Mundo Paralelo

  • Finalizada
  • Alexsporto
  • Capitulos 21
  • Gêneros Sobrenatural

Tempo estimado de leitura: 3 horas

    14
    Capítulos:

    Capítulo 21

    Misterioso baú vazio

    Álcool, Linguagem Imprópria, Mutilação, Violência

    Capítulo 20

    Misterioso baú vazio

     Ontem depois de ter saído do hospital eu passei em casa para tirar as roupas molhadas e trocá-las por algo seco e quente. Depois do banho parti para o restaurante e quando cheguei lá, tinha uma mesa entre tantas outras bem mais perto do palco, onde Luana e Isabely estavam conversando. De todos os frios na barriga, o pior deles sem dúvida alguma, é quando estamos prestes a encontrar aquela pessoa tão especial que nos faz ter medo de agir, medo de falar, medo de que algo fuja do controle, em fim. Medo de estragar tudo e parecer um total idiota.

    – Olha só quem acabou de chegar. – Comentou Luana ao olhar para trás e me ver.

    – Oi Apollo! – Disse Isabely em seguida.

    Hmm... Elas já me viram. Droga! Agora não dá mais tempo de sair correndo. Ah! Qual é Apollo, o que está acontecendo com você? Seja homem rapaz! Vá lá e fale alguma coisa. Esse é o tipo de coisa que Pablo diria se estivesse aqui agora.

    – Oi moças. – Isso! Um simples "oi" já está bom para começar.

    – Apollinho! – Luana se levantou para me cumprimentar com um abraço depois voltou a sentar-se. – Venha e sente-se conosco.

    – Sim, mas é... é claro!

    Isabely me abraçou e me senti tentado a beijar seus lábios que pareciam me convidar para um beijassu, desses engraçados que vemos em filmes: É um tal de vira o rosto pra lá, vira pra cá e beija aqui e morde ali... E os beiços se tocando de forma primitiva, o que as mulheres em geral gostam e acham românticos. Mas a coragem... ou melhor a falta de coragem me impediu de ser mais ousado, o que resultou em um beijo singelo mas, um pouco demorado em seu rosto.

    – Eles já tocaram alguma coisa? – Perguntei prestando muita atenção na hora de pronunciar cada palavra ao tomar um assento de frente para Isabely.

    – Ainda não. Mas parece que você chegou bem na hora.

    – É verdade, olha eles já estão subindo no palco.

    Já fazia um bom tempo que Pablo não se apresentava assim desde que saiu de sua antiga banda: Os ratos selvagens. Nunca soube ao certo o motivo pelo qual meu irmão quis sair da banda, mas acho que ter socado a cara de um dos fundadores do grupo pode ter sido a razão de ser expulso pelos integrantes.

    Acho que essa é a primeira vez que vejo Abel tocar bateria, o cara manda bem mesmo! Pablo tá levando bem essa música, adoro a letra, principalmente essa parte: – "Nunca deixe que te digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem... Que os seus planos nunca vão dar certo... Ou que você nunca vai ser alguém... Quem acredita sempre alcança".

    Percebi o olhar de Isabely e retribui com um sorriso, será que ela ouviu? Nossa não notei que estava cantarolando, me deixei levar pela emoção da música, o autor é um poeta! Grande Renato Russo.

    É impressionante como existem pessoas que têm um poder incrível, não tem a ver com a capacidade de voar, ter uma força além do comum ou uma super-velocidade, mas um poder ainda mais especial, como se possuíssem o dom de controlar nossa vida. E Isabely possui esse poder... Eu não poderia imaginar que alguém que eu mal conheço fosse chegar e despertar em mim um sentimento tão intenso e tão bonito.

    Mas, como não se apaixonar por essa garota? O jeito como me olha. A maneira como sorri ao me ver... Me pergunto se Isabely sente o mesmo que eu sinto quando estou ao seu lado. Tão pouco tempo e já estou assim? Não consigo evitar, meu coração bate mais forte a cada vez que a vejo, isso desde o primeiro dia que eu a vi.

    Sábado

    Dia seguinte

    – "Você sentiu ao me ver o que eu sinto por você? Ou não sente mais nada?"

    Estava em casa cantando enquanto procurava por uma roupa, um casaco que eu gosto muito.

    –"... O que sobrou do seu amor será o bastante pra manter você em casa..." – Continuou Pablo cantando a estrofe seguinte.

    – Bom dia mano!

    – É isso aí! “Fresnético”. Não basta apenas ouvir e ser fã, tem que vestir a blusa e cantar como se fizesse parte da banda.

    – Fresno sempre! Você e Abel tocaram super bem no restaurante ontem.

    – Foi show mesmo!

    – Aí! Você viu minha jaqueta?

     – Qual delas?

    – Aquela azul com capuz... Só tenho ela.

    – Da uma olhada no balde perto do tanque.

    Fui até a área de serviço e revirei as roupas do balde: calças, meias, cuecas, toalhas e algumas blusas de manga comprida. Todas sujas, mas não achei a que procuro. Olhei no tanque e vi algumas das minhas roupas molhadas inclusive a que usei ontem ao lado da capa de chuva do meu irmão.

    – Não está aqui. – Falei desanimado me dirigindo a sala. – O mais estranho é que eu não me lembro de ter usado aquela jaqueta.

    – Se não me engano, você estava vestindo esse casaco domingo à noite quando a gente foi no shopping com o pessoal.

    – Verdade, mas tenho certeza que guardei depois de usar... Só o que faltava: minha única jaqueta sumiu!

    – Eu não peguei! – Anunciou.

    – Nem falei nada.

    – Você sempre me olha com essa cara quando acha que eu sumi com suas paletas.

    – Talvez se você parasse de mexer nas minhas coisas, quem sabe elas possam parar de sumir. – Disse fitando o item nas mãos de Pablo que acabou de sair do meu quarto com a maior cara de pau.

     – Qual é mano? Tudo nosso! – Pulou no sofá e puxou o zíper até abrir a capa do violão.

    – Idiota. Ainda vem falar que estou errado.

    – Você ainda não trocou as cordas velhas? – Percebeu ao examinar o instrumento. – Onde estão as cordas que você saiu para comprar ontem?

    – Hmm... Que merda! – Bati a mão na cara ao lembrar que deixei as cordas novas no balcão da loja. Que burro! – Eu comprei mas, acabei esquecendo de trazer.

    Pablo deixou o violão de lado escorado no braço do sofá e me encarou. Aquela cara risonha de garoto brincalhão deu lugar a uma face mais madura e séria.

    – Falando nisso... Me explica o que aconteceu, por que você se atrasou para a apresentação ontem?

    Sentei no outro sofá e sem pensar muito eu disse a primeira coisa que veio na mente:

    – Eu sou um anjo. – Minha voz saiu num tom seguro e minha expressão se manteve neutra.

    Toda a rigidez de Pablo desmoronou e ele caiu na gargalhada como se essa fosse a coisa mais hilária do mundo.

    – Você é o que? – resmungou em meio a risos de deboche. – Você precisa parar de brincar na chuva, a febre já está afetando sua mente.

    – Parece muito bizarro, eu sei. De tudo que já te contei acho que isso é sem dúvida a coisa mais louca.

    – É sim mas, continue. – Pablo inibiu a vontade de rir e tentou recompor uma característica de plena seriedade. – Como chegou a essa conclusão?

    – Eu vi uma prova de que tudo que eu te falei pode ser real. Um jornal antigo que fala sobre nossos pais. Para ser mais específico, sobre uma série de fenômenos sem explicação que destruiu aqui perto, a antiga casa da nossa família exatamente no dia em que eu nasci.

    Quando terminei de falar notei que meu irmão estava com um olhar perdido, como se procurasse uma lembrança que coincida com toda essa informação.

    – Eu lembro vagamente de uma explosão que fez a cidade tremer, eu deveria ter uns cinco anos. – Pablo pôs-se de pé e andou até o centro da sala. – Eu estava aqui na casa dos nossos tios quando vi pela janela do quarto uma luz subir atravessando as nuvens escuras no céu. Eu nunca tinha visto algo tão incrível assim... Foi uma noite longa e muito estranha!

    Pablo parou de falar, semifechou os olhos numa careta feia e depois correu para o quarto.

    – Ei, aonde você vai?

    – Lembrei!

    – Ãh...? – Levei alguns segundos até decidir seguir meu irmão. – Lembrou do que doido?

    Lá estava Pablo agachado ao lado da cama abrindo e fechando as gavetas da cômoda.

    – Achei! – Disse vitorioso segurando uma chave aparentemente comum.

    Pablo puxou um baú de madeira que estava dentro do guarda-roupa e sentou-se na cama segurando o objeto no colo.

    – O que tem aí de tão especial?

    – Isso pertencia ao Joe. Antes de partir ele me entregou e disse que eu não deveria abrir enquanto não estivesse pronto para entender.

    – Entender...? Do que exatamente nosso tio estava falando?

    – Pra ser sincero! Eu não sei, mas tio Joe disse que tinha a ver com aquela noite.

    – Todo esse tempo e você nunca quis ver o que tinha aí dentro?

    – É claro que sim, muitas vezes eu confrontei esse baú e já cheguei a ficar horas olhando para ele mas, não consegui abri-lo. Como se algo não permitisse... Mas agora não há nada que me impeça de saber o que de tão misterioso tem escondido aqui.

    – Então deixa de drama e abra logo esse negócio!

    Pablo me encarou rapidamente com um meio sorriso e depois voltou seu olhar para a caixa de madeira que repousava em seu colo, respirou fundo como se estivesse prestes a descobrir algo que mudaria sua vida para sempre. Inseriu a chave na fechadura e a girou com cuidado até ouvir um estralo, indicando que o objeto estava agora destrancado.

    – Para de fazer suspense, cara! Vai logo que já tô curioso pra saber o que tem aí.

    Finalmente meu irmão levantou a tampa do baú e após examinar o interior da caixa, arregalou os olhos surpreso e me lançou um olhar preocupado.

    – Não pode ser... Está vazia!

    – Não acredito. Tanto mistério pra nada.

    – Não entendo por que Joe faria isso, toda essa coisa de esperar o momento certo. Aguardar até que finalmente estivesse "pronto" para abrir o baú e ver que está vazio.

     – Eu já vou indo.

    – Aonde você vai?

    – Hoje é o dia que o museu vai reabrir.

    – Por que não fala logo que vai lá só pra ver sua amada Isabely?

      – Sim, mas eu também adoro arte e se tem um museu na cidade, não ir seria um crime!

    Apesar de ser um admirador da arte, com certeza a verdadeira motivação para ir ao museu, é simplesmente pela chance de rever Isabely. Neste caso estaria juntando as duas coisas que mais gosto em uma só.

    –Tá legal! Vai de busão, bro? – Antes que eu pudesse abrir a boca para responder, Pablo continuou com seu sarcasmo: – Ah! Esqueci que agora você é um anjo, é claro que vai voando.

    – Idiota. Mas até que não seria má ideia poder voar... – Se fosse um anjo mesmo, toda noite eu visitaria a casa da Isabely só para observá-la enquanto dorme e assegurar que esteja sempre segura.

    Como nada está realmente comprovado, é melhor eu voltar ao mundo real e me apressar para vestir outro casaco já que a minha jaqueta preferida desapareceu.

    28 Minutos mais tarde.

    Interior do ônibus

    Coloco os fones nos ouvidos e aumento o volume até o talo, odeio ouvir as conversas alheias e pessoas fofocando ao meu redor. Deveria ter uma lei que obrigasse as pessoas a falar baixo dentro do ônibus, ninguém é obrigado a escutar o que não quer ouvir, o mundo seria bem melhor se todos respeitassem o espaço de cada um!

    Ônibus sempre me dá sono, seja uma viagem longa como de uma cidade para outra ou seja a curta distância da minha casa até o centro. As pálpebras parecem pesar uma tonelada e não consigo impedir que meus olhos fechem. Segundos depois minha cabeça já havia encontrado apoio na janela. Como inevitável, eu dormi e logo comecei a sonhar.

    Nuvens turbulentas se moviam discretamente na escuridão, finos feixes de luz opaca surgiram e aos poucos, silhuetas se formaram em meio as imagens nebulosas da minha mente: Uma noite escura e chuvosa, a cidade completamente deserta. O nevoeiro ocultava a base dos edifícios, os prédios mais distantes tinham as formas esfumaçadas escondidos atrás da neblina do horizonte.

    Pronto! Estava formado o palco deste sonho onde eu sou o protagonista. Me vejo de pé na beirada do prédio mais alto, percebo estar usando aquela jaqueta. – Se tudo fosse tão fácil assim como no sonho. Fechar os olhos e imaginar algo para que o mesmo apareça de repente, como mágica.

    Olho para baixo e recuo rapidamente, uma breve tontura e o famoso frio na barriga me alertando do pavor que tenho de altura. Mesmo sabendo que o perigo aqui não é real, os sentimentos ainda são os mesmos que tenho no mundo real.

    Ignoro o falso perigo e arrisco mais uma olhada para baixo. A chuva e a neblina me impedem de ver muita coisa, então me concentro no céu e desejo que pare de chover. "Voilá"! E não é que deu certo!

    Havia parado de chover e a neblina desapareceu, agora sim eu posso ter uma visão mais nítida da cidade. Aproveitando o embalo, tomei coragem e decidi saltar. A sensação boa do vento no rosto, passando por todo meu corpo e sacudindo a malha das minhas roupas, enquanto flutuava numa viagem infinita até o solo.

    Senti uma estranha ondulação passar por mim, mas dessa vez não era o vento. Eu estava prestes a pousar quando notei essa presença estranha. Olhei ao meu redor e o lugar parecia estar completamente vazio. Mas só parecia.

    Exceto pelo desconforto da sensação de estar sendo vigiado novamente, não havia uma característica que pudesse denominar esses pensamentos como um pesadelo.

    Caminhei pelas ruas desertas dessa cidade que parecia ter sido abandonada a muito tempo. Não havia uma alma viva no lugar, nem ratos ou baratas passando pelo esgoto, nada além de prédios, muros e casas vazias, uma verdadeira cidade fantasma. É gostei do nome!

    Um arrepio percorreu meu corpo por inteiro em um segundo quando escutei passos atrás de mim, me virei para tras e vi uma figura emergir das sombras do prédio. Nesse exato momento, ouvi um ruído baixinho ganhar volume até se tornar um som instrumental de marcha que ecoou como se estivesse vindo de todos os lados. Outra figura surgiu flutuando sobre uma casa do outro lado da rua seguido por um som agudo de um solo de guitarra. De repente a música do meu celular se tornou parte deste ambiente sendo a trilha sonora dessa aventura.

    Dei dois passos a direita, me virei  para trás num pulo e comecei a correr. Não demorou muito e logo seus passos apressados ecoaram no asfalto anunciando o inicio da perseguição. Num susto percebi pelo canto do olho direito, um vulto translucido passar ao meu lado, apesar do susto eu não parei, na verdade foi aí que apertei o passo mesmo.

    Estava quase alcançando o final da avenida quando outro vulto cortou o ar diante dos meus olhos, eu estava rápido demais e não consegui parar a tempo, então senti uma forte pancada  que me lançou no chão, como se colidisse com uma parede maciça.

    Tentei levantar cambaleando enquanto o mundo girava ao meu redor, fazendo com que eu me sinta ainda mais tonto. Senti aquela presença sinistra me cercando e com a visão embaçada, até parecia que estava vendo tudo triplicado, tampei um dos olhos com a mão e analisei a situação a minha volta. A sensação estranha ficou ainda mais forte quando os dois caras de sobretudo se aproximaram de mim.

    Uma nova silhueta se formou do nada em meio aos dois caras, revelando uma figura humana com trajes semelhantes aos companheiros.

    Droga! Três? Ai já é demais.

    Minha visão voltou ao normal mas, por algum motivo não consigo ver seus rostos, uma nevoa sombria está ocultando suas faces e a unica coisa que vejo são seus olhos amarelos que nunca piscam.

    Ao ver que as três criaturas andavam em minha direção, me perguntei se teria sido uma boa escolha incluir rock na lista de reprodução para ouvir enquanto tiro um cochilo no ônibus. Quem sabe na próxima vez eu escolha melhor cada faixa, afinal, como alguém conseguiria ter bons sonhos ouvindo música muito barulhenta assim?


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