore, os irmãos estavam tão focados no bolinho que nem ligaram para ele ali.

    Era o irmão mais novo quem tinha o colar que ficava indo de um lado para o outro enquanto o pequeno corria. Mitsuyoshi ficou esperando o momento certo para tentar pegá-lo, calmo como águas paradas. E quando Yoshihiko passou correndo de novo em sua frente, Mitsu lançou rapidamente sua mão e quase pegou o colar, mas o pequeno percebeu, desviou e começou a correr para outro lugar do parque.

    Mitsuyoshi e Sousuke foram atrás, dispostos a conseguir o que queriam. Yoshihiko pegou uma bicicleta que achou no caminho e sumiu da vista dos dois, sorrindo de triunfo com o bolinho na boca e o colar em volta do pescoço.

    Os dois pararam de correr e recuperaram o fôlego. Mitsuyoshi apoiou-se nos joelhos.

    - A culpa é sua - Sousuke apontou para Mitsu. - Eu estava quase conseguindo pegar.

    - Não foi o que eu vi - rebateu, respirando pesado. - Tudo isso por um bolinho?

    - Não era um bolinho qualquer, era um dos bolinhos que uma pessoa muito especial fez para mim. E ele pegou a maioria.

    - Ahn… - murmurou, entendendo a reação do outro. De repente Mitsuyoshi ficou com vontade de comer bolinho. - Quem fez os bolinhos? -  perguntou.

    Taki corou, pensando na pessoa que os tinha feito.

    - Não é da sua conta, nem te conheço - saiu dali a passos largos, tão absorto em pensamentos que envolviam bolinhos que nem se lembrou de perguntar o porque do outro tentar pegar o colar do irmão.

    Mitsuyoshi olhou o mapa e viu que mais ninguém estava por perto. Já era quase meio dia e tomou o caminho para sua casa. Suspirou.

    - Também queria ter uma pessoa especial - murmurou, cruzando os braços atrás da cabeça por algum tempo. - Mas como é que é ter uma pessoa especial?

    Tenma levou para sua casa alguns amigos para almoçarem juntos. Hikaru devorava alegremente o frango recheado com farofa da Aki, e Kariya, ao seu lado, fazia o mesmo enquanto olhava de soslaio para o clima sinistro entre Tsurugi e os outros dois que também tinham vindo. Taiyou contava piadas sem graça e Tenma mesmo assim ria. Fey enchia o prato de Tenma falando como esta e aquela comida estava muito gostosa. Tsurugi os fuzilava com olhar de gelo, mas eles o ignoravam.

    Kariya se pegou imaginando Tsurugi avançando contra Taiyou e Fey com uma espada de gelo. Soltou um risinho com esse pensamento, queria muito ver isso. Sorte sua que com Hikaru não tinha isso, o lilás estava ao seu lado, devorando o frango com gosto, alheio à guerra mental entre Tsurugi e os outros, que trocavam constantemente olhares cortantes como se jogassem seriamente uma partida de futebol.

    Mas Kariya queria ação, aquilo estava muito massante. Pegou uma das azeitonas que estava rodeando o frango e também uma colher limpa que estava na mesa, usou as duas para mirar em Tenma e atirou. Fey soltou uma exclamação de dor e tocou sua testa. “aff, errei”, pensou Kariya. Tsurugi e Taiyou riram, Fey levou isso como uma afronta e jogou alface nos dois. Tenma gostou da brincadeira e fez o mesmo com Kageyama. “Agora é guerra”, Kariya jogou comida neles junto com Hikaru.

    Aki logo parou a brincadeira/guerra que mal tinha começado, falando que sujariam o uniforme da escola. Aoi chegou nessa hora, entrando sorridente na sala e se juntou à eles para comer a tão esperada sobremesa. Ficaram conversando até a hora de ir para a escola.

    Tsurugi, de repente, viu-se com a cabeça em outro lugar. Além dele, as seis pessoas no recinto também usavam colares, inclusive Aoi. Pensou em Mitsuyoshi e no dever que ele tinha que cumprir em apenas três dias, para Tsurugi essa era, infelizmente, uma missão sem chance de sucesso. Seu ex colega seed não conseguiria sozinho. Tsurugi pensava seriamente em contar aos outros sobre isso, mas Mitsuyoshi o havia dito para não fazer isso, o que faria? Sentia-se tentado a contar agora, talvez já o tivesse feito se não fossem Fey e Taiyou que olhavam para Tenma como quem estava caçando uma presa. Não confiava neles e não contaria, ao menos não agora, decidiu.

    Quando saíram para ir para a escola, Fey e Taiyou foram para outra direção, pois estudavam em outra escola. ‘Finalmente’, pensou Tsurugi, dando a mão à Tenma que em troca lhe ofereceu um doce sorriso.

    Mitsuyoshi levantou-se num salto da rede no quintal de sua casa. Tinha visto algumas bolinhas irem para a rua. Suspirou ao perceber que parecia um maluco obsessivo em procurar colares. Pegou sua bolsa de pano e foi para a rua, seguindo as bolinhas vermelhas no mapa do pergaminho que iam em direção à Raimon.

    Tomou o lado contrário ao que usava para ir ao colégio Mannouzaka. Era estranho mudar a rotina desse jeito, mas isso fazia-o lembrar de quando era pequeno e brincava de detetive, vigiando e observando as pessoas estranhas, fingindo que eram vilãs ou mocinhos. Sua situação era parecida: um ladrão por um bom motivo. Seria isso um vilão ou um mocinho? Ou os dois? Ou nenhum?

    Sua reflexão foi quebrada pelo som de vozes conhecidas se aproximando. Na calçada rodeada por árvores, dois jogadores da Mannouzaka vinham na sua direção, conversando entre si. Eram Gamaishi e Oosawada, os grandões que jogavam na defesa. Eles tinham um olhar medonho e estatura enorme para a idade. Os dois eram parecidos, gostavam de fazer as pessoas sentirem medo, seus atos também não eram nada gentis e as palavras saíam de suas bocas como trovões impacientes e mal humorados. Eles davam calafrios à Mitsuyoshi.

    Como ainda não tinham reparado nele, Mitsuyoshi torceu para que passasse despercebido, mas isso não aconteceu. Quando passou ao lado deles, eles se viraram e o encararam.

    - Mitsuyoshi - chamou Gamaishi.

    Com isso, Mitsuyoshi foi forçado a se virar. Realmente, seu ‘disfarce’ não havia servido de nada.

    - O que faz aqui? - continuou o colega.

    - A escola é para a outra direção - acrescentou Oosawada com as sobrancelhas franzidas.

    - Ele não está vestido como quem vai para a escola - Gamaishi falou para o grandão ao seu lado. - Aonde você vai? - se voltou para Mitsuyoshi.

    Os dois grandões vestiam o uniforme da Mannouzaka e carregavam uma mochila. Dessa vez não pareciam pensar em faltar aula como costumavam fazer às vezes; até temia pensar no que faziam quando faltavam, em casa é que não ficavam. Mitsuyoshi fitou-os e os dirigiu um sorriso brincalhão e meio zombeteiro.

    - Não são só vocês que podem cabular aula quando querem - disse, sem deixar escapar nada que eles pudessem perceber. Tinha falado do mesmo jeito dos tempos de seed.

    Os grandões se entreolharam, sem saber o que dizer. Mitsuyoshi sabia que eles não podiam contestar, já que faziam o mesmo.

    - Mas você não costuma fazer isso. Estranho - Gamaishi parecia desconfiado.

    - E no início do ano - completou Oosawada.

    - Eu posso recuperar isso - Mitsuyoshi interviu, ansioso para sair dali. - Não tenho dificuldade com as matérias da escola. Mas vocês tem mais e é melhor irem logo, para não se atrasarem.

    Mitsuyoshi sabia que tinha exagerado, os outros dois não o olharam com boas caras.

    - Nos chamou de burros? - Oosawada perguntou.

    Gamaishi tinha os punhos cerrados.

    - Ou está nos despachando? - inquiriu raivosamente.

    - Não, só tenho mais facilidade de aprender e… tenho pressa - disse rapidamente e deu as costas à eles, ganhando distância. Respirou aliviado quando viu que eles não o tinha seguido. Apesar de tudo, eles tinham um certo respeito inconsciente pelo atacante da Mannouzaka, ao menos Mitsuyoshi queria acreditar nisso. Isozaki com certeza era quem os conseguia controlar, quem tinha o verdadeiro respeito deles e esses sempre faziam o que ele queria, o que dava ainda mais medo.

    Chegou na Raimon segundos antes de fecharem os portões.

    As aulas da tarde seguiram normalmente. A turma do segundo ano, na qual Tenma se encontrava agora, estava no laboratório de Artes trabalhando num projeto que consistia em fazer algum brinquedo de papel. Mas todos pararam o que faziam ao ouvir um barulho. Eram vozes vindos do lado de fora da escola, gritavam chamando alguém. Gritos e estrondos estavam juntos.

    A turma saiu da sala com curiosidade, os barulhos aumentaram e então seguiram o som, chegando perto da entrada junto com outras turmas de primeiro, segundo e terceiro ano que também tinham tido a aula perturbada. Os alunos tentavam ver o que acontecia. Tenma pulava, tentando enxergar algo através de toda aquela gente.

    - Tem duas pessoas tentando entrar - disse alguém de uma das salas de aula do segundo andar. Várias cabeças observavam das janelas, com os olhos vidrados no portão.

    Ouviam-se estrondos vindo da entrada, altos e constantes.

    - Estão tentando arrombar - gritou alguém.

    - São ladrões? - perguntou outro, temeroso.

    - Será que estão armados?

    Murmúrios estavam em toda parte, criando hipóteses e respostas para o que acontecia.

    Tenma, junto de Tsurugi, Shinsuke, Kariya, Hikaru e Aoi, saíram da multidão e foram parar perto do muro, onde não tinha muita gente.

    Fez-se ouvir um grande estrondo dizendo que o portão havia sido arrombado. Dois garotos adentraram a escola à passos largos e impacientes. Continuaram a  chamar por quem estavam procurando. Os alunos e até professores se afastaram quando eles se aproximavam, com temor dos estranhos. Os guardas tentaram pará-los, mas foram jogados no chão com um forte empurrão.

    Tenma estava confuso. Aqueles dois vestiam o uniforme da Mannouzaka, por que estavam que na Raimon? O que eles queriam? Procuravam alguém, isso sabia,  os dois não paravam de chamar ‘Mitsuyoshi’ enquanto andavam com passos brutos pelo pátio. Também perguntavam: ‘Onde está ele?’ para os alunos da escola, que não sabiam de nada e corriam assustados.

    Tenma sentiu Tsurugi segurar e apertar sua mão. Olhou para ele: o namorado parecia apreensivo, como se temesse alguma coisa que pudesse acontecer.

    Dessa vez Kariya não ria da situação, estava com os braços cruzados e olhava para os dois grandões como quem estivesse protegendo um gol, e de fato era isso, Rikaru estava atrás dele, com medo.

    Os dois estudantes na Mannouzaka, ao ver que seus chamados estavam sendo inúteis, ficaram ainda mais furiosos, e em consequência ficaram mais violentos. Começaram a procurar a pessoa em todo lugar, empurrando quem estivesse em sua frente. Até olhar para Tenma e os outros. Foi em direção a eles com os mesmos passos brutos de antes.

    Tenma lembrou-se: eram do time de futebol da Mannouzaka. O time que machucava os adversários sem medir escrúpulos para o que faziam. O time que um dia tinha deixado seus colegas jogados no chão com fortes boladas. Agora Tenma quem apertou a mão de Tsurugi, temeroso.


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